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História My Little Boy. - Capítulo 33: Sobre se sentir livre.


Escrita por: Sa-tur-n0

Notas do Autor


Oiie '-'

Eu escrevi muitas partes desse cap escutando essa musica aqui: Easier - Mansionair
e eu também cito ela no decorrer, coloquei ai pra quem quiser escutar e emergir na leitura :)
(link nas notas finais)

Eu revisei então se tiver algum erro, saiu do cú do além <3

Boa leituura s2

Capítulo 33 - Capítulo 33: Sobre se sentir livre.


Fanfic / Fanfiction My Little Boy. - Capítulo 33: Sobre se sentir livre.

Inquietação. Tudo se resumia à aquela palavra naquele momento, havia acordado no meio da noite e não conseguia pregar os olhos novamente, tinha até mesmo contando carneirinhos, mas de nada havia adiantado, continuava deitado olhando para o teto, sendo engolido pelo silêncio, seus olhos foram puxados para o forte de cobertores que abrigava o serzinho de olhos azuis, não sabia de onde tinha tirado a ideia de trazê-lo consigo, mas ali estava ele, parecia tão certo e sem margem alguma para erro. Riu de si mesmo por aquilo ter soado tão poético. 

 Cansado de tentar dormir e todas as tentativas serem em vão, finalmente se levantou, passou suas mãos em seus cabelos e sentiu a trança ainda ali, não teve coragem de desmancha-lá até aquele momento, se dirigiu a cozinha e preparou um chá de camomila rápido, sentindo o cheirinho que costumava o acalmar. Mas não daquela vez, o nó ainda lhe era presente na garganta, nem ao menos sabia o porque de toda aquela inquietação.

 Dessa vez não voltou para a sala, se dirigiu em direção ao seu quarto e olhou para o cantinho, onde ainda mantinha por algum motivo algumas telas em branco e seu material de pintura intocados por muito tempo, havia tanto tempo que nada daquilo fazia mais sentido. Um de seus cavaletes agora era usado para pendurar roupas sujas em outro canto, de repente uma outra inquietação surgiu, era tudo tão preto e branco, não havia cor nenhuma, chegava a ser uma agonia latente aos seus olhos. Mal percebeu quando colocou a xícara ainda intocada em seu criado mudo e caminhou em direção ao cavalete, jogou todos suas roupas no chão de qualquer jeito, não estava se importando muito naquele momento ou em qualquer outro.

 A chuva ainda caia serena do lado de fora como uma melodia tranquila, pegou uma de suas telas em branco e a posicionou no cavalete, totalmente branca, parecia estar pedindo por cores, fazia tanto tempo que não se sentia daquela forma que um sorriso genuíno se desenhou em seus lábios, pegou a caixinha de madeira com entalhes feitos por sua avó com tanto cuidado que parecia poder se quebrar a qualquer momento, seus olhos brilharam ao se lembrar dela em seu ateliê fazendo entalhes rebuscados até tarde, ela amava o que fazia e dava para ver isso em cada uma de suas peças, "Petite Rose" era o nome de seu ateliê, um dos mais renomados de paris na arte do entalhe, era conhecida como "Rose", Rosemary era seu nome completo, ela era a brisa de seus dias e a melodia de sua vida, havia aprendido tanto com ela, a amava tanto que mal cabia em si.

"Você é meu pequeno Monet, está exposto no Louvre em meu coração" lembra-se nitidamente dela dizendo após lhe beijar a bochecha enquanto em uma tarde de um quinta feira ensolarada se encontrava na varando de casa pintando o jardim a sua frente, as rosas de sua avó estavam lindas naquela primavera.

 Uma lágrima solitária desceu por seus olhos assim que abriu a caixinha delicadamente, desde que se mudou de Paris para Londres a dois anos atrás mal havia tocado naquelas coisas, nem sabia se as tintas ainda estavam em um bom estado para uso, as lembranças que a pintura o trazia a sua mente chegavam a lhe aconchegar a alma em um abraço acalentador. 

Azul.Azul.Azul.Azul.Azul.

Era tudo o que sua mente dizia ou melhor, gritava. Pegou todos os tons de azul que tinha ali e começou a abri-los, para sua surpresa todos ainda funcionavam, algumas talvez estivessem um pouquinho secas pelo tempo, mas nada que um pouquinho de água para diluir não ajudasse.

 Tirou sua camiseta e a jogou em um canto qualquer do quarto e a substituiu por seu avental, que talvez estivesse um pouquinho pequeno pelo longo tempo em desuso, pegou seu godê e começou a sequência de misturas, com o sorriso que chegava a lhe doer o canto dos lábios.

Talvez um céu, um lago, o espaço e suas constelações, talvez uma galáxia.

Tudo começou com um céu cristalino, mas foi se transformando, se renovando. Quando menos percebeu, estava pintando dois olhinhos tão límpidos quanto os sete céus, as galáxias e todas as constelações existentes se fundiram enquanto só se deixou fluir ali por meio de seus pincéis e tintas, tudo o que não se deixava sentir saia por meio da pintura, não adiantava tentar encobrir sentimentos quando tinha um pincel em mãos, era impossível.

Toques.

Lembrou do dia anterior quando suas mãos se entrelaçam em meio a suas fugas do colégio, o que estavam fazendo era tão errado, mas parecia tão certo enquanto sentiam o vento brando daquela manhã bater levemente em seus rostos, a risadinha baixinha e fofa que às vezes ele dava como a trilha sonora da fuga era o que completava o momento. O barulho interno se calou ao que suas mãos estavam juntas, mas mal podia escutar dado aos seus batimentos cardíacos, havia colocado a culpa em estar correndo, mas lá no fundo sabia que era muito mais que isso.

Arrepios.

Não sabia descrever o que sentiu quando estavam correndo um do outro naquele campo florido, seu sorriso tão grande e sincero, ele parecia um raio de sol, temia se queimar quando finalmente o alcançasse, mas mesmo depois de tanto cuidado talvez tivesse realmente se queimado, mas a queimadura não era visível, talvez tivesse sido muito funda, ao ponto de só senti-la quando seu coração se acelerava ao o olhar de muito perto, sentia arder lá no fundinho.

Sentimentos.

Quando ele começou a cantar enquanto mexia em seu cabelos se lembrava do vento balançando o copa das árvores brandamente, era como se elas estivessem sussurrando uma as outras melodias silenciosas que completavam todo o momento, somente elas entendiam como seu coração estava naquele momento. Se sentia extremamente egoísta por querer ser o único ao ouvi-lo cantar e vê-lo sorrir daquela forma.

John respirava e inspirava leveza, quando o viu chorar não sabia o que dizer, tão pouco o que fazer, era tão errado fazer aquela criaturinha doce se sentir daquela forma, se sentiu extremamente impotente por não saber o que fazer diante da situação. Ele às vezes parecia uma criancinha frágil que se esconderia dos monstros embaixo de sua cama com um cobertor, parecia estranho, mas queria ser esse cobertor, por mais clichê que soasse, queria se tornar o abrigo para onde ele fugiria quando estivesse assustado.

 Era todo errado, exatamente o oposto do garotinho de olhos azuis, talvez fosse mais seguro para ele fugir e se esconder, mas estava torcendo para aquela baboseira de "opostos se atraem" ser verdade, travava uma batalha árdua todos os dias contra si mesmo, mas nunca ganhava, estava sempre em desvantagem, não havia um motivo para se manter firme, mas nele conseguia enxergar um porto e se sentia ridículo por todas estas analogias clichês que sua mente caótica estava criando.

 A xícara havia sido esquecida em algum canto com todo seu chá, a barulheira dentro de si que não havia o deixado dormir havia se calado, a agonia não era mais presente, o avental não tinha adiantado de nada e se encontrava jogado em algum canto do quarto, estava todo sujo de tinta, a chuva já não se fazia presente do lado de fora e com ela a noite também se foi, com isso percebeu que passou a madrugada toda pintando, bocejou e deu um passo para trás ao prestar atenção na tela que havia pintado.

 Dois olhos, mas não dois olhos qualquer, pareciam guardar todo o infinito. Fazia tanto tempo que não pintava que ao menos sabia se lembraria como fazer, pintou no automático, mas talvez aquela houvesse se transformado em sua melhor pintura, queria mostrar ao pequeno, mas tinha certeza de que ele ainda estava dormindo.

 Se sentou no carpete em frente a sua tela como os olhos fixos nela, não sabia ao certo o que estava sentindo, tudo se aflorou de uma vez só, as lembranças tomaram sua mente, assim como seus olhos que foram tomados por lágrimas que somente deixou desaguar em silêncio. Tinha medo daquilo que estava sentindo, porra! Diria para ele correr para longe antes que fosse tarde demais, e não conseguisse controlar todo aquele emaranhado de sorrisos e calor dentro de si que chegavam a lhe transbordar.

 Se deitou ali de barriga pra cima e encarou o teto preto como o restante do quarto, aquilo resumia tudo a sua volta, escuridão, virou o rosto e olhou novamente para as nuances de azul, sabia que estava ferrado. Ele era como o sol e seus raios estavam atingindo sua vida aos poucos desfazendo a penumbra sem pedir licença nem permissão.

~x~

Se sentiu ser envolvido por algo quentinho, dedinhos se emaranhavam em seu cabelos e sentiu suavemente algo molhado contra sua bochecha, mas tudo parecia muito longe enquanto escutava alguém cantarolar baixinho, um cheirinho fraco de camomila estava no ambiente, se mexeu tentando se aproximar para sentir o afago em seus cabelos melhor e se agarrou a algo ou alguém, não sabia ao certo e antes de se entregar aos braços de Morfeu, a última coisa que escutou foi uma risadinha nasalada, que o fez sorrir brandamente em meio ao suposto sonho. 

~x~

 Barulhinhos no andar de baixo foi o que o fez acordar, bocejou enquanto despertava e se espreguiçou estranhando estar todo dolorido, aos poucos foi voltando a realidade e se dando conta de que não estava no sofá e muito menos em sua cama em meio a seus lençóis brancos, mas sim no chão, flashes da madrugada anterior vieram a sua mente e tudo aquilo fez sentido, menos o cobertor que o cobria, coçou sua nuca e sentiu a trança em seus dedos que o fez sorrir, encarou o quadro sob o cavalete a sua frente e se sentou o olhando profundamente, ninguém precisava saber que seus olhos brilharam naquele momento, os raios de sol adentraram o quarto por ter esquecido a janela aberta na noite anterior, mas naquela manhã diferente de todas as outras somente sorriu, estava se estranhando, normalmente se amaldiçoava por ter esquecido de fechá-la, mas o dia estava tão bonito podia escutar até alguns pardais cantarolando do lado de fora.

 Levantou-se espreguiçando logo em seguida, sentindo cada parte de suas costas estalar por ter dormido de qualquer jeito no chão, foi ao banheiro de seu quarto e tomou um banho rápido para o ajudar a despertar, vendo a água escorrer pelo ralo azulada, fechou seus olhos e deixou a água cair em seu rosto e cabelo já sem a trança, levando para fora de seu corpo todo o cansaço, terminou seu banho e se encarou no espelho que cobria quase toda a parede de cima a baixo enquanto secava as gotinhas de água que se acumulavam em sua peitoral, algo havia mudado, não fisicamente, não sabia ao certo, seu olhar estava menos rígido do que de costume, mas não era somente isso, suspirou e vestiu as roupas que havia trago consigo, enquanto enchia as cerdas da escova com creme dental e saia do banheiro.

 Desceu as escadas escovando os dentes, pensando que encontraria o garotinho ainda dormindo, seu plano era preparar o café da manhã e esperar que ele acordasse, mas suas expectativas foram frustradas assim que escutou barulhinhos do forno sendo aberto e um cheirinho de bolo invadir seu nariz, sentiu seu estomago roncar no mesmo instante, ficou o observando por alguns segundos de longe, sendo possível pela cozinha de área aberta, o assistiu soprar seus cabelos que caíram sob seus olhos e bufar baixinho ao que eles não saíram da frente enquanto retirava a forma de bolo de dentro do forno com cuidado para não se queimar, o assistiu pegar alguns morangos da geladeira e começar a fatiar, seu sorriso se abriu assim que seus olhares se encontraram por acaso quando ele tentou novamente tirar os cabelos de frente de seus olhos.

-Bom dia.- Ele disse sorrindo alegremente, as ruguinhas se formando no cantinhos de seus olhos quase o fizeram engasgar com a pasta de dente em sua boca, foi até a pia vazia e cuspiu a pasta enxaguando sua boca e as cerdas da escova logo em seguida.

-Bom dia.- Em um momento impensado ao se aproximar dele depositou um beijinho em sua testa, congelou ao perceber o que fez, mas relaxou ao que ele sorriu mais ainda continuando a cortar os morangos com delicadeza, percebeu novamente seu incômodo com os fios solto e resolveu o ajudar.

 Soltou o coque que prendia seus cabelos, vendo ele o olhar como se perguntasse o que faria, sorriu brandamente para ele e se posicionou por detrás, juntando todos seus cabelos delicadamente em um rabo de cavalo para só depois os enrolar em outro coque, os prendendo com o elástico de cabelo em seu pulso, sempre estava com um por ter virado uma mania ao que deixou seu cabelo crescer. Finalizou seu trabalho e roubou um pedaço de morango se afastando escutando uma risadinha nasalada e logo depois sendo seguida por um "obrigada".

-Em que posso ajudar?- Perguntou franzindo as sobrancelhas olhando para o bolo de chocolate em cima do balcão, uma vasilha com calda de chocolate ao seu lado, café, suco de laranja, panquecas e algumas frutas também picadinhas em outra vasilha se perguntando que horas ele tinha acordado para preparar tudo aquilo.

-É só se sentar aí e ficar aí sendo bonito.- Disse em tom de brincadeira apontando com a ponta da faca para um dos banquinho em frente ao balcão.- Espero que não se importe por eu ter pegado algumas coisas na geladeira.-Diz concentrado no que estava fazendo.

-Quer dizer então que você me acha bonito?- Ele me olhou e vi quando suas bochechas rapidamente se tornaram rubras e ele desviou o olhar e sem me responder pegou a vasilhinha com cauda que tenho certeza que ele mesmo fez e despejou sobre o bolo, vi a mesma escorrer de uma forma bonita e meu estômago roncou alto, tossi para disfarçar e o vi sorrir de lado, enquanto decorava o bolo com os morangos fatiados.

-Um pouquinho.- Respondeu baixinho e foi meu coração quem o respondeu batendo fortemente por saber que ele me achava bonito, nem que fosse um pouquinho, eu estava me sentindo no começo da adolescência novamente tendo minha primeira paixãozinha, aquilo foi o suficiente para que minha bochechas enrubescer, para disfarçar caminhei até os armários e peguei dois pratos, caminhando até a mesa de café da manhã e as posicionando um frente ao outro enquanto um enorme sorriso se sustentava em meus lábios, John veio em minha direção trazendo o bolo e na outra mão um prato com as panquecas, o ajudei a trazer as outras coisas para a mesa e nos sentamos, ele cortou um grande pedaço de bolo e me serviu fazendo o mesmo consigo.

 Ficou paradinho me olhando apreensivo enquanto eu cortava a fatia de bolo com o garfo e levava a boca, franzi as sobrancelhas enquanto saboreava vagarosamente, sentindo cada uma de minhas papilas gustativas aplaudindo, sorri ao que percebi que ele ainda olhava como se esperasse uma avaliação.

-Está delicioso, pequeno.- Seu rostinho pareceu se iluminar completamente, e as ruguinhas nos cantos dos olhos estavam de volta, pigarreou sua garganta e desviou o olhar continuando a comer vagarosamente.-Eu quero te levar a um lugar hoje.

-Que lugar?- Perguntou curioso e Tyler sorriu travesso, tomando um gole de seu suco antes de continuar.

-Vai ser uma surpresa, mas vai ter que confiar em mim.- Disse o olhando nos olhos, viu seu olhar confuso e levemente desconfiado, mas o mesmo assentiu levemente com a cabeça.

-Eu confio em você.- Respondeu a pseudo pergunta sorrindo brandamente e voltou a comer.

 Tyler sorriu pra si mesmo, um fato desconhecido para o pequeno era que essa pequena frase inofensiva possuía um enorme significado, confiança era algo sério ao seu ver, o olhou cuidadosamente de forma que não fosse pego o encarando, o que seria estranho, ele estava distraído cortado sua panqueca, seus atos eram tão delicados e serenos, se pegou o admirando bobamente, desviou o olhar e voltou a comer emerso ao silêncio, por mais que não estivessem conversando entre si era algo imensamente confortável.

-x-

-Camila-

O amor da minha vida era capitão do exército britânico, ele era o homem mais lindo e amável que já conheci em minha vida, ele vivia em meio a catástrofes e desastres causadas pelo ódio humano, ele convivia com chacinas e bombardeios o tempo inteiro, mas nunca em nenhum momento havia perdido as esperanças nas pessoas, ele lutava por acreditar, ele deu sua vida em troca do tornar o mundo um lugar melhor. Eu tinha orgulho de dizer que fui digna de seu amor e de seus olhares apaixonados, ele era e é meu grande amor, onde quer que ele esteja ainda o carrego em meu coração.

" Você é uma das mulheres mais forte que já tive a honra de amar, sou grato todos os dias por te ter ao meu lado, eu te amo e sempre vou te amar, não importa a distância a qual me encontrar longe de ti. Eu vou, mas te deixo de presente meu coração, todas as vezes que olhar nos olhinhos azuis de nosso amor eternizado vai enxergá-lo" lembrava-se claramente destas palavras deixando seus lábios enquanto era abraçada e beijada minutos antes dele partir naquele helicóptero de combate rumo a uma zona de conflito, levando seu coração junto a pouca bagagem.

 Segurou fortemente o colar entre seus dedos e o levou rumo a seus lábios o beijando brandamente, havia o ganho de presente de aniversário de um ano de casamento de Leon, olhava nostalgicamente a pista de pouso da janela do avião, iluminada pelas luzes noturnas, era como se tudo que já havia vivido até ali estivesse passando como um filme em sua memória, os altos e baixos que a constituíram como a mulher forte que era.

 O avião finalmente havia pousado, estava de volta a Manchester, havia se passado somente um mês desde que haviam se mudado, mas se sentia uma pessoa completamente diferente de quando saiu. Pegou a única bolsa que havia trago consigo e levantou-se de seu assento, se dirigindo a saída do avião, juntamente aos outros passageiros.

 Enquanto andava pelo portão de desembarque ao longe enxergou Mathias com uma plaquinha escrito em letras brilhantes "seja bem vinda rainha da porra toda" seu sorriso se transformou em uma gargalhada ao que ele a viu e começou a gritar "maravilhosa" todos o olhavam como se o mesmo fosse louco, algumas pessoas até se afastaram, e ele parecia não dar a mínima, muito pelo contrário, somente continuava o que estava fazendo.

-Vou fingir que não te conheço.- Disse ao estar próximo ao bastante dele.

-Foi pra Londres e voltou metida, vem cá nojenta.- A puxou para um abraço cheio de significado.-Eu te amo.- Murmurou a apertando mais ainda contra si.

-Eu também te amo, meu amor.- Riu nasalmente quase sendo esmagada em meio a aquele abraço, mas não ligava, era bom tê-lo ali e seus braços novamente, caminharam em direção ao estacionamento de mãos dadas. 

-Toda a equipe de advogados já está na sala de reuniões junto com os acionistas da companhia.- Mathias disse após um curto tempo falando ao celular, não respondeu nada, não tinha forças para isso, tudo estava se tornando real demais, estava começando a aceitar a realidade, mesmo que de forma relutante, entraram no carro, ambos no banco de trás, já que Mathias havia contratado um motorista naquela noite, estava muito abalado, temia causar um acidente por excesso de velocidade ou falta de atenção, tudo o que Camila mais queria era hibernar até o dia seguinte, mas a última coisa que faria naquele momento seria dormir dado aos últimos acontecimentos.

 Ainda se encontrava meio inerte ao fato de que foi traída por uma das pessoas as quais mais lhe importava naquele mundo, por mais que a realidade estivesse batendo a sua porta, lá no fundo ainda se recusava a acreditar que sua confiança havia sido quebrada daquela forma brutal, estava em processo de entendimento, não sabia como reagir ao fato de que ali havia se mostrado de uma hora pra outra uma pessoa completamente diferente, extremamente fria e calculista. Nunca havia desconfiado de nada, mas depois de toda aquela bomba explodir repentinamente em frente aos seus olhos, era notável que aquilo já vinha acontecendo a anos debaixo de seu nariz.

 Alison Carpentier, ou somente Ali, era um dos melhores amigos de Leon, se conheceram na faculdade de direito e logo se tornaram grandes amigos, foi um dos grandes responsáveis pela ascensão da empresa no mercado de trabalho, talvez sem ele ela nem tivesse chegado aonde se encontravam, era dono de muitas ações e continuava presente em tudo que envolvia a parte jurídica da empresa. Mesmo depois de conseguirem chegar ao ponto de terem contratado uma equipe de advogados, eram uma empresa que lutava contra a imposição de padrões estabelecidos pela sociedade, que pregava a liberdade e acima de tudo colocava em pauta o amor e todos seus recortes, nem todos entendiam a importância, muitos até mesmo se voltaram contra e deixavam isso bem claro ao tentarem boicotar a marca por meio das redes sociais, pichando a fachada com dizeres preconceituosos e tentando "derrubar" tudo aquilo que tinha conseguido construir por conta de suas mentes fechadas e condicionadas ao ódio, mas Alison sempre estava lá para intervir por meios legais. Sempre confiou nele de olhos fechados, assim como seu marido confiava no amigo.

 Mas ali estava após uma ligação completamente inesperada e desesperada de Mathias no meio daquela tarde seguida pela ligação de seus advogados. "Fizemos uma investigação minuciosa antes de concluirmos que milhares de dólares vêm sumindo periodicamente, mas foi algo planejado e articulado de forma que ninguém notasse, os contratos estavam sendo alterados, assim como os extratos bancários e os balanços mensais, isso vem acontecendo silenciosamente a anos. Se não fosse por um erro de digitação em um contrato que foi devolvido para revisão nunca teríamos descoberto nada sobre os desfalques..."

 Lembrava-se das palavras serem ditas e a cada novo fato acrescentado seu coração se tornava pequenininho em seu peito, em momento algum nomes haviam sido citados como possíveis culpados, muito menos o de Alison, mas de alguma forma já sabia, estava claro, somente ele tinha tanto poder dentro das transações feitas entre as filiais e parcerias. Estava tudo claro em sua mente, mas ainda não podia fazer nada sobre, não possuía provas para comprovar seus argumentos, por mais certa que achasse que estivesse. Todos ali eram como seus familiares, mas até que encontrassem o culpado, haviam se tornados todos suspeitos e isso lhe machucava profundamente.

 Estava tão dispersa que ao menos percebeu o motorista começar a dirigir para longe do aeroporto, somente percebeu que o carro havia estacionado em frente ao enorme prédio ao qual tinha muito orgulho de ter arquitetado e projetado, e ainda mais por erguê-lo banhado em lutas diárias e a críticas depreciativas, mas acima de tudo cheio de amor, cuidado e orgulho das pessoas que sempre estiveram ali consigo, era muito além de só um trabalho, se tornou um abrigo para aqueles que nunca encontraram um lar.

 Assim como havia feito mais cedo antes de entrar no avião tentou ligar para seu filho, mas sempre caia em caixa postal, ele e sua mania de esquecer de carregar o celular. Uma das coisas que mais estavam lhe pesando o coração era que seus pais lhe ligaram mais cedo para avisar que teriam de ir para a cidade vizinha por conta de um problema com um dos fornecedores do café, e só lembrou desse fato ao já estar sentada dentro do avião por conta do desespero, o que a desesperou ainda mais, estava se sentindo uma mãe muito displicente, foi então que teve a ideia de ligar para Thomas, tinha certeza de que eles estariam juntos naquele momento, ele também não atendia. Teria de esperar a reunião acabar para que pudesse tentar novamente se comunicar com ele.

-Vamos Cami?- Mathias perguntou cuidadosamente ao seu lado, assistiu ela respirar baixinho ao seu lado e o olhar com aquele olhar determinado que tanto amava.

-Nasci pronta, meu amor.- Respondeu confiante, por mais magoada que estivesse, não deixaria nada nem ninguém lhe derrubar, se alguém ali ia sair de cabeça erguida era ela e todos aqueles aos quais lutaram ao seu lado para a empresa estar onde está hoje.

-x-

 Depois que terminou de tomar banho e pegou alguma roupas emprestadas de Tyler, o que estava morrendo de vergonha por ter de fazer novamente, agora aproveitou que o outro havia subido para tomar banho e tirou seu celular do carregador, Tyler havia o colocado para carregar na noite anterior assim que percebeu o mesmo descarregado, se surpreendeu com as inúmeras mensagens e ligações perdidas, a maioria de Thomas, por um vislumbre lhe doeu por saber que ele deveria estar preocupado sobre onde estava, mas pela primeira vez em sua vida decidiu o ignorar, mesmo que isso aquilo lhe doesse imensamente, sabia se lesse as mensagens naquele momento talvez começasse a chorar, porque sabia que ele mesmo que se preocupasse com seu paradeiro, ele tinha sua namorada para lhe consolar e cuidar, ele estava bem.

 Decidiu ler as mensagens de Triz todas eram perguntas sobre como estava, onde estava ou se estava bem, sorriu carinhosamente enquanto a respondia dizendo para que não se preocupasse e que estava bem e com uma pessoa confiável. Também respondeu Alexander que assim que ficou online já lhe mandou mensagem perguntando onde estava e se estava bem, lhe dizendo que estava bem e assim que disse que estava com Tyler ele surtou perguntando se ele o havia machucado de alguma forma, estranhou aquilo, mas respondeu que ele não havia lhe feito nada, e muito pelo contrário que ele havia cuidado muito bem de si, não recebeu mais nenhuma resposta depois disso.

 Desviou sua atenção do celular assim que escutou Tyler descendo as escadas, ele estava vestido com roupas de academia e tinha luas de boxe penduradas no pescoço quando desceu as escadas, John as olhou com curiosidade.

-Então você luta boxe?- Perguntou não contendo a curiosidade, agora fazia sentido todos aqueles músculos, balançava seus pezinhos suspensos por conta da altura do balcão e o assistiu se aproximar.

-Digamos que sim.- Pegou o tubinho de pomada para hematomas e pediu licença antes de aplicar nas marcas de dedos feitos no braço do menos que agora se tornaram arroxeadas, era visível seu desconforto com aquilo, segurou dos dois lados da cintura do menino que arregalou seus olhos pela surpresa quando ele o desceu de cima do balcão como se não pesasse nada.

-Eu fico impressionado com a força de vocês.- Mencionou Thomas de forma implícita sem querer e no mesmo segundo seu semblante caiu, Tyler percebeu a mudança em seu rosto, mas não comentou nada a respeito.

-Vamos? Quero te apresentar ao pessoal.- John o olhou e ele tinha certeza que viu seus olhinhos brilharem, Tyler não sabia mas o baixinho estava extremamente feliz por saber que ele não sentia vergonha de si e não esconderia sua amizade consigo. Ele caminhava um pouquinho a sua frente e quando ele foi abrir a porta, segurou em seu ombro e ficou na pontinha de seus pés para dar um beijinho em sua bochecha.

-Obrigada.- Riu da expressão surpresa dele e abriu a porta em sua frente, passando rapidamente para o lado de fora o deixando ali dentro sozinho. Tyler encarou a porta semiaberta e se sentiu estranho, tudo bem que já havia ficado com alguns meninos em sua vida, mas nenhum havia mexido consigo, não havia sentimentos envolvidos, estava mais para uma troca de saliva e toques vazios. Mas ali estava o pequeno, parecia ter uma aura que o cercava que o puxava para sua volta, era apenas beijos nas bochechas e mãos emaranhadas, não sabia explicar, mas queria mais, precisava de mais. Não era uma ânsia sexual como normalmente seria, se ele lhe permitisse seria apenas seu amigo, estar perto dele já bastava, nunca tinha sentido nada como aquilo antes, mas era bom se sentir daquela forma.

 Suspirou por se lembrar de todas as vezes que o disse algo de duplo sentido e foi rude com ele de certa forma, e se sentiu sujo por conta daquela maldita aposta. "Aquela aberração tem uma cara de ser uma vadia, achei que era uma garota, mas ainda não consigo acreditar que é a porra de um homem vestindo saia, quer fazer uma aposta? Quem conseguir o foder primeiro vence. Vai ser difícil não vomitar, mas olha aquela bunda... Se ele estiver de costas e eu não olhar para a cara dele em momento nenhum acho que consigo" lembrava-se dele rindo do que havia dito e o acompanhou sem ligar muito, agora se sentia o pior ser humano já existente por somente ter ficado lá calado enquanto ouvia aquelas coisas horríveis serem ditas sobre o pequeno sem fazer nada, e ainda mais por saber que seu irmão estava falando sério sobre apostar o corpo daquele menino tão inocente como se o pertencesse, se sentia nojento e pararia aquilo assim que pudesse, não deixaria que ninguém o machucasse.

-Está tudo bem?- John perguntou abrindo a porta por completo, podendo enxergar Tyler ainda parado ali, o mesmo o olhou com o olhar meio perdido, mas logo sorriu passando pela porta de seu loft e a trancando.

-Estou bem.- Respondeu de forma curta colocando sua mão sob seu ombro, o guiando em direção às escadas que davam em uma pequena área gramada que nem sabia se podia chamar de jardim ou não. Caminhou com ele em direção a sua moto, só o soltando quando foi abrir o baú da mesma para pegar o outro capacete que havia deixado ali, colocou nele com cuidado e só então colocou o seu, não conseguia pensar em outra coisa a não ser em como ele ficava bonitinho usando suas roupas, ele estava com um short que havia comprado do tamanho errado e era pequeno demais para si mesmo e uma de suas camisas pretas que parecia uma vestido nele, mas que ele tinha dado um nó na cintura então estava perfeito.

 Subiu na moto e esperou ele fazer o mesmo e ele não exitou como no dia anterior, sorriu o olhando pelo retrovisor e ele não parecia assustado, riu consigo mesmo quando ele passou os bracinhos por sua cintura e não o apertou tanto dessa vez. Talvez agora ele gostasse de andar de moto.

 John olhava alegremente tudo passando por ele, seus olhos não estavam fechados, não sentia medo como no dia anterior, Tyler estava lhe passando a confiança necessária. Sorriu brandamente por sentir os raios solares quentinhos em sua pele e a brisa o acompanhando, estava um dia bonito. Desconhecia as ruas por onde estavam passando, mas estava adorando, já havia visto inúmeros grafites e alguns artistas de rua se apresentavam enquanto o semáforo não abria, Tyler logo após os aplaudir energeticamente sempre lhes dava alguns trocados. Demorou um pouquinho, mas logo o sentiu diminuir a velocidade.

-Chegamos.- Estacionou em frente a uma academia aparentemente normal, desceram e John retirou o capacete olhando curioso para todos os lados, adorava conhecer lugares novos e ainda mais pessoas novas.

 Tyler segurou ambos os capacetes enquanto caminhava em direção a entrada da academia. John o seguia, mas parou assim que escutou um sininho tilintar, procurou a origem do som, e viu um gatinho que parecia muito o gato de botas, só que aparentemente sem suas botas, ele tinha uma coleirinha em seu pescoço com um sino, se abaixou vagarosamente em frente ao gatinho e o acariciou sua pelagem amarelinha vagarosamente, rindo sozinho da comparação que fez em sua mente.

-Arrumou um novo amigo Misty?- Uma voz feminina falou perto de si e logo uma moça de cabelos cacheados e olhos caramelos se abaixo ao seu lado, também acariciando a gatinha, que agora possuía um nome, e a mesma ronronou feliz com o carinho.

-Ela é sua?- John sorriu para a garota, que pegou a gatinha no colo levantando-se enquanto retribuía o seu sorriso, também se levantou e pode ver que a garota era bem alta e aparentava ser muito elegante por conta de sua postura.

-Na verdade, ela tem vários donos, ela apareceu aqui na academia toda machucadinha um dia, e a adotamos e cuidamos dela desde então.- Falou alegremente acariciando a gatinha em seu colo, a segurava como um pequeno bebezinho, parecia ter um grande carinho por ela.- Ah, me chamo Giselle, e você?- Perguntou voltando sua atenção a garota, que olhava a gatinha sorrindo a assistindo brinca com sua mão.

-John, amei o esmalte.- Respondeu prestando atenção as unhas em formato stiletto da garota, que sorriu lhe agradecendo por seu comentário, tinha vontade de deixar suas unhas dela forma, mas sempre acabava se machucando acidentalmente, era muito desastrado.

-Era com você mesma que eu queria falar, mas acho que vocês já se reconheceram sem a minha ilustre ajuda.- A voz de Tyler lhes chamou a atenção, ele vinha pela mesma direção a qual estava o seguindo anteriormente, antes de se distrair com a gatinha. 

-Sim, Misty nos apresentou.- Giselle respondeu bem humorada soltando a gatinha, que saiu correndo brincando em meio a grama bem aparada.

 Começaram a caminhar em direção a academia, John no meio dos dois, Tyler o guiava com uma de suas mãos nas costas do menor, Giselle olhou para a cena sorrindo, aquela muralha em forma de gente não costumava demonstrar carinho, e vivia dizendo não gostar de muito contato físico exagerado e ali estava ele, era de se desconfiar. 

-Lembra quando você me disse ontem no parque que você dançava balé?- John lhe olhou curioso enquanto confirmava.- Giselle dá aulas de balé aqui nessa academia.- O rostinho dele pareceu se iluminar no mesmo momento.

-Ah, você veio para se matricular?- Perguntou feliz, amava alunos novos.

-Na verdade, é a primeira vez que estou ouvindo sobre isso.- Olhou para Tyler de forma acusadora.- Mas gostaria de saber como funciona a matrícula.- Era realmente uma surpresa, uma ótima surpresa.

 Um calorzinho se acendeu em seu interior, depois de ter parado de dançar nunca mais havia cogitado a ideia de voltar, mas ali estava ele se despedindo brevemente de Tyler e seguindo Giselle até a parte da academia que tinha um salão enorme próprio para balé, só de ver aquela sala, seu coraçãozinho se encheu de lindas memórias esquecidas. Livre, era assim que se sentia dançando, era como se nada nem ninguém pudesse lhe tocar, lembrava-se que já havia dançado em várias aberturas dos desfiles de novas coleções da empresa de sua mãe mesmo sendo tão novinho, lembrava-se de sites e jornais da época publicaram matérias sobre como era uma quebra de padrões e regras dadas como "masculinas", e claro que críticas também vieram, passou a ser zoado na escola e todos aqueles que achou serem seus amigos se afastaram para não serem alvo de bullying só por estarem próximos a si, mas se sentia completo com aquelas sapatilhas em seus pés enquanto se expressava por seus movimentos, até sofrer sua primeira agressão por ser apenas quem era, e deixar de dançar por medo. Mas agora estava ali, e queria ser forte e perder o medo de ser exatamente quem é.

-Ainda temos um tempinho antes de todos chegarem.- Disse colocando sua bolsa em um cantinha da sala, e riu de John que olhava para aquela sala vazia como se fosse a coisa mais linda que já havia visto em sua vida. Se sentou ali "em posição de índio" e assistiu o menino fazer o mesmo.- Quantos anos você tem?- Perguntou alongando seu pescoço.

-Tenho 16.- Disse a olhando, e seus olhinhos não paravam de brilhar em expectativa.

-Como você é menor de idade vou precisar da autorização de seus responsáveis e para isso preciso que eles venham até aqui para que a matrícula seja feita, e preciso de alguns exames que atestam que você pode voltar a praticar, sei que pode parecer um pouco chatinho da minha parte, mas eu realmente prezo pelo bem estar do meu corpo de balé.- Disse sorrindo brandamente, havia sentido algo nela, um sentimento de verdade e paixão pelo que fazia, ela o estava cativando, assentiu sorrindo de volta e se virou a porta quando ouviu vozes altas e risadas, junto a passos, logo várias pessoas entraram na sala, pode contar ao todo quinze pessoas, cada uma com um estilo diferente, desde cabelos coloridos e alargadores à dreads.

-Bom, se acalmem crianças, não sei como conseguem ser tão energéticos a essa hora da manhã.- Giselle disse se levantando e batendo algumas palmas para chamar a atenção dos mesmos que deixavam suas coisas a beira da parede oposta da que estavam.- Bem, eu quero que conheçam o John, ele vai assistir a nossa aula de hoje, e talvez venha a fazer parte da nossa bagunçada família, deem as boas vidas a ele.- John se levantou e sorriu quando todos se aproximaram rapidamente, lhe cumprimentando com apertos de mãos e alguns até lhe beijavam sua bochechas, o que não era nada normal no reino unido, haviam garotos e garotas, seu sorriso quase lhe rasgava a bochechas, seus olhinhos se tornaram apenas um risquinho em meio as ruguinhas enquanto agradecia à aqueles que lhe desejavam boas vindas.

-Me chamo Alex, pode contar comigo pra qualquer coisa, qualquer coisa mesmo.- Disse uma menina baixinha de cabelos azul clarinho.

-Se eu fosse você tomava cuidado com ela, ela pode chutar a sua bunda durante ensaio, a propósito, me chamo Saymon.- Apertou sua mão, quando o mesmo lhe ofereceu.

-Ei, eu já disse que foi sem querer, você que estava no meu espaço pessoal de intruso, não liga pra ele, ele caiu de cabeça quando nasceu.- John riu da colocação da menina, enquanto o garoto de cabelos pretos lhe olhava com uma cara de falsa indignação.

 Assistiu os mesmos trocarem algumas farpas, mas sem lhe excluir da conversa, não foi tão difícil descobrir que os dois eram primos, e que Saymon gostava de sorvete de chocolate, ambos eram muito engraçados e pareciam ser bem grudados, riu baixinho quando uma menina de cabelo cor de rosa chegou por traz de Alex e puxou seu cabelo de implicância lhe dizendo para não monopolizar o aluno novo.

-Me chamo Tanya, mas pode me chamar de Lua, você tem olhos lindos.- John não sabia como mas entraram em uma conversa muito interessante sobre signos e acedentes, Tanya odiava arianos, Saymon era ariano, mas ela dizia que ele era o único que ela suportava.

 Não sabia como, mas não estava envergonhado por ter que interagir com desconhecidos, na verdade se sentia muito confortável ali com aquelas pessoas e aquilo era surpreendente até para si mesmo, normalmente estaria tímido e gaguejando por conta da vergonha, se sentia feliz por ter todas aquelas pessoas para conversar, as coisas estavam mudando aos pouquinhos. Escutaram palmas e era Giselle parada o meio da sala.

-Bom, agora que vocês já conhecem nosso possível novo integrante, vamos fazer uma demonstração para ele se impressionar com a nossa genialidade coletiva.- Falou arrebitando o nariz, fingindo uma cara de prepotência, que não convenceu ninguém ali naquela sala, até mesmo causou algumas risadas.- Hoje a proposta vai ser um pouquinho diferente, vai ser um exercício normalmente usado em aulas de teatro, vamos treinar as emoções corporais, um bailarino se expressa por meio de seus movimentos, consequentemente pelo seu corpo como um todo, e vocês vão se surpreender ao perceber tudo o que um único movimento pode nos dizer, e vamos treinar feições também.- Disse recebendo assovios e palmas pelo visto todos estavam muito animados para começar.- E se sentir confortável, você também pode se juntar a nos.- Giselle se dirigiu especificamente a ele, que a olhou meio inseguro, fazia muito tempo que não fazia nada parecido.

-Aceita por favorzinho, vai ser muito legal.- Alex se pendurou em seu braço como seus olhinhos brilhando.- Pela nossa amizade sincera.- Ela levou o outro braço a testa e fez uma cara triste como aquelas donzelas indefesas de peças antigas, aquase pôde a escutar dizendo "oh, quem agora ira me defender?" riu do drama feito pela garota.

-Tudo bem, eu aceito.- Disse e Giselle sorriu feliz, enquanto Alex beijava sua bochecha e gradecia por ele ter aceitado, falando que seria muito divertido ele participando junto a todos.

-Todos se espalhem pela sala e vamos começar. vou colocar uma música para tocar e vocês podem se expressar de qualquer forma conforme a batida, gritem, chutem o ar, se joguem no chão, gargalhem, usem todo o corpo, não se preocupem em parecerem normais, quem liga par a normalidade? Quero sentir a alma de vocês saltarem para fora e dançarem nessa sala.- Terminou correndo animada para a canto da sala, onde tinha uma aparelho de som.

 Mansionair do Easier começou a soar, todos se encaravam sem fazer nada, como se esperassem algo lhes dizer que podiam começar. Giselle entrou no meio de todo mundo chutando o ar e dançando como Mia Wallace e Vincent Vega no filme pulp fiction, foi como uma confirmação para começarem, olhou para o lado e Saymon fazia uma dancinha estilo anos 70 balançando suas mãos no ar.

-Mãos de jaz!- Gritou em meio a uma risada e a musica alta enquanto batia seu quadril no seu, John riu ao cambalear para o lado e começar a dançar da forma mais estranha que conseguia, os gritos começaram, John gargalhava extremamente feliz, pulava e rodopiava, balançando seus braços e os mexendo de uma forma extremamente estranha, uma sentimento estranho o consumia, se sentia só mais um em meio a muito outros estranhos, era um sentimento reconfortante, se sentia estranhamente vivo ali enquanto gritava e pulava, vendo outras pessoas imitando macacos e cacarejando como galinhas, outros até fingiam nadar no chão, riu verdadeiramente, ali não precisava fingir nada, se sentia livre.

-x-

 Tyler estava sentado no meio fio ao lado de sua moto, enquanto matava seu tempo no instagram, rolando o feed infinito, estava entediado, esperava pacientemente o baixinho terminar sair, estava ansioso para lhe perguntar como tinha sido, eles estavam demorando a sair naquele dia, riu em escarnio ao passar por uma postagem de ninguém mais que o capitão do time de futebol era apenas uma tela em branco como a legenda "sou assim sem você", deveria ter pensado melhor antes de ser um babaca, curtiu a foto só como um afronte, ainda não acreditava que estava vendo aquilo. 

 Escutou risadas altas e conversas desconexas sobre alguém imitando um gorila, e se virou, vendo o grupo de balé saindo de dentro da academia, se levantou rindo quando Alexia pulou nas costas de Maia e as duas quase caíram enquanto riram da situação e Maia continuou a carregando. Mas o que lhe chamou mesmo a atenção foi um cerzinho que parecia ser o mais baixo do grupo rindo abertamente enquanto batalhava contra James em uma luta de dedões, enquanto andavam de lado concentrados, riu da cena e assistiu muito deles se despedirem, John deu um beijinho na bochecha de cada um e assistiu quando James sussurrou algo em sua orelha que o fez rir alto novamente, todos foram para um canto e finalmente ele se virou e lhe viu ali, somente percebeu que estava franzindo suas sobrancelhas quando automaticamente desfez a carranca e sorriu ao o ver correndo em sua direção, se levantou e abriu seus braços, sentindo rapidamente o impactou do corpinho alheio contra o seu.

-Obrigada, obrigada, obrigada.- Riu dele lhe agradecendo várias vezes de forma embolada.- Foi incrível, mal posso esperar pra fazer a matrícula.- Aquelas foram as poucas palavras que entendeu quando ele começou a falar de forma rápida e animada, as vezes até atropelava algumas palavras, riu quando ele parou de falar para respirar.

-Eu vou te ouvir com calma, não precisa de pressa, e seria bom se você desse um tempinho pra respirar.- Riu da carinha animada que ele possuía, nem parecia o mesmo garotinho que via no colégio, sempre de cabeça baixa e envergonhado, nunca expunha suas ideias, mas sempre o via comentar algo pertinente com suas amigas, pareciam pessoas completamente diferentes. 

-Acho que fiquei animado demais, desculpa.- Riu de si mesmo pegando o capacete quando ele lhe entregou e o colocando.-Mas obrigada por me trazer aqui, eu nem sabia que eu sentia tanta saudade de dançar.- Suas bochechas estavam vermelhinhas enquanto sorria, Tyler nunca havia percebido o quanto seus olhinhos eram brilhantes.

-x-

-Você não me pega.- Disse rindo quando Tyler lhe deu espaço para entrar em seu t, ele parecia uma criança rindo atoa correndo pra longe de si, riu enquanto fechava sua porta e jogava suas luvas perto da parede e corria atrás dele rindo junto a ele. Conseguiu o alcançar sem muito esforço perto do balcão da cozinha, o pegou por trás em um abraço.

-Vejo que está levando a aposta a sério.- Parou de rir no mesmo segundo e sentiu todo seu copo travar quando escutou uma voz masculina bem conhecida por si soar no ambiente, soltou o garotinho e o colocou atrás de si, como se pudesse lhe proteger daquela forma, viu seu irmão sentado no sofá com seu celular em mãos. 

-Porque você está aqui? Com que direito acha que pode invadir a casa dos outros sem permissão?- Sentiu seu sangue quase ferver de raiva quando ele sorriu se inclinando para o lado como se quisesse ver John atrás de si, o viu sorrindo sínico e fazendo uma cara de falsa mágoa.

-Ah, assim você me magoa maninho, não posso mais visitar meu irmãozinho?- Disse de forma cínica se levantando.- Vejo que já estão bem íntimos.- Disse se aproximando dos dois.

-Se você der mais um passo eu juro que não respondo por mim.- Miguel parou de andar com um sorrisinho de escárnio, agora já podendo enxergar o garotinho de olhos azuis direito, ele parecia assustado e confuso com toda aquela situação.

-Ah, que isso irmãozinho, não seja egoísta podemos dividir.- Nunca sentiu tanto nojo quanto sentiu ao ouvir aquilo.

-Você vai sair daqui agora, antes que eu perca a paciência.- Fechou seus punhos enquanto o olhava tentando não se descontrolar, não queria fazer nada do que se arrependeria na frente do pequeno, sentiu ele segurar em sua mão com uma de suas mãozinhas trêmulas como se dissesse de forma silenciosa para se manter calmo, tinha certeza de que ele estava com medo.

-Tudo bem, mas eu não precisaria estar aqui se você atendesse o seu celular,  só vim até aqui para te dizer que o pai nos chamou para uma reunião, e não se atrase dessa vez.- Disse rindo levantando seus braços na altura de seu peito como quem se rende.- Tchau gracinha.- O assistiu dar uma piscadinha para John e quase avançou nele naquele momento, se não fosse pela mãozinha do baixinha na sua teria feito ele se arrepender por aquilo, ele lhe deu as costas e caminhou em direção a saída rindo, logo escutou a porta se fechar e respirou aliviado.

-O que foi isso?- John perguntou baixinho ficando de frente para si depois de soltar sua mão, não conseguia nem olhar para ele direito, podia sentir que ele estava com medo, qualquer um ficaria assistindo uma cena daquela.

-Não é nada, são só assuntos de família, aquele é o meu irmão.- Deu a primeira desculpa que veio a sua mente naquele momento, e torceu para que ele não lhe perguntasse nada.-Está com fome?- Perguntou somente se afastando e indo em direção a geladeira sem ao menos conseguir o olhar ainda.

-Não estou com fome.- Disse simplesmente se sentando num dos banquinhos próximos ao balcão da cozinha observando o outro fazer um sanduíche natural para si mesmo.

-Quando voltamos parecia que iria chover de novo, tenho que te levar para casa, ou vai ficar preso aqui comigo novamente.- Terminou a frase rindo nasaladamente e John franziu suas sobrancelhas.

-Eu não chamaria exatamente de estar preso, eu gostei muito de estar aqui com você.- Explicou verdadeiramente.- E eu agradeço por ter feito isso tudo por mim, não é todo mundo que deixaria um completo estranho dormir sob seu teto, inclusive espero que não faça isso com muita frequência, é perigoso.- Terminou em um tom preocupado que Tyler não conseguiu segurar a risada.- É sério, e se eu fosse o novo maníaco do parque?- Assistiu o outro lhe olhar de baixo a cima e sorrir como se desacreditasse.

-Claro senhor assassino de canelas alheias.- Ficou extremamente indignado com aquele olhar descrente e com aquela frase, mas não podia negar que era engraçada, não conseguiu se fingiu de ofendido por muito tempo antes de gargalhar abertamente.

-Estou extremamente magoado.- Levou sua mão sobre o seu peito tentando parar de rir e fingir uma cara de pura indignação, mas não conseguiu um só minuto. 

 As últimas duas horas de sua estadia ali foi banhada por muitas gargalhadas e conversas profundas sobre os pequenos prazeres da vida, John dizia que um deles era o cheirinho de terra molhada depois da chuva, Tyler citou o exemplo de andar descalço em meio a terra, foi naquele momento que John descobriu que ele havia crescido em um sítio no interior da frança e por isso ele às vezes tinha aquele sotaque que achava simplesmente lindo e charmoso, as horas se passaram tão rápido enquanto estavam deitados no carpete em meio a sala somente olhando para o teto e conversando, somente se deram conta da passagem do tempo quando o celular de Tyler começou a vibrar incansavelmente ao seu lado, era seu irmão novamente, ele não o atendeu e muito menos o respondeu uma só vez, e pelo o que tinha visto mais cedo eles não possuíam uma relação muito boa.

-Parece que vou ter que te levar de volta para casa, ursinho.- Sorriu ao que ele corou ao ser chamado por si por seu apelido de infância, eles se aprofundaram muito no assunto infância e acabou por descobrir muito sobre ele, tocar no assunto Thomas foi inevitável e somente com uma breve menção ao mesmo o olhar do pequeno já se modificava drasticamente, sabia que eles eram amigos desde sempre e que ele o amava muito, mas a medida que iam falando sobre ele, Tyler percebeu que John não o via somente como amigo, ele gostava dele de uma forma mais profunda, e duvidava que ele mesmo soubesse daquilo, a forma como a que ele falava era inocente demais, aquilo chegou a o incomodar, lembrar-se como o pequeno havia saído da casa de Thomas a noite anterior, ele estava quebrado, mas ali falando dele ele estava sorrindo meigamente, sabia que não tinha nada haver com o assunto, mas ele deveria estar no mínimo bravo com a situação. 

-Ah...- Protestou, mas logo se levantou do chão, sabia que o outro tinha compromissos importantes com seu pai, e por isso tinha de o levar para casa.

-Hum...- Pigarreou sua garganta chamando a atenção do garotinho que se concentrava em amarrar seus cadarços sentado no sofá, não sabia como até aquilo ele fazia de forma delicada.-Sempre que precisar de um lugar para ficar... eu sempre estou sozinho.. Q-quer dizer não que eu queira ficar sozinho com v-você... Se precisar pode contar comigo.- Se enrolou nas palavras e assistiu o outro rir, sorriu de forma nervosa, aquilo de gaguejar ou ficar envergonhado na frente de outras pessoas nunca acontecia, John terminou de amarrar seus cadarços e lhe abraçou, aproveitou e o apertou em seus braços, era engraçado que ele precisava ficar na pontinha dos pés para lhe abraçar direito, mas ao mesmo tempo era muito fofo, sentiu um beijinho ser depositado em sua bochecha e logo ele lhe soltou, fez o mesmo com relutância e seguiram em direção a porta.

 Saíram pela porta e John percebeu o quão nublado o céu estava, suspirou e seguiu com Tyler até sua moto, pegou o capacete de suas mãos e o colocou enquanto ele repetia o ato, respirou fundo ao que o mesmo deu a partida naquela moto saindo em direção a sua casa, um sentimento de felicidade lhe tomou, as coisas estavam realmente mudando, podia sentir enquanto os motores roncavam e os pneus queimavam em meio ao asfalto, seus olhos estavam abertos e um sorriso se desenhou em seus lábios, nunca tinha parado para pensar sobre o assunto, mas se sentia muito preso, mas naquele momento se sentia ser tomado novamente pelo sentimento de liberdade, e amava aquilo. 

 


Notas Finais


Lalaé, lalaé

LInk: https://www.youtube.com/watch?v=Ja9IUKElT5w

Ahh chegamos a segunda parte genteee!! Eu título de "liberdade" a partir daqui, no decorrer vocês vão entender o porquê.

Eu comecei a escrever sem nenhuma pretensão ou ideia com o final, muito menos com o meio ( pq eu sou impulsiva, tive a ideia num dia e no mesmo dia já comecei a postar), mas eu tive uma ideia esses dias... Mds tô me sentindo muito escritora de suspense depois disso kkk , to muitoo animada. Mas calma que não está nem perto de acabar, mas espero que não me odeiem pelas ideias que eu tive.

A partir daqui vocês vão ter que prestar muita atenção... Só digo isso...

Agora um desabafo que não contei pra ninguém, mas vou contar pra vocês pq nois é migs: Eu acho que sou bi, disse e sai correndo :)

[felicidade in gay language]

Até s2


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