História My mirror - Blá blá blá sobre nós

A festa continuou, mas meu humor não continuou o mesmo. Chanyeol não apareceu em mais nenhum momento e eu não achei que a festa poderia ter a mesma graça que antes. Eu queria ver o que ele daria ideia para nós fazermos depois que a festa acabasse, afinal, tínhamos uma lista para acabar.

As mensagens no celular eram visualizadas, mas ele não me respondia e isso não estava entrando na minha cabeça.

A nossa semana estava acabando e essa inconstância que ele é….

Eu não sei se ele vai querer continuar comigo depois que tudo acabar… Eu não consigo interpretá-lo, não sei o que se passa em sua cabeça louca e isso está começando a me deixar puto.

Quando a festa acabou, Kiki resolveu ficar aqui em casa comigo, porque essa garota sabe quando eu estou na bad e sempre deseja me consolar. Ela preparou uma pipoca e derreteu um chocolate, como a gente sempre fazia. Colocou um cliché master na Netflix e passamos um tempo abraçados um com o outro no sofá da sala. Ela não tinha bebido na festa, ela não gostava e eu quase não bebi, porque meu foco ficou em Chanyeol.

— Você está tão muxoxo hoje, Baek… Acho que nem aproveitou a festa, quase não dançou comigo e nem ficou me enchendo o saco para abrir meu presente… O que é que está acontecendo com o rei da minha vida? — ela perguntou acariciando meus cabelos. — Deixa eu adivinhar, começa com Park e termina com Chanyeol. O que ele fez dessa vez? Por falar nisso, ele nem está com você. Se esse cara fez alguma coisa para te machucar eu juro que vou meter meu salto agulha na bunda dele.

— Não! Sua louca! — eu levantei minha cabeça do colo dela. — Esse é o problema, eu queria ter passado a noite toda com ele, mas ele sumiu de uma hora para outra. Ele visualiza minhas mensagens, mas não as responde… Tipo, ele evaporou na festa e nem falou para onde ia, eu estou mesmo preocupado... E se aconteceu alguma coisa com a mãe dele? Eu queria que ele me contasse, porque ele sabe que eu quero ajudá-lo.

— Ah! Você que está merecendo umas boas palmadas! — ela deu um cascudo na minha cabeça. — Cadê aquele Baekhyun que tem o nariz e bunda empinados e está cagando para todo mundo e faz com que todos fiquem de olho no que você faz? Só porque temos sua paixão aflorada nesse momento, você vai se deixar fazer de gato e sapato? CLARO QUE NÃO! — ela ficou de pé no sofá. — Se você quer agarrar seu homem, você precisa fazê-lo ver que ele também está caidinho por você e não só você por ele, tem que mostrar que isso aqui não é amor platônico não!

— Do que está falando, Kiki? Eu sei que o Chanyeol está tomando muito cuidado para não sentir nada, estamos nos curtindo nesses dias, mas eu sei que ele não quer mais que isso.

– Pare com essa palhaçada! Quero provas disso e vamos conseguir! — ela me levantou e segurou meu rosto, deixando seu rosto bem próximo ao meu. — Você vai sair comigo hoje a noite, como se não quisesse nada, como se nem tivesse se lembrando dele. Como eu sou a diabinha em pessoa, vou telefonar para ele e dizer para que ele te busque, porque tenho uns rolos para resolver. — ela levantou indo em direção ao meu closet. — Nós sabemos que existe o ciuminho saudável e você vai causar esse sentimento nele assim, pegue um boy magia para dançar com você, nenhum homem gosta de ser colocado em segundo plano, Chanyeol não é diferente disso.

— Você acha mesmo essa uma boa ideia? — ela saiu do meu closet com um monte de cabide em mãos. — Acho que vou me sentir mais destruído se ele pouco se importar.

— Você sairá pleno de tudo, okay? Eu vejo vocês dois, isso não é platônico, Chanyeol só precisa perceber que o que ele sente não é uma coisa platônica. Eu torço por vocês dois, de verdade. Você está mais feliz do lado dele, é visível. Se puder agarrar essa felicidade, vai em frente! — vi a coleção de roupas que ela colocou sobre minha cama. — Agora, vamos escolher uma roupa sexy e que valorize esse corpinho que Deus te deu e você melhorou com academia. — eu ri, mas no final na noite já estávamos quase fazendo um desfile na vibe de Vitoria Secret no meu quarto, sendo que minha cama virou o palco.

— Você sempre sabe me fazer sentir melhor, não sabe? — depois de cansados, deitamos na cama, exaustos. — Sabe o que está me deixando inseguro assim? Eu sei que eu não sou assim, mas estou com medo dos meus pais descobrirem sobre Chanyeol. Vamos dizer que ele não faz o estilo deles.

— Resolvemos isso depois, seus pais que devem ser colocados em segundo plano. — ela riu e resolvemos dormir, porque teríamos aula no dia seguinte.

Tínhamos ensaio e eu esperava receber uma explicação de Chanyeol.

&

Depois que os horários da manhã acabou, fui direto para o teatro. Chanyeol tinha faltado e eu já sabia da sua situação de que não podia faltar. Eu sei que posso parecer chato, mas eu liguei agora por preocupação com as faltas dele, eu sei o quanto é importante para ele se formar esse ano, pela sua mãe. Se ele não quer falar comigo por alguma caralha de motivo, okay, mas ele assumiu esse compromisso com a mãe e nunca deixaria que ele faltasse com ela.

— Baekhyun! — Seulgi apareceu andando apressadamente até mim. — Eu adorei a festa ontem, eu espero que você não tenha se importado com eu ter saído mais cedo acompanhada do Chanyeol.

— O quê? Você saiu acompanhada dele? — eu mordi meu lábio inferior sem perceber meu nervosismo e um pouco da raiva que senti naquele momento. — Isso é…

— Olha, eu sei que você está namorando com ele e eu peço desculpas por isso, eu até tentei muito impedir o Chanyeol de ter qualquer coisa comigo, porque seria desrespeitoso com você, mas eu escutei do Masamoto durante os ensaios que vocês dois nem estão tão sérios um com o outro. — eu bufei de raiva, porque eu não poderia falar que isso era totalmente mentira. — Nós acabemos tendo um remake e…

— Não precisa falar mais nada. Vamos ensaiar que é o que viemos fazer aqui, já estávamos pensando em terminar mesmo, espero que se deem bem juntos. — eu olhei por cima do ombro dela e encontrei Chanyeol entrando no teatro e senti meu estômago embrulhar.

Talvez eu fui idiota de não ter percebido que a partir do momento que ele viu a Seulgi de novo, ele começou a querer continuar com esse namoro falso para causar ciúmes nela. Como fui burro de não ter pensado nisso antes.

Fiquei sentado no centro do palco junto aos outros atores que fariam as cenas do dia e tentei ficar jogando conversa fora para não querer sair tacando tudo para o alto. Consegui manter a compostura até Chanyeol sentar do meu lado.

— Baekhyun, eu quero falar com você. — eu estava tentando ignorá-lo até não conseguir mais quando ele disse essas palavras.

— O que foi Chanyeol?— ele ergueu uma sobrancelha. — Precisamos focar no ensaio.

— Por que está assim? O que aconteceu? — eu escutei um barulho de mensagem no meu celular e antes que eu continuasse a conversa, fui conferir a mensagem. Na tela do meu celular tinha uma foto do Chanyeol e da Seulgi deitados em uma cama. Uma coberta tampava a nudez dela e deixava a mostra o peito desnudo de Chanyeol.

— Eu achava que você era diferente de qualquer um dos caras que eu conheci na minha vida, eu achava mesmo isso. — eu guardei o celular no meu bolso de novo. — Se diz tão cheio de caráter, mas é só mais um canalha que usa os outros para conseguir o que quer. — eu estava tentando manter meu tom de voz baixo.

Em um ato impulsivo, Chanyeol segurou meu pulso e me puxou para as salas que funcionavam como camarim nos dias que tinham peças exteriores às do colégio. Ele fechou a porta e foi nesse momento que ele solto meu pulso.

— Baekhyun, você vai me explicar o que está acontecendo, não posso adivinhar o motivo de sua raiva se não me falar nada.

— Sabe o que me deixa puto? É que eu pensei que seria diferente, eu estava pensando que você era aquela pessoa que eu podia dar minha confiança. Eu estava me deixando levar por esses dias que a gente tava passando juntos, mas acho que tudo se resumiu a você conseguir voltar com a Seulgi não é?

— Do que está falando? Voltar com a Seulgi? Eu não voltei com ela, de onde tirou essa ideia? — tirei meu celular e abri na imagem. Ele pegou o aparelho da minha mão e começou a andar pelo cômodo. — Depois que eu saí da sua festa, eu…

— Isso é mesmo verdade? Ah! Claro que é Baekhyun, não seja idiota de pensar que não é. Homens são levados pelos seus hormônios, não tem controle do próprio pau quando querem. — tirei meu celular da mão dele, mas antes que eu me afastasse, ele segurou minha mão me aproximando do seu corpo. — Pode me soltar, Chanyeol!

— Você sabe que as coisas são diferentes quando se trata de nós dois, Baekhyun. — eu soltei meu pulso com um pouco de força.

— Sim, elas são diferentes. Eu te paguei e você prestou um serviço, ótimo! Terminamos aqui. — eu fui até a porta, mas dei alguns passos para trás. — O Masamoto já tinha pedido para voltar comigo antes, mas eu não quis falar com você, porque eu realmente pensava que poderia começar a gostar de você, mas vi que isso foi desperdício de tempo. — voltei para a porta. — Não se preocupe que eu vou deixar bem claro para todo mundo que terminamos e você pode continuar com sua vida e com esse teatrinho de carinha diferentão.

— Ah! Baekhyun, você quer me deixar… — Chanyeol veio atrás de mim acelerando o passo, mas a Srta.Dan apareceu.

— Vocês dois, voltem para o palco. Temos o ensaio para fazer. — eu a acompanhei para não ter de conversar mais com Chanyeol, porque eu sei que choraria.

Voltamos para o palco.

— Tudo bem, hoje é a vez da tão aclamada cena do jardim. Baekhyun, pode subir naquela escada e… — ela viu Chanyeol aparecendo agora. — Chanyeol, você ficará aqui em baixo, simulando a sacada. Todos para seus lugares! — a iluminação foi ajeitada e eu via que o Park estava inquieto. — Comecem!

— *Romeu, Romeu, por que há de ser Romeu? Negue o seu pai, recuse-se esse nome; Ou se não quer, jure só que me ama e eu não serei mais dos Capuletos.* — comecei a entrar no personagem, tentando me encaixar ao personagem apaixonado Julio. Eu estava sentindo um desconforto no olhar de Chanyeol para mim. — * É só seu nome que é meu inimigo: Mas você é você, não é Montéquio! O que é Montéquio? Não é pé, nem mão, Nem braço, nem feição, nem parte alguma de homem algum. Oh, chame-se outra coisa! O que há num nome? O que chamamos rosa teria o mesmo cheiro com outro nome; *

* “ E assim Romeu, chamado de outra coisa, Continuaria sempre a ser perfeito, Com outro nome. Mude-o, Romeu, E em troca dele, que não é você, Fique comigo.” *

— *Eu cobro essa jura! Se me chamar de amor, me rebatizo: E, de hoje em diante, eu não sou mais Romeu.*

Eu só repetia os diálogos e eu sabia que a Srta. Dan não estava satisfeita com a minha performance. A química que eu tenho com Chanyeol não estava presente ali, estava quase como um monólogo repetitivo e embaraçoso, até mesmo a plateia estava entediada com isso.

— Eu não posso fazer isso. — Chanyeol disse em voz alta, intercalando o olhar para mim e para a Srta.Dan. — Isso não está dando certo, porque meu Julio está tendo um problema comigo e vai continuar dando errado se não resolvermos isso. Vai continuar a mesma merda de todas as outras pessoas, atores repetindo falas escritas por Shakespeare. Ficaremos desconfortáveis e não vai sair porra nenhuma decente para uma apresentação.

— Chanyeol, o que está fazendo? — questionei.

— Você quer ir lá para fora para resolvermos isso uma vez por todos ou quer que eu espalhe nosso problema para todo mundo, para resolvermos em conjunto como terapia?

— Chanyeol! — eu bufei. — É que nós dois terminamos e…

— Epa! Nós não terminamos, você falou o que você pensa e não me deixou nem falar. Eu não aceito as coisas calado e as acusações que fez são sérias para mim.

— É melhor vocês dois resolverem isso longe dos palcos, aqui nós fingimos brigas e não começamos uma em um local da arte. Enquanto vocês dois resolvem esse tal problema, vou ensaiar outras cenas. É bom voltarem com a melhor reação química que tem, porque em vez de ensaiarmos a cena tranquila do jardim vou botar vocês dois para fazerem a cena de sexo da lua de mel.

Saí com passos firmes e nós dois saímos do teatro.

— Você atrapalhou o ensaio, tem noção disso? — ele parou a minha frente.

— Como eu disse, eu não sou o tipo de cara que vai ficar de briguinha por interpretar as coisas errado não.

— Você não interpretou nada errado. Você ficou com a sua ex, porque estava com vontade e ponto. Não estamos tendo nada sério mesmo, não posso te cobrar fidelidade nenhuma.

— Eu não sou um canalha e eu odeio que coloquem palavras e atitudes em mim que eu não falei ou que eu não fiz. Eu não lembro de nada do que aconteceu depois de um certo ponto da festa. É verdade que a Seulgi veio falar comigo, mas…

— Acho que eu tinha que participar da conversa, já que ela me envolve, não acham? — Seulgi apareceu depois de abrir a porta do teatro. — Sinto informar, mas nós dois fizemos mais do que conversar Chanyeol. Baekhyun tem razão quando diz que você não foi fiel a ele. Estava muito bêbado, mas eu lembro claramente quando pediu para irmos para minha casa. Fiquei preocupada com seu estado e resolvi fazer o que me pediu.

— Eu não lembro de nada, pode ter certeza que eu estivesse nessa situação eu não teria dormido com você, Seulgi. Acho que você ainda não entendeu que o que a gente teve ficou no passado, não tem volta. — ela se pôs entre mim e Chanyeol. — Eu não consigo me lembrar de nenhum segundo disso tudo, eu acordei na minha casa depois de tudo, não posso confirmar nada, porque eu não lembro. Se isso aconteceu, peço desculpas, porque não quero recomeçar nada e se dei a entender qualquer outra coisa, fui interpretado errado.

— Chanyeol, o Masamoto falou que o que vocês estão tendo não é sério, então pare de fingir qualquer coisa com ele. Ele já está ficando envolvido demais na história da sua vida. — Seulgi segurou a mão dele.

— Como se o que sai da boca daquele cara fosse verdade. — ele deu um passo para trás e segurou minha cintura. — É verdade que o Baekhyun está ficando muito envolvido na minha história, eu dei abertura para isso e não me arrependo. Ele está sendo a primeira pessoa que eu estou querendo abaixar minha armadura, que eu estou querendo ser sincero de novo.

— Me esquecer não é uma tarefa fácil. Eu te ajudei nos piores momentos, vai negar isso?

— Não, eu não vou engar e agradeço por isso. Você fez parte da minha história, mas está na hora de colocar um ponto final nesse nosso capítulo. Eu comecei outro com o Baekhyun e quero ir até o final. Não sei o destino disso, mas eu quero me dar a oportunidade de sentir de novo.

— Não pode acabar assim… — Seulgi estava com os olhos lacrimejados. — Não é tão fácil desistir de você, Chanyeol.

— Faça o que quiser, Seulgi. — ela saiu andando com raiva. — Baekhyun, não vamos brigar por isso. Eu não quero estar envolvido com ela de novo, eu estou envolvido por você agora e sou fiel a esse sentimento, a esse mistério de sentimentos que você me proporciona. Eu quero continuar ganhando sua confiança. Eu não sou o canalha que você pensa que eu sou, eu faço uma promessa que não, quero provar ao contrário disso.

— Wow! Isso me pegou de surpresa… — abaixei minha cabeça envergonhado pelas coisas que disse antes.

— Se quiser eu te devolvo o dinheiro que me deu no início da semana, ele não vale mais nada para mim, não representa nada do que a gente está tendo essa semana, eu prometo. Quando eu vi quem você é Baekhyun, eu nem liguei para mais nada, eu só queria te entender e acho que desde o primeiro momento eu queria te ajudar. — ele segurou meu queixo e ergueu minha cabeça. — Eu vou tentar entender o que aconteceu, okay? Só não vamos perder tudo o que conseguimos essa semana por conta de uma coisa assim.

— Você sabe mesmo falar as palavras certas, seu bosta… — dei um pequeno soco no seu peito.

— Vamos voltar ao ensaio? — ele estendeu o braço para mim como um cavalheiro do século XVIII.

Concordei e coloquei minha mão sobre o braço.

— Pelo visto, os dois fizeram as pazes. Minha assistente me deixou na mão e ela coordenaria a cena que fariam, por isso resolvi alterar, vão fazer a cena da morte. — concordamos e subimos pela escada lateral do palco. — Começaremos da fala “o que há aqui.”

Chanyeol deitou no chão, deixando todo seu corpo inerte, seus olhos fecharam e novamente ele era Romeu. Sentei atrás do seu corpo.

Romeu se envenenou.

Idiota.

Como Julio estou arrasado pela morte do amor da minha vida. Morto por sua própria mão, pois não admitiria a ideia de continuar a sua vida sem mim em minha atuação de morte passada. Ele não sabia que antes eu só estava dormindo.

Tento levantá-lo e abraçá-lo, mas ele é pesado demais, então eu me conformo em me deitar sobre seu peito. Chocado demais para chorar. Emocionado demais para não chorar. Passo minha mãos pelos rosto dele, tirando sua franja da testa. Seu rosto sem expressão alguma, eu queria sorrir senão fosse esse momento, por tudo que ele disse à Seulgi antes.

Tento fazê-lo voltar a vida, batendo seu peito, enquanto choro de forma escandalosa, mas não há salvação.

Sua decisão impetuosa nos matou, matou um romance que poderia ter sido eterno.

Depois de alguns minutos, aceitando sua morte em meu coração, agora tento procurar algum meio de juntar-me a ele no sono eterno.

Passo as mãos por seus braços e o descubro segurando um pequeno frasco.

—* O que há aqui? *— minha voz está rouca de emoção. —* Que prende o meu amor em sua mão? *

Levo o objeto próximo ao meu nariz e o cheiro; então gemo com angústia.

— * Um veneno lhe deu descanso eterno. *

Procuro dentro do frasco apenas um restinho, mas está vazio. Furiosa, eu o jogo longe.

Agarro a cabeça de Romeu e repreendo seu belo rosto imóvel enquanto começo a chorar.

— * Malvado! Nem sequer uma gotinha para eu segui-lo? *

Seus lábios estão um pouco abertos, e eu me inclino sobre ele e fecho meus olhos enquanto nossas testas se unem.

— * Vou beijar-lhe os lábios; talvez que neles reste algum veneno que me restaure à minha antiga morte. *

Com delicadeza, aperto meus lábios contra os dele. Ainda tão macios. Como ele pode estar morto e ainda parecer tão vivo?

Beijo-os suavemente, desesperado para encontrar algum traço do veneno. Chanyeol está tenso embaixo de mim.

— *Que lábios quentes! * — suspiro contra sua boca.

Ele fica ainda mais tenso.

Passo minha língua sobre seu lábio inferior e ele grunhe enquanto seu corpo estremece.

— Parem aí. — Srta.Dan fala em um tom mais alto de onde estava sentada.

Chanyeol se senta e olha para mim sorrindo.

— É Julio. — a diretora da peça comenta. — Parece que seus lábios têm propriedades milagrosas de cura. Se ao menos Shakespeare tivesse escrito sobre essa recuperação dramática de Romeu da forma como Chanyeol improvisou, haveria muito menos tragédia no final da peça e o povo poderia ir embora assoviando uma música feliz.

Tá, eu já tinha começado a minha provocação com Chanyeol, aquela que Kiki me faria fazer.

Eu sabia que o corpo dele não era imune ao Baek aqui.

— Ele lambeu meus lábios. — Chanyeol protesta.

— É absolutamente o que Julio faria. — retruco. — Ele está tentando ingerir o veneno. Você deu sorte de eu não ter enfiado minha língua na sua boca e a revirado como uma escova de privada.

— Ah, porque é isso que Julio faria, certo? Não você.

— Sim.

— Papo furado.

— Ai, meu Deus, vocês dois podem foder de uma vez? — gritou um menino da plateia.

Há uma enorme risada do resto do elenco e Chanyeol e eu trocamos olhares constrangidos.

— Sr.Park, o que o Sr.Byun fez pareceu perfeitamente aceitável para mim. Talvez você só precise modificar sua reação. Você está morto. Não importa de se ele beija sua boca e vai até sua garganta. Você não se mexe. Entendeu? — amo a Srta.Dan por falar isso.

Chanyeol balança a cabeça com um sorriso. Então olha para mim.

Meu sorriso não seria mais presunçoso se eu o tivesse comprado no sabor Superpresunção na Presunçosa Lanches em Presunçópolis.

Ele revira os olhos.

Continuamos o ensaio com outras cenas, repetimos essa cena, algumas vezes.

E eu estava adorando ver como minhas provocações tinham efeito em Chanyeol.

Isso era uma punição por essa manhã.

Estava adorando isso.

&

— … Nós podemos ir no… — Chanyeol estava falando quando saímos do teatro.

— Ah! Hoje não podemos fazer nada, combinei de sair com a Kiki. — joguei verde e vi que a reação dele foi um pouco decepcionada.

— O.k. Nos vemos amanhã então? Não pense que esqueci o que fez hoje nesse ensaio. — eu sorri, comecei a andar e me despedi de longe com um aceno de mão.

Kiki já estava me esperando em casa.

— Nosso plano será completado com perfeição. — já tínhamos separado minha roupa. — Vamos na boate Tentation, quando der um tempinho eu ligo para ele e BAM! — ela me assustou com o grito. — Tudo feito.

Ficamos nos arrumando por um tempo. Pedi que Alfred levasse nós dois e depois o dispensei dos serviços.

Entramos na boate com os passes VIP´s e já procuramos o open bar para começarmos a nossa farra, Kiki disse que ficaria ali meia hora e telefonaria para o Chanyeol na saída. Eu não conseguia parar de rir disso e tinha que me controlar para não começar a rir e estragar o plano.

Estava no meio da pista de dança quando Kiki avisou que estava indo e que era para eu manerar na bebida, porque tínhamos aula amanhã. Continuei aproveitando a dança e os ritmos e dispensando qualquer cara inconveniente que quisesse puxar o saco para conversar, só procuraria algum quando Chanyeol chegasse, por isso, meus olhos estavam focados na entrada.

Passado uns quarenta minutos, vejo Chanyeol entrando e puxo um cara para dançar comigo a música que tinha começado a tocar: Sweet dreams are made of this!!! Adorooooooo! A batida estava ritmada com meus movimentos e o cara que estava se aproximando, começou a se afastar quando Chanyeol começou a me puxar para um dos sofás que estavam vazios.

— Você é mesmo incrível, Baekhyun. — Chanyeol se jogou no sofá, soltando uma risada na minha direção.

— O que eu fiz? Você que me tirou da pista de dança.

— A Kiki me contou suas pretensões de fazer ciúmes em mim essa noite. — meu rosto corou de vergonha, melhor amiga da onça essa que eu tenho. — Baekhyun, ela estava me esperando lá fora para me falar sobre isso, disse sobre chutar minha bunda com salto se eu te machucasse. — eu queria tacar glitter no nariz dessa mulher para ela morrer sufocada. — Ela me falou sobre sua insegurança em relação a mim.

— Ela é uma linguaruda mentirosa, não acredite em nada do que ela fala. — ele segurou minha mão e me fez sentar ao lado dele. — Tá, eu só estou um pouco chateado com tudo, saca? Eu nem posso afirmar que você gosta de mim, porque sei que você não quer se prender a nenhum sentimento…

— Baekhyun, eu tô a fim de você, quer ouvir com todas as palavras? — eu escondi meu sorriso com os lábios. — Você já sabe mais de mim do que eu permitiria qualquer pessoa saber. Eu confio em você, porque meus sentimentos estão pedindo para confiar. Você é diferente de todos, porque você é você, Baekhyun. Não fique com essa pulga atrás da orelha, beleza? Eu estou gostando de você e eu estou gostando para caralho de passar esses momentos do seu lado, você me faz bem. O medo que eu tenho está indo embora, porque você vale a pena. Nunca duvide disso, valeu?

— É muito bom ouvir isso! — me joguei ao lado dele no sofá, deixando minha cabeça pender em seu pescoço. — Só uma dúvida que está me atormentando também.

— Qual seria a dúvida?

— Você sentiria ciúmes se eu tivesse prosseguido com meu plano hoje a noite?

— Sim, eu sentiria. Julio só tem olhos para Romeu, e Romeu só tem olhos para Julio, quando um terceiro entra no meio, Romeu não gostaria, pelo menos o meu Romeu não gostaria de ver um cara olhando para suas coxas querendo te comer e depois só dizer um adeus, até logo. Igual eu falei, temos que desvendar o Baekhyun para ver o quanto vale a pena mantê-lo em nossas vidas. Baekhyun nunca deve ser tratado como caso de uma noite. — ele encostou o indicador no meu nariz.

— Quem é Romeu perto de Park Chanyeol, gente? Shakespeare já deve querer sair do túmulo e escrever alguma tragédia com você, acho que seria uma inspiração para ele. — a música alta estava me fazendo ter de falar mais alto. — Vamos sair daqui? Nem queria vir aqui hoje, mas… Enfim, já sabe por que eu vim.

— Vamos sim, quero te levar para um lugar. — ele me deu a mão e nós saímos da boate. — Temos que continuar com a nossa lista e eu quero te levar para o estúdio de tatuagem do meu amigo aqui perto. Está pronto para isso?

— Ai! Nem sei o que eu quero tatuar ainda, mas… Eu quero ir sim!

Andamos pela calçada jogando conversa fora e eu estava amando ter pequenos momentos de loucura assim com Chanyeol, ele me fazia rir, me fazia refletir, ter conversas que eu nunca pensei que teria com alguém. Ele me faz sentir bem comigo mesmo e aproveitar cada momento como se eles fossem especiais.

— Você já tem alguma ideia do que quer tatuar? — nós estávamos caminhando um ao lado do outro a passos lentos. — Eu não quero que faça algo que ficará marcado para sempre em sua pele só para cumprir uma meta de lista. Para mim toda tatuagem tem um significado.

— Por falar em tatuagens, você nunca me falou das suas. — ele estendeu a manga de sua blusa comprida.

— Eu só tenho duas. Uma é essa cruz na lateral da minha mão e a outra é uma frase no meu antebraço. — nós paramos um pouco para que eu visse melhor as tatuagens. — Eu sou uma pessoa que tem fé, acho que chegou um ponto no passado que foi só nisso que eu consegui me agarrar. Pode parecer besteira, mas sempre que eu achava que não podia aguentar mais eu ia até uma igreja de um orfanato católico que tem em uma cidade do interior. Eu me sentia bem, tinha uma paz e conseguia encontrar uma saída para os problemas que eu pensava que não tinham solução.

— É raro escutar isso, mas achei legal esse jeito de ver.

— Eu resolvi tatuar para se lembrar que sempre tem uma esperança.

— E essa outra?

— “ You are so much more than your disorder.” — eu traduzi rapidamente na minha cabeça: você é muito mais do que sua desordem. — Quando eu digo que você é a primeira pessoa que estou confiando meus sentimentos, eu falo sério. Tudo era tão mais difícil antes, nos momentos que eu não tinha ninguém para desabafar e eu me via no espelho em uma completa desordem. Eu tive amadurecer antes do tempo, tendo que lidar com muita coisa, meus pensamentos não paravam por nada, eu tinha noites de insônia, porque minha cabeça estava uma bagunça que eu não sabia por onde começar. Era problema atrás de problema.

— E você queria se dar uma palavra de motivação?

— Como eu não tinha pessoas de confiança ao meu lado, eu só conseguia confiar em mim, na minha racionalidade. Eu queria ser minha própria motivação, então eu escrevi essa frase no meu braço. — eu abri um sorriso e passeei com meus dedos pelas palavras.

— Cada vez que você me conta alguma coisa sobre você, mais curioso eu fico para entrar nessa sua cabeça doida e entender o que se passa. — continuamos caminhando até o estúdio de tatuagem. — Acho que eu já sei o que eu quero.

— Sério? Assim tão rápido? Achei que te faria refletir por alguns dias sobre o que gostaria de tatuar.

— Digamos que você não é só uma inspiração para Shakespeare, você também é uma inspiração para mim.

— Não me coloque em um pedestal, não mereço isso.

— Eu que decido quem eu coloco no meu pedestal, me dê licença. — ele deu uma gargalhada e chegamos ao destino.

— Hey, Harry! — quando entramos no estúdio bem-arrumado, vi um homem estrangeiro loiro dos olhos azuis nos atender e cumprimentar Chanyeol com um toque de mão especial. — Temos um cliente muito especial hoje.

— Oh! E qual seria o nome dele? — o sotaque dele era forte, mas eu conseguia compreender seu coreano perfeitamente.

— Baekhyun. Byun Baekhyun. — dei um aperto de mão.

— E o que temos para hoje? Alguma nova tatuagem especial também Chanyeol? — Park negou.

— Hoje, só ele será seu cliente. É a primeira tatuagem dele.

— Uma pele virgem de tatuagem. Amo a sensação de tatuar alguém pela primeira vez. Será uma experiência excitante no meu dia. E que imagem pensa em tatuar meu jovem? — já estávamos caminhando para uma sala mais interna do estúdio. — Teve sorte que meu último cliente de agora, cancelou.

— Na verdade, eu tenho uma frase que eu quero que você tatue. — ele me deu um caderno sem pauta para eu escrever. — Acho que é a que eu quero ter marcada na minha pele para sempre. — dei uma piscada para Chanyeol. — É bom você entrar comigo e deixar segurar sua mão para aliviar a dor e não reclama se estou quebrando seus ossos! Entrou comigo e vai até o final.

— E qual seria a frase? — Chanyeol esgueirou e olhou o que eu tinha escrito no caderno. — Nothing happens until something moves. — ele ergueu as sobrancelhas impressionado e eu sabia que aquela era a frase certa para mim. — Nada acontece até que alguma coisa mova. E, deixe-me adivinhar, essa coisa seria você e suas decisões?

— Só nesses dias, você mudou minha cabeça completamente. Você deixou emergir em mim um Baekhyun que eu mantinha calado por medo das consequências, mas com você eu vi esse movimento da vida. Eu tenho que tomar minhas decisões, eu tenho que me mover. Você me permitiu a liberdade de trazer esse meu pensamento ao vivo e à cores. — eu segurei sua bochecha e dei um selinho nele. — Obrigado por isso, Chanyeol!

— Então, será isso mesmo? — eu concordei com a cabeça. — Okay! Então deixa eu preparar tudo e começar meu trabalho.

Eu escolhi escrever a frase um pouco abaixo da dobra do meu cotovelo, na parte interna do meu braço.

Os minutos foram passando e a pessoa sensível para dor sofreu para uma casseta!!! Quase quebrei os dedos do Chanyeol que só ria de mim, com meus gritos agudos. Ele sabia da dor, mas valeria a pena no final!

AAAAAAAAA AAA AAA AA!!!! Foram gritos atrás de gritos, mas no final valeu mesmo a pena.

Ter aquela pequena frase tatuada em mim me deu uma energia nova. Harry me passou as instruções para eu cuidar direitinho da tatuagem e Chanyeol prometeu ficar de olho para que eu a mantivesse segura com o plástico, porque eu disse que era ansioso quando se tratava de ver resultados.

Depois que eu paguei, saímos e eu pedi um táxi e Chanyeol concordou quando eu disse que queria que ele fosse lá para casa.

&

— Hoje estamos muito rebeldes, Byun Baekhyun. — Chanyeol brincou quando descemos do carro e já íamos em direção ao meu quarto depois que fechei a porta de casa.

— Melhor sensação da vida!!! Arrume uma playlist das boas, porque quero irritar os vizinhos enquanto você fará um cafuné delicioso no meu pescoço enquanto esperamos o sol dar a cara.

— Que tal a gente ficar na varandinha do segundo andar? Posso estender uma toalha lá e quem sabe, preparar café? Consegue virar a noite sem ele?

— É verdade, pode preparar! Tem uma pessoa na cozinha para te orientar onde ficar tudo. Vou encontrar a toalha e te espero lá em cima.

Chanyeol e eu ajeitamos tudo e eu trouxe minha caixa de som para colocar a playlist que ele tinha escolhido do seu celular.

Dei uma passada de olho e já adorei o primeiro Top 10.

1. The perfect life – Moby with Wayne Coyne;

2. Steppenwolf – Born to be wild;

3. Tame Impala – Feels Like We Only Go Backwards;

4. Foster The People – Pumped up Kicks;

5. Little numbers – BOY;

6. The Arcade fire – Wake Up;

7. Smoke on the water – Deep Purple;

8. Hotel California – Eagles;

9. Stairway to heaven – Led Zeppelin;

10. Don´t Stop me Now – Queen;

— Aqui está seu café com dois cubinhos de açúcar. — Chanyeol me entregou uma xícara. — A moça da cozinha me disse que gosta assim. — ele sentou em cima da toalha que eu tinha estendido no chão.

— Obrigado. — pluguei o celular dele na caixinha de som. — Pronta para melhor noite da sua vida? Ela será a melhor, porque você está na minha companhia. — ele me puxou e eu acabei caindo no colo dele.

— Não minto em dizer que programação melhor não existe. — senti ele beijando meu pescoço. Ele encostou as costas na parede da varanda e eu fiquei sentando entre as pernas dele. — Eu achei que eu nunca poderia compartilhar esse prazer que eu tenho com outra pessoa.

— Sinto-me honrado.

Passamos um bom tempo conversando, se pegando (bom e necessário para minha sanidade), apreciando as músicas e cantando alguns trechos. Mesmo com um litro de café, eu estava pescando e pude sentir minha cabeça tombar para trás, encaixando no ombro de Chanyeol.

Eu acabei cochilando e acordei em um susto, quando escutei…

— O que está acontecendo aqui? Byun Baekhyun!!! — abri meus olhos e vi que quem estava ali na porta da varanda do segundo andar não era ninguém menos que meus pais.