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História My mission - Imagine Nozel Silva - Eight: Um simples pedido


Escrita por: SenhoritaKuchiki

Notas do Autor


Olá pessoal lindo, tudo bem com vocês?
Peço desculpas desde já pela demora em postar o capítulo, mas tive problemas técnicos na semana passada e prevejo que eles irão continuar, e isso pode vir a trazer atrasos nas postagens dos capítulos - mas não sumi não, não me abandonem hahaha
Pretendo postar mais histórias do mundo Clover, então aguardem, em breve receberão notificações minhas sobre.

Capítulo 8 - Eight: Um simples pedido


“E lá vamos nós!”

As palavras sopradas ao vento eram carregadas de otimismo, otimismo este que, mesmo a contragosto dos presentes, havia contagiado a pequena trupe que partia de Clover em direção ao desconhecido, em uma das primeiras missões oficiais de (s/n).

Embora empregadas com intuito de elevação de espírito de equipe, proferidas quando de um salto no último lance de escadas do QG e antes de seu pouso suave em frente ao Capitão e seu irmão mais novo e pessimamente humorado – como sempre – (s/n) recebeu reviradas de olhos da família nobre.

— Finalmente, estávamos a um passo de abandoná-la aqui e deixar que provasse seu valor ao nos rastrear, plebeia.

O platinado mais novo disparou. A simpatia e tranquilidade demonstrada a seu favor quando a só segundos antes desaparecendo por completo na frente dos demais.

E, sem se deixar abalar, reconhecendo a brincadeira de gato e rato que o garoto estabelecia, (s/n) empinou o queixo, remedando-o ao imitá-lo com único intuito de aborrecê-lo; tratou-se de um muxoxo baixo, deselegante de sua parte e um tanto quanto afetado com gesticulações de mãos exageradas enquanto ela tomava o cuidado de não ser notada pelo homem mais velho entre eles, seu Capitão, de quem tomou curto distanciamento.

Solid, que até então esboçava surpresa com a reação infantil, bem como aborrecia-se com ela, observou a garota mais nova aproximar-se do irmão.

— Ora, sua...

Murmurou ele e antes que a frase finalmente escorresse de seus lábios, percebeu a olhadela por sobre os ombros que lhe lançava, assim como o sorriso travesso que permeava seus belos lábios modelados.

Era óbvio, portanto, que lhe zombava, o que não apaziguava em nada seu estado de nervos; Solid fechou as mãos em punho, a veia saltando em sua testa. E estivera próximo a lhe desferir novas palavras rudes a fim de afugentar o sorriso de seu rosto quando percebeu que ela lhe mostrava a língua; o gesto novamente infantil surtiu efeito nele, indesejado.

Seus membros relaxaram, cansados pela noite péssima de sono e sem qualquer explicação, seus ombros sacudiram quando a gargalhada imotivada irrompeu sua garganta, preenchendo o silêncio anteriormente ocupado pela presença ilustre de Nozel.

— Fedelha.

Simplificou ele sob a olhadela da irmã, intrigada com aquela reação, bem como sob a expressão carregada do Capitão, que agora iniciava uma caminhada decidida, conduzindo-os ao seu objetivo.

(s/n) dera-lhe as costas ao seguir Nozel, porém o sorriso divertido e travesso ainda estava em seus lábios, um resquício da pequena vitória sob Solid, afinal ela havia descoberto algo valiosíssimo naquele momento: tinha o poder de irritá-lo.

E, perdida naquele momento de regozijo, não notou o olhar inexpressivo que Nozel lhe lançava, o cenho franzido, permitindo que os mais diversos pensamentos nada animadores se formassem em sua mente acerca da garota e do irmão – de uma forma bastante estranha, aquilo lhe incomodava.

Menos de uma hora após terem iniciado a caminha para longe da bela faixada de terras que ornamentava Clover, (s/n) encontrava-se em tédio. Seus lábios partiram-se em um bocejo enquanto ela balançava os pés de forma graciosa na vassoura, mantida ao ar pela própria mana. Esforçava-se em demasia para manter os olhos abertos, perdendo gradualmente a animação anterior ao constatar que cada vilarejo ultrapassado em silêncio com seus companheiros assemelhava-se aos anteriores, cujas pessoas, em sua grande maioria não abastadas, despertavam e tocavam suas vidas, independente dos estrangeiros que despontavam no céu.

— Que saco.

Confessou ela, as palavras não passando de um resmungo mimado enquanto sua mão destra coçava o olho, como se assim pudesse espantar de si a repentina preguiça que havia lhe envolvido anteriormente.

— Achei que fosse obstinada o bastante para estas empreitadas, plebeia. Quem sabe na próxima deva ficar no QG, faxinando os cômodos.

A voz de zombaria lhe era deveras conhecidas, de modo que a garota, preguiçosamente, apenas elevou os ombros e os baixou, deixando a mostra seu próprio desdém as palavras do platinado.

— Aposto que a área mais bagunçada e poeirenta do local é o seu quarto. Não podemos esperar muito de alguém como você, hn?

Remedou (s/n). Há muito tempo – leiam-se horas visto que não o conhecia em grande lapso temporal – ela havia perdido o medo dos ladros do platinado em questão; Nozel, embora emburrado, irritante e deveras sádico em suas profanações, não passava de um garotinho assustado e ansioso por ser aceito pelo irmão mais velho gélido.

E enquanto ele buscava em seu diminuto cérebro, como assim ela considerava, alguma palavra suficientemente ácida para rebater suas palavras, deixando que apenas grunhidos altos escapassem de seus lábios enquanto avançavam pela vegetação que por eles passava quase desapercebida, os olhos da jovem prenderam-se no mais velho, empertigado ao próprio veículo, indiferente a disputa de palavras de ambos.

Ladeando Nozel estava Nebra, vez ou outra lançando um sorrisinho amarelado em sua direção, como se para lembrar-lhe de que sempre estaria atrás de si. E quando novamente o sorriso amarelado despontou nos lábios delicados da garota má, (s/n) impulsionou-se para a frente, percorrendo o pequeno espaço que a diminuía do Capitão do Esquadrão.

Sequer notou ela o boquiaberto Solid que a observava de olhos arregalados, como se no instante que tomara a decisão de avançar, empregando a própria mana em desnecessidade apenas para emparelhar-se com Nozel, houvesse lhe estapeado – e aquela visão embasbacada dele a teria divertido imensamente, assim como todas as suas disputas verbais.

— Hei, porque você está aqui?

(s/n) mordiscou o lábio inferior assim que a pergunta escapou de seus lábios com sinceridade. Nebra, que a observou como qualquer pessoa observaria um inseto rastejante, arqueou a sobrancelha diante de sua ousadia, pendendo minimamente a cabeça para o lado. Não escondia, de modo algum, o quão divertido era o momento, em especial quando a atenção de Nozel, até então silencioso e pensativo, fora finalmente voltada a ela.

Os olhos roxos que encararam-na eram profundos, dotados de uma leveza que ela nunca antes havia presenciado – talvez a liberdade estava lhe fazendo bem, lhe dando o aspecto jovial de um homem em sua tenra idade. E tornando-o ainda mais belo, se é que isso era possível.

(s/n) pigarreou quando notou o silêncio constrangedor ao qual estava envolta.

— Quer dizer, o que eu quero dizer no caso, porque...

As orbes de Nozel afastaram-se dos dela, retirando o peso em excesso que a sobrecarregava e a deixava levemente nervosa. E isso a calou, porque notou o quão ridícula deveria estar parecendo a sua frente.

Detinha-se o Capitão aos ombros desnudos da garota, que segundos atrás havia se livrado do manto do Esquadrão e o pendurado de forma displicente a vassoura, transformando-a em um cabide qualquer.

E ela, inocente, que até então havia aguardado alguma palavra complacente do homem e imaginado, em seus longínquos sonhos, que receberia deste uma explicação plausível a empreitada, finalmente cedera a curiosidade ao baixar a linha de visão a dele, vislumbrando o manto tão suado conquistado; seus dedos longos e finos tocaram o macio tecido que o compunha, amassando-o como se pudesse ocultá-lo da visão do homem – o rosto aqueceu-se e o embrulho no estômago ocasionado pela fome tornou-se um buraco negro.

O riso baixo de Nebra foi o som que quebrou o momento, trazendo de volta a atenção do capitão, assim como despertando (s/n) da própria desgraça.

— Está tratando o manto do Esquadrão como se fosse uma das roupas imundas dela.

A figura feminina da família interviu, um bico de desagrado tomando seus lábios.

(s/n) revirou as orbes.

— Porque acredito que nenhum de vocês conseguiria cumprir as designações do Rei Mago com precisão. Estou aqui para supervisioná-los.

A sinceridade também estava contida naquelas palavras, por mais cruéis que elas pudessem ser. A expressão de Nebra modificou-se de imediato ao compreender que não era, de modo algum, isenta da frieza do rapaz, muito menos de suas dúvidas; as belas e límpidas feições tornaram-se sofridas, como se estivesse sendo esbofeteada.

(s/n), em nada abalada com a reação do homem, assentiu minimamente com a cabeça. De certa forma, compreendia.

— Bom, então parece que temos que mostrar para você que somos bons.

Concluiu ela, quase mais para si do que para ele.

— Ouviu esquentadinho? E você também, azeda.

Zombou ela, ambas as mãos ao cabo da vassoura ao impulsionar-se para a frente, diminuindo ainda mais a distância havida entre ela e Nozel; aquele impulso exagerado a coloco lado a lado com o Capitão, de modo que vislumbrou, por fim, os pequenos pontos escuros em suas orbes, assim como as nuances havidas no delineado de seus perfeitos lábios.

Novamente, concentrada apenas no platinado a sua frente e na dificuldade que tinha de acessar os verdades sentimentos do rapaz, esbarrando sempre na muralha gélida que ele havia construído ao seu entorno, ela deixou de vislumbrar o crispar dos lábios de Solid e a confusão de emoções de Nebra, que ainda ponderava sobre aceitar ser apelidada de forma vexatória pela novata ou aceitar de bom grado sua determinação em enfrentar o irmão mais velho.

— E se formos bem, se agradarmos você, quero ter o direito de lhe pedir algo. Considere como um favor.

Ousadia. Era óbvio que ele reconhecia e gostava de ousadia. E aquela ousadia era uma que beirava a rebeldia de alguém jovem, como ele próprio havia sido em tenra idade. Nozel não esboçou qualquer reação de surpresa quando (s/n) aproximou-se de si, satisfazendo-se com a forma com que a garota havia fingido naturalidade com o descontrole da própria mana que havia lhe colocado lado a lado dele ao transpassada ao veículo. Concentrou-se em suas orbes, embora seus pensamentos estivessem fluindo com rapidez ao também ter consciência dos olhares surpresos dos irmãos a suas costas.

Ambos silenciados pela coragem dela, nunca antes esboçada por nenhum – e tinha certeza ele de que tal ato não passaria impune ao ódio deles posteriormente. E, pela primeira vez em sua vida, desejou que ela não sofresse a represália da inveja. Em especial da inveja de Nebra.

— Cale a boca, plebeia. Quem você acha que é para pedir favores ao seu Capitão?

Solid intercedeu entre eles. Sua mão destra alcançou o cabo da vassoura de (s/n) e ele a puxou de encontro a si, quebrando o contato visual anteriormente havido entre eles. A propulsão de sua força fora tamanha que a garota, concentrada em seu jogo de palavras, desequilibrou-se, agarrando de uma forma quase cômica o veículo com ambas as mãos; naquele processo de ater-se a não cair e conquistar o maior tombo de sua vida, empurrou o manto do Esquadrão.

Os lábios da jovem formaram um “O” enquanto observava atentamente o tecido esvoaçante ganhar distância entre eles, despencando em meio à mata cerrada que os ladeava.

— Você... Você é ridículo!

E Solid, causador daquela confusão, encolheu minimamente os ombros quando a garota, ferozmente, lhe encarou. Estava ferida pela ousadia dele, ressentida pela perda do bem, de modo que sua única reação fora um erguer de ombros, indicando indiferença aos seus sentimentos, embora deixasse de ser real. Teria mergulhado em direção ao manto com facilidade surpreendente, e estivera a um minúsculo movimento de mão de fazê-lo se não fosse o gélido olhar de Nozel sob o seu, deixando claro que aquela palhaçada era desnecessária.

— Tsc, é só um manto. Não seja chorona.

Reprimiu ele, emburrado, embora assim o estivesse pela reação exasperada dele que se assemelhou muito a um soco. E ele sentia-se tolo por se importar tanto com aquilo, por se importar com o que ela pensava sobe ele e seus atos exagerados.

— Você é um ogro isso sim...

Continuou ela, esquecendo-se, no momento, de que estava frente-a-frente, ou assim estivera, com o próprio Capitão.

— Não acho que esteja em posição de pedir favores, (s/n).

Os lábios da garota cerraram-se e Solid e sua contravenção foram esquecidos e ignorados.

Nozel gesticulou, os dedos longos e claros de sua mão movendo-se em desdém as próprias palavras ao passo que pendia a face minimamente para o lado. Estava curioso, por óbvio, bem como levemente surpreso pela forma agressiva com que o irmão havia lidado com a proximidade da garota.

— Supondo que eu esteja de bom humor, o que você consideraria me pedir?

E então o rosto de Solid tornou-se uma máscara. Em anos, Nozel jamais demonstrou complacência com os novatos, muito menos com ele. Nenhum de seus apelos ou solicitações haviam sido atendidas, deixando o mais velho sempre a entender de que não era de sua importância os anseios do mais novo – a falta de carisma e até mesmo a falta de interesse dele sempre haviam criado o distanciamento necessário e respeitado entre eles, então não era crível, aos olhos de Solid, que a novata pudesse lhe exigir algo e ele estivesse tentado a aceita-lo.

As orbes roxas do platinado mais novo cruzaram-se com as da irmã, também em choque e levemente irritada.

— Você não pode estar considerando...

A mão destra de Nozel estendera-se ao ar quando as palavras de tom irritada da irmã se fizeram presente. E obedientemente, ela calou-se, mas não sem antes lançar a (s/n) uma olhadela marota.

— E então, perdeu sua coragem? Estou esperando.

Talvez fosse tola, não tinha certeza disso, mas (s/n) voltava às orbes de um irmão a outro, em busca de algum sinal de explicação. Lhe parecia simples o pedido, simples até demais, e não compreendia a exasperação. Era lógico que seu humor estava ácido pela brusquidão de Solid, e estivera a um minuto de lhe acertar o olho com um soco, mesmo correndo o risco de ser expulsa do Esquadrão somente pelo bel prazer de lhe arrancar o sorriso zombeteiro dos lábios.

Maneou negativamente a cabeça, clareando as ideias. Não, não daria espaço para seu ódio de Solid tomar dimensões.

— Bom, o poder de um capitão é inenarrável, ao menos é o que todos nós sabemos.

Começou. As sobrancelhas de Nozel uniram-se em um crispar.

(s/n) pigarrou, temerosa de que pudesse estar sendo interpretada mal. E se ele pensasse que queria o título? Certamente jamais ganharia dele, e nem estava disposta a isso.

— Sei que muitos capitães tem pupilos diretos, pupilos que são treinados e recebem ensinamos dos próprios poderes do capitão como forma de se fortalecerem e, ao mesmo tempo, fortalecerem o Esquadrão. Quero que me tome como um.

As palavras finais saíram arrastadas de seus lábios, pesadas e até mesmo enroladas em sua língua.

A intensidade do olhar de Nozel fez com que ela inflasse as bochechas com ar, desviando o olhar do dele como se o pedido fosse idiota e um não dele fosse indiferente para si, embora se sentisse apreensiva com a hipótese da recusa, pois suas ideias de cumprir a missão começavam a se tornar difíceis ao extremo. E difíceis porque efetivamente não tinha mais tanta certeza assim de seu desejo de conclui-la.

— É, é isso.

O ar preso em suas bochechas libertou-se de seus lábios, por fim. De uma forma envergonhada, dera de ombros a ele e o rubor existente em suas bochechas ganhou proporções maiores quando o riso de Nebra, um riso alto e exaltado de forma torpe, a envolveu. A platinada havia apoiado a mão destra ao centro da barriga enquanto o tronco era curvado à vassoura, como se não conseguisse conter a própria diversão com o pedido dela.

Solid, que até então havia permanecido impassível, diante da gargalhada da irmã, tentou imita-la, unindo-se a esta com um riso; o riso era mais baixo e desprovido de humor, forçado, e em momento algum sua musculatura rija cedeu espaço. Não estava satisfeito, porém era leal a irmã, embora não tivesse certeza de que aquilo era fato de diversão.

— Desculpe. Oh, você é tão divertida, (s/n). Deveria ser nosso mascote.

A platinada enxugou com os dígitos lágrimas invisíveis ocasionadas pelo próprio humor antes de jogar uma mecha de cabelo para trás de sua orelha.

(s/n), agora um tanto quanto arrependida por ter auxiliado e investido suas fichas naquele casal de irmão, revirou novamente as orbes. “Patético”, viu-se murmurando ao agarrar com ambas as mãos o cabo da vassoura, concentrando sua mana ao afastar-se dos três integrantes da trupe, tomando a frente da comitiva.

Estava farta daquela família.

E Nozel, embora não tivesse exposto seu ponto de vista, estava deveras surpreso com a atitude dela. E, ao mesmo tempo, satisfeito em ser confrontado finalmente por alguém, motivo pela qual permitiu que ela se afastasse silenciosamente, afastando-se dos comentários e risos estúpidos dos irmãos, dos quais não compartilhava.

Teriam tempo para uma conversa e ele precisava de um tempo para ponderar.

— Oh, plebeia. Vê se não fica para trás e não faz a gente perder tempo te procurando depois.

Algum tempo mais tarde, o grito de Solid a afastara de sua sonolência apenas para lhe informar de que a comitiva talvez tivesse chego ao destino, visto que Nozel já investia em direção ao chão, seguido de Nebra. E exatamente por estar na frente, sem ter qualquer conhecimento de onde estava indo, (s/n) havia se afastado o suficiente para ser necessário gritar seu nome algumas vezes.

Sem dar o braço a torcer e ainda irritada com a reação infantil de Solid, ela optou por simplesmente fingir que não havia sido o platinado em questão a lhe avisar da aterrisagem, empinando o queixo ao ar ao passar por ele na vassoura, ignorando o sorriso simplista que havia brotado naqueles lábios – um sorriso simples, porém belo, regado com um pedido emudecido de desculpas nunca antes proferido a outra pessoa.

E verdade seja dita, Solid não sabia pedir desculpas, e não sabia se queria aprender, afinal quando se aprende a pedir desculpas, desculpar-se torna-se um hábito.

E mal seus pés tocaram o chão rochoso para que soubesse que se encontrava na fronteira do Reino de Clover e de Diamond. Poucas casas, humildes em sua totalidade, compunham o cenário que os cercava, e nenhuma das pessoas atreveu-se e elevar os olhos de seus trabalhos manuais para dedicar a eles uma olhadela sequer; eram cidadãos pobres, cujas roupas emporcalhadas e até mesmo desgastadas pelo tempo tornaram-se trapos que não possuíam o condão de mantê-los aquecidos em dias mais rigorosos.

Poucas crianças corriam de um lado a outro, ocupadas em busca de uma bola gasta e furada que apenas rolava pelo chute poderoso de suas jogadores.

— O... O que aconteceu aqui?

Em sua defesa, apenas dirigiu-se ao grupo por estar espantada com a cena a sua frente.

A mão de Nebra voltou-se de modo elegante a suas narinas, como se afastasse um odor pungente que somente ela, da realeza, conhecesse.

— Aposto que não tomam banho.

Murmurou a Solid, que dera um riso baixo, mais parecido com um grunhido.

— Seus tolos, envergonham nosso nome ao soarem desdenhosos desta forma. Estamos aqui representando o Esquadrão dos Águias de Prata e agem como forasteiros desmiolados em representação ao Rei Mago em uma terra massacrada pela guerra?

Havia uma dose moderada de raiva em suas palavras, assim como vigor e satisfação pela imponente autoridade e representatividade defronte ao povo trabalhador a sua frente.

Solid e Nebra, impassíveis com aquela autoridade, observaram o irmão mais velho; os olhos piscaram algumas vezes e a desdenha aparente em suas faces deixou de assim ser quando ambos os platinados adotaram a postura ereta, encarando os cidadãos de forma não mais do que curiosa – não se importavam com eles, isso era verdade, mas não era o que desejavam transpassar naquele instante.

— São fronteiras. Estão em meio à linha de defesa de Clover e Diamond, portanto não é parte de nenhum dos reinos. Nosso Rei Mago quer que a gente deixe claro que eles são bem vindos ao Reino de Clover. É lógico que isso também é uma forma estratégica de politica dos governantes. Embora Julius esteja efetivamente preocupado com o bem estar deles, os demais apenas querem força de trabalho e soma-los a nosso Reino nos garantirá isso.

Nozel, sem duvida alguma, era um grande estrategista e isso era provado por suas palavras lúcidas naquele momento. Para (s/n), aquilo ainda soava um tanto quanto cruel e ela não deixou de entreabrir os lábios, surpresa, pela simples ideia de que o Capitão ali estava apenas para representar a vida bem estruturada dos cidadãos efetivos de Clover.

— Não gosta do que digo, (s/n)?

Pelo canto de olho, o Capitão acompanhava as reações da mais nova integrante do Esquadrão. Por se tratar de novata, interessava-se em seus pensamentos, os quais não encontravam resistências sociais ou estatutárias, como a dos irmãos.

(s/n) estremeceu ao ser notada pelo mais velho. Balançou-se sobre os próprios pés ao comprimir os lábios, formando em sua bela face uma careta.

— Soa frio.

A confissão saiu de seus lábios a meio fio de voz, porém causou um impacto à Nozel, que voltou sua face a ela.

— Caminhe comigo, (s/n).

Com um aceno de sua mão direita, desajeitado, Nozel dispensou a companhia de Nebra e Solid; os irmãos entreolharam-se antes de se afastar, engolindo em seco. Solid, o mais próximo de (s/n), lhe lançou uma olhadela, como se pudesse perscrutar em suas feições delicadas alguma resposta ao apelo do irmão, porém quando a jovem balançou a cabeça, como se lhe respondendo a uma pergunta imaginária, ele lhe dera as costas, permitindo-se ser ladeado pela irmã.

As mãos da garota remexeram-se uma sobre a outra, evidentemente em nervosismo ao vislumbrar os dois membros do grupo se afastarem; de soslaio, permitiu-se encarar as belas feições de Nozel em busca de alguma resposta.

O homem inspirou grande quantidade de ar, como se aquele fosse o ar mais puro que havia tocado seus pulmões em meses, e demorou a permitir que este aprisionado ar lhe escapasse pelos lábios entreabertos – sequer se importava em ser observado pela garota a sua frente, que trocava o peso de seu corpo de uma perna a outra repetidamente.

Somente quando a silhueta de Nebra e Solid estavam distantes, Nozel dera-lhe as costas e iniciou uma caminhada lenta pelo ambiente, em direção a um pequeno grupo de pessoas que, ocupadas com seus próprios trabalhos, sequer o haviam notado.

Boquiaberta com aquela reação, (s/n) demorou alguns instantes para segui-lo, e quando o fez, suas mãos cruzaram-se as costas, desfrutando do silêncio da companhia do Capitão.

— Fez-me uma proposta enquanto estávamos vindo para cá.

Começou ele, e (s/n) estremeceu, uma careta se formando a suas feições. Era lógico que ele queria conversar sobre aquilo, como poderia ela ser tão tola! Com um movimento singelo, ela própria depositou um leve tapa a testa pela ingenuidade – não que esperasse que o homem lhe dedicasse algum tempo a um passeio tolo qualquer despretensioso.

Ela riu, um riso baixo, sem graça alguma, e ela teve certeza de que a cor avermelhada já pulsava em suas bochechas naquele instante.

— Olha, não tem que se preocupar...

— Por que eu?

A pergunta de Nozel a fez cessar a caminhada. Seus pálpebras cerraram-se e abriram-se um número incontável de vezes enquanto o platinado permanecia a alguns passos a sua frente, sendo suas costas a única coisa visível.

O tom de sua voz era tão frágil que ela quase não conseguia crer que se tratava do homem cujo título era invejado por muitos e que era patriarca daquela família nobre.

E ela tinha tantas respostas para aquilo e nenhuma delas estava a um décimo de ser correlacionada a sua missão: (a) Ora, você é o Capitão, droga!; (b) Porque quando eu cheguei aqui achei que era a responsabilidade do Capitão do Esquadrão me fazer crescer; ou...

— Porque é óbvio. Você é o mago mais forte da sua casta. Se não for você, quem poderia ser?

Em sua mente, a resposta havia soado deveras divertida, e quando ela tentou rir daquela resposta que lhe era óbvia, descobriu que o riso recusava-se a escapar de sua garganta, como se soubesse não ser adequado.

— Por que não há opção, então.

De uma forma fria e direta, ele concluiu para ela.

(s/n) mordiscou com força o lábio inferior quando um traço quase imaginável de decepção despontou naquela resposta.

Hesitante, elevou sua mão ao ombro do homem. Seus dedos, trêmulos por saber que cruzavam uma linha muito tênue de confiança ainda não moldada entre eles, roçaram as plumas que compunham o ornamento quente que lhe recobria os ombros.

— Não foi isso que eu...

E ela tinha mais a dizer, assim como teria tocado como bem desejava, se a bola murcha e furada que havia vislumbrado quando seus pés tocaram aquele chão rochoso não rolasse sôfrega em sua direção, parando a centímetros de seus pés.

O pequeno grupo de crianças, já sem fôlego pela corrida que envolvia a brincadeira, observaram a forasteira com certa curiosidade antes de gesticular que ela lhe chutasse o objeto – talvez ansiosos para que ela fracasse na tentativa de impor sua força em um chute a ela para que percorresse todo o caminho até os pés deles.

E, vendo aquilo como um sinal divino de que não deveria de forma alguma tocar o capitão, sua mão recuou e Nozel finalmente voltou-se a ela.

(s/n) franziu o cenho e com um suspiro longo, de uma forma impensável, estendeu ambas as suas mãos ao objeto.

— Magia de criação...

O Grimório que a acompanhava já encontrava-se aberto ao seu lado naquele momento, as folhas sendo passadas com rapidez até que o encantamento certo estivesse a disposição da garota; os fluidos de mana envolveram-na e antes que Nozel pudesse detê-la daquele ato impensável de desperdício de mana, as palavras jorraram dos lábios dela.

—... Retrocesso.

Lentamente, a bola retornou ao seu velho novo: os remendos já não eram mais vistos, o rasgo gigantesco não existia e, se não fosse decorrente de lembrança, jamais teria sido possível alegar sua existência. O ar preencheu a pequena bola e, segundos depois, (s/n) a chutou em direção das crianças.

Os pequenos apanharam a bolsa e analisaram atentamente, como se temessem cair em um truque barato da viajante e somente quando não encontraram nenhum sinal de que sua inteligência era testado, gritaram em vivas a garota.

Teatralmente, ela riu, curvando-se sobre sua cintura em uma mesura formal, comumente utilizada pela própria realeza; o gesto era banal, teria passado despercebido, se não fosse à habilidade e a forma delicada com que havia sido feito, como se estivesse acostumada a fazê-lo – e, aos olhos de Nozel, aquela impressão o corroeu de curiosidade sobre a vida pregressa da novata.

— Tsc!

Ele murmurou, em desagrado a atitude dela. Embora tentasse demonstrar desaprovação, estava admirado com o poder possuído pela jovem, reconhecendo pela primeira vez em tempos que sua escolha havia sido acertada. Era um encantamento antigo, que ele somente conhecia através de suas leituras, e vê-lo em prática...

Ele cerrou as pálpebras. Com destreza, livrou-se do manto que recobria seus ombros apenas para depositá-los aos ombros da garota que agora não o encarava, concentrada as próprias mãos, como se envergonhada pela demonstração de poder, reconhecendo a possibilidade de reprimenda do Capitão.

Mal o tecido tocou os ombros da garota, ela voltou a encará-lo, os lábios entreabertos em surpresa.

— O... O que...

— Posso treiná-la, se assim for o seu desejo, mas não espere compaixão nem compreensão ou paciência por seus erros e incapacidades. E, quando ajustarmos os termos, não me deixe esperando, pois detesto atrasos. Conversaremos mais em nosso retorno a Clover.

(s/n) não se moveu um milímetro sequer enquanto o Capitão, agora vestido apenas pela costumeira roupa clara, lhe dava as costas.

— Use meu manto, não quero que pareça uma plebeia desajustada aos demais moradores enquanto estiver ao meu lado. Deixo-a apenas ciente de que se perder ou danificar meu manto, repensarei sobre sua estadia em meu Esquadrão.

E conforme ele se distanciava dela, seus dedos afundaram nas plumas do manto, apertando-o contra si, somente dando-se conta de como se agarrava a ele, de como simplesmente parecia depender dele, quando inspirou profundamente o aroma suave que dele provinha – o único resquício que aquele manto possuía do homem em questão.

E ela estava embriagada naquele resquício.

 

 

 


Notas Finais


Obrigada a todos que leram até aqui. <3


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