História My Skins - Aspie Parte 1

P.O.V Lauren

Tudo está confuso. Tudo em mim mudou, mudou desde que Camila Cabello se meteu na minha vida. O pior de tudo é que eu não sei o quanto isso pode ser ruim e nem ao menos se é ruim... 

Para mim o amor sempre foi o maior exagero da humanidade, hoje me pego imaginando se ele pode ser a minha metáfora do iceberg, quero dizer, pode haver muito mais sentido no "amor" do que eu possa ver. E se em tão pouco tempo essa garota já me fez questionar coisas que antes eu achava improvável, o que ela fará se continuarmos com essa esquisita relação? 

Flash Back On 

-Camila, já entregamos nosso trabalho, por que continua vindo aqui? - Perguntei o que vinha me incomodando nos últimos dias. 

Ela deu um sorriso e então disse – Do que tem medo, Jauregui? 

Aquela pergunta me deixou sem palavras e quando pensei em responder ouvimos os latidos do Apolo vindo do jardim de trás, estávamos na parte da frente de minha casa enquanto eu lavava o Lord Vader -meu carro- quando o meu labrador retriever preto, de pesados 32kg, veio correndo em nossa direção e pulou na latina, que caiu tendo o rosto lambido pelo cachorro. 

-NÃO, APOLO! PARA, POR FAVOR! - Ela dizia rindo com o carinho daquele animal - Quem é o lindinho da mamãe? Quem é, hein? Isso mesmo, é você o lindinho da senhorita Cabello! 

Após muito carinho entro os dois no chão, ela se levantou e eu respondi: -Eu não tenho medo você, se é o que pensa, única coisa que me incomoda é o fato de você ser ridiculamente intrometida na minha vida e isso me tira totalmente da zona de conforto que eu possuo. 

-Ah, nos poupe, Lauren! Pensa que eu não vejo como você reage aos meu movimentos? - Ela perguntou exasperada, cruzando os braços e me olhando nos olhos. 

-Eu não entendo metade das coisas que você fala e faz, Camila. -Disse da forma mais sincera e calma que era possível naquele momento, e então vi seus ombros caírem, de frustração provavelmente. 

-Eu também não entendo você. - Ela disse e caminhou em direção à sua casa do outro lado da rua. 

Flash Back Off 

A realidade é que eu não fiz de propósito, mas às vezes é difícil deixar claro o que eu sinto e entender o que os outros sentem, é difícil entender expressões loucas com duplo sentido, foi e ainda é difícil manter a postura de pessoa "normal" no meio do meu possível círculo social. Minha família e meus amigos sempre me ajudaram a como me comportar, o que dizer ou que não dizer, entender coisas que para pessoas como eu nunca é fácil ou o que fazer pra não surtar. Eu não sou como você, não vejo como você, não falo como você e isso é um problema pra mim. 

Recebo medicação para hiperatividade, ansiedade, depressão, desatenção, agressividade e irritabilidade. Meu psiquiatra disse que eles servem para "aprendizagem melhor, ter maiores habilidades sociais e mais facilidade de comunicação e integração, tornando capaz de interagir socialmente de forma mais naturalmente." Eu queria poder passar um dia sem toma-los sem que tudo se torne um caos, pois não me sinto menos anormal só porque tomo eles. 

Apesar de tudo, meu pai voltou de viajem de Florença e tudo se torna menos complicado quando ele está presente. Os Jaureguis são italianos, eu sou italiana mas só lá nasci mesmo, desde que meu nonno (avô) morreu minha nonna mora sozinha, então meu pai sempre que pode vai visitá-la. Todo o patrimônio da família Jauregui vem do nosso vinhedo em Florença, como meu pai é o único "capacitado" para assumir os negócios de família acabou herdando tudo. Somos os fornecedores de vinho de algumas cidades de vários países diferentes, só moramos em Pasadena porque meus pais se conheceram aqui em uma viajem que me pai fez quando era jovem. 

Hoje teremos um jantar com a família Cabello, já que meu pai não estava presente quando se mudaram para a casa em frente. Não consegui dormir só de ter que esperar pelo anoitecer, essa ansiedade de querer fazer tudo certo está me deixando um tanto surtada. A pressão  de estar com pessoas diferentes, de ter que saber o que falar e de não surtar com a confusão que Camila me causa deixa tudo mais complicado. 

Essa semana foi bastante sufocante, Normani Hamilton na mesma clínica que eu, Dinah dançando como uma esquizofrênica na rua, ouvir Logan reclamando todo dia porque Zayn ainda não cumpriu sua parte na aposta, a chegada de Kaya, ajuda de Austin e Shawn, sem contar na excitação que senti em um de meus momentos ao lado de Camila. Tudo está fora do lugar e mudando tão intensamente que sinto como se minha massa fosse explodir a qualquer instante. 

O que Elvis faria? 

P.O.V Narrador 

20:30h da noite, 9 pessoas e um jantar. Michel Jauregui cuidou organizou tarefas para que tudo ocorresse bem, Clara havia cozinhado durante quase todo o dia, Chris e Taylor ajudaram não brigando para não atrapalhar e Lauren passou o dia no quarto treinando como se comportar quando a família chegasse. Era de praxe da garota exigir muito de si para agir com o que ela julgava ser normal e não como o irmão de seu pai, Enzo. 

Estavam todos na sala bem arrumados quando a campainha tocou anunciando a chegada da família Cabello. 

-Buonasera! Entrem, sejam bem-vindos! - Disse Michel assim que abriu a porta. 

-É um prazer conhecê-los, sou Alejandro Cabello. - o cubano falou estendendo a mão ao italiano que ao invés de apertar abraçou Alejandro e beijou-lhe as bochechas. -Essa é minha esposa Sinuhe e minhas filhas Camila e Sofia. - Disse ainda meio confuso com a recepção calorosa de Michel. 

-Che bella famiglia, eh? Essa é minha esposa Clara e meus filhos Lauren, Chris e Taylor. - Falou apontando para todos os integrantes da sua família. 

Não foi notório para todos como Lauren e Camila se olharam, mas Taylor observou atentamente tudo o que estava acontecendo naquele recinto. A conversa fluiu com facilidade, vai ver cubanos e italianos eram uma boa combinação. 

-Então, Clara, como vocês se conheceram? - Perguntou Sinu enquanto Clara servia seu Tortellini na mesa. 

-Bom, é uma história engraçada sabe? Eu tinha 16 anos e minha família tinha um restaurante que por acaso precisa de um novo fornecedor de vinho, Lorenzo, pai de Michel, estava a cidade negociando com alguns comerciantes e acabou fazendo negócios com meu pai. Era a primeira viagem de Michel para EUA, ele nem ao menos sabia falar inglês direito e mesmo assim fez questão de me jogar cantadas ridículas italianas. - Disse Clara nostalgicamente de suas lembranças. 

-E deu certo, passione. Esse olhos, eh? La cosa più bella di tutte - Michel falou ao olhar para sua esposa. 

-Tenho que concordar. - Camila se atreveu a dizer, mesmo tendo entendido só "cosa" e "bella", olhando diretamente para seu "pãozinho" que estava sentada à sua frente na mesa. 

 -Mas me diga, Sinu. Já não nos conhecemos? - O italiano continuou apesar do comentário estranho da garota. 

-Sim, Michel. Lauren foi uma ou duas vezes no meu consultório. Eu já havia comentado com Clara sobre essa coincidência. Não lembrei de primeira porque faz bastante tempo, não é? Ela já está uma moça feita. - Disse a pediatra – Mas como autismo não é a minha área, eu a encaminhei para um amigo especialista. 

E estas simples palavras de Sinu foram o gatilho suficiente para um dos surto de Lauren...