História My Stupid Boss - Visita inesperada

Jimin

Ao final da primeira sexta-feira de outubro, depois de uns dias corridos cheios de chuva ­– e estava chovendo fraco exatamente agora, por sinal –, trabalho, problemas e pegações aleatórias com o meu chefe, achei que ia finalmente chegar em casa, comer e dormir.

Ledo engano.

Primeiro sinal de que eu não ia direto para a cama: o maravilhoso cheiro de comida de mãe pelo corredor. Segundo: os sapatos de Jin na entrada. Terceiro: estava claramente tocando EXO.

– Logo hoje? – suspirei cansado. Ao ver os três conversando e rindo alto entre a sala de jantar e a cozinha, terminando de arrumar a mesa.

Poderia ser só uma refeição normal com amigos, mas haviam dois pequenos detalhes que transformavam toda a cena em uma promessa de vergonha alheia: o celular do Tae ligado numa caixinha de som e as bebidas ao lado do sofá.

– Fui promovido. – Yoongi sorriu empolgado.

– Sério?! – me animei na hora, largando minha mochila no chão e correndo para abraçá-lo. – Parabéns!

– Nosso aniversário está perto, acho bom você caprichar no meu presente com esse aumento, hein? – Taehyung provocou enquanto terminava de arrumar a mesa.

– Vocês só me dão um desconto e me deixam tomar um banho pra acordar antes, né? – perguntei me afastando de Suga.

– Claro, Minnie. – Jin finalmente saiu do fogão e veio me abraçar com carinho. – Vai lá enquanto a comida fica pronta. – selou minha testa e voltou para o fogão que era mais dele do que nosso.

***

Depois do banho, da comida maravilhosa e de dois copos de energético, eu estava totalmente acordado e rindo igual uma hiena das merdas que a gente falava e fazia. Resolvi que não iria beber, porque com o cansaço acumulado, eu dormiria não muito tempo depois da segunda dose. Já Yoongi se atracou na garrafa de vinho que comprara para comemorar de um jeito que agora estava no seu estágio de bêbado “dançando igual um louco, porém mais quieto que o normal”.

Fui trocar mudar a música no celular do Tae quando uma notificação do Hobi apareceu com a prévia da mensagem, dizendo:

"Boa noite, meu anjo ❤"

Pressionei os lábios de forma nervosa e ignorei.

Claro que depois que falei com o Kim sobre isso, fui falar com Yoongi também. O problema é que ele não mente tão mal quanto seu namorado e falou que conversava bastante com Hoseok sobre alguns jogos que eles tinham em comum e me pareceu super convincente. Até eu perguntar por que o loiro não sabia disso. Ele falou que não achou necessário contar e mudou de assunto quase que na mesma frase.

Suspeito, apenas.

Desde então venho prestado mais atenção nesses dois. Só que eles continuam normais um com o outro, eles estão até se esfregando um no outro dançando Troublemaker exatamente agora! E como o Yoongi só faz quando fica bêbado, lá estava ele rebolando interpretando a Hyuna na dança.

– Pra variar, a gente sobrou. – Jin comentou rindo do quase pornô ao vivo que passava na nossa frente, já que as mãos deles passavam pelos corpos com um pouco mais de intensidade do que a coreografia exigia.

– Ah, mas não mesmo! – levantei teatralmente irritado e empurrei os dois, trocando de música e chamando Jin pra dançar.

E eu e o hyung logo estávamos dançando OK de Strawberry Milk, até que ouvimos o toque do meu celular. Abaixamos o volume da música nada constrangedora e eu fui atender ao telefone.

Estranhei ao ver que era um número desconhecido. Bufei e me joguei no sofá, atendendo a ligação.

– Quem é? – grosso mesmo, obrigado.

– Jimin, sou eu. – a voz inconfundível do meu chefe falou do outro lado da linha, acompanhado do barulho da chuva torrencial que caía.

– Minnie, quem é? – Taehyung perguntou de forma manhosa e se jogou no meu colo. Alguém para de dar bebida pra essa criança, por favor. – Desliga logo e vamos continuar!

– "Minnie"? Eu... Eu estou interrompendo?

– O quê? Não! Sai, TaeTae! É o Jungkook! – empurrei o loiro para longe.

– Me deixa subir.

– Você tá aqui? – perguntei assustado, me levantando num salto – Como sabe meu endereço? E o meu número?

– Sua casa é mais perto que a minha, me deixa subir logo, eu estou encharcado.

– Você tá na chuva? Seu maluco! Espera, vou abrir pra você. – apertei o botão para liberar a porta lá em baixo. – Entra logo! É o apartamento 305.

Desliguei a ligação apressado, esclarecendo o que estava acontecendo para os presentes ali. Taehyung só faltou dar pulinhos de alegria, já que apenas Jin conhecia pessoalmente o Jungkook.

A campainha tocou e eu abri a porta imediatamente, me surpreendendo com o Jeon pingando. Vamos só ignorar o fato de eu ter reparado demais na camisa branca – agora transparente – dele.

Como a boa omma que Seokjin é, logo ele estava ali entregando uma toalha para o moreno.

– Eu vou fazer um chá, acho bom você ir tomar banho. – Jin disse, indo para a cozinha.

– Caralho, o que aconteceu?! – perguntei já querendo rir da situação toda.

– Meu carro estragou de manhã e meu pai estava me enchendo o saco até agora na sala dele. Não passou um maldito táxi sequer nessa merda, daí eu resolvi ir pra casa andando, já que estava só garoando.

Eu até tentei, mas no final das contas não consegui segurar o riso.

– Tá, vai rindo, ô idiota. – resmungou irritado.

– Desculpa! Entra logo, você precisa de um banho! Tae, empresa alguma roupa pra ele? – pedi recebendo um aceno positivo em resposta. – Venha. – chamei Jungkook para o meu quarto, pois cederia o meu banheiro para ele.

Levei-o até o banheiro, estranhando o jeito quieto dele.

– Vou trazer outra toalha e as roupas do Tae, certo? – avisei e saí, dando de cara com o Kim na porta, segurando exatamente o que eu precisava.

– Min Yoongi que me perdoe, mas se essa roupa vai tocar naquele “corpitcho” que eu acabei de ver através daquela camisa molhada, ah, mas eu não vou lavar isso daqui nunca mais!

– Eu ouvi isso! – Suga gritou da sala.

– Te amo, amor! – gritou de volta, tirando uma risada do namorado.

Ri também, mexendo a cabeça para os lados e voltando para o banheiro.

– Aqui estão as... – me interrompi quando cheguei ao banheiro e vi que ele estava sem camisa. – Eita. Quer me deixar com uma ereção bem na frente dos meus amigos?

– Jimin, por favor, né. Não é pra tanto. – ele falou enquanto eu acompanhava uma gota de água escorrer pelo seu peitoral, ir para seu abdômen definido e desaparecer na decepcionante calça que ele ainda usava.

– Como assim "não é pra tanto"? Você tá todo molhado e é um desgraçado de um gostoso, que outra reação eu vou ter além dessa?

Ele sorriu, seu ego parecendo um pouquinho mais inflado, porém ainda parecendo distante.

– Tá, agora me deixa tomar banho antes que eu fique doente...

– Não quer uma ajudinha? – perguntei sugestivo, fazendo-o rir.

– Hoje não. – ele comentou e logo seu semblante se tornou meio triste.

– Ok... – respondi fazendo um bico. – Se mudar de ideia, é só chamar. – sorri tentando animá-lo antes de sair dali.

Será que aconteceu algo? Aish, a gente só troca saliva e dá uma mãozinha um pro outro; isso não significa que eu tenha intimidade pra perguntar!

Preferi não pensar nisso por enquanto e voltar para a sala para o casal me olhando de forma maliciosa.

– Seu peguete tá tomando banho no seu banheiro e você está aqui? – o mais alto perguntou.

– Acho que aconteceu alguma coisa. – falei perplexo. Eles não me responderam, tão perplexos quanto eu. – Ah, deixa pra lá. Só vou poder ajudar se ele me contar. – dei de ombros.

– Foda-se, então! – Tae jogou os braços pra cima e riu de algo que só ele entendeu. – Agora aumenta o som porque eu amo essa música! – pediu assim que ouviu Excuse Me do grupo BESTie tocando.

Fui até o celular dele e aumentei o volume, já sentando ao lado do Yoongi para assisti-lo dançar, abaixando e erguendo sua meia 7/8 imaginária como as garotas fazem na dança com uma de verdade, nos arrancando risadas. Não aguentei e levantei, dançando junto com ele quando chegou na parte do refrão.

Quando a próxima música começou, colocamos Jin que voltara da cozinha e Suga pra dançar. Nossos hyungs eram mais atrapalhados que nós para dançar, mas não deixava de ser divertido. Seguimos assim, meio revezando, meio dançando todos juntos por outras três músicas de girl groups – que particularmente tinham nossa preferência. Mal notei quando Jungkook havia saído do banho e lá estava eu dançando Wiggle Wiggle, de Hello Venus.

Claro que eu fiz questão de continuar a dançar com ainda mais empenho e olhar fixamente pra ele.

– Uh, acho que estamos atrapalhando algo, não acha? – Jin comentou quando reparou para quem mexia os quadris com vontade, da forma mais sensual que eu conseguia fazer.

– Fecha a boca, Jungkook! – Tae provocou.

O Jeon mexeu a cabeça para os lados como se acordasse de um transe e olhou para os outros na sala, comentando:

– Pelo jeito já me conhece.

– Claro! Jimin só fala de você... – Tae respondeu com um tom malicioso.

– Não é verdade. – menti apressado fazendo um bico, atraindo a atenção do nosso visitante novamente. Sorri por ter seus orbes negros percorrendo meu corpo enquanto eu me movimentava.

– O que ele fala? – perguntou ainda me encarando, me fazendo errar um passo só em pensar na merda que aquilo viraria se eu deixasse conversa continuar. Afinal, eu passei a semana inteirinha reclamando sobre o quanto eu queria aquilo maravilhoso do Jungkook entrando e saindo de mim em certo buraco que não era a minha boca.

Parei de dançar e me joguei no colo do Tae.

– Que tal se apresentar direito antes de sair espalhando essas coisas por aí? – lhe lancei o olhar mais ameaçador que consegui e abracei seu pescoço com a intenção de talvez enforcá-lo.

– Ok, ok! – ele concordou rindo e me empurrou de cima dele. – Sou Kim Taehyung, a estrela da vida desse baixinho invocado!

Revirei os olhos, mas depois acabei rindo da sua apresentação.

– Min Yoongi. – o de cabelos pretos só ergueu a mão em um aceno parado, sorrindo meio retardado depois.

– E você me conhece pelo Nam. – Seokjin se pronunciou. – Bem, eu vou lá buscar o chá pra essa criança... – levantou-se e, antes de ir para a cozinha, parou e pegou a toalha dos ombros do Jeon e passou no cabelo dele. – Aigoo, seque direito esse cabelo!

– Vai logo lá, omma. – brinquei e peguei seu lugar em secar os cabelos castanhos. – Vai pra casa agora? – pergunto enquanto passo a toalha delicadamente pelos fios molhados.

– Acho que sim... – suspirou.

– Está tudo bem? – perguntei curvando as sobrancelhas, de forma preocupada.

– Sim. – respondeu vago.

Afastei a toalha dele, olhando fundo nos seus olhos, o desafiando. Vi que ele não realmente não diria nada e me afastei, esticando a toalha molhada no encosto de uma cadeira ali perto.

– Tá bom. – concordei, não insistindo no assunto.

Só então reparei nos olhares maliciosos do casal que já voltara a dançar e do nosso hyung na cozinha. Encolhi os ombros e corei um pouco, mesmo sem entender por que.

– Que tal assim: nós todos fingimos que Jimin não tem um carro e pode muito bem levar Jungkook pra casa e o obrigamos a ficar aqui? – o brilhante Kim Taehyung salta do sofá, ficando em pé.

– Hm, e forçá-lo a dançar com a gente também? – Jin perguntou sugestivo, chegando com uma xícara de chá.

– Ótima ideia! – me recompus e bati palminhas. – Pode ser, então? – perguntei para a vítima da situação.

– Eu acho que eu...

– Perfeito! – o Kim mais novo o interrompeu como se ele tivesse concordado. – Só beba logo o chá antes que o hyung tenha um treco!

Entramos numa breve discussão sobre qual música colocar para meu chefe dançar enquanto ele tomava o chá assistindo tudo. Fomos passando as músicas, buscando por alguma que ele pudesse conhecer, até que começou a tocar Adult Ceremony, da Park Ji Yoon, e pude ver Jungkook bufar e olhar para o teto.

– Essa música é tão nostálgica. Será que eu ainda lembro? – ele largou a xícara vazia na mesa ali perto e veio para o meio da sala, sendo recebido com aplausos e assobios.

– Você dançava, senhor Jeon? – perguntei curioso.

– Um pouco. Culpa do Hobi. Na verdade, estou achando essa situação extremamente parecida com as que ele me colocava... – ele falou e começou a executar os passos de forma desajeitada, pegando o jeito aos poucos. – Aish, eu não lembro direito. – ele parou e riu nervoso.

– Me acompanha. – coloquei a música no começo e fui dançando, ele me olhando e copiando os passos, agora acertando mais. Eu não acredito que esse idiota dança melhor do que eu pensava! – Desgraça, você dança bem! E eu achando que a gente ia só rir da sua cara! – reclamei realmente surpreso.

Ele riu sem graça e continuou a coreografia em silêncio. Chegamos ao final da música com sucesso, recebendo aplausos da nossa plateia. Sentamos no sofá enquanto Jin e Yoongi levantaram para dançar a próxima.

– Vocês fazem isso sempre? – Jungkook perguntou curioso. Bem, aquela realmente era uma situação engraçada para se presenciar.

– Ah, tipo uma vez por mês e em comemorações. Hoje é porque Yoongi foi promovido. – comentei ouvindo um “finalmente” vindo de Taehyung e logo depois cantarolar feliz olhando para o namorado.

– Vão fazer isso semana que vem também? – Kook continuou curioso.

– Ué, por quê? – questionei perplexo.

– Porque é seu aniver... – ele parou antes de completar a palavra.

Olhei para ele desconfiado e levei as mãos para a cintura.

– Jeon Jungkook, você anda me stalkeando? – perguntei indignado. Notei na hora TaeTae ficar interessado demais na nossa conversa.

– Não, eu... – ele desviou o olhar, ficando meio sem graça.

– Como sabe meu endereço, número e aniversário, afinal?

– Vi na sua ficha. – respondeu rápido.

– Quando? – cerrei os olhos para ele.

– Quando meu pai te contratou, claro.

– Você não sabia de nada disso antes! – exclamei rindo. – Te conheço o suficiente pra saber que você nunca leu uma ficha sequer dos funcionários!

– Tá, tá! – se deu por vencido, irritado. – Foi na sua folga!

Levantei rindo, indo para o celular do Taehyung para olhar as próximas músicas. Escolhi uma e enquanto voltava para perto do sofá, resolvi provocar Jungkook só um pouquinho mais:

– Você realmente sentiu minha falta aquele dia, hein?

Mas ao invés de ele continuar emburrado depois do meu comentário como eu queria que ficasse, ele ficou sério e me puxou pelo braço, fazendo com que eu caísse em seu colo.

– Senti, sim. – afirmou com a voz rouca perto da minha orelha. – Eu não conseguia parar de pensar no meu pau nessa sua boca. Quer mesmo continuar falando disso? – ele falou baixo, porém eu tenho certeza que todos ouviram, principalmente depois do assovio que Tae soltou.

Ah, merda. Preciso mesmo dizer que corei da cabeça aos pés?

– Mas podem parar com essa putaria agora, porque eu me recuso a ficar de vela de vocês dois também! – Jin protestou me arrancando do colo de Jungkook.

– Ele que começou! – apontei de forma infantil para o Jeon no sofá, que ergueu as mãos como quem diz “sou inocente”.

– Da próxima vez eu vou chamar o Nam... – o hyung resmungou irritado, cruzando os braços e fazendo um bico.

Acabamos rindo da manha dele e voltando à nossa programação de às vezes dançar, às vezes parar só pra conversar e rir de qualquer coisa; até mesmo Jungkook se enturmou bem e ficou conversando como uma pessoa civilizada. Sem comentários ofensivos, sem babaquices... Meu menino tá crescendo, gente! Ele nem ligou quando rolou certa interação exagerada do casal ali presente!

Nós só notamos que era hora de parar quando Yoongi acabou dormindo no tapete abraçado com a garrafa de vinho vazia e os vizinhos já haviam reclamado da música pela terceira vez.

Tae e Seokjin deram um jeito de carregar o corpo praticamente morto de Suga até o quarto e, depois de insistir muito, convenci Jin a ir dormir enquanto eu arrumava tudo, deixando eu e Jungkook sozinhos ali na sala. Fui arrumando o cômodo, desligando a música, tirando o que sobrou das bebidas e devolvendo a mesinha que costumava ficar ali no centro.

– Quer que eu te leve pra casa? – perguntei para o moreno, já incomodado com o silêncio que havia ficado.

– Se tiver espaço pra eu dormir aqui, não precisa. – deu de ombros.

– Tudo bem você dormir na sala? Jin está usando o quarto de hóspedes... – fiz um bico pensativo.

– Tudo bem.

– As roupas do Tae estão boas? Não emprestei as minhas porque nunca iriam servir.

– Estão sim.

– Você está com fome? Se estiver, é só ir ali na cozinha e...

– Jimin, tá tudo bem! – ele falou mais alto, rindo da minha preocupação repentina.

– Desculpa! – acabei rindo também. – É que eu me preocupo com você e eu sei que aconteceu alguma coisa. Acabo tentando compensar com outras coisas quando sei que não posso fazer nada por alguém... – olhei para o chão, um tanto envergonhado.

– Foi só um assunto chato com o meu pai somado a todas as merdas que aconteceram hoje. Meu carro, o trabalho, a chuva...

– Entendo. – suspirei cansado, vendo que a sala agora estava até que apresentável. – Bem, eu vou buscar um travesseiro e um cobertor pra você no quarto, então.

Entretanto, quando eu estava prestes a abrir a porta do meu quarto, Kook chegou por trás e segurou minha cintura, encaixando seu corpo no meu e enterrando sua cabeça no meu pescoço.

Inalou bem o meu cheiro ali, deixando um selar estalado que arrepiou até onde não tinha pelo.

– Jimin-ah... Me deixa dormir com você.