História Na calada da noite - Prólogo

Hermione se encontrava no banheiro de sua casa, escovava seus cabelos, que caiam em perfeitos cachos sobro o ombro. Já estava vestida e pronta para ir ao expresso de Hogwarts para seu sexto ano na escola da magia e bruxaria. Naquelas férias, havia passado pouco tempo na Toca. Seu pai a obrigou a voltar para casa no Natal e a proibiu de escrever para seus amigos.

A verdade é que desde a morte repentina de sua mãe, Hermione não se sentia mais segura em sua própria casa. Andava nas pontas dos pés tentando não fazer barulho, não ia a cozinha ou a sala, não ficava no quintal e poucas vezes saia de casa. Andava simples, sem chamar atenção dos vizinhos para que ninguém suspeitasse do que acontecia lá dentro. Ela tinha medo. Medo dos sussurros dele, das batidas na porta, do suor. Medo das pontas de seus dedos e do seu sorriso torto quando pronunciava “assim mesmo filhinha” . Ela tinha medo.

Começou a suspeitar de todos os meninos e homens que a olhavam. Se algum deles estendesse a mão para cumprimentá-la, ela se encolhia. Se chegassem perto era tomada por um desespero anormal e entrava em pânico. Estava ferida, fisicamente e mentalmente. Não era mais a irritante sabe tudo, a menina que tinha respostas na ponta da língua, não estudava mais e muito pouco falava. Não era nem de perto a Hermione Granger.

Saiu do banheiro e pegou seu malão, acariciando Bichento. Desceu as escadas e foi direto ao carro onde seu pai já a esperava para levá-la ao expresso. Sentiu um arrepio passar pela sua espinha quando seus olhos encontraram os daquele monstro. Não o reconhecia mais. Não parecia seu pai, ele a olhava sem nem disfarçar o desejo, olhava com luxuria, olhava a filha como uma amante. Ela só queria que isso acabasse, ela queria acabar com tudo.

Hermione entrou no carro em silêncio e logo partiram. Durante o caminho inteiro apenas o rádio era ouvido. O clima era tenso, e por Merlin, a garota só queria chegar logo a Hogwarts e sair de perto de seu pai. Após vinte minutos chegaram à estação. Hermione ao empurrar a porta para sair do carro foi impedida tendo seu braço agarrado e apertado:

–Não ganho um beijo de despedida filhinha? – sussurrou Patrick ao seu ouvido.

Antes que pudesse responder, o homem tomou seus lábios com selvageria a prendendo ainda mais a seus braços. Hermione fungou e tentou empurrá-lo mas nada podia fazer, seu pai era três vezes maior que ela. Quando a soltou, mais que de pressa, a castanha saiu do carro junto com seu malão e correu para dentro do prédio ouvindo seu pai gritar atrás “não vá brincar com seus amiguinhos, você é só minha hein!”.

O mais rápido que pode, Hermione adentrou o trem sem ao menos esperar por Potter ou Weasley, achou uma cabine vazia e se sentou lá mesmo. Abaixou as cortinas, trancou a porta e recostou sua cabeça no banco, só queria ficar sozinha. Uma dor ponte aguda se instalou em sua coxa, passou os dedos pela região e sentiu lágrimas caindo em sua bochecha. Havia esquecido o quão dolorida e machucada estava, era possível encontrar manchas esverdeadas e arroxeadas por todo o corpo. Pernas, braços, costas, nuca. Ela estava péssima.

Passou o dedo indicador sobre os lábios recebendo um forte arrepio.

Flashback on

–Vamos Hermione, só quero fazer carinho na minha menininha! – sussurrou seu pai

–Não, por favor, me deixa ir! – As lágrimas já escorriam pelo rosto da castanha. Hermione se encontrava totalmente nua em baixo daquele monstro repugnante implorando para que sua alguém a salvasse.

–Sua mãe não está aqui querida, agora você é só minha, só minha para sempre.

E sem a menor dó, o homem começou os movimentos selvagens, Hermione gritava e pedia para que parasse mas de nada adiantou. Era doentio. Os gritos da garota serviam de incentivo e a cada toque, cada movimento, ela se sentia mais suja, mais fraca.

–Vamos garota! Você é um lixo! Ninguém jamais irá te amar, eu sou o mais próximo do amor que você um dia irá conseguir!

Aquelas palavras a atingiram brutalmente. Olhando para o teto e pedindo, silenciosamente, por socorro Hermionefechou os olhos e sentiu a dor tomar seu corpo, não adiantava gritar, ninguém a ouviria.

Flashback off.

Sentindo as lágrimas queimarem em sua face, Hermione fechou os olhos e relaxou o corpo. Pelo menos até chegar em Hogwarts nenhum homem a tocaria.