História Na mesma moeda - Se ele não me quer, tem quem queira!

Quando finalmente tomo coragem para entrar no restaurante tomo a mão de Kris na minha e sigo em frente.

Pra seguir o roteiro, é preciso entrar no personagem.

 Todo o caminho até à mesa seguro a mão de Kris bem firme. Tenho certeza de que ele percebeu o quão nervoso eu estava, pelo suor que se formava na minha mão.

Quando passamos próximo à mesa de Sehun, percebo que o mesmo me nota, mas não vacilo nem um segundo e sigo em frente. Kris puxa a cadeira para que eu me sente e a hostess nos entrega o cardápio de bebidas. Olho a opção mais forte e peço. Whisky.

— Ballantine's. — digo firme. Kris me olha em dúvida mas não questiona.

— Um Merlot. — o garçom sai e volta depois com as bebidas e os cardápios de pratos.

Me sentei de frente para Sehun, mas não levantei o olhar para ele uma vez sequer. Viro minha bebida de uma vez só e tomo coragem para olhar em sua direção. Ele está olhando fixamente, com um olhar fulminante para Kris, que está de costas para ele. Então ele percebe que estou olhando.

Ele me fita por um tempo com um olhar acusador, mas não o deixo me abalar e dou o sorriso mais amigável que consigo. Sua careta se intensifica mais ainda quando seguro a mão do Kris por cima da mesa.

— Hmm, o que acha do pato? — Kris pergunta, se referindo ao prato, parecendo alheio ao meu ato. Mas percebo que ele treme levemente.

— Parece bom. — respondo e lhe dou um sorriso doce.

— Hmm... — ele sorri de volta. — Ele está olhando? — pergunta, se referindo a Sehun.

— Sim, está…

— Então... Que tal se fizéssemos o que o Kyungsoo disse agora? — propõe, enquanto me olha com expectativa e um sorriso malicioso.

— Você está se aproveitando da situação, não é mesmo? — acuso, estreitando os olhos em sua direção.

— Hey, eu sou o único a ser usado aqui, nada mais justo do que aproveitar um pouco, não? — ri um pouco e aperta a minha mão. — Vou ser sincero com você. Você é muito lindo e eu fico louco pra te beijar só de olhar pra sua boca. E você ainda me aparece loiro! Caramba! — ri um pouco alto com a sua confissão, mas no fundo fiquei envergonhado.— E você fica corando quando olha pra mim, aish... Isso só aumenta o meu desejo. Então vamos ajudar um ao outro. Eu te ajudo a irritar o seu ex, e em troca você me deixa beijar essa boquinha. O que acha, Hum?

Eu não era nem louco de recusar uma proposta dessas. Além de mostrar pro Sehun que minha vida não girava em torno dele, ainda ia ficar com um homem como Yifan.

— Bom...Pode ser...mas eu...— tento expressar meus pensamentos mas percebo que estou nervoso.

Então ele arrasta sua cadeira para perto da minha. Um dos garçons olha feio para ele, por se colocar em seu caminho, mas ele nem parece se importar.

— O que está fazendo? — pergunto, quando ele pega minha mão novamente e a leva aos lábios, olhando em meus olhos.

— Shh... Vamos brincar um pouco.

— Kris, o que você... — me interrompo e suspiro quando ele dá um beijo suave em minha bochecha.

Olho de relance para a mesa do Sehun e percebo seu olhar nada agradável em nossa direção. Abro um pequeno sorriso e inclino a cabeça dando mais acesso a Kris.

— Quase explodi minhas calças quando te vi chegar no apartamento do Luhan. — sussurra em meu ouvido enquanto morde o lóbulo da minha orelha. — e essa calça então... Ficou perfeita em você. Realçando suas pernas...

 Dou uma risadinha e, provavelmente, coro de leve.

— Kris... — passo minha mão por entre suas mechas louras.

— O quê? — pergunta se afastando e se ajeita em sua cadeira.

— Bom... Eu queria me desculpar... — começo, enquanto miro o copo de bebida já vazio.

— Não precisa. Estou me divertindo muito fazendo isso por você...

— Não por isso... — engulo em seco e o olho. — Você sabe... por ter te deixado naquele estado no banheiro.

Ele sorri com humor e balança a cabeça negativamente.

— Não tem problema, Min, agora eu entendo que você não estava preparado. — diz em um tom compreensivo e toma um gole do vinho. — Sei como é difícil quando isso acontece com um relacionamento de anos. Já passei por algo parecido... Mas quando você superar e precisar de um "amigo"... Estarei bem aqui. — aprecio seu sorriso malicioso ao final da frase.

— Fico feliz por isso, adoraria desfrutar um pouco da sua amizade. — devolvo seu sorriso, enquanto acaricio sua coxa por debaixo da mesa. Ele se inclina em minha direção, mas dessa vez sela seus lábios nos meus por longos segundos. Sua língua adentrando minha boca, bem de leve...

 — E pode ter certeza que farei com que seja inesquecível. — sussurra ao se afastar, com a voz grave e rouca. Sorri mais uma vez, antes de me beijar novamente... Agora com mais intensidade.

Eu já havia dado passagem para que sua língua entrasse e explorasse cada canto da minha boca em um ósculo viciante. Era extremamente prazeroso beija-lo. Nossas bocas se encaixando e aquela língua ousada me deixando meio alterado.

Repetindo...

Kris tinha uma pegada do cacete!

Levei minha mão direita ao encontro dos seus fios macios, enquanto a esquerda repousava em seu ombro. Estávamos expostos a olhares críticos e julgadores, mas não se tem tempo pra pensar nisso quando se está beijando um loiro daqueles...

E foi quando Kris desceu suas mãos para minha cintura e a apertou de forma possessiva, que escutamos o som alto de um soco em uma das mesas.

Separei nossas bocas rapidamente, com um estalo, e olhei para onde vinha o barulho. Meus olhos encontraram os de Sehun...

Ira definia o seu olhar naquele momento.

 — Sehun, amor, o que houve? Por que esse surto? As pessoas estão olhando. — consegui ouvir o tal Baekhyun falando com Sehun de forma doce e calma. Pude ver apenas sua blusa azul marinho e o seu cabelo, de relance. Parecia ruivo...

— Ah. Me desculpe. Eu me lembrei de um problema na empresa que está me incomodando muito e me exaltei ... — ouvi Sehun responder calmamente. Seus olhos estavam em mim.

Não cogitei a possibilidade dele vir tirar satisfação, apenas por estarmos em um local público. Esse tipo de escândalo lhe traria problemas com a imprensa, e como Sehun se importava muito com sua imagem...

Mas percebi que eu estava errado ao vê-lo se levantar.

— Onde vai, amor? — perguntou o amante.

— Eu vou ali falar com um velho amigo, Hyunnie. Eu já volto.— respondeu ainda olhando pra mim, e eu já estava me desesperando...

Como assim ele vinha falar comigo?

Tentei focar no meu atual problema e não ficar magoado por ter sido chamado de "velho amigo". Sehun já estava vindo em minha direção e eu percebi que não estava pronto pra isso... Mesmo com Kris ali, eu ainda me sentia inseguro para enfrenta-lo, enquanto a pessoa que tomou o meu lugar, estava bem ali.

Por esse motivo, levantei bruscamente da minha mesa e rumei para o banheiro, sussurrando um 'já volto' para Kris…

...

Eu não sabia que eu era tão medroso.

Eu não era assim.

Eu costumava ser mais ousado e sempre enfrentar todos os meus medos... Kim Minseok, sempre imbatível. Costumava ser assim. Parece que o Sehun realmente me mudou muito... Preciso me reerguer de alguma forma e voltar ao meu antigo eu. Prometi à ela que não deixaria ninguém me mudar.

Olho fixamente pro meu reflexo no espelho do banheiro. Estava pronto pra jogar água no rosto, quando escuto aquela voz novamente.

— Ahh, Olá! Você é amigo do Sehun, né? —  escuto ele caminhando até mim e me viro para olha-lo.

Minha Nossa!

Ele era lindo…

Ah. Meu. Deus! Ele é perfeito.

Sua pele é clara e parece ser tão suave e macia que dá inveja em qualquer modelo famoso. Seu rosto é perfeitamente fino e delicado e ele possuía feições infantis, assim como eu... Sua voz era doce e melodiosa. Poderia facilmente se passar por um adolescente. Seus lábios eram finos e rosados, e seu cabelo parecia extremamente macio e sedoso. Ele parecia ser só um pouco maior do que eu e tinha pernas muito bonitas. Pude perceber isso pela calça extremamente colada que estava usando. Seu rosto me era familiar, mas não faço ideia de onde posso conhecê-lo. 

E eu estava na bad agora...

Esse era o amante de Sehun?

Eu estava esperando um megera, áspero e arrogante. Meu mundo desmoronou...

Ele parecia um anjo, gentil e meigo. Confirmei esse fato, quando o mesmo me sorriu docemente, revelando um sorriso retangular muito bonito e fofo.

 Ele estava rindo da minha cara embasbacada, tenho certeza.

— Algum problema? — perguntou calmamente. Até demais...Ele era perfeito demais pra ser verdade. Isso não me agradou nem um pouco, só me deixou pior do que eu já estava.

 — B-bem E-eu, E-eer — tento lhe responder. — Desculpe, o que disse?

— Eu perguntei se você é amigo do Sehun, o meu noivo. É que eu vi vocês dois trocando olhares lá fora. A propósito, me chamo Baekhyun.

Noivo?

Eu não acredito nisso!

Eu estava acabado? Sim!

Arrasado? Com certeza!

Estava mal por ter sido trocado por um ser tão perfeito quanto aquele ? Estava sim!

Vou ficar chorando e demonstrando fraqueza porque fui rapidamente trocado? Mas é claro que não!

Eu estava cansado de tudo isso. Eu só sabia chorar e me lamentar, eu só sabia me compadecer da situação, mas eu engoliria a tremenda inveja que eu estava sentido por Baekhyun e me faria de forte com um sorriso no rosto. Além de que, ele parecia não saber do canalha que o Sehun era.

 Assim como eu não sabia...

E se vocês acham que eu abriria seus olhos, estão muito enganados.

— Ah, sim! Somos amigos de longa data...Prazer, sou o Minseok. Não sabia que Sehun estava noivo,  há quanto tempo se conhecem? — pergunto, retribuindo seu sorriso — falsamente cof cof *.

— Bom, se você é amigo do Sehun, é meu amigo também. E bem, nós nos conhecemos há muito tempo, desde o colegial na verdade. — eu estava chocado, passado, embasbacado. — Sehun é o namorado perfeito, sabe. — ele suspira, apaixonado. — Tão atencioso e carinhoso comigo, não vejo a hora de nos casarmos. 

— Ah, é mesmo? — eu estava acabado por dentro, mas eu já poderia trabalhar como ator de Drama.

 — Sim! Você que é amigo dele, deve saber como ele é ranzinza às vezes, mas ele sempre me diz que eu sou o único capaz de pôr um sorriso em seu rosto, acredita? Tão fofo...

Meu coração se despedaçando a cada palavra, e o meu sorriso falso só aumentava...

— Nossa... Vocês realmente parecem se amar muito. Desejo muitas felicidades pra vocês. — me surpreendo com o quão verdadeiro soaram essas palavras. Acho que no final das contas, eu estava aceitando que Sehun não me amava.

— Muito obrigado! Seremos muito felizes, sim! — responde dando ênfase no "Muito". — A propósito, amei o seu cabelo, seu namorado tem muita sorte de ter alguém tão estiloso como você. — fico surpreso com o elogio, mas não deixo transparecer.

Olho em sua direção para lhe agradecer.

— Ah, Obrigado! — respondo, só agora reparando na cor do seu cabelo. Era exatamente a mesma tonalidade do meu antigo ruivo, e ainda o mesmo corte. — E bom, Kris não é meu namorado. — acrescento, enquanto arrumo meu cabelo no espelho. Realmente. Meu cabelo estava magnífico, modéstia à parte — Ele é só um ficante que eu conheci na balada. — lhe dou um sorriso.

— Ah, entendo. Mas deixa eu te dar um conselho, Minseok, se me permite.— se aproximou, como se fôssemos amigos íntimos. Não vai saindo com qualquer um sem se informar antes, sabe. Um loiro daqueles, solteiro...Muito estranho. — falava enquanto mexia no cabelo, ajeitando no reflexo do espelho.— Se ele tiver alguém, você acaba ficando com uma fama ruim, se é que me entende...

— O que você quer dizer com isso? — pergunto em um tom não tão calmo, arqueando uma sobrancelha. O que ele estava insinuando?

 — Ah, querido. Não precisa ficar chateado. Estou falando isso pro seu bem. Eu duvido muito que ele esteja solteiro e como todo mundo viu vocês dois juntos...

Ele estava falando aquilo mesmo pra mim? E ainda com aquele sorrisinho doce no rosto? Ah, eu não sou pago pra isso. Que tal se ele descobrisse que ele que era a pessoa que se envolvia com gente comprometida sem se informar antes?

Eu estava pronto pra destilar o veneno que eu acumulei em anos de amizade com Kyungsoo, mas ele barrou minha ação.

— Bem, tenho que ir! Foi bom conversar com você, Minseok, mas agora tenho que voltar. Sabe como é, meu amor está esperando. — diz, sorrindo largamente, como um bobo apaixonado. — Pensa no que eu disse, okay? Bye.

— Ah, Claro! — freio minha raiva, sorrindo falsamente de novo. — Muito bom te conhecer, Baekhyun. Tchauzinho. — acompanho seus passos até ele sair pela porta enquanto acenava de volta.

O que foi isso? 

Que coisa estranha. Será que Sehun mandou ele aqui de propósito? Será que ele estava só tentando me colocar pra baixo? E esse Baekhyun insinuando que eu pudesse ser um amante de Kris ? Meu Deus!

Okay. Foram muitas emoções para uma noite.

Preciso voltar pra casa e bolar um plano. Baekhyun parecia ser uma boa pessoa, apesar de ser estranhamente simpático. E ele realmente parecia sincero em tudo que disse, até sobre só querer o meu bem.

 Preciso esclarecer as coisas na minha mente e ver o que faço da minha vida.

Saio do banheiro à procura de Kris para que possamos ir pra casa. O encontro mexendo no celular. Caminho até ele e pronuncio um ' te conto depois ' ao perceber sua expressão confusa.

Saímos do restaurante com Kris abraçado à minha cintura. Antes de sair, olho para Sehun e Baekhyun uma última vez... Nunca mais você vai me humilhar desse jeito, Oh Sehun. Nunca mais!

...

Quando finalmente estamos do lado de fora do restaurante consigo respirar novamente.

Mas não vou desabar, nunca mais, ou pelo menos não na frente de alguém. Outro vexame como esse está fora de cogitação.

— Vai me dizer o que aconteceu pra você voltar assim do banheiro? — pergunta Kris ao meu lado. Já estava quase lhe respondendo um "nada", quando ele prossegue — E não adianta dizer que não foi nada, porque eu percebi o acompanhante do seu ex indo em direção ao banheiro depois que você entrou lá.

Dou um longo suspiro tentando procurar alguma outra desculpa menos... Humilhante.

— Nada demais. Só trocamos poucas palavras. — confesso, percebendo o quanto é estranho dizer isso em voz alta. Eu tive uma "Conversa " com o homem que tirou o meu noivo de mim...

— E vocês conversaram normalmente? Sem gritos e xingamentos ?

— Por favor, Kris. Eu tenho cara de que faço escândalo? Além de que, o Sehun que quis assim, o amante dele não tem culpa disso. Pude perceber sua inocência enquanto tivemos uma pequena conversa. — explico, seguro do que estou falando.

— Uau, você é a primeira pessoa que eu conheço que não tem vontade de trucidar o amante do namorado. E de que conteúdo seria essa conversa?

Sorrio levemente pra ele antes des responder. 

— Hmm, parece que o Sehun está noivo. — falo e lembro-me do que o Baekhyun disse. — E já faz algum tempo. — completo, em um tom melancólico. Eu ainda estava chocado.

— Ahh, então... — ele coça a nuca. — O que irá fazer agora?

— Sinceramente? — solto um longo suspiro. — Eu não sei direito. Eu só sei que eu não posso... — sou interrompido pelo toque do meu celular.

Dou um sorriso involuntário quando vejo o apelido carinhoso e a foto que pisca na tela. Atendo.

— Nini!

 — Minnie!  — diz ele com a voz animada. — Você não me ligou ou me procurou mais depois daquela noite, fiquei preocupado. Como você está?

Me sinto envergonhado e com um pouco de culpa por não ter dado notícias ao Jongin. Ele deve ter ficado muito preocupado mesmo. Olho em direção a Kris e suspendo o indicador pedindo um minuto.

— Ah, me desculpa, Kai! É que eu precisava de um tempo e... Bom, eu estou bem melhor agora. — digo tranquilamente, para que ele não ficasse preocupado.

 — Entendo, Min. Imaginei que precisaria de um tempinho. Ahh, tenho uma novidade!

 — Humm...E qual seria, senhor Jongin? — pergunto curiosamente.

— Eu falei com o Chan. Parece que a viagem dele foi cancelada ou coisa parecida. Por que não vem me fazer uma visita? Aí eu te conto tudo.

— Agora? — pergunto e olho para o loiro em minha frente.

— Sim, por que não?

— Tudo bem então. Estarei aí em 10 minutos.

— Tudo bem. — consigo perceber o sorriso em sua voz e outro se abre em meu rosto.

Eu estava mesmo precisando ver Jongin, ele me distraía e eu não precisaria ir pra casa passar a noite pensando nos acontecimentos recentes.

— Kris... — o chamo.

— Sim?

— Muito obrigado por essa noite. — agradeço, enquanto abraço o mesmo. Eu estava praticamente na ponta dos pés... — Você me ajudou muito.

— Que isso. — ele dá um beijo em meu pescoço e então sussurra em meu ouvido. — Foi um prazer...— completa com um sorriso galanteador.

— Aproveitador! — rio enquanto me afasto e vejo sua falsa expressão de inocência.

— Quer que eu chame um táxi pra você ou te deixe em casa?

— Não, não, pode deixar. Irei para a casa de um amigo. — respondo e vou me afastando. —  Avisa pro Soo que amanhã eu ligo pra ele.

— Tudo bem. Espero nos vermos novamente. Quem sabe, eu possa te dar mais provas da minha amizade... — insinua, com um sorriso travesso.

— Ah claro! Vamos marcar um dia. — retribuo o sorriso e aceno para um táxi que para perto de mim no acostamento. — Muito obrigado mesmo.

— Sempre que quiser, Kim Minseok. 

Agora sim uma despedida descente... E com esse pensamento, eu entro no táxi e informo o endereço de Jongin ao taxista.

...

 Estava perdido em pensamentos, quando avisto da janela do táxi o campinho que eu costumava brincar quando criança, até mesmo na minha fase adolescente.

Percebo que estou a apenas alguns minutinhos da casa de Kai e penso em passear um pouco por ali antes de ir pra lá. Quem sabe não consigo pôr meus pensamentos em ordem...

— Pode me deixar aqui, por favor? — pago a corrida e desço do carro assim que o taxista para o veículo.

Caminho calmamente em direção ao campinho e atravesso a ponte que passa por cima de um riacho. Dou um suspiro de satisfação quando tiro os sapatos e meus pés entram em contato com a grama..

Ah, tudo era tão bonito, calmo e sereno.

Tinha um parquinho, logo em frente, onde eu brincava quando tinha 6 anos...Foi aqui que conheci Jongin e Chanyeol, se me lembro bem. Nós éramos muito próximos e unidos desde aquela época.

Caminho em direção ao parquinho e me sento em um dos balanços. Olho o campo de futebol em que eu jogava bola com os meninos, enquanto um sentimento de nostalgia me toma por completo.

Minha mãe não gostava muito que eu viesse aqui, ela dizia que era simples e não tinha luxo, não era lugar para uma "pessoa como eu". Como era próximo à casa de Kai, eu sempre fugia pra cá pra me divertir e dar um tempo da rotina.

Meu esconderijo do mundo lá fora...

Várias lembranças da minha vida passaram em minha mente, enquanto meu olhar se perde naquela vasta área verde e aconchegante.

Mas especificamente, lembranças da minha adolescência, quando eu já conhecia Kyungsoo e Junmyeon. E logo depois... Sehun.

Eu os conheci logo que entrei para escola nova, junto com Jongin e Chanyeol. Eu me apaixonei por Sehun na primeira vez que o vi...Ele fazia parte do time de basquete e era o garoto mais popular da escola. Descolado, mas possuía notas impecáveis.

Clichê, eu sei... Também achei isso.

Mas era realmente difícil não se apaixonar por aquele olhar misterioso e aquele sorriso de canto que ele exibia sempre. Aquela expressão indiferente e serena que chamava atenção tanto de meninas quanto de meninos. Sehun era perfeito em todos os aspectos.

Acho que toda essa perfeição me cegou...

Quando Chanyeol e Jongin entraram pro time de basquete, e eu entrei pro clube de canto, uma aproximação surgiu, pois Sehun já era amigo de Kyungsoo, que era o presidente do clube de canto. Basicamente, fiz amizade com Kyungsoo e Junmyeon — que também era um membro do clube — e os meninos fizeram amizade com Sehun. Nós fomos apresentados formalmente, começamos uma amizade e nos tornamos inseparáveis.

Parece que o mundo estava conspirando para que nos aproximássemos... Como puder ser tão cego?

Agora que me lembrei das palavras de Baekhyun...

"Nós nos conhecemos há muito tempo, desde o colegial na verdade"

Aposto que ele estava me enganando desde aquela época... Só de pensar que ele já poderia estar com Baekhyun desde quando éramos colegiais...

Por que ele fez isso? Por que enganar uma pessoa por tanto tempo assim? Sehun seria mesmo capaz disso? E todos os beijos apaixonados e declarações de amor...? Ele sempre foi tão carinhoso comigo. Como eu vou apagar todas as noites de amor que tivemos e o seu cheiro que ficava impregnado no meu corpo o resto do dia...? Era raro, mas o seu sorriso sincero me deixava tão feliz... É tão difícil aceitar que foi tudo uma grande mentira. É tão difícil...

Eu me sentia tão despedaçado por dentro, prometi a mim mesmo que não choraria e não seria afetado por isso, mas estou percebendo que é praticamente impossível.

Por que ele teve que me usar e depois descartar? Ele não é o primeiro a fazer isso... Será que eu sou tão vazio ao ponto das pessoas não me amarem de verdade?

Será que Kyungsoo é mesmo meu amigo? Será que Kai se preocupa tanto comigo quanto diz se preocupar? Será que eu posso confiar nas pessoas que me cercam?

— Aish, não seja ridículo, Minseok.— repreendo a mim mesmo por ter esse tipo de pensamentos.

Meus amigos sempre foram tudo que eu tinha, sempre ficaram ao meu lado nos momentos mais difíceis, e apesar de não ter a atenção e amor dos meus pais, eu também sei que ela me ama e vai estar comigo quando eu precisar.

Lembro-me da vez em que eu fugi de casa, porque a minha mãe não apoiou meu relacionamento com Sehun, e como meu pai estava viajando, ela aproveitou a oportunidade para tomar as rédeas da situação. Eu estava tão chateado e decepcionado. Eu só queria que ela me entendesse um pouco e parasse de me tratar como um mero objeto que não tem vontade própria. Então eu fugi de casa, fugi para os braços de Sehun para viver um amor proibido, longe de opiniões alheias e de julgamentos. Lembro-me como se fosse ontem, de como ela me ajudou e me deu todo o apoio do mundo.

Um sorriso involuntário surge em meus lábios. As memórias estavam tão frescas.

                                                                                  . . .

— Minseok, você é forte e independente. Você é livre pra fazer o que quiser, então não se submeta a ninguém ou muito menos deixe as pessoas te usarem e mandarem em você. Não abaixe a cabeça pra ninguém e mostre pras pessoas que duvidam da sua capacidade o quão incrível você é.— dizia firmemente me olhando nos olhos.

— Está se referindo a mamãe? Não gosto de pensar que terei que me voltar contra ela, de alguma forma...— eu dizia tristemente, quase sussurrando.

— Não estou me referindo só a ela, mas a qualquer um que te magoe. E você também não deve sofrer por ela, ela é um ser humano fútil e de mente pequena que não merece o filho que tem! — falava enquanto fazia um cafuné nos meus cabelos.

 — Noona, do jeito que você fala, parece que eu não devo perdoar as pessoas, e que eu devo ser frio e calculista.

— Não, meu amor, você só deve ser assim com quem te magoar muito, entende? Com as pessoas que te fizerem chorar muito, sabe? — acenei positivamente, e ela enxugava minhas lágrimas.  — Sabe qual a vantagem de gatinhos como nós? Somos amorosos e mansos, mas temos garras afiadas. Nunca esqueça disso. Você é um felino, afinal! — ao terminar a frase, nos permitimos olhar um para o outro e dar risada daquela conversa estranha.

                                                                                    . . .

Pensando bem, agora entendo o que ela quis dizer com aquela conversa.

Era exatamente isso, eu sempre fui assim, sempre me valorizei acima de tudo e nunca me permiti demonstrar o quanto estava sendo afetado.

A minha Noona me ensinou assim!

E se o Sehun pensa que ele vai me mudar porque foi o homem da minha vida, sim, ele está muito enganado. Amor próprio em primeiro lugar, como ela costumava dizer. 

Eu tenho pessoas que se importam de verdade comigo, e é apenas pra elas que eu darei o meu amor. Eu sou um felino afinal. Manso, mas com garras afiadas.

— Se isso é o certo...Por que ainda dói tanto? — questiono, limpando as lágrimas que eu nem se quer notei que tinham caído, enquanto levo minha mão até o meu peito.

— Talvez, porque você está sofrendo sozinho. Que tal dividir as dores?

 Essa voz...Meu Deus!

Me viro rapidamente, pra dar de cara com seu sorriso caloroso e familiar, e seus braços abertos.

 — Channie!