Não sou do tipo de cara tranquilo, que filtra bem as palavras antes de falar algo; nunca fui o tipo de cara paciente, mas também nunca fui do tipo de cara que se apaixona por uma garota.
Tudo bem, não estamos falando de qualquer garota. E bem, embora a resposta de Sakura à minha não confissão tenha sido horrível — mas previsível — não estou realmente arrependido. Sakura é uma garota incrível e, porra, como não se apaixonar se ela é tudo o que eu não sabia que queria?
Precisava dizer isso à ela e, bem, eu fiz. Sou exatamente o tipo de pessoa impaciente, que prefere um fora a ficar remoendo sentimentos indesejados.
Indesejados, sim. Acha que estou feliz por gostar daquela garota? Não estou, não mesmo. Mas eu deveria ter ouvido Itachi quando ele disse que um dia eu teria que pagar as minhas merdas; meu carma veio em forma de uma garota linda e incrível, mas que abomina a ideia de relacionamento, tal como eu abominava antes de conhecê-la.
Passei boa parte da noite revivendo sua reação, olhando para a parede do teto do quarto com o braço apoiado na testa. Quando Sakura não veio para o meu quarto, por um momento, odiei ter contado à ela sobre meus sentimentos, mas meu ódio rapidamente mudou de rumo.
Não odeio Sakura por não gostar de mim na mesma intensidade, mas odeio as circunstâncias que a fizeram temer tanto um relacionamento a ponto de sequer cogitar o quanto somos bons juntos. Como posso competir com isso?
Assim que acordo no dia seguinte, estou irritado e de mal humor, mas tento esconder isso. Os pais da Sakura são pessoas boas que realmente me deram um bom fim de semana, não queria descontar minhas frustrações neles.
Quando abro a porta do quarto, dou de cara com Sakura saindo de seu quarto. Ela está segurando o Kit-Kat entre os braços e está claramente surpresa por me ver. Talvez ela tenha achado que estamos em algum tipo de filme clichê onde o cara vai embora depois de confessar seus sentimentos para dar um ápice dramático na história, mas eu não sou do tipo que foge com o rabo entre as pernas.
E também, nossas passagens já foram compradas e não tem reembolso ou troca de horários. Então que se foda, ela vai ter mesmo que conviver com a minha não confissão.
Decido que vou fazer uma abordagem diferente, quando encosto um ombro no batente da porta.
— Bom dia, Sakura. Como passou a noite?
Ela morde o lábio, juntando as sobrancelhas. Ela faz isso quando não têm controle da situação.
— Bem, muito bem. — é mentira, mas ela não quer que eu saiba. — E você? Muito bem também, eu imagino.
Ela começa a andar, meio travada, quase robótica. Saber que estou afetando ela é o suficiente para ter um alento no meu mal humor, enquanto a sigo.
— Na verdade, dormi muito mal. — digo, com uma voz de lamento. — Você sabe, cheio de pensamentos, com muito frio e, claro, a cama estava bem espaçosa também.
— Ainda bem que vamos embora hoje, então. — sua voz está fina e baixa, é quase hilário. — Assim você poderá ter o clima de Nova York e a sua cama pequena de volta.
Quando ela começa a descer o primeiro degrau, eu seguro seu braço, puxando-a para tão perto que meu nariz encosta no seu. Ela exala, surpresa, pelos lábios cheios e róseos.
— E o que eu faço com os meus pensamentos sobre você, Sakura? — pergunto, sentindo que ela está respirando mais alto. — Eles vão desaparecer quando nós voltarmos para Nova York, também?
Seus grandes olhos billabong me encaram, então encaram meus lábios. Bem, ela pode mesmo querer fugir disso, mas negar que é afetada por mim, é impossível. Estou prestes a beijá-la quando ouço o pequeno rosnado de Kit-Kat quebrar o clima.
— Ah, precisamos tomar café. — ela salta para trás, visivelmente trêmula. — Por favor, antes que meus pais venham atrás da gente.
E, claro, ela foge, como sempre faz. Nesse momento, eu poderia mesmo matar aquele cachorrinho infeliz por ter me atrapalhado.
Porra.
Ninguém parece realmente suspeito pelo comportamento de Sakura e sua incrível necessidade de se manter longe de mim. Depois de ontem, sua família parece não ver mais nada além um casal lindo e apaixonado.
Pobre coitados.
Infelizmente, chega a nossa hora de ir embora. Normalmente, essa seria a melhor parte, porque um dos motivos por eu ter odiado a ideia de relacionamento é a parte de conhecer a família. No entanto, quando sou pego de surpresa por um abraço de Mebuki, eu realmente quis ser parte daquela família excêntrica e muito, muito amorosa.
Sakura continua em silêncio o tempo todo, mas dessa vez Ren precisa focar em seu trabalho e em diversas ligações, então não se importa de ficar nos encarando. De qualquer forma, ela não dorme, não fala comigo e fica o tempo todo olhando pela janela do avião.
Tentando esquecer disso, eu coloco meus fones de ouvido, preenchendo o silêncio com uma música do Green Day.
Minha sombra é a única que anda ao meu lado
Meu coração superficial é a única coisa que está batendo
Às vezes eu queria que alguém lá fora me encontrasse
Até lá, eu ando sozinho
Sinto sua pequena mão tocar meu rosto, descendo os dedos pela lateral do meu queixo, até seu polegar passar pelo meu lábio. No momento em que a música faz uma pausa de silêncio para que mude o som, eu ouço seu suspiro.
— Sasuke. — ela me chama, tocando meu ombro e o balançando. — Acorda, nós chegamos.
Abro os olhos devagar, fingindo minha melhor cena de quem acabou de acordar. Ela continua avançando com seu silêncio, mesmo depois desse rápido momento. Fora do aeroporto, nos despedimos de Ren, quando ele pede um Uber à parte para seu apartamento.
— Cuida da minha irmãzinha, cara rabiscado. — ele avisa, mas num tom amigável.
Legal, agora que ele gosta de mim, é Sakura quem fica me olhando estranho com todo esse silêncio e afastamento.
— Pode deixar.
Quando ele se vai, depois de um abraço rápido em Sakura, ela pede seu próprio carro. Dois minutos depois, me encara, com uma interrogação em sua sobrancelha arqueada.
— Não vai pedir um carro para você?
— Eu vou te acompanhar até sua casa.
— Sasuke, não precisa. Ren nunca saberá.
Eu pego suas malas, ao invés de dar ouvidos à ela. Se tratando de teimosia, ela sabe bem que eu ganho, então eu agradeço por ela não tentar me impedir.
No caminho até Chelsea, mais silêncio. Quando paramos em frente ao seu prédio, eu a ajudo a tirar sua mala do porta malas. Quando bato a porta e me afasto, pronto para partir sem importuná-la mais, sinto sua pequena mão segurar a minha.
— Sasuke, eu... — eu aperta os olhos, tentando ganhar tempo para encontrar as palavras certas para usar. — Eu não funciono mais, eu tô... tô quebrada.
— Não, você acha que está quebrada, mas isso é porque você não vê o que eu vejo.
— O que você pode ver nisso tudo?
Kit-Kat late, impaciente no colo dela. Esse cachorro traidor só pode estar querendo me foder. Balanço a cabeça, segurando sua mão com mais força.
— Eu vejo que nós podemos, pelo menos, tentar.
— Você não é o único a querer tentar algo comigo. — ela balança a cabeça, rindo sem humor, quando claramente fico confuso. — Teve o Peter, no primeiro ano da faculdade; o Sebastian da academia; o Saito da empresa do meu pai. Você não é o primeiro que confunde sexo bom com amor.
Olha, não quero te desapontar
Mas eu sempre cometo os mesmos erros
Sim, eu sempre cometo os mesmos erros
Pois, eu sou ruim em amar (ooh-ooh)
Eu a encaro, pasmo que ela teve a coragem de dizer isso. O motorista, impaciente, buzina, me chamando para prosseguirmos com viagem.
— Espera! — digo, então volto a encará-la. — Você acha que foi a única mulher que me proporcionou sexo bom de graça? Pro inferno, Sakura! Acha que sou tão idiota que não sei diferenciar meus sentimentos?
— Não, eu não...
Eu não a deixo responder, porque estou puto da vida. Então é assim que acontece quando você se apaixona por uma mulher complicada? O engraçado mesmo, é que eu só me envolvi com Sakura porque a considerava uma mulher descomplicada. Há! Hilário.
Olha só no que eu me meti, porra!
— Eu só acho que você está confuso e, quando pensar um pouco, vai perceber que não gosta de mim dessa forma.
Abro a boca, mas a buzina soa mais alto e desesperada agora.
— Espera, porra! — grito, vendo o olhar medroso do motorista do espelho do lado de fora.
Me aproximo de Sakura, inclinando minha cabeça para baixo, em direção ao seu rosto.
— Sabe o que eu acho? Acho que você merece o que Naruto te fez, já que foi burra o bastante para se deixar apaixonar por alguém como ele, depois de tudo o que houve.
Ela franze o rosto, sentindo a dor das minhas palavras. Nós sabemos que eu toquei na ferida e, porra, foi bem fundo. Eu espero um soco, um grito, qualquer uma dessas atitudes agressivas de Sakura, mas o que vejo em seus olhos junto às lágrimas faz o arrependimento me socar o estômago.
— Você tem razão. — ela diz, com a voz baixa e um sorriso sombrio. — Mas pelo menos, eu não cometi o mesmo erro, não é?
Bom, se ela queria me machucar a altura, caralho, ela conseguiu.
— Que bom, pra você.
Eu dou a volta no carro, sentindo meu coração bater forte, enquanto minhas veias ardem e minha mandíbula dói, de tanto que aperto meus dentes.
Bato a porta do carro com força, mas o motorista parece não estar mais impaciente agora e sequer me dirige um olhar. Ele dirige em silêncio, o que é muito bom, porque eu sou capaz de matar qualquer um agora.
Quando o carro para em frente ao prédio de Sai, eu dou uma nota alta para o motorista e pego minhas coisas. Estou irado e, para piorar, quando abro a porta, encontro Sai parado em frente a sala.
— Onde você estava?
— Na puta que te pariu. Satisfeito? — ele franze a testa, como se estivesse ofendido.
— Mas gente, eu chego de surpresa e é assim que sou recebido? Nem a Sakura estava na casa dela quando eu cheguei, estava louco para levá-la até a festa de Naruto hoje.
Quando ouço esse nome, paro em frente a porta do meu quarto. Posso sentir, como há muito tempo não sentia, a raiva invadindo minhas terminações nervosas. Deixo minha mochila no chão, dando a volta no apartamento.
— Então, Naruto está dando uma festa?
Ela me olha com seus olhos apertados, balançando a cabeça.
— Não vou te responder, já que foi desnecessariamente um ogro comigo.
Solto uma risada baixa, pegando minhas chaves do bolso, sob seu olhar confuso. Coloco a touca do meu moletom, abrindo novamente a porta, mas parando quando percebo o olhar de Sai.
— Só por causa dessa informação, vou te dizer onde eu estava: na casa dos pais da sua amiguinha, bancando o namorado dela já que estamos fodendo o tempo todo.
Não espero sua reação, saindo pela porta e correndo pelas escadas até o estacionamento, encontrando meu carro.
A casa da fraternidade local está cheia de pessoas do lado de fora, mas com uma movimentação incomum para um domingo à noite, do lado de dentro. Não considero, nem por um momento, esse fator quando entro na casa.
Meus olhos procuram o que eu vim achar e, claro, não é tão difícil. Naruto está sentado no sofá, entre sua rodinha de amigos idiotas, fumando seu baseado enquanto ri de algo que, porra, por algum motivo, só faz meu sangue ferver mais.
Quando ele me nota, solta um riso baixo.
— E aí, cara, que bom que você veio. — ele disse, se levantando com uma expressão risonha. Ele coloca a mão no meu ombro, me puxando para perto. — Sério, mesmo que você tenha pedido desculpas por aquele dia, ainda estou com raiva de você. A Hinata terminou comigo, sabe?
— Foda-se. — eu tiro seu braço com um tapa, o confundindo. — Você sabia sobre a Sakura, e mesmo assim disse todas aquelas merdas sobre ela?
Ele me encara, confuso, os olhos azuis com pequenas veias vermelhas ao redor. O som de uma música eletrônica está alto, mas mesmo assim algumas pessoas se aproximam, atraindo outras e outras...
— O quê? — ele pondera, então abre um sorriso de entendimento. — Ah, você está falando sobre... aquele lance? Bem, ela me contou uma vez mas, porra, o que você queria que eu fizesse?
— Qualquer coisa que não tivesse feito até agora. — rosno, me aproximando mais dele. — Você sabia disso e, mesmo assim, agiu como se ela fosse uma pessoa horrível.
— Tudo bem, ela não era a Rainha de Gelo nem nada do tipo. — ele solta uma risada fraca. — Mas você não conhece a Sakura. Eu gostava dela.
— Uma porra!
— Sim, eu disse que não queria relacionamento, e não queria mesmo. Não que eu me importe com o que ela faz da vida dela, mas não ia dar certo.
Eu tenho plena consciência de que esse é o momento em que eu deveria dar a volta, sair pela porta que entrei e voltar para o apartamento de Sai no meu carro.
Mas não é isso que eu faço.
— O que você quer dizer?
— Bem, basicamente, a Sakura já pegou meio campus. Pega mal, sabe?
Seus amigos, ao seu lado, o cumprimentam pelo tal comentário, enquanto Naruto ri todo orgulhoso. Quero vomitar, quando eu não sou um santo, mas agora eu entendo a expressão: “pensa só se for com alguma mulher da sua vida”
Ouvi-lo falar dessa forma de Sakura me machuca, mas isso só motiva ainda mais o meu objetivo.
— Ei, cara, relaxa. — ele fala, colocado de novo a mão no meu ombro. — Tudo bem se quiser ficar com ela, mesmo ela sendo, possivelmente, uma DST ambulante.
O primeiro soco vem, forte e rápido, jogando Naruto no chão; o que é ótimo, porque seria horrível bater nele contra o sofá. O segundo soco faz um estalo soar, porque provavelmente o nariz dele quebrou; o terceiro é no olho direito.
Eu não consigo parar, e não paro até ser puxado de cima do corpo de Naruto, que tem sua cara cheia de hematomas e sangue.
— Que porra é essa?!
Ele toca o rosto, me encarando com fúria. Sinto a adrenalina nas minhas veias, quando ele levanta e pula sobre mim, socando a minha cara tanto quanto eu o soquei.
Quero rir, estou tremendo e, porra, como eu esperei por isso.
Naruto e eu nos transformarmos em um emaranhado de socos até que outras pessoas se atrevam a nos separar. Mas com a raiva e adrenalina que estou agora, não há exatamente alguém que possa me parar.
— Cacete, dá pra parar com essa porra? — a não ser, é claro, a garota que não corresponde meus sentimentos parando bem na minha frente, com olhos grandes e surpresos.
— O que você tá fazendo aqui?
— O que você tá fazendo aqui? — ela repete, com a voz irritada num rosnado, com olhos de quem quer me devorar vivo. — Você têm noção do que fez?
Eu franzo meu rosto machucado, confuso pela sua raiva e suas palavras. Agora sem música e com as pessoas ao redor pasmas pelo show que demos, foi fácil entender quando as sirenes soaram alto pra caralho.
— Polícia! — alguém gritou, como se não fosse óbvio o suficiente.
Encaro o rosto irado e indignado de Sakura quando me sento num sofá próximo, puxo meu maço do bolso traseiro da minha calça e acendo um cigarro, esperando pacientemente que eles cheguem.
— O quê está fazendo?
— Esperando a polícia chegar. — respondo à ela, com calma. — Desde quando está aqui?
Ela balança os ombros, mas posso ver a raiva em seu rosto ficar cada vez mais evidente.
— Desde a parte de ser um DST ambulante. — ela ri, sem humor, encarando um Naruto que parece querer enfiar a cabeça no chão por ter sido desmascarado. — É bom você ter quebrado o nariz dele.
Eu rio, vendo a cara de irado do meu não mais amigo. Naruto limpa o sangue de seu rosto, mas quando se prepara para falar, a porta é invadida.
— Polícia, mãos para o alto agora!
Nós três, sozinhos, levantamos as mãos para o alto. Sakura rola os olhos, levantando por último e me encarando feio.
— Idiota.
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