Eu fico olhando para as juntas brancas entre meus dedos, conforme eu aperto com força as extremidades da pequena pia do banheiro de Sakura. Estou tentando canalizar toda a minha raiva nesse movimento, mas não está ajudando muito porque eu não consigo parar as imagens do rosto de Hidan em minha mente.
Ele não era tão alto quanto Sakura, mas ostentava uma expressão de superioridade que me enojou completamente. Seu cabelo tinha uma cor grisalha misturada com fios negros, enquanto sua pele era bronzeada e seus olhos escuros. Eu não consigo imaginar o que Sakura pode ter visto naquele cara, mas eu consigo imaginar que a Sakura antes de Hidan provavelmente era bem diferente quanto essa Sakura. A minha Sakura.
Hidan esteve aqui, tão perto de Sakura que pôde tocá-la. E eu não pude impedir. E isso está me matando, corroendo cada nervo do meu corpo. Sinto minha mandíbula travar, enquanto meus dentes se apertam um no outro e meus músculos ficam tensos. Detesto essa sensação, essa culpa impotente. Eu teria diminuído isso se tivesse socado a cara dele, provavelmente estaria ocupado cuidando dos meus próprios machucados nessa altura. Mas Sakura precisava de mim aqui, e seria pior se eu fosse preso ou qualquer coisa do tipo. Eu seria capaz de matá-lo, tenho certeza disso.
Abro a torneira e junto as minhas mãos em concha, deixando-as cheias de água para depois jogar em meu rosto. Faço isso umas duas vezes antes de fechar o armário do banheiro para ver meu reflexo no espelho. Meu rosto está tenso, estou puto da vida e isso está claro em cada detalhe da minha expressão, até que eu perceba outro rosto no reflexo. Mais assustado, quase de uma forma suave, o que é injusto; ninguém deveria ser tão bonita passando pelo que essa garota está passando
E ela me desarma totalmente.
— Você está bravo.
Eu respiro, abaixando a cabeça e desligando a torneira que chia conforme a água se derrama. Me viro e então a encaro novamente, minha garganta se fechando a medida com que minha raiva só aumenta ao ver sua expressão desconsolada. Sakura é quem está sofrendo mais aqui e quando paro pra pensar, eu não tenho esse direito; não tenho o direito de querer estar mais puto que ela. Não com Sakura.
— É, eu tô puto, mas não com você. Não mais que você. — eu explico, vendo seus olhos ficarem suaves como os de um ratinho assustado. — Vem aqui.
Ela não hesita em se aproximar, o que é ótimo. Eu não sei se poderia suportar tê-la amedrontada comigo, quero que Sakura se sinta totalmente segura na minha presença.
— Eu não tô puta, eu só... — ela envolveu minha cintura com os braços, encostou seu rosto no meu peito e então o levantou em minha direção. — Não sei… eu sei que pode parecer horrível o que eu vou dizer, mas eu queria que ele estivesse morto.
Não parece horrível para mim, eu já imaginei Hidan morto umas três vezes depois que ele foi embora.
— Está tudo bem se sentir assim, e eu também não vou julgar se você quiser matá-lo ou coisa parecida. — eu acaricio atrás de sua cabeça, perto da nuca, apoiando meu queixo na sua cabeça. — Na verdade, eu posso dar um jeito nisso.
Ela solta um risinho baixo, mas seus olhos tem uma sombra de um aviso quando se voltam para mim.
— Eu preciso de você aqui, comigo, não numa penitência preso por homicídio. — ela bufa, me apertando um pouco mais. — O que eu faço agora? Eu ainda não acredito que isso está acontecendo.
Seu ceticismo provavelmente é pelo absurdo da situação, mas estar com ela nesse momento também está colaborando. Eu gosto disso, gosto de sentir que Sakura se sente segura ao meu lado, porque é isso que está alimentando a minha calma.
— Nós precisamos de uma ordem restritiva, mais seguranças e eu preciso te tirar daqui. — digo, esperando que ela discorde de tudo ou arrume algum problema, mas não. Sakura acena, concordando, o que é mais uma prova do seu estado.
— Não quero envolver você ou Sai nisso, Hidan pode ser perigoso.
Eu seguro seu rosto, inclinando meu próprio rosto em sua direção.
— Estou tão envolvido nessa história quanto você, Sakura. Qualquer coisa que diz respeito a você me envolve, é assim que são as coisas.
Seus olhos brilham, mas ela comprime os lábios.
— Não precisa bancar o protetor, nós nem somos casados ainda.
— Pra mim é como se fôssemos, você é a minha mulher. — eu disse, de uma forma suave mas firme. Sakura parece entender o quanto eu estou disposto a cuidar dela, porque sorri. — Mas concordo que não é bom envolver o Sai nessa situação. Eu vou dar um jeito, confia em mim, tá?
Ela balança a cabeça duas vezes e eu beijo sua testa, me permitindo esquecer todo mundo apenas para me perder nesse momento com ela. Só nós dois. E em breve ela será totalmente minha.
Depois disso, eu a levo para o quarto e consigo fazer com que ela descanse um pouco. Fecho a porta e ando até a sala, tirando meu celular do bolso detrás da calça. O número de Itachi é o segundo na minha lista recente de chamada.
— E aí? O que Sakura achou do anel? — é a primeira coisa que ele pergunta, logo após atender na primeira chamada. — Conhecendo ela um pouco, eu aposto que surtou.
Eu não gosto do jeito que o meu irmão parece conhecer a minha noiva, mas até eu sabia que ela não aceitaria tão bem o anel. Tive que contar sobre a história da vovó Uchiha porque bem, mesmo que seja a Sakura, até ela não é imune a um romance besta.
— Ela não aceitou bem no início, mas contei sobre a vovó Uchiha.
— Ahh… você não vale nada, mesmo. Odeia essa história, mas não hesitou em usá-la para se garantir. Queria saber de quem você herdou esse caráter, Sasuke.
Eu rolo os olhos, porque odeio quando meu irmão quer falar sobre como nossa mãe era gentil e nosso pai honroso, duas características que eu não tenho (não com ele, ao menos). Talvez o vovô tivesse algum pé no mau caratismo, sei lá… nunca fui santo e não minto sobre isso.
— Eu tô feliz que vocês se resolveram e que vão se casar, Sasuke. — meu irmão continua, cheio de emoção besta em sua voz. — E não é só porque você não será mais minha responsabilidade, mas sim da Sakura. Embora eu esteja vendo as vantagens sobre isso.
— Eu sou maior de idade, Itachi, ninguém é responsável por mim.
Itachi solta uma risada baixa.
— Há controvérsias, irmão.
Foda-se o bom humor de Itachi.
— Que seja. Eu não liguei para falarmos sobre as minhas merdas. — eu checo o corredor, para ver se Sakura não está saindo do quarto ou coisa parecida. — Eu preciso do meu dinheiro, de um apartamento e de um advogado.
— O quê? Como assim? Eu pensei que vocês viriam para Austrália.
Aperto a ponte do nariz, sentindo uma dor nas têmporas. Merda, não contei a ele sobre meus planos de ficar nos Estados Unidos.
— Eu decidi que vou ficar aqui, seria uma mudança muito grande para a Sakura. — suspiro, meio incomodado com o silêncio no outro lado da linha. — Mas eu pretendo ir nas férias e quando estiver livre e no seu aniversário, é claro.
Itachi fica em silêncio por mais alguns segundos, então posso ouvi-lo respirar fundo.
— E como fica a empresa? Você tem que assumir tanto quanto eu, como herdeiro.
— Você sabe muito bem que eu nunca tive aptidão para lidar com a empresa, você é o único capaz de comandá-la apropriadamente.
— Uau, você está até me elogiando. Eu adoro esse efeito Sakura em você. — ele ri um pouco, e eu rolo os olhos, achando isso tudo uma bobagem. — Tá, mas você pretende se casar o quê, amanhã? Pra que precisa de um apartamento tão rápido? E um advogado? Pra quê um advogado?
— Hidan, o ex-namorado abusivo de Sakura, voltou. Ela não está segura nesse apartamento, uma vez que mesmo com toda segurança que ele tem, o desgraçado conseguiu entrar. — eu me jogo no sofá de couro da sala de estar, olhando para o teto. — O apartamento é para a segurança dela e o advogado é para mim. Vou precisar quando eu o matar com as minhas próprias mãos.
Eu cubro meus olhos com meu braço direito, e posso ouvir melhor Itachi soltar uma exclamação, algo como um palavrão. Estou um pouco surpreso, meu irmão mais velho não é do tipo que xinga.
— Eu entendo você Sasuke, mas não faça nada precipitado. Não vale a pena, não com esse cara.
Eu solto uma risada impaciente, me inclino com um cotovelo apoiado no meu joelho e passo a minha mão pelo rosto. Itachi só pode estar brincando comigo.
— Não, eu acho que você não entende. Eu até aceito você achar que tudo isso é uma brincadeira, Itachi, eu mereço por tudo o que eu fiz. — eu balanço a cabeça, me enchendo de irritação. — Mas não é brincadeira, eu vou me casar com aquela garota. Você sabe o que isso significa pra mim? Eu amo ela e você não entende porque não a viu da primeira vez que ela achou que esse cara tinha retornado. Foi horrível, eu fiquei apavorado pela primeira vez na minha vida. Então, por favor, me leve a sério porque se acontecer qualquer coisa com a Sakura eu vou desmoronar. Mas antes de cair, fique sabendo que eu vou levar aquele filho da puta comigo.
Eu aperto os olhos, respirando fundo e sentindo minha garganta seca. Itachi fica em silêncio por algum tempo, mas eu não me importo. Nunca fui um mentiroso e não tenho medo de admitir meus sentimentos, não mais pelo menos. Itachi precisa entender que a Sakura é minha vida, que eu o amo e que, depois da morte dos nossos pais, é a primeira vez que eu sinto a necessidade de proteger alguém com essa intensidade toda.
— Retiro o que disse mais cedo. — ele disse, com a voz meio atônita. — Você é muito parecido com a mamãe.
— Itachi… — eu o aviso, embora esteja feliz pela comparação.
— Eu não vou começar a falar da mamãe. Mas ela deve estar muito orgulhosa de você, tenho certeza. — eu aceito suas palavras, aceitando o poder que elas têm de me comover. Não vou contar a ele, claro. — E fique tranquilo, vou ligar para o nosso advogado, aumentar a segurança de vocês e passar o endereço do seu apartamento por mensagem.
Eu sinto minhas sobrancelhas se curvarem.
— Quê?
— Pois é, eu aluguei o apartamento antes de você chegar nos EUA. — ele fala, num tom defensivo.
— E por que você me deixou morar com a porra do Saí?!
— Ah, irmãozinho tolo, sabe que você mereceu o castigo. Mas isso não é importante agora, é?
É importante, mas não mais do que Sakura, por isso eu relevo e desligo a ligação. Esse foi o mais perto de diálogo que tive com Itachi durante anos, e preciso agradecer de verdade pelo apoio dele depois. Meu irmão teve que lidar com minha pior parte e, mesmo assim, ainda me apoia. Eu só posso pensar que há realmente um efeito Sakura trabalhando em mim, e acredito que ele mais do que ninguém perceba a diferença entre o antes da Sakura e o depois da Sakura.
Eu sorrio um pouco quando penso sobre isso, mas meu sorriso se desmancha quando ouço a campainha tocar. Eu corro até a porta pronto para começar uma matança, pensando que talvez seja Hidan, mas quando abro a porta, na verdade, é Melanie.
Ela me encara, um pouco surpresa e bastante abatida.
— O que você… onde está a Sakura? — ela pergunta, entrando no apartamento. Ela olha ao redor e então me encara outra vez. — Era pra você estar aqui? Vocês não tinham terminado?
— Voltamos. — é tudo o que falo, porque estou mais interessado na quantidade absurda de maquiagem que ela está usando e em como ela parece querer esconder a parte direita de seu rosto. — Melanie, o que houve com você?
— Como assim? Não houve nada comigo. — ela solta um riso baixo, nada convencido, tentando esconder seu rosto ao incliná-lo para frente. — Onde está a Sakura? Eu preciso falar com ela.
— Ela está dormindo, teve um dia estressante. Você sabe sobre Hidan?
Quando seus olhos azuis me encaram, alarmados, fica claro para mim que ela sabe sobre o desgraçado do Hidan.
— Ele voltou? Como? Eu achava que ele estava no Canadá. Meus Deus! Eu preciso falar com a Sakura, ela deve estar… surtando!
Eu seguro seu braço quando ela tenta procurar Sakura, mas o solto assim que sinto seu corpo tremer e vejo a expressão de pânico em seu rosto. Melanie parece estar pronta para fugir de mim, e eu mal a toquei.
— Sakura está bem, Mel. Eu estou cuidando dela e ela está bem. — repito com mais convicção, suavemente, então acrescento com calma: — Mas, mais importante: quem fez isso com você?
— Sasuke eu não… não sei do que você está falando.
Ela tenta esconder o rosto com uma parte do cabelo, quase cobrindo seu olho. Inútil. Quando me aproximo mais, é fácil perceber que a maquiagem forte é só para esconder um hematoma bem feio.
— Foi o Joshua que fez isso?
Ela está trêmula, os olhos arregalados e os lábios entreabertos. Aos poucos, seus olhos se enchem de lágrimas, isso conforme ela tenta formular mais uma mentira.
— Eu sei que alguém fez isso, Mel, só quero saber quem fez. Foi ele, não foi?
Não demora muito mais para que ela se desmanche em lágrimas, tornando seu rosto redondo vermelho e inchado. As lágrimas vão desmanchando a maquiagem e eu consigo ver melhor o hematoma meio roxo se formando.
— Ele não é assim… ele não faz por mal. — ela disse, com a voz rouca e os olhos incertos. — Eu só queria saber o que ele tanto esconde sobre sua vida, ele estava num dia ruim e aconteceu...
Eu cerro meus punhos, me sentindo irritado por essa garota. Como aquele desgraçado teve a coragem de bater numa garota tão frágil fisicamente quanto a Mel? Mesmo que ela fosse durona, como Sakura, ainda não justificaria mas me sinto ainda mais enojado. Ao mesmo tempo, me sinto um completo carrasco, porque tenho medo de Sakura acordar e acabar revivendo seus dias ruins ao lado de Hidan quando ver sua melhor amiga nesse estado.
— Senta aqui. — eu a seguro pelo ombro, colocando-a sentada no sofá e me agacho no chão, para ficar da sua altura. Seu rosto está caótico e eu sinto uma mistura de pena e raiva. — Quantos dias ruins ele teve até agora?
Ela entende aonde quero chegar, por mais que hesite numa resposta.
— Dois… três, quatro… eu não me lembro. — ela treme, as lágrimas sujando seu rosto com base e lápis de olho escuro. — Foi um erro ter vindo até aqui, Sakura não pode me ver assim, não depois de reencontrar o Hidan.
Eu seguro seus braços, antes que ela se levante. Gosto que Melanie se preocupe com Sakura mesmo estando nessa situação e, se fosse em outro momento, provavelmente eu a deixaria ir só para que Sakura não tivesse que reviver seus dias ruins, mas não posso. É impossível não sentir raiva por essa garota e, além do mais, Sakura nunca me perdoaria se eu a deixasse ir nessa situação.
— Mesmo que você vá embora, eu vou ter que contar a Sakura. — eu sou sincero, mas tento não ser invasivo. — E você sabe que ela não vai gostar nada disso, quando souber.
Ela está pronta para retrucar, mas seus olhos se erguem para algo atrás de mim. Sei o que é — ou quem é — mesmo antes de ouvir sua voz.
— Do que eu não vou gostar? — Sakura pergunta, vindo do corredor. Ela ainda está vestida com o meu moletom, os fios róseos saindo pela touca preta que quase cobre sua testa. Se não fosse a situação, eu faria algum comentário sobre ela parecer um fugitivo, mas eu guardo para mim. Antes que qualquer um de nós responda, ela já está checando o rosto de Melanie. — Mel, quem fez isso com seu rosto?
Melanie se levanta, em desespero.
— Ninguém! Eu só… eu só caí.
É claro que essa desculpa é ridícula, mas Sakura não acreditaria mesmo que ela dissesse que foi atropelada na Avenida 12. Ela me encara, os olhos fervendo de raiva.
— Joshua?
Como a pergunta foi feita diretamente para mim, eu aceno minimamente e vejo, rapidamente, seu rosto se transformar em fúria.
— Esse filho da puta!!! — ela grita, levando as mãos ao rosto e andando, inquieta. — Eu vou matá-lo, eu juro! Quem ele pensa que é para bater em você?!
Eu me levanto, enquanto Mel abraça o próprio corpo desistindo de tentar desmentir a situação. Sakura está tremendo de raiva e eu acho que nunca a vi dessa forma, mesmo quando estava puta comigo ela não parecia disposta a pegar uma faca e sair rua a fora procurando alguém.
— Eu vou matá-lo. — ela diz, simplesmente, me encarando. — Primeiro eu vou quebrar as pernas dele, depois cortar o pau dele fora e, por último, quando ele já tiver sofrido de dor o bastante, vou fazer ele engolir as próprias bolas.
Eu faço uma careta porque, por mais que eu sinta que Joshua realmente mereça — e que eu adoraria impor o mesmo castigo a Hidan — eu não posso deixar de pensar no quanto é doloroso, uma vez que eu tenho um pau e duas bolas.
— Eu sabia, sabia que tinha algo de errado com ele! Preciso levar mais em conta o que Sai diz, preciso levar mais em conta meus instintos também!
— Do que está falando? — eu pergunto, me aproximando de Sakura, que parece bem desperta agora.
— Ontem Joshua estava na frente do meu apartamento, e eu tento certeza que ele não chegou depois de mim. — Sakura está tão puta, que não filtra as palavras que usa. — Ele estava estranho, eu senti algo estranho, mas achei que era paranóia minha.
Ela parece pensar em algo, porque seus olhos ficam ainda maiores do que já estão e seus lábios se abrem em um 'O' pequeno. Ela me ignora, indo até Mel e segurando suas mãos.
— Por favor, diga que o Joshua não tem uma tatuagem de dragão no braço.
Mel parece assustada e confusa, me encara, meio que questionando o que deve responder, mas acena em seguida.
— Sim, ele... ele tem. — ela parou de chorar um pouco, mas está tão confusa pelas reações de Sakura quanto eu. — O que isso tem a ver?
Sakura fica parada no meio da sala, parece estar ponderando. Infelizmente, estou impaciente demais nesse momento, para não avançar em sua direção.
— Sakura, fala alguma coisa.
— Espera. Estou tendo uma epifania.
Nós três ficamos em silêncio, Melanie e eu encarando Sakura fixamente. Melanie ainda está confusa, mas eu só quero entender até onde Joshua está enfiado nessa epifania. Sakura faz um som em sua garganta, algo como um susto e então me encara.
— Eu acho que Joshua estava me seguindo. — ela disse, a voz meio assombrosa. Antes que eu diga algo, ela acrescenta: — Sei que parece loucura, mas ele também esteve na Austrália, quando eu estava com Hayley. Eu vi a tatuagem de dragão.
— Muitas pessoas podem ter a mesma tatuagem, Sakura. — Mel disse, intervenção com um sorriso incrédulo. — Sei que não é certo o que ele fez comigo, mas ele não trabalha pro Hidan. Não, ele não é assim.
— Então, você estava com ele há vinte e dois ou vinte três dias?
Mel pondera, mas não parece disposta a dar o braço a torcer.
— Às vezes ele precisa viajar, a avó dele vive no interior e sempre está doente…
Sakura esfrega o rosto com impaciência, depois joga as mãos para o ar porque, claro, a história é absurda.
— E ontem? — eu pergunto, dessa vez. — Você estava com ele ontem?
Melanie me encara, os lábios se esfregando enquanto ela pondera, mas a verdade é que ela já tem uma resposta.
— Sim, eu… ele esteve na minha casa depois da meia noite, foi quando… — ela não termina, porque não consegue. Eu já sinto minha resposta ao irregular.
— Antes da meia-noite, Mel. Você esteve com Joshua?
Provavelmente há algo em meu rosto que não está certo, porque Sakura se aproxima de mim e segura meu braço, enquanto Melanie apenas balança a cabeça duas vezes e rapidamente.
— O desgraçado! — eu solto um grunhido, ao me lembrar de Joshua ontem à noite. Bem embaixo do meu nariz!
— O que? O que aconteceu ontem?
— Ele estava todo estranho, disse algo sobre nós dois não combinarmos e o Kit-Kat… nosso cachorro estava assustado, Sakura. Adivinha por quê? Porque provavelmente foi o desgraçado que esteve no seu apartamento!
Posso ver todos os temores de Sakura passar em seus olhos verdes, porque tudo faz sentido agora. Joshua sempre está por perto, mesmo que indiretamente e nós sempre o associamos a Melanie porque ele obteve o disfarce perfeito. Usou uma pobre garota para seguir a minha mulher.
— Não. — Sakura e eu paramos, por um momento, para olharmos para Mel, que está com os olhos cheios de lágrimas embora esteja sorrindo de uma forma trágica. — Eu entendo vocês, de verdade, entendo mesmo, mas não. Joshua não faria isso, ele não faria algo assim, ele não me usaria assim…
É de cortar o coração de qualquer um, mesmo que o meu só responda a qualquer coisa que seja relacionado a Sakura. Tanto responde, que eu me sinto totalmente quebrado ao ver como minha mulher parece ser atingida por algo em Melanie. Percebo, rápido demais, que são as semelhanças entre elas. Sakura entende, bem melhor do qualquer um, o que Melanie está passando.
— Está tudo bem, não vamos falar mais sobre isso. — ela diz, bem mais serena do que antes. Ela parece ter esquecido a sua raiva. — Vem, vamos para o quarto. Eu vou cuidar de você.
Mel esfrega os olhos, balançando a cabeça totalmente abalada. Ela murmura algumas coisas enquanto caminha pelo corredor. Sakura e eu trocamos um olhar cheio de significados e eu quero muito estar com ela agora, mas eu entendo que ela precisa ser um porto para sua amiga.
Puto da vida, eu chuto o ar, porque não posso me dar o luxo de quebrar alguma coisa na sala dela. Coloco as mãos na cabeça, entre os fios negros do meu cabelo, e mordo o lábio inferior para não gritar. Eu quero matar esses dois. Quando inclino a cabeça para frente, vejo meu celular. Nesse momento, me surge uma ideia. Eu pego o celular e procuro um nome específico na minha agenda.
Sakura que me perdoe, pelo que vou fazer agora.
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