1. Spirit Fanfics >
  2. Não Conte Nosso Segredo >
  3. Capítulo 25

História Não Conte Nosso Segredo - Capítulo 25


Escrita por: vauseman_damie

Notas do Autor


Boa tarde!
Seguinte, irei postar os dois ultimos capítulos hoje. Sim! Os dois ultimos. A fic está no fim. Ela é adaptada, e espero que tenham curtido.
Agradeço aos que acompanharam e comentaram.
Obrigada mesmo! <3
Aproveitem!

Capítulo 25 - Capítulo 25


CAPÍTULO 25

Havia decisões a tomar. Meus salários combinados do Chalé das Crianças e do Hott ’N Tott nem começavam a cobrir minhas despesas: o parcelamento do carro, a gasolina, o seguro, os créditos do celular, sem mencionar necessidades básicas como comida, roupa e abrigo. Sentia que a Taggert House não tinha que dar conta de todas as minhas despesas. Ainda que o tio da Alex tivesse me contratado para os turnos da manhã durante quatro vezes por semana, eu precisava de um segundo trabalho que me pagasse melhor. Então, saí do Chalé das Crianças. Foi doloroso, mas precisei sair, o pagamento era péssimo e ver as crianças todos os dias era um lembrete constante das perdas em minha vida.

William sugeriu que eu fosse até o Centro para verificar as vagas de emprego. Então, fiz isso no recesso de primavera. Eles me arrumaram emprego em uma empresa de mudanças da região, cujos donos eram um casal gay. Era um trabalho fisicamente extenuante, mas pagava bem e os horários eram flexíveis. Eu podia trabalhar enquanto frequentava a escola e ainda fazer horas extras nos fins de semana.

O ano seguinte estava cada vez mais próximo no horizonte. O que eu faria da minha vida? Jogar um colchão dentro de um caminhão de mudança não era exatamente física nuclear. Alex tinha razão, eu precisava pensar no meu futuro. Quais eram minhas opções? Eu podia trabalhar em três ou quatro empregos para sempre, ganhando salário mínimo e conseguindo pagar as contas. Mas isso era tudo o que eu queria da minha vida? Pagar as contas?

Precisava haver algo mais. Alguma coisa lá fora destinada a mim, um emprego, uma carreira, uma razão pela qual fui colocada no mundo. Detestava ter que admitir, mas Mamãe estava certa. A universidade abriria muitas portas.

Infelizmente, no momento em que me dei conta disso, já era tarde demais para fazer as inscrições. Pelo menos para as faculdades e universidades que eu podia pagar. Além disso, minhas notas haviam desabado nesse semestre. Eu estaria com sorte se conseguisse uma média C.

No nosso encontro dos domingos, William abordou o assunto das metas de longo prazo. Ele disse que era importante ter objetivos para nos guiar e acreditar que podíamos alcançar a grandeza. Deve ter lido meus pensamentos.

Ao redor da mesa, compartilhamos o que vislumbrávamos para nós mesmos no futuro. Falei sobre como gostaria de ir à universidade no ano seguinte, mas já não podia. William disse:

— E por que não, querida?

— É tarde demais pra fazer a inscrição. Vou ter que esperar até o próximo semestre.

— Você pode ir pra Metro Urban — Ramon cantarolou, passando-me os croissants. — É onde eu estudo. Acho que você pode se inscrever até uma semana antes do começo das aulas.

— Tá de brincadeira. E quanto é a taxa de matrícula, sendo que tenho, tipo, zero dinheiro?

— Eles têm um fundo de auxílio universitário a gays e lésbicas — Ramon falou. — Foi assim que eu consegui.

Minhas esperanças foram às alturas.

— Você precisa se classificar? Porque minhas notas neste semestre foram péssimas.

Ramon balançou a cabeça.

— A sua média escolar não é tão importante. Eles me deixaram entrar porque eu embelezo o campus.

William fungou. Desviando de um morango que um dos rapazes atirou nele, Ramon acrescentou:

— Se quiser, posso pegar um catálogo pra você.

— Não, tudo bem. Eu posso pegar um na escola. Obrigada.

Não ousei ficar entusiasmada. E se eles me rejeitassem? Se isso acontecesse, eu não tinha um plano B.

Fiquei caminhando pelo centro de mídia depois das aulas na segunda-feira, olhando para o relógio e esperando. Quando comecei a ter uma sensação de velório, decidi que era agora ou nunca. Os catálogos da Metro Urban estavam entre os das escolas estaduais, empilhados diante da porta do Centro de Orientação Vocacional. Eu podia correr e surrupiar um deles…

Virei o corredor e lá estava ela, pregando uma ficha no quadro de avisos. Droga.

— Hã, oi, sra. Lucas. — Fingi uma saudação alegre. — Posso pegar um catálogo da Metro Urban?

Ela não respondeu de imediato, apenas olhou para mim. Com aquele olhar. Brrr.

— Ali estão eles. — Apontei para a pilha. — Vou só pegar um e sair.

— Não acredito em você — ela disse.

Os pelinhos da minha nuca se arrepiaram. Rapidamente, agarrei um catálogo.

— E sobre o seu aceite em Stanford? Você vai simplesmente abrir mão dele?

Eu me endireitei.

— Eu fui aceita em Stanford?

— Todo o tempo e todo o trabalho que investimos em você, para lhe dar todas as oportunidades possíveis. — Ela franziu os lábios. — Você sabe o que isso está causando à sua mãe?

O que está causando a ela? Foi ela quem… Ah, esqueça. Dei as costas e zarpei. Isso não era da conta dela. Deixem-me seguir com a minha vida.

Girei a senha na fechadura e abri a porta do armário. Meus olhos foram atraídos para o espelho e eu gritei. A pessoa atrás de mim deu um salto para trás.

— Jesus! — ela disse, segurando o coração.

— Faith. — Virei para ela. — Eu, hã, não reconheci você.

Ela passou a mão pela cabeça — a cabeça raspada. Não estava completamente careca, havia deixado poucos centímetros de comprimento por todo o couro cabeludo. Eu não conseguia olhar para ela sem pensar em um porco-espinho.

— Estou me livrando das minhas inibições — ela disse.

Eu ri.

— Ah, não? Então saiba que isso economiza xampu.

— Não sabia. — Tive uma vontade enorme de passar as mãos nos cabelos dela. Mas era um gesto íntimo demais. Enquanto colocava minhas coisas na mochila, Faith disse:

— Trouxe sua correspondência. — Ela me passou um bolo de cartas.

A maioria eram contas. A carta de Stanford. O envelope estava aberto, claro. Stanford estava tão fora do meu futuro. Havia uma carta embaixo de todas que fez meu estômago dar um nó. Enfiando todas na mochila, falei para Faith:

— Me acompanha?

No caminho para o estacionamento, ela perguntou como eu estava e onde morava agora. Contei a ela sobre a Taggert House e os meus empregos.

— Talvez, você possa vir passar uns fins de semana com a gente.

— É? — As sobrancelhas da Faith se arquearam. — Que tal neste fim de semana? E todos os fins de semana?

Sorri para ela.

— Vou perguntar pra Alex e depois te digo. Mas… — hesitei. — O que o seu pai vai dizer?

— Quando?

— Quando você contar pra ele aonde está indo.

— Quando?

— Faith. — Arregalei os olhos para ela.

— Eu cuido dele. Se você não notou, tenho ele na palma da mão. Não se preocupe com isso.

Eu me preocupava. Queria protegê-la. Faith precisava de sua família. Nossa família. Por ela, por mim. E já que entramos no assunto…

— Como está todo mundo? — Perguntei.

— Mais ou menos igual. Uma comédia. Ah, a Hannah começou a engatinhar.

— Já?

Faith meneou a cabeça.

— Sua mãe disse: “A Piper devia estar aqui vendo isso”.

Meu corpo murchou. Faith abriu a boca para dizer mais alguma coisa, mas deve ter mudado de ideia. Enfiou o dedo mindinho na boca.

Dei um olhar feio para ela. Ela abaixou a mão.

— O que foi? — Exigi saber.

Ela engoliu em seco.

— Ela chora. Eu consigo ouvir à noite.

Desviei o olhar. Faith acrescentou:

— Só achei que você devia saber.

Eu queria abraçar Faith, mas não conseguia. Não ousava. Será que agora sempre precisaria ter cuidado com quem eu tocasse?

Faith não hesitou. Ela jogou os braços ao meu redor e me puxou para si. Abraçou forte. Como ela podia saber o quanto eu precisava disso? Jurei preencher minha vida com gente como Faith. Pessoas que eram verdadeiras consigo mesmas.

Depois que ela se foi, eu me tranquei no jipe. Talvez, agora, finalmente. Abri o envelope. Uma foto caiu no meu colo. Era Hannah em um vestido de veludo vermelho, uma foto de estúdio. Tão linda.

— Olá, maninha. — Deslizei o dedo em seu rostinho. — Sinto tanta saudade sua. — Coloquei a foto no painel e desdobrei a carta.

“Querida Piper”, ela escreveu no bloco de papel de carta florido que dei a ela de aniversário. “Precisamos conversar. Por que você não me liga para marcarmos um horário conveniente?”

Um horário conveniente? Abri meu telefone e comecei a apertar os números. Desliguei antes que a ligação completasse. Em vez disso, liguei para o trabalho e avisei que me atrasaria.

Era esquisito precisar tocar a campainha da minha própria casa. Ao fundo, pude ouvir o som alto da tevê. O abrir repentino da porta me alarmou.

Mamãe ficou emoldurada no portal, equilibrando Hannah no quadril. Sorri.

— Oi. — Ela não se moveu para abrir a porta externa. Fiquei me perguntando se ela ia me obrigar a ficar do lado de fora ou bater a porta na minha cara.

Ela torceu o trinco e deu um passo para trás. Entrei.

— Recebi sua carta. Eu estava passando por perto, então não liguei antes. Está ocupada? Estou interrompendo algo? Posso voltar outra hora. Amanhã. Ou hoje à noite. Um horário mais conveniente. — Eu estava tagarelando? Por que ela não respondia? Por que os olhos dela estavam lacrimejando?

Ah, mãe. Aproximei-me dela. Ela descarregou Hannah nos meus braços.

— Quer alguma coisa pra comer ou beber? Eu preciso de uma bebida.

— Não, estou bem.

Ela foi para a cozinha.

— Hannie. Ei, maninha. — Apertei minha irmã bebê e respirei nos cabelos dela. Cheirava a talco, xampu e sabão em pó, toda fofa em seu macacãozinho. — Deus, como senti saudades. — Beijei sua cabeça sedosa.

Carreguei Hannah para a cozinha, onde Mamãe estava inclinada sobre a pia, tomando um copo d’água. Eu queria abrir a geladeira e verificar as sobras de comida, ver se tinha algum frango frito. Sentia uma vontade imensa de comer o frango frito da Mamãe.

— Como está você? — Ela perguntou, virando-se. — Seu cabelo está comprido.

— É, acho que vou deixar crescer. — Já que não tenho dinheiro para pagar um corte, eu quis acrescentar.

— Sempre gostei mais dele comprido. — Ela deixou o copo na pia e passou por mim, voltando para a sala. Eu a segui com Hannah nos braços.

Mamãe se sentou no sofá e diminuiu o volume da televisão. Ajoelhei no tapete e pousei Hannah à minha frente, na esperança de que ela começasse a engatinhar. Como se acatasse minha sugestão, ela começou a se mover pelo assoalho como se fosse um tanquinho.

Mamãe e eu rimos.

Bom. Isso foi bom. Amenizou a tensão.

— Onde está morando? — ela perguntou. — Com aquela garota, eu presumo.

Eu ri.

— O nome dela é Alex Vause. E, não, não estou morando com ela. Tenho meu próprio apartamento.

— Como você consegue bancar? — Mamãe disparou.

Isso me deixou furiosa, como se ela soubesse que eu não tinha condições. Como se estivesse esperando que eu vivesse na rua, pedindo esmola, lamentando o dia em que a decepcionei.

— Eu dou conta — falei, sem emoção.

A cabeça da Mamãe caiu.

— Me desculpe. Foi injusto perguntar isso.

Minha raiva dissipou.

— Prometi, a mim mesma, que eu nunca faria com você o que meus pais fizeram comigo. Que eu amaria você não importava o que acontecesse. Mas isso… — Mamãe levantou a cabeça e nossos olhares se cruzaram. — Não vou deixar você jogar sua vida fora com aquela garota.

Uma queimação percorreu minhas vísceras.

— O nome dela é Alex. E o que leva você a pensar…

— Deixe-me terminar — Mamãe interrompeu. — Você tem tanto talento. Tanto potencial. Eu queria acreditar que tenho algo a ver com isso. Você pode fazer tudo o que quiser, Piper. Tem uma vida inteira adiante.

— É, eu tenho — falei. — Com a Alex.

Mamãe bufou irritada. Ela se levantou e atravessou a sala para resgatar Hannah de um canto, onde ela estava com uma chupeta empoeirada a caminho da boca.

— Não entendo isso. Não entendo você. Achei que tivesse mais bom senso.

Meu interior estava em chamas.

Mamãe girou Hannah e a guiou em outra direção.

— Suponho que você esteja passando por uma fase ou uma crise de identidade. Não sei. Nunca aconteceu comigo.

— Isso é porque você não é eu. Não é uma fase.

Mamãe se endireitou.

— Eu conheço você, Piper. Você não é… desse jeito.

Fale, pensei. Pare de negar.

— Sim, mãe, eu sou. Sou gay.

— Ela fez isso com você! — A voz da Mamãe ficou estridente. — Não sei o que ela fez, mas pedi pra mãe dela manter sua filha doente longe da minha. Ela é uma pervertida, e fica caçando meninas inocentes…

— Você disse isso pra Kate? — Ah, meu Deus. — Como pôde? — Me pus de pé. Precisava ir até lá, pedir desculpas para a Kate. Ah, meus Deus.

— Aonde você vai? — Mamãe falou às minhas costas. — Piper, quero que você venha pra casa.

Isso me fez parar. Quantas vezes tive vontade de ouvir essas palavras? Quantas noites fiquei chorando até dormir, segurando o telefone junto ao meu peito, rezando para que ele tocasse?

— Por favor, me ouça. — A voz da Mamãe suavizou. — Você não sabe o que está fazendo, querida. Não pensou nas consequências, no que está jogando fora. O seu futuro. Seu respeito próprio. Eu sou sua mãe. Conheço você melhor do que você a si mesma.

Eu poderia ter rido.

— Você não me conhece nem um pouco, mãe. — Eu me virei. — Tudo o que você vê é a pessoa que quer que eu seja. E eu não posso ser ela. Não sou ela. Não posso viver minha vida por você.

Ela abriu os braços.

— Por favor. Venha para casa.

Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu queria voltar para casa? Sim, mais do que tudo. Não para as paredes, os as-soalhos e as portas abertas. Não simplesmente por me mudar. Mas pelo conforto e pela segurança de saber que eu sempre teria um lar. Todos precisam de um lar.

— E a Alex? — Perguntei. — Ela é bem-vinda aqui?

Os olhos dela se estreitaram.

— Ela tem uma casa.

Então é isso, pensei. O amor incondicional de mãe, um grande mito. Hannah veio engatinhando até mim e se colocou de pé, agarrando minha perna com suas mãozinhas fortes. Eu a levantei bem alto no ar e, antes de devolvê-la a Mamãe, captei uma imagem mental para desenhar.

— Tchau — falei.

— Você não vai ter nem um centavo daquela poupança pra universidade. Nada. Vai ficar tudo pra Hannah — Mamãe disparou. — Na verdade, talvez eu dê à Faith.

Balancei minha cabeça para ela. Ela não entendia. Não entendia nada. Eu amava Hannah e também Faith. Ficaria feliz por elas poderem contar com esse dinheiro ou qualquer outra coisa minha.

Fechei a porta atrás de mim, sentindo tristeza por minha mãe. Lamentando por ela. É, eu tinha feito sacrifícios, experimentado perdas. Mas ela não fazia ideia do que isso estava custando a ela. Porque ela estava me perdendo.

 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...