1. Spirit Fanfics >
  2. Não Conte Nosso Segredo >
  3. Capítulo 24

História Não Conte Nosso Segredo - Capítulo 24


Escrita por: vauseman_damie

Capítulo 24 - Capítulo 24


CAPÍTULO 24

Alex me comprou uma camiseta. Dizia: NINGUÉM SABE QUE SOU LÉSBICA. É, eu estava saindo do armário, mas também não tinha toda essa coragem. Por que não fazer um anúncio depois da A.P.? “Atenção. Acabamos de receber uma confirmação. Piper Jaeger é oficialmente lésbica.” Não. Eu queria fazer isso do meu jeito. Uma pessoa por vez. Aquelas que precisavam e mereciam ouvir de mim.

Liguei primeiro para Lorna:

— Preciso conversar com você — falei. — Quero dizer, se você ainda quiser conversar comigo.

Ela não respondeu. Morri um pouco por dentro. Era tarde demais.

— Vamos nos encontrar na casa do clube.

— Na ca… ah, certo. — Se é que eu lembrava onde isso ficava. — Quando?

— Estou ocupada demais nesta semana — ela falou.

Ai. Eu merecia isso.

— Que tal no sábado?

— Tudo bem. — Eu ia ficar louca esperando até sábado, mas o que podia fazer? Deveria estar agradecida por ela aceitar me ver depois de tudo. — A que horas?

— Não sei. Por volta das quatro?

— Da manhã?

— É, isso. Vista o seu pijama e traga uma lanterna. — Ela estalou a língua. Mas também havia um sorriso em sua voz.

Meu coração cantarolou.

— Estarei lá.

— Você promete, desta vez?

Fechei os olhos com força.

— Prometo. Estarei lá.

Desligamos. O sábado estava a uma eternidade de distância. Eu não podia adiar a conversa com Winslow por uma semana. Não aguentava viver sabendo que feri os sentimentos dele, e que ele basicamente me detestava agora. Não podia esperar, sabendo que era capaz de consertar isso.

Alex me ajudou a escrever uma carta. Expliquei a Winslow como eu havia acabado de me dar conta de que sou gay e estava tentando aceitar. Que o fato de eu recusar o convite dele, não tinha nada a ver com ele ou com quem ele era. E que eu realmente me senti lisonjeada quando ele me convidou para ser seu par no baile de formatura.

Assinei: “Sinceramente, Piper (a do peru) Jaeger”.

Eu estava apavorada com a ideia de entregar essa carta a ele. Não ajudou nada Alex ter avisado: “Você nunca sabe como as pessoas vão reagir”. Eu achava que conhecia Winslow, mas é possível conhecer de verdade uma pessoa?

O medo era paralisante. A aula de artes estava quase no fim e a carta ainda jazia debaixo do meu caderno de desenho. Agora ou nunca. Fingindo que precisava apontar meu lápis, caminhei até a mesa do Winslow na frente da sala e deixei o envelope cair na sua prancheta, depois voltei para o meu lugar.

Alex virou-se para me olhar. Apertou um punho sobre o coração.

Meu coração estava pulsando nos ouvidos. Observei Winslow abrir o envelope, tirar a carta e desdobrá-la. Ele leu e depois dobrou de novo. Permaneceu ali, fitando a lousa. Ele não se importou. Ele me odiava. Sem aviso, a cadeira dele caiu, assustando todo mundo. Ele recolheu suas coisas e se colocou a caminho do fundo da sala, atraindo a atenção de Mackel com todo aquele barulho. Winslow deslizou para o assento ao meu lado e disse:

— Yo.

Foi a palavra mais doce que já ouvi.

— Yo pra você — respondi, minha garganta apertando. Então, ele fez uma coisa bem esquisita. Passou um braço pelos meus ombros e deu um apertão de um jeito fraterno. Meus olhos desviaram para Alex, que cobriu a cabeça com os braços sobre a mesa, tentando sufocar uma risada.

Mal consegui conter minha própria histeria.

O Parque Paramount costumava parecer tão sombrio quando éramos crianças. Tudo o que eu via agora era o matagal, os esparsos choupos-do-canadá e o lixo em decomposição preso nas cercas de tela. Eu havia me esquecido completamente desse lugar, da nossa casa do clube.

Um sol resplandecente projetava sombras geométricas através dos galhos enquanto eu pisava na trilha coberta de vegetação. As árvores voltariam a ficar viçosas em breve, percebi. Sempre amei a primavera. O renascimento, neste ano, seria mais especial, pois seria o meu renascimento também.

— Toc, toc. — Fiquei parada debaixo do nosso choupo-do-canadá, espiando a casa na árvore logo acima.

Uma voz veio do alto:

— Qual é a senha secreta?

— Droga — murmurei.

— Não, não é essa.

Sorri e balancei a cabeça.

— Você não lembra a senha secreta?

Agarrando um galho, comecei a me içar para cima e disse:

— Lorna, isso já faz um século. — Foi em outra vida. Me apertei através de um espaço no tronco, vagamente lembrando que costumava haver uma porta por ali. — Esse piso vai aguentar a gente? — Pisei cuidadosamente na plataforma bamba de madeira compensada, indo para a extremidade oposta, onde Lorna estava sentada de encontro à parede da nossa casa do clube, lendo algo em um caderno espiral.

— Lembra disto? — Ela perguntou, distraída.

Abaixei-me ao lado dela. A madeira estalou e agarrei o braço dela para me salvar, ou para cairmos juntas.

— O que é isso? — O piso estabilizou e eu a soltei.

Lorna passou o caderno para mim.

— Ah, meu Deus. Esse é o nosso livro secreto de espionagem?

Ela sorriu.

— Lembra como ler o código que inventamos?

— Caramba, não. — Pareciam hieroglifos.

Ela franziu os lábios e resgatou o caderno das minhas mãos.

— Preston e Ty Mangela são uns idiotas estúpidos e feios. Na próxima vez que atirarem ovos em nós a caminho da escola, vamos chamar a polícia.

Eu ri.

Ela continuou a ler:

— Tiffani Enstrom é louca por garotos.

— Quem quer que ela seja. — Minha mente vagou. Apenas três paredes permaneciam em pé na nossa casa do clube, e duas delas estavam em risco iminente de se desintegrar. Era esse mesmo o lugar que descobrimos havia tanto tempo e adorávamos como se fosse nossa casa? Nós havíamos trazido os velhos lençóis floridos da Mamãe e os grampeado nas janelas, como cortinas. Até escondemos ali um monte de balas de caramelo para emergências. Onde estavam? Em um buraco que cavamos no tronco da árvore.

E não foi só isso que escondemos. Fiquei de pé e precisei me abaixar sob um galho quebrado para conseguir chegar ao nosso local. Meus dedos tocaram as letras sobre a casca.

— Ainda está aqui — Lorna falou, aparecendo ao meu lado. — Por toda a eternidade, exatamente como a gente planejou. — Ela deslizou os dedos nas inscrições também. — A história da nossa vida amorosa. “L.T. + R.R.”. — Que ela leu como: — Richie Romanowski.

Fico imaginando onde ele está agora.

— Provavelmente na cadeia, porque ele já vendia drogas na sexta série.

Ela me ignorou.

— L.T. + D.F., L.T. + M.Z., L.T. + K.Z…

— Você era mais namoradeira que a Polly — comentei.

Ela bateu no meu braço.

— Eu estava procurando. Ainda estou. — Os olhos dela se fixaram no tronco. Depois se voltaram devagar para mim.

Engoli em seco. Minha boca estava seca como um deserto.

— Aqui está o meu. — Tateei a textura das letras. “H.J. +…” — Hã. — Pisquei para Lorna. — Está vazio.

— Imagine só. — Lorna levantou a sobrancelha. — Você queria conversar comigo. Sobre o quê?

Meu coração estourou no peito. Não tinha mais tanta certeza disso. Eu achava que conhecia Lorna, mas Alex me avisou para não criar expectativas. Não ficar muito desapontada se Lorna precisasse de um tempo para aceitar a verdade. Não acho que ela iria…

Quebrei um galho, depois outro. O medo revolvia um nó no meu estômago.

— Você quer que eu fale ou você trouxe algum discurso que ficou ensaiando?

Abaixei a cabeça e ri comigo mesma. Lorna me conhecia muito bem.

— Eu sou gay — falei.

Ela arfou e cobriu a boca. Mas os olhos a delataram.

— Você me paga — eu disse a ela.

Lorna abriu um sorriso. Puxando uma tira da casca da árvore, ela perguntou:

— É a Alex?

Meu rosto corou.

— É, é ela.

Lorna andou até o lugar onde havia deixado o caderno e se sentou de novo. Eu a segui.

— Me conta como é — ela falou.

De repente eu estava nas alturas. Essas eram as palavras que eu mais desejava ouvir. Respirei fundo e me abri para ela:

— Eu a amo, Lorna. Eu a amo tanto. Nunca me senti assim com outra pessoa antes. A Alex e eu estamos ligadas… física, emocional, espiritualmente. É como se ela estivesse dentro de mim. — Apertei o punho sobre meu estômago. — Ela é parte de mim. Não consigo explicar. É minha alma gêmea.

— Eu a odeio — Lorna falou.

— Não. — A raiva se apossou de mim. — Você nem a conhece.

Lorna balançou a cabeça.

— Não quis dizer isso. Estou morrendo de ciúmes. Não consigo nem imaginar como seria alguém me amar tanto assim.

— Ah, Lorna…

— Estou feliz por você, Piper — ela disse. — Mas também estou triste.

— Por quê?

Lorna correu os dedos sobre a espiral do caderno.

— Porque isso muda as coisas entre nós.

— Não, não muda. — Eu me virei para encará-la. — Do que você está falando?

— Agora você é diferente. Tem estado diferente. Não me ligava há meses. Você tem uma outra vida agora, com outros amigos.

— Você sempre vai ser minha amiga. Sempre.

— Mas não como antes. Eu nunca vou ser uma de vocês.

— Uma de quem? Deus, você fala como se fosse uma sociedade secreta ou algo assim.

— Além disso, agora você tem ela. Não precisa de mim. — Inesperadamente, Lorna irrompeu em lágrimas.

Ela estava gemendo. Isso realmente a magoava. Por quê? Não parecia justo quando eu estava tão feliz. Eu a puxei para os meus braços e a segurei. Acariciando a trança de Lorna, falei:

— Sabe, eu já tive uma queda enorme por você.

Se meus sentidos não estivessem tão aguçados, eu não teria percebido. A tensão nos músculos dela, o jeito como levemente se afastou de mim. Eu a soltei rapidamente. Meu cérebro gritou: Não devia ter contado a ela, sua idiota! O que estava pensando? Recuei alguns centímetros para abrir mais distância entre nós.

— Então, hã, você é bissexual? — Lorna perguntou, puxando um lenço do bolso do shorts. — Porque… Bem, o Larry e tudo mais. — Ela soou o nariz.

— Não, não sou. Agora eu percebo que só o amei como um amigo. — Pelo olhar da Lorna, não estou certa de que ela entendeu. Mas eu também não sabia se me entendia completamente.

— Você me faria um favor, Lorna? Você entregaria um recado pro Larry?

— Claro — ela disse.

— Diga a ele que eu sinto muito por não termos conseguido conversar sobre isso, por eu não poder contar a ele a verdade. Diga que ele merece encontrar alguém que o ame de uma forma que eu nunca seria capaz de amar.

Ela concordou com a cabeça.

— Você acha que ele vai entender?

— Não — ela admitiu. — Ainda não. Ele está bem zangado. E… você sabe.

Meu coração doía. Nunca quis magoá-lo. Nunca quis magoar ninguém.

— Ele vai embora logo, pra universidade — pensei em voz alta. — Talvez, isso ajude.

Lorna se levantou rápido e caminhou sobre a plataforma, até o outro lado da casa do clube.

— Tudo está mudando. Todo mundo indo embora. — As lágrimas dela ameaçavam transbordar de novo.

Levantei e fui atrás dela.

— Você também está indo embora.

— Não sei o que vou fazer. E, definitivamente, não vou com a Polly pra Western State. Ela me contou o que disse pra você. — Lorna encontrou meus olhos. — Não consigo acreditar. Bem, consigo. A Polly sempre teve ciúme de você.

— De mim? — Franzi a testa. — Por quê?

— Por quê? Você é mais inteligente que ela, mais popular, tem uma ótima relação com sua mãe, tem o Larry. Tinha — ela se corrigiu.

“Tinha” era a palavra certa. Apertei um prego solto no chão.

— As pessoas nunca enxergam além da superfície.

— Muito menos ela — Lorna falou. — Ela é tão superficial, que tudo o que tem abaixo da superfície é uma fossa.

Escancarei os olhos para Lorna. Nós duas rimos. Não sei o que era tão engraçado. A verdade?

Lorna balançou a cabeça.

— A Polly é tão canalha. Depois que a avisei que não somos mais amigas, fiquei com tanta vontade de ligar pra você.

— Ah, Lorna.

Ela acrescentou depressa:

— Só queria que as coisas pudessem ficar iguais pra sempre. Você não queria?

Deus, não. Se o universo não tivesse mudado, se eu jamais arriscasse mudar, nunca teria encontrado a Alex. E me encontrado. Viveria uma mentira, criaria uma vida baseada nas expectativas dos outros.

— Minha mãe me expulsou de casa — falei.

— O quê? — Lorna arfou. — Não.

Contei a ela tudo que aconteceu desde Alex, mas propositalmente deixei de fora a parte sobre o segredo. Isso era assunto particular entre Alex e eu, nossa história pessoal. Estávamos construindo algo novo acima daquilo, e era sagrado.

Meus olhos foram até meu relógio.

— Droga. Preciso ir. — Alex ia me levar ao ensaio da Unidade essa noite e me apresentar aos amigos. Era um grande passo para ela. Para nós duas.

Lorna e eu descemos da árvore. Quase no chão, falei:

— Espera. A gente esqueceu o livro secreto de espionagem. — Comecei a subir de novo.

— Deixa. — Ela segurou meu braço. — Talvez outras crianças encontrem e deem continuidade à tradição. — Ela observou a casa do clube em frangalhos por um longo tempo, depois olhou para mim. — A senha secreta era cessante hera.

— Quê? — Fiz uma careta.

— É um anagrama para senha secreta.

— Que besta. Quem teve essa ideia?

— Você teve. Sempre achei você brilhante. — Lorna sorriu, um pouco triste, um pouco saudosa. Então, tomou seu caminho através da mata.

Uma onda de melancolia tomou conta de mim. Lorna sempre seria minha amiga, mas ela estava certa. O mundo dela parecia pequeno demais para mim, apertado e limitado, enquanto o meu havia se expandido, crescido e se iluminado. Eu via tudo agora com olhos diferentes. Totalmente desperta e centrada.

 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...