Konohagakure no Sato
A manhã fresca e confortável de Konoha, com pássaros rumando para o sul em bandos e lojas abrindo, indicava que o dia seria mais um dia tranquilo qualquer na famosa Konoha. Genins estavam pulando sob os telhados das diversas casas rumo ao Prédio do Fogo, prontos para pegarem suas missões Rank-D e ajudarem em diversas tarefas tranquilas pela vila. Já faziam dois anos e mais alguns meses que a Quarta Grande Guerra Ninja havia acabado, e levado consigo diversos entes queridos shinobis de diversas famílias, e ido por vontade própria um certo loiro de olhos azuis, que fora um dos responsáveis por salvar o Mundo Shinobi, decidindo que seu caminho deveria ser trilhado seguindo passos invisíveis através do mundo, invés de permanecer na Vila da Folha.
A vila se mostrava demasiadamente diferente de como era antes da Guerra, tendo diversos prédios e estabelecimentos novos. O pacto de união da Aliança Shinobi ainda reverberava até os dias atuais, mesmo após o fim da Guerra. Talvez finalmente haviam enxergado que, duas cabeças funcionam melhor do que uma, ou, nesse caso, que cinco nações trabalhavam melhor em conjunto do que individualmente. Por conta disso, as Cinco Grandes Nações Elementais compartilhavam informações e inovações entre si, um costume que fora difícil para o velho Sandaime Tsuchikage, Ohnoki, de adotar, já que ele sempre fora alguém naturalmente desconfiado, por viver desde a época dos Estados Combatentes, antes das formações das Vilas Shinobi, onde derramamento de sangue e batalhas eram normais e crianças indo para o campo de batalha sendo igualmente normais. Porém, devido ao que seus olhos testemunharam diante da última guerra, e os ensinamentos que aprendera com Naruto, serviram-no para começar sua mudança de caráter e confiar nos demais Kages, como Kira Ay, o Yondaime Raikage, que também era alguém de caráter duvidoso antes da guerra.
Algo que ajudou em muito para Konoha se tornar uma verdadeira potência econômica também fora o fato de Orochimaru, o Hebi no Sannin (Sannin das Cobras), ter se aliado à mesma após a Guerra, afirmando que queria acompanhar e ver os "ventos da mudança" que aguardavam Uchiha Sasuke. Com isso, o Sannin cientista decidiu ajudar Konoha em suas pesquisas, mostrando-se verdadeiras eficácias benéficas quando não envolviam coisas macabras ou bizarras. Devido à sua ajuda na Guerra, ressuscitando os Quatro Hokages, ele fora perdoado por seus crimes.
Um grande orfanato destacava-se perto da Academia Ninja também, já que, Kabuto havia assumido o posto de chefe do orfanato de Konoha, e investido muito no mesmo para torná-lo um verdadeiro lar para crianças que nasceram sem o devido amor que deviam receber. Ele havia entendido seu próposito de vida, que não consistia em recolher fragmentos de poder de cada ser no vasto mundo para complementar a si mesmo para torná-lo alguém único, e sim em dedicar-se àquilo que ama, que desperta seu interesse e o faz feliz. Ele era muito grato ao que Itachi lhe mostrou através do Izanami: seu propósito de vida, dedicando-se ao mesmo.
Senju Tobirama, o Nidaime Hokage, se orgulharia muito da visão que teria se o mesmo estivesse vivo, pois ele criou a Academia Ninja para ensinar de forma tranquila e lenta o processo de ser e se tornar um shinobi, dando às crianças a infância que elas mereciam, invés de mandá-las para o campo de batalha para lutar até contra adultos, como aconteceu em sua época com seus irmãos e de Hashirama: Senju Itama e Senju Kawarama, na era sangrenta dos Estados Combatentes. Agora, as crianças novamente brincavam e tinham a alegria merecida de uma infância feliz, antes de quererem se tornarem shinobis mais para frente de suas - esperadas - longas vidas.
Enquanto Izumo e Kotetsu estavam tranquilamente cumprindo seus deveres como vigias do grande portão da vila, naquela manhã que prometia ser tão normal quanto às outras, um pouco mais longe dali, perto da entrada da vila na estrada principal, mas afastados suficientemente para ninguém os notar, estavam três figuras paradas, observando a Vila da Folha. Uma era grande e robusta, trajando uma longa capa preta, enquanto a outra era mais baixa, porém, tinha uma altura média de um rapaz na flor da idade de seus 20 anos, parecendo mais baixo somente pelo contraste de estar ao lado de uma figura alta, como a que estava ao seu lado. Estava de braços cruzados enquanto observava Konoha, enquanto a figura alta estava com os braços ocultos sob a folgada capa que vestia; e a terceira figura, ao lado direito da figura alta, era um grande lobo negro, com o pêlo desgrenhado e volumoso, tendo olhos amarelos e atentos, sentado enquanto fitava minunciosamente a vila à sua frente, como se visse mais do que demonstrava.
— Como se sente estando de volta? - Perguntou a figura mais alta, enquanto fitava o Monte Hokage com os seis rostos de seus líderes ao longo dos anos. A figura mais baixa também fitava um ponto na vila, enquanto pensava em sua resposta.
— Eeh... esquisito. - Disse o mais baixo enquanto coçava a nuca com um sorriso sem graça. - É que eu parti daqui quando era tão novo... Não me lembro tanto assim da vila, mas era bem diferente. - O mais alto continuou em silêncio, parecendo esperar uma resposta concreta para sua pergunta, enquanto tinha um sorriso labial gentil em seu rosto, ainda fitando o Monte Hokage, pois ele notou que, abaixo dos seis rostos de pedra, também tinham mais dois rostos menores: um de cabelos espetados, com três marquinhas em cada bochecha e hitai-ate na testa, e outro ao seu lado, de cabelos compridos, rosto fino e comprido com marcas nos dois lados do nariz, mas aquilo só fez seus olhos brilharem. - Mas é uma sensação boa. Me sinto em casa aqui, apesar de fazerem tantos anos. - Completou o mais baixo, também colocando um sorriso gentil em seu rosto.
— Acha que eles nos seguiram? - Perguntou o menor, olhando por trás de seu ombro direito, com um olhar de suspeita e cautela, desfazendo seu sorriso, fitando a longa estrada para fora de Konoha e suas florestas misteriosas que foram testemunhas de diversos acontecimentos ao longo das gerações.
— Não há como. Todos nós repassamos as táticas para despistá-los. Não teve furos. Revisamos. Não poderíamos pôr Konoha em perigo disso. - Respondeu o mais alto, virando totalmente a cabeça para trás também fitando a estrada e florestas que cercavam a Vila da Folha, com um olhar tão intimidador que faria até mesmo os mais obstinados shinobis tremerem diante dele, ato repetido pelo lobo negro ao seu lado, que rosnou baixo, estreitou seus olhos e colocou suas grandes orelhas para trás em sinal de alerta quando também virou a cabeça para trás.
— Mas e você? Como se sente? - Perguntou o menor, voltando ao assunto sobre a vila em frente a eles, com seu sorriso novamente no rosto. - Você passou mais tempo aqui do que eu. Salvou essa vila tantas vezes que perdi a conta, hehe. Como é estar de volta? - O maior nada respondeu, apenas abriu mais ainda seu sorriso labial, com um olhar sereno, demonstrando felicidade. O menor, vendo isso, deixou seu sorriso aumentar também, enquanto voltava a fitar a vila que ambos nasceram e cresceram.
— Vamos fazer uma surpresa para eles. - Disse o menor rindo, enquanto o maior também começou a rir, porém, era uma risada gentil com seu sorriso labial no rosto, rindo para dentro, como se estivesse contendo a risada, enquanto ria pelo nariz também. Uma risada discreta. O lobo começou a abanar o longo rabo peludo enquanto fitava os dois ao seu lado com felicidade no focinho.
— Vamos sim. - Disse o mais alto, sumindo em um relampejo negro e dourado, enquanto o mais baixo voltava a caminhar em direção à vila, ostentando ainda seu sorriso gentil no rosto e com os braços cruzados. Parecia uma mania do mesmo andar sempre assim; e o grande lobo negro - que mais parecia um urso pelo tamanho - simplesmente sumiu, como se tivesse evaporado.
Mais cedo naquele dia
O sol estava despontando em direção ao céu, anunciando as primeiras horas da manhã na grande Konoha, surgindo por de trás das montanhas e florestas serenas que cercavam a vila. O céu estava em um misto de cores amarelo, rosa e vermelho, típico de um verão em seu fim. As lojas recém abriam, e shinobis andavam por Konoha, ora para treinar ou fazer vigia nos portões e entre outros pontos importantes da vila. O brilho que o sol recém surgindo refletia nos rostos dos lendários Hokages em seu monte faziam-nos parecerem de cristal, ou até vidro, invés de pedras e mais pedras esculpidas ao longo dos anos.
Na entrada da vila, surgia uma legião de shinobis de Konoha em direção à vila, com mochilas, pergaminhos e caras de sono e cansaço. Entre eles, estavam Jōnins, Chūnins e Genins, mas também tinha um grupinho de amigos que estavam mais juntos do que a maioria dos ninjas presentes ali, indicando que eram mais próximos. Yamanaka Ino, Nara Shikamaru, Akimichi Chouji, Sabaku no Temari (Temari da Areia) - em breve, Nara -, Sai, Hyūga Hinata, Hyūga Neji, Rock Lee, Mitsashi Tenten, Aburame Shino, Inuzuka Kiba, Uchiha Sasuke, Haruno Sakura e Uzumaki Karin: os Doze de Konoha.
Todos já não eram adolescentes e muito menos crianças, estando no início de sua vida adulta, sendo jovens no auge de seus dezenove anos - com exceção de Neji, Tenten, Lee e Temari, que eram um ano mais velhos que todos. Todos eles e seu grande grupo de shinobis estavam voltando de sua viagem de três dias de Sunagakure (Vila da Areia), onde foram chamados para supervisionar as três fases do Exame Chūnin daquele ano - que fora em Suna novamente, assim como o último Exame Chūnin, três anos atrás -, o que os fez ficarem muito animados por terem sido escolhidos para entrar na equipe que organizava e cuidava da prova que graduava Genins a Chūnin.
(OBS: Todos os Doze e outros personagens estão com sua aparência como de The Last. Neji está um pouco mais alto, tendo a altura média dos rapazes de sua idade e do grupo. O rosto estava mais magro e definido, os cabelos longos no mesmo comprimento, mas presos em um rabo de cavalo logo na altura da nuca. Ainda utilizava sua hitai-ate (Bandana) na testa, e sua camisa de mangas soltas, fechada no ombro direito, com um zíper que desce pelo lado direito do peito, típica dos Hyūga, antes branca, agora era azul escuro, sendo preto nas bordas, nos botões e no zíper, e o avental que usava na cintura agora era preto, invés de marrom. Suas sandálias shinobi ainda eram as mesmas também, e suas calças, antes brancas combinando com a camisa Hyūga branca, combinava com a nova camisa, sendo igualmente azul escura. Karin estava com os cabelos ruivos no mesmo comprimento de antes, além dos mesmos óculos marrom. Sua face estava mais madura e desenvolvida, sendo muito bonita e atraente, assim como tinha um corpo esbelto e volumoso. Utilizava o mesmo uniforme lilás de lavanda de antes, porém, agora, nas costas tinha o típico símbolo de redemoinho do Clã Uzumaki, presente nos coletes Chūnin e Jōnin. Usava também um short preto curto e sandálias shinobi de cano alto igualmente escuras, porém, agora não usava mais as meias pretas compridas, deixando suas pernas torneadas à mostra. Na perna esquerda tinha um coldre de kunais e shurikens preso, junto às faixas, e, por último, no braço direito, utilizava sua hitai-ate de Konoha que ganhou quando tornou-se Genin da Vila da Folha.)
Misturado um pouco mais atrás do grupo de examinadores, também estavam os graduados a Chūnin do ano. Entre eles, Sarutobi Konohamaru, Kazamatsuri Moegi e Ise Udon, que haviam se empolgado muito por terem se tornado Chūnins. Grande parte de sua força de vontade e inspiração para passarem na prova fora o ídolo loiro do grupo: Uzumaki Naruto. Eles haviam feito algo parecido no último Exame Chūnin, três anos atrás, porém, na época, foram mais, digamos, radicais. Konohamaru, indignado por fazerem o Exame Chūnin enquanto seu rival de olhos azuis não estava em Konoha, decidiu se transformar no mesmo para se inscrever, porém, não funcionou, e Neji disse a ele que, uma mera formalidade, como se graduar a Chūnin, não iria impedir ou atrapalhar o sonho de Naruto de se tornar Hokage.
E ele estava certo. Os três sabiam do potencial de seu líder não-oficial, principalmente quando ele havia voltado de seu treinamento de quase três anos com o Gama no Sannin (Sannin dos Sapos), Jiraiya, e havia realizado feitos incríveis e memoráveis, lutando contra Nukenins de Rank-S da Akatsuki e inimigos de níveis muito acima do normal. Definitivamente, o "sensei" de Konohamaru não estava em nível Chūnin; estava muito acima.
Como se pensar naquele loiro atraísse pensamentos sobre o mesmo, mais a frente, uma jovem de cabelos rosas curtos e vestes vermelhas, com luvas nas mãos e mochila nas costas, muito bonita e com um corpo esbelto e definido, Haruno Sakura, estava agora pensando no loiro, quando acabou fitando o reflexo do sol no céu e nas nuvens que se misturavam em um mar de imensidão escuro, amarelo, rosa e azul. O azul dos olhos dele. Aquelas primeiras horas da manhã e nascer do sol estavam sendo agitadas.
Na verdade, Sakura se lembrava constantemente do baka. Havia se lembrado diretamente quando soube do Exame Chūnin e fora escalada para a equipe de supervisionamento do mesmo, já que, o loiro era o único Genin do grupo desde que havia voltado com Jiraiya. Agora, até o rival e pupilo dele havia o passado na hierarquia shinobi. Ela lembrou-se de como Naruto ficou quando voltou e soube que era o único Genin de sua turma de amigos - e que até Gaara havia se tornado Kazekage -, agora, imaginava como o mesmo iria reagir quando voltasse e visse que shinobis mais novos ainda do que ele haviam o ultrapassado.
Aquele tipo de situação era muito normal no cotidiano da rosada. Ela acordava bastante cedo para treinar - às vezes, antes do sol raiar, com o brilho e luz da lua refletindo sob as copas das casas e árvores da vila -, e, consequentemente, acabava sempre fitando o céu absorta em pensamentos, imaginando se Naruto estaria olhando para o céu também, naquele momento da primeira hora da matina. Certamente não, sempre pensava a Haruno, visto que o loiro era alguém que dormia mais do que a hora pedia e sempre acordava atrasado.
— Oe, Sakura-san! Adivinha quem são os mais novos Chūnins! Eu, Udon-nee-chan e Moegi-nii-chan! O Naruto-nii-chan ficaria orgulhoso de nós, não é? - Disse o jovem Sarutobi chegando ao lado de Sakura para andar ao seu encalço, fitando-a com os braços atrás da nuca, uma mania que ele tinha. Sakura fitou o mais novo com um sorriso gentil, fazendo o garoto corar, já que a jovem era muito bela. Ela se divertia bastante com Konohamaru, e vê-lo falar de Naruto era algo muito gostoso de ver, pois ele tinha um intenso brilho nos olhos quando tocava em algum assunto que envolvia o loiro. Há dois anos atrás, esse comportamento não seria muito normal, e a flor de cerejeira se deitava de rir quando se lembrava.
Logo após a partida súbita do Herói favorito da Aliança Shinobi, Konohamaru demonstrou um misto de sentimentos a todos em relação ao baka: tristeza, raiva, mágoa, rancor, remorso... Tudo isso por conta do mesmo ter partido sem ter dado um adeus decente ao menor; porém, Naruto não o havia feito por que estava com pressa, e aquele momento era mais um de "é agora ou nunca", e Konohamaru estava em missão quando o loiro havia partido. Também tentou se aproximar do mesmo naqueles longos dois meses após a Guerra que o Uzumaki havia ficado longe de todos, mas, também, não obteve êxito nenhum em conversar com o loiro-baka.
Desesperado quando soube da partida de seu sensei quando voltou de missão, Konohamaru, Udon e Moegi ficaram tristes pela ida do mesmo; porém, Konohamaru estava com raiva também, e se recusou a mandar cartas ao loiro enquanto todos enviavam. Sakura incentivou-o a enviar. A rosada tinha se afeiçoado bastante ao Sarutobi, pois ele era uma cópia de Naruto quando menor. Ele, ainda orgulhoso, não engoliu, e, quando decidiu falar com seu ídolo, já havia se passado três meses que o mesmo havia partido, e, como de conhecimento de todos: o loiro nunca mais mandou notícias. Ele se arrependeu um pouco, mas era duro na queda o pequeno neto do Sandaime Hokage, mas, assim como todos, queria logo que o loiro voltasse para casa.
Sakura, na época, achava muito engraçado o comportamento birrento do jovem Genin. Ele realmente era muito parecido com Naruto: hiperativo, cabeça-oca, confiante, coração puro e esforçado ao máximo.
— Oe, Sakura-san! Está me ouvindo!? - Perguntou o Sarutobi, fitando a Haruno com uma expressão confusa estampada no rosto.
— Hai, hai! Ele realmente ficaria muito orgulhoso de você. Sempre acreditou muito no seu potencial, desde que você era pequeno e as pessoas só viam você como o neto do Sandaime. - Disse a rosada ainda fitando o céu, mas focando mais na parte de labaredas. Konohamaru, vendo onde a Haruno fitava, abriu um sorriso largo, mostrando todos os dentes que tinha direito a expor. Ele também começou a fitar os raios azuis do céu meio-rosa com um olhar sonhador.
— Já está mais do que na hora, não é? - Disse o Chūnin, e Sakura entendeu o propósito daquela pergunta. Desde a partida do Uzumaki, perguntas do gênero eram feitas com frequência, e já sabiam o que elas queriam dizer, mesmo sem citar o nome do loiro na pergunta.
— Sim, já passou da hora, na verdade. - Disse Sakura rindo docemente, e Konohamaru a acompanhou com uma risada calorosa que assemelhava-se bastante à risada dele também. Konohamaru voltou para Udon e Moegi, conversando animadamente com outros graduados sobre as provas, etapas e desafios que enfrentaram no exame, enquanto Sakura fitava o céu multicolor. Era como se aquele amanhecer tivesse algo especial.
Ela refletiu sobre as palavras do Sarutobi, e, realmente, estava mais do que na hora do loiro voltar para sua casa. Já faziam dois anos e alguns meses que ele havia partido, e, consequentemente, sem notícias do mesmo. Tanta coisa aconteceu nesse período de tempo... A paz que ele tanto queria estava acontecendo, e oportunidades estavam surgindo. Oportunidades que, principalmente, para ele, seriam vantajosas. Ele poderia estar treinando para se tornar o Hokage logo, mas estava sabe-se lá onde, metido com sabe-se lá o que e sabe-se lá com quem, pensava a Haruno.
Ela lembra até hoje da última carta que trocaram. Fora de Naruto, e, quando ela enviou uma resposta, nunca mais teve um retorno da mesma. Ainda guardava a guardava, assim como as outras, porém, aquela tinha um cuidado melhor, tanto por ser a última quanto pelo conteúdo da carta.
CARTA
Sakura
Estou enviando anexado junto à essa carta essa erva que você deve ter notado. Eu a encontrei e descobri sobre suas propriedades e vantagens, e, assim que soube que era medicinal, na hora lembrei de você e decidi lhe enviar, 'ttebayo!
Ela possui capacidades de extrair memórias ruins e toxinas de Rank-S de órgãos altamente infectados. Mas ela possui alguns riscos bem extremos também. Se não for diluída na quantidade certa em água com chakra concentrado, ela pode levar o infectado a óbito instantaneamente, ou, no mínimo, sequelas irreparáveis. Mas, como sei que você é a melhor de todas quando se trata desses assuntos complicados de medicina ou sei lá o quê que não entendo nada, tenho certeza que vai saber a dosagem certa se precisar usá-la algum dia!
Como estão as coisas por aí? Eu soube que Konoha está expandindo bastante! Isso é incrível, 'ttebayo! Aproveite esses tempos de paz, pois nós merecemos, hehe! Quase morremos pra chegarmos onde estamos, e devemos valorizar isso.
Fico cada vez mais feliz por onde passo. As pessoas parecem estar muito mais felizes e dispostas pela vida depois da guerra. Parece que viram o terror que poderia ser no Mugen Tsukuyomi e valorizaram o que tinham na realidade. Acho que as pessoas só dão o devido valor às coisas depois de perdê-las, 'ttebayo.
Explorar o mundo é algo incrível mesmo. Acho que agora entendo ainda mais o Ero-Sennin! Quando viajamos durante meu treinamento, passamos em diversos lugares - os quais muitos estou visitando pouco a pouco para ver como estão desde aquela época -, mas eu estava tão focado em meu treinamento que nem ligava ou notava onde íamos, 'ttebayo! Só ligava em treinar e treinar para trazer o Teme de volta, hehe... Mas ver o mundo com os próprios olhos é algo maravilhoso mesmo!
Falando no Teme... acho que isso teria combinado mais com ele, não é? Sair pelo mundo, viajar por onde pudesse, conhecer lugares, pessoas, culturas e um monte de coisas esquisitas sozinho e despreocupado. Entendo que ninguém esperava isso de mim, por que sempre fui muito ligado à Konoha, e não é que eu não goste mais de Konoha, 'ttebayo, mas acho que isso seria melhor para mim... Ver o mundo, entende? Seria mais normal se Sasuke fosse e eu ficasse, mas ocorreu o contrário...
Sinto muitas saudades de todos! Do Teme, do Kakashi-sensei, dos nossos amigos, do rámen do Ichiraku, da Baa-chan... de você...
Fico cada vez mais feliz quando você me conta de suas conquistas, 'ttebayo! Daqui a pouco você já se torna diretora geral do hospital, hehe! Fico... fico muito orgulhoso de você... Você se achava uma garota tão inútil e um peso para mim e o Teme, e agora, se tornou uma das kunoichis mais fortes do mundo e superou a Baa-chan, além de ter salvado mais de mil shinobis na guerra, dattebayo! Você é demais, Sakura!
Fico feliz e muito grato que alguém tão incrível e legal como você sempre esteve comigo. Sempre me apoiou e salvou minha vida das milhões de vezes que eu quase morri ou quase perdi alguma parte do corpo, hehe! Você pode conquistar tudo, Sakura, e eu sei que vai, 'ttebayo! Você nunca desiste também, e é persistente. Provou isso quando treinou com a Baa-chan enquanto eu estive fora com o Ero-Sennin.
Não sei quando nos veremos novamente... Eu sinceramente não sei mesmo. Não tenho previsão de quando voltar, mas sei que não será pouco tempo. Tenho muito a fazer, a descobrir, a aprender, a ver com meus próprios olhos... Muita coisa. Talvez eu volte em breve, talvez leve tempo... quem sabe? Talvez eu volte daqui uns meses e nada tenha mudado, e vai ser como se eu não tivesse perdido nada e poderemos seguir tranquilamente, hehe... Ou pode ser que eu volte daqui há dez anos, e um novo Hokage já tenha sido escolhido, a vila vai estar totalmente irreconhecível e vocês todos já estarão casados e com filhos, hehe...
Mas, não importa o tempo que eu fique longe. Se for um mês, um ano, dez... sempre estarei ao seu lado quando precisar. Sei que você sabe disso, hehe! Sempre estive com você lhe ajudando, não é? E sempre continuarei ajudando. É só você olhar para o céu que saberá que eu também estarei olhando, e então você poderá resolver o que te aflige, 'ttebayo! Se de vez em quando você sentir vontade de socar algo por raiva ou frustração, pinte meu rosto onde for bater, pois sei que os seus cascudos em mim te alegravam, he!
Em breve nos veremos novamente, 'ttebayo!
De Uzumaki Naruto, o Ninja Número Um.
Aquela foi a última vez em que ela teve notícias do Uzumaki. Na verdade, a última vez em que havia falado diretamente com ele, pois, meses depois, Orochimaru relatou para Kakashi que Naruto e ele se encontraram no País da Terra, com o loiro querendo saber sobre o Edo Tensei (Reencarnação Impura) e suas propriedades. De início, todos se assustaram, mas Orochimaru os tranquilizou, dizendo que o loiro não tinha más intenções, e que nem o mesmo soube dizer para quê ele queria saber dos segredos do Edo Tensei, mas que viu que o Herói não tinha interesses obscuros, e decidiram dar um voto de confiança ao Hebi no Sannin, ainda que achassem esquisito e intrigante o fato do loiro querer saber sobre uma das principais armas da Akatsuki na Guerra.
FLASHBACK ON
Kakashi estava sentado na cadeira de seu escritório, cheio de papeladas, as famosas chatices ou "chateladas", como ele havia nomeado-as. Tsunade estava encostada na janela atrás do Rokudaime, de braços cruzados e olhos fechados, como se estivesse descansando ou tirando um cochilo em pé. Shizune estava do outro lado do Hatake, de pé, com Tonton em seu colo - como sempre - e atenta a tudo o que o Hokage fazia, alternando seus olhares para os Doze de Konoha que estavam à sua frente, pois estavam relatando sua última missão conjunta, que era a de bolar um teste de sobrevivência para alguns graduados da Academia Ninja.
O Rokudaime Hokage gostava de propor tais testes; assim ele poderia saber se os pequenos aspirantes a shinobis estariam cientes do que iriam enfrentar no futuro em suas carreiras como ninjas. Era parte de sua estratégia de prepará-los para o que viria, assim deixando-os conscientes e com preparo. Um gênio, como o Hatake sempre provou ser. Um shinobi destacado pela inteligência e genialidade, e provava isso ainda como o Rokudaime Hokage. Ele estava assinando chatices que registravam o êxito e término da missão do grupo de Chūnins - e Jōnins - à sua frente.
— Devo dizer-lhes que fiquei impressionado pelo nível dos desafios e imprevisões impostas na prova para mostrá-los de que o inimigo não tem hora ou modo para atacar, sendo injusto quando pode. - Dizia Kakashi enquanto assinava algumas papeladas. - Estou muito orgulhoso de você, Sakura. Seu desafio de força e parâmetro de escolha de ervas medicinais os pegaram totalmente desprevinidos e os ensinaram a dinstinguir melhor cada planta e suas propriedades. Um desafio de lógica que a maioria dos shinobis ignoram. - Kakashi completou de forma orgulhosa de sua aluna.
— Ah... arigatō, Hokage-sama. - Sakura ficou um pouco constrangida com o elogio de seu ex-sensei e atual Hokage. Assim como Naruto, seus esforços passavam despercebidos muitas vezes, então não sabia como reagir em situações como essas.
— Claro que teria orgulho dela! Afinal, foi minha aluna. Nada abaixo do esperado. - Disse a Sannin das Lesmas ainda na mesma posição, mas com um sorriso orgulhoso, deixando alguns na sala com gotas na cabeça.
De repente, alguém bateu na porta.
— Entre. - Disse o Hatake sem fitar a porta, ainda imerso no mundo das papeladas.
— Ohayō, Hokage-sama. - Disse o Sannin das Cobras, Orochimaru, com sua costumeira voz rouca e maliciosa. Os presentes - com exceção de Kakashi e Sasuke - ainda estavam surpresos em ver o Sannin desse jeito: aliado à Konoha. Tudo era muito novo ainda, e os acontecimentos de quatro anos atrás, do mesmo invadindo Konoha e matando o Sandaime, Sarutobi Hiruzen, não ajudavam em nada em desconstruir aquele Orochimaru.
— Ohayō, Orochimaru-sama. A que devo sua visita? - Kakashi sentiu que Orochimaru tinha algo a revelar.
— Trago algumas... novidades, digamos, que irão deixá-lo intrigado, ku ku ku. - Disse Orochimaru de sua típica forma maliciosa e misteriosa. Kakashi entendeu que a conversa era assunto que deveria ser reportado somente ao Hokage.
— Bom, minna, depois enviamos o pagamento a vocês. Estão dispensados. - Disse Kakashi, fazendo todos, com exceção de Orochimaru, Tsunade e Shizune, irem em direção à porta, depois de dizerem em uníssono "Hai, Hokage-sama".
— Na verdade, creio que seria bom para eles ficarem para ouvirem a conversa, já que, de certa forma, diz respeito a eles o assunto... E a pessoa que é o assunto, ku ku ku. - Orochimaru continuou com sua postura misteriosa, mas, dessa vez, fez Tsunade o fitá-lo com curiosidade, sabendo que o assunto era sério, causando o mesmo efeito nos demais dos Doze que pararam e o fitaram com curiosidade também.
— Do que se trata? - Kakashi não imaginava o que Orochimaru poderia saber e estar envolvido que envolvesse também os Doze de Konoha.
— É sobre o Naruto-kun. - Orochimaru disse de forma simples, como se fosse um assunto qualquer, fazendo todos o fitarem com total surpresa, o que o Sannin achou engraçado. Adorava causar tais efeitos nas pessoas.
— Naruto?! O que aconteceu com ele?! Ele está bem?! - Sakura, em poucos segundos, ficou aflita e alterada, temendo que algo havia acontecido ao loiro.
— Nani?! O que aconteceu?! - Sasuke mostrou-se preocupado também, chegando perto de Orochimaru com nervosismo.
— Naruto-kun... - Murmurou preocupadamente Hinata, com as mãos juntas ao peito.
— Sakura, Sasuke, acalmem-se. Entendo seus comportamentos, mas devemos manter calma e frieza em horas como essa; e, além disso, nem sabemos o que Orochimaru-sama tem a nos dizer sobre Naruto. - Disse o Hatake. Ele também estava preocupado com o loiro, que não mandava notícias há meses, mas precisava manter a calma, afinal, nem sabiam do que se tratava a informação de Orochimaru sobre o baka e já estavam julgando como se fosse algo ruim. Além disso, acharam esquisito o quê poderia envolver o Sannin e o loiro, já que o Uzumaki tinha um certo rancor de Orochimaru, por conta de ter levado Sasuke de Konoha.
— H-hai. Gomennasai, Hokage-sama... - Sakura abaixou um pouco o olhar envegonhada em como havia se alterado em poucos instantes, mas a ideia de acontecer algo de ruim ao baka lhe dava um aperto no peito. Sasuke baixou a cabeça e apertou os punhos, talvez com raiva de si mesmo ou tentando se conter. Não queria que algo tivesse acontecido com aquele que foi seu irmão. Todos estranharam a reação de Sakura, com exceção de Ino e Tsunade.
— Prossiga, Orochimaru-sama.
— Bem... Há pouco mais de duas semanas, eu havia recebido um bilhete, e reconheci que não se tratava de uma mensagem recebida de nenhuma vila shinobi, pois o falcão era diferente. Não era nenhum dos treinados que usa-se para mandar mensagens, então logo observei que era clandestino. O bilhete dizia para eu me encontrar com o tal indivíduo, que enviou a carta, no País da Terra, nas proximidades de Iwagakure (Vila Oculta da Pedra), dali uma semana. Não tinha nenhum nome na assinatura, apenas um "N". - Logo que ele falou isso, Kakashi e Tsunade reconheceram que poderia se tratar de Naruto, e que o mesmo não assinou com seu nome para evitar possíveis mercenários atrás dele, se a mensagem fosse interceptada. Inteligente, muito inteligente, pensou o Hatake, sobre o raciocínio de seu aluno.
— Naturalmente, eu desconfiaria de tal encontro, visto que minha mente brilhante ainda é cobiçada por muitos, ku ku ku. - Orochimaru assumiu uma postura orgulhosa, deixando alguns na sala com gotas na cabeça, e Tsunade com uma enorme. - Mas senti algo estranho, como se pudesse confiar naquela pessoa sem precisar me preocupar, apenas em ter lido o bilhete. - Kakashi já sabia muito bem disso. Naruto sempre conquistou a confiança das pessoas mais desconfiadas e incrédulas. Era um dom dele.
— Rumei então para o País da Terra. Quando cheguei lá, me deparei com meu contato quando vi uma cabeleira loira explodindo um rochedo grande. - Sakura e os demais levaram inconscientemente um sorriso aos lábios. A rosada sentiu um calor no peito, assim como Hinata. Nem após tornar-se o Herói do Mundo Ninja, você não deixa de treinar, Dobe, pensou o Uchiha sobre seu amigo.
— Devo dizer que ele estava bem diferente, ku ku ku. Pensei estar vendo um fantasma de Minato-kun. - Orochimaru soltou no ar sua fala e deixou os demais intrigados.
— Nani? Como? - Tsunade pronunciou-se pela primeira vez no assunto.
— Ele estava com os cabelos iguais aos de Minato-kun, o que deixou eles mais parecidos ainda. Naruto-kun fará sucesso com as mulheres, ku ku ku. - Sakura ficou com um tique na testa de ciúmes e raiva, virando o rosto corado e os batimentos acelerados. - Mas, continuando... Logo percebi que ele não estava mudado apenas em aparência. Ele estava mais sério e calado também, mas, ainda assim, era o mesmo molque de sempre. - Os presentes ficaram surpresos por Naruto estar mais sério, já que era a hiperatividade e tagarelice em pessoa.
— Ele me pediu para contar a ele sobre os segredos do Edo Tensei. Achei muito suspeito e esquisito aquilo vindo dele, mas, novamente, senti que não havia problemas e que poderia confiar nele. Sabemos que aquele gaki seria a última pessoa que se revoltaria contra todos. - Todos concordaram com o Sannin. Realmente, o loiro era o último quem iria sucumbir à escuridão, mas, mesmo assim, aquilo era, no mínimo, inusitado. - Então fiz o que ele pediu, e contei e mostrei tudo sobre o Edo Tensei. Achei esquisito que ele não se interessou muito pela parte prática, de como usá-lo, e sim na parte teórica, dos segredos e propriedades da técnica. Pareceu que ele apenas queria saber sobre o Edo Tensei, invés de utilizá-lo. - Isso deu um alívio aos ouvintes do relato do Hebi no Sannin. Não que eles não confiassem no loiro, mas o Edo Tensei era extremamente perigoso, mesmo se usado de forma leviana.
— Ficamos por três dias nisso, enquanto ele treinava. Não vi o que ele praticava tanto, pois ele se afastava de onde havíamos acampado, mas conseguia sentir concentrações enormes de chakra, estrondos e explosões vindas de lá, além de nuvens de fumaça. - Todos ficaram bem impressionados com isso. - Após cumprir seu objetivo, nos separamos, mas antes, ele pediu para que eu mandasse lembranças a todos vocês. Disse que sente muita falta de Konoha, e que parou de responder as tais cartas por necessidade.
Os presentes ficaram muito felizes pelas lembranças do loiro, mas pensativos quanto ao por quê dele ter parado de falar com eles via correspondência. Que necessidade?, pensaram.
— Que bom que ele está bem... Pelo menos não teremos que nos preocupar tanto agora. - Disse Kakashi com nostalgia do filho de seu sensei, mas lembrou-se de um detalhe. - Mas ele não disse a você para onde ia? Não deu nenhum indicativo?
— Não. Apenas disse-me que "continuaria seguindo os ventos do destino", o que não entendi muito bem, mas sabe-se lá o que se passa na cabeça daquele moleque, ku ku ku. - Disse Orochimaru rindo, fazendo os demais rirem também da fala dele, mas intrigados pelo o que o baka havia dito ao Sannin das Cobras.
— Naruhodō... arigatō, Orochimaru-sama. Dispensado. - Disse o Hatake rindo da fala do Sannin sobre o loiro, com Orochimaru saindo da sala após curvar-se em respeito ao Hokage, enquanto o Filho do Canino Branco voltava ao assunto dos registros do teste que os Doze haviam feito, enquanto todos estavam absortos em pensamentos sobre um certo loiro de olhos azuis.
FLASHBACK OFF
Desde aquele dia, a rosada não teve mais notícias de Naruto, por mínimas que fosse. Na verdade, ninguém mais teve, nem mesmo Kakashi, e, se ele estava recebendo algo do loiro, escondia e dissimulava muito bem, pois ele também demonstrava-se sem norte sobre o mesmo. Nem em outras vilas shinobi ou comerciais, ou em qualquer canto do mundo não se tinham mais notícias sobre o Herói do Mundo Ninja, mesmo que fossem rumores. Era como se ele tivesse sumido do mapa... do mundo. Não somente Sakura, mas todos os amigos e pessoas próximas do loiro sentiam como se ele tivesse cortado seus laços com o povo de Konoha. Nunca mais foi visto, nunca mais deu notícias, como se tivesse morrido... Como se tivesse os deixado para trás. Sakura ainda ficava curiosa sobre o por quê o baka queria saber sobre o Edo Tensei, mas, quando seus pensamentos sobre o loiro vinham à tona, ela focava-se mais na última carta dele.
Leu a carta diversas vezes. Algo dentro de si dizia que ele já planejava que aquela fosse a última, pelo modo como falou e finalizou a mesma. Eles só conversavam sobre banalidades e coisas do cotidiano, como a rotina dela no hospital ou o que ele estava aprendendo nas viagens. Ele praticamente se abrir daquele jeito, tão repentinamente a pegou de surpresa... Não era normal. Se ele não sabia que seria sua última carta, pelo menos sentiu que foi e escreveu na intenção de ser tal.
Ela sentia um aperto no coração quando a lia, combinado a um misto de emoções e sensações conflitantes. Ficava feliz pelas palavras do baka. Não fora a primeira vez que ele havia enviado ervas medicinais para ela. Em outras cartas também tinham, dizendo que as ervas lembravam ela, e então decidia enviar à mesma, dizendo para estudá-las e guardá-las. Sabia do amor e dedicação pela área shinobi da medicina que a kunoichi sentia; e ela lhe agradecia mentalmente por aquilo, como sempre. Naruto sempre a admirou e a incentivou em tudo. Mesmo quando ela mesma não acreditava em si mesma e em seu potencial, o loiro sempre vinha com palavras de confiança e aquele sorriso que somente ele poderia dar. Além disso, a conhecia como ninguém.
Era agradecida a Kami por tê-lo em sua vida. Ele sempre esteve lá por ela, incentivando-a e alegrando-a quando nem ela mesma conseguia elevar seus ânimos, mas o loiro estava sempre lá para iluminá-la com um sorriso brilhante que afetava até os mais longínquos shinobis. Corroía-se pela forma como o tratava. Ela, no fundo, sempre o admirou e gostava do loiro. Sua companhia sempre era um tanto caótica e alegre. Mas ela nem sempre mostrou seu melhor lado para o Jinchūriki, maltratando-o e menosprezando-o. Se arrependimento matasse, a flor de cerejeira teria garantido suas mortes pelas próximas seis reencarnações. Ele, sempre disposto à ela, estando ali, do seu lado, e ela o afastando de forma rude.
Ela sentia-se triste também quando lia a carta. Não chorava de saudades pelo Uzumaki; não mais, pelo menos. Na primeira vez em que leu a carta do Jinchūriki, chorou por interpretar certeiramente como um Adeus, mas, não não era mais assim, pois deixou de ser uma garotinha imatura e fraca - ela aprendeu a amar a si mesma; a valorizar-se e ter orgulho de si, então já não era uma garotinha frágil e boba, tornando-se uma mulher forte e decidida -, mas chorava por dentro. Seu âmago sofrido pela falta do loiro. Saber que o último contato deles fora há tanto tempo... Sentia saudades em dobro, mais ainda em contraste à vez em que o Herói da Guerra fora treinar com Jiraiya por quase três anos. Sentia falta de tudo dele. Sua risada escandalosa, seus gritos exagerados, seu jeito animado...
Sakura ainda fitava o céu rosado-azulado, lembrando-se do que o Herói havia dito em sua última carta.
É só você olhar para o céu que saberá que eu também estarei olhando, e então você poderá resolver o que te aflige, 'ttebayo!
Quase todas as manhãs em que fitava o céu em seus primeiros minutos do dia imaginava se o loiro também estaria fitando aquela imensidão infinita pensando nela. Imaginava se ele também olhava para cima sempre que estava com problemas e pensava nos conselhos dela. Imaginava com que aparência ele estaria enquanto fitava o infinito. Será que ele está igual ao Yondaime? Com o cabelo estando maior e com costeletas?, pensava a rosada.
SAKURA POV ON
Frio. Sentia frio. Aquela manhã da volta de Suna para Konoha estava bastante fria; pelo menos tínhamos o Lee para alegrar nossa viagem, gritando sobre o "Fogo da juventude" que ele e Gai-sensei falavam, o que rendia risadas de todos nós. Estávamos há quase três dias assim: caminhando e caminhando para chegar logo em casa. Só paramos uma vez, pois não queríamos demorar tanto. Além disso, acabei conseguindo desenvolver um Iryō Ninjutsu (Ninjutsu Médico) que consegue restaurar o vigor e eliminar o cansaço dos corpos, para aguentar caminhadas mais longas, de vários dias, como estávamos fazendo. Tsunade-sama ficou muito orgulhosa quando viu a técnica. Não restaurava 100% do vigor, e nada do chakra, mas era muito conveniente para exaustão física.
Desenvolvi a partir de uma erva medicinal que Naruto me enviou. A maioria das ervas que ele havia me mandado eram bastante peculiares e diferentes. Jamais as havia visto antes, e não achava informações sobre elas em livro nenhum ou com shishou. Só me baseava no que Naruto dizia nas cartas, e eu confiava nele, mesmo que aquele baka fosse um perigo quando se trata de repasse de informações. A planta se chamava Shishunki (Adolescência). Não sei se foi ele quem inventou o nome, pois era óbvio demais, ou se era o nome mesmo. Só sei que ela nos ajudou muito, fora as outras que ele me enviou. São diversas; às vezes ele enviava mais de uma por carta, e, em outras ocasiões, enviava algumas flores. Aquilo trazia um calor ao meu peito e um farfalhar de borboletas revirando-se em meu estômago.
Mas, há muito tempo, eu não tinha mais aquilo. Já não era mais notificada sobre cartas terem chegado para mim. Não recebia mais ervas medicinais e nem flores, e nem suas palavras doces. Mesmo que as últimas cartas não tinham mais o sufixo "chan" que eu descobri adorar tanto, ficava feliz quando as recebia, pois ele ainda falava do mesmo jeito de sempre... Parecia apenas que tinha esquecido de acrescentar o sufixo, ainda que eu duvide muito disso.
Sentia tantas saudades do baka que eu amo que chegava a doer em meu peito.
Sim, amo.
Nesse longo período após sua partida, fiquei organizando meus pensamentos e sentimentos, tentando entender o que se passava no meu coração já cheio de machucados. Acabei descobrindo que amava aquele loiro-baka, e que, aquilo que eu sentia por Sasuke, nem chegou a ser amor. Era mais uma obsessão ou paixonite obsessiva; típico sentimento de uma garota bobinha e apaixonada de doze anos que é insegura, e tenta gostar de tudo do que os outros de sua idade gostam.
Eu sempre via as garotas da Academia Ninja idolatrando Sasuke, e, quando percebi, já fazia o mesmo. Talvez tenha feito aquilo por que eu queria interagir e me enturmar com as outras crianças, já que eu era excluída e ridicularizada pela minha testa, o que acarretou em minhas inseguranças. Comecei a adorar Sasuke, como se ele fosse uma espécie de prêmio, conquista ou algo muito inalcançável que eu jamais teria. Não consigo imaginar exatamente o que eu via nele na época. Não que eu não gostasse dele, mas, pensando agora, consigo enxergar Sasuke apenas como um amigo.
Talvez fosse por quê fiquei com pena dele pelo massacre de seu Clã, e admirada por vê-lo seguir em frente mesmo tendo perdido toda a sua família e ser um gênio ao mesmo tempo, mas, vendo por esse lado, Naruto sempre foi sozinho também, nunca tendo o amor dos pais e carregando o peso da extinção do Clã Uzumaki nas suas costas, mesmo sem ele - e ninguém - saber. A vida dele sempre foi cheia de mistérios, e eu, naquela época, apenas seguia o que todos faziam: adorava Sasuke e odiava Naruto. Quantos erros...
Mesmo Sasuke sempre sendo indiferente, arrogante e prepotente, ele nos considerava seus amigos quando fizemos parte do Time 7, não querendo admitir. Na realidade, ele era um garoto feliz e tranquilo, antes do massacre que Itachi cometeu para salvá-lo - e, para salvar a todos nós, devo acrescentar. Claro, desde cedo, ele sempre teve um lado arrogante e prepotente oriundo de quase todo o Uchiha, mas, em suma, era alegre e leve. Quando entramos para o Time 7, ele mostrou-se corajoso e fazia de tudo para nos proteger e nos ver bem, mas isso mudou com o tempo... até ele fugir.
O Sasuke de três anos depois de sua fuga era outra pessoa, praticamente. Estava afundado no ódio e escuridão. Sinto uma raiva aflorar dentro de mim toda vez em que me lembro dele tentando me matar, ou das vezes em que tentou matar Naruto - um milhão de vezes. Ainda tenho pesadelos com aquele Genjutsu (Técnica de Ilusão). Aquilo me machucou profundamente, deixando sequelas irreparáveis. Me lembro também de minha declaração para ele antes de me colocar naquele Genjutsu. Por quê eu falei aquilo? Tudo aquilo era desespero para trazê-lo para casa? Acho que sim. Na verdade, acho que meu "amor" por Sasuke morreu muito antes, só não havia reparado por estar desesperada atrás dele, assim como Naruto.
E, quando ele voltou, quando tudo estava bem de novo, percebi que não havia mais aquele sentimento de antes. Aquela euforia ou alegria quando estava perto dele. Estava feliz sim pelo Time 7 estar de volta, mas era diferente. Havia aceitado o pedido de desculpas dele, mas não iria pagar por tudo o que ele havia causado... Porém, estava feliz. Por muito tempo, guardei certa raiva e mágoa dele, mas, a pedido do baka por cartas, decidi o perdoar. Tinha o coração mole demais, o que podia fazer? Apesar de ser durona, tal como minha shishou.
Hoje, fico muito feliz quando vejo no que Sasuke se tornou. Realmente mudou muito, para melhor. Se tornou um ótimo amigo. Nem dá para comparar o Sasuke de dois anos atrás com o mesmo de hoje. Apesar de não ser uma das pessoas mais conversadeiras ou extrovertidas como meu baka, Sasuke é muito mais gentil e alegre hoje em dia. Quem vê o mesmo, pode dizer que ele é alguém realmente leve, apenas fitando seus olhos, que já não carregam mais ódio, amargura, dor ou sofrimento; e sim próposito, nobreza e bondade, buscando sua redenção. Trata a todos muito bem e faz o possível para ajudar Konoha, cumprindo o desejo dele. Vejo o quanto ele mudou por causa de Naruto, e vejo o quanto ele também sente falta daquele baka. Talvez tanto quanto eu.
Graças a Naruto, que conseguiu colocar juízo naquela cabeça, hoje em dia ele melhorou bastante em sua personalidade também. É apenas reservado, mas é muito gentil e leve. Inspirou-se em Naruto para amadurecer - assim como eu. Mas, mesmo mudando para melhor, não me sentia mais pressionada na presença dele, como quando éramos pequenos. Naquela época, ele era díficil. Sempre brigava com Naruto, mas também, meu baka não era uma criança muito fácil de se lidar, mas hoje entendo o por quê.
Naruto sempre foi sozinho desde cedo, apenas com a companhia do Sandaime, então ele não tinha muita noção de como se portar com outras pessoas, por isso falava o que pensava sem imaginar as consequências ou que estava sendo ofensivo, pois não tinha recebido nem a educação básica de etiqueta, e, para ajudar, os moradores não colaboravam muito quando o hostilizavam, então Naruto nunca teve contato com amizade e carinho decentes, sempre recebendo-os de forma tortuosa.
É como sentir uma kunai atravessando meu peito toda vez em que me lembro de como ele sofreu, e como eu colaborei com isso. Teria sido tão poeticamente lindo se eu tivesse me apaixonado perdidamente por ele desde o início? Cheguei a chorar intensamente diversas vezes quando me lembrava em como o tratava, de como o afastava e o comparava a Sasuke, dizendo que ele era melhor em tudo. Sempre batia nele - apesar de que isso se tornou um carinho meu para o mesmo com o passar do tempo -, sempre o xingava e o menosprezava. Sinto-me a pior pessoa do mundo com isso, pois me lembro de como Hinata sempre esteve ali por ele, sempre o amou e o tratou bem, enquanto eu era uma brutamontes. Mas isso mudou, pois eu prometi que iria o recompensar por tudo que fiz. Iria sempre tratá-lo com carinho e afeto, da mesma forma como sinto.
A culpa bate mais forte também quando lembro que ele, mesmo comigo o afastando, sempre esteve ali por mim, me amparando e me apoiando em tudo. Era meu sol, junto àquele sorriso brilhante que somente ele podia dar. Me amparando quando ficava triste por qualquer coisa e me apoiando em minhas conquistas e evoluções shinobi, sempre oferecendo seu entusiasmo e escondendo sua própria dor. Meu porto-seguro. Tão puro... tão bondoso. Acho que eu chorava tanto pela culpa quanto pela dor dele, pois dizem que, quando você ama muito alguém, consegue sentir as felicidades e tristezas da mesma, como se seus corações estivessem interligados, ou como se fossem um só, como almas gêmeas. Sinto saudades da simples presença dele...
Mas, mesmo com saudades, querendo que ele volte logo, penso frequentemente em desistir de minha promessa A culpa por tudo que fiz a ele é avassaladora. Só do simples fato de me lembrar das vezes em que o humilhei ou o menosprezei comparando-o a Sasuke, dizendo que ele era muito melhor que Naruto, dá-me uma dor gigantesca. Não sou merecedora do amor de alguém tão bondoso e puro a nível irreal, sem maldade nenhuma no coração... Mas ao cogitar ele com outra, ou o simples fato de não estar com ele, já causava-me outro aperto agudo no peito. Por isso, sigo firme com minha promessa de dar todo o carinho e afeto do mundo a ele. Jamais vai ficar sozinho novamente, por quê estarei com ele, como ele sempre esteve comigo.
Foi uma longa montanha-russa de pensamentos e emoções até eu me dar conta de que o amava. Lembro do dia como se fosse hoje, pois eu estava na casa de Ino - a porca sempre junto à mim, amparando-me, vindo com seus conselhos às vezes nada pulidos e sem pudor nenhum.
FLASHBACK ON
Já faziam seis meses que Naruto havia partido, e, consequentemente, três meses sem contato. Eu estava na casa de Ino no momento, pois havia acabado de voltar de uma missão Rank-B no País do Chá, que envolvia a escolta de um importante mercador de especiarias exóticas do ramo de bebidas que saía de Konoha. Fui junto ao Time 9: Lee, Neji e Tenten. Estava esgotada, pois havia sido uma escolta que durou quatro dias, além de terem aparecido alguns Nukenins Rank-C, assim como bandidos comuns de estrada para render brigas. No fundo, gostava daquilo. Gostava do calor das batalhas e de dar belos socos.
— Testa, quer chá? - Disse Ino, enquanto preparava um chá verde com alguma erva que eu não sabia reconhecer.
— Como é? Desde quando você toma chá? Só toma saquê. - Respondi debochadamente.
— Baka... O Sai-kun começou a fazer chá sempre que me faz companhia na floricultura, então peguei gosto. - Ino ficou levemente ruborizada com seu próprio comentário, enquanto eu começava a gargalhar escandalosamente. - DO QUE ESTÁ RINDO, TESTUDA? - Virou-se a Yamanaka fitando-me furiosamente, enquanto sua face ficava mais corada ainda; ora de raiva, ora de constrangimento.
— De você e do "Sai-kun" juntos. Nunca pensei que ele fosse se interessar por alguém. Vive xingando os outros. - Ainda ria alto, mas logo emburrei um pouco minha expressão ao lembrar dele me chamando de "baranga", nas primeiras vezes em que conversávamos. A sinceridade crua dele era um enorme problema, e eu fazia questão de meter a porrada nele por isso. - Mas vejo que ele não conseguiu resistir aos encantos da porquinha Yamanaka. - Falei debochadamente para Ino.
— E quem resiste aos meus encantos? Sabe como é difícil encontrar uma loira maravilhosa e incrível como eu. - Disse a loira de forma brincalhona e convencida.
— Quem não resiste aos seus encantos? Bom, vejamos... Sasuke, Lee, Neji, Kiba, Shino... - Comecei a contar nos dedos os rapazes, enquanto fingia concentração para se lembrar deles, e isso causou o efeito que eu queria nela, já que Ino ficou com uma careta nada amigável e voltou a fazer o chá, bufando de raiva e entregando o jogo para mim, que sorri vitoriosa.
— Até parece... Eu nunca tentei nada com eles, com exceção de Sasuke, então não pode dizer que não resistiram aos meus encantos. - A Yamanaka voltou à sua pose convencida com ar de petulância. Estávamos apenas brincando em um joguinho de garotas bobinhas e apaixonadas, como éramos antigamente: pirralhas imaturas que só ligavam para namoros. Ino há tempos já tinha superado sua quedinha pelo Uchiha também, e parecia passar tempo demais com um certo branquelo com gosto por pinturas.
— Se bem que eu nunca tentei nada com o Naruto, o que eu me arrependo bastante, já que ele ficou bem lindo depois de voltar do treinamento com Jiraiya-sama. - Quando Ino tocou no nome dele, acabei deixando toda a alegria de lado e apenas fiquei fitando a mesa em que estava sentada, de forma displicente e apática. Nem sei por quanto tempo fiquei fitando-a. Ainda era cedo tocar no nome do baka, pelo menos para mim. O ar se fez pesado e o clima entristeceu. Faziam alguns meses que ele havia parado de enviar cartas, e nunca mais soubemos dele. Obviamente, fiquei com ciúmes do que a porca disse, já que ela vinha elogiando a aparência de Naruto há tempos, mas fiquei tão atônita que nem liguei para isso. Só voltei à realidade quando Ino percebeu o efeito que causou em mim.
— Ah, Saky, gomen! Não foi a intenção, juro pra você... Acabei esquecendo... - Ino virou-se e veio ao meu encalço, esquecendo completamente do chá e me abraçando, o que aceitei de muito bom grado. Abraçar minha irmã sempre me confortava e trazia uma sensação boa de paz.
— Tudo bem... quando aquele baka voltar, vou mandar ele pro hospital por me fazer virar uma chorona e sentir tantas saudades dele sem ao menor ter se despedido adequadamente. - Disse rindo tristemente e soltando algumas lágrimas silenciosas, fazendo minha amiga rir também.
— Bom... Você sabe o que eu falaria à você, não é? - Ino riu sem graça enquanto coçava a bochecha, e eu entendia muito bem sobre o que ela falaria a mim. Durante esse tempo desde a partida daquele idiota, Ino não parava de dizer "Eu avisei, Testa." em meio aos conselhos que ela me dava. Eu já estava quase mandando um gancho de direita para a próxima vez que ela falasse isso.
— Mas sobre isso, como foi a última carta que você enviou a ele? - Ino perguntou desviando do assunto, com visível curiosidade.
— Nada demais... Só falei sobre a nossa rotina no hospital, e comentei sobre a última erva medicinal que ele havia me enviado, que consi... -
— Nani? Erva? Ele te enviou uma erva medicinal? - Ino interrompeu-me e ficou confusa, desfazendo o abraço e fitando-me curiosa, e eu estranhei aquilo, até lembrar de que eu não havia comentado com ninguém sobre Naruto enviá-las para mim, com exceção da shisou.
— Ah sim, esqueci de te falar, mas Naruto me enviava ervas medicinais junto das cartas, dizendo que eu faria bom uso e estudo delas. De vez em quando ele enviava flores também. - Suspirei de forma apaixonada. Desde a partida dele, eu já tinha aceitado meus sentimentos, então não tinha mais motivos para ficar negando o óbvio. Mas graças à minha teimosia, acabei deixando-o partir sem dizer o que eu queria. Amava quando ele me enviava materiais de estudo, pois ele sabia o quanto eu gostava da área da medicina shinobi e fazia questão de mandar-lás. Sentia-me valorizada e notada. Aquele baka...
— Ah, que fofo da parte daquele baka! Se ele tivesse ao menos enviado uma última resposta pra gente...
— Nani? "Última resposta"? Você quem enviou a última carta? - Fiquei bastante confusa sobre aquilo. Naruto não respondeu às últimas cartas dos nossos amigos?
— Não só eu, mas todos nós. - Ino se referia ao nosso grupo de amigos. - Todos fomos quem enviaram a última correspondência ao baka. Depois disso, não houveram respostas para nenhum de nós. - Aquilo me trouxe um calor ao peito, pois eu já desconfiava que a carta que ele me enviou fora como uma despedida, e foi para mim apenas que ele enviou uma última vez, então realmente foi um "Adeus". Fiquei feliz por ter sido para mim. - Não aconteceu o mesmo à você, não é? - Ino fitou-me com um sorriso, e ela havia entendido o que ocorreu.
— Sim... - Foi só o que consegui dizer, enquanto tinha um sorriso bobo na cara.
— E como foi? - Ino chegou com o rosto mais perto de mim, com curiosidade estampada na cara. Não respondi nada, apenas disse que voltava já e fui para casa pegar a carta do baka. Quando voltei, dei para Ino lê-la.
A cada parágrafo, vi que sua expressão ficava mais comovida. Devo dizer que Naruto caprichou muito nas palavras que usou. Nem parece aquele garoto escandaloso que só falava bobagens.
— Sakura... nossa, nem foi para mim e eu fiquei emocionada. - Disse Ino enquanto tinha um sorriso gentil no rosto, fitando-me.
— Mas ele citou você. Na verdade, citou todos nós. Então, de certa forma, ele falou de você também.
— Mas mandou para você! - Ino colocou aquele famoso sorriso malicioso dela e senti-me corar.
— S-sim porca. Confesso que chorei quando li essa carta pela primeira vez. Só de pensar na hipótese dele voltando só daqui a dez anos ou mais... - Não completei a frase, pois Ino entendeu o que eu queria dizer ao me ver baixar o olhar.
— Sakura, posso te perguntar uma coisa? - Assenti com a cabeça. - O que exatamente você sente pelo Naruto?
Achei esquisita aquela pergunta dela, tanto que fiquei com uma expressão de surpresa. Acho que não esperava algo assim. Mas o que eu sentia por ele? Eu não sabia dizer. Naruto, a vida inteira, foi meu amigo, sempre estando ao meu lado e encarando tudo comigo, mas, do nada, justamente quando Sasuke finalmente volta e muda, sinto aflorar um misto de sentimentos pelo baka que parecia até mais intenso do que já senti por Sasuke. Isso era de agora ou sempre esteve ali, adormecido? Na verdade, começou a aflorar quando ele voltou do treinamento com Jiraiya...
— E-eu não sei, Ino... Naruto sempre foi meu amigo, meu melhor amigo, mas, acho que desde que ele voltou do treinamento com Jiraiya-sama, comecei a me sentir diferente. Não sei, é muito confuso, mas comecei a enxergar ele de um modo diferente, já que Sasuke não estava aqui... - Comecei a dizer de uma forma meio boba e apaixonada, fitando um canto qualquer na cozinha da casa de Ino.
— Mas como você se sentia? Desde antes desse sentimento surgir, quando a Guerra acabou. - Ino fitava-me instigamente, como se procurasse sinais de alguma coisa.
— Não sei... Naruto sempre me dava forças, me incentivando, mesmo quando Sasuke ficava me ignorando. Até hoje me lembro de que foi ele quem me apoiou a não desistir quando lutei contra você, nas preliminares do Chūnin Shiken - Realmente, aquilo nunca saiu de minha mente. Foi ele quem me apoiou quando nem eu mesma acreditava em meu potencial naquela luta, quase entregando a vitória para Ino; mas ele não admitira, e me apoiou, fazendo-me levantar para enfrentá-la.
— Ele salvou minha vida mais vezes do que eu posso contar, e fazia eu morrer de preocupação de algo acontecer a ele, já que vivia se metendo em confusão, aquele baka. Ficava me divertindo com suas bobagens, que, no início, confesso, me irritavam, mas, com o passar do tempo, acabavam me divertindo. Pode parecer esquisito, mas gostava de dar socos nele, por que era o nosso jeito de expressar nossa relação, hehe... - Disse envergonhada, corando um pouco pela confissão. - Ele me irritava, mas eu gostava. Sempre admirei o esforço dele também. Mesmo quando tudo apontava para o fracasso dele, ele não desistia, e, por não ter desistido, acabou conseguindo chegar onde chegou agora. Fico muito orgulhosa daquele baka, e de ter acompanhado ele. Quando ele quase morreu na Guerra, me desesperei. Não conseguia imaginar um mundo sem aquele sorriso dele... - Eu falava de uma forma tão alheia a tudo em minha volta, somente focada no que dizia, que nem notei Ino fitando-me com os olhos quase saltando para fora e a boca em um perfeito "O".
— Sakura, você escutou o que acabou de dizer? - Fitei Ino, achando esquisito aquela reação.
— Nani? Como assim? - O que ela queria dizer? Não vi nada de mais no que citei sobre Naruto.
— Você acabou de literalmente expressar em palavras o amor que você sente pelo baka. - Ino disse com um sorriso grande no rosto.
Quê?! Amor?!
De repente, caio na real sobre o que ela disse. Eu sempre amei o Naruto? O quê!? Não! Sim? Como nunca percebi antes? Em um lapso, me lembro de minhas dúvidas nos últimos tempos, sobre eu sentir que esses sentimentos pelo baka não eram de agora... Eu tinha a sensação de que eram algo que sempre esteve dentro de mim. Profundo. Antigo. Adormecido; porém, agora, despertou. Mas não sei dizer exatamente se era amor ou não. Sei que era um sentimento muito diferente do que tive por Sasuke. Parecia algo mais intenso, necessitado... Definitivamente não sei dizer o que é de fato esse sentimento, pois tudo está muito confuso no momento, mas sei que sempre esteve ali, mas nunca liguei, pois tinha minha mente - e sentimentos - nublados por uma paixonite obsessiva por Sasuke.
Um sentimento que foi despertando aos poucos. Primeiro, quando eu comecei a sentir saudades dele quando estava em treinamento com Jiraiya-sama; depois, quando ele voltou e vi o quão diferente e chamativo ele estava... Comecei então a vê-lo de uma maneira diferente, e Sasuke não estava conosco para anuviar tanto minhas reflexões. Comecei a admirá-lo mais, principalmente quando ele começou a treinar intensivamente para desenvolver o Rasenshuriken (Esfera Espiral), e quando eu entrei em desespero por ele ter ido lutar contra Pain. Meu coração quase falhou naquele dia.
Depois, teve o infame episódio no País do Ferro, onde menti para ele deixar Sasuke de lado. Eu menti mesmo? Não, acho que não. Eu já não o via da mesma maneira que antes. E, claro, depois teve a vez em que ele quase morreu quando Madara extraiu a Kyūbi de dentro dele, onde tive que recorrer à uma técnica proibida para salvá-lo. Nem sei como consegui fazer aquilo... e ainda o tinha beijado, mesmo que fosse respiração boca-a-boca, eu o tinha beijado. Meu primeiro beijo fora dele. E, depois, a sofrida imagem de vê-lo todo machucado quando lutou com Sasuke, sem um braço e sofrendo de hemorragia, dizendo que havia cumprido a maldita promessa que eu havia feito ele fazer. O tamanho da culpa que senti quando o vi daquele jeito... A volta deles para Konoha, o afastamento de Naruto de todos e eu sentindo sua falta, e, aquele sentimento, sempre ali, despertando aos poucos, até o momento em que acordou definitivamente...
Como se minha expressão estampasse meus pensamentos nitidamente, Ino começou a abrir mais seu sorriso, com um brilho nos olhos.
— Viu só, testa? Você ficou tanto tempo pensando somente em Sasuke, louvando o Uchiha, que nem parou para perceber que já gostava daquele baka. - Como eu nunca percebi isso? Não posso confirmar que sempre gostei ou amei ele, mas sei que era um sentimento além... Só não sei o quê era.
— Como nunca vi isso? - Na verdade, já sabia a resposta para isso, assim como Ino.
— Por que só tinha olhos para um certo moreno que era o prodígio da Academia, enquanto o loirinho lindo estava ali do seu lado, mas estava concentrada demais em ver o Uchiha do seu outro lado. - Fiquei pensativa sobre o que ela disse, mas quando lembrei do "loirinho lindo", um tique de raiva surgiu em minha testa.
— DÁ PRA PARAR COM ISSO, PORCA?
— Por Kami, você vira outra pessoa quando alguém elogia o Naruto. - Disse Ino gargalhando, enquanto eu tentava me acalmar de meu ataque de ciúmes, lembrando-me de algo importante.
— Mas... se eu sempre tive sentimentos por ele, talvez antes de Sasuke, então quando foi que começou? - Aquilo estava entornando minha mente. Quando foi que comecei a vê-lo de outro jeito?
— Aí é com você para descobrir, testa... mas devo dizer que sempre desconfiei. - Ela assumiu uma postura de convencida. Típica Ino.
— Como assim?
— Eu notava que você agia de um modo diferente com ele... e te conheço desde que me conheço por gente, Saky. Sei como você lida com sentimentos, e quando estava com Naruto, agia de um modo único que era somente com ele. Parecia amor e ódio. Viviam aos trancos e barrancos, mas não conseguiam se separar.
— Acho que "amor" é uma palavra muito forte. Não sei exatamente o quê é de fato esse sentimento por ele que sempre tive, mas não dá pra dizer que sempre o amei. - Realmente não dava para dizer antes de colocar os sentimentos nos eixos certos. Acho que daria para fazer isso somente quando Naruto voltasse, talvez, sabe se lá quando isso ocorreria... Essa incerteza de quando seria que o baka retornaria me torturava.
— Talvez, mas você terá que descobrir por si mesma. O fato é que, agora, você o ama.
— Sim... amo. - Estranhamente, confessar aquilo não me incomodava. Era como tirar um peso de minhas costas.
Como se desse o assunto por encerrado, Ino sorriu para mim, comigo devolvendo o gesto, e abraçou-me carinhosamente, e então, voltou a fazer o chá que até havíamos esquecido, com essa tarde de declarações agridoces. Sei que tinha muito para pensar sobre isso, e muito para descobrir. Queria saber desde quando eu havia desenvolvido sentimentos por Naruto, mesmo que não soubesse o quê era aquilo.
FLASHBACK OFF
Desde aquele dia, parece que as coisas se ajeitaram um pouco nessa minha cabeça dura e teimosa, colocando os pensamentos e sentimentos em ordem, com calma. Afinal, tempo era o que não faltava... Já não tínhamos que nos preocupar com Akatsuki ou deuses - vide Kaguya - ameaçando nossa própria existência.
Percebi o quanto aquela paixão obsessiva por Sasuke me fez mal. Tremendo mal, tanto que, eu já sentia algo por Naruto antes, mas, devido ao fato de eu ser uma garota insegura e imatura, que queria mais do que tudo amigos e reconhecimento - que não fosse atrelado à minha testa -, combinado ao fato de eu ter começado a nutrir uma obsessão pelo Uchiha, me fizeram ignorar completamente meus sentimentos e opiniões sobre outras questões. Minha vida se resumia a Sasuke naquela época. Tudo que eu fazia ou pensava era focado nele.
Achava que a vida shinobi era um conto de fadas, e sinto uma vergonha alheia ao lembrar do dia em que nos apresentamos a Kakashi-sensei no dia de divisões de times, pois eu só falava de Sasuke em meus objetivos, do que gostava, do que sonhava... e do que não gostava? Naruto. O quê eu tinha na cabeça? O Uchiha. Só isso.
"Te amar é uma tortura para ela."
Tais palavras que Kakashi-sensei me contou ter dito após Sasuke ter me posto naquele Genjutsu - logo após de eu ter desesperadamente me declarado a ele - não poderiam estar mais do que certas. Aquela obsessão doía em mim, por ter me agarrado a uma ilusão que criei de Sasuke, deleitando-me por qualquer resquício de afeto do mesmo para comigo, achando que já era suficiente.
Aquele sentimento por ele me fez tanto mal que quase perdi definitivamente minha melhor amiga por uma rivalidade besta de garotinhas idiotas que faziam de tudo pelo reconhecimento de Sasuke. E, como disse: nublava meus pensamentos e sentimentos sobre qualquer pessoa à minha volta. Coincidência eu ter começado a enxergar Naruto com outros olhos justo quando Sasuke não estava por perto? Acho que não.
Na verdade, por conta daquele baka, hoje sei o verdadeiro significado de amor ou amar alguém. Amar alguém não é sobre ficar humilhando-se ou rebaixando-se por uma pessoa, para receber o reconhecimento dela. Não é sobre ficar aos pés da pessoa; é sobre respeitar e dar valor a si mesmo. Amar a si mesmo, e, depois, amar outra pessoa, quando ela faz de você alguém melhor e te faz sentir-se bem e amada.
Eu via em Sasuke alguém perfeito e puro, por que outras pessoas viam, e eu queria aquilo para mim, por que não sentia-me feliz pelas ridicularizações que sofria, e queria algo para agarrar-me, algo que outras pessoas admiravam também. Assim, teria reconhecimento das pessoas por algo. No fim, tratava-se sobre insegurança, não é mesmo? E eu nem percebia que tinha pessoas à minha volta que me amavam e elogiavam-me mesmo com meus defeitos, como meus pais, minha irmãzinha - Porquinha Yamanaka -... e ele. Sempre ele.
Não é sobre conquista, e sim sobre aceitação. Amar a nós mesmos, amar alguém, mesmo com todos os seus defeitos, por que, no fim das contas, não existe ninguém que seja perfeito, nem mesmo Uchiha Sasuke, como eu pintava-o em minha mente e coração. Sasuke é tão humano e perfeitamente imperfeito como todos nós. Cometeu erros - terríveis, diga-se de passagem -, e busca sua redenção. E, por conta daquele baka loiro que sempre estava comigo, consegui perceber tudo isso e desnublar meus sentimentos e pensamentos. Ele sempre me elogiou, me apoiou e me incentivou, mesmo eu, com todos os meus defeitos, sentindo sempre falta de confiança em mim mesma e em meu potencial, mas ele não.
Dizem que, quando você gosta de alguém, não precisa ficar de guarda levantada, ou usar uma máscara e fingir ser alguém que não é, somente para agradar a pessoa. Quando alguém te ama de verdade, esse alguém aceita você com todos os defeitos e problemas.
Com Sasuke, eu usava uma máscara de garotinha frágil e apaixonada que sempre estava disposta a fazer tudo por ele e agradá-lo, aceitando qualquer coisa do mesmo para comigo. Eu era alguém que não era. Hoje entendo as reações sem graça das pessoas à minha volta quando me viam fazer pirraça por causa de Sasuke, pois com o resto das pessoas, eu era uma garota séria, e, muitas vezes, esquentada, e somente com ele eu transformava-me numa bobinha. Algo que eu não era. Aceitava tudo o que ele fazia comigo. Me xingando, me menosprezando, chamando-me de "Irritante" - o que eu achava ser um apelido carinhoso, mas falho - ou simplesmente sendo grosso comigo, enquanto eu dava tudo de mim por ele, sem contar quando ele tentou me matar, quando tentei impedi-lo de continuar seus crimes, e na fatídico Genjutsu...
Já com Naruto, eu mostrava todos os meus defeitos. Era mandona, esquentada e irritadiça, mas, em compensação, me preocupava e me importava demais com ele. Se alguém comprava briga com Naruto, eu comprava também, como na vez em que conhecemos Sai e ele xingou tanto Naruto quanto Sasuke, porém, fiquei muito mais irritada quando ele alfinetou Naruto, a ponto de eu socá-lo. Acho que já era um indicativo na época de meus sentimentos aflorando. O ponto é que, eu sempre pude ser eu mesma com o baka, mostrando todas as minhas imperfeições e erros, e, mesmo assim, ele aceitava. Jamais me chamou de irritante ou fez algo para me magoar diretamente, mesmo que seu súbito afastamento após a Guerra tenha dado-me um nó na garganta.
Acho que Ino tinha razão quando dizia que eu agia de um modo diferente com Naruto. Ao lado dele, eu soltava tudo de mim mesma, podendo ser quem eu era. Eu me sentia confortável com ele para fazer isso. De certa forma, devo em grande parte a ele por ter me tornado quem sou hoje. Por ser forte como sou hoje, pois foi ele quem pediu para shishou me treinar e a fez enxergar meu potencial e dedicação. Ele talvez fez mais por mim do que eu fiz por mim mesma. Coisa esquisita, não? De um certo ponto de vista, amadureci por conta daquele baka. Aquele baka que era o mais imaturo e bobão de todos. Até quando ele foi embora - pela segunda vez - eu o tive como inspiração, evoluindo, fortalecendo-me e amadurecendo.
Amadurecer me ajudou a reorganizar minha cabeça. Já não era mais aquela garotinha frágil e imatura que ficava correndo atrás dos outros, expondo-me ao ridículo. Não. Era uma kunoichi decidida. Oras, eu era a aprendiz de Senju Tsunade, kunoichi mais forte do mundo, Sannin Lendária, neta do Shodaime Hokage e Namekuji no Sannin (Sannin das Lesmas), e eu, por vez, era a herdeira do Byakugou no Yin e a melhor Iryō-nin de Konoha, além de ter ajudado a selar Kaguya, salvando o mundo, membro do Time 7 e uma das sub-diretoras do Hospital Geral de Konoha. Não iria me rebaixar mais. Eu aceitaria aquilo que eu merecesse. Mesmo longe, aquele baka inspirava as pessoas, como eu. Como ele podia existir? Baka.
Mas, com o amor, vem o medo também, e a auto-confiança se abala. Medo de perder, eu digo. Sinto meu estômago fervilhar de raiva e ciúmes só de pensar naquele baka aos beijos com qualquer garota. O que não falta são candidatas... Mesmo agora, que ele está fora da vila, tem garotas que ficam correndo na rua com fotos e bonecos - sim, bonecos feitos de madeira - dele, montando fã-clubes, e imagino que não seja muito diferente no resto das outras vilas shinobi e no mundo. Ah, mas quem ele pensa que é pra fazer isso...
Justo quando eu comecei a me dar conta de meus sentimentos por Uzumaki Naruto, ele foi embora... mais uma vez, deixando-me para trás. Porém, dessa vez, deixou Sasuke também. Seu melhor amigo, a quem ele fez de tudo para salvar. Deixou Kakashi-sensei... deixou todos, e nunca mais o vimos ou soubemos dele. Havia sumido do mundo. Eu realmente quis ir com ele quando o vi na entrada da vila, no dia de sua partida. Senti minhas pernas fraquejarem naquele dia, vendo-o ir embora, sem deixar claro seu rumo ou o objetivo que ele tanto dizia estar atrás.
Foi durante um destes meus devaneios que eu descobri o momento em que eu, pelo menos, comecei a enxergá-lo de outro modo. Amar era uma palavra muito forte mesmo. Não poderia afirmar que sempre o amei desde sempre, já que foi aos poucos.
FLASHBACK ON
Eu estava voltando de uma cirurgia de emergência que haviam me chamado para fazer no Hospital. Comecei a passear por Konoha, pois estava uma linda tarde de verão. Acabei passando por um ambiente muito conhecido por mim e pela turma quando éramos pequenos: o parquinho.
Ah, quantas coisas vivemos ali...
Entrei no mesmo e sentei-me em um dos balanços, e fitei o resto dos brinquedos. O gira-gira, a gangorra, o escorregador... Mas meus olhos foram atraídos a um canto que, para outros, era nada, mas, para mim, me deu um lapso de uma memória não muito boa... Era um canto qualquer no cordão que dividia a grama da areia do parquinho, e lembrei de um dia em que algumas garotas estavam me chateando por minha testa - por qual motivo mais seria? -, enquanto eu chorava. Eu estava sozinha no parque nesse dia; porém, lembro que, após um tempo chorando com os braços e cabeças grudados às minhas pequenas perninhas da época, um certo loirinho escandaloso apareceu e me alegrou, com Ino e nossos amigos chegando juntos e fomos brincar. Sorri inconscientemente com isso. Ele sempre me colocando para cima... apesar de que não me lembro do que ele me falou. Tinha apenas sete anos, então faz muito tempo, mas lembro-me que foi quando conheci Naruto.
Fui para casa e decidi dormir, e parecia que eu teria só mais um sonho normal, mas então, comecei a enxergar melhor e vi várias criancinhas, brincando em um parque...
SONHO ON
Fitei por mais alguns segundos aqueles pequeninos brincando, porém, vi que elas estavam tirando sarro de algo - ou alguém. Reconheci que estávamos no parquinho, e aproximei-me do grupinho de pirralhas, que estavam rindo de uma garotinha pequena. Ela tinha pele bem branca, olhos verdes e cabelo rosa, com um lacinho vermelho no cabelo... Espera ... Era...
— Eu...?
Sim, era eu, por volta dos meus sete anos. Foi Ino quem me deu o laço vermelho, pois ela dizia que ressaltava minha beleza e não tinha motivos para eu ter vergonha de minha testa. Ela, como sempre, minha irmãzinha.
Fui para o meio das garotas. Reconheci que eu estava sentada naquele mesmo canto do cordão que havia me lembrado hoje, quando fui ao parquinho. Era um sonho de lembranças daquele dia, então já sabia vagamente o que iria acontecer.
Depois de uns cinco minutos me ridicularizando, as garotas foram embora do parquinho, ficando apenas eu, que começou a chorar. Antes, estava estática, vendo as garotinhas rindo dela, balbuciando frases como "Parem, por favor!" "Ela nem é tão grande!". Ela se agarrou aos joelhos e ficou com a cabeça entre eles, chorando. Não me lembrava de como crianças poderiam ser tão cruéis.
Depois do que pareceu uns vinte minutos chorando, vi que um garotinho passou pela entrada do parque. Era loiro, mas não conseguia distinguir quem era. Ele parecia estar indo para outro local, pois passou reto pela entrada do parque; porém, após minha miniatura ter dado um soluço notoriamente alto, o gaki parou e fitou a direção de onde veio o choro. Começou a entrar no parque, e, quando estava se aproximando, vi quem era. Era ele!
— Naruto! - Sabia que ele não poderia me ouvir, mas soltei inconscientemente a exclamação de seu nome.
Me esqueci de como ele era fofo quando pequeno. Os cabelinhos espetados e bagunçados caindo um pouco sob a testa, as marquinhas nas bochechas e o rostinho redondo. Kawaii!
— Oe, garota, tudo bem? O que aconteceu? - O pequeno baka exclamou preocupado. Ah, nem me conhecia direito e já estava preocupado comigo. Sempre preocupado com todos.
Minha miniatura levantou a cabeça dos joelhos surpresa, sufocando um grito de surpresa, pois parecia não ter notado a presença do loirinho ou ouvindo-o chegar, por conta do choro compulsivo. Notei que Naruto ficou com uma expressão abobalhada quando me viu. Não entendi muito bem aquilo.
— N-n-não... - Ela tinha bastante dificuldade de falar, pois fez um esforço tremendo para soltar um simples "Não", e com visível gaguejeira.
— O que foi? Alguém te machucou? Pode me falar, 'ttebayo! - Nós duas rimos da fala dele, e acho que foi pelo mesmo motivo, por ter sido sincronizada. Por conta da expressão famosa que Naruto sempre utilizou, "Dattebayo!". Me pergunto desde quando ele a falava, pois tinha apenas sete anos ali. A pequena Sakura ficou um pouquinho mais animada depois do que ele disse.
— N-não, ninguém m-me bateu, mas tinham umas g-garotas agora pouco aqui que c-começaram a rirem de mim... - A mini-Sakura começou a ficar com os olhos lacrimejados novamente, com uma expressão triste ao lembrar-se dos insultos das pirralhas.
— E por que elas riram de você? - Minha miniatura ficou com uma expressão incrédula e raivosa, mas achei kawaii.
— Nani?! N-não é óbvio? Por causa da minha testa! - Eu pequena estava lutando para as lágrimas não descerem, em meio à cara brava.
— Como assim? Por que ririam da sua testa? - O loirinho fez uma expressão confusa, e ela adotou uma de surpresa.
— Nani? V-Você não achou ela f-feia ou grande d-demais?
— Não. Na verdade, eu achei ela muito linda! E esse laço vermelho deixa ela ainda mais bonita, 'ttebayo! - Disse Naruto, com aquele famoso sorriso dele para mim.
Tanto eu como minha miniatura ficamos surpresas pelo que ele havia falado. Eu não me lembrava daquela conversa.
Olhei para a mini-Sakura, e vi que, acompanhada da expressão de total surpresa, também tinham bochechas altamente coradas, mas, o que mais me chamou a atenção foi um detalhe nos olhos... Um brilho...
De repente, como uma luz que se acende, meu cérebro deu um lapso, e então, percebi que foi ali! Foi naquele momento que eu comecei a enxergar Naruto de outro jeito! O brilho nos meus pequeninos olhos era muito grande, como se eu estivesse admirada pelo mini-baka. Ele foi o primeiro garoto a elogiar minha testa, e a segunda pessoa, depois de Ino.
— Olha, esquece essas bobagens que essas garotas disseram sobre você, 'ttebayo! Vou te contar uma história super-maneira que aconteceu comigo esses dias! Eu estava perto daquela Floresta da Morte, aquele lugar super-assustador que têm vários monstrengos, e vi uns shinobis treinando! Foi incrível, 'ttebayo! Eles estavam fazendo uns golpes que...
A voz do loiro começou a ficar abafada, até ficar muda. Fitei minha miniatura, que ainda estava fitando o loirinho com o mesmo brilho intenso no olhar, alheia ao que ele falava, e ficou assim por mais alguns minutos, enquanto o mini-baka estava concentrado demais contando a tal história, fitando as mãos enquanto simulava golpes que faziam parte do relato dele.
Logo, vi que começaram a chegar mais crianças no parquinho. Reconheci Ino, Chouji, Shikamaru, Kiba e Sasuke. Naruto me puxou para brincar com eles, e eu fiquei mais feliz ainda por Ino estar lá. Começamos a brincar de diversas brincadeiras; porém, eu notei que, em nenhum momento praticamente, eu desgrudava os olhos de Naruto, e sempre sorria ou ria quando o fitava. Foi ali mesmo que eu descobri que comecei a vê-lo de um outro modo além.
O dia passou conosco brincando, até ficar tarde. Quando nossos pais vieram nos buscar, vi que Naruto ficou com um olhar triste, o que cortou meu coração, pois agora já sabia de tudo o que ele passou. Vi que minha miniatura foi correndo e o abraçou, dando um "Tchau!" animado ao mesmo e beijando sua bochecha, deixando-o corado e com um sorriso grande no rosto.
SONHO OFF
FLASHBACK OFF
Pode soar egoísta, mas eu não queria que nada tivesse acontecido de modo diferente do que ocorreu. Talvez, se tivesse sido diferente, não teria dado certo. Por mais idiota e mesquinha que eu tenha sido com ele, talvez, se não fosse assim, não teria ocorrido tudo da forma como foi. De fato, há males que vem para o bem
Nunca mais sonhei com aquela lembrança novamente, mas as imagens e conversas da mesma ficaram marcadas à ferro em minha mente. Começava a sorrir quando lembrava-me dela, assim como estou fazendo agora.
No fim, o ponto positivo daquele baka estar longe, é que dá tempo - mais do que o suficiente, aliás - para organizar e refletir esta minha cabeça rosada, que andava tão confusa dos últimos tempos para cá. E, também, se ele ainda estivesse aqui, talvez eu não teria tido meu pequeno - e efetivo - choque de realidade de que estava nutrindo sentimentos por ele. Talvez estaria naquela negação e teimosia de que não era nada.
Mas... Às vezes penso... Não seria melhor se ele ficasse com alguém que sempre o amou?, logo, a imagem de Hinata vêm à minha mente, e sinto-me pior ao ver ela, que sempre fora apaixonada por ele e sempre o tratou com carinho - mesmo desmaiando em quase todas as vezes que ele se aproximava dele -, enquanto eu o repudiava por ser cega demais. Ela até havia se sacrificado para salvá-lo de Pain, mesmo que não tivesse chances contra o Líder da Akatsuki, ainda que eu sabia que eu faria qualquer coisa e me meteria na frente de tudo para proteger aquele idiota.
O dia fatídico no País do Ferro... Apesar de eu não ter exatamente mentido para ele naquele dia, ainda assim, eu errei. Machuquei ele, e ainda tentei matar aquele que era seu melhor amigo. Mas não fiz aquilo por mim mesma apenas, mas sim por nós dois. Eu via o quanto Naruto estava sofrendo por causa de Sasuke, e por aquela maldita promessa... Ver seu olhar de raiva direcionado a mim naquele dia fora como uma kunai atravessando em mim. O magoei. Muito.
Estava tão absorta em todos estes pensamentos dos últimos dois anos que quase nem percebo o momento em que estávamos chegando no portão de Konoha e começaram a discutir sobre o que faríamos primeiro. O céu ainda estava naquele napolitano de cores rosadas, mostrando o quão cedo ainda estava.
— Bom, em primeira hipótese, nós iríamos para o Prédio do Fogo para relatar os detalhes e progresso do Chūnin Shiken, mas creio eu que o Hokage-sama deva estar descansando agora... Ora, mal começou o dia. Como somos muitos, quem serão os que irão relatar por todos a missão? - Perguntou um Jōnin que nos acompanhou até Suna.
— Eu e meus amigos podemos ir sem problemas. Tudo bem para vocês, minna? - Perguntou Shikamaru, e nossa turma assentiu em concordância. Gostava de ver como éramos unidos. Ainda nos reuníamos bastante na churrascaria ou no Ichiraku, como antigamente, agora com as adições de Sai, Karin e Temari, que se entrosaram muito bem a nós.
— Naruhodō. Bom, nesse caso, descansemos todos e depois vocês irão relatar a missão. - Disse o mesmo Jōnin de antes, e todos do grande grupo assentiram. Nos despedimos e fomos para nossas casas, e pude ver que Konohamaru, mesmo cansado, estava saltitando de alegria pela promoção a Chūnin. Sorri ao vê-lo assim. Sempre tão animado...
Fui andando sozinha pelas ruas de Konoha até meu apartamento.O céu estava tão lindo... não conseguia parar de fitá-lo por tanto tempo. Meio azul, meio rosa, meio amarelo. As ruas estavam quietas e as lojas e estabelecimentos ainda não tinham sido abertos, já que recém havia amanhecido. Esse silêncio era bom também, já que não tinha ninguém pelas ruas, com exceção do nosso grupo que voltou de Suna, e os pássaros que rumavam para o sul.
Fitei mais atentamente Konoha e pude constatar o quanto havia mudado. Cheio de estabelecimentos novos, maior e mais extensa, com direito a edifícios... Logo vi os rostos do baka e de Itachi quando direcionei meu olhar para o Monte Hokage. Aquela ideia havia sido ótima; prestar homenagens a dois heróis da vila - e do Mundo Shinobi -, imortalizando seus rostos no Monte. As pessoas começaram a adorar e idolatrar tanto Naruto e Itachi após todos os acontecimentos envolvendo a Guerra terem sido esclarecidos por Kakashi-sensei para todos, que fizeram escândalos para esculpirem seus rostos no Monte Hokage, abaixo dos rostos dos líderes da aldeia, marcando as faces de dois Heróis que salvaram o Mundo Shinobi e a vila.
Logo que cheguei em meu apartamento, fui direto para a cama. Nem tirei a roupa de missão, pois estava extremamente cansada. Andar por três dias, passando por um deserto ainda, não é fácil - e já corri bastante por aquele deserto, principalmente quando tivemos que ir salvar Kankuro e Gaara da Akatsuki, logo que Naruto havia voltado do treinamento com Jiraiya-sama. Mais tarde iríamos relatar o sucesso que fora o Chūnin Shiken deste ano, diferente de um certo Exame que ocorreu sete anos atrás e que custou a vida do Sandaime... Mal notei que já havia adormecido praticamente de forma instantânea, assim que deitei.
SAKURA POV OFF
Naquela manhã, cheia de pensamentos, reflexões e divagações por parte da kunoichi rosada. Adormeceu tão pesadamente e tranquila que mal sabia das surpresas que iriam ter naquele mesmo dia. Não só ela, mas Konoha inteira...
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