História Nobody sees - Clace (HIATUS) - O homem da casa

 Clary - e todos - perceberam quão ausente estava Jace. Faltava quase todo dia, e quando não faltava ia embora mais cedo. Estava distante e nunca podia fazer nada.

Mas ele sempre estava no quarto de Clary de noite, quando podia, passando segurança para a ruiva. Que tremia de medo do pai.

Quando estava presente em algo, estava exausto.

Com isso, naquela noite, quando Jace aparecesse, Clary iria perguntar para ele sobre aquilo.

Assim que o loiro pousou no quarto dela, Clary prendeu a respiração e disse de uma vez, porque sabia que não seria corajosa o suficiente para perguntar depois.

-- O que tá acontecendo?

-- O quê? - Seu sorriso murchou, e ele franziu os cenhos.

-- Com você.

-- Como assim?

Clary suspirou, sentada na cama, e depois se levantou, ajeitando o moletom.

-- Você tá distante demais, Jace. O que tá acontecendo? - A ruiva corou ao se lembrar do acidente na casa de Jace. - É... É o seu pai?

O loiro bufou e esfregou o rosto.

-- Clary, por favor, eu não quero falar sobre isso.

A ruiva se calou no mesmo instante. Não queria que Jace se afastasse dela, ou se sentisse sufocado. Ela sabia muito bem como era ter conversas desagradáveis com alguém e ter seu espaço invadido. E não queria ser essa pessoa para Jace. Não queria que ele achasse que ela achava que tinham algo sério e se afastasse ou...

-- Me desculpa. - Ele olhou para o chão e depois para ela.

Um silêncio se instalou no quarto. Ambos sem saber o que fazer, por quase um minuto inteiro.

-- Vamos ver um filme? - Jace perguntou. Arriscando olhar para ela.

-- Sim.

E esse foi o único diálogo até o filme começar.

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Simon largou a lição de biologia e se concentrou em sua próxima matéria. Chegou a ver mais sobre Alec e Magnus na festa, e também os observou mais. Talvez, pelo álcool, eles estavam mais soltos em relação a si mesmos, pois era quase imperceptível.

Ele queria se concentrar, mas sua cabeça não saia do beijo que Isabelle dera nele. Simon sofria com um enorme complexo de inferioridade, então tinha certeza que ou ela estava bêbada demais, ou carente demais, ou alguma coisa que fez ela tomar aquela decisão, mas não necessariamente porque ela queria.

Ele não estava perdidamente apaixonado por ela ou algo do tipo. Mas, assim como TODO garoto do colégio, Simon já teve uma época de ter uma quedinha por Isabelle Lightwood. Achou que havia superado isso, mas parece que beijá-la não ajudou em muita coisa.

Ele decidiu que só era um pouquinho afim dela, e tinha que ter cuidado para esse sentimento não se aflorar novamente, pois Isabelle jamais olharia para alguém como Simon. Ele não era como os garotos padrões da sua idade. Era alto, mas nem tanto, era afeiçoado, mas não era bonito, também tinha uns poucos músculos, mas nada impressionante. E usava óculos, não tinha estilo, era geek e quieto.

Ou seja, nenhuma menina como Isabelle Ligjtwood olharia para alguém como Simon Lewis. Essa era a verdade. Era o mundo onde eles viviam.

E se ele alimentasse uma secreta esperança de que isso não era verdade, sabia que só sofreria com isso.

📰👓📰

Izzy gostava de ser independente, e isso se aplicava em fazer o que queria na hora que queria. Mas era óbvio que no auge dos seus dezesseis anos, não tinha quase liberdade nenhuma.

Irritava-a profundamente pedir dinheiro para os pais, dizer-lhes o que ela queria comprar, explicar o motivo e pedir para eles deixarem ela ir.

Esse protocolo era um saco. Uma verdadeira merda. E se o lugar fosse longe, ela não poderia JAMAIS ir de uber, porque, e se ela fosse sequestrada? Esquartejada? Estuprada?

O que mais irritava Isabelle nesse discursinho de meia-tigela é que um dia ela queria ir ao shopping, e, quando perguntou aos pais, eles deixaram só porque ela levaria seu primo de 12 anos. 12 anos! Ele era um moleque! Mas mesmo assim era muito mais seguro andar com um pirralho ao seu lado, do que sozinha. A sociedade era uma merda.

Depender dos outros era um saco. Mas depender dos homens era deprimente.

Com isso, foi comprar seu chá para emagrecimento. De acordo com a sua mãe, era melhor ir totalmente agasalhada, por mais que estivesse um pouco calor. Quem sabe que tipo de pessoa ela iria encontrar, não é mesmo?

📰💄📰

Clary sorriu ao ver Jace na escola. Ficou muito satisfeita com aquilo, o que era ridículo porque ela mesma costumava faltar muito mais do que ele. Então deveria entendê-lo, certo?

-- Você veio! - Sussurou ela, o abraçando assim que ele chegou perto do grupo de amigos.

-- Vocês iriam morrer de saudade. - Ele brincou.

-- O Simon chorou todos os dias, morrendo de saudade de você. - Encrementou Clary, fazendo todos rirem.

-- Eu até te beijaria, mas você sabe as regras da escola, né Simon?

O garoto de óculos abaixou a cabeça fingindo estar chateado e os dois se abraçaram.

Todos caíram em gargalhadas. Era tão bom serem tão abertos a brincadeiras desse jeito e não serem julgados. Nem Jace e nem Simon precisavam provar suas masculinidades o tempo todo, certo?

-- Alec não fica com ciúmes! - Exclamou Jace.

-- Gente essa brincadeira ta me dando vontade de tascar um beijão na ruivinha. - Isabelle agarrou Clary, a mesma correspondeu o abraço, rindo e corada, mas à vontade com a brincadeira.

-- Ei! - Jace cruzou os braços.

-- Foi mal, Jace, mas essa você perdeu. - Clary brincou enquanto Isabelle beijava-a na bochecha antes de soltá-la.

O sinal tocou, lembrando-os que o mundo não era apenas risadas.

-- Eu tenho que ir. - Izzy fez uma mesura exagerada. - Me liga, gostosa! - Piscou para Clary e saiu dali.

Com mais risadas, o grupo foi se separando. Cada um tinha uma aula no momento, tirando que Jace, Alec e Magnus tinham treino do time da escola.

Clary estava mexendo no celular, sem paciência para a aula de filosofia. Como estava no fundo, e tinham várias pessoas altas na frente dela, não seria problema.

Estava navegando em seu twitter, lendo uma teoria de que seu jogo favorito iria ser renovado. E então recebeu uma mensagem de Jace.

Jace: Fiquei com ciúmes >:(

Clary: Da Izzy? Kkkkkkk

Jace: É >:(

Clary: Kkkkkkkkk fica tranquilo, eu não jogo no outro time

Jace: Hmmmm

Clary: Mas eu posso dizer que senti a química entre vc e o simon >:/

Jace: Meu Deus. Descobriram a gente.

Clary: KKKKKKKKK idiota

Clary: agora me fala o que raios vc ta fazendo mexendo no celular no treino

Jace: Eu acabei caindo e machucando o ombro, mas não foi nada

Clary: Pqp Jace vc tem q tomar cuidado com essas coisas, sabia?!

Jace: Sim senhora mãe, da próxima vez vou olhar para os dois lado para ver se um MAMUTE não ta vindo na minha direção roubar a bola

Clary: KKKKKKKKK ok ok

Jace: Treinador ta puto cmg, bjs ;)

Clary: Bjs

Clary decidiu desligar o celular e tirar um pequeno cochilo, afinal, o professor também estava fazendo isso enquanto passava um documentário sobre a história da filosofia. Por que ela também não poderia?

📰🖌📰

Jace chegou em casa acabado. O treino o tinha moído. Graças a Deus não teria que ir de noite na casa de Clary. Não que ele não gostasse, ele adorava estar com ela, e vários momentos estavam sendo tranquilos. E estava tudo uma maravilha nas últimas semanas em relação a casa de Clary. Bem, pelo menos quando ele estava lá.

O loiro queria cair na cama, mas não podia, não ainda.

Tomou um banho, disse para a mãe que iria estudar na casa de Alec, e saiu. O pai o alcançou na calçada.

-- Como está indo? - Perguntou.

-- Tá bem. - Jace deu de ombros, fazendo careta ao sentir uma pontada no ombro.

-- Olha, você vai ter que fazer uma hora extra hoje, tudo bem?

-- De novo?! - Jace já queria morrer nesse ponto.

-- É. Precisamos do dinheiro.

Ele apenas bufou, e ganhou um apertão do pai no braço. Doeu, mas Jace não demonstrou.

-- Acha que eu não to fazendo nada, porra?! Acha?! - O pai estava tão perto dele que conseguia sentir seu bafo.

-- Não. - Respondeu de dentes cerrados.

-- Então não me olha assim. E eu vou cuidar da sua mãe. Você sabe que eu sou o único homem que aguentou isso né? Sabe que eu sou o único homem que aguentaria! Ninguém faria o que eu fiz! E faço! Eu poderia estar na casa do meu pai, de pernas pra cima, mas tô aqui cuidando de vocês!

Jace odiava como o pai conseguia distorcer as coisas e fazerem elas parecem culpa dele e da mãe. Odiava como ele se fazia se santo, desde que Jace se entedia por gente era a mesma ladainha. A mesma merda. Ele queria mandar o pai e o emprego na vendinha as favas e sair correndo.

Não sabia para onde, e não sabia por quanto tempo. Mas sabia que só queria sumir.

Jace apenas assentiu e saiu dali, farto das conversas do pai, farto daquilo tudo. Puto com o mundo. Achando tudo muito injusto.

Ficou por duas horas atedendo na quitanda. Seu horário normal era até as nove da noite, mas teria que ficar até as onze nessa noite. E isso era uma merda gigante. O dono saiu e disse para o loiro fechar.

Enquanto Jace estava conferindo as coisas do caixa, viu os maços de cigarros. E isqueiros logo do lado. Sua garganta coçou e ele viu sua porta aberta. A válvula de escape perfeita. Respirou fundo e mordeu a boca.

Sabia o quão aquilo era errado e ruim, mas não conseguiu se aguentar.

Filou dois maços e três isqueiros. Depois pensou mais um pouco, de decidiu pegar mais três maços. Aquilo lhe serviria por um bom tempo.

Fechou a vendinha e foi embora, parando na esquina, acendendo um cigarro e tragando. Tossiu, e queimou a garganta antes de conseguir fazer direito.

Mas quando conseguiu... Aquilo foi surpreendentemente bom. Sentia seus problemas se dissiparem junto com a fumaça. Fumou dois cigarros no caminho de casa, e correu para cozinha para disfarçar o cheiro de fumaça que estava em seu hálito. Anotou mentalmente de comprar um spray para bom hálito, e subiu, indo para o seu quarto e praticamente desmaiando de cansaço na cama.