História Non cambierei nulla in te - Capítulo Único - Sia il vostro rifugio sicuro

Gosto da acústica da sala de canto da empresa, faz-me bem e sinto-me vivo a cada metro quadrado que ela compõe. Mesmo que talvez eu nunca tenha imaginado que viraria cantor e um artista quase completo antes de chegar aos trintas anos, a idade dita como idade do sucesso, sinto-me realizado com tudo isso. Claro que nem tudo é perfeito e eu nem queria que fosse, mas tudo caminha bem como tem que ser, ou talvez, como eu quero que seja.  

— Eu jamais conseguirei alcançar essa nota, garotos. — Jin choramingou apoiado ao tripé.  

Estávamos ensaiando desde cedo, nós, os vocais, sempre tiramos esse tempo quando não estamos treinando para nos aperfeiçoarmos para com nossas vozes. Jin e Jimin são os mais inseguros, mesmo que eu e Jeongguk digamos que eles estão indo bem e que as vozes de ambos são maravilhosas, eles tendem sempre a encolherem-se no cantinho e resmungarem sobre como não são o suficientes para o que lhes é proposto. Sobra a nós, os dois mais novos, a difícil missão de fazê-los entenderem que são cantores extraordinários e que deviam sim parar com toda aquela baixa estima que, venhamos e convenhamos, não combinavam nada com ambos. 

Por vezes, tive de acalmar ou até tirar Jin daquela sala para que ele ficasse bem, para que eu o fizesse bem e ele se sentisse a vontade para tentar outra vez, mesmo que eu o assegurasse que ele já havia sido perfeito na primeira nota. Mas é bem típico dele, nunca achar que é o suficiente, nunca ter para si que ele é mais do que aparenta ser. 

Quem nos ver por fora talvez não entenda metade do que somos um para o outro, não que sejamos tão discretos como deveríamos ser, não somos, não é do meu feitio ser, mesmo que precisemos por morar em um país extremamente conservador. Jin hyung e eu somos mais do que imaginamos ser um dia. Não temos um "caso" assumido e sequer pensamos em dar nome a isso, mas ele me protege e me tem, e eu ao passo que o tenho, o permito ser comigo o que ele não consegue ser com mais ninguém.  

— Claro que vai, nossa line é a mesma. Vou cantar a minha mais uma vez e você me acompanha, está bem? — Curvei os lábios e lhe dei um dos meus mais sinceros sorrisos. 

— Tudo bem. — Sorriu-me de volta e quase o agarrei ali mesmo. 

Cantei mirando-o e não deixando o curvar se desmanchar quando ele, por hora, baixava a cabeça e resmungava algo sobre ser incapaz daquilo e choramingar que a empresa não deveria tê-lo escolhido. Quis esmurrá-lo por tamanha bobagem dita, mas não o fiz. Apenas repeti o ato para que ele me acompanhasse naquela melodia. 

Eu admirava-me a cada ensaio em como a voz dele podia ser suave e com um "quê" de sensualidade proferida, quase encomendada sobre medida para moldar junto aquela face angelical uma personalidade singela e cativante. Quis beijá-lo quando ele arrastou um pouquinho a nota quase manhoso, porém, apenas toquei minhas mãos uma contra a outra e o aplaudi. Mas ele não parecia feliz com o resultado, olhou-me de soslaio antes de bater a porta com força quando um soluço escapara-lhe.  

Olhei para os meus melhores amigos e eles pareciam tão perplexos quanto eu, que não conseguia mover um músculo de minha face bronzeada e longa. Tive de ser rápido ao ler em palavras silenciosas os lábios de Jimin que suplicavam algo como: "vá atrás dele, ele precisa de você." E foi o que fiz, meneei a cabeça em afirmação e saí, não corri ou caminhei a passos lentos, fui desesperado e exagerado como sou em qualquer ação que me deixe preocupado, ainda mais com aquele em que minha sincronia era a mesma, mas a frequência divergia. Ponderei gritar ou usar meu tom mais grave para que ele viesse para mim, como sempre fazia. Mas não, dessa vez nada, ele sequer respondeu aos meus muitos chamados roucos e agoniados. 

— Jin hyung, não faz assim, por favor... — Implorei passando novamente por aquele corredor apertado entre as salas que usávamos para praticar. 

Foi como o tintilar de cacos no chão, senti meu rosto esquentar e meus lábios tornarem secos e ressecados no instante que escutei alguns murmúrios e soluços incessantes. Procurei-o por portas que nem com a força de um Namjoon eu abriria. Tentei seguir o som até entrar em uma das salas que costumávamos usar para reunião com a CEO da empresa, e lá estava, com a cabeça escorada nos joelhos e abraçando os mesmos. Sentei-me a sua frente e depositei-lhe um selar e afagos em seu topo.  

— Não deveria fugir de mim assim, hyung. — Tentei tirar-lhe daquela posição para que ele focasse seus olhos em mim. 

— Pare com isso. Saia daqui, Tae. Eu quero ficar sozinho. — Empurrou-me com a destra e virou o rosto a meu contra gosto. 

Não o obedeci, nunca obedecia mesmo. O abracei com todo carinho que eu tinha e que ele merecia, disse algumas palavras reconfortantes que ele pôs-se a lastimar ainda mais. Mesmo que eu não entendesse o porquê daquele martírio sobre si. Eu o achava perfeito, em todos os âmbitos, cantos e extremidades. Não havia nada nele que eu sentisse vontade de mudar ou reclamar.  

— Você deve achar-me um tolo por estar chorando como um garotinho assim. Devia parar de perder seu tempo comigo assim, devia ficar com o Guk ou o Jiminnie, eles não são tão inúteis como eu. — Limpou a secreção que ameaçava sair por sua cavidade nasal e suspirou pesaroso. Ele estava sofrendo e me corroía ainda mais por não poder fazer muito. 

— Por que se acha inútil? — Tive para mim que fazê-lo desabafar talvez o fizesse sentir-se melhor. 

— Oras, eu não alcanço as notas que o Jeongguk ou o Jimin alcançam, não tenho uma voz grave e estridente como a sua, não sei fazer rap como o Yoongi ou o Namjoon e não danço um terço do que o Hoseok dança, aliás, tem isso também, eu sou um péssimo dançarino. — Outra lágrima brotara por seus olhos expressivos. 

Puxei-o para mim, não queria mais que ele se magoasse e me ferisse tão forte como estava fazendo. Vê-lo daquela forma não só me cortava o coração, mas rasgava-me por inteiro em pedaços que eu sabia que, sem ele, jamais colaria. Apertei-o contra meu peito e o implorei para que parasse com tudo aquilo, estava sentindo aquela enorme vontade de me juntar a ele em lástimas de uma vida inteira. Quis apagar de si a ideia de que ele era aquilo. Ele não era. Era uma das pessoas mais brilhantes e sensacionais que tive o prazer de conhecer, não digo isso por ele ser meu hyung e eu encontrar-me nutrindo outros sentimentos que estão nas entrelinhas disso tudo, mas por ele ser ele.  

Afastei-o de mim e uni suas mãos, menores que as minhas e delicadas como as de uma princesa, dessas que ele tanto adorava, e deixei um selar em cada palma. O fitei por alguns poucos segundo e aproximei meu rosto do dele até que nossas testas se tocassem e eu sentisse seu hálito doce contra mim e ouvisse sua respiração entrecortada. Beijei-lhe a face, passando por sua testa e secando suas lágrimas em sua bochecha esquerda e direita, seu queixo e dando um beijo de esquimó em seu nariz afilado e gelado. E fiquei ali o observando semicerrar os olhos e sorrir de canto, aproximando-nos até que nossos lábios se pressionassem e todos as angústias fossem deixadas de lado para aquele momento raro em que nos fazíamos só para nós, em que éramos um para o outro o que escondíamos do mundo. Sendo mais do que porto-seguro, sendo encontro de paz e de almas que se pertenciam ao primeiro passo que demos em direção um ao outro, sendo dois jovens sem rótulos a se beijar encostados quase debaixo de uma mesa de reuniões, sendo mais do que qualquer outro ameaçasse ser. 

— Você é perfeito, Kim Seokjin, e eu não mudaria nada em você.