História Nós e o gato - Capíulo 24

Quando a poeria assentou a situação ficou clara, e não era bonita. Sua primeira briga como casal e quase nada tinha mudado desde que eles atingiram esse status: nenhum dos dois tinha ideia do que fazer. 
Alex usou seu refúgio mental de sempre, o trabalho e seu gato. Com Tiger em seu colo ele revisava o material que usaria no dia seguinte, e funcionou por um tempo, mas um teimoso suspiro escapava dele sempre que se deparava com um conteúdo de aula que já havia visto com Leo, ou quando seu celular acendia com uma nova mensagem quue não era dele.
Em contrapartida, a razão de sua crise não estava muito melhor que ele. Deitado na cama com o cabelo molhado, ouvindo sua playlist no aleatório, Leo não conseguia parar seus pensamentos andando em círculos. O que ele poderia ter feito diferente? Tudo. O que ele poderia ter dito? Tantas coisas melhores! A vontade que Leo tinha era de bater à porta de Alex e exigir "Vamos voltar para a discussão, agora eu tenho a resposta perfeita para aquele seu argumento!"
Eventualmente Leo caiu no sono ou, mais provável, capotou por exaustão mental. A manhã chegou, e por alguns preciosos segundos depois de despertar ele não lembrou do incidente com Alex, apenas para atingir uma dura parede de melancolia e arrependimento logo em seguida. As primeiras aulas do dia passaram como um borrão, em alguns momentos ele teve a impressão de ouvir a voz de Alex vindo da turma B na sala ao lado, ou talvez ele estivesse apenas delirando pela abstinência de sua presença.
Depois de um dia inteiro se torturando em silêncio, Leo atingiu seu limite de inércia e tomou uma decisão. Mas o garoto nunca achou que seria tão difícil iniciar uma conversa por Whatsapp.
"Oi"
Não, muito vago.
"Oi, precisamos conversar."
Muito sério e óbvio.
"Oi, sinto sua falta."
Muito desesperado.
"Oi, tudo bem?"
Pergunta retórica e estúpida que ele não saberia como responder caso Alex respondesse com "Não."
Sentado na calçada de casa, Leo jogou a cabeça para trás e observou as primeiras estrelas daquela noite em busca de inspiração, mas todas pareciam ofuscadas pelas luzes dos postes que começavam a acender. Ele não podia se dar ao luxo de esperar muito por iluminação divina naquela situação, dois caras numa moto buscando algum desavisado com o celular fácil não se importariam com seu coração partido.
Quando as coisas tinham se tornado tão complicadas?! Se não fosse por uns poucos minutos de imprudência, Leo agora estaria relaxando com Alex em seus braços, e provavelmente com Tiger deitado junto a seus pés...É claro! Tiger! Se estava difícil das coisas irem para frente, a melhor coisa a fazer era voltar um ppouco, voltar para o tempo em que ele e Alex não tinham muito em comum, mas também não tinham problemas, para quando apenas uma coisa os conectava mas isso era mais que suficiente.  Depois de verificar se a rua estava segura, Leo tirou o celular do bolso e digitou rapidamente. 
"Oi, como está o Tiger?"
A mensagem foi recebida, mas não visualizada, pelo menos não até horas mais tarde quando a resposta veio em forma de apenas uma foto do gato. Era uma selfie com ele deitado sobre o peito de Alex, mas não mostrava o rosto do dono. Isso ele só veria no dia seguinte, a poucos metros, em sala de aula. Se há alguns anos atrás Alex apenas tivesse optado por Licenciatura no lugar de Bacharelado aquela poderia ser uma cena rotineira para os dois. Leo tinha plena certeza de que se existisse um universo paralelo com essas versões dos dois, o outrro Leo ainda se apaixonaria por Alex. 
Leo nunca pensou que não gostaria de ter Alex por perto, mas tê-lo ali fisicamente mas ao mesmo tempo tão distante só esfregava sal na ferida. E Alex parecia tão composto lidando com aquilo sem vacilar, como exigia sua posição naquela momento de docência. Mais uma coisa para fazer Leo se sentir miserável, um trouxa por sofrer sozinho. Cada segundo que passava parecia acentuar o abismo mental e de maturidade entre eles.
Com tudo isso girando em sua mente pelas últimas 48 horas, a última coisa que ele esperava ver quando saísse do estágio era Alex esperando por ele na saída, mas lá estava ele, encostado no portão com uma expressão indecifrável em seu rosto.