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História Nós e o gato - Capíulo 25


Escrita por: Corujinha1

Capítulo 25 - Capíulo 25



Eles pegaram o ônibus de volta juntos e passaram todo o trajeto em silêncio depois de Alex dizer apenas o óbvio "Precisamos conversar" como cumprimento. Leo tinha o relógio como inimigo, seu cérebro não funcionou milagrosamente mais rápido naquele momento do que nos últimos dois dias, a resposta para seu problema não estava correndo em sua direção como ele desejava.
Já em casa a expressão de Alex continuou a mesma, pelo menos até ele olhar diretamente para Leo. Seu rosto se contorceu em uma máscara de preocupação. 
- Leo, por que você está chorando?!
A mão do garoto foi automaticamente para seu rosto e sentir as gotas mornas rolando em sua bochecha só fez aumentar o fluxo de lágrimas, adicionando leves soluços e deixando difícil respirar entre um e outro. Depois dessa constatação a parte racional de seu cérebro desistiu de lidar com a pressão da situação e algum mecanismo de defesa foi ativado. 
Alex não estava em melhores condições, ele sempre esperava pelo próprio surto e o próprio choro em situações como esta, mas não fazia ideia de como consolar uma pessoa maior que ele em prantos. Antes que o pânico o engolfasse também ele agarrou o rosto de Leo com as duas mãos e o forçou a olhar para ele.
- Ei, ei, ei, ei. Qual o problema?
- Desculpa. Desculpa, me perdoa. Eu sei que você merece uma resposta melhor, e que eu fui estúpido, que eu preciso dizer mais que isso, mas...desculpa...
Ele repetiu aquela palavra inúmeras vezes enquanto Alex se ocupava afastando sempre lágrimas frescas de seu rosto. Com muito esforço Leo conseguiu sussurrar um único apelo:
- Eu não quero terminar.
Então sua voz quebrou novamente. Sentindo uma luz de compreensão, Alex apertou o rosto de Leo um pouco mais forte e falou:
- Leo, nós não vamos terminar.
As palavras não pareceram alcançá-lo, então ele repetiu pausadamente, um pouco mais alto:
- Nós não vamos terminar.
Só por garantia, ele continuou:
- Nós não vamos terminar.
Leo saiu do transe aos poucos.
- Não?
- Você quer terminar?
- Não!
- Eu também não, ok?
- Ok.
- Ok.
Alex encostou sua testa na de Leo e permaneceu assim por um longo tempo. O calor e o aroma familiares guiaram o rapaz de volta ao autocontrole. Mas Alex não sossegou até fazê-lo tomar um copo d'água. O mais novo seguiu o namorado até a cozinha, como se não quisesse perdê-lo de vista. Minutos depois Leo encarava Alex com envergonhado e com os olhos inchados.
- Meu Deus isso foi patético.
Ele apoiou os braços na mesa e apoiou a cabeça deles escondendo o rosto. Alex afagou seu cabelo e sorriu quando disse:
- Você também já me viu chorar.
Leo levantou a cabeça exasperado.
- Não pode achar que é a mesma coisa! Você teve motivos pra chorar, eu só fiz um escândalo como se tivesse três anos de idade.
- Seu escândalo foi por imaginar que não estaríamos mais juntos? Olha, eu não sei se reagiria muito melhor se tivesse passado dias com essa ideia presa na minha cabeça.
Leo tirou a mão de Alex que estava em seu cabelo e a apertou de leve.
- Eu fui burro. Muito, muito, muito burro. A lei diz que daqui algumas semanas eu vou ser oficialmente responsável pela minha vida, e que deveria saber resolver tudo sobre ela, mas a verdade é que eu ainda ando tropeçando nas coisas prestes a estragar tudo a qualquer momento, e que provavelmente vou me sentir assim pelos anos...ou décadas.
- Leo...
- Deixa eu terminar. Mas a única coisa que eu nunca me perdoaria por estragar é a sua vida, sua carreira. Você é tão forte e sempre batalhou tanto por tudo que tem, você me inspira, Alex. E eu quase arrisquei manchar isso por um capricho, um impulso. Desculpa por ser um cuzão egoísta e irresponsável.
- Pronto?
- Sim. Esse foi meu pedido de desculpas oficial. O melhor que eu consigo sem a parte do siricutico.
Os poucos segundos que Alex demorou para responder quase levaram Leo de volta ao dilúvio de minutos antes.
- Tudo bem, desculpas aceitas.
O som daquelas poucas palavras quase fez Leo flutuar. Ao contrário do que ingenuamente imaginou, ele não estava sofrendo sozinho. Alex tinha perdido muitas horas de sono pensando no problema, naquela tarde tinha recusado o convite de Marcus para sair, usando a desculpa de cuidar de seu gato, quando sua única preocupação era colocar um ponto final na saga do beijo desastroso. Tentando convencer Leo da mesma forma que convenceu a si mesmo, Alex continuou:
- Nós dois fomos burros. Cuzões com coisas diferentes. Essa culpa é muito pesada pra só um carregar, então vamos dividir. Nunca deveria ter me beijado daquele jeito na escola, mas eu também poderia ter reagido de muitas maneiras melhores, e não devia ter jogado na sua cara algo que machuca  tanto nós dois.
Leo franziu as sobrancelhas, confuso.
- Nós dois?
Alex suspirou cansado com um triste sorriso em seu rosto.
- Leo, você acha mesmo que é o único incomodado pelo tempo irremediável entre a gente. São quase oito anos de diferença. Eu tenho parentes mais velhos que você que carreguei no colo e sempre vi como crianças ou bebês, mas nunca foi assim que te enxerguei. - Ele pareceu ponderar por um momento - Ok, talvez no começo, quando você era só um pirralho que roubou meu gato e invadiu meu quintal. Mas o que interessa, pelo menos por enquanto, não é como eu ou você nos vemos, é como somos vistos, como as coisas são. Eu sou uma pessoa de quase trinta anos namorando um menor de idade. Daqui a algum tempo você ser um universitário cheio de energia e eu vou estar sofrendo com dor nas costas e...
- Tá bom, eu entendi. Juro que entendi. Pode parar, porque eu tô vendo a hora você se declarar senil e começar seu testamento aqui mesmo.
- Tudo bem, parei. Acho que você entendeu onde eu quero chegar. A gente pode seguir em frente agora, né? -  Ele observou Leo com o primeiro sorriso genuinamente feliz daquele dia, mas ele logo desbotou também.
- Qual o problema? - Leo tocou seu rosto de leve e Alex descansou sua bochecha em sua palma.
- A gente resolveu esse problema, mas eu não sou trouxa a ponto de pensar que esse será o único. Não quero ser pessimista, só realista. Meu sonho de "princeso" agora é nós três aqui dentro para sempre, em isolamento social da escrotice do mundo.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos perdido em pensamentos, saboreando a fantasia. Mas logo depois se empertigar na cadeira.
- Mas você não é assim, e eu nunca te pediria isso. Eu recebi a bênção de me apaixonar por um extrovertido, explorador, que nunca pararia quieto em casa e agora preciso lidar com isso. Paciência. 
- Talvez não agora, mas depois, nada te impediria de fazer parte disso. Eu adoraria te converter e trazer pro lado extrovertido da força.
- Hhhm, tipo com seus amigos envolvidos?
- Pode ser...
- Eles pelo menos sabem sobre nós?
- Não, mas posso contar a qualquer momento.
- E você contaria tudo? Tipo...tudo mesmo? - Ele levantou uma sobrancelha sugestivamente.
Leo travou seu olhar no dele, destemido.
- Eu me gabaria sobre estar namorando uma pessoa linda, inteligente, competente, gentil e que, por acaso, é um homem. A menos que algum deles tenha um crush secreto em mim, não vejo como eles não ficariam felizes por mim. Agora, se alguém se incomodar com o mero detalhes de você não ser uma mulher, eu vou ficar me perguntando por que caralhos me dei ao trabalho de chamar essa pessoa de amigo.
Ao ouvir isso Alex passou as duas mãos rapidamente pelos cabelos várias vezes, apertando chumaços. Em seguida cobriu o rosto com elas e abafou um ruído entre um gemido e um grito de frustração. Ainda com as mãos nas bochechas que começavam a esquentar ele olhou para Leo e disparou:
- Tá vendo?! É por você dizer coisas assim que eu esqueço que você só tem 17 anos! Quando alguém assim vai cair no meu quintal de novo?! E você achou que eu quisesse terminar! Isso te faz muito burro e fofo ao mesmo tempo, chega a ser injusto!
Quando ninguém tinha mais nada a dizer eles deram um melhor uso a suas bocas. Mas poucos centímetros de lábios e línguas também não eram suficientes, e foi uma questão de segundos até Alex estar no colo de Leo testando a resistência da velha cadeira de madeira cozinha.



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