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História Nós sempre teremos Paris - Nós sempre ajudaremos um ao outro


Escrita por: iambyuntiful

Notas do Autor


Voltamos com mais um capítulo! Olá, estrelinhas~!

Conforme disse no twitter, as atualizações de NSTP mudaram para o sábado agora! Nesse capítulo as coisas começam a se tornar mais leves conforme as mágoas deles vão se dissipando e eles conseguem ver um pouco mais o lado um do outro. O fluffy finalmente chegou pros nossos queridinhos <3

Eu to me divertindo bastante escrevendo NSTP e espero que vocês estejam gostando também! A nível de curiosidade, a fanfic ganhou uma música tema que é For the first time, do The Script; ouçam a música e depois me digam se não é a cara de ChanBaek daqui!

Capítulo betado pela Sisi, as usual. Espero que gostem e nos vemos lá embaixo~!

Capítulo 3 - Nós sempre ajudaremos um ao outro


NÓS SEMPRE TEREMOS PARIS

Capítulo 3 - Nós sempre ajudaremos um ao outro

 

Baekhyun esperava ter uma noite de sono tranquila após a conversa com Chanyeol, depois de conversarem sobre o passado sem resgatar mágoas antigas, e que seu descanso se estenderia pelas horas seguintes da manhã, já que ainda estava cansado de sua viagem.

 

Infelizmente Baekhyun estava errado.

 

O relógio marcava oito horas da manhã quando o Byun acordou, sentindo os olhos reclamarem pela claridade vinda da janela e o sono fazendo-os arderem. Sua mente ainda estava grogue pela sonolência e não entendia exatamente o que estava acontecendo ao redor, mas sabia que havia algo que não esqueceria tão breve e sabia que era o motivo de estar acordado, mesmo quando seu desejo era dormir até o horário do almoço.

 

Chanyeol não aprendera que não sabia cantar.

 

Levantou-se ainda praguejando contra o ex-namorado. Havia se esquecido sobre os hábitos matinais de Chanyeol e de como o rapaz preferia acordar mais cedo do que o necessário para tomar um bom banho antes de Baekhyun acordar, sem saber que o mais velho acordava em decorrência do chuveiro ligado e as músicas que o Park desafinava no banho. Quando começaram a dividir quarto na faculdade, Baekhyun até achava fofo e não colocava despertadores já que não precisava mais deles; hoje, o Byun só queria uns minutos a mais com sua cama.

 

Apesar de tudo, não estava irritado como imaginou que estaria. Detestava acordar cedo, por isso sua irritação inicial. Havia criado sua própria rotina com horários bons para si por este motivo e por isso amava trabalhar em casa, mas naquele momento sua irritação tornou-se quase passageira pela situação o recordar do início de seu relacionamento, quando as coisas ainda estavam dando certo. Em que momento Baekhyun havia perdido o controle de tudo, logo ele, que sempre teve as coisas muito bem controladas?

 

A conversa na noite anterior havia reacendido em si sensações que há muitos meses desconhecia. Trocar risos e gracejos com Chanyeol era algo que não fazia há muito tempo, mesmo quando ainda estavam namorando. Devia admitir para si mesmo que sentia falta disso; reencontrar Chanyeol e receber do mais novo apenas suas acusações seria difícil demais para que pudesse continuar ali. Eram seus dias de descanso, na cidade que prometeram visitar juntos e não puderam, e queria criar apenas boas recordações, já que nunca tinha tempo para isso. Um Chanyeol com tanta mágoa em seus olhos e acusações em suas mãos definitivamente não o ajudaria e Baekhyun estaria melhor em qualquer lugar do mundo que não fosse ao seu lado.

 

Contudo, as risadas trocadas o lembravam dos momentos em que eram felizes juntos sem precisar de muita coisa, quando dividir a cama de Chanyeol com um balde de pipoca e algum filme que ignorariam enquanto trocavam carinhos era suficiente. Baekhyun não havia se dado conta de como sentiu saudades desses momentos até ter uma imagem do que poderiam ter continuado sendo.

 

Mas agora ele sabia que era impossível e que deveria apenas levar os cinco dias ao lado de seu ex-namorado mais em clima de paz do que na guerra que estavam antes. Reconhecia que seu temperamento não ajudava em nada na missão de paz, mas, se Chanyeol fizer sua parte, Baekhyun estaria feliz em também ajudar.

 

Naquele momento, porém, Chanyeol estava demorando demais no banho e Baekhyun realmente queria mais cinco minutos de silêncio.

 

“Park Chanyeol!”, exclamou batendo contra a porta. “Você não está em nenhum concurso de canto para estar berrando desse jeito. E se estivesse já teria perdido!”

 

“Acordando de bom humor sempre, certo, Baek?”, Chanyeol devolveu, ainda debaixo do chuveiro. “Bom dia para você também!”

 

“O dia começa quando o relógio tem duas casas e não apenas uma”, Baekhyun resmungou. “Cante mais baixo antes que os quartos ao lado reclamem da gente pra gerência. Não quero problemas no meu segundo dia aqui por sua causa.”

 

A risada de Chanyeol ecoou mesmo com o chuveiro ligado. “Você está tomando as responsabilidades sozinho de novo!”, disse. “Eu disse que você nunca mudaria.”

 

“Um de nós precisa fazer isso se você acha que gritar Coldplay no chuveiro às oito da manhã é algo aceitável”, Baekhyun bufou.

 

Ao invés de parar como Baekhyun havia pedido e como o Byun imaginava que qualquer pessoa de bom senso faria, Chanyeol continuou a rir e a cantar Yellow na mesma altura de antes. O mais velho revirou os olhos, voltando a se deitar ao desistir do Park; seu ex-namorado sabia ser como uma criança birrenta quando queria e devia se recordar sobre como Chanyeol achava graça em vê-lo irritado.

 

Talvez a conversa na noite anterior não tivesse reacendido o passado só para si, mas para Chanyeol também. Se iriam agir como eram no começo da faculdade, o ruivo estava fazendo seu papel muito bem.

 

O chuveiro não demorou a ser desligado, justo quando Baekhyun já tinha perdido suas esperanças e enfiado o rosto no travesseiro. Seu sono já estava perdido devido a claridade invadindo o quarto, mas ainda queria permanecer deitado pelo resto da manhã para satisfazer sua preguiça. Chanyeol saiu do banheiro já vestido, para a alegria de Baekhyun que evitaria uma discussão novamente, os cabelos ruivos pingando água por onde passava. O Park definitivamente não mudaria nunca.

 

“Espero que você saiba que vai secar esse chão depois”, Baekhyun comentou, sua voz saindo abafada pelo travesseiro.

 

Chanyeol voltou seu olhar para ele. “Às suas ordens, sir”, respondeu. “E quem é você e o que fez com Baekhyun que não está usando todas as horas do dia pra reclamar que não tem tempo suficiente?”

 

“Qual a parte do estou de férias que você não entendeu?”, Baekhyun devolveu, virando-se de lado para encará-lo sem torcer seu pescoço.

 

“Ainda é difícil de acreditar para mim”, Chanyeol riu. “Não o vejo preguiçoso em sua cama há anos.”

 

Talvez estivessem caminhando para terrenos perigosos novamente, mas Baekhyun não se importava naquele momento. Havia feito um trato consigo mesmo de que poderiam lembrar dos anos juntos sem começarem a brigar em seguida.

 

“Às vezes eu trabalho na minha cama, então esse não é um problema”, Baekhyun deu de ombros. “Eu só estou sentindo o jet lag ainda.”

 

“Você deveria aproveitar essa manhã para não fazer nada”, Chanyeol disse, jogando-se em sua cama após colocar a toalha molhada de seu cabelo para secar.  “E depois sair um pouco, que tal?”

 

“Tenho muita coisa pra fazer”, Baekhyun declinou. “Estou me dando esse tempo só para fazer minhas obrigações com foco total depois.”

 

“Qual a parte do estou de férias você mesmo não entendeu?”, Chanyeol rolou os olhos. “Você trouxe o trabalho até Paris!”

 

“O meu trabalho está comigo em todos os lugares”, Baekhyun respondeu. A centelha de irritação começava a surgir em sua mente. “Trabalho com as minhas ideias, Chanyeol, não posso me dar ao luxo de esquecê-las só porque estou de férias.”

 

“Se você entrou de férias é porque suas ideias não vão tão bem assim, já que você nunca pediria descanso por vontade própria”, o Park resmungou.

 

Baekhyun preferiu não respondê-lo porque dessa vez Chanyeol o alcançou onde ele não queria que o mais novo chegasse. Não havia contado o motivo de estar de férias além de que fora compulsório porque não queria que Chanyeol soubesse que as coisas estavam indo mal para si. Suas ideias eram as coisas mais preciosas que tinha, a única coisa que se orgulhava em dizer que fazia, e agora sua mente o estava deixando desamparado. Se Chanyeol soubesse que sua vida profissional, aquela que prezava tanto acima de qualquer coisa, estava indo mal, o que mais poderia presumir sobre o restante de sua vida?

 

Por isso, ainda sem responder, Baekhyun se fechou no banheiro para tomar seu banho e tentar colocar sua mente em ordem. Precisava pensar em alguma coisa para escrever seu segundo livro, alguma coisa que as pessoas gostariam de ler. Estava de férias, mas precisava organizar todo seu roteiro para que pudesse escrever algo assim que voltasse para Nova York e pudesse surpreender seus editores.

 

Chanyeol continuou encarando a porta fechada, pensando se teria dito algo errado. Baekhyun nunca ficava calado, o mais velho sempre tinha uma resposta pronta na ponta da língua para continuar uma discussão e não era de seu feitio deixar que outra pessoa tivesse a última palavra. Em tempos antigos, Chanyeol teria adorado ganhar uma discussão contra o Byun, mas agora seu silêncio o preocupava mais do que seus esbravejos.

 

O tempo que Baekhyun levou em seu banho fora suficiente para Chanyeol perceber que não deveria ter falado a respeito das ideias de Baekhyun, já que sabia que o mais velho era bastante sensível em relação à escrita. Se Baekhyun estava enfrentando bloqueio criativo, zombar dessa situação não era o indicado para fazer com que ele amolecesse a armadura que colocou ao seu redor e pudesse deixá-lo entrar novamente.

 

Queria fazer com que os bons tempos de faculdade voltassem, mas já tinha começado completamente errado. Estavam indo bem desde a noite anterior que Chanyeol pensou que já tinha alguma liberdade para certas brincadeiras, mas esquecera de que lidar com Baekhyun era sempre uma caixinha de surpresas, ainda mais depois de um ano em que não se viam.

 

Ao perceber o retorno de seu ex-namorado para o quarto, o olhar distante na paisagem através da janela, Chanyeol engoliu em seco, sem saber se falar mais alguma coisa despertaria a ira de Baekhyun novamente ou se ele o ignoraria como estava fazendo agora. Detestava a ideia de estar pisando em ovos, mas precisava saber que estava lidando com uma nova faceta do mais velho, mesmo que tivesse certeza de que o garoto por quem se apaixonou ainda estivesse ali, perdido em algum lugar.

 

“Desculpe”, Chanyeol disse, atraindo sua atenção. “Eu não devia ter falado dessa forma. Eu sou meio babaca às vezes.”

 

“Você está certo.” Baekhyun deu de ombros. “Se eu conseguisse fazer a única coisa que sei fazer na minha vida, eu não precisaria estar aqui.”

 

Aquele não era Baekhyun. Levantou-se, parando atrás do rapaz que ainda observava a Paris recém-acordada. Suas mãos correram em direção aos ombros de Baekhyun sem pedir por permissão, surpreendendo-o. “Você só está passando por tempos ruins”, disse. “Você ainda tem as melhores palavras que conheço, Baek, elas vão voltar para você. Dê o tempo delas e aproveite o tempo que é seu. Se você não estivesse aqui, qual era a chance de nos reencontrarmos?”

 

Baekhyun suspirou. “Eu achei que você não iria mais querer me ver, então resolvi focar no meu trabalho e deixá-lo seguir sua vida”, explicou.

 

“Por algum tempo eu desejei não voltar a vê-lo, porque eu sabia que vê-lo significava duvidar do que eu mesmo pedi.” Chanyeol explicou. Suas mãos ainda estavam nos ombros alheios, em um carinho inconsciente. “Mas eu acho que não conseguimos enterrar o passado de uma vez por todas. Eu nunca quis enterrá-lo, pra falar a verdade. Você sempre foi uma das minhas recordações favoritas, mesmo com todas as nossas brigas.”

 

“Eu quis enterrá-lo muitas vezes”, Baekhyun murmurou, “mas eu falhei na maioria delas.”

 

Chanyeol não poderia culpá-lo, já que, para Baekhyun, estava tudo bem com seu relacionamento e fora uma surpresa o pedido de término vindo de Chanyeol. Havia aceitado a decisão de seu namorado, mas não tinha entendido o motivo daquilo estar acontecendo de forma tão brusca. Se Chanyeol queria terminar, então o mais velho sumiria de sua vida assim que fosse possível e tentaria apagar os vestígios do que tiveram juntos como uma forma de autoproteção.

 

Claramente não havia dado certo.

 

Chanyeol se afastou mais uma vez, voltando à sua cama e dando espaço necessário a Baekhyun. Estavam tendo mais uma vez o mesmo clima dos tempos de faculdade, quando resolviam mais uma briga e voltavam aos carinhos de outrora, mas dessa vez as coisas eram diferentes. Não havia certeza nenhuma de que Baekhyun sorriria para si e engatinharia por sua cama até se acomodar em seus braços, por isso apenas esperou por seu próximo movimento.

 

Baekhyun de fato sorriu para si, mesmo que um sorriso mínimo de quem não havia aceitado a derrota, mas que estava cansado de lutar a mesma guerra. O mais velho voltou à sua cama, afundando em seu colchão como desejava fazer desde o início, e o silêncio que seguiu entre ambos era confortável pela primeira vez em muito tempo. Não havia a necessidade de preencher o ambiente com sons para que não estivessem sozinhos com seus pensamentos porque agora eles estavam perfeitamente bem com a companhia um do outro ali.

 

Porém, era com Chanyeol que Baekhyun estava dividindo quarto e sabia que o maior nunca estaria em silêncio por muito tempo.

 

“Conte-me da sua vida.” Chanyeol pediu. “O que eu perdi dela durante esse ano?”

 

Baekhyun repensou o que poderia dizer a Chanyeol que não envolvesse seu trabalho como escritor, o que ele já deveria saber. Contudo, essa era a parte mais importante de seu ano passado, o motivo pelo qual se afastou de tantas coisas e perdeu tantas outras. Não havia como separá-lo de seu trabalho e Baekhyun pensou se não era um pouco triste confirmar algo assim.

 

“Eu terminei meu primeiro livro”, Baekhyun respondeu, “e tive um sucesso considerável com ele. Não esperava que tantas pessoas pudessem me mandar emails ou vir às livrarias conversar comigo durante os eventos de promoção, mas foi bastante divertido, apesar de desgastante.”

 

“Deve ter sido incrível”, Chanyeol comentou. “Você sempre comentou sobre como queria que as pessoas o reconhecessem algum dia.”

 

“Foi uma experiência mágica”, Baekhyun sorriu para o nada, recordando-se. “Foi durante esses eventos que Joonmyeon e eu ficamos mais próximos, então houve algo de bom durante esse estresse todo.”

 

“Joonmyeon, uh?”, Chanyeol repetiu. “E afora o livro, o que mais perdi?”

 

“Não há mais nada que tenha acontecido de importante”, Baekhyun deu de ombros. “Depois que terminamos, não busquei me envolver com outras pessoas porque eu não tinha tempo para isso. Eu estive com algumas pessoas, mas nós nunca ligávamos no dia seguinte e estava tudo certo desse jeito. A única pessoa que se aproximou foi Joonmyeon mesmo.”

 

Chanyeol guardou silêncio dessa vez, o que Baekhyun estranhou. Aquele era Park Chanyeol, o rapaz que não sabia manter as palavras dentro de sua boca por muito tempo e que detestava o silêncio mais do que qualquer coisa. Olhou-o de soslaio, tentando entender quais seriam seus próximos movimentos. Costumava ler Chanyeol como um livro aberto, mas agora encontrava dificuldade em decifrar algumas de suas páginas.

 

“E você?”, resolveu perguntar. “Mudou algo?”

 

“Comecei a trabalhar com consultoria de arte e eu também pinto quadros para exposições”, Chanyeol deu de ombros. “É divertido na maioria das vezes, mas não posso forçar o processo criativo ou tudo sairá terrível e será um desperdício de material. Eu gosto bastante do que faço, é relaxante.”

 

“Você sempre teve talento”, Baekhyun o elogiou. “Também não teve mais ninguém depois que terminamos ou a vida seguiu normalmente?”

 

“Eu me envolvi com uma outra pessoa, Minseok era seu nome”, Chanyeol deu de ombros. “Não demos certo porque éramos… Um pouco incompatíveis. Tínhamos o mesmo gosto para arte, mas ele era terrivelmente entediante e cansamos fácil um do outro.”

 

Baekhyun não pôde impedir sua risada. Algumas páginas de Chanyeol eram difíceis de decifrar, mas outras eram claríssimas. “Você sempre se cansou muito rápido”, disse. “Admira-me termos durado por cinco anos.”

 

“Não tínhamos uma rotina muito estabelecida, então nunca perdíamos a graça”, Chanyeol respondeu. “Mas resolvi focar no trabalho quando Minseok e eu terminamos, então eu tive alguns casos de uma noite só, como você, mas não há mais ninguém.”

 

“Parece que nosso atual relacionamento é com nossos respectivos trabalhos”, Baekhyun comentou.

 

“Ao menos é um relacionamento que trará bons frutos no futuro”, Chanyeol riu. “Só devemos ter cuidado até onde é o limite aceitável dessa relação.”

 

Baekhyun limitou-se a um acenar com a cabeça, voltando a deitar-se confortavelmente em sua cama. Chanyeol entendeu que a conversa estava encerrada, voltando seu olhar para a paisagem de Paris na janela próxima. A cidade era bonita mesmo quando o movimento era fraco e quase não havia pessoas passando pelas calçadas, mas a magia da capital francesa estava em todos os lugares.

 

Recordava-se de quando tinha marcado com Baekhyun de que viajariam juntos para Paris e desfrutariam da cidade lado a lado. As intempéries que passaram impediram que realizassem o desejo antigo, mas agora estavam novamente juntos, dividindo o mesmo quarto de hotel na cidade que fora palco de muitos de seus sonhos. Aquilo definitivamente tinha que significar algo. Baekhyun não poderia ser colocado à sua frente mais uma vez sem uma razão aparente.

 

Talvez os sonhos parisienses não estivessem de todo perdidos.

 

. . .

 

Durante a tarde, Chanyeol disse precisar dar uma saída para resolver alguns problemas em relação a exposição que deveria ver em breve, mas que logo estaria retornando. Baekhyun o dispensou com um aceno de mão, já que estava concentrado na página aberta em seu notebook. O mais novo não se surpreendeu; a manhã de descanso que Baekhyun deu a si mesmo tinha prazo contado para retornar ao trabalho.

 

Creditou seu fracasso em pensar em alguma coisa útil ao fato de estar cansado da viagem, por isso sua mente não estava funcionando do jeito que deveria. Agora, completamente descansado após uma manhã inteira sem fazer nada além de estar abraçado a seu travesseiro, estava revigorado para reiniciar sua maratona em frente ao editor de texto. Algumas ideias estavam fervilhando em sua mente, precisava apenas colocá-las no papel para dar certo.

 

Há muito tempo que não tentava criar um roteiro, tão obstinado em escrever sua continuação com as ideias que tinha em mente para perder seu tempo com algo do tipo. Imaginava que poderia ao menos dar o pontapé inicial em suas ideias, depois se preocuparia em criar um roteiro para não se perder com elas. Obviamente não havia dado certo, já que estava escrevendo e apagando parágrafos numa frequência que não deveria estar acontecendo. Por isso, rendeu-se aos roteiros novamente, tentando organizar e conectar as ideias até que fizessem sentido.

 

Resolvera que ambientaria sua história em Paris, aproveitando sua estadia no local. Talvez precisasse sair para conhecer um pouco mais da cidade, mas nada que não pudesse ver através do street view do Google quando voltasse a New York; a cidade dos apaixonados seria o palco ideal para sua nova ideia, se conseguisse lapidá-la para que ficasse como estava em sua mente. Parecia clichê, mas o que era a vida em Paris sem um pouco da aura romântica que a cidade trazia?

 

Conforme esquematizava o esqueleto de seu novo manuscrito, Baekhyun percebeu que havia algo de errado no que escrevia. Parou para reler as palavras já escritas, conectando-as às suas memórias e tentando encontrar ao erro, surpreendendo-se ao perceber que o erro era colocar-se em cada uma daquelas palavras. Sentia que estava descrevendo seu antigo namoro e suas desavenças, enquanto buscava forças de retomar o que havia sido perdido.

 

Talvez funcionasse na literatura, mas sabia que nada era fácil dessa forma na vida real. Sequer sabia porque estava pensando nisso, já que deveria manter sua vida pessoal bem distante de sua vida profissional. Suas histórias não deveriam ser influenciadas por sua história de vida, era sua principal regra. Não entendia também porque estava pensando naquilo, já que estava perfeitamente bem em relação ao término de seu namoro. Estavam convivendo pacificamente para o bem da sanidade de ambos, já que se brigassem durante toda a semana estariam apenas desgastando um ao outro; não era como se estivessem tentando qualquer coisa.

 

Paris começava a afetar sua mente.

 

Decidido a não pensar mais em sua situação com Chanyeol e como a presença do mais novo ativava todas as partes de seu cérebro que ainda sentia sua falta, apesar de tudo, Baekhyun resolveu ligar para seu agente. Conversar com Joonmyeon era sempre uma boa escolha quando se sentia perdido em meio às suas ideias. O mais velho sempre sabia o que dizer para ajudá-lo, e mesmo que não houvesse ajuda significativa, poder zombar com Suho já o deixava mais tranquilo.

 

Tomando cuidado para não estar ligando muito cedo para o amigo, devido a mudança de fuso horário, Baekhyun o chamou pelo Skype para que pudessem se ver melhor. Joonmyeon certamente brigaria consigo por não estar descansando e aproveitando a viagem da maneira que achava adequado, mas ele não podia fazer nada estando do outro lado do oceano, certo?

 

Não demorou muito até que Joonmyeon atendesse sua ligação e, mesmo que não fosse muito cedo, lá estava a cara de sono de seu amigo, com os cabelos ainda bagunçados. Joonmyeon certamente estava aproveitando seu dia de folga melhor do que Baekhyun faria com suas férias inteiras.

 

“Dessa vez você não pode me culpar por te acordar cedo”, Baekhyun começou com um sorriso de canto.

 

Joonmyeon rolou os olhos. “Eu estou de folga”, respondeu. “A ideia era nem acordar hoje.”

 

“E depois você reclama que eu que não aproveito a minha vida, Suho.”

 

“Ligou só para me acordar ou tem algo para falar?”, Joonmyeon questionou, mudando assunto. “Aconteceu alguma coisa?”

 

“Você não vai adivinhar no que a vida fez comigo”, Baekhyun suspirou. “Parece impossível e coisa de filme, mas adivinha quem é meu companheiro de quarto?”

 

“Você não se hospedou em um lugar tão bom assim para ser algum famoso”, Joonmyeon considerou.

 

Park Chanyeol.” Baekhyun respondeu. “Meu ex-namorado está dividindo quarto comigo pelos próximos quatro dias. Sinceramente, qual era a probabilidade?”

 

A risada de Joonmyeon invadiu quarto na mesma hora. “Essas coisas só acontecem com você, Baek”, o Kim riu. “Vocês estão bem com isso?”

 

“Ontem foi um dia bastante tenso, Chanyeol parece estar magoado comigo mesmo um ano depois”, Baekhyun respondeu. “Ainda estamos pisando em ovos, mas caminhando para uma boa convivência.”

 

“Vindo de você isso me soa um esforço inimaginável”, Joonmyeon zombou.

 

“Se tivesse convivido com Chanyeol saberia que é um esforço para qualquer pessoa”, Baekhyun rolou os olhos. “Às vezes parece que voltamos aos tempos de faculdade e, em seguida, estamos novamente trocando farpas veladas.”

 

Joonmyeon permaneceu analisando a situação através da tela de seu celular. Baekhyun estava mais irritadiço do que de costume e parecia mais impaciente também, o que significava que as coisas estavam ficando fora de seu controle. Sabia muito pouco a respeito de Park Chanyeol em respeito ao passado de Baekhyun, mas se esse rapaz conseguia fazer com que Baekhyun perdesse um pouco de seu meticuloso controle, definitivamente era alguém que gostaria de conhecer.

 

“Se está tão complicado continuar ao lado dele no hotel, por que não vai aproveitar a cidade?”, Joonmyeon sugeriu. “Se você queria passar o dia todo preso em um quarto, ficar no seu era muito mais barato.”

 

“Eu tenho planos de visitar a cidade, só estava cansado demais pra fazer isso ainda”, Baekhyun se defendeu. “E não é que seja complicado, é só… Estranho. Chanyeol ainda é a pessoa que mais me tira do sério, mas também é quem sabe como melhor me acalmar.”

 

“Talvez o passado só esteja muito recente para que a mudança brusca, como vocês se reencontrando do nada, passe despercebida.”

 

“Eu sempre achei que rever Chanyeol seria algo tranquilo, que nós já teríamos superado nosso namoro e o término dele, talvez vê-lo com outra pessoa, Chanyeol sempre foi o mais carente entre nós dois”, Baekhyun disse. “Agora, ao mesmo tempo em que está sendo meio tranquilo, também está sendo bizarro.”

 

“Você tem certeza de que superou seu relacionamento, Baek?”, Suho perguntou. “Você sabe, não tem problema em não ter superado se você ainda gosta dele ou qualquer coisa do tipo…”

 

“Chanyeol fez uma escolha e respeitei a decisão dele, Joonmyeon.” Baekhyun respondeu categórico. “Se não tivéssemos terminado na faculdade teríamos terminado em seguida, porque, se eu não tinha tempo na faculdade, eu tive menos ainda depois do lançamento do livro. Então não tenho tempo para essas coisas.”

 

“Só porque você acha que não tem tempo para as coisas mais básicas da vida não quer dizer que elas não aconteçam, Baekhyun”, Joonmyeon disse. “Vocês terminaram seu relacionamento por desgaste, não foi? Não quer dizer que tenham deixado de se amar.”

 

“Não estou apaixonado pelo meu ex-namorado, Suho, por Deus”, Baekhyun rolou os olhos. “Está sendo estranho revê-lo porque dividimos a vida por meia década, mas estamos há um ano separados e é tempo suficiente para seguirmos em frente.”

 

“Você seguiu, Baek?”

 

Baekhyun pensou no roteiro que estava escrevendo até pouco tempo, no motivo que o levou a ligar para Joonmyeon e no porquê de a ideia de não ter superado seu relacionamento tão bem como achava que tinha feito estava o afetando tanto. “Sim, perfeitamente bem”, Baekhyun respondeu depois de um momento.

 

“Não acredito em você, mas isso não influencia em nada.”, Suho respondeu. “É você quem controla sua vida e as oportunidades que agarra e as que perde.”

 

“A única oportunidade que quero no momento é a de poder escrever em paz sem que Chanyeol acabe voltando à minha mente, atrapalhando meu processo criativo”, Baekhyun disse. “O maldito conseguiu arruinar até mesmo o roteiro que eu estava fazendo.”

 

“Você ainda está trabalhando aí, Baekhyun?”, Suho perguntou. “Será possível que eu tenho que estar ao seu lado todos os lugares para lembrá-lo de que você está de férias?”

 

“Você parece com ele me lembrando disso a todo momento, mas se esquecem que eu aproveito minhas férias da forma que eu achar melhor”, Baekhyun bufou.

 

“Talvez eu devesse ter uma conversa com Chanyeol, ver se ele consegue fazer você fechar esse editor de texto ao menos por um dia”, Suho reclamou. “Você está se mantendo cada vez mais estressado, o que não era a ideia dessas férias.”

 

“Não sei como você imagina que meu estresse sumiria do nada e por qualquer motivo", Baekhyun disse, “mas se eu não produzir nada eu vou me sentir ainda pior, então não reclama.”

 

Suho desistiu de argumentar contra Baekhyun e a necessidade de descanso para sua mente. Devia se recordar de que era com Baekhyun, a pessoa mais teimosa que conhecia, que estava lidando. “Certo”, disse. “Então me conte no que Park Chanyeol está influenciando em seu roteiro.”

 

Baekhyun pensou se deveria falar para Joonmyeon ou se o mais velho acabaria por zombar de si novamente ou dizer-lhe que não havia superado seu ex-namorado. Porém, o roteiro foi o motivo pelo qual ligou para seu agente, precisava conversar com alguém sobre os programas que Chanyeol causava em sua mente.

 

“Eu queria criar uma história de romance que não soasse muito colegial, entende?”, Baekhyun começou. “Sei que acabei de sair da faculdade, mas acho que consigo demonstrar mais profundidade do que um romance adolescente, então eu sentei e coloquei todas as minhas ideias no papel. O problema é que Park Chanyeol invadiu todas elas.”

 

“Você começou a descrever sua vida com Chanyeol, não foi?”, o sorrisinho dado por Joonmyeon deu a Baekhyun vontade de matá-lo. “Podemos voltar à sua certeza em ter superado tudo?”

 

“Vá para o inferno, Joonmyeon, eu não sei porque liguei para você”, Baekhyun bufou.

 

“Porque você afastou todos seus outros amigos e é para isso que estou aqui, senão você surtaria sem ter com quem falar e descontaria tudo em personagens que não fizeram nada para você.”

 

“Você me conhece tão bem”, Baekhyun ironizou. “O problema é que agora eu estou de volta à estaca zero, porque me recuso a escrever qualquer coisa que remonte à minha vida pessoal.”

 

“Talvez essa não seja uma má ideia, Baek”, Suho considerou. “Você teria maior propriedade para falar do que viveu e poderá alterar o curso da história para seus personagens. Toda história merece ser contada, mesmo as que você acha que não tem futuro.”

 

“Não quero que ele pense que eu escrevi por causa dele”, Baekhyun murmurou.

 

“Mas você está escrevendo por você”, Suho reiterou. “Se é a sua história e é o que ronda a sua mente, é o que você deve fazer, Baek. Talvez isso ajude a clarear seus pensamentos a respeito de seu ex-namorado ou sobre seus sentimentos a respeito dele. Não estou sugerindo novamente que você ainda é apaixonado por ele, mas eu poderia estar.”

 

Baekhyun riu porque era tão absurdo que não tinha sequer uma resposta para devolver. Joonmyeon era tão teimoso quanto si mesmo e não tirava da cabeça quando uma ideia lhe acometia. Talvez por isso se dessem tão bem e soubessem lidar um com o outro, já que sabiam quando dar o braço a torcer pela teimosia alheia. Se Joonmyeon achava que ainda estava apaixonado por Chanyeol, palavra nenhuma vinda de Baekhyun poderia dissuadi-lo desse pensamento.

 

Não que Baekhyun estivesse, é claro que não estava. Sabia perfeitamente separar os campos de sua vida e sua ideia de escrever algo semelhante ao que viveu com o ex-namorado não passava de uma mera coincidência de sua mente sempre tão ativa.

 

“Não sei o que seria de mim sem você, Joonmyeon”, Baekhyun riu, no mesmo instante em que ouviu o clique da porta.

 

“Se eu não sou a melhor pessoa da sua vida, não sei quem seria”, Joonmyeon se gabou, sem perceber o novo visitante no quarto de seu amigo.

 

“Dizem que não podemos contrariar os loucos”, Baekhyun concordou. “Tenho que desligar agora, Suho. Volte a dormir e finja que eu nunca o acordei.”

 

“E esquecer o dia em que você finalmente me deu razão? Jamais”, Suho riu. “Até outra hora, Baek.”

 

Desligaram a chamada, mas, diferente do que Baekhyun esperou, não ouviu nenhum barulho vindo de Chanyeol. O mais novo continuava parado próximo à porta, encarando-o como se estivesse estudando alguma situação e não soubesse como lidar com o que acontecia. Baekhyun não entendeu sua reação, já que Chanyeol provavelmente zombaria de si por algum motivo e se jogaria em sua cama, sem se preocupar em aparecer na web cam alheia.

 

“Não precisava desligar só porque eu cheguei”, Chanyeol deu de ombros, passando em direção à sua cama. “Não queria atrapalhar nada.”

 

“Joonmyeon só estava me enchendo a paciência com suas ideias malucas, como faz todos os dias”, Baekhyun respondeu. “Precisamos parar enquanto é saudável por dia.”

 

“Vocês pareciam estar se divertindo bastante”, Chanyeol comentou, os olhos focados na tela de seu celular e não percebendo os olhares que Baekhyun o lançava.

 

“Naturalmente. Somos amigos”, Baekhyun concordou.

 

“Não me recordo de vê-lo rindo assim para os nossos amigos há algum tempo”, Chanyeol continuou.

 

Baekhyun ergueu a sobrancelha. “Você não me vê há um ano, não tem como afirmar isso.”

 

“Isso não quer dizer que não perguntei de você a eles”, Chanyeol explicou. “Porque eu… Hm, eu me preocupava com como você ficaria estando sozinho depois da faculdade.”

 

“Bondoso da sua parte”, Baekhyun comentou, sem acreditar em uma palavra de sua justificativa. “Isso por acaso é ciúmes ou eu realmente desaprendi a lê-lo com o ano que se passou?”

 

“Ciúmes? Do que eu teria ciúmes se não temos mais nada?”, Chanyeol se defendeu. “Eu só comentei sobre como você parecia estar se divertindo, isso não quer dizer nada. Você se diverte com as pessoas que quiser, eu fico feliz que você siga sua vida bem e feliz também.”

 

Baekhyun não pôde se impedir de rir porque Chanyeol com ciúmes era uma cena que estava desacostumado a ver e era tão absurdo que não tinha outra reação. Sabia que era descabido porque ambos não tinham mais nada a respeito da vida um do outro, mas, ainda assim, achava engraçado como seu ex-namorado tentava esconder seu incômodo com o pensamento de que estava com outra pessoa.

 

Sentia-se quase reconfortado porque se Chanyeol invadiu o recanto mais pessoal de sua mente, onde suas ideias estavam, que também estivesse enraizado em Chanyeol da mesma forma. De algum jeito, estariam sempre presentes nas lembranças um do outro, então que essas lembranças fossem boas e divertidas de alguma perspectiva.

 

“Você continua sendo um livro tão fácil de se ler, Chanyeol”, Baekhyun sorriu, voltando seu olhar ao rapaz deitado na cama do outro lado do quarto. “Mas tudo bem, vou acreditar que você não está com ciúmes do meu agente.”

 

“Você acredita no que você quiser, no final das contas”, Chanyeol respondeu, escondendo o rosto emburrado por detrás do celular. No auge de seus vinte e dois anos, ainda tinha momentos em que se assemelhava a uma criança. “A vida é sempre como uma pintura, não é, de várias interpretações.”

 

Baekhyun concordou, voltando sua atenção ao notebook e ao roteiro que Chanyeol sequer deu atenção, o que Baekhyun agradeceu, já que não estava disposto a ver o jogo virar e ser o alvo das zombarias do Park ao notar as semelhanças entre a vida real e sua ficção. Sentia-se até mais energizado para voltar a escrever depois de se divertir com a situação que Chanyeol criou. Talvez tudo que precisasse para ter seu ânimo de volta fosse um pouco de diversão alheia, sem a autocobrança que sempre colocava em si mesmo.

 

“Só para você saber”, Baekhyun comentou sem olhá-lo, “eu acho bastante antiético me envolver com meu agente, sabe.”

 

Baekhyun não chegou a ver o sorrisinho que surgiu nos lábios de Chanyeol.

 

. . .

 

Baekhyun não estava mentindo quando disse que se sentiu energizado a voltar a escrever, mas sua animação tinha prazo de validade.

 

A quinta xícara de café daquele fim de tarde voltou a ser pousada ao lado do notebook enquanto quebrava a cabeça para tentar encaixar a cena que precisava escrever para a conclusão de seu romance. Havia esquematizado a maior parte de sua ideia, mas não conseguia continuá-la por não conseguir se desprender da realidade que estava intrínseca ao seu roteiro.

 

Dar um final feliz significava que buscava o mesmo caminho para sua vida? Dar um final triste para ficar condizente com o que imaginava que aconteceria após aqueles dias ao lado de Chanyeol também não significava que não conseguia separar seus personagens de sua vida? Nada que lhe vinha à mente parecia ser útil e estava prestes a desistir de tudo mais uma vez, sentindo-se frustrado por chegar tão longe e não saber mais o que fazer.

 

Desistindo de terminar seu roteiro, resolveu iniciar a história e deixar que a vida lhe contasse qual seria o destino final de seus personagens, se teriam o mesmo final ou deixaria que eles seguissem felizes. Reconhecia que a história pedia por um final feliz, mas também sabia que nem sempre finais felizes são os mais indicados para todos os tipos de história. Às vezes as pessoas só não dão certo juntas e insistir no erro seria apenas burrice.

 

Ao menos era isso que Baekhyun dizia para si mesmo, ao abrir um novo documento do editor de texto para começar a rascunhar um prólogo.

 

Sua xícara de café já havia terminado e estava sentindo falta da cafeína rodando por sua corrente sanguínea, pronto para pegar um pouco mais de café até perceber que havia acabado. Praguejou baixinho porque já fora difícil convencer a cozinha do hotel a ceder-lhe uma garrafa de café ao invés das costumeiras xícaras no restaurante do local; não conseguiria fazer isso novamente, mas precisava de café.

 

Tentou focar nas palavras que se desenhavam à sua frente e nos petiscos que havia comprado antes de se enfiar no quarto, expulsando Chanyeol para que fizesse qualquer coisa que não envolvesse ler por cima de seu ombro. No último ano, desenvolveu a mania de escrever sozinho e em completo silêncio, o que não aconteceria se Chanyeol estivesse no quarto já que o mais novo era a encarnação do barulho. Gostava da ideia de estar sozinho com as palavras, sentindo-se confidente delas e ouvindo tudo que tinham para falar.

 

Servia apenas como um meio de condução através de sua mente em direção ao texto, conduzindo suas ideias da melhor forma que encontrava até que pudessem tomar forma e, consequentemente, vida. Adorava ver seus personagens ganhando contornos, densidades diferentes, motivações especiais que os levariam até o final, acompanhar cada processo feito e sentir-se orgulhoso por fazer parte daquilo. Há tanto tempo que não tinha essas sensações que acabava por pensar que havia se esquecido como escrever, mas precisava continuar tentando. Desde seu ensino médio, quando começou a escrever para valer devido os incentivos de Chanyeol, dar vida aos seus personagens era a melhor coisa que sabia fazer.

 

Tentava manter o pensamento em mente para que não desanimasse de escrever como fez das outras vezes, mas se tornava difícil quando voltava a pensar que não tinha o final para aqueles personagens. De que adiantava começar algo se sequer sabia como poderia terminar? Não estava acostumado a atirar contra o escuro, então isso apenas dificultava seu processo criativo ainda mais.

 

Quando Chanyeol voltou ao quarto, encontrou Baekhyun com o rosto enfiado em suas mãos apoiadas ao lado do notebook, as xícaras de café espalhadas pela mesa e o prato vazio onde outrora houve petiscos. Parecia frustrado demais para reclamar que o mais novo voltou antes do horário combinado e isso foi suficiente para Chanyeol perceber que alguma coisa definitivamente não estava certa.

 

“Baek?”, chamou, sentando-se ao lado do rapaz. “Está tudo bem?”

 

Baekhyun ergueu o rosto, surpreso com a chegada repentina do rapaz.”Tudo indo”, respondeu. “Não combinamos de que você voltaria mais tarde?”

 

“Eu estava cansado de ficar dando voltas no quarteirão, se quer saber. Prometo que vou ficar quietinho.”

 

Baekhyun sorriu um sorriso cansado que não combinava com seu rosto. Era sempre tão energético, tão cheio e vida e de coisas para fazer que não o deixavam parado, que Chanyeol se perguntou em que momento o cansaço o venceu mais uma vez para chegar àquele ponto. Gostaria de poder ajudar seu ex-namorado, já que não era porque tinham terminado que não mais se importava com o rapaz. Baekhyun sempre foi uma parte constante de suas preocupações e vê-lo para baixo o colocava no topo de sua lista.

 

“Está tudo bem”, Baekhyun respondeu, dando de ombros. “Não está dando certo, de qualquer forma.”

 

“Você precisa de ajuda?”, Chanyeol ofereceu. “Eu costumava servir de alguma ajuda no passado.”

 

Baekhyun pensou se deveria deixar Chanyeol chegar perto de seu roteiro porque aquilo já soava íntimo demais, mesmo que não houvesse muita coisa que escondesse de seu ex-namorado. O rapaz o conhecia como a palma de sua mão, sabia quando estava mal e como melhorar seu humor, mas sentia medo de que, durante o ano em que estiveram separados, algumas coisas tivessem mudado e Chanyeol já não mais o entendesse como antes.

 

“Eu estava escrevendo, mas não consigo continuar porque não tenho o final da minha história”, suspirou. “E não conseguir terminá-la está me deixando frustrado de novo. Talvez eu seja só um golpe de sorte no primeiro livro.”

 

“É claro que não, você é super talentoso!”, Chanyeol discordou. “Precisa acreditar mais em si mesmo, Baek. Você só está passando por dias ruins.”

 

“Dias que perduram há meses!”, Baekhyun exclamou. “Eu sou um fracasso, Chanyeol. Estraguei todas as minhas relações em prol do meu futuro como escritor, talvez o carma esteja me devolvendo tudo que fiz.”

 

“O universo não é cruel a esse nível”, Chanyeol respondeu, passando um braço por seus ombros. “Você vai conseguir. Eu nunca acreditei tanto em alguém antes quanto acreditei em você, Baek, e você conseguiu da primeira vez, não foi? Não vou deixar que desista agora.”

 

“Ontem você estava reclamando sobre como eu arruinei tudo entre nós dois por priorizar demais o meu trabalho”, Baekhyun o lembrou, “então deveria estar feliz porque não está dando certo agora.”

 

Chanyeol sabia que Baekhyun se tornava especialmente amargo quando magoado. “Eu nunca desejei seu fracasso, Baek, porque sempre fui seu fã número um”, Chanyeol riu baixo. “Eu estava errado também. O término do nosso relacionamento não foi culpa só sua, eu poderia ter lutado mais por nós dois. Nós dois teríamos trabalhos diferentes quando saíssemos da faculdade, então eu deveria ter entendido que o dividiria mais vezes com o editor de texto do notebook.”

 

“Desculpe por tê-lo ignorado tantas vezes. Eu poderia lutar por nós dois, mas estava acostumado que você fizesse isso”, Baekhyun respondeu. “Acho que me acomodar nisso foi a principal razão para que você desistisse de nós dois, então também não estou isento de nenhuma culpa.”

 

“Ambos erramos um com o outro, mas podemos deixar isso no passado e recomeçar, não podemos?”, Chanyeol perguntou. Baekhyun se perguntou se havia um segundo sentido naquele pedido. “Podemos começar comigo te ajudando com suas ideias, como nos velhos tempos. Talvez tudo que você precise seja de uma visão de fora.”

 

Baekhyun não tinha nenhuma ideia melhor, por isso aceitou a ajuda de Chanyeol e mostrou-lhe seu roteiro, pedindo silenciosamente que o rapaz não comentasse nada a respeito da semelhança entre suas vidas e seu próximo rascunho. Havia modificado o máximo possível até que a única semelhança fosse um casal separado que volta a se reencontrar, mas Chanyeol conseguia lê-lo muito bem, sempre conseguiu. Desvendaria seus mistérios, não importava o quanto tentasse esconder.

 

O mais novo não passou muito tempo lendo, mas suas expressões entregavam o que estava achando do que estava escrito. Baekhyun o observava com curiosidade e atenção, analisando cada uma das reações de Chanyeol para saber onde deveria mudar algo ou ajustar alguma coisa. Porém, Chanyeol terminou com um sorriso nos lábios, o mesmo sorriso orgulhoso que costumava ver no dormitório na faculdade quando conseguia terminar alguma coisa e corria para avisá-lo.

 

“Isso está muito bom, de verdade!”, Chanyeol disse. “Parece um romance comum, mas há muita carga dramática entre os personagens para que eles resolvam em poucos dias. Estou curioso para saber o que você fará com eles, porque não confio em você para finais felizes com essa sua visão distorcida de felicidade, Baek.”

 

“Nem tudo acaba em felicidade, Chanyeol”, Baekhyun o recordou. “Talvez eles não terminem juntos.”

 

“Mas talvez, se eles quiserem, eles podem”, Chanyeol argumentou. “Nem tudo precisa ser triste para que a gente conecte com a realidade. A felicidade não é algo concreto, nós a temos em conceitos muito efêmeros. Talvez a felicidade retorne nos poucos dias que eles têm juntos ou talvez ela perdure por mais tempo que isso, se eles lutarem por ela.”

 

“Você sempre teve uma visão muito romântica de tudo, Yeol”, Baekhyun sorriu.

 

“E essa é a primeira vez que você me chama de Yeol de novo, então quer dizer que estamos conseguindo entrar nos eixos”, Chanyeol devolveu seu sorriso. “Acho que alguns casais merecem uma segunda chance, nem que pareça ser tarde demais.”

 

Baekhyun se pegou imaginando se Chanyeol ainda estava brincando com duplo sentido de suas frases, mas preferiu acreditar que seu ex-namorado só era um romântico incorrigível que enxergava a felicidade em tudo. Talvez por isso se completavam tão bem, porque Chanyeol conseguia balancear todo o pessimismo que o abatia de vez em quando. Por mais que fosse alguém proativo e energético, Baekhyun tinha seus momentos de fracassos, mas Chanyeol sempre esteve lá com uma mão estendida para ajudá-lo.

 

Talvez por isso as coisas não estavam dando certo nos últimos meses.

 

“Mas de nada adianta porque eu não tenho um final para os dois, então não consigo começar a escrever.”

 

“Você sabe o final da sua vida, Baek?”, Chanyeol o perguntou e Baekhyun negou com a cabeça. “Mas isso não o impede de vivê-la, não é? Por que teria que ser diferente com seus personagens?”

 

A pergunta o pegou de surpresa porque não havia pensado dessa forma. Gostava de ter o controle em suas mãos, saber que não poderia sair dos trilhos porque havia planejado cada pequeno detalhe, mas ver da perspectiva de Chanyeol deixava as coisas um pouco mais amplas. Poderia deixar que seus personagens seguissem sua vida e, conforme o curso da história seguisse, saberia exatamente qual final seria perfeito para ela.

 

“Podemos começar?”, Chanyeol perguntou. “Eu tenho algumas ideias e você pode dizer o que se aplica ou não!”

 

Ver Chanyeol tão animado novamente fez com que Baekhyun voltasse a sorrir, ganhando ânimo para continuar escrevendo. Não tinha disposição para continuar trocando farpas com o rapaz, então aceitaria o tratado de paz proposto por Chanyeol e recomeçariam. Talvez as ideias de Chanyeol pudessem trazer novos ares para seus personagens, novas nuances de vida, e fosse exatamente o que precisava para continuar sua história. Independente do resultado, as palavras de seu ex-namorado já foram suficientes para que ganhasse confiança novamente no que devia fazer.

 

Talvez viajar para Paris não tenha sido uma decisão tão ruim e dividir quarto com Chanyeol não fosse tão desastroso quanto imaginou que seria. Sentia que finalmente estava entrando nos eixos, com as palavras certas, e sua mente poderia voltar a trabalhar com fervor como estava acostumado. Chanyeol ainda estava trocando sorrisos consigo e a mágoa que carregavam um do outro se dissipava aos poucos. Poderiam terminar aquela semana como os bons amigos que outrora foram, compartilhando suas experiências de vida e motivando um ao outro como só eles sabiam fazer.

 

O fim de tarde em Paris nunca pareceu tão bonito para Baekhyun quanto naquele momento, enquanto discutia com Chanyeol as possibilidades para sua história. Deixaria que a vida seguisse seu curso para seus personagens e que ganhassem seus destinos finais de acordo com suas próprias escolhas, desejando secretamente que isso também acontecesse consigo.

 


Notas Finais


Por hoje é só! Espero que tenham gostado; qualquer coisa eu to aí nos comentários ansiosa pra saber o que acharam, no twitter que é o @iambyuntiful e aceitando recadinhos no https://iambyuntiful.sarahah.com/ <3

Vou avisar aqui também que eu tenho uma conta para ficlets agora! Pra manter tudo organizadinho bonitinho, caso vocês gostem de histórias curtas, não deixem de me seguir no @hernameisbarbs.

Nos vemos na próxima semana~! <3


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