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História Not a love story - New plans, new directions - Donna



Notas do Autor


Eita, que as atualizações demoraram. Mas estamos de volta, sim!
Mais um capítulo para vocês se divertirem!

Capítulo 47 - New plans, new directions - Donna


Eram quatro da manhã quando fui acordada por um sacolejo conhecido, seguido por um sussurro chamando meu nome. Abri os olhos e me virei na cama, vendo uma sombra sobre mim.

- Bom dia, O’Brien – ele disse.

- Bom dia, Agente – respondi, simplesmente.

Confesso que nos primeiros dias eu havia levado um susto e o misterioso agente havia necessitado tapar minha boca para abafar meu grito. Mas hoje, exatamente um mês após eu ter ligado para Colin, o cenário estava muito diferente. Tudo estava diferente.

Desde aquele dia, o misterioso agente praticamente morava em minha casa. E o mais estranho: eu nunca havia visto o rosto dele e nem sabia seu nome. Aquilo me incomodava muito.

Tudo bem, eu sabia que esse tipo de informação poderia prejudicar as investigações. Mas o fato de eu ter trabalhado com a CIA antes deveria contar em algum momento, não?

Senti que sua presença afastou-se para a cozinha. Ao mesmo tempo, a luz do banheiro acendia. E isso lembrou-me da mudança mais irritante que ocorrera nesse mês: todos os interruptores de luz haviam sido desativados e as lâmpadas eram acesas por via remoto. Cara, isso era tão horrível! Eu não conseguia nem mesmo encontrar minhas lanternas! Tudo isso para não acender a luz e ver a cara dele? Ele era tão feio assim?

Ri mansamente enquanto colocava uma touca nos cabelos e me encaminhava para o banho. Eu havia chegado tão cansada na noite anterior que havia me dirigido direto para a cama. Imaginei que a água estava carregando todo o estresse, toda a angústia, toda a raiva do último mês. Dez minutos depois eu saía e me dirigia para o quarto enrolada em uma toalha.

O Agente estava parado lá, ao lado da cama.

- Esta é a roupa que irá usar hoje – disse, apontando para um transterno em cima da cama – Te espero na sala, daqui a trinta minutos.

O fato de eu não reclamar mais não queria dizer que concordasse com esse ponto de nosso, hum, acordo. Passei noites discutindo isso com Colin e ele foi incisivo a respeito de minhas roupas. Não que elas fossem feias ou que eu andasse malvestida.

- Donna, ainda que Gosling sinta algo a seu respeito, precisamos que você o incite um pouco – ele havia dito na ocasião – A conexão entre vocês precisa evoluir a nível íntimo.

Eu detectei a essência preconceituosa do discurso dele; sabia que não era por mal. Lembro-me que o Agente, que à época ainda espreitava nas sombras, precisou falar algo.

- Não se trata de usar seu corpo, O’Brien – a voz dele soou de forma peculiar pelo recinto; eu a conhecia de algum lugar – Se trata de alterar levemente a forma como você se apresenta.

Respirei fundo e tratei de me apressar. Assim que terminei de calçar os sapatos, peguei minha bolsa e rumei para a sala. Imediatamente as luzes do quarto apagaram.

O Agente me esperava. Eu podia ver sua sombra ao lado da janela.

- Esta pronta? – indagou-me.

- Sim, estou – respondi.

Aquela voz realmente pertencia a alguém de meu círculo social, mas eu nunca conseguia associa-la a um rosto. Havia algo no modo como seu timbre ecoava em minha casa, algo na maneira como ele proferia as palavras, que fazia com que eu questionasse minha sanidade. Será que eu realmente o conhecia? Ou sua voz seria apenas similar a de outra pessoa?

Quando as perguntas começavam a pipocar em minha mente, as palavras de Colin voltavam com força total a minha memória: Nosso amigo aqui trabalha para os dois lados. Então o Agente deveria trabalhar no “Centro” e se o tal “Centro” estava ligado ao Colégio Gosling... logo ele também estaria trabalhando lá.

Um mês. Um mês pensando nas mais fantásticas teorias sobre como os caminhos de Ryan, do Agente e do tal Centro se encontraram. E em que circunstância eu teria ouvido a voz do Agente anteriormente para não me importar com ele a ponto de ignora-lo.

Engoli em seco, atentando-me ao presente.

- Hoje o prazo de seu aviso prévio vence – ele falou, dando alguns passos – Gosling deverá fazer algum apontamento a respeito.

Caminhei para o divã, colocando a bolsa ao meu lado.

- Eu tinha me esquecido disso – confessei – Ele disse alguma coisa a você?

Ouvi um barulho estranho; o Agente estava abafando o riso.

- Bem, eu acho que certas reações devem ser espontâneas. Vou dar a você o prazer de descobrir por si mesma. Entretanto, o procure para saber o resultado. Mas vá sabendo que ele vai te negar.

Suspirei.

- Não entendi o porquê do mistério. Você acabou me dizendo a decisão dele! – retruquei.

- Você entenderá.

Continuei olhando para ele, ou melhor, para a sombra dele.

- Ele negou sem nem ao menos ponderar a respeito?

O Agente respirou fundo.

- Ele ponderou sim. E muito. Cogitou atender a seu pedido de demissão, O’Brien.  Mas precisei interferir pelo bem de nossa investigação.

Balancei a cabeça, confirmando que havia entendido.

- O Centro têm problemas também e Gosling precisa se concentrar. Se você cumprir seu papel e firmar o vínculo entre vocês, ele compartilhará mais do que apenas informações administrativas – ele olhou para o relógio - Está na hora.

- Até mais, Agente - me despedi.

Fui para a garagem e aguardei dentro do carro enquanto portão abria sozinho.

-=-=-=

Assim que coloquei minha bolsa em cima da mesa, o telefone bipou.

- Donna, venha me ver às nove horas.

Estranhei aquilo. Nas últimas semanas o Agente havia me informado que possivelmente Ryan iria ficar insuportável. Eu deveria estar sempre atenta e reportar todo e qualquer comentário que ele fizesse – e gravar as minúcias do que ele dizia não era nada fácil, mesmo para mim.

Retirei o fone do gancho e disquei o ramal.

- Bom dia, sr. Gosling.

- Bom dia, Donna – ele respondeu.

- Vou à cozinha pegar um café. Quer que eu traga algo?

- Hum, o de sempre – ele disse, depois de um pequeno instante de silencio.

Encerrei a ligação e saí do escritório. Ainda era muito cedo, mas pude ver dois ou três alunos vagando vez ou outra. Eu não gostava de chamar a atenção de nenhum deles. Cada um sabia sua obrigação e quais as regras referentes a horários.

Quando estava quase chegando a meu destino, encontrei alguém que não via há algum tempo.

- Dr. Michael – meu tom soou surpreso, quando na verdade eu queria cumprimenta-lo.

- Srta. O’Brien – o médico inclinou a cabeça enquanto falava meu nome – Gosling já se encontra em seu escritório? Nós temos uma reunião marcada para as seis.

Talvez fosse o modo como meus saltos batiam no piso de mármore. Ou, quem sabe, a distância sendo vencida aos poucos enquanto ele falava. Talvez fosse a simples obsessão em dar um rosto para o Agente que me fizeram ouvir o que eu queria ouvir. Eu sabia que estava começando a ficar paranoica. Na semana passada eu cismei que o próprio Ryan poderia ser o Agente! E agora... Dr. Michael entrava para o rol de suspeitos.

Um pensamento nebuloso se formou em minha mente. Havia uma forma de sanar minhas dúvidas...

- Huuum, o diretor está sim. Tenho de levar um café para ele e acabarei por interromper sua reunião, caso você suba agora – comecei – Que tal me acompanhar e assim evitamos que isso aconteça?

Os olhos azulados perderam-se nos meus por poucos segundos. Não dei tempo para que ele pensasse a respeito, continuei caminhando em direção à cozinha, que ficava a poucos corredores dali. Estava certa de que ele me seguia; seus passos eram silenciosos, mas o médico possuía uma certa presença que era perceptível. Ao notar esse fato comecei a ficar decepcionada, pois minha suspeita parecia ridícula.

Entramos na cozinha. Alguns funcionários estavam sentados em mesas circulares, tomando o café da manhã e entretidos em uma conversa animada. O clima era alegre e descontraído, destoando totalmente do restante do colégio.

- Olá, Mary – cumprimentei uma das cozinheiras que estava ao lado de uma cafeteira.

A senhora sorriu para mim e para meu calado seguidor.

- Donna. Você está linda! – ela me elogiou; disfarcei um gemido de desgosto e sorri, inclinando levemente a cabeça – Aqui está o seu café, bem forte, do jeito que você gosta. E esse é o do Diretor – disse, entregando dois copos altos e vedados.

Eu sorri e voltei-me para o calado médico.

- Dr. Michael?

- Sim? - ele piscou, surpreso, depois de alguns segundos.

Indiquei os copos com um gesto de cabeça.

- Eu, hã... Chá preto? – questionou com o cenho franzido; seu desconforto foi impresso em sua voz.

Mary sorriu, solícita, como quem já esperava por aquela pergunta. Eu caminhei para o outro lado, onde selecionei alguns bolinhos, empacotando e colocando-os em sacolinhas separadas.

Precisei me afastar para disfarçar o desapontamento. Estava há quase duas semanas procurando saber quem era o dono da misteriosa voz. Passei por Collins até Ryan; Dr. Michael era minha última cartada.

Observei Mary entregar o mesmo copo vedado a ele.

- Acho que agora podemos ir – chamei-o implicitamente.

Ele apenas acenou, indo na minha frente e abrindo a porta enquanto eu tentava equilibrar os dois copos nas mãos.

- Obrigada – agradeci quando ganhamos o corredor.

-=-=-=

Estava na secretaria devolvendo arquivos e solicitando outros, quando me lembrei da reunião com Ryan às 9h. Fiquei aliviada ao perceber que eram apenas 8:15h. Ainda assim, subi correndo para o escritório. Assim que cheguei lá, depositei as pastas em minha mesa e sentei, acalmando minha respiração pela pequena maratona.

E então escutei os sussurros. Sussurros vindos da sala Ryan, o que era completamente impossível, pois a porta de mogno puro abafava qualquer conversa. Isso significava apenas uma coisa: uma discussão se desenvolvia ali dentro. Ele ainda estaria reunido com o Dr. Michael? As reuniões oficiais eram marcadas a partir das sete da manhã, o que me levava a crer que os dois poderiam ter apenas se juntado para discutir um assunto à parte.

Abri a agenda do diretor, procurando saber se ele teria marcado algo sem que eu soubesse. O horário estava em branco; não havia nada marcado.

Provavelmente o Dr. Michael estaria ali até agora. Ou... Collins.

Respirei fundo, pressionando as têmporas ao pensar em Collins. Todas as vezes que o psicólogo entrava no escritório de Ryan, o diretor ficava frio e distante. Às vezes bastante irônico e com palavras sucintas. Nada que me atingisse. Mas eu sentia como aquela presença atingia o próprio Ryan.

Percebi que os sussurros pararam e tratei de selecionar algumas pastas e abri-las, enquanto ligava o notebook. Poucos instantes depois a porta abria-se.

Um estranho Dr. Michael saiu da sala. Sua mandíbula estava travada e seus olhos (agora cinzentos e frios) encontraram os meus por alguns segundos; curvou a cabeça num leve cumprimento, ao que eu respondi com um sorriso de canto de boca.

Assim que ele saiu para o corredor e fechou a porta da diretoria, Ryan apareceu no limiar do escritório. Sua expressão era indecifrável.

- Donna, se importa de começarmos mais cedo? – perguntou, a voz num tom mais grave do que eu estava acostumada.

Enquanto eu me levantava e me dirigia ao escritório, agradecia mentalmente a sorte de ter sido avisada pelo Agente mais cedo. Ao passar pela porta, senti a respiração de Ryan em meu pescoço e quase ofeguei. Quase.

Eu mal havia dado dois passos quando pisei em cacos de vidro. Estavam por toda a parte. Olhei para a cristaleira de mogno escuro que ficava do outro lado da sala: o vidro estava em pedaços. Os copos não estavam mais ali... Possivelmente eu estava pisando neles naquele exato momento.

A porta fechou com baque e eu sobressaltei-me.

- Ryan – balbuciei, a voz fraca.

Seus olhos verdes capturaram os meus. Eu ainda não conseguia discernir qual o sentimento por trás deles ou por sua postura ereta. Entretanto percebi os contornos escuros ao redor de seus olhos, os lábios contraídos, os punhos fechados. E diante de todo o contexto, de todas as informações que eu tinha conhecimento, essa foi a primeira vez que eu senti medo do jovem diretor.

- Ryan – chamei, a voz ligeiramente mais forte – O que aconteceu aqui?

Ele cruzou os braços e olhou-me de alto a baixo.

- Eu realmente não fazia ideia, Donna. Achei que você era uma simples funcionária que esforçava-se para chamar a atenção do patrão fazendo um bom serviço. Te recompensei, não é mesmo? Um cargo de confiança e um bom salário – ele sacodiu a cabeça, caminhando pelo recinto; parecia contrariado – Nunca é o suficiente.

Meu coração falhou uma batida.

- O que você está insinuando? – perguntei com uma coragem que eu não tinha no momento. O atrito dos sapatos dele com os cacos no chão causavam um efeito quase anestésico em mim; eu só conseguia me lembrar do rosto de mármore do Dr. Michael e da forma como Ryan apareceu à porta logo depois.

- Eu faço tudo o que está ao meu alcance para mantê-la segura, mas parece que... você sempre teve uma tendência a se envolver em confusão. Donna! – ele gritou meu nome, se aproximando perigosamente – Porque não me contou? Por quê?

Um copo voou para uma parede próxima, o cheiro de whisky penetrando em minhas narinas. Meu grito ficou entalado na garganta, congelado pelo choque. Eu nunca, nunca havia visto Ryan daquele jeito. Nem mesmo com os Leto.

- Ryan, eu pos-

Ele levantou uma mão, me calando.

- Ser minha secretária é uma coisa – ele começou, aproximando-se perigosamente – Agora... ter se envolvido com a CIA anteriormente é outra totalmente diferente. Você sabia que eles mantêm seu arquivo pessoal ativo? E ele está classificado como “em missão” – Ryan imitou as aspas – desde o período em que, coincidentemente, estava estagiando aqui?

Senti algo firme e rígido atrás de mim; a mesa dele. Mas antes disso percebi que o rosto dele suavizou, de repente.

- Você não sabia – ele concluiu, sua boca se contraindo levemente.

Eu pisquei. Meu rosto disse o que o choque me impediu de falar. Eu já não entendia mais nada. Em minha mente tudo estava embolado: Ryan, Anastasia, o Centro, a CIA, o Colégio Gosling e seus alunos.

- Não, Ryan, eu não sabia.

Senti suas mãos subirem por meus braços, apertando-os levemente.

- Donna, me perdoe – ele pediu, um tom dolorido em sua voz.

Acenei, mais para me livrar daquela sensação de medo e letargia do que por concordar com a maneira como ele havia insinuado aquilo. Fiz uma nota mental de conversar seriamente com o Agente a respeito daquele “em missão”. Ou com Colin.

- Eu não sinto isso há muito tempo. Nem com Anastasia, por deus! – ele sussurrou, as mãos ainda em meus braços – Tenho medo de que você suma, do nada. Que vá embora. Que evapore – ele riu, nervoso – O que está acontecendo, Donna?

- Eu também gostaria de saber – eu disse, sinceramente; estava claro que evitávamos o óbvio.

- Sei que sente o mesmo – incitou-me, mas eu não respondi; seus braços deslizaram para minha cintura – Porque se afastou de mim?

Eu olhei diretamente em seus olhos. Continuavam verdes. Cheguei à conclusão de que eles ficavam assim quando ele tinha emoções fortes. Dor, raiva, frustração. Carinho, amor, desejo, paixão...

- Isso – apontei para nós dois – é muito clichê. O chefe e a secretária. Dizem que dá uma boa história e até vende muito, mas vamos confessar que já está ficando batido.

Um brilho fugaz passou por seus olhos e então ele se afastou. Senti falta do calor de suas mãos e de seu corpo.

- Eu poderia mudar tudo, aceitando seu aviso prévio – sua voz soou firme – Mas não o farei. Você faz o seu trabalho muito bem e era por isso que eu temia que fizesse diligências nos cartórios. Não queria que descobrisse certas coisas. Como, por exemplo, meu envolvimento com o Centro.

Eu continuava imóvel no mesmo lugar em que estava antes. Mas assim que ele falou a palavrinha mágica, apenas movi os olhos em direção a ele. Ryan não era burro e percebeu minha reação.

Ele retirou o celular do bolso, digitando alguns comandos.

- Alguém descobriu que você... descobriu – virando a tela para mim, pude ver a mesma foto que eu havia tirado no cartório – E enviou para mim.

- O que isso significa exatamente, Ryan? – perguntei, a sombra de uma resposta perpassando por minha mente.

Ele colocou o telefone no bolso e virou-se para mim.

- Significa que tudo mudou – disse simplesmente, caminhando para a janela e observando alguns alunos no pátio – Não vou demiti-la, pelo contrário, tentarei manter você o mais próximo possível. Por segurança.

Aquilo despertou uma onda de fúria em mim. Pensei no Agente que passava a noite acordado em minha casa, controlando minhas luzes e o horário que eu tinha para trocar de roupas.

- Como assim? – não medi meu tom de voz – Preste atenção: eu tirei a foto com meu celular e olhe onde ela foi parar! Isso justifica, sim, o meu pedido. Se quer me ver em segurança, deveria me deixar ir.

Ryan riu. Um riso amargo e quase sarcástico.

- Você não faz ideia com quem se envolveu.

- Eu me envolvi com você! – revirei os olhos – Por acidente, admito.

- Não falo de mim – ele aproximou-se novamente – Falo deles. Tive de tomar uma decisão a seu respeito.

Meu estômago embrulhou.

- A melhor maneira de te proteger quando eles sabem quase tudo a seu respeito é fazê-los acreditarem que você está do meu lado. E acreditando nisso, saberão que fará tudo por eles também.

Engoli em seco.

- Hã? – eu não tinha entendido aonde ele queria chegar. Ou ignorava o fato.

Ryan retirou um lenço do bolso e limpou a cadeira para mim, retirando todos os cacos da mesma. Logo após, forrou o terno no assento e indicou com um gesto para que eu sentasse.

- Muito bem, Donna – disse, após retirar alguns cacos da mesa, onde ele se sentou – Fiquei sabendo que você cursou quatro anos de Literatura antes de fazer Administração.

Era certo eu ainda sentir aquela sensação fria no estômago cada vez que ele falava algo que eu mesma não tinha contado para ele?

- Vou recomendar você para a cátedra de Literatura Inglesa de uma faculdade com a qual temos um, hã, convênio.

- Por quê? – questionei – E o que isso tem a ver com me manter em segurança?

Ele sorriu.

- Suas análises literárias e algumas produções acadêmicas chamaram a atenção de alguém de cima – ele riu – Ele leu apenas por curiosidade, mas digamos que sua filosofia bateu com a dele.

- E ele quis me contratar? Alguém do Centro quer me contratar? – perguntei, um fio de terror escapando por minha voz.

- Como disse antes, sou eu que estou recomendando-a. Mas apenas com um objetivo: mantê-la em segurança.

- Isso não faz sentido! – me levantei e Ryan também – Eu vou estar embaixo do nariz deles!

Tirei meu celular do bolso e mostrei a ele.

- Exatamente com as pessoas que me vigiam – concluí.

Ele se aproximou, concordando.

- Você vai estar tão debaixo do nariz deles, que pensarão que vai se acovardar.  E então deixarão de prestar atenção em você. Até porque todos os holofotes estarão voltados em outra direção – tranquilizou-me – E é assim que eu quero. É desse jeito que tem de ser.

Suas mãos circundaram minha cintura, apertando-a levemente. Seu rosto estava impassível, aparentando uma calma que seus olhos não compartilhavam.

- Ryan – chamei – Eu não concordo com isso. O que vai acontecer com você?

Ele inclinou-se e pressionou seus lábios nos meus. Abracei-o, puxando seus cabelos e abrindo caminho para que ele pudesse aprofundar o beijo. Instantes de paz em meio ao caos das decisões, das emoções, do ambiente em si. Eu sentia que seus braços eram um porto-seguro.

Mais uma vez meu corpo bateu contra algo duro. Ryan havia me empurrado contra a mesa e abria minhas pernas posicionando-se entre elas. Gemi de prazer ao perceber que a mesa não era a única coisa dura ali.

Beijando meu rosto e pescoço, Ryan afastou-se um pouco. Sua respiração estava pesada e o hálito quente batia no meu rosto como a carícia do vento numa noite de verão.

- Comigo? – ele perguntou retoricamente – Precisei de tempo e de assessoria para tomar essa decisão. No próximo semestre você não estará mais aqui, Donna. E somente agora, olhando para você, percebo que para o bem de minha sanidade precisaremos colocar alguns clichês em ação.

Era incrível o modo como as coisas eram irônicas.

Quando eu estava na ante-sala, não conseguia ouvir nada do que se passava no escritório de Ryan. Mas exatamente naquele momento, ouvimos a porta da Diretoria se abrir e passos firmes caminharem do outro lado da porta de mogno. Eu não sabia que ele podia ouvir tudo que se passava do outro lado, como se nenhuma barreira existisse!

Nos levantamos num sobressalto e a velocidade com que reorganizamos nossas roupas foi quase rotineira, como se fizéssemos aquilo todos os dias.

Então, algo estranho e que me perturbou profundamente ocorreu. O telefone tocou, o toque típico do ramal ecoando pela sala.

- Ryan – ele atendeu, a voz seca.

- Você está sozinho? – a voz de Collins soou do outro lado.

Ryan fez um gesto com o olhar. Captei a mensagem e me dirigi rapidamente, quase na dúvida, para a porta embutida ao lado da cristaleira quebrada.

- Sim, pode entrar.

Em dois passos ele atravessou a sala e se pôs ao meu lado. Acionando o mecanismo, destravou a passagem e me deu um selinho rápido, empurrando-me porta adentro e fechando com um baque surdo. Dois segundos depois, o psicólogo entrava no escritório.

Olhei ao meu redor, sem, contudo, dar nenhum passo. Temia que meus saltos fizessem barulho; decidi retira-los assim que percebi o chão limpo e sem nenhum resquício dos cacos da outra sala. Aquele era o único lugar do Colégio que eu não tinha permissão de entrar; ao menos até agora.

Ative-me à conversa do outro lado da porta.

- Onde está sua secretária? – questionou.

Ouvi barulho de gavetas se abrindo e baques secos.

- Aceita? – Ryan deveria ter achado mais copos em algum lugar; balancei a cabeça, desesperada – Donna foi procurar uma funcionária discreta que limpe essa bagunça sem fazer perguntas. É só isso que você quer? Saber onde ela está? Já têm sua resposta; a saída é por ali.

Meu estômago se revolveu; levantei a cabeça e tapei a boca, com medo de que eu vomitasse.

“Deus, o que está acontecendo?”, perguntei a alguém com que não falava há muito tempo.

Ouvi risadas.

- Você têm mesmo muita sorte de ter alguém tão fiel próximo a você – Collins disse – Digo, me lembro de uma fase em que você se comportou como Donna... foi o cachorrinho fiel de Anastasia e por causa dela se juntou a nós, não é mesmo?

Ouvi duas batidas seguidas e o barulho de cacos se espalhando.

- Você me deve dois copos, Collins – Ryan disse entredentes.

O outro ficou calado.

- Eu não me aliei a vocês por causa de Anastasia – explicou – Mas o que ela me contou atraiu minha atenção. Vi sentido naquilo. Vi algo pelo que lutar. Algo pelo que investir. Mas nada disso importa mais, não é mesmo? Tudo está mudado. Vocês todos mudaram o propósito de tudo!

- Mudamos por ora, Ryan. Erros foram cometidos. Assim que as coisas se realinharem, tudo voltará a ser como era. Mas sua insubordinação não levará a nada. E essa garrafa de whisky não lhe ajudará a manter a cabeça em ordem para lidar com os problemas que estamos enfrentando – o tom de Collins era típico de um analista.

Eu o odiava. Nunca odiei alguém tanto. Ryan não era subordinado a ninguém ali, muito pelo contrário... Aquele psicólogo de merda é que lhe devia respeito!

Um alarme soou em minha mente. Um trecho da conversa que tive com Colin voltou a minha memória. Estamos investigando o Colégio Gosling e alguns dos recém-contratados. A voz de Collins pareceu distante e ao mesmo tempo tão audaciosa do outro lado da passagem, que foi como se confirmasse a suspeita que circundava minha mente.

- ...Sei que gosta dela, mas mantenha-a afastada. Conseguimos limpar o Colégio da sujeira dos Leto e agora precisamos lidar com as consequências do envolvimento deles em nossos alvos potenciais. São mentes brilhantes. Não precisamos de distrações. – disse, incisivo – Talvez seja uma boa ideia manda-la de volta para o arquivo.

Reprimi um urro de revolta. Se eu continuasse ali acabaria denunciando minha presença. Dei meia volta no corredor estreito, andando silenciosamente, procurando uma forma de encontrar uma saída que desse em um local apropriado.

A dica que Ryan havia dado – de procurar alguém para limpar a bagunça – era um objetivo a ser cumprido. 


Notas Finais


Hum... Collins, seu empata!


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