História Nova Fase - Oito

Jisoo observou o primo mexendo no celular enquanto esperava a comida ficar pronta, percebeu o sorrisinho pequeno querendo aparecer no cantinho dos lábios dele.

― A comida vai queimar ― Jisoo disse e JongIn pôs o celular na bancada da pia e mexeu na comida, logo desligando o fogão ― Com quem você tanto conversa?

― Um amigo ― falou indo pegar os pratos ― Chama a Julie pra mim, por favor.

― Que amigo?

― Jisoo, por favor ― JongIn resmungou e a Kim bufou indo chamar a garotinha.

Não demorou para Julie aparecer pulando, a menina vestia um macacão de canguru que JongIn havia comprado na internet, ela adorava usar quando estava em casa. Julie sentou na cadeira e esperou JongIn pôr o seu pratinho, por ser filha de uma americana, JongIn fazia o possível para que a filha comesse de tudo, então havia aprendido a fazer outros pratos além dos tradicionais coreanos, queria que ela tivesse uma alimentação vasta e conhecesse o que futuramente poderia gostar ou não de comer com frequência.

― Arroz com almôndegas ― Julie disse animada quando JongIn pôs o prato na mesa ― Papai, não esquece minha colher.

― Aqui, princesa ― entregou a filha ― Jisoo, se você for comer pode pegar na panela, eu não pus na mesa porque está muito quente.

― Eu vou, mas antes quero saber que amigo é esse que você conversa tanto no celular?

― É o tio Soo! ― Julie disse animada e pôs uma colher cheia na boca ― Goto dele.

― Mastiga primeiro, princesa ― JongIn pediu indo buscar o suco e servindo na garrafinha azul da filha ― Aqui.

― Tio Soo? ― Jisoo perguntou pegando um prato ― Quem é o tio Soo?

― O tio Soo, tia! ― Julie disse animada ― Ele é bem legal, eu gosto muito dele mesmo.

― É aquele que eu conheci no supermercado, tio da amiga da Julie ― JongIn explicou e pegou o celular depois que se serviu e sentou ao lado da filha ― Kyungsoo é o nome dele.

― Hmmm ― resmungou ― E o tio Soo trata o seu papai bem, Julie?

― Jisoo.

― Muito bem, ele chama o papai de bonitão ― Julie riu ― Eu acho que ele gosta do papai bobo porque ele faz o papai rir.

― Ele é engraçado, Jisoo ― JongIn tentou explicar e Jisoo tentou não rir ― Só isso.

― Tá bom, eu não disse nada ― ela sentou ― Ele é legal, Julie gosta dele e ele te faz rir.

― É um bom amigo.

― Sei, amigo ― sorriu ― Seu amigo é solteiro?

― Jisoo, isso não é coisa para se falar perto da Julie ― JongIn disse começando a comer.

― O que é solteiro, tia? ― Julie perguntou, o beiço sujo de molho, JongIn sorriu olhando para a filha, adorava vê-la se sujando, na sua visão queria dizer que ela estava tendo uma infância.

― É quando alguém não tem namorado ou marido, por exemplo, eu sou solteira porque não tenho namorado ― Jisoo explicou.

― O papai não tem namorada porque a mamãe viaja muito, então ele é solteiro? ― Julie perguntou e JongIn assentiu ― Ahh... Então o tio Soo é solteiro também, a Yuna disse que ele mora sozinho e o tio Baek fala que ele é largado.

― Julie ― JongIn repreendeu e ela riu ― Não deve falar assim, mesmo que seja contando algo, princesa.

― Então ele é solteiro ― Jisoo sorriu ― Quem sabe você e ele, JongIn...

― O tio Soo e o papai o que? ― Julie perguntou confusa, ela passou um tempo calada até abrir a boca surpresa ― Igual o tio Baek e o tio Chan ― ela riu ― O papai vai namorar o tio Soo?

― Não ― JongIn disse olhando para a filha ― Somos amigos, filha, sua tia Jisoo que só fala besteira.

― Mas porque? A Yuna gosta dos dois papais, eu também quero agora ― disse.

― Não é assim, filha ― JongIn tentou explicar ― Eu e Kyungsoo somos amigos, só isso.

― Mas futuramente, talvez eles fiquem juntos, mas pode demorar ― Jisoo disse e JongIn chutou sua perna ― Porra!

― Palavrão ― Julie esticou a mão e Jisoo ficou incrédula ― Falou palavrão, tia.

― Depois eu te dou a moeda ― Jisoo resmungou ― Mas foi seu pai que me c-

― Come, Jisoo ― JongIn disse encarando a prima ― Pelo amor de Deus, come.

― Papai, podemos chamar o tio Soo pra comer aqui amanhã? Podemos fazer lasanha, eu gosto ― Julie disse e JongIn ponderou um pouco, mas assentiu ― Eba!

― Amigo ― Jisoo riu baixinho ― Tá bom.

[...]

― Baekhyun quer fazer um jantar lá em casa amanhã porque o aniversário dele está chegando e ele quer fazer algo, ele só não veio hoje porque tinha trabalho ― Chanyeol disse aos amigos, Yuna havia ido ficar com os avós ― Mas quero vocês lá.

― Eu só vou se o maridinho do Minseok não for ― Kyungsoo disse e Minseok o encarou.

― Vai tomar no cu.

― Eu gosto de tomar no cu ― Kyungsoo disse e Junmyeon gargalhou.

― Fico com o meu amigão aqui, se o porre do seu marido não for, eu vou ― O Kim disse.

― Vocês só tem essa coisa com o Jongdae porque ele não entra nas brincadeiras idiotas que vocês fazem, eu acho ele muito legal e ele nunca foi ignorante ou coisa parecida comigo e com o Baekhyun ― Chanyeol disse.

― Finalmente alguém falou isso ― Minseok resmungou ― Jongdae pode ser chato em algumas coisas, mas vocês passam do limite.

― Baekhyun nunca me mandou tomar no cu ― Junmyeon falou ― E seu marido mandou assim que eu voltei pra cá.

― Temos um ponto ― Kyungsoo riu jogado no sofá ao lado de Junmyeon ― E ele não gosta da gente porque somos os únicos que falamos o que achamos dele e do ciúme e controle que ele quer ter sobre você.

― Baekhyun e Chanyeol são bons demais pra abrir a boca e se meter com algo que não é a vida e rabo deles ― Junmyeon continuou e olhou rapidamente para Chanyeol que não negou a fala do Kim ― Jongdae é um chato do caralho, eu apenas disse que ele estava bonito e que tinha que tomar cuidado com você ficando velho, Minseok, aí ele me mandou tomar no cu e não foi na brincadeira.

― Ele estava irritado nesse dia, brigou com os pais ― suspirou ― Eu sei que vocês não se dão bem, mas vocês nem tentam.

― Espera, Minseok ― Kyungsoo virou dramaticamente para o amigo ― Pasmem, é ele que não tenta, o meu Deus, quando você vai entender isso, Minseokie?

― Vai se foder, Kyungsoo ― Minseok bufou.

― Eu já falei uma vez pro Kyungsoo e digo agora para você, Junmyeon ― Chanyeol falou ― Não se mete na vida dos outros.

― Eu me meto se for na vida do meu amigo ― Junmyeon disse sério ― Eu não voltei depois de anos trabalhando no meio do nada pra um moleque me mandar tomar no cu porque não sabe brincar, eu não fiquei anos em um barco pra voltar e ver meu amigo que lutou anos para estar na polícia pensando em largar porque um merdinha se acha no direito de decidir o que ele deve ou não fazer sendo que não tem idade nem de conseguir comprar um apartamento sozinho!

― Já resolvemos isso sobre a polícia ― Minseok falou ― Eu vou continuar, ele entendeu depois de uma longa conversa.

― Que milagre ― Kyungsoo resmungou ― Às vezes eu o acho mandão demais e você cadela demais.

― Kyungsoo, enfia essa garrafa no seu cu ― Minseok jogou a garrafa no amigo que riu ― Jongdae só precisa entender algumas coisas, e vocês como mais velhos deveriam ser mais pacientes.

― O marido é teu não meu ― Kyungsoo disse e Junmyeon assentiu.

― O rabo dele quem come é você ― Junmyeon completou.

― Eu já sofria com o Kyungsoo, agora sofro com o Junmyeon ― Chanyeol choramingou.

― Parou de falar do meu marido, vamos falar do namorado do Junmyeon ― Minseok quis mudar de assunto.

― Ah, ele é um puta gostoso ― Junmyeon suspirou ― A melhor coisa foi sentar naquele homem.

― Junmyeon sentando é uma coisa que eu nunca imaginei ― Chanyeol disse rindo.

― É, depois que dei, só quero continuar.

Kyungsoo riu e pegou seu celular, JongIn havia mandado uma mensagem o convidado para ir almoçar com ele e Julie amanhã, sem pensar duas vezes o Do aceitou.

― Né, Kyungsoo? ― o Do virou para Junmyeon ― Chanyeol precisa sentar mais pra parar de ser mal humorado.

― Lógico, Baekhyun já disse que é bom ― Kyungsoo disse e saiu correndo quando Chanyeol levantou.

[...]

Já era noite quando Kyungsoo saiu com Junmyeon para beber perto do apartamento, o Kim tinha sua casa, mas enquanto o namorado não viesse, ele preferia ficar com Kyungsoo, os dois sempre foram mais ligados quando o assunto era falar besteira e beber, Kyungsoo considerava Chanyeol seu melhor amigo entre os três, mas em segundo lugar estava Junmyeon e em terceiro Minseok, Minseok havia descido de posto por causa do marido, ele estava em segundo com Junmyeon, mas depois que casou Kyungsoo passou a não confiar tanto assim no amigo policial, tudo ele parecia contar a Jongdae, e mesmo sabendo como casamentos são, Kyungsoo não conseguia se sentir bem com o amigo falando tudo a Jongdae.

― Depois que Minseok foi embora, eu fiquei pensando ― Junmyeon disse bebendo um pouco de cerveja, estavam em uma mesinha de canto em um bar ― Acha que fui pesado com ele? Eu chamei o marido dele de merdinha.

― Não acho, eu nunca acho nada, Junmyeon, pra mim foda-se ― Kyungsoo bebeu um gole de sua cerveja ― E eu não duvido nada que Jongdae fale é mal da gente, Minseok diz que não nos aproximamos, mas ano passado quando peguei férias, eu convidei ele na maior calma pro meu aniversário e ele foi super ignorante dizendo que não iria e que talvez Minseok não fosse, porque com certeza eu iria fazer o marido dele encher a cara.

― Caralho, eu não sabia disso ― Junmyeon suspirou ― Minseok sempre foi o que se apaixonava rápido, em três anos ele levou um chá de cu e ficou com o cara.

― Eu não vou mentir e dizer que eles não se amam, eles realmente se amam, você vê no olhar dos dois, Jongdae demonstra isso muitas vezes e o Minseok também, o negócio é o Jongdae se achar no direito de decidir pelo Minseok, e ele parece não querer ser meu amigo ou até mesmo seu ― suspirou ― O que me deixa ainda mais surpreso é que o Minseok tem trinta e cinco anos, o Jongdae tem vinte e quatro!

― Idade não define maturidade depois dos dezenove anos ― Junmyeon lembrou ― Mas se ele não quer ser meu amigo e nem seu, foda-se, continuamos amigos do Minseok.

― Mas você sabe que o Minseok é todo emotivo, se não falarmos com o Jongdae ele vai pirar e querer chorar.

― Esse povo precisa de terapia, meu Deus.

[...]

Dia seguinte.

JongIn riu quando Kyungsoo colocou Julie em suas costas, o Kim deixou a louça na pia e observou o Do com sua filha, fazia tempo que não se sentia completo, mesmo que Kyungsoo fosse apenas um amigo até aquele momento, era um sentimento bom.

― Ela é mais calma que a Yuna ― Kyungsoo disse se aproximando do Kim, Julie ficou na sala assistindo desenho ― Yuna não me larga até que eu esteja jogado no chão.

― Pode-se dizer que ela conhece o meu olhar, e eu meio que mandei ela parar ― JongIn disse e Kyungsoo riu ― É sério, minha mãe me chamava atenção apenas pelo olhar e eu comecei a trabalhar isso na Julie quando ela tinha quatro anos, e ela entende.

― Yuna deveria aprender isso também ― contou e sentou na cadeira perto da mesa ― Quer ajuda com a louça?

― Não, obrigado ― disse ― Vou lavar com calma depois ― puxou uma cadeira e sentou ― Você quer alguma coisa?

― Um beijo seu ― disse e JongIn arregalou os olhos ― Fui direto demais?

― Foi ― JongIn sorriu ― Vamos esperar um pouco nisso, senhor?

― Não me chama assim, eu gosto de um kink ― brincou e JongIn gargalhou ― Mas eu espero ― seu celular vibrou e o Do pegou no bolso da bermuda, abriu a mensagem e bufou ― Droga.

― O que foi? ― JongIn perguntou curioso, o semblante de Kyungsoo até havia mudado depois da mensagem.

― Vai ter um jantar na casa do Baekhyun e do Chanyeol hoje, e o marido do Minseok não quer ir, porque o Minseok acabou falando que eu e Junmyeon não iríamos caso ele fosse ― explicou ― Mas foi na brincadeira, Minseok é o maior merda.

― Você não gosta dele?

― Do marido do Minseok? Ah JongIn, eu gosto e não gosto, sabe? Ele é um cara legal às vezes, mas não tanto assim ― disse olhando para o Kim ― Eu não quero ter minha amizade de anos abalada por causa disso.

― Fala com ele então, fala que mesmo que não se gostem precisam conviver pelo Minseok ― JongIn falou ― Eu odeio a mãe da Julie, você não faz ideia, Kyungsoo, mas eu preciso conviver com ela mesmo que seja pouco por causa da Julie.

― Ela ligou?

― Não, eu acho melhor assim também ― suspirou ― O ruim é quando a Julie pergunta, eu entro em pânico e não sei o que responder, algo na minha mente diz que eu estou querendo traumatizar ela se falar que a mãe não está nem aí.

― Quando for assim, você precisa mudar a atenção dela pra outra coisa, por exemplo... ― Kyungsoo pensou e sorriu ― Fala que vai me ligar, acho que ela vai entrar na onda e esquecer que estava falando da mãe.

― Por quanto tempo? Eu não posso ligar pra você todos os dias, Kyungsoo.

― Pode sim, é o que eu mais quero, bonitão ― disse e pegou na mão do Kim ― Você não faz ideia do quão bom é falar com você.

― Porque você gosta de me deixar assim? Eu não sou mais adolescente ― riu e apertou a mão alheia ― Você tem me ajudado bastante indiretamente, sabia? Eu me sinto mais alegre ultimamente.

― Fico feliz por isso, estou aqui pra isso ― falou sorrindo.

[...]

Kyungsoo não sabia como, mas Minseok convenceu o marido a ir para o jantar, o Do observou Jongdae saindo da cozinha e indo a sala, sem que o resto percebesse, Kyungsoo saiu em seguida atrás do mais novo.

― Ei ― Kyungsoo chamou e Jongdae que já estava sentado no sofá, o Kim o encarou ― A gente pode conversar sem você me mandar tomar no cu?

― Eu mando você ir se foder, tomar no cu é pro Junmyeon ― resmungou ― E sim, se você não ficar fazendo piada com tudo.

― Eu te disse uma vez, vou dizer de novo, você é um cara legal e eu até que gosto de você ― sentou ao lado do Kim ― Eu só não consigo entender porque você quer tomar as decisões pelo Minseok.

― Eu não quero tomar as decisões por ele, eu só quero que ele se proteja ― suspirou ― Kyungsoo, quantos anos cada um de vocês tem?

― Eu tenho trinta e sete, Chanyeol trinta e cinco, Baekhyun trinta e dois, Junmyeon trinta e seis ― murmurou ― O que isso tem a ver?

― Eu tenho vinte e quatro ― disse como se fosse óbvio e Kyungsoo fez uma careta ― Eu não faço parte da roda de vocês, eu não me encaixo, eu me encaixo apenas com o Minseok, e é porque a gente se ama, mas com vocês eu não sei como agir, eu não sei o que pensar, na cabeça de vocês eu sou um pirralho chato, quando na verdade eu só quero proteger meu marido.

― Você é novo, mas isso não quer dizer muita coisa, eu sou velho e pareço um adolescente que bebe cerveja dá barriga de um cara aleatório em uma festa ― falou e Jongdae riu ― Talvez você queira ser maduro demais e esteja indo pelo caminho errado, Minseok tem idade para decidir suas coisas e se você continuar querendo decidir por ele, ele vai cansar, e eu duvido que você queira ele cansado de você.

― Claro que não ― bufou ― É só que... Eu não gosto quando ele bebe porque faz mal.

― Tudo faz mal, carinha ― Kyungsoo riu ― Mas aí vocês podem conversar, é isso que o casamento tem de maior, a conversa.

― Eu amo o Minseok, Kyungsoo ― falou olhando para o Do ― Eu o amo muito, acho que desde que o vi fazendo ronda perto de onde eu fazia cursinho preparatório ― o Do riu ― Eu não gosto tanto assim de você, mas obrigado por tentar me entender, e eu agradeço por ter me feito entender seu lado e opinião também.

― Você nunca tentou se aproximar de mim realmente, Jongdae, nem do Junmyeon.

― Vocês fazem piada com tudo ― fez uma careta ― É meio idiota.

― Você é novo e tem alma de velho chato, puta merda ― resmungou e Jongdae riu ―Vejamos velho chato, o que você gosta?

― Em relação ao que?

― Sei lá, televisão, livro.

― Gosto de ler e mal tenho tido tempo pra assistir algo por causa do trabalho.

― Como é trabalhar em um hospital? Todo mundo à minha volta só trabalha na área militar ― perguntou.

― Sabe sangue e agulhas? ― perguntou e Kyungsoo fez uma careta ― É isso.

― Você já viu alguém sem cabeça?

― Claro que não, Kyungsoo!

― Deve ser legal vai.

― Nem pensar ― riu ― Vai se foder, Kyungsoo.

― Eu queria, queria muito foder ― riu.

― Kyungsoo ― Jongdae gargalhou.

Minseok que estava encostado na divisa da sala pra cozinha, sorriu, Kyungsoo poderia brincar com tudo e ser um que só fala merda, mas ele sempre fazia o possível por quem ele ama, até mesmo tentar se aproximar de alguém que nunca lhe deu brecha o suficiente.