Kabru fez alguns planos para o jantar, ele foi para a cozinha e explicou para a cozinheira chefe os muitos desgostos alimentares de Milsiril e pediu para ela fazer um prato que lhe agradaria o paladar, e pediu para um dos servos do castelo ir buscar um dos horríveis bolo de elfos que ela amava tanto. Ele também planejou mentalmente os tópicos de conversa, começando por como seus irmãos adotivos estavam, sobre a vida amorosa de seus irmãos adotivos, então indo para o que ela acreditava que os canários estavam fazendo errado, o que deveria progredir para uma conversa sobre tudo que havia de errado com a sociedade élfica e isso deveria ocupar o tempo todo do jantar até dar tempo dele dizer que estava muito cansado e o jantar acabaria sem qualquer menção sobre Laios ou a gravidez.
A noite chegou e uma das servas trouxe o jantar na sala de jantar privativa onde eles iam comer, ambos lhe agradeceram e então eles foram deixados sozinhos.
“Então como estão os meus irmãos? Perilin ainda está vivendo em casa?”
“É claro. Ela só tem quinze anos.”
“Sim e para os padrões de half-foots, Peri seria considerada uma adulta. A idade de maturidade é quatorze anos para eles.”
“Se ela expressar qualquer desejo de ir embora eu vou ajudá-la, mas até agora esse não foi o caso.”
“E Dario? Ele está gostando da universidade? Eu sei que deve ser difícil ser o único humano em uma universidade de elfos.”
“Ele teve algumas dificuldades no primeiro semestre, mas ele parece estar se enturmando mais agora. E Kabru eu sei o que você está fazendo.”
“Mostrando interesse na vida dos meus irmãos?”
“Tentando me distrair porque você não quer falar sobre o que eu vim aqui para falar.”
Merda, isso costumava funcionar.
“Tá mãe, fale o que você quer falar.”
“Eu acredito que você devia insistir em ser reconhecido como o pai do bebê que o Rei vai ter.”
“Porque você quer netos?”
“Faria me feliz ter netos, mas o meu motivo é porque eu acho que você vai se arrepender se você não o fizer, e eu odiaria ver você perder algo que poderia ter te feito mais feliz. E honestamente eu fiquei bem chocada por essa não ter sido a sua atitude para começar, na minha última viagem para Melini eu fiquei com a impressão que esse é o lugar onde você planeja construir sua vida, e que Laios é a pessoa com quem você gostaria de ficar.”
Kabru sentiu suas bochechas esquentando, ele realmente não achou que tinha ficado tão óbvio assim para ela.
“O Rei não me deu muito tempo para pensar, ele me contou sobre o bebê na manhã, na tarde ele disse que ele ia lidar com a situação sozinho, e no dia seguinte ele já apresentou para o conselho o plano dele de apresentar a criança como sendo exclusivamente dele.”
“Se ele tivesse te dado mais tempo para pensar, você teria dito que você queria ser reconhecido como o pai da criança?” Milsiril perguntou.
“Se isso fosse o que ele queria de mim.”
“E o que você quer?”
“Eu não sei. Só que as coisas voltassem a serem como elas estavam, que Laios não esteja irritado comigo mais.”
“Eu acredito que há maneiras de vocês se reconciliarem, mas mesmo se isso acontecer, as coisas não vão voltar a ser como eram antes, ter um bebê muda as coisas.”
“Eu sei.”
“Você nunca pensou na possibilidade de ter filhos com ele antes disso?”
“Não mãe, por algum motivo eu não achei que eu faria um homem grávido, não foi algo que eu previ.”
“Essa não é a única maneira de ter filhos, você poderia adotar. Foi isso que eu quis dizer.”
“Eu não considerei essa opção.” ele mentiu.
Ele sabia que a resposta real faria ela triste, que ele nunca achou que ele teria filhos, seja biológicos ou adotados, porque ele sempre achou que ele não viveria tempo o suficiente para isso, que ele passaria o resto da sua vida lutando, provando que ele merecia estar vivo e então morreria de uma maneira heroica, pela maior parte da sua vida não haviam pensamentos de filhos e envelhecer quando ele pensava sobre seu futuro.
Isso só tinha mudado um pouco após Laios pedir para ele ficar ao seu lado e ajudá-lo com Reino, que ele decidiu que ele não queria passar sua vida lutando contra monstros. E na primeira vez que Laios o beijou ele teve certeza que ele realmente não queria morrer jovem.
Mas que por causa da posição dele, ele nunca achou que casamento ou filhos seriam uma opção, e que isso não o incomodava muito imaginando que ele poderia ter uma vida perfeitamente satisfatória se lhe fosse permitido apenas passá-la ao lado dele.
“Isso não soa como você.” Milsiril disse.
“Se você diz.”
“Eu quero que você considere um cenário hipotético, você sempre foi bom nesses. Se Laios não fosse Rei, se ele fosse apenas um garoto normal que você viu em uma taverna um dia, vocês dois se dessem bem, namorassem e ele um dia acabasse grávido com o seu bebê.”
“Ele não seria capaz de engravidar se tudo fosse normal, se ele nunca tivesse se transformado em um monstro isso nunca estaria acontecendo.”
“Tá mas vamos fingir que ele se transformou em um monstro e derrotou o demônio, mas não se tornou Rei, alguma outra pessoa foi colocada no trono, mas vocês dois ainda acabaram envolvidos e ele veio te contar que ele vai ter o seu bebê. O que você teria feito?”
“Eu provavelmente não teria agido muito diferente, eu teria ficado chocado e faria perguntas de como ele vai dar a luz, e como isso aconteceu, ele provavelmente ainda ficaria ofendido pelo que eu disse e teria saído do quarto.”
“E depois o que mudaria?”
“Eu não sei, eu acho que eu ainda tentaria pensar de maneiras de lidar com a situação, embora nesse cenário eu não teria que pensar tanto nas implicações políticas da gravidez, e eu me focaria mais no que significa para mim e para ele, seria um problema mais fácil de se lidar com menos variáveis para serem consideradas.”
“Kabru isso não é um problema é um bebê, é uma pessoa, é a sua filha.”
“Ela não vai ser, eu já te disse que Laios tem planos que não me envolvem, só algumas horas depois dele ter me contado ele já me cortou da narrativa.”
“E se ele não fosse Rei, e ele tivesse dito que ele ia lidar com a situação sozinho como você teria reagido?”
“Eu acho que sob essas circunstâncias talvez eu diria que ele não estava sendo muito justo, que eu entendo que como ele é a pessoa que está carregando o bebê que a situação tem mais riscos para ele e que sobre certos assuntos a opinião dele importa mais que a minha, mas que isso não dá a ele o direito de simplesmente revogar meus direitos parentais após a criança nascer.”
“E ele ser Rei te parou de dizer isso porque? Laios não parece o tipo de pessoa que puniria alguém só por discordar dele.”
“Eu sei que ele não faria algo assim, mas ele ser Rei torna a situação diferente. Você me ensinou história, eu não lembro nenhum Rei ou Rainha se casando com alguém do mesmo sexo. Amantes sim, maridos e esposas não.”
“Sim, mas eu não vejo porque vocês não poderiam ser os primeiros. Alguém vai ter que ser.”
“Sim, ser um pioneiro e ser o motivo porque as pessoas param de amá-lo e respeitá-lo. Os anões já acham que ele é afeminado porque ele se recusa a crescer uma barba, o que eles vão achar se eles saberem que ele engravidou de um homem, ou se ele casar com um.”
“Você não sabe que isso vai acontecer, eu não sei porque você sempre espera que a pior possibilidade aconteça.”
“Porque muitas vezes o pior é o que acontece, e é importante estar preparado. O plano dele de não me ter envolvido poderia ser melhor incorporado na narrativa heróica dele, o herói que derrotou o demônio, escolhido pelos deuses para gerar uma criança.”
“Eu não posso ver porque vocês não podem dizer que ele foi escolhido pelos deuses e que ele engravidou de você, mesmo com o seu envolvimento é algo bem fantástico.”
“Cria uma melhor narrativa se eu não estiver envolvido.”
“E para criar uma melhor narrativa você está disposto a continuar se machucando?”
“Sim.”
“E machucando o Laios?”
“Eu não estou machucando ele.”
“Você está, eu vi com meus próprios olhos hoje.”
“Eu acho que eventualmente ele vai entender que eu estou fazendo o que é melhor para ele, vai fortalecer a imagem dele como Rei.”
“E a sua filha, o que ela vai pensar?”
“Ela não vai sequer saber que eu sou o pai dela.”
“Ela vai. Mesmo se ela nascer parecendo mais com o Laios do que com você, nesse ponto pessoas demais sabem que você é um dos pais, eventualmente alguém vai falar, e ela vai ter que carregar esse conhecimento pela vida dela, que você achou que criar uma narrativa melhor era mais importante do que ser o pai dela.”
Kabru já estava sentindo as lágrimas querendo sair durante grande parte daquela conversa, mas agora elas tinham começado a cair.
Ótimo, chorando de novo, eu realmente achei que eu já tinha chorado tudo que eu tinha para chorar hoje.
Ele esperou que sua mãe continuasse falando, mas ao invés disso ela o abraçou e deixou que ele chorasse até que as lágrimas parassem de vir.
Ela o abraçou por um longo tempo naquela noite.
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