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História O dia em que Jaehyun morreu - O que fazer antes da meia-noite?


Escrita por: wias

Notas do Autor


Mais um surto pra vocês meus amores. Eu adorei demais escrever essa. Tive essa ideia ontem, do nada, enquanto estava vendo um vídeo sobre um livro do Jorge Amado (????) Mas enfim, espero que vocês gostem, quero muito saber o que vocês acharam nos comentários, suas opiniões e etc.

Amo vocês <3

Capítulo 1 - O que fazer antes da meia-noite?


“Jeong Yoon-oh, ou também, se preferir, Jaehyun, concedo a ti, e somente a ti, o saber antecipado de sua morte para que se arrependa de seus pecados cometidos em terra e possa adentrar ao Reino Dos Céus e conseguir a vida eterna. Hoje, à meia-noite, encontrarei a ti e o levarei junto comigo para todo o sempre”, disse a voz de Deus — ressonante e profética como um trovão — advinda dos céus.

Correndo até o quarto, Jaehyun percebeu que aquilo não era imaginação sua quando viu uma contagem regressiva iniciada no aplicativo do seu celular. Era então 00:01 e restavam apenas 23 horas e 59 minutos de vida para ele. Tentou diversas vezes apagar a contagem do cronômetro divino — que obviamente não desapareceria, com o mesmo mistério que surgira, permaneceria ali, intocado até à meia-noite.

Jaehyun então contemplou a si mesmo ali, sentado na beira da cama, revivendo todas as suas lembranças como um filme medíocre que passara despercebido em um festival pouco conhecido para entusiastas de cinema independente. E no fim do filme, que não deve ter durado mais do que alguns minutos, Jaehyun deu-se conta de que, apesar de não ter sido a pessoa mais devota a Deus, sua vida fora nada mais do que uma simples fagulha do filme hollywoodiano que poderia ter sido.

“É assim que vou ser lembrado? Como o cara nem fede e nem cheira?”, ele pensou, ignorando completamente a frase “… se arrependa de seus pecados cometidos em terra…”. Tudo o que lhe passava a mente eram todas as situações em que sentiu uma extrema necessidade de fazer algo impulsivo e, no entanto, não o fez. A dor do e se.

Pensou que provavelmente viveria a “vida eterna” em absoluto remorso, o que, para ele, era pior que o próprio inferno. Que inferno poderia ser pior que o fantasma do remorso pairando sobre sua cabeça? 

Após duas horas valiosas perdidas em um carnaval de emoções contraditórias, uma pessoa saltou a mente de Jaehyun, uma pessoa que não tirava da cabeça há tempos. John Jun Suh. O conhecera na universidade há muitos anos e sempre fora extremamente apaixonado por ele, mas como bom medroso que era, nunca teve coragem de falar o que sentia; e assim firmou-se uma linda amizade.

Foi então, no vislumbre da própria mediocridade, que Jaehyun decidiu tomar uma atitude. Resolver viver seu último dia como sempre desejou viver toda a sua vida, indiferente ao perigo e a vergonha. Faria tudo o que gostaria de ter feito e muito mais. Queria ficar marcado como o mais inescrupuloso dos devassos; e se fosse para o inferno, que assim fosse, preferia mil vezes o inferno que passar uma eternidade no céu lamentando-se do que nunca teve coragem de fazer.

Pegou o celular e ligou para Yuta, um grande amigo que há tempos tentava arrastar Jaehyun para a vida noturna.

 —  Tá em casa? — Jaehyun pergunta, impaciente até mesmo para dar boa noite.

— Boa noite para você também. Tô, sim, por quê? — a voz rouca pelo sono sussurrava do outro lado da linha.

— Tá sóbrio?

— Cara… são duas e meia da manhã de uma terça-feira. Gosto de beber, mas também não sou um alcoólatra incurável. 

— Vem me buscar de carro, vamos sair.

— Quê? Cê tá doido? Sair para onde?

— Ainda não decidi, mas chega aqui que eu te explico.

— Tá bom.

Explicaria o quê? Que a voz de Deus, o todo-poderoso, falou com ele numa intervenção divina e disse que ele morreria no final daquele dia? Provavelmente passaria suas últimas horas trancado na ala B da psiquiatria.

Enquanto pensava na melhor desculpa para aquele surto da alvorada, Jaehyun corria de um lado para o outro no quarto procurando roupas de frio para sair. Vestiu alguns casacos grossos e esperou fatalmente em cima da cama, em completo silêncio. Ainda estava em choque com a notícia da sua própria morte.

“Será que vão sentir minha falta?”, sua mente o sabotava.

“Não acredito que perderei todas as músicas novas dos meus artistas preferidos”.

Eram vários pensamentos desse tipo que tumultuavam a mente de Jaehyun, pensamentos que lhe causavam uma intensa balbúrdia sentimental. Sentira raiva, tristeza, rancor, medo, e por muitas vezes também sentiu inveja da ignorância alheia, que não precisariam conviver com o saber antecipado da morte.

Os pensamentos agitados foram cortados pelo bater seco na porta da casa, desacompanhado de qualquer anunciação. Jaehyun pegou o celular e correu para a porta.

— Vamos embora! — disse já correndo para o carro.

— Mas já? Queria pelo menos comer alguma coisa.

— Não temos tempo, amigo.

— E para que essa pressa toda? — Yuta volta para o carro.

— Bem… basicamente, o que está acontecendo é que… 

— O quê?

— Fui diagnosticado com um tumor inoperável no cérebro…

Um silêncio incrédulo se fez presente naquele momento.

— Um tumor inoperável? Espera aí! Desde quando você tá com esse tumor? — a confusão era a máscara no rosto de Yuta.

— Diagnosticado essa semana. Pode se dizer que… tenho pouco tempo de vida.

— Meu Deus, amigo…

— É, viu… MEU DEUS.

— Mas como você tá se sentindo? Já ligou para sua mãe? Contou a mais alguém?

— Yuta… sinceramente, não sei como estou me sentindo. Parece que estou sob um surto de adrenalina. Você é a primeira pessoa para quem falo isso.

— Amigo, acho que você deveria ficar em casa, repousando.

— Que se exploda o repouso! — a agitação transbordava do peito de Jaehyun.

— Eita! Parece que você tá é mais vivo que nunca.

— Vamos. Quero aproveitar esse dia como se fosse meu último.

— E o que você quer fazer primeiro?

Jaehyun conteve a animação por um instante, ainda não havia pensado no que fazer. 

— Acho que, antes de qualquer coisa, precisamos de uma coisa muito importante — Jaehyun disse.

— O quê?

— Bebida.

Yuta apenas sorriu e ligou o carro. Talvez pensasse que toda aquela independência repentina, toda aquela rebeldia, não fosse nada mais do que uma simples fuga da realidade. Mas assim o faria, pois o amigo morreria.

Durante todo o caminho até a mercearia de posto de gasolina mais próximo, Yuta tentava não chorar a perda do amigo, este que parecia estar dopado por uma dose capitante de negação. Não queria fazer aquela noite virar uma depressão fúnebre, mas sim o grande dia daquele que nunca foi.

Pararam em um posto perto de casa, Yuta fora calibrar os pneus do carro, enquanto Jaehyun embrenhava-se nos corredores luminosos da mercearia, à procura de qualquer bebida alcoólica forte o suficiente para derrubar-lhe a percepção da morte. Deparou-se, então, com uma garrafa de Vodca, uma marca que nunca ouvira falar, e também não ousava pronunciar o nome para não cometer o assassinato linguístico. 

Após comprado as bebidas, a vodca e um vinho tinto, Jaehyun encontrou Yuta no carro.

— Quanto ficou?

— Isso importa? Agora é problema do banco.

— Amigo — Yuta soltou-lhe uma gargalhada de nervosismo —, o caloteiro.

— Já morrerei mesmo. Quem cobrará os mortos? Se alguém cobrar-me, puxarei o pé no pós-vida.

— Todos dirão: pobre coitado, morreu com o nome sujo.

Entraram no carro rindo, e por um momento, um instante, esqueceram do real motivo para estarem ali, do motivo da compra de bebidas.

Pararam o carro em um pequeno bosque nos arredores da cidade, um lugar estacionado no tempo, onde a natureza ainda preservava sutilmente a luz das estrelas, com a interferência somente de um poste de luz fraca alguns metros de onde estavam. O carro era a única testemunha das conversas soturnas aconteceram naquela noite.

— Isso tem gosto de morte! — Jaehyun exclamou após bebericar goles ardentes da vodca.

— Você deveria ter comprado um suco ou um refrigerante de laranja para misturar, pro gosto do álcool não ficar tão evidente — Yuta dizia enquanto rodopiava os dedos na boca da garrafa de vinho.

— Misturar com suco ou refrigerante é coisa para criança. Os velhos calejados da vida em botecos de esquina só precisam de uma boa dose de cachaça e um cigarro, e a vida já está feita para eles.

— Mas eles já viram o pior da vida, o gosto amargo do álcool e o tabaco não são nada se comparado a dor de ver se seu mundo desfazendo-se pelo tempo. Você ainda é tão jovem, ainda tem o brilho da juventude e do vigor no olhar.

Jaehyun ficou em silêncio por um instante, incrédulo pelas palavras de Yuta.

— Não entendi. Você está tentando me tirar da depressão pré-morte ou me enterrar de vez?

Yuta riu e levou novamente a garrafa de vinho aos lábios já enrubescidos. Jaehyun deitou-se na grama recém-cortada ao lado do amigo e contemplou o céu estrelado, o seu último. Deu atenção a cada supernova cintilante no céu, como suspiras de um amor não correspondido. Desejou que passasse uma estrela-cadente, não acreditava verdadeiramente na veracidade da sua lenda, mas lembrou-se de que era algo que sempre quis fazer quando era criança. Aqueles filmes glamourosos da Disney onde a criança desejava um amigo querido à estrela e na manhã seguinte acordava com uma estranha criaturinha no seu quarto. 

Ele esperou mais algum tempo por uma, mas ela não veio, as mesmas estrelas solitárias brilhavam fatalmente sobre o céu negro. Que infelicidade, não?

Jaehyun bebericou mais um pouco de vodca e percebeu que não sentia mais a queimação nos lábios e na garganta, seu corpo acostumara com a penitência. Talvez fosse hora de parar…

Yuta, por outro lado, desejava mais vinho, ainda não estava bêbado o suficiente para entorpecer a dor que lhe afligiria, talvez daqui a umas semanas, daqui a uns meses. Ele jamais esperaria que fosse naquele mesmo dia.

— Preciso de mais vinho, eu acho…

— O quê? Olhe para o seu rosto, você já tá pra lá de Bagdá — disse o pra lá de Bogotá.

— Ah, vai pra merda. Ainda dá pra ficar um pouquinho mais — tentou levantar da grama e titubeou para os lados, tentando equilibrar-se. 

— Oh, homem fraco esse, viu! Aprende com quem sabe… — Jaehyun saltou de uma vez e conseguiu permanecer de pé por alguns segundos, tempo suficiente para se exibir, e depois as pernas o falharam e o desabaram. 

Yuta gargalhou alto, ainda bambeando para os lados. 

— Não era você o maioralzão?

— Ah, cala a boca! Olha o que eu tô bebendo e olha o que você tá bebendo… vai comparar?

Seguidamente à risada, Yuta lembrou-se:

— Existe mais alguma coisa que você gostaria de fazer, Jae? — Yuta desmoronou ao lado do amigo.

Ambos, àquela altura, já não falavam coisa com coisa. Estavam mais pra lá do que pra cá. Se conseguissem falar duas ou três frases coerentes já era uma grande vitória.

— Ah… não sei… abóbora… — Jaehyun resmungava, enquanto Yuta sentia o sono chegando lentamente e a voz de Jaehyun ficava cada vez mais distante. — Ta-Tae…

— Hum… quê? — Yuta sussurrou quase inaudivelmente. Os olhos pesarosos, cerrados enquanto Morfeu pairava sobre eles.

— T… Johnny.

E, por fim, dormiram ali mesmo, acompanhados somente do carro e da luz da lua pálida. 

Quando acordaram, já era quase quatro da tarde. Dormiram mais tempo do que deveriam e o relógio divino avançara violentamente. Não sentiram o sol queimar-lhes o rosto, por sorte uma árvore grande projetara uma sombra refrescante durante todo o dia, apesar das diversas posições solares.

Jaehyun inclinou-se para cima, sua mente ainda tumultuava em completo caos, e para piorar, ainda havia uma insuportável dor de cabeça. Os olhos se abriram lentamente e o fulgor vespertino atacava ferozmente sua visão, fazendo seus olhos pulsarem de dor. Olhou para o lado e viu que Yuta ainda cochilava tranquilamente como um neném.

— Ei! — cutucou-o. — Acorda! 

Yuta resmungou em desalento e abriu os olhos, os ferindo, também, com a luz. 

— Que horas são? — a voz rouca de Yuta saíra mais grave e pesada que o normal, um dos efeitos do álcool.

Jaehyun tateou a grama em busca do celular. Quando o encontrou, um desespero descomunal lhe atingira o peito. Percebera que mais da metade das horas haviam se esvaído do cronômetro, já eram 16h45. Sentira que o tempo lhe fora roubado e que nunca mais poderia recuperá-lo. Dera um tiro no próprio pé. Seu peito pesou em angústia, seu coração acelerou e sua respiração descompassou. Estava tendo um ataque de pânico.

— Jaehyun? Você tá bem, cara?

Nada disse, tentava recompor o ar que o deixava mortalmente. Suas unhas começaram a arranhar-lhe a garganta.

— Ei! Ei! Calma, Jae! O que é isso?

— Eu vou morrer. Eu vou morrer. É meu fim!

— Ei, olha pra mim! — agarrou o rosto pálido e gélido do amigo, que se debatia como uma criança assustada. — Você não vai morrer! Olha, tá tudo bem! Você ainda tá aqui… respira.

Yuta encarava visceralmente os olhos castanhos de Jaehyun, e era tão intenso como um abraço de segurança. Seu olhar era real. Companheiro. Sentiu, finalmente, que a escuridão não o alcançaria — por hora.

Gradualmente, o ar tão vital voltava aos seus pulmões, os enchendo de vida. As mãos se encostavam, as palmas de Yuta quentes e aconchegantes, as de Jaehyun, frias como a de um cadáver; mas lentamente a cor e o calor voltavam a si, como um beijo de almas. Os dedos de Yuta roçavam gentilmente sobre as bochechas rosadas de Jaehyun, ele sentiu-se em segurança.

— Tá melhor?

— Tô sim…

— Quer tentar levantar?

As mãos fizeram uma corrente e Yuta puxou Jaehyun para cima. Limparam os vestígios de grama e examinaram ao redor. Não havia ninguém por perto.

— Vamos voltar? — Yuta sugere.

Jaehyun quase disse sim, quase. Sentiu haver outra coisa para fazer, mas não lembrava qual era. Algo que estava falando antes de apagar.

— Ainda não… tem mais alguma coisa. Não estou lembrando o que era. Era algo a ver com o que estávamos falando antes de apagarmos. Você lembra o que estávamos falando.

— É… sobre você misturar suco com vodca?

— Depois disso.

— Perguntei se você queria fazer mais alguma coisa.

— E você lembra o que eu disse?

— Hum… — Yuta forçava sua mente a recordar, apesar de lembrar-se muito mais do eco da voz de Jaehyun e das estrelas. — Acho que era algo sobre… não! Lembro que você falou um nome. Eu acho.

Um nome? 

Recordou-se de quando estava na beirada da cama, um nome havia lhe pairado à mente. 

Johnny.

— Tem mais uma coisa que preciso fazer.

— O quê?

— Johnny.

— O Johnny? O que tem a ver o Johnny? — um silêncio se fez ali, até que, por fim, Yuta entendeu. — Espera! Você é afim do Johnny?

— Nunca tive coragem de admitir isso para ele.

— E aparentemente nem para mim, né? 

— Eu sempre achei que fosse bobagem minha. Mas, agora, penso que eu odiaria morrer sem falar o que sinto de verdade.

— Você acha que tem agora a coragem de falar isso a ele?

— Tenho que ter… 

Entraram no carro e foram em direção ao apartamento de Johnny, enquanto observavam o sol desaparecer atrás dos grandes montes verdes. O sol o deixaria saudade. Jaehyun estava em silêncio no banco do passageiro, testemunhando a beleza e o brilho resplandescente do sol pela última vez, como se fosse a sua primeira. Sentira vontade de chorar. Agora que estava à beira da morte, todas as coisas lhe pareceram belas, mas já era tarde demais para se admirar. Sentiria saudade das ruas pálidas que ganhavam um brilho novo toda vez que a chuva caía, sentiria falta da neve alva que contrastava com o negro belo da noite, tudo isso e mais. Desejou que estivesse nevando, queria sentir-se perto de sua avozinha novamente, como em todo o natal antes de quatro anos atrás. 

Para a sua surpresa, e muito mais a de Yuta, começou a desprender-se do céu suaves flocos de neve, que em poucos minutos transformaram a rua em um grande paraíso gelado, cobrindo cada objeto com um manto branco e fofinho.

Deus sabe o que faz.

— Quê? Do nada neve? Esse aquecimento global ainda acabará com o planeta, viu… — Yuta resmungou, ao que, para os ouvidos de Jaehyun, soou apenas como um eco distante.

Lágrimas desataram dos olhos de Jaehyun, deslizando pela bochecha como uma tinta recém-pintada que escorria pela chuva não imprevista. Mordeu seu dedão a fim de conter o soluço choroso e segurou-se.

O apartamento de Johnny era longe, muito longe, e demoraria algumas horas para chegar lá. Jaehyun tinha medo de não conseguir concretizar seus planos a tempo, antes do cronômetro fechar à meia-noite.

Quando chegaram frente a entrada do apartamento, as lágrimas haviam secado, e o peito de Jaehyun já estava cheio de bravura. Era de noite e o ar frio do inverno instantâneo misturava-se com sua respiração quente e ofegante.  Ele abriu a porta do carro e saiu. 

— Ei… — Yuta o chamou — força lá, viu, amigo. Vou te esperar aqui.

— Obrigado, amigo.

Jaehyun respirou fundo e finalmente entrou no prédio; apertou o número 13 nos botões do elevador e esperou ansiosamente enquanto a caixa metálica voava para cima. Tudo a partir daí até encontrar o rosto de Johnny foi como um borrão em sua mente por conta do nervosismo. Quando se deu conta, Johnny o encarava curioso e espantado com a visita inesperada.

— Jae? Que bom te ver — se abraçaram, um abraço meio sem jeito e nervoso. — O que te traz?

— É… eu preciso te dizer uma coisa.

Johnny percebeu a seriedade no olhar de Jaehyun e fechou a porta, ficando sozinhos no corredor do andar.

— O que foi?

— Isso vai soar esquisito, mas… 

— O quê?

— Gosto muito de você…

Johnny não entendeu muito bem, ou, pelo menos, não queria entender. 

— Eu também gosto de você, ué — soltou uma risada nervosa.

— Mas quero dizer tipo… — parecia estranho para Jaehyun. Sonhava com aquele momento desde que conhecera Johnny, então por que ele não estava conseguindo se ver falando aquelas palavras, naquele dia, naquele momento?

Tudo parecia confuso. 

Foi então, somente proferindo as palavras de sentença que se deu conta de que não era Johnny quem amava, não era dele, verdadeiramente, seu amor. Queria que fosse, mas não era. Era de alguém muito mais próximo.

— Perdão — Jaehyun dá um passo para trás.

— O que foi?

— Não era isso.

— Tá tudo bem, cara?

— Desculpa ter te atrapalhado, amigo. Tenho que ir agora. 

E com a mesma confusão que Johnny ficou ao ver Jaehyun na sua porta, ficou ao ver Jae saindo sem dar nenhuma explicação.

Àquela altura, as pernas de Jaehyun já se moviam por conta própria, tudo o que tinha era apenas uma sensação de queimação no peito, visceral e intensa, uma urgência incontrolável. 

Quando saiu do prédio, seus olhos se depararam com Yuta encostado no carro, as mãos no bolso protegendo-se do frio, bochechas rosadas e lábios ruborizados. Parecia um anjinho no meio da neve branca.

— E então? Deu certo?

— Não… — Jaehyun se aproximava a passos confiantes e rápidos.

— Não conseguiu di… — a fala interrompida.

Yuta não sabia o que havia acontecido, só o que sentia eram suas bochechas esquentarem como se cobertores quentinhos estivessem sobre elas. O toque nos lábios era suave, doce, tão quente que teve a sensação de verão, mesmo sobre a neve cortante. Era como se o próprio sol o estivesse beijando, incendiando-o por dentro com um fogo abrasivo que só poderia chamar de amor. Os olhos se fecharam espontaneamente, Yuta apenas deixou ser levado pelas ondas de Jaehyun, que se rebatiam contra as suas próprias ondas, formando um mar próprio. 

Por um momento, Jaehyun jurou que o próprio cronômetro divino tivesse se contido no tempo, e a neve que caía suavemente sobre seus ombros também parasse para contemplar o fogo e a luz dentro deles. O beijo terno e delicado acompanhado de uma veracidade libertina acenderam ambos os corações como uma vela de homenagem. Uma homenagem à vida.

— Por que isso? 

— Porque sempre foi você. Eu só não conseguia ver.

As mãos delicadas e suaves de Yuta apalmaram o rosto quente de Jaehyun mais uma vez, admirando a pele corada do rapaz.

— Eu amo você, Yuta.

Yuta hesitou por um momento, não porque não sentia o mesmo, mas porque sentira tanta firmeza em Jaehyun como jamais sentira antes.

— Eu também amo você, Jae.

E então, após a declaração dos dois sóis, Jaehyun sentiu a doença, o tumor, acometer-lhe, o cansaço domou suas pernas e o peito esvaziou-se. Ele abriu a porta do carro e sentou-se no banco do passageiro, sentindo um cansaço violento.

— O que foi, Jae? O que você tem?

Jaehyun nada disse. Recostou a cabeça no banco e admirou a luz do poste frente ao carro e como a neve caíra tão lindamente ao seu redor. Ele fechou os olhos e adormeceu para sempre.

 


Notas Finais


e.e hehehe
E então, o que vocês acharam? Quero todas as opiniões nos comentários.


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