História O Drama De Luna (Uma História Sobre Abuso Sexual) - Uma História Pior Que a Outra

Quando eu cheguei no abrigo, fui recebida por um lindo sorriso de Thales, o garoto tinha se apegado muito em mim. Ajudei os pequenos com os deveres de casa e logo resolvi fazer uma brincadeira com eles, brincamos de Caçador e Pega - Pega Corrente, foi muito divertido, os grandes também brincaram e adoraram. A única que não quis brincar foi Malu, que ficou apenas em um canto observando a gente correndo e se divertindo.

-Fazia tempos que a gente não se divertia assim. -Disse Manuelly, de 13 anos.

Ela me sorriu e eu sorri também. Até onde eu sabia Manu não demonstrava sentimentos, nem se estava triste ou chateada e nem se estava feliz. Ela havia sofrido muito, morava apenas com a mãe, uma viciada em crack, a garota via constantemente a mãe se drogar, e um dia a mãe se casou com um homem que passou a tratar Manu como uma filha, ela viu nele o pai que nunca teve, o homem demonstrava pela garota mais amor do que a própria mãe, que parecia desprezar a pobrezinha, só que um dia ao ir buscar Manuelly da escola, ele acabou sendo atropelado e não sobreviveu, então a mãe sempre culpou a garota, passando a maltratá-la constantemente, a queimava com cigarros, obrigava a jovem a ingerir bebidas alcóolicas, e uma vez a mãe bateu tanto na pobre menina que ela ficou dias sem poder caminhar de tanta dor, até que os vizinhos denunciaram a situação, a mulher acabou sendo presa e Manu levada para um abrigo, desde então ela quase não demonstra reações.

Acabo contando para dona Suzy sobre Maytê, ainda não havia dito nada.

-Pobrezinha, tão pequena e já conhece a maldade do ser humano. -Falou.

-Ela está conosco, não quer voltar pra casa, estamos completamente apegados nela e May na gente. É uma criança tão sensacional.

-E por que vocês não a adotam? -Me questionam.

-Porque eu sou muito nova. -Respondo.

-Você sim, mas talvez a sua mãe…

Não tinha pensado nessa hipótese, não era uma má ideia, mas será? Mamãe adorava a May, mas eu não sabia se ela toparia porque mamãe já tinha dois filhos e poderia não querer mais uma a essa altura do campeonato, fora que tem uma enorme burocracia pra adotar, acho que não seria tão fácil, mas não custava tentar, afinal eu já tinha o ´´não´´.

Dona Suzy vai à cozinha falar com o Alfred, o cozinheiro, enquanto eu observo todos aqueles jovens, uns estavam conversando, outros brincando e tinha Malu, que estava sentada em um degrau da escada, agarrada em sua boneca como sempre.

-Oi. -Falei ao me sentar ao seu lado.

Pensei que ela fugiria novamente, mas ela não o fez, ficou ali quietinha.

-Eu sei que você deve estar com medo de mim, e quer saber? Eu no seu lugar também estaria, de repente entra uma pessoa estranha aqui, que você nunca viu, é normal ficar assustada. Mas saiba que eu só quero ser sua amiga, claro se você quiser…

Ela me olha pela primeira vez naquela nossa conversa. Seu olhar estava triste como sempre.

-Não precisa me dar uma resposta agora, mas se quiseres ser minha amiga, eu ficarei muito feliz.

Dou lhe um sorriso e me retiro, deixando que ela pense um pouco. Eu a entendia de verdade e queria muito poder me aproximar daquela menininha, não sabia quanto tempo duraria, mas eu ainda conseguiria isso.

Aos poucos eu ia conhecendo cada um, era uma história pior que a outra e quanto mais eu sabia das histórias deles, mais eu sentia vontade de abraçá-los, de cuidá-los… Dona Suzy me contou também sobre Bárbara, ou Babi, como gostava de ser chamada, ela tinha 8 anos e também possuía o olhar muito triste. Eu já havia a visto algumas vezes, mas geralmente ela ficava sempre escondida. A menina também vivia apenas com a mãe, desde que seu pai abandonou as duas quando a garota ainda era bebê. A mãe que necessitava de dinheiro para pagar as contas da casa e comprar comida, acabou vendo na garota uma nova fonte de renda. Quando Babi tinha apenas 3 anos a mulher passou a fazer fotos e vídeos da filha com trajes e em posições sexys, e não demorou muito para fazer vídeos e fotos da menina nua e acabando por vendê-las. Poucos meses depois a mulher foi além e passou a cobrar de homens de todas as idades para ter relações sexuais com a menina e ainda filmava tudo para vender os filmes ou pôr em sites de pedofilia e ainda obrigava os irmãos mais velhos de Babi (de 10 e 12 anos) a fazerem sexo com a menina para os mesmos motivos. Isso só teve fim após a professora da garota descobrir tudo e denunciar a mãe. Os irmãos acabaram indo para abrigos diferentes, pois Babi passou a não querer ficar perto dos dois.

Nunca pensei que uma mãe fosse ser capaz de uma coisa dessas, vender o corpo da própria filha, isso era tão doentio, tão nojento. 

Ah, esqueci de contar… Todos do abrigo faziam acompanhamento com uma psicóloga duas vezes por semana. Eu havia a conhecido, era muito jovem e um amor de pessoa, todos gostavam muito dela, pelo menos, os que demonstravam sentimentos.

Dona Suzy me falou que no dia seguinte, uma terça - feira, ela não poderia dormir no abrigo, pois teria compromisso e me perguntou se eu poderia dormir lá, confesso que para mim seria meio complicado, mas como eu era novata não quis negar, só lhe fiz um pedido, queria que Maytê dormisse lá comigo, pois eu costumava dormir com ela e acho que nem a pequena gostaria de dormir sem mim, tá, teve a noite que dormi na Naty, mas eu senti muita falta da minha baixinha e não queria ter que dormir longe dela novamente. Dona Suzy concordou. Confesso que estava empolgada para May conhecer o pessoal do abrigo, acho que se dariam muito bem.