1. Spirit Fanfics >
  2. O espectro da prata >
  3. Desamparo

História O espectro da prata - Desamparo


Escrita por: mimiro

Notas do Autor


inspirada em uma cena de junjou romantica, do casal kamijou hiroki e usami akihiko. feita com amor pras markjae shippers. #markjaerise2k16

peço perdão desde já pelos corações fracos,,

ps: diálogos ou cenários em itálico são memórias. a única parte que não é flashback e está em itálico é a carta do mark. bjs

Capítulo 1 - Desamparo


Difícil sobreviver às tristezas miúdas que compõem o dia a dia. Para as grandes dores, sempre há as comoções nacionais, o cortejo pomposo, a multidão solidária nos abraçando com sua força de onda. E quem me salva dessa marolinha constante e tão aguda de aflições pequenas, quase invisíveis? Chorar vira prova de fraqueza; reclamar, atitude de pessimistas. A solução é se arrastar pela orla, com falso sorriso na cara e o coração quebrado no peito.

Carina de Luca

 

———

Mark era sempre o segundo lugar. Era o segundo lugar de seu time de natação, pelo qual batalhava tanto; sempre se incomodou de estar um passo atrás de Jeon. Era o segundo lugar em seu curso, que apesar de ser um dos mais difíceis da universidade, era orquestrado com maestria pelo loiro; mas, inevitavelmente, conseguia sempre ficar atrás de um garoto baixinho com óculos arredondados o qual não se lembrava do nome. Era o segundo lugar até em sua casa, onde o irmão mais novo sempre fora o preferido. Mas nenhuma dessas medalhas de prata incomodava tanto quanto a que Youngjae lhe dera.

Choi se tornou um de seus melhores amigos durante os anos de ensino médio nos quais Mark se esforçou para conseguir entrar no concorrido e penoso curso de física. O mais novo era estudioso e, incontestavelmente, brilhante. Entrou com sucesso na faculdade mais concorrida do país, e não apenas com a melhor nota, mas também no curso mais árduo: medicina. Inegável, Tuan tentou não se apaixonar pelo mais novo; mas o sorriso que o menino de cabelos negros lhe oferecia toda manhã, com os olhos exibindo um cansaço inevitável e, ainda sim, sempre vividos, a tarefa lhe parecia impossível. E apesar de próximos, o mais velho não ousou dizer uma palavra ao outro sobre seus sentimentos, mesmo que estes pesassem em seu coração como os céus pesaram para Atlas.

E pelos cinco anos seguintes da amizade duradoura entre os dois, o mais velho permaneceu assim: escondido, cansado, e penando para carregar um sentimento que o torturava todos os dias. O torturava porque ele sabia da verdade. A fria verdade que o assombrava. Youngjae não era e, mais importante, nunca seria dele. 

O coração cansado do mais novo pertencia a alguém que não sabia o que fazer com aquela joia. Jaebum nunca amaria Choi como Mark amava, e ambos sabiam disso. Sabiam tanto que Jaebum proibiu Youngjae de ver o melhor amigo por meses durante seu começo de namoro. E quando finalmente pôde ver o mais novo, Mark o viu desabar – que fez com que ele preferisse não tê-lo visto em primeiro lugar. Os rastros das lágrimas secas espalhadas pelas bochechas de Youngjae lembravam cicatrizes que há muito não via, profundas e doloridas, e que pareciam nunca parar de doer. 

Foi nesse dia que pela primeira vez, Mark juntou os pedaços do frágil coração, espalhados pelo piso frio de seu quarto. Foi a primeira vez que o loiro colocou uma venda ao redor dos olhos do mais novo e disse, com a voz calma, que lhe faria se sentir amado. Foi também, nesse dia, a primeira vez que teve que recolher seus próprios pedaços do chão. Pois foi a primeira vez que pôde ouvir Youngjae ofegante, com o rosto coberto por um tom rosado, mas chamando por outro nome. Foi a primeira vez que ouviu um tímido “obrigado” saindo dos lábios do mais novo, antes de vê-lo adormecer com um sorriso no rosto; este, causado por uma simples ilusão. Foi a primeira vez que acordou ao lado do mais novo, que descansava a cabeça sobre seu braço com uma expressão calma, mas que ao abrir os olhos, foi capaz de apenas se desculpar e correr para longe do menor com as roupas entre os braços. Aquele dia foi o primeiro em que Mark chorou enquanto pensava em Youngjae. Mas, definitivamente, não foi o último. 

2:53AM

O telefone tocou algumas vezes antes do loiro esticar os braços gélidos para fora do cobertor, com o objetivo de alcançar o aparelho insistente. E apesar de toda a preguiça reunida debaixo das cobertas, Mark saltou da cama como em um pulo ao ver o nome na tela de quem o ligava.

Correu para a porta de seu apartamento e em alguns segundos já estava com os braços ao redor do mais novo, enquanto distribuía selares carinhosos por seu rosto, recolhendo as lágrimas tenazes com os lábios. Mark amava aquele momento em especifico, mesmo que doesse em ambos; eram poucas as vezes que podia se aproximar tanto do amigo sem receber um olhar de desaprovação. Então seu abraço se tornou mais firme, trazendo Youngjae para dentro de casa enquanto fechava a porta com um dos pés.

Guiou cuidadosamente o mais novo até o sofá, onde se sentou primeiro apenas para trazer o outro para sentar-se sobre suas coxas. Youngjae permanecia com a cabeça baixa e preferia ficar assim a encarar o mais velho, então se preocupou em apenas alcançar a mão do outro que o envolvia pela cintura para trançar os dedos. Mark tinha a pele gelada, mas ao mesmo tempo um coração grande capaz de aquecer Youngjae sempre que o menor sentia que não era mais capaz de aguentar.

O relacionamento abusivo que tinha com Jaebum lhe fazia mal, e talvez Youngjae soubesse disso muito bem. Mas aos poucos, os braços firmes de Mark ao redor de sua silhueta fizeram com que os soluços doloridos cessassem, e o choro eventualmente diminuísse. Todavia, mesmo com o pesar em seu coração diminuindo, o enlace do loiro continuou firme ao redor do outro, enquanto seu queixo descansava sobre o ombro do mais novo. Este ousava, vez ou outra, olhar de relance para o rosto cansado do menor.

Quando abriu os olhos, Mark viu que Youngjae não chorava mais, mas mantinha a expressão preocupada de antes. Movimentou as mãos, sinalizando que ambos levantassem, e levou o outro em direção ao próprio quarto. Deixou que Youngjae se deitasse na cama, com os olhos semiabertos e avermelhados, enquanto procurava em seu armário algo para o mais novo vestir.

Escolheu um de seus moletons favoritos e entregou ao outro, que já havia retirado o jeans surrado momentos antes. Youngjae se escondeu, então, entre os edredons que tinham o cheiro do loiro, e esperou que ele entrasse na cama. Observou o mais velho a tirar o casaco batido, deixando os braços e parte do torso a mostra quando revelou a regata larga que vestia. Os olhos do moreno fixados em Mark enquanto ele andava em direção à cama não passaram despercebidos por esse último, que se sentou do lado contrário ao de Youngjae para abrir a pequena gaveta do criado mudo.

Naquele dia, Mark sentiu um toque suave em seu braço no momento que tocava o tecido preto já conhecido. – Hoje não, hyung. – Youngjae solicitou em um murmúrio, fitando o já tão familiar perfil do mais velho. Mark acenou com a cabeça e largou o tecido, que caiu de volta ao seu local de origem. Virou o tronco e deitou-se ao lado do outro, que logo se ajeitou sobre seus braços. A cabeça descansava no ombro do outro enquanto uma das pernas circundava seu abdômen. Mark tomou seu tempo observando o mais novo com cautela, exibindo um tímido sorriso no rosto e um brilho de esperança nos olhos. Naquela noite, ele dormiu repetindo em sua cabeça os versos de uma música.

 

You're dreaming / Or at least you've got your eyes closed / And this dormant love / You've built inside your stubborn ways / Well it’s begging now / For air of the silent breath of change

 

Aquela foi uma das poucas noites em que Youngjae precisava de Mark, e não de uma ilusão. Foi uma das poucas noites em que Mark não ficou acordado. E foi a única manhã que Mark pôde a expressão cansada porém sorridente de Youngjae pela manhã sem nenhum rastro de culpa ou arrependimento.

11:07AM

Esse dia se repetiu tantas vezes que o loiro havia parado de contar. E mesmo quando o casal eventualmente voltou a convergir, Mark continuou fazendo o papel de porto-seguro para o melhor amigo. Sempre que Jaebum lhe machucava – seja com sua grosseria recorrente, ou ao ver o namorado na cama com outro – o mais novo vinha para seus braços com o rosto baixo e molhado pelas gotas que escorriam pela faceta tímida. E com os olhos ao mesmo tempo cansados e preocupados, ele abria a porta de seu apartamento para que Youngjae entrasse – e o fazia mesmo sabendo que no dia seguinte acordaria sem o mais novo ali. Ele abria a porta para que Youngjae entrasse, mesmo sabendo que, assim que o moreno fosse embora, teria que lavar os lençóis sujos enquanto chorava sobre a água turva.

Youngjae, entretanto, não era mal como o ato lhe fazia parecer. Muito pelo contrário: em momento algum suspeitou dos sentimentos do amigo. Mesmo que Mark amasse Youngjae acima de tudo, o maior nunca reparara em nada diferente na sua relação com o amigo; talvez por ingenuidade, ou talvez por que não queria acreditar que Tuan realmente se interessasse, em qualquer instância, por alguém como ele.

Além disso, Mark era conhecido pelos incontáveis casos que tivera ao longo dos anos que passara com Youngjae, mas principalmente durante os quatro anos de faculdade. As noites do mais velho eram preenchidas apenas uma das duas coisas: ou com Youngjae e seu choro incansável, ou com os murmúrios e gemidos de algum desconhecido. Partira diversos corações jovens ao longo desse tempo, e se sentia mal por ser o pivô em tantos choros doídos. Mas o loiro o fazia para esconder sua triste realidade: um coração que não tinha mais chance de ser colado de volta.

E Mark tentou, de verdade, desistir do que sentia pelo mais novo. Nas idas e vindas que os dois tinham, Youngjae se firmou com Jaebum por alguns meses, com a promessa de que o mais velho mudaria de vez (mesmo que, no fundo, acreditar nisso fora só uma desculpa que Youngjae inventou para passar mais tempo ao lado do outro). Mark não depositou sua fé nas palavras vazias do namorado de seu amigo, mas deixou que Youngjae acreditasse no que queria. E nesses poucos meses, o loiro conheceu o único capaz de lhe fazer sorrir sem nem ao menos comentar sobre o amado.

Jackson era gentil. Arrogante, marrento, cabeça-dura, mas com um coração enorme; e era a primeira vez que estava disposto a dedicá-lo a alguém. Conheceram-se porque, bem, todos conheciam ambos. Mark era um dos membros mais dedicados do time de natação (e, de longe, um dos mais famosos), enquanto Jackson, além de seu talento nato para esgrima, devia a popularidade às habilidades notáveis em qualquer esporte.

Não era de hoje que o mais velho dos dois recebia cartas de amor ou declarações de pessoas que ele nem ao menos conhecia. Sua popularidade na faculdade chegava a ser até vergonhosa: Muitos se decepcionavam quando descobriam que o amigo de time, Jeon, que era o capitão, e não Mark. Jackson não foi um desses. Desde o primeiro momento que colocou os olhos no estrangeiro, quis tê-lo por completo. Gostava de Tuan de maneira quase obsessiva, e fazia de tudo para chamar a atenção do outro. Tornaram-se amigos durante uma festa e, desde então, Jackson não poupava esforços para que Mark o notasse.

Então quando o chinês entrou em sua casa pedindo para que aceitasse seus sentimentos, Mark se viu encurralado. Não queria machucar Jackson, pois sabia que ele era um bom amigo, mas se prendia ao amor que sentia por outro. Depois de muita insistência da parte do outro, Mark acabou por aceitar o relacionamento, e passou a dedicar pelo menos uma parte de si àquilo. Infelizmente, não demorou para que a felicidade de ambos acabasse.

Naquela madrugada específica, Youngjae viu Mark expulsar o chinês de casa a gritos, enquanto fazia o mais novo esperar no sofá gelado de couro. Apesar do mais novo chorar para que Mark não fizesse aquilo, ele pôde ver o olhar traído e machucado de Jackson para os dois que ficavam para trás. 

00:42AM

Jackson foi acordado por Mark, que mantinha uma expressão tão calma que o assustava. O mais velho mandou que recolhesse suas roupas e fosse embora, com a voz um tom mais alto que o comum, fazendo com que o chinês se apressasse, mas mantendo seu rosto exibindo a confusão. Depois de pegar tudo que se lembrava de ter trazido consigo, Jackson saiu a passos duros do quarto, apenas para encontrar um Youngjae igualmente apavorado na sala.

Eles se olharam por alguns instantes antes de Jackson começar a derramar as lágrimas doídas. – Porque, Youngjae? Porque justo agora? –, o outro questionou com a voz embargada pelo choro. Youngjae permaneceu parado por alguns instantes antes de começar a derramar suas próprias lágrimas. Assim que o mais velho de todos apareceu no cômodo, Youngjae se jogou aos seus pés, com os olhos vermelhos e expressão suplicante.

– Não faça isso. Por favor. Eu volto outra hora... – Mas logo o moreno foi cortado por seu hyung.

– Você é meu melhor amigo, Youngjae. E eu vou expulsar quem quer que seja para poder te dar o apoio adequado.

Jackson sorriu amarelo com as palavras. Mais cedo ou mais tarde, ele as ouviria. Lançou um último olhar machucado para os dois que permaneciam no apartamento, enquanto abria a porta e ia embora. Assim que a porta foi fechada, Youngjae arqueou as costas e agarrou os joelhos com força, derramando as lágrimas agora sobre o tecido da calça. Mark direcionou a mão para os fios do mais novo, mas sua mão foi bruscamente interrompida por um tapa de Youngjae.

– Eu estraguei tudo pra você novamente. – disse entre soluços doloridos. – E eu estou cansado de fazer parte disso, hyung. Você não merece um amigo péssimo como eu. Faça as pazes com ele, vocês se amam. – Youngjae proferiu com os lábios entreabertos, enquanto se levantava e caminhava em direção a saída.

Assim que tocou a maçaneta, pôde ouvir a voz grossa e embargada do mais velho tentar iniciar uma frase: – Youngjae...

– Desculpe, Mark-hyung. Por favor não guarde essa memória ruim de mim. – Se despediu sem olhar para trás, deixando Mark com os lábios secos e mãos trêmulas.

Não demorou muito para que o loiro perdesse de vez a força nas pernas, caindo desleixadamente sobre o piso gelado. Não fez questão de se levantar; na verdade, deixou o pranto tomar conta de si até que estivesse cansado demais para chorar.

Foi assim que o brilho de esperança nos olhos de Mark sumiu para sempre.

01:23AM

Foi naquele dia que Youngjae decidiu acabar com aquilo. E também foi naquele dia que viu Mark pela ultima vez. Desde então, os dois se separaram de maneira drástica: o moreno permaneceu nos braços de Jaebum, mesmo sabendo que estes abraçavam Jinyoung momentos antes; já o loiro, apenas se afastou.

Não de Youngjae, mas de sua própria vida. Não lhe importava mais se a medalha era de prata ou se ela não existia. Mark simplesmente não ligava mais para sua colocação em ambientação nenhuma. Suas notas, o time de natação, as inúmeras conquistas, seu trabalho, nada disso importava mais. Mark tinha cultivado dentro de si uma dor que não sairia mais dali.

03:17PM

Mark abriu os olhos com cuidado. As janelas abertas de seu apartamento praticamente o cegavam quando dormia suas merecidas dez horas seguidas de sono e conseguia, finalmente, vencer a preguiça.

Não sabia que remédio estava tomando para dormir, apenas tomava e, simples assim, dormia. Mark sabia, no entanto, o quanto do resto de seu salário miserável estava gastando em cerveja. Não lembrava mais da última vez que acordara sem a dor de cabeça latejando em suas têmporas, e se xingava mentalmente todos os dias. Entretanto, nunca parou de beber. Não era um vício, era um refúgio; enquanto fora de si, Mark se esquecia da dor que habitava seu peito. Apenas ria de qualquer idiotice na televisão e vez ou outra chorava com algum romance mal feito.

Ele se perdeu em pensamentos enquanto olhava para o feixe de luz ofuscante que vinha da janela e esquentava sua pele. Por quanto tempo permaneceria dessa maneira ridícula? Levantou-se então do sofá e, a passos lentos, se dirigiu até a cozinha. Passou alguns minutos observando o eletrodoméstico branco encostado na parede, já contendo algumas manchas amareladas em sua superfície. A porta pequena foi aberta com cautela e Mark deu de cara com a sua realidade novamente: um espaço gigantesco preenchido por nada.

Bateu a porta que antes tinha sido aberta com cuidado e se dirigiu com passos firmes ao quarto. Em certo ponto de seu caminho, achou uma garrafa consumida apenas pela metade, e recolheu esta do chão. Sorveu o líquido dentro desta em um gole, o conteúdo amargo e quente incomodando o interior da boca. Arremessou o recipiente longe, fazendo com que este se estilhaçasse no chão, e continuou a caminhada inacabável até o quarto.

Olhou por alguns instantes para o edredom branco já extremamente manchado. – Acho que vou precisar lavar essa droga. – disse o loiro, em um suspiro cansado. A situação do quarto não era diferente do resto da casa, mas o cheiro era, com certeza, bem pior. O dono do cômodo perdeu as contas de quantas vezes havia despejado o conteúdo de seu almoço no tapete que cobria o piso.

Deitou-se, dessa vez em sua própria cama. E, ao encarar o teto, chegou a uma realização cruel: se seu coração doía com Youngjae, agora ele parecia ter sido arrancado de si. Sentia-o doer, sentia-o bater em agonia. Mas estava anestesiado demais para fazer qualquer coisa sobre o assunto.

03:34PM

Mark preferiu a dor aos braços de qualquer um. Passou os seis meses seguintes a ultima visita de Youngjae sobre a cama, com os membros esticados sobre o edredom e rezando por duas coisas: para que seu rivotril fizesse efeito, e para que ele não acordasse no dia seguinte. Nenhuma das duas coisas parecia funcionar e seus olhos pesavam cada vez mais, dia após dia. Permaneceu na média da sala, apenas para completar o semestre, e caindo, novamente, de mais um segundo lugar. 

E o loiro tinha motivos de sobra para odiar Jaebum cada vez mais, e especialmente quando o via andando com um sorriso estampado no rosto, lado-a-lado com Youngjae. Ele sabia de tudo que o outro fazia. Sabia de como maltratava Youngjae. Física e mentalmente. Mas era incapaz de dizer ou fazer qualquer coisa. Os dois homens se olhavam brevemente nos momentos curtos em que se viam no campus, até que o mais novo dos três percebia a troca de olhares e baixava o rosto, acelerando o passo enquanto puxava Jaebum para o prédio em que tinham algumas aulas juntos. 

Novamente, Mark deixava um suspiro cansado escapar por entre seus lábios, enquanto voltava sua atenção para o livro em mãos. 


———
 

            Mark ouviu as batidas insistentes na porta de seu apartamento por alguns bons minutos antes de achar que seria bom ver quem era. Já era madrugada quando começou a receber chamadas de um número que não fazia questão de atender, mas não imaginou que chegaria ao ponto de encontrar o dono da linha em frente a sua casa, com as sobrancelhas franzidas e um olhar sério.

— Você já viu quantas chamadas perdidas minhas tem no teu telefone? Parece que esse celular caro que tu tens serve só de álbum de fotos do Youngjae. — Jackson grunhiu entre dentes, mostrando uma expressão descontente enquanto elevava as mãos frias ao cabelo liso e loiro, quase platinado. — Sai da frente. 

O dia de Mark já não havia sido dos melhores, por motivos dos mais diversos, entre estes: encontrar Youngjae agarrado ao pescoço de Jaebum, enquanto estava a fugir das cantadas incisivas de Jinyoung; ter este último gritando para Im que agora estava com Mark, e que não seria mais “a outra” para o relacionamento dos que a pouco se beijavam; ver o rosto assustado de Youngjae se transformar em uma expressão de decepção, antes de murmurar um “parabéns” e arrastar o namorado para longe dali; estapear merecidamente Jinyoung, que ao ver sua expressão de raiva, deixou escapar um “oh.” esclarecido, antes de deixar claro que havia entendido mais do que Mark queria ter deixado em exposição. 

A última coisa que Mark precisava nesse momento, era de um chinês convencido e marrento na soleira de sua casa, empurrando-o para entrar no apartamento e se jogando no sofá antigo de couro, espalhando mais ainda as incontáveis garrafas de vidro esverdeadas que se encontravam nos mais diversos cantos do diminuto apartamento. 

— Imaginei que nosso ultimo encontro não tenha sido uma surpresa agradável para você. — disse, enquanto fechava a porta. Colocou as mãos nos bolsos do moletom grande demais para o seu tamanho, enquanto se encaminhava para sentar ao lado do outro. — Mas, que eu me lembre, você sempre prezou muito pela educação. 

— Não foi agradável, com certeza. Eu te amava de verdade. — recitou as poucas palavras em um tom baixo e carregadas de mágoa, a voz grave levemente embalada por um choro que parecia trancafiado no peito do outro. — Mas uma surpresa? Eu não sou idiota, Tuan. Eu só sou arrogante demais para acreditar e aceitar que você resolveu ficar comigo enquanto pensava em outro. 

— Ah, me conte sobre essa experiência. Me soa tão nova… — comentou entre um sorriso amarelo, a ironia explicita em seu tom de voz. 

— Não me venha com essa. Você sofre porque quer. Deveria usar essa oportunidade que o Jinyoung está para te dar. 

O mais velho rangeu os dentes, olhando com o canto dos olhos para Jackson. 

— Eu nunca o faria chorar por algo tão egoísta. Ele gosta do Jaebum, então eu o deixarei achar sua felicidade ali. — As palavras saíram mais como um suspiro cansado e irritado. 

— Eu não sei se você já percebeu, mas ele não está feliz. Jaebum o machuca todos os dias, e até mais do que você conseguiu me machucar no nosso último encontro. — grunhiu novamente, apontando o indicador em seu rosto. — Se você foi capaz de me fazer feliz por alguns meses com o pouco carinho que tinha por mim, eu não sei por que se recusa a tentar com Youngjae. 

Mark deixou que a cabeça caísse sobre o encosto do estofado e encarou o teto por um momento. — Como eu poderia fazer ele feliz? A felicidade dele está em outra pessoa. — fechou os olhos lentamente, e lembrou dos poucos momentos de felicidade que tivera ao lado do chinês. Jackson irradiava alegria todos os dias, quase fazendo com que Mark se esquecesse da dor. Mas a pontada em seu peito sempre se fez presente ao ver a figura de Youngjae passar por si e acenar alegremente. 

Jackson tentou. Tentou fazer o outro feliz, de tantas maneiras que nem valia a pena lembrar mais. Deixou o ego de lado para se entregar completamente. Jackson se jogou nesse amor de braços abertos, mas Mark não estava ali para segura-lo. 

Finalmente, o mais novo levantou e se posicionou na frente do outro. — Pare de sentir pena de si mesmo. Tu não mereces isso e nem eu. Eu vou te esperar no seu quarto enquanto você tenta descobrir se ama mais a si mesmo ou ao Youngjae.

Com isso, Jackson andou a passos firmes para o cômodo já conhecido e deixou o outro com os olhos fixados na pequena televisão no centro da sala. Jackson não havia feito uma pergunta impossível de se descobrir a resposta. Na verdade, o mais velho sabia a resposta para aquela pergunta desde sempre: ele sempre amou Choi Youngjae acima de tudo.

No quarto de Mark, agarrado ao travesseiro do maior – que, diga-se de passagem, tinha um cheiro que agradava muito o chinês –, Jackson esperava que ele aparecesse em breve. Não sabia direito se era orgulho ou apenas necessidade, mas queria o outro ali consigo novamente. Lembrava-se da primeira noite na qual o mais velho o conduziu ao quarto de paredes escuras, deixando-o cair sobre o edredom alvo antes de suspirar entre um sorriso por uma última vez naquela noite. Depois disso, seus lábios estavam muito ocupados e concentrados nos seus semelhantes.

04:27AM

Ambos estavam encobertos pelo edredom grosso até o peitoral. Jackson ainda mantinha a respiração levemente ofegante, enquanto se agarrava mais à silhueta do recém-namorado. Não sabia quanto tempo tinham passado ali, juntos e se amando, mas sabia que valia a pena. Mesmo que, vez ou outra, percebesse o olhar distante do maior.

Ainda sim, Mark mantinha o rosto calmo, encarando um ponto qualquer na parede. Por outro lado, o chinês observava o perfil do outro, decorando cada curva de seu rosto e cada feição que via. Que ele era bonito, todos sabiam disso. Mas só quem o via de perto o suficiente sabia que a beleza que Mark Tuan estampava todos os dias em seu rosto ia para além da derme delicada, dos lábios cheios e que esbanjavam cor, do maxilar firme e pontiagudo, dos olhos gentis ou do sorriso digno dos anjos; ele era perfeito, de qualquer ponto de vista.

Jackson sempre soube do que o mais velho carregava em seu coração. Era um fardo e tanto que ele não ousava dividir com ninguém. Talvez por isso seus ombros largos estivessem cansados e tensionados: era uma tarefa difícil demais. Mas o chinês sabia que não podia entrar nesse assunto.

Choi Youngjae era assunto favorito de Mark, mas era também o único proibido entre seus amigos. Ele panfletava em demasia o que sentia pelo mais novo, o que não era bom para quem escondia seus sentimentos há mais de cinco anos.

            Mas mesmo com esse fardo que carregava, ele nunca deixou de portar um sorriso gentil na frente dos outros. Talvez por isso quebrasse tantos corações; porque não era frio o suficiente para que o esquecessem. Mark, na verdade, era puro calor: sempre demonstrou muito carinho por todos a seu redor, e nunca abandonou ninguém, mesmo em seus momentos mais difíceis.

Mark Tuan era assim e ele podia sentir na pele. A tez macia sob seu corpo tinha um toque de calor que Jackson amava demais, tanto que viria a descobrir que nunca seria capaz de esquecer. Suspirou em meio a pensamentos distantes, antes de sussurrar, com a voz rouca e os olhos fechados, — Eu te amo, Mark.

Ele observou pelo canto dos olhos o mais velho lhe mostrar um sorriso triste, amarelado, como se a felicidade que ele queria tanto alcançar estivesse longe demais para que pudesse agarrá-la com seus próprios braços. Ele então lançou um olhar carinhoso a Jackson, que sorriu de volta.

Aquilo era o suficiente para ele. No fundo, ele sabia que Mark não era dele.

05:07AM

Na sala, Mark continuava encarando um ponto qualquer na parede e pensando sobre tudo menos no chinês que já derramava lágrimas no cômodo do lado. Eventualmente, ambos acabaram dormindo. Em cômodos diferentes. E em prantos por motivos diferentes.

Quando Mark acordou, Jackson já não estava mais lá.

E quando Jackson voltou, Mark já não estava mais lá.


———

O ambiente do taxi calmo em meio ao trânsito de Seoul acalmou o coração de Mark na ida para o aeroporto. Se tinha algo que não gostava naquilo eram as longas e caras corridas de taxi até o aeroporto de Incheon, que muitas vezes duravam ainda mais do que o necessário por conta do trânsito no entorno do aeroporto. Mas havia algo de calmaria naquela sensação de fuga. Seu coração diminuiu as batidas apressadas e isso fez com que ele parasse por um instante de pensar no que tanto lhe atormentava.

Mark também não gostava do clima do aeroporto. Uma aura de partida e dor parecia permear o ar; mas, nesse dia em especial, aquilo o reconfortou. Ele estava fugindo sim, fugindo de uma dor que o perseguira por tempo demais. No final, Jackson não estava errado. Mark tinha pena de si e fazia de tudo para fugir da dor que lhe atormentava dia e noite.

Pois o peito já não aguentava mais o sentimento dilacerante. Cada dia, tão perto e tão longe de Youngjae, parecia cortá-lo no meio. E mesmo que os aconchegantes e sombrios metros quadrados de seu apartamento o aprisionassem em uma realidade paralela, as memórias encrustadas nas paredes não o deixariam em paz.

Algumas horas depois, a fila de embarque tinha o jovem loiro dentre os que esperavam. O americano já tinha viajado de avião tantas vezes que nem se lembrava mais do frio do pássaro de ferro. As malas pesavam em suas mãos cansadas enquanto ele procurava por seu lugar no corredor estreito entre as cadeiras do avião.

Não demorou a achar a cadeira de número quarenta e quatro “G”, e se pôs a organizar as coisas no pequeno bagageiro acima de seu lugar. Quando finalmente sentou-se no pequeno espaço que a classe econômica lhe oferecia, aproveitou a conexão de celular ainda presente para digitar uma mensagem curta:

[ Para: Pai, Mãe

Estou indo para casa.

Enviada às: 20h36m. ]

            Não deixou de pensar nos pais nem por um segundo quando se mudou para a agitada capital. Seoul não se parecia em nada com Arcadia; enquanto Seol tinha a cara de cidade-metrópole, com pessoas agitadas correndo pelas ruas e o trânsito comum, Arcadia era um pequeno santuário ao nordeste de Los Angeles com pouco mais de cinquenta mil habitantes. E o loiro nunca se sentiu tão feliz de estar voltando.

            Esperou impacientemente o gigante de aço se encher e o piloto anunciar que partiriam em alguns minutos. Checou o celular antes de desligá-lo para iniciar o voo. E pela primeira vez em alguns anos, ele teve a sorte de seguir em viagem sem ninguém ao seu lado para incomodá-lo. Colocou então, os fones de ouvido, e ligou a música no máximo. Na tela, tocava novamente uma música que o fazia lembrar de alguém que ele queria esquecer.

 

I'll always keep you with me / You'll be always on my mind / But there's a shining in the shadows / I'll never know unless I try

 

            Mark segurou as lágrimas enquanto ouvia a melodia ressoando entre as pequenas frestas dos fones. Encostou a cabeça na janela gelada e esticou as pernas. Por mais apertado que fosse aquele lugar, parecia muito mais reconfortante do que seu apartamento.

            Ele só acordou quando uma das aeromoças teve que sacudir seus ombros, avisando-o da chegada aos Estados Unidos. Coçou os olhos antes de finalmente se levantar e sair do avião com as pequenas malas em mão. Os olhos procuraram pelas escritas conhecidas que indicavam a saída e então Mark começou seu ritual já comum de aeroporto. Pegar as bagagens pesadas, que continham tudo que o loiro tinha, além de passar por diversos seguranças antes de poder, finalmente, chegar ao saguão de desembarque.

Ele teve que esperar por alguns minutos antes de ver a figura conhecida dos pais avançarem em passos largos pelo aeroporto. A recepção foi calorosa tanto no próprio aeroporto quanto em sua casa, onde um churrasco com seus amigos de infância e irmãos fora preparado pelos pais.

Ele estava em casa novamente. Mark não tinha mais certeza do que aquilo seria dali pra frente; ele havia construído uma vida em Seoul, que se resumia aos estudos, à natação e à Youngjae. Mas o que Mark sabia é que por mais que doesse, ele estava em casa.

E é onde seu coração está gravado em pedra.
 

———
 

Youngjae não estava preparado para receber suas notas. Apenas o quarto ano de um longo período de oito anos de faculdade, e suas notas já não eram mais as melhores. Ele culpava a si, ao relacionamento abusivo e a outra coisa para qual não estava preparado: o sumiço do melhor amigo. Quando Jackson apareceu em lágrimas na porta do apartamento dividido com Jaebum perguntando se eles haviam visto Mark, ele soube que não veria mais o outro. 

Naquele momento, sob os olhos suplicantes de Jackson, ele balançou a cabeça levemente antes de pegar sua cópia da chave do apartamento do mais velho e começar correr o máximo que podia. Passou pelos inúmeros residenciais nos arredores do seu, pouco distantes da faculdade, como se não houvesse pessoas na rua. Correu por míseros sete quarteirões, antes de começar a ver a sombra do prédio do amigo. Esbarrou inúmeras vezes em estranhos, recebeu xingamentos e viu amigos preocupados. Mas naquele momento, Youngjae não ligava.

Ele apressou o passo ainda mais ao ver o prédio acinzentado se aproximar; principalmente ao perceber que as janelas do sétimo andar estavam fechadas. Mark nunca deixava as janelas fechadas. O porteiro pediu sua identificação pela primeira vez em anos, mas as palavras trêmulas e incompreensíveis de Youngjae fizeram com que o homem idoso apenas abrisse a porta, deixando o jovem apavorado entrar. Ele não esperou pelo elevador, e no quinto lance de escadas suas pernas já tentavam desistir. Mas o moreno não deixou que isso acontecesse, e continuou a correr as escadarias em direção ao sétimo andar. 

Ao chegar à frente do apartamento setecentos e dois, suas mãos tremiam tentando alcançar a fechadura. A chave, que fora apertada entre os dedos, agora já marcava a pele delicada de Youngjae, enquanto tentava colocar esta na sua devida fenda. E se arrependeu de tudo assim que conseguiu o feito: deu de cara com o pequeno espaço de sessenta e três metros quadrados completamente vazio. 

Naquele momento, Youngjae se lembrou de como Mark não o deixou carregar as caixas de mudança há anos atrás, mesmo que o mais novo estivesse ali para ajudá-lo. “Não quero que se esforce por mim. Você já se esforça demais”, disse o mais velho, com um tom desbotado de vermelho cobrindo os fios que caiam sobre seu rosto, que exibia um sorriso. Completou, fazendo o coração de Youngjae pular uma batida, “Sua companhia me dá forças o suficiente já”. 

Olhou para o teto e lembrou-se de segurar as escadas enquanto Mark tentava instalar as luminárias no teto. Olhou para as prateleiras vazias e lembrou-se das inúmeras tardes nas quais os dois passaram em silêncio, apenas se olhando entre um parágrafo e outro do livro retirado das estantes empoeiradas. 

Youngjae andou em passos lentos até o cômodo já conhecido, e viu ali um vazio onde antes havia a larga cama, coberta de edredons, sob os quais podia sentir o corpo envolto na maciez do algodão; mas também da pele do melhor amigo. Olhou em volta do quarto e pôde ver que não existiam mais fotos dos dois amigos penduradas, e parecia que tudo havia ido embora: tanto Mark, quanto as lembranças. 

Ele olhou também para as paredes em um vermelho-terra forte, e lembrou-se da primeira vez que o outro lhe prensou contra uma dessas, de olhos vendados, mas sentindo o frio que vinha do concreto solido e tomava boa parte de suas costas, enquanto a frente de seu torso ardia em chamas com os toques dos outros. A verdade é que Youngjae sempre odiou aquela venda. 

Odiava tanto que ao vê-la descansando sobre o piso feio da casa, junto de um envelope grosso, teve vontade de jogá-la fora. Mas apenas se aproximou com cuidado, acariciando o pano preto que recobria a venda antes de colocar o pedaço de tecido no bolso. Já o envelope, ele manteve em mãos, apertando gentilmente o papel marrom-claro entre os dedos. 

Ao finalmente abrir o tal envelope, puxou uma longa carta de dentro, junto de uma foto antiga de si com o melhor amigo. Ele se lembrava bem desse dia: Youngjae gostava de parques e, por mais que o loiro os odiasse, resolveram partir em um piquenique. Levou um certo tempo para que Mark se acostumasse com o ambiente, mas logo pôde ver o sorriso encantador do mais velho, fazendo com que seu interior se remexesse de maneira insistente. A foto era linda. Mas nem de longe se comparava a beleza daquele momento em seu presente.

A carta esquecida no chão logo se tornou a substituta da foto, e Youngjae sentiu algumas lágrimas tentando escapar apenas por ver seu nome escrito com aquela caligrafia já conhecida. 

"Youngjae. 

Eu espero que você esteja bem. Eu sei que não é exatamente o melhor momento para esse desejo, mas eu realmente torço por ti. Torço pela sua felicidade.

Desde que você me ofereceu aquele primeiro sorriso, durante uma das poucas aulas que nós tínhamos juntos, eu soube que sua felicidade seria a única coisa que eu deveria cuidar para que permanecesse ali para sempre. Eu soube disso porque, entre tantos olhos cansados, você viu minha quase desistência. Você viu que eu estava à beira de um precipício. 

Você fez parte de mim de uma maneira maravilhosa. Foi o único que viu para além da minha falta de palavras, e só você consegue imaginar o quanto está sendo difícil para mim, colocar em palavras todos esses sentimentos. Mas eu não podia, de jeito nenhum, partir sem lhe deixar uma explicação.

Desculpe-me, Youngjae. Eu não pude evitar. Pra mim foi fácil me apaixonar por ti. Foi fácil, mas doloroso. Eu acho que sempre soube que você nunca seria parte da minha vida. Eu nunca conseguiria roubar teu coração como você roubou o meu. E você nunca me pertenceria. Mas eu sempre lhe pertenci. 

Infelizmente minha única chance de ser feliz foi embora no momento que você apresentou Jaebum pra mim. Mas eu vi um sorriso tão diferente no seu rosto aquele dia, que novamente não fui capaz de dizer nada. Eu nunca fui bom com palavras, afinal. Não é apenas a dificuldade com o idioma que, inegável, é diferente do meu em tudo. Mas é também um medo que me permeou, desde sempre, de dizer a coisa errada.

Parece bobagem minha, mas eu espero que você entenda isso mais do que qualquer outra pessoa. Eu perdi tantas pessoas importantes por palavras erradas. Eu sou ruim nisso. Péssimo, para ser sincero. Não é a toa que eu curso algo que, quando tem palavras, se refere a teorias científicas e não a algo abstrato demais para que eu explique. Eu peço desculpas por ser assim. Eu não queria, mas eu sou.

E acaba sendo ridículo que eu esteja apenas escrevendo uma carta, como se isso mudasse algo. Eu podia ter mudado, podia ter dito que te amava antes do Jaebum entrar na sua vida. Podia ter me confessado inúmeras vezes, mas nunca pude de verdade. Por que afinal, eu sempre soube que você nunca nutriria esse mesmo sentimento por mim.

 E, além disso, pior: dei de cara com o sorriso mais lindo que eu já havia visto, mas com a pior notícia que eu podia receber. Você tinha arranjado um namorado que te amava. Eu não odiei você naquele momento, Jae. Eu me odiei por ter tanta inveja do Jaebum. A verdade é que ele não te merece.

E eu acho, Youngjae, que você tem que começar a se dar mais valor. Falar isso enquanto eu fujo dos meus sentimentos é cômico, eu sei. Mas você não precisa se submeter a um relacionamento como esse por achar que ele é a pessoa certa pra você. Por muito tempo, aliás... Tempo demais, eu insisti pra você achar sua felicidade nos braços de Jaebum. Mas eu não sei mais se isso é possível.

Eu não te mereço, também. Eu te amei esse tempo todo e ainda sim permiti que tudo isso acontecesse. Permiti que ele te machucasse mesmo sabendo sobre Jinyoung desde o início. Permiti que você continuasse se entregando pra ele mesmo sabendo que logo você voltaria e eu tiraria, novamente, a venda da gaveta. Eu permiti que você se machucasse. E com isso, eu me machuquei. 

Mas eu nunca me importei em me machucar. Desde que aqueles momentos fizessem com que você esquecesse a dor por um instante, então já valeu a pena. Porque sabe, Jae... Ele nunca vai amar você como eu te amo. Porque por mais que ele goste de ti, eu nunca te machucaria da maneira que ele te machucou. E é por isso que eu vou embora. Pra não te machucar. Você escolheu uma vida ao lado de quem você quis e o melhor que eu posso fazer é ir embora e torcer para que a sua escolha te faça feliz. 

Eu voltei pra América, onde vou fazer minha pós em física nuclear. Não é pra você ficar triste, mesmo que eu saiba que você é um tanto apegado às minhas panquecas e aos nossos abraços de urso. A realidade é que você merece toda a felicidade do mundo, e eu sei que essa felicidade não vai ser ao meu lado. Mas um dia que vou voltar. Eu vou voltar forte o suficiente para aguentar ver você nos braços de outro. Eu vou voltar forte o suficiente pra ver você feliz e suportar essa dor em paz. 

Enquanto isso... Eu espero que você encontre o que te faz bem.

Eu te amo como eu nunca amei ninguém, e eu não vou esquecer esse sentimento. Muito menos esquecer você. Talvez esse seja meu carma. 

As vezes nós encontramos uma pessoa que começa um incêndio dentro de nós que não conseguimos parar. Mas a mais dolorosa verdade que acabamos por encontrar é que essa pessoa, normalmente, não é a que passa a vida ao nosso lado. 

Não esqueça de mim também, por favor. E não guarde apenas essa memória ruim de mim.

Com amor, 

Mark."

Aquele dia não foi o primeiro em que Youngjae chorou. Mas foi o primeiro no qual o motivo de suas lágrimas tinha um nome diferente do usual: Mark Tuan. 

———

 

“Destino”

Sou estrada. Chegadas e partidas. Das amuras, despeço-me da baía; terra firme, constância. Sou mar. Tempestade e calmaria. Tenho enjoo de maresia, busco atracadouros mil. Sou porto. Encontro e saudade. Um trago amargo, especiaria. Sou escambo. Uma âncora nos olhos, um astrolábio no coração.

Ana Eliza Costa

 


Notas Finais


escrevi essa história faz um bom tempo já. eu sou bastante entusiasta de markjae, e eles tem literalmente 0 shippers além de mim......... triste história. não estou acostumada a ler fics de got7 aqui, mas lia bastante no ao3 (em inglês) e acabei decidindo escrever uma também. e aqui está!!
bom, só deus sabe como eu chorei escrevendo e como eu queria por que queria ter tirado essa carta do final. mas eu achei que ela completaria um pouco a história? acho que de alguma maneira ela completa o plot, tho eu odeio essa coisa de carta.

enfim,, chega de enrolar.
acho que provavelmente vai ser a única markjae da minha vida porque eu chorei demais pelo amor de deus lkfjgldkgjd mas eu realmente espero que gostem, eu me dediquei 200% a escrita dela e quis que ela ficasse bem legal.

eu não me responsabilizo por corações partidos,,,,

obrigado a todos que possivelmente lerão aqui, desde já!
com amor,

miro (ɔ◔‿◔)ɔ ♥


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...