História O garoto do ônibus - Almoço, remédios e bebida

Capítulo 3

O apartamento ao lado era um chiqueiro, foi o que Sasuke concluiu ao entrar onde Naruto residia. Como o filho de Kushina poderia ser tão desorganizado daquela maneira? Tentou achar o amigo em meio ao sofá verde com várias roupas por cima, e nada, e ainda por cima se perguntava como Hinata o aguentava daquela maneira.

- Naruto!

- Fala, Desgraça... – por trás do balcão da cozinha surge um loiro sorridente com uma frigideira em mãos – Como está, Sasuke? Sua noite foi adorável? Sonhou com algodão doce? – perguntou de forma maliciosa ao moreno, que só retrucou com uma carranca.

- Cala a boca – disse o Uchiha tentando manter sua cota de paciência com Naruto pela manhã.

- Calma, Uchiha, sente aí – apontou para o banco de madeira a sua frente – essa sua carranca para mim é fome, ou você nasceu assim mesmo, espere aí que estou preparando panquecas de banana com gotas de chocolate.

- Eu não gosto de doce.

- Sim, eu sei, meu amigo carrancudo, por isso sem gotas de chocolate para você. Apesar de achar que só alguns pedaços não lhe fariam nada mal pela manhã.

O Uchiha tinha que admitir que Naruto cozinha muito bem, até as coisas mais simples. Claro, que nunca diria isso a ele, Kushina tinha esse dom especial, que definitivamente foi repassado ao filho. Se conhecem desde crianças, por causa da amizade de suas mães. Ele seguiu a linha da engenharia de produção, estudou fora do país e Naruto administração na capital mesmo. Sua mãe nunca o deixaria sair totalmente de suas asas, Sasuke vivia falando isso para o Uzumaki, mas o loiro gostava de ser mimado pela progenitora, e ainda administrava os três restaurantes de seu pai, Minato.

 Naruto colocou na mesa uma xicara com café preto e panqueca sem chocolate na frente de Sasuke, e para si panqueca com gotas e chá gelado.

- Diga-me, Uchiha – falava de boca cheia – Quais suas expectativas para seu novo cargo? – tomou um gole do chá

- Nada que deve ser estimulado em uma conversa – disse de forma calma.

- E como são seus colegas? E as mulheres do departamento? – disse enquanto o fitava.

- E a Hinata?

- Muito bem comprometida, obrigada – piscou – mas estou me referindo a você – adotou uma postura mais séria.

- Não...

- Cara... – gesticulava enquanto cortava mais um pedaço da panqueca – você não tem um relacionamento faz seis meses...

- Estou ciente disso

- Ou seja, você não transa há seis meses, eu mal consigo seis dias...- deu um tapinha no ombro do amigo – você é um guerreiro.

Sasuke só revirou os olhos. Idiota.

- A última mulher que você ficou, como era o nome dela mesmo? – juntou as sobrancelhas claras.

- Ariana – eu acho, quis completar

- Quanto tempo durou? – ergueu a sobrancelha

- Oito horas... – viu o loiro mexer a cabeça negativamente – eu não tenho problemas em me relacionar, Naruto!

- Claro que tem!

Olhou o celular e viu que ainda eram seis e meia, pegaria o seu carro na oficina de Jiraya.

- E a garota de cabelo rosa?

- O que tem ela?

- Vai falar com ela?

- Por que a pergunta?

- A tensão entre vocês dois chega a ser cômica...

- Não há tesão... tensão, foi isso que que quis dizer – Sasuke passou a mão pelo rosto

Naruto riu da reação do amigo.

- Você gosta dela – saboreou o último pedaço

 - Não é verdade

- Você só pega o ônibus por causa dela – Naruto o olhou com a cara entediada – e me contou na festa do Suigetsu, quando estava caindo de bêbado...

- Eu não tenho como responder isso

- Rá! – Naruto salta de seu banco como um ninja – Eu disse, eu disse, eu disse...

- Para, Porra.

- Eu me lembro perfeitamente quando você me disse o motivo de andar de ônibus as segundas, é por ela. Mesmo que você tenha um carro, o deixa na garagem ou empresta para Itachi quando ele está na cidade – levantou e foi direto para pia – isso é quase psicopata cara!

- Não exagere – bufou aprofundando seus longos dedos no cabelo negro

A discursão com Naruto é interrompida pelo seu celular

- Alarme... tenho que ir

- Vá, vá, vá – disse com as mãos ensaboadas – diga a sua amiguinha rosa, que o loirinho gostoso mandou um beijo...

- Vai se fuder – Sasuke responde fazendo Naruto rir.

 

-

Msg: “Você almoça aqui na empresa? É o Sasuke”

A mensagem surpreendeu Sakura, que estava terrivelmente estressada por toda a manhã, devido ao trabalho de Lee, um relatório mal passado entre seis mãos, mas que foi dito que ela o fez. Hatake o odiou, mandando-a refazer imediatamente. Ou seja, na hora do almoço estava cansada, e ainda era terça-feira. Karin estava quase na mesma situação, com um cliente malvado na linha dois, fazia cada careta...

Msg:“Desculpe, mas tudo que menos quero é ficar aqui, no meu curto tempo livre - Sakura”

Msg: “Está disponível agora?”

 Epa!

Sakura conseguia se comunicar melhor por sms do que por ligação ou uma conversa pessoal, o que tentava evitar a todo custo. Mesmo que Sasuke não olhasse ela agora, estava imaginando-a corada e mexendo os fios rosas. A Haruno estava ansiosa e com receio. Muito rápido o desenvolvimento desse relacionamento neste curto intervalo de tempo.

Relacionamento, riu sozinha atraindo os olhares de alguns colegas. Percebendo que não tinha respondido fazia quatro minutos.

Não poderia sair com Karin, que estava tentando salvar o próprio pescoço de um predador desgraçado. Não estava mais aguentando Lee pedindo mil perdões a sua pessoa. E gostava de Sasuke, então que mal havia?

Tudo.

Ela só teve um relacionamento na vida e só foi na faculdade, onde foi debilmente traída por um namorado chulo. Tremia só de lembrar. Sua experiência com homens, não era a melhor área de sua vida, mas ou ia e ficava olhando, e pelo menos admirando o moreno, ou permanecia no escritório comendo miojo.

Indiscutivelmente Sasuke era a melhor opção.

Msg: “Estou disponível agora”

-

O que tinha feito? Ela sabia que não conseguiria ficar no mesmo lugar que ele da forma mais civilizada que queria. Era horrível em flertes. Comprovou isso com Kimaro, com Ed, Idate entre outros, que não recordava o nome, e se agradecia por isso, foram momentos realmente vergonhosos.

Olhou para a mesa de Karin que ainda estava ocupada, não havia escapatória. Sua ansiedade nada normal estava extrapolando os limites. Precisava de seus remédios.

Sua mesa tinha três compartimentos e duas gavetas, procurou desesperadamente a sua tabela de comprimidos. Seu jeito pouco coordenado fez com que seus cadernos e desenhos fossem ao chão, atraindo a atenção de todos. Não gostava da atenção para si. Mesmo que tivesse o cabelo rosa, esse não era o propósito dele, ele a fazia se sentir bem. Só isso. Lembrou que deveria cortar o cabelo hoje, quando saísse do trabalho.

Ela era a melhor no que fazia, mesmo com seus vinte quatro anos, se formou aos 21 em marketing e possuía duas especialidades, trabalhou em duas organizações e recebia um salário que considerava razoável. Era uma vida razoável. Mas ainda queria montar seu próprio negócio e criar seus próprios produtos, por isso fez marketing.

Msg: “Estarei esperando na portaria”

 Meu Deus, não conseguia encontrar seus comprimidos, foi quando Karin a chamou

- Sakura, o que está acontecendo? – perguntou de uma forma preocupada

- Preciso dos meus comprimidos...

Karin puxou de sua gaveta uma pastilha e deu a rosada um comprimido. Sakura a olhou de forma questionadora, fazendo a ruiva bufar...

- Não posso deixar todos esses comprimidos com você

Sakura tomou de sua mão o comprimido, ignorando o comentário de sua amiga. Não faria mais aquilo.

Contou a ela o que estava acontecendo ou prestes a acontecer, o que fez a ruiva sorrir e dizer um simpático “Boa sorte”

 

-

Saiu do elevador dando de cara com Sasuke, não estava mais ansiosa da mesma maneira que antes, apesar de que aquele mostro não a tenha deixado totalmente.

Sasuke sorriu ao vê-la, não algo aberto e espalhafatoso, como ela fazia quando escutava as histórias de Karin, ou de Ino na faculdade. Era um sorriso mais contido o que o fazia ainda mais interessante.

- Onde você almoça normalmente? – perguntou com as mãos no bolso

-Eu... – tentou amenizar sua respiração -... Não sou eu que escolho é Karin...

- Você não escolhe onde vai almoçar?

- Não saio sozinha, então deixo que ela escolha para mim, tirando a lanchonete no fim da rua, as outras escolhas foram boas – finalmente estava olhando ele diretamente, talvez fosse o remédio fazendo efeito.

- Entendo... – ele reparava em como suas mãos não ficavam quietas – mas você tem alguma preferência?

- Não

- Está bem...

Sasuke andou na frente com a rosada o acompanhando, desceram a rua e a poucos estabelecimentos da universidade federal, estavam em frente ao Namikaze.

- Ei, mas isso aqui não é... – não encontrou a palavra certa, sem parecer pão dura

- Eu convidei você – disse por fim e entrou no lugar

Sakura não estava a pessoa mais confortável com essa situação, mas mesmo assim entrou.

Sentaram na mesa ao lado da janela, que era decorada por sakuras, Sasuke riu quando percebeu onde estavam sentados.

- Senhor Uchiha – disse um jovem garçom – o que queres nessa bela tarde?

- Quero tomates recheados e suco de laranja. E você Sakura? – a olhou e notou o quanto ela se encolhia...

- Risoto e o mesmo suco – seu pedido foi feito com base nos seus conhecimentos do local e do custo deste prato, estava entre os mais baratos

Após o pedido um tipo de silêncio foi instalado, o do tipo desconfortável e sufocante, o que fazia Sakura bebericar a água em seu copo de desvia os olhos para as outras mesas. Não o olhou, mas perguntou:

- Por que você me chamou?

- Porque eu quero conversar com você – aquela resposta trouxe mais dúvidas do que esclarecimento.

- Mas por quê?

- Gostei de você

- Oi?

- Do seu jeito, eu gostei – disse tão calmamente, mas a rosada reagiu da forma mais inesperada para ela. O olhou nos olhos, e tentando entender o que aquilo significava.

- O que isso significa?

- Calma, Sakura

- Eu não tenho calma...

O diálogo foi interrompido pela chegada de seus pratos. Os dois comeram sem dirigir uma única palavra ao outro. Mas a curiosidade a consumia.

- Sasuke...

- Diga, Sakura

- Por que você me chamou?

- Eu já disse... – a olhou impaciente

Sakura iria responder se não fosse interrompida por uma criatura loira e sorridente...

- Sasuke! – chegou a mesa dos dois – e Sakura.

Sorriu por estar atrapalhando o amigo, ele adorava fazer isso desde o colegial. Nunca se cansava.

- Como estão? – o Uzumaki virou sorridente para Sasuke – Estou atrapalhando algo?

- Sim – disse Sasuke

- Não – falou Sakura

Os dois se entreolharam. Naruto ficou sério. Ela não estava se sentindo confortável com aquela situação. Se levantou e pediu desculpas por deixá-lo, agradeceu pela convite e foi embora rapidamente.

Deixando os dois rapazes confusos.

- O que você fez, Sasuke?

 

-

Contou a Karin o que acabara de acontecer fazendo com que a ruiva deixasse seu celular de lado.

- Você é burra, Sakura?

- Para, Karin...

- Ele disse que gosta de você, pelo que entendi foi isso

- Não acredito nisso

- Por que não?

- Eu sou eu, Karin – fazendo a ruiva revirar os olhos...

- Bonita, inteligente, engraçada quando não está se batendo nas coisas, tímida, que sofre de transtorno de ansiedade... – Sakura tampou sua boa, quando esta disse a última parte, em resposta a ruiva retirou sua mão – Todos sabem Sakura, seus remédios ficavam bem expostos na mesa

Sakura olhou para os próprios pés. Karin a olhou preocupada.

- Qual é o problema? Qual é o seu medo? É ele?

Sakura hesitou, mas respondeu baixo:

- Eu sou o meu problema, eu sou o meu medo.

-

Foi a primeira a deixar o prédio, não queria encontrar Sasuke. Estava com vergonha, mas ainda sim com medo de que ele só estivesse brincando quando disse que gostava dela.

Pegou o ônibus. Chegou em casa, abriu as janelas e pegou vinho no armário, tirou sua roupa, tomou um banho rápido e começou a beber.

Estava um tanto desolada, isso contribuía para sua saideira no meio da semana. Quando já era nove horas da noite, estava tonta e bêbada. Ainda lamentando sua atitude, pegou o celular.

Msg: “Sakura, o que eu fiz de errado?”

Msg: “Sakura?”

Msg: “Sakura, você está bem?”

Já não estava psicologicamente em seu melhor estado. Com aquilo, chorou por longos doze minutos e bebeu mais duas taças.

Pegou o celular novamente, em seu estado mais alcoólico, e ligou para “o garoto do ônibus”. Se arrependendo logo no começo, mas não dava para voltar.

- Sakura?

- Sasuke – deu uma risada morta – como está meu caro apaixonado? – riu novamente  

- Você não me parece bem

- Estou ótima – mentiu, em seguida gargalhou do jeito mais escandaloso possível.

- Você está bêbada?

- Talvez – disse baixo, mas ainda sim risonha.

- Onde você está?

­- Em casa, mas vou sair daqui a pouquinho – fez biquinho olhando para a cozinha – meu vinho acabou – choramingou

- Fique em casa, Sakura...

- Acho que na loja do Chikaku, sabe aquela do posto – disse mais para si do que para o próprio Sasuke, que escutava atento.

- Hm

- Bom... – mais uma risadinha – vou indo Sasuke. E a propósito também gosto de você.

 

Desligou e vestiu um casaco por cima do pijama. Sua sorte era que não tinha nenhum carro. Pegou sua carteira e cambaleando seguiu ao posto. Não percebeu quando chegou lá, nem como. Não estava no seu melhor lado Sakura de Ser.

Entrou e pegou o primeiro vinho que conseguiu, foi em direção ao caixa, era um garoto jovem cheio e espinhas que a estava atendendo.

- Quanto é?

- Trinta, minha senhora

- Minha senhora – riu pelo tratamento que estava recebendo

Quando estava prestes a pagar, ouviu o sininho da porta. Lá estava Sasuke com uma expressão nada boa.

- Sakura...