História O Plano Perfeito - (James e Richard) - Joia Egípcia

Snap Out Of It – Arctic Monkeys 

Os garotos adentraram mais naquela espécie de mercado egípcio. Mistye olhava as pessoaa com muita atenção, tinha algo familiar naquele lugar, era como se não fosse sua primeira vez ali. Andaram mais um pouco olhando as mercadorias silenciosamente, o que era muito incomum para Richard, que geralmente ficava o tempo inteiro fazendo piada das coisas.

Sem perceber, Mistye se distanciou do rapaz e foi na direção de uma tenda com algumas pedras que brilhavam no sol chamando a atenção dela. Estava sentada ali uma senhora e ao lado dela, empilhando algumas caixas de madeira, um jovem de pele morena. Logo que ele se virou, Mistye pôde constatar:

“Ele é aquele garoto da entrevista!”

 - Olá, com licença. – com a voz baixa pronunciou para o moreno. – Você trabalha aqui?

 - Sim, mas se quer comprar alguma coisa senhorita, não é comigo! – falou sem nenhuma paciência ou educação, ele estava tentando se livrar o mais rápido da garota, pois pelas roupas dela era possível deduzir que estudava na Universidade Palentir. E o rapaz queria o máximo de distância das pessoas que possuíssem a menor das ligações com Howard. – A propósito, não deveria estar estudando? – perguntou dando a entender que a achava sem valor por ficar vadiando pelos arredores.

 - Olha aqui! – pronunciou um pouco exaltada pela falta de educação da parte dele, mas logo se conteve e voltou ao autocontrole, afinal ela não queria encrenca com alguém que só estava trabalhando para se sustentar. – Eu só queria te perguntar umas coisas sobre a entrevista que você deu hoje cedo para um jornal. – anunciou cautelosa.

 - Assistindo jornal enquanto poderia dormir? Ok, você é realmente esquisita. Ou então foi para alguma festinha de ricos e voltou só de manhã... – concluiu com desgosto.

 - Será que pode parar com esse preconceito em relação a mim? Quem disse que sou rica? – indagou querendo acabar com aquela antipatia dele.

 - Estuda no Centro Palentir, e pra pagar a faculdade com o preço que eles cobram, só sendo rica ou mais do que isso. – relatou confiante.

 - Eu tenho uma bolsa de 100%, não sou nenhuma riquinha, consegui isso com meu esforço e dedicação, mas se eu fosse, você ainda não teria o direito de dizer essas coisas. – disse firme e inabalável não acreditando na forma que aquele ser insistia em tratá-la. – Eu sou Mistye, como você se chama? – tentou estabelecer uma conversa pela última vez.

 - Mistye?! Nome interessante... É americana?

 - Inglesa. E você é? – perguntou novamente.

 - Sou daqui mesmo, me chamo Abdel. – respondeu um pouco menos antipático. – Porque não está estudando pra vir me fazer perguntas desnecessárias?

 - É que... – ela olhou ao redor percebendo só naquele momento que Richard não estava mais com ela. – Algumas coisas andam me incomodando, parece que tem algo de errado com aquele lugar, ou talvez seja só o incômodo que pessoas loiras e metidas causam. E depois que eu ouvi o que você falou na televisão, parecia que tinha alguma informação subentendida nas suas palavras. Parece que você sabe mais do que muita gente lá dentro.

 - Nossa! – falou surpreso. – Agora entendo como ganhou a bolsa: é muito esperta. – elogiou-a agora com um pequeno sorriso. – Fico feliz que não simpatize com James, pois ele é provavelmente essa pessoa loira que te incomoda. Eu sei de umas coisas sim, mas isso não quer dizer que você precise saber, quer dizer, não vai fazer diferença alguma.

 - Acontece que talvez eu saiba o que fazer. Eu tenho o direito de saber como é o lugar onde estou morando, porque tem gente desse tipo me observando o tempo inteiro. É assustador. – justificou-se angustiada tentado convencer Abdel a dizer.

 - Olha, eu entendo. A única coisa que posso te dizer é pra terminar logo o seu curso e vazar de lá, assim vai poder ficar tranqüila. Só tenha noção de que Howard e todas as pessoas que trabalham para ele são capazes de tudo por dinheiro. – avisou sério.

 - O que quer dizer com isso? Eles estão fazendo o que? – perguntou já tremendo.

 - Deixe-me dar um exemplo, pense que se os Palentir tivessem que fazer experiências em laboratório com pessoas por dinheiro, eles fariam sem o menor remorso. – contou com a expressão abatida. – Mas de qualquer forma é só um exemplo, não vá ficar imaginando coisas.

Depois de contar esse mínimo de informações, Abdel se distanciou dela só acenando com a cabeça como forma de despedida. Era um sentimento angustiante pensar que ela estava morando e estudando em um lugar cheio de pessoas ruins. Mas mesmo com essa conversa, Mistye ainda não estava completamente convencida de tudo aquilo que ouviu do trabalhador, afinal, que provas concretas ele tinha sobre o assunto? Portanto ela mesma iria investigar para descobrir o que estava se passando com aquela gente.

Ainda parada próxima à tenta com joias feitas de pedras egípcias e algum tipo de metal barato, pegou uma com um pingente azul e posicionou bem no lugar em que costumava usar o colar de sua mãe.

 - É lindo, mas você fica linda de qualquer jeito, então não é de se surpreender que fique bem em você. – a voz de Richard soou atrás dela.

Mistye o vislumbrou pelo espelho encontrando os olhos azuis do rapaz com um brilho que nunca havia visto antes. A cada segundo ele se tornava mais e mais agradável para ela.

 - É-é obrigada, eu achei uma graça. – respondeu corada sem saber ao certo o que dizer. – Você sumiu, por isso vim dar uma olhada nessas joias.

 - Não, não, acho que não foi bem assim. Nós estávamos indo ver os vasos decorados no fim do mercado e você desapareceu. – explicou rindo do rubor que ainda permanecia no rosto da garota.

 - Eu não sei do que está falando. Eu só continuei andando e do nada o bad boy tinha sumido. – cutucou sarcástica.

 - Do que você me chamou? – disse com os olhos estreitos e desafiadores. – Quantas vezes eu vou ter que te dizer e mostrar que não sou um cara ruim? – perguntou incrédulo, mas achando a situação divertida.

 - Bem... – voltando a ficar vermelha ela desistiu de tentar dar uma boa resposta. – Eu te espero na moto, pois estou com fome e é quase hora do almoço. – terminou saindo apressada sem olhar para trás.

Richard soltou uma risada atrás dela e direcionou sua atenção para a senhora que tomava conta daquela tenda. Era uma velha de roupas grossas para proteger do sol, parecia pouco higiênica e tinha os cabelos desgrenhados e grisalhos. Mas ignorando a péssima aparência da mulher, ele manteve o sorriso no rosto e perguntou:

 - Eu gostaria de levar este! – apontou para o colar que Mistye havia experimentado.

 - Ah claro. Sua namorada é muito bonita, eu acho que tenho algo ainda melhor para ela. – anunciou pegando uma caixa que não estava na tenda e abrindo. Continha um colar de corrente dourada, que parecia ouro, e na ponta uma pedra azul da cor dos oceanos em formato de gota. – É uma réplica de uma das 108 peças da mitologia egípcia, já deve ter ouvido falar na escola.

 - Acho que ela vai gostar, do jeito que adora mistérios. Obrigado. – pagou e pegou a mercadoria para encontrar sua suposta “namorada”.

Mistye parou em frente à moto de Richard e passou a analisar o local à sua volta. Era simples, mas possuía um ar aconchegante e tranquilo, diferente da adrenalina que sentia ao caminhar pelo Campus.

 - Ei! Vai ficar “brisando” aí, ou podemos voltar? – com entonação de divertimento o dono da moto se aproximou da garota.

 - Você que ficou batendo papo com a comerciante. Decidiu paquerar as mais velhas é?! – indagou sarcástica segurando o riso.

 - Hum... será que alguém está com ciúme?! – falou com um sorriso arrasador que fez Mistye balançar por alguns milésimos de segundo.

Ela deu um leve soco no ombro do rapaz e subiu na moto para partirem. Durante o percurso de volta, Richard não acelerou demasiado, ele parecia querer prolongar aquele momento no qual tinha Mistye tão perto de si. E sabia que ela não ficaria tão perto se tivesse opção.

 - Obrigada pelo passeio. Agora vou almoçar. – anunciou já se distanciando após estacionarem o veículo.

Porém, em um ato ágil, Richard segurou no ombro dela impedindo que fosse para mais longe.

 - Eu também vou almoçar, então acho que vamos pelo mesmo caminho. E também podemos sentar juntos, já que provavelmente seus amigos devem ter comido antes. – argumentou não querendo ser contrariado.

“Mas por que é tão insistente?”

 - Tá... – pronunciou em tom baixo concordando, mas não sabia se realmente queria a companhia dele por mais tempo. De qualquer forma, ela devia isso ao garoto por ter sido tão generoso.

Quando chegaram ao refeitório, para sua surpresa, algumas pessoas incluindo Jared, Mathilde, Marilyne e Oscar ainda estavam almoçando. Estes perceberam a chegada dos dois e permaneceram por um bom tempo encarando-os. Mistye um pouco constrangida foi direto à bancada para se servir e tirar aqueles olhos de cima dela.

“Mas que ódio. As pessoas só me notam quando não quero!”

Encheu o prato de salada e algumas tiras de filé de frango, olhou em volta a procura de uma mesa vaga, mas a maioria das mesas estavam arrastadas no canto do salão provavelmente para limpar o chão e as únicas que ainda podiam ser usadas estavam ocupadas. Ou seja, ela teria que escolher alguém para dividir a mesa e consequentemente contar o motivo de ter faltado às aulas.

“Se vou acabar contando, devo ir até a pessoa mais agradável.”

 - Com licença, eu posso sentar com você?! – perguntou parando em frente à mesa em que Jared sentava.

 - Claro! Você é sempre bem-vinda. – respondeu educadamente, porém com certo incômodo.

Ao juntar-se ao amigo, sem saber o que dizer ou se deveria dizer alguma coisa, preferiu somente comer e permanecer em silencio. Mas ele não estava tão à vontade quanto parecia e piorou quando Richard sentou-se ali também.

 - Mas que tédio. Vocês são sempre quietos assim? Pensei que fossem mais animados. – comentou bocejando.

 - Eu já terminei. Aproveitem a comida... – Jared falou sem conseguir esconder sua irritação. – E anime ela, já que eu não consigo. – afirmou com a cara fechada.

“O que deu nele?!”

 Mistye engoliu a comida o mais rápido possível e disparou para fora daquele lugar
à procura do amigo. Entrou no prédio de dormitórios e não encontrou o dele. Procurou na biblioteca para ver se não estaria estudando, e nada. O rapaz simplesmente tinha desaparecido.

No meio da correria e falta de atenção, ela acabou trombando com alguém alto e desequilibrou chocando-se contra o chão.

 - Ai, me desculpe. Estou com pressa.

No entanto, ao elevar o campo de visão e constatar quem era, se amaldiçoou por ter pedido desculpas. Ele é quem estava no caminho dela o tempo inteiro servindo de obstáculo.

“Ele deveria pedir perdão por EXISTIR!”

 - Que bom que te encontrei, justo quem eu queria ver. – James estendeu a mão para ela se levantar.

 - Que pena, pois você não é quem eu estava procurando. – contradisse grosseira.

 - Ah, se ficar me tratando assim vou repensar se devo lhe entregar o livro que tanto quer. – argumentou cauteloso.

 - Você está demorando muito e eu não sou a pessoa mais paciente do mundo! – continuou irritada ao lembrar que ele ainda não havia comprido o prometido.

 - Acredite. Acho que todo mundo já notou isso em você. – falou rindo. – Mas não se preocupe, sou um homem de palavra e irei trazer-te da próxima vez que vier aqui. Agora, devo pedir desculpas. – pronunciou a última frase lentamente e baixo.

“O que? Não entendi?”

 - Como pedir desculpas??! – perguntou desentendida.

 - Só me desculpe pelo que houve de madrugada... e talvez pelo que vai ouvir por aí. Mas eu não mencionei seu nome em nenhum momento, então creio que não terá problemas. – respondeu com peso nas palavras, como se tivesse dado algum deslize.

 - Ok. Agora tenho que ir. – terminou a conversa pensando onde Jared poderia estar, afinal era isso o que estava fazendo antes de ser detida por James.

A garota saiu o mais rápido que pôde de perto de James e parou na frente do prédio de dormitórios longe dele para poder raciocinar melhor. Ela não entendia o que havia acontecido para Jared ter ficado tão incomodado ao ponto de se retirar do local e ainda demonstrar sua irritação, o que ela nunca tinha visto antes já que ele sempre estava calmo. Era incomum e nada agradável, pois só de saber que Jared poderia ter ficado mal por culpa dela lhe vinha uma péssima sensação, algo que ultrapassava a culpa e atingia uma parte de si que a fazia sentir-se triste.

“Eu gostaria de entender o que aconteceu...”

Foi então que lhe veio uma luz! Lembrando-se de ter visto mais de uma vez seu amigo admirando a paisagem, próximo aos limites do Campus, decidiu que seria o local mais provável de encontrá-lo.

Já com ele em sua vista, foi andando em passos curtos, pensando em como abordaria o assunto. Porém, como a grama estava um pouco maior do que o normal, o rapaz pôde escutar o som dos tamancos contra a vegetação. E permaneceu em silencio observando-a chegar mais perto com olhos que expressavam desânimo.

 - Oi... – saudou em som decrescente. – Tudo bem? – perguntou mostrando a preocupação.

 - Por que não estaria? – respondeu ainda desanimado. – Eu só estou carregado com os estudos, sabe? Tem gente que vai pra aula. – terminou em tom sarcástico e irritado, mas logo tentou relaxar.

 - Todo mundo se irrita, não tem problema. Eu só gostaria de entender o motivo de estar assim. – sentou-se ao lado dele e segurou uma de suas mãos.

 - Eu não tenho o direito de ir tirar satisfações com você pra saber com quem anda e onde anda. – afirmou frustrado, mostrando que gostaria de ter esse direito. – Mas, mesmo assim eu me incomodo de você ficar o tempo inteiro indo de um lado pro outro com Richard. Ele não é uma boa companhia, vai acabar te desencaminhando. Veja por si mesma, já está faltando às aulas e o ano mal começou. – explicou quase ficando sem ar.

Era notável o nível de preocupação do garoto em relação a ela, parecia até desesperado para que Mistye se afastasse do Bad Boy. E ela notou que, além disso, ele também tinha motivos ocultos. Era perceptível que nutria sentimentos por Mistye e ela sabia disso. Só não sabia por que ainda não havia correspondido a esses sentimentos e por que passava tanto tempo com Richard que parecia só querer se divertir com ela.

“Eu sempre faço a pior escolha! O que? Quem disse que eu escolhi? Como posso pensar uma coisa dessas?!”

 - Eu sei disso Jared, e tem razão. Preciso começar a me focar mais nos estudos e parar de me distrair com... – pensou em dizer “Richard” ou “garotos irresistíveis”, mas se fizesse isso destruiria os sentimentos dele.  - ...outras coisas.

 - Espero de verdade que faça isso, e se precisar de ajuda eu estou aqui, já te disse mais de uma vez. – declarou levantando a mão dela e a beijando.

 - É- obrigada. – respondeu nervosa com o ato tão cordial do rapaz.

Levantou-se da grama e foi para a biblioteca estudar, afinal, precisava mesmo repor o tempo de aula perdido durante a manhã. Enquanto entrava no local e pegava os respectivos livros das matérias que perdera, pensava em como podia perder seu tempo com caras como Richard, quando tinha caras como Jared, prontos para fazer o que fosse por ela. Era inexplicável!

 ¨¨

 - Até que enfim te achei! – aquela voz perturbadoramente agradável e rouca soou em seus ouvidos mais uma vez naquele dia. – Você saiu correndo e nem pude te entregar seu presente. – o Bad Boy sentou ao seu lado perto o suficiente para que sentisse o aroma de perfume masculino que tanto gostava.

 - O que quer dizer? Não me diga que... – arriscou desconfiada, pensando nas pedras que ficou olhando no mercado.

 - Pare com a modéstia e feche os olhos para que eu possa colocar em você! – ordenou levantando e indo para trás da cadeira de Mistye.

 - Olha lá hem! – alertou com receio.

Ela sentiu o colar em volta de seu pescoço e a pedra gelada descansar abaixo de suas clavículas, em seguida os dedos do garoto encostaram levemente em sua nuca enquanto ele tentava fechar o colar.

 - Só espero que não saia correndo atrás de outro garoto novamente, ou irei ficar com ciúme. – sussurrou encostando os lábios no lóbulo da orelha de Mitye causando uma corrente elétrica que acelerou instantaneamente as batidas do coração dela.