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História O Presidente - Beijo


Escrita por: gioberlusse

Notas do Autor


• Olá, postando antes do prazo ♥
• Era pra eu postar amanhã, mas terminei de revisar o capítulo ontem e não aguentava mais esperar pra vocês lerem esse capítulo
• Queria dizer que fiquei MUITO feliz com os comentários que recebi nos últimos capítulos e eles me incentivaram muito pra escrever esse, escrevi rápido porque estava com vontade e porque lembrei que tinham pessoas maravilhosas acompanhando minha fanfic, muito obrigada :D

Capítulo 4 - Beijo


           Meu corpo pedia mais 20 minutos de sono. Resmunguei baixinho e abri os olhos. Estava em casa, obviamente. Suspirei aliviado. Afinal, eu desmaiara e acordara na Casa Branca no dia anterior.

            Ouvi a batida na porta, que em seguida foi escancarada. Lilith se jogou em cima de mim.

            —Bom dia maninho, adivinha quem está lá embaixo?

            Foi o suficiente para eu sentar na cama como um jato.

            —Mike! Ele mesmo. Papai e ele engataram num papo sobre propriedade privada. –ela riu

            —Que?! Diz para ele que eu já estou descendo. –empurrei ela de cima da cama e para fora do quarto

            Peguei a primeira roupa que encontrei, uma calça jeans preta e uma camiseta vermelha. Dei uma olhada em meus cabelos, estavam mais loiros com a luz do sol que refletia em mim pela janela. Penteei os fios, mas continuaram um pouco enrolados e desci as escadas rapidamente, pedindo aos céus que meu pai não estivesse emburrado.

            Respirei fundo. Era o dia em que eu iria esclarecer tudo com Mike. Ou ao menos tentar. O relógio na sala marcava 8:30 da manhã. Quando meus olhos percorreram a sala e encontraram Mike sorridente conversando com meu pai não acreditei. Eles pareciam estar debatendo alguma coisa, mas de um jeito amigável, sorriam um para o outro. Fiz uma careta ao me aproximar daquela cena. Quem diria hein pai?

            No momento em que Mike me viu ficou sério e levantou-se. Meu pai pigarreou e me olhou de soslaio. Não disse nada. Eu nuca havia dito que tinha um namorado para eles, já que preferiam ignorar o fato de que eu era gay.

            —Oi D. –Mike sorriu encabulado com as mãos nos bolsos

            Ele estava lindo. Mas isso ele sempre fora. Os cabelos pareciam brilhar naquele tom castanho escuro que combinava com os olhos, ainda mais escuros. Usava uma regata que destacava suas tatuagens e uma calça jeans rasgada. Eu já podia imaginar os comentários da minha mãe sobre aquele visual: desleixado. Mas para mim ele estava lindo. Mais uma vez lembrei-me do que precisava falar e respirei fundo.

            —Oi Mike –ficamos nos encarando por alguns segundos- Vamos para o meu quarto... –falei. Meu pai fingiu estar lendo um jornal qualquer

            Mike obedeceu e me seguiu novamente para cima até meu quarto. Sentia o perfume dele, o que me deixava meio desconcentrado sobre o que precisava falar. Abri a porta do quarto e o esperei entrar.

            —Nem um beijinho? –ele disse brincando

            Eu continuava sério. Não podia perder a compostura naquele momento. Precisávamos conversar.

            —Mike a gente precisa conversar. –me sentei na cama e ele ao meu lado

            Ele acariciava meus cabelos agora, lentamente sua mão percorria minha nuca. Fechei os olhos. Era tão bom... Tão bom ficar com ele, o toque, tudo. Mas eu não podia ignorar o que estava acontecendo.

            —A gente quase não consegue se falar por causa do seu trabalho. –murmurei.

            —Me desculpa por isso... –ele falou e chegou mais perto, encostando a cabeça em meu ombro

            —Mike, você está sempre trabalhando... –a frase saiu num gemido porque ele beijava meu pescoço agora, me fazendo estremecer. Senti um arrepio bom passando pelo meu corpo

            —Eu sei meu amor, mas não posso largar meu emprego.

            E eu não podia mais raciocinar. Não daquele jeito. Não com a boca dele ali me beijando, mordendo e com meu corpo reagindo tão bem àqueles toques. Já me sentia ficar excitado enquanto estremecia ao sentir suas mãos em meus cabelos.

            —Mike, por favor, precisamos conversar –resmunguei

            Ele suspirou exasperado e jogou o corpo para trás na cama, deitando de costas. Revirei os olhos. Parecia que eu iria conversava com uma criança.

            —Eu não posso fazer nada Damien! –me encolhi diante daquele tom irritadiço- É meu emprego. –baixou um pouco a voz- Minha carreira, o escritório precisa de mim.

            —Eles precisam só de você? Não existe nenhum outro assistente? –cerrei os olhos o encarando

            Ele sentou-se na cama novamente, com pouca vontade.

            —Não existe, eu que cuido dos equipamentos que entram e saem da loja, eu que sei de tudo sobre a contabilidade da marca. Pensei que você soubesse disso.

            O olhei com raiva agora. Óbvio que eu sabia. Mas antes não era assim. Quando o conheci ele trabalhava no mesmo lugar, mas não era requisitado daquele jeito.

            Bastava ele estar comigo para o chefe ligar e ele correr atrás. Não sabia se eu estava sendo um pouco egoísta, mas para se ter uma relação era necessária a presença de ambas as partes. Fica difícil ter um namorado quando ele nunca está presente.

            —Eu sei muito bem disso. –falei com raiva- Parece que você não sabe como uma relação funciona Mike. Eu não posso ficar correndo atrás de você desse jeito e você sumindo toda hora, dando uma desculpa. –aquela última parte saíra sem querer. Engoli em seco

            Ele me olhou irritado e levantou-se da cama.

            —Não são desculpas. Eu tenho um emprego, se você tivesse um saberia como é.

            Senti como se ele tivesse me batido. Mike sustentava meu olhar com desafio e eu já estava cansado. Queria dizer muitas outras coisas, mas resolvi que seria muito arriscado falar enquanto estava com raiva.

            —Acho melhor a gente terminar –murmurei baixinho olhando para o chão

            Silêncio. Não pensei que eu chegaria ao ponto de falar aquilo. Sentia o olhar dele em mim, me analisando. Eu fingia estar interessado em minhas mãos, pés, qualquer lugar do quarto. Não sabia se conseguiria olhá-lo sem chorar. Ouvi a respiração sua respiração profunda. Eu esperava uma resposta, talvez “não, vamos consertar tudo...” ou “eu vou mudar, prometo”.

            —Também acho.

            E foi como se tivesse me dado um soco. Não pensava que ele diria aquilo. Acreditei que fosse lutar e insistir para tentarmos de outro jeito, que ele iria mudar, iria tentar melhorar as coisas. Mas não pensei que fosse desistir de nós daquele jeito.

            O encarei com os olhos arregalados. Mike não me olhava. Estava de braços cruzados encarando a janela. Senti as lágrimas encherem meus olhos. Me levantei e o encarei com raiva, então ele desistiu de me ignorar e foi obrigado a me olhar.

            —Então vai embora. –praticamente cuspi aquelas palavras

            Senti um misto de dúvida e irritação em seu olhar. Eu já estava chorando. Mike simplesmente se virou, saiu e bateu a porta. Pude ouvir seus passos na escada.

            Então era daquele jeito que minha relação de 6 meses terminava. Suspirei. O relógio marcava quase 9 horas. Eu não tinha tempo para chorar. Limpei meu rosto com as mãos rapidamente.

            O carro oficial da Casa Branca passaria para me buscar e ao meu pai (que iria jogar golfe com o presidente hoje) em 15 minutos. Limpei as lágrimas do rosto e comecei a procurar um terno para vestir.

_______

            Não aguentava mais aquele sol. Estava praticamente derretendo segurando a bolsa com os tacos de golfe. Como eu não ia jogar, (por que eu não sabia nem queria) meu pai teve a ideia brilhante de me fazer de carregador, mais conhecido como caddie. Eu havia tirado o paletó e a gravata, vestia só a camisa e a calça formal.

            —Damien, você já está cansado? –meu pai gritou depois de dar uma tacada na bola, fazendo-a voar longe

            —Mas é claro. Tá calor demais! –gritei pra ele ouvir

            —Ah, eu gosto tanto desse calor... Se vai ser meu assistente melhor se acostumar. –o ‘querido’ presidente piscou pra mim

            Eu realmente não estava no clima para jogar golfe nem ficar embaixo daquele sol. Mas trabalho era trabalho. E eu ainda tentava livrar minha mente de Mike e da cena de antes.

            No carro, a caminho dali, meu pai fingira que nada havia acontecido, comentou sobre o quanto aquilo tudo era incrível, eu trabalhando para Thomas, mas evitou tocar no assunto Mike.

            Me sentei num banco ali perto. Estávamos rodeados de seguranças. Eles achavam que virando-se de costas para nós teríamos mais privacidade. Mas mesmo assim me sentia em uma prisão. No entanto eu entendia o quão importante era a segurança de Thomas.

            Peguei uma garrafinha d’água e tomei metade. Estava todo suado e nojento, só pensava em tomar um banho bem quentinho e dormir para sempre. Não podia evitar que meus olhos lacrimejassem ao lembrar que havia terminado tudo com Mike e que ele não fizera o mínimo de esforço para tentar me convencer do contrário. Ele simplesmente aceitara.

            —Vamos descansar um pouco Michael. –Thomas chamou meu pai e sentou-se ao meu lado

            —Sim, senhor. Muito obrigada pelo convite, ficamos muito honrados.        

            Eu pensei como devia ser chato ter um monte de gente babando aos seus pés e agradecendo toda hora. Quer dizer, babando aos meus pés eu até queria, mas agradecer toda hora é um negócio super chato.

            —Não foi nada, agradeça me chamando pelo nome. –Thomas pegou a garrafinha da minha mão e tomou o resto- Então Damien... Já leu o discurso que lhe enviei?

            Ele havia enviado mesmo, pelo motorista, que me levou direito ao campo de golfe. Mas eu não conseguira ler. Na verdade, não estava com a cabeça para ler aquilo. Não quando eu não conseguia parar de pensar no meu agora ex-namorado.

            —Ãhn... –pigarreei- Ainda não. Vou ler no carro, quando formos para a Casa Branca –respondi baixinho

            —Você parece um pouco triste Damien, aconteceu alguma coisa?–Thomas me encarava preocupado agora

            Meu pai ficou tenso ao meu lado. Dei de ombros, não sabia se devia contar. Na verdade, não queria contar, o que meu drama pessoal acrescentaria na vida do presidente? Nada.

            —Problemas, com a namorada. –meu pai falou

            Eu o olhei como se ele estivesse louco. Namorada? Me lembrei de ter comentado rapidamente com Thomas sobre “meu namorado”, então aquele era um momento constrangedor, já que meu pai estava mentindo.

—Namorada? –ele franziu o cenho- Mas Damien havia me dito que tinha um namorado. –meu pai começou a tossir

            Ri internamente do quanto meu pai ficou vermelho. Ele parecia um pimentão. Thomas riu e me olhou ainda preocupado.

            —Vocês terminaram? –analisava meu rosto atentamente

            —Sim –suspirei

            Não havia porque mentir, mas preferia não ter tocado naquele assunto. Olhei para o outro lado do gramado verdinho, esperando que ele encarasse aquilo como o fim do assunto.

            Ainda achava a aproximação de Thomas um pouco estranha, até o modo pelo qual havia me conhecido, por ‘investigações’. Desde pequeno eu estava acostumado a estar cercado por pessoas importantes, políticos, cantores, tudo graças ao prestígio do meu pai. No entanto estar perto do presidente dos Estados Unidos era algo surreal, tanto que eu ainda tentava me adaptar à nova realidade, não havia caído a ficha. Parecia que já nos conhecíamos há tempos. Meu pai, apesar daquela gafe de ‘namorada’ não poderia estar mais feliz por me ver trabalhando na Casa Branca.

            —O discurso é daqui duas horas, acho que posso trocar de roupa e tomar banho antes, não? –Thomas perguntou colocando a mão em meu ombro e dando 2 tapinhas encorajadores, mudando o foco da conversa

            —Claro –murmurei. Senti que ele estava tentando puxar qualquer assunto comigo

            —Pelo amor de Deus Damien, responda direito. –meu pai resmungou

            —Claro senhor presidente –respondi ironicamente, evitando olhar para os dois

            —Já disse para Damien não me chamar de senhor –Thomas riu—Não se preocupe, você só precisa me acompanhar a maior parte do dia e redigir alguns textos e notas –ele sorriu e eu só o encarei- No mais, acredito que acabamos a partida por hoje. Podemos marcar outro dia Michael. –Thomas levantou-se e se espreguiçou

            —Claro que sim... Thomas. –meu pai finalmente o chamou pelo nome

            Me sentia estranho naquele dia, estava com sono e triste. Thomas me olhou de cima e estendeu a mão pra mim.

            —Eu te ajudo. –fiz uma careta mas aceitei mesmo assim, achando melhor não dizer nada

            —Valeu... –respondi sendo puxado para cima como uma criança

            —Você sabe o que eu mais gosto sobre você Damien? –nós três agora caminhávamos lado a lado até a entrada do parque para devolver a bolsa

            —Não sei –respondi sinceramente

            —O fato de que você não me trata como presidente dos Estados Unidos.

            —Você já me disse isso ontem –murmurei e meu pai quase teve um infarto

            —Claro, mas é bom lembrar. Já te considero um amigo por isso. Ter milhares de pessoas a minha volta me tratando como se eu fosse de porcelana é um saco. Mas eu os entendo. Espero que nós possamos estabelecer um vínculo único. –admito que fiquei um pouco vermelho.

                        No sol os cabelos dele pareciam mais bonitos e negros ainda, estavam arrumados para trás com um pouco de gel. E os olhos azuis brilhavam mais que o normal. Ok, ele era muito bonito, e falando aquelas coisas... Era estranho. O observei enquanto conversava com meu pai. Quando sorria os olhos se iluminavam e a risada era contagiante. Por isso era tão popular. Todos o adoravam, porque ele era amável e simpático, mas também sabia se impor.

______

                        Na Casa Branca fui revistado de cima a baixo ao entrar. Mas nada fora do normal. James, o mesmo segurança de estava na porta quando acordei lá após aquele jantar me guiou até a residência oficial. Ainda me perdia ali dentro.

                        Estava na sala de estar. Bem decorada, com sofás vermelhos e tapetes persas. Os quadros também eram lindos com paisagens e alguns retratavam figuras históricas. Resolvi explorar um pouco o lugar. Não me restavam muitas coisas a fazer. Já havia lido o discurso de Thomas enquanto estávamos no carro, depois de largarmos meu pai em casa. Havia feito algumas mudanças, mas nada muito grave, ele era um ótimo escritor.

                        Saindo da sala havia um outro segurança, obviamente, mas ele fingia que eu não estava ali. O observei atentamente enquanto passava para o outro lado. Será que eu podia ir para aquele lado? Será que estava infringindo alguma regra? Voltei atrás e olhei simpaticamente para o homem.

                        —Eu posso ir pra lá? –apontei com o dedo

                        Ele saiu da pose de “fingir-que-você-não-está-aqui” e me olhou.

                        —O senhor Klint nos disse que o senhor tem total liberdade para ir onde quiser.

                        —Ah me chame de Damien por favor –era muito estranho ser chamado de senhor- Mas... Qualquer pessoa que chega aqui tem essa liberdade?

                        —Não senhor –ele engoliu em seco- Apenas quem o presidente deseja.

                        Arqueei as sobrancelhas.

                        —Ah ta... –mordi o lábio- O que tem pra lá? –apontei novamente para o caminho que eu ia anteriormente

                        —O quarto do senhor Klint –ele respondeu pacientemente

                        —Obrigado –murmurei enquanto ia para aquele lado

                        Eu estava meio curioso, queria saber como era o quarto de um presidente. Pude sentir um sentimento de euforia enquanto caminhava até lá, euforia e a sensação de estar fazendo algo errado, mesmo que não fosse errado.

                        Abri a porta devagar. Ouvi o barulho do chuveiro. Era uma suíte, claro, havia me esquecido.

                        A cama de dossel ficava no centro, com um edredom azul cheio de floreios por cima. Ao lado havia uma mesinha marrom de madeira, e não devia ser qualquer madeira, devia ser importada. Em cima havia um telefone e um porta-retratos.

                        Me aproximei. Na foto estavam Thomas e uma mulher mais velha, sua mãe, embaixo havia uma legenda escrita à caneta “Mamãe e eu, 2011”. Era uma mulher baixa, mas com ar aristocrático. Notei alguns traços iguais aos de Thomas, como a boca carnuda parecida e as sobrancelhas fartas. Ela não tinha muitas rugas, mas percebia-se que devia ter 60 anos ou mais. Thomas era mais jovem na foto e pensei o quanto os anos melhoraram sua aparência.

                        Estava analisando de perto a foto quando senti uma mão em meu braço. Dei um pulo assustado. Me virei e ele estava ali. Thomas me olhava sério. Pegou o porta-retratos da minha mão e o colocou no lugar.

                        —O que está fazendo aqui? –eu engoli em seco ao vê-lo tão sério

                        —O segurança disse que eu podia ir onde quisesse. –o olhava petrificado

                        —Não pode mexer nas minhas coisas. –disse baixinho com uma voz ameaçadora

                        Eu estava branco como papel. Então reparei no que ele estava vestindo. Ou melhor, no que ele não estava vestindo. Usava só uma toalha enrolada na cintura. Os cabelos estavam molhados, assim como o torso, por onde escorria água do banho. Evitei olhar para seu abdômen.

                        Respirei fundo tentando de acalmar.

                        —Desculpe –murmurei- Vou ir embora se você quiser –me encaminhava para a porta quando ouvi a gargalhada dele

                        —Qual a graça? –me virei irritado- Já pedi desculpas.

                        —Eu estava brincando. –ainda ria- Precisava ver sua cara.

                        Eu fiquei vermelho de vergonha. Depois irritado. O olhei com o cenho franzido.

                        — Você pode entrar aqui quando quiser. E eu não me importo que mexa nas minhas coisas. –segurava o riso

                        —Eu não vou mais entrar aqui. –falei secamente e saí do quarto

                        Sentia todo meu corpo quente de vergonha, constrangimento e irritação. Ele achava que porque era o presidente podia rir do que e de quem quisesse? Estava com raiva. E tudo isso acumulado ao fato de que terminara com Mike naquele mesmo dia.

                        Me encaminhei para a sala. Quando passei pelo segurança ele fingiu que não havia escutado nem visto nada. Melhor assim. Sentei no sofá e tentei segurar as lágrimas. Pisquei rapidamente, mas não adiantou. Deixei as lágrimas rolarem.

                        Apertava as mãos no colo. Sentia raiva, dúvida, irritação, tudo ao mesmo tempo. E vontade de gritar. Será que Mike se importara com aquela relação algum dia? Ele parecera não ter dado a mínima para o fato de que estávamos terminando. E Thomas achava que as pessoas eram suas empregadas para brincar daquele jeito? Queria gritar porque eu estava chorando por vários motivos ao mesmo tempo, eles se somaram e agora eu estava num turbilhão de pensamentos incessantes.

                        Aquela brincadeira havia me deixado irritado porque eu não estava num dia bom. Já estava com raiva antes daquilo, foi só o estopim para eu estourar. Agradeci mentalmente por não ter xingado Thomas. Nunca estivera tão sensível daquele jeito. Era só uma brincadeira! E eu estava chorando por quê? Colocando para fora tudo o que não tivera tempo para pôr antes.

                        Parece que quando começamos a chorar por um motivo terminamos chorando por outros 10. Agora as lágrimas escorriam com mais fluidez e meu corpo tremia. Eu estava triste. 6 meses de relacionamento podia ser pouco para alguns, mas para mim foi muito.

                        Enterrei o rosto nas mãos. Parecia um louco alternando meus pensamentos daquele jeito.

                        Senti alguns passos se aproximando mas continuei chorando. Era um péssimo dia e eu sentia que não ia aguentar até o final dele. Então vi Thomas se abaixar na minha frente. Arregalei os olhos o encarando. Agora vestia um terno bordô e os cabelos estavam penteados para trás, divididos ao meio, lhe dando um ar nobre.

                        —Se eu soubesse que você ia ficar tão irritado não teria feito aquela brincadeira. -parecia triste e preocupado

                        —E-eu... –minha voz estava embargada, não conseguiria falar nada direito. Limpei os olhos com o dorso da mão

                        —Ei... –ele puxou minhas mãos gentilmente para baixo- Me desculpe. É só meu jeito, fazer brincadeiras desse tipo. Não quis te deixar irritado. –ele levantou meu queixo com uma mão

                        Eu o olhava com vergonha. Ele não sabia que eu estava chorando mais por outra coisa do que por aquilo.

                        —Desculpe, é um péssimo dia para mim. –consegui falar rapidamente

                        —Entendo –sorriu tentando me animar- O que acha de me ajudar a redigir o discurso de amanhã? –largou minhas mãos

                        Eu o olhei como se ele tivesse algum problema. Eu ainda estava chorando e ele falando sobre discursos. Como ele podia mudar de assunto daquele jeito?

                        —Hoje? –o olhei confuso enxugando os olhos nas mangas da minha camisa

                        —Sim –ele me olhou empolgado- Depois do discurso de hoje podemos voltar para cá e redigir meu próximo pronunciamento.

                        —Ok –respondi com desconfiança. O que mais eu poderia dizer? Na verdade eu estava cansado e preferia ir pra casa, mas achei melhor não dizer nada

                        —Estou tentando te animar aqui – Puxa, que animador, redigir um discurso! Ele apertou minha bochecha.

                        Meu Deus, Thomas realmente achava que eu era uma criança. Revirei os olhos. Ele riu.

                        —Eu já estava irritado antes, só descontei em você –murmurei- Por causa do meu namorado. Ex. –sorri amargamente

                        Agora já estava mais calmo e me xingava mentalmente por ter feito aquela cena toda por causa de uma brincadeira.

                        —Ele que saiu perdendo, não você. Quer falar sobre isso? –sentou-se ao meu lado no sofá, afinal já estava ficando cansado de ficar abaixado na minha frente

                        —Não, tá tudo bem agora. Só que... –senti minha garganta se fechar- Ele parece não ter se importado com nossa relação, nem deu outra chance para nós.

                        Thomas estava ao meu lado, mas eu não o olhava, falava enquanto encarava um quadro na parede. Sentia que podia desabafar naquele momento, quando meu peito parecia tão cheio de coisas mal resolvidas.

                        —Algumas coisas terminam para que outras possam começar. –Ele virou meus ombros delicadamente e me fez ficar de frente para si no sofá

                        Não queria mais pensar naquilo. Fechei os olhos e respirei fundo. Precisava seguir em frente e continuar minha vida. Se Mike não ligava mais para mim eu precisava me adaptar a isso, afinal era um relacionamento que terminara e eu era jovem, ainda iria ter outros.

                        Ouvimos alguns passos no corredor e nos afastamos rapidamente. Margot, a mulher que eu conhecera na sala de imprensa do outro dia entrou na sala. Nos olhou como se estivesse interrompendo alguma coisa.

                        —Perdão, senhores. É que... Está na hora do discurso senhor presidente. –Thomas suspirou, fechou os olhos e sorriu, depois olhou brincalhão pra mim

                        —Vamos lá, temos uma audiência para impressionar. –eu ri um pouco mais feliz enquanto o seguia para fora

______

                        —Por isso, senhores, é imprescindível que defendamos a soberania americana. O conflito no Oriente Médio é mais uma defesa que precisamos fazer. Nossa base militar em Israel tem no enviado relatórios de violações de direitos civis na região e tem defendido com honra o Estado. Se não nos posicionarmos Israel corre o risco de ser tomada e destruída. Precisamos escolher uma posição, e ela será nossa defesa. Não toleraremos ameaças contra nossa Nação.

                        Quando ele terminou de falar eu estava boquiaberto. Falou com tanta emoção, com tanta verdade que fez toda audiência ficar em silêncio. Todos o ouviam como se fosse o salvador, um rei. As pessoas entendiam, Thomas as fazia entender seu ponto de vista. E tudo que consegui fazer foi aplaudir. Eu estava na primeira fila da plateia.

                        Às vezes sentia o olhar dele sobre mim e desviava minha atenção para algum lugar aleatório. Já estava bem mais calmo, agora conseguia respirar lentamente e refletir sobre aquele dia, mas preferia não o fazer. Viver um dia de cada vez era melhor do que conjeturar sobre o passado.

                        Olhei para o lado e com surpresa percebi Chloe, algumas cadeiras após a minha. Franzi o cenho, por que ela estava ali? Thomas não havia me falado nada sobre. Ele deveria falar alguma coisa?

                        Todos o aplaudiram em pé quando terminou de falar. Thomas agradeceu e saiu escoltado por seguranças para trás do palco. Estávamos em um local fechado, quase um auditório e o objetivo daquele discurso, como ele havia me dito era convencer todos de que uma intervenção no Oriente Médio era necessária.

                        Segui os seguranças e pude notar Chloe atrás de mim, se encaminhando para o mesmo lugar. Apressei o passo. Quando entrei pela porta dos ‘bastidores’ Thomas sorriu alegremente.

                        —Como me saí? –perguntou. Parecia orgulhoso

                        —Muito bem –respondi sinceramente

                        Não tive tempo de elogiá-lo mais pois Chloe entrou no recinto. E até os seguranças não foram capazes de disfarçar que repararam nela. Mas Thomas parecia entediado e quando a viu entrar pude notar certa irritação em sua expressão.

                        Ela usava um vestido azul novamente, mas com um corte diferente, mais curto dessa vez. Um coque fazia os cabelos emoldurarem o rosto de traços finos e delicados. No entanto ela parecia meio nervosa.

                        —Me disseram que eu devia vir aqui. E sair com o senhor. –o sotaque francês foi percebido logo de cara

                        —Quem disse? –Thomas perguntou irritado, tirando a gravata

                        —Margot e... William.

                        Eu não conhecia nenhum William, mas conhecia Margot. Será que ela era responsável pela imagem do presidente na mídia? Eu havia pensado que ela cuidava de questões da imprensa, não algo tão próximo do presidente. Talvez ela estivesse por trás de Chloe, a instigando para ser primeira-dama porque o povo americano precisava de uma figura feminina no governo?

                        —John me dê o seu celular. –o segurança demorou a entender e ia pegando o celular quando Thomas o arrancou de sua mão começou a discar. Todos desviaram o olhar- Margot? Você vai me contar tudo que anda tramando amanhã sem falta ouviu? Se eu descobrir que ela está metida nisso eu te demito.

                        Quem era “ela”? Eu apenas o observava. Thomas entregou o celular ao segurança com a cara fechada ainda.

                        —Tudo bem, você não tem culpa de nada. –ele falou para Chloe. Pude notar que suas mãos tremiam enquanto ele desarrumava com as mãos o cabelo anteriormente cuidadosamente preparado- Vamos fazer conforme vocês combinaram, mas você não irá dormir na Casa Branca.

                        Senti pena dela. Parecia completamente deslocada e sem saber de nada naquele lugar. Apenas assentia com a cabeça, parecendo assustada.

                        —Eu pago um hotel para você, mas tenho planos para hoje.

                        Eu também não entendia nada, mas resolvi não me meter. Eram 16:30, sairíamos dali direto para a Casa Branca, redigir mais um discurso.

                        Thomas tentou arrumar o cabelo com as mãos, mas não deu muito certo. Ele continuava bonito, ainda mais bonito com os cabelos desgrenhados. Colocou a gravata novamente e respirou fundo. Estava se acalmando agora. E aquela era uma face dele que eu não conhecia, a parte irritada e raivosa.

                        Todo o salão já havia sido esvaziado quando saímos pela porta principal. Thomas deu o braço para Chloe e assim que os seguranças abriram a porta principal ficamos instantaneamente cegos pelos flashes dos fotógrafos.

                        Não imaginava todas aquelas pessoas ali, esperando por nós. Por ele, e por ela. Os seguranças nos guiaram até o carro. Os flashes não paravam, eu estava meio zonzo, mas entrei em um carro, separado de Thomas depois de muito esforço e empurra-empurra.

                        Pude respirar e enxergar finalmente. Minha vida parecia um looping de uma montanha russa ultimamente, subidas e descidas. Eu achava que era impossível tudo acontecer em um dia só, mas então vem outro dia e acontece tudo e mais um pouco. Senti meus olhos pesados e o sono vindo lentamente...

______

                        Acordei com o segurança me balançando.

                        —Senhor?

                        —Ah, oi. –bocejei. Ajeitei minha roupa e saí do carro, estávamos na Casa Branca- Onde está o presidente?

                        —Ele vai demorar um pouco para chegar, foi levar a senhorita Moreau em casa. Disse para o senhor ficar à vontade.

                        Eu assenti e lhe dei boa noite. Fui revistado ao entrar novamente, mas eu parecia um zumbi em pé enquanto eles procuravam algum explosivo em mim.

                        Estava cansado e não conseguia parar de bocejar longamente. Não sei como caminhei e achei a sala de estar, mas eu estava tão cansado que me atirei no sofá . Era macio e cheirava a móvel novo.

                        Sorri meio grogue. Fechei os olhos e respirei fundo enquanto sentia o sono tomar conta de mim. Ainda estava vestindo o mesmo terno, mas não me importei, meus olhos pesavam uma tonelada e clamavam por um alívio.

______

                        Senti um perfume gostoso que me fez acordar. Olhei em volta: sala de estar da Casa Branca. Eu estava deitado no sofá ainda, sentia dor nas costas. Havia dormido em uma posição desconfortável.

                        —Você estava dormindo tão profundamente –senti alguém se aproximar

                        Meus olhos focaram finalmente em Thomas. Ele me olhava de cima. Na mão havia um copo de uísque. Aquele perfume que eu sentira só podia ter sido dele. Sentei-me e esfreguei o rosto com as mãos.

                        Ele colocou o uísque na mesa ao lado do sofá e sentou-se perto de mim. Senti o cheiro da bebida em seu hálito e percebi que ele estava meio bêbado porque me olhava com um sorriso bobo e uma expressão eufórica no rosto. Pelo jeito o discurso que tínhamos de preparar ficaria para outro dia...

                        —Que horas são? –perguntei

                        —Oito horas

                        Eu o olhei apavorado. Oito horas? Eu havia dormido por quatro horas ali?

                        —Não se preocupe, já avisei seus pais que você vai dormir aqui. –não parava de sorrir. Senti sua mão em meus cabelos, ajeitando-os para trás da orelha, fazendo movimentos circulares na minha nuca

                        —Thomas? –o olhei desconfiado- O que está fazendo?

                        —Te tocando –ele murmurou e sua expressão ficou um pouco mais séria- Agora eu finalmente tenho você aqui perto de mim

            A cabeça dele tombou em meu ombro. Eu sentia o perfume misturado com o cheiro da bebida. O que ele queria dizer com aquilo? Resolvi não aprofundar aquela frase, não quando estava bêbado, mas decidi perguntar por outra questão...

                        —Você falou com Margot ao telefone... Quem era a outra pessoa a quem você se referiu? –perguntei, seria mais difícil ele mentir naquele estado

                        —Minha mãe –ele falou arrastado me olhando brincalhão- Ela quer que eu me case sabia? Mas eu já disse para ela que é impossível –ele riu

                        —Por quê? –o olhei curioso

            A mão dele tocou minha bochecha e eu fiquei tenso de repente. Ele me analisava profundamente, percorrendo todo meu rosto, então parou o olhar na minha boca, enquanto me encarava sério. Acho que parei de respirar por uns segundos, de um minuto par ao outro a euforia havia saído e sido substituída pela seriedade. Aquilo não era possível para alguém que estava bêbado.

                        —Eu quero te beijar –falou

                        A voz dele saiu forte, sem indícios de que bebera. Senti meu rosto corar e o olhei apavorado. Como assim? Eu não deveria levar em conta aquela frase, não quando ele estava estranho daquele jeito.

                        Eu não parava de pensar sobre alguma coisa para dizer quando Thomas me beijou.

                        Senti o gosto do uísque na língua dele, que adentrou minha boca com delicadeza, ao contrário do que eu esperava. Os lábios eram carnudos e cobriam toda minha boca. Deu uma mordida leve no meu lábio superior e gemi baixinho. Não sabia o que fazer, minha mente enviava um sinal de alerta para todo meu corpo, eu estava em pânico. Apenas fiquei ali enquanto ele movia os lábios sobre os meus. Aquilo era surreal, por que ele estava me beijando?

                        As mãos dele se enfiaram em meus cabelos e desalinharam todo meu penteado, percorreram meu pescoço e apertaram ali de leve.

                        Parou por um momento e me olhou intensamente. Pude ver uma fagulha naquele olhar que nunca havia visto antes, nem nos discursos mais calorosos que ele fizera. E eu não conseguia raciocinar direito, estava confuso e perdido naquele turbilhão de pensamentos. Olhava para todos os lados da sala, buscando alguma coisa, qualquer uma que respondesse às minhas perguntas.

                        —Thomas –murmurei baixinho enquanto ele me olhava

                        Seu dedo passou por meus lábios e parou em minha nuca, fazendo um carinho ali.

                        —Desculpa –ele falou enquanto deitava a cabeça em meu ombro novamente, dessa vez apoiando-se em mim

                        Ele estava quase me fazendo deitar porque me fazia de apoio. Com dificuldade o ajudei a levantar. Estava tonto, não conseguia parar em pé direito sem se apoiar. Saindo da sala de estar olhei para o segurança e imediatamente me apavorei. Será que ele vira alguma coisa? Claro que vira! Ele estava de frente para a sala. Parei em sua frente com Tomas apoiado em meus ombros, de cabeça baixa.

                        Parecia não prestar atenção em nós. O cutuquei.

                        —Você pode me ajudar a levá-lo para o quarto? –perguntei com vergonha

                        Me olhou e pareceu entender a situação. Passou o outro braço de Thomas pelo ombro e me ajudou a carregá-lo para o final do corredor, o quarto do presidente. Thomas era mais pesado do que eu imaginara.

                        Abri a porta e nós o colocamos em cima da cama. Parecia estar em outro mundo, porque riu e se virou de lado.

            —Obrigado –murmurei- Eu vou... Dar um banho nele. –falei imaginando todas coisas que passavam pela mente daquele segurança. Li o crachá dele rapidamente “Oliver”, fiz uma nota mental para me lembrar seu nome

            —Sim senhor, qualquer coisa é só chamar

                        Oliver se retirou. Eu respirei fundo. Thomas agora se apoiava nos braços, me olhava com curiosidade e um sorriso brincalhão no rosto. O encarei irritado.

                        —Tomar banho. –apontei para o chuveiro

                        Como me comportar numa situação daquelas? Achava que era só mandar, nunca havia cuidado de nenhum bêbado na minha vida. Mas logo descobri que teria que fazer a maior parte dos esforços.

                        —E as roupas? –ele perguntou sugestivo com aquele sorriso de bêbado, que de alguma forma ele fez desaparecer quando me beijara

                        —Você tem trinta anos, é presidente dos Estados Unidos, ainda fica de porre e acha que os outros são seus empregados? Não pode tirar a roupa sozinho? –disse com irritação. Pude notar ele ficando sério

                        —Me ajuda –ordenou enquanto abria a camisa com lentidão

                        Eu revirei os olhos, claro que ele não podia fazer aquilo sozinho. Apoiei o joelho na cama e me inclinei para ajudá-lo a desfazer o nó da gravata. Então Thomas parou de tentar tirar a camisa e deitou-se na cama de olhos fechados, deixando todo trabalho para mim.

                        Sentia o peito dele subir e descer pela respiração. Retirei a camisa e não pude deixar de reparar no quanto ele tinha um corpo atlético, bem definido. Não pudera reparar naquilo quando brigara com ele antes, mas agora eu podia. Lembro de ter lido em algum lugar que ele jogava tênis... Explicava as pernas bem torneadas.

                        Minha mente não funcionava direito. Eu estava cansado, apesar das 4 horas de sono. Comecei a tirar o cinto e ele levantou a cabeça, me olhando com malícia. Eu revirei os olhos de novo e comecei a abrir o zíper da sua calça formal. Parecia que eu estava há 2 dias na Casa Branca, quando tudo aquilo havia acontecido em apenas 1 dia.

                        Tirei as calças dele junto com as meias e o sapato. Não iria tirar a cueca. Puxei seu braço e o ajudei a se equilibrar até o banheiro. Pisquei atonitamente ao perceber o quanto aquele cômodo era grande. Havia uma banheira de hidromassagem, uma pia rodeada por balcões de granito e uma ducha. O levei para a ducha, tentando não parecer embasbacado com aquele lugar.

                        Empurrei-o com gentileza para baixo do chuveiro e liguei no frio. Ele tremeu e me olhou apavorado. Ri da cara dele, era como se me perguntasse “por que eu?”. Ele murmurou “muito frio” algumas vezes com o corpo tremendo. Fiquei ali por mais alguns minutos o olhando enquanto ele acordava, ou tentava sair daquele porre.

                        Minutos depois desliguei a ducha, um vapor quente havia se formado no banheiro.

                        Abri uma gaveta do balcão e encontrei uma toalha branca. Enquanto isso Thomas já havia se sentado no vaso sanitário e parecia um pouco zonzo, ainda tremendo, mas mais acordado do que antes. Sequei seus cabelos e o rosto com a tolha, ele fechou os olhos e relaxou enquanto eu o secava.

                        Fiz tudo praticamente, sem reparar muito nele. Eu já não conseguia pensar direito, não com tanta coisa acontecendo em um só dia.

                        O resto do corpo foi mais difícil, visto que ele era pesado e estava sonolento. Depois que terminei o levei com dificuldade para o quarto e o coloquei embaixo das cobertas. Thomas se aninhou nos lençóis e apagou no mesmo momento.

                        Eu suspirei. Virara babá do presidente, que ótimo. Bocejei. Minha cabeça latejava de dor, ouvia um zumbindo nos ouvidos e meu corpo implorava por um descanso. Saí do quarto e apaguei a luz. Não tinha mais como eu pensar em nada, só queria dormir, não queria nem lembrar de tudo no que havia acontecido, naquele beijo, em nada. Precisava de um descanso de mim mesmo.

                        Saí para o corredor e o segurança ainda estava lá.

                        —Tem algum quarto de hóspedes aqui, Oliver? -perguntei

                        —Sim senhor, no final do outro corredor –ele apontou para a direção oposta

                        Eu agradeci baixinho, mas acho que ele nem escutou. Imaginei como minha aparência estava, com olheiras e com o cabelo todo desarrumado, mais a roupa que agora já devia estar amassada.

                        Entrei no quarto cambaleando, não reparei em nenhum detalhe do aposento, apenas tratei de me enfiar debaixo das cobertas e dormir, meu hobby favorito agora.

______

                        Parecia que haviam jogado uma pedra na minha cabeça. Latejava e minhas costas ainda doíam, mas pouco, agora que eu havia dormido na cama mais confortável que já conhecera. Me espreguicei na cama e olhei as janelas, era dia já.

                        Havia um relógio na cabeceira, marcava 7:00 da manhã. Reuni todas minhas forças para sair daquela cama e me encaminhar até o banheiro. Esse era mais pequeno que o da suíte presidencial, claro, mas tinha o seu charme.

                        O chão brilhava e refletia meu reflexo, o que me deixou um pouco tonto. Havia uma banheira, mas não era de hidromassagem. Esperei ela encher para entrar. A água estava quente, mas aos poucos foi ficando morna.

                        Tirei minha roupa que já estava toda amassada e entrei devagar para não cair. Assim que me sentei fechei os olhos com prazer ao sentir meus músculos relaxarem e meu corpo agradecer.

                        Agora eu não podia mais evitar o que havia acontecido. Lembrei da noite anterior e a primeira coisa que veio a minha cabeça foi aquele beijo. E Thomas bêbado. Suspirei com irritação. Eu estava com um pouco de raiva dele, por ter se comportado como uma criança na noite anterior e ter me beijado quando estava bêbado. Ou será que não estava bêbado? Aquele olhar que me lançara me deixou desconfiado.

                        Relevei aquele beijo por causa do uísque, eu sabia que quando as pessoas estavam bêbadas faziam coisas absurdas e das quais não se lembravam no outro dia. Experiência própria.

                        Lembrei do que ele havia me dito, que a mãe queria que se casasse e da cena com Chloe no salão. Thomas falando com Margot ao telefone sobre sua mãe. Respirei fundo enquanto o cheiro bom do sabonete tomava conta do ambiente. Então tudo estava armado para ele se casar com aquela mulher, armado pela mãe e pela assistente de marketing? Tentei clarear as ideias.

                        Thomas não faria algo que não quisesse. E uma prova disso foi a irritação dele na noite anterior ao saber que Chloe estava lá. Ele não queria aquilo. Ficara tão irritado que havia descontado tudo na bebida, pensei. Então minha raiva dele diminuiu um pouco.

                        Mas mesmo assim, ele era o presidente, não podia beber daquele jeito. Relevei porque não conhecia todo o contexto daquela irritação toda. Talvez houvesse alguma outra coisa ali da qual eu não tinha conhecimento.

                        De repente o término com Mike pareceu ter acontecido dias atrás. Resolvi não pensar naquilo e focar meus esforços em meu novo trabalho. Em tentar entender toda aquela teia em que eu havia me metido.

                        Ensaboei meu corpo lentamente, gostando do quanto estava acordado e vívido agora. Quando terminei me enxaguei e levantei-me. Deixei a água escorrer pelo ralo. Me sequei e vesti as mesmas roupas, não havia outra opção.

                        Vasculhei o bolso da calça e encontrei os dois celulares: um que Thomas havia me dado e outro meu, pessoal. Peguei o meu e entrei na internet rapidamente, pesquisei sobre o discurso na noite anterior. As notícias só falavam duas coisas: Israel e Chloe.

                        Ficar ao lado de Israel, uma nova guerra se aproxima?

                        Precisamos tomar um lado no conflito? Veja os prós e contras.

                        Os Estados Unidos no Oriente Médio: nova guerra

                        Aquele era o assunto urgente que eu precisava discutir com ele. Quando ele saísse daquele porre e lembrasse que era presidente da maior potência mundial. Fui rolando a página até outras notícias.

                        Chloe e o presidente são vistos juntos após discurso sobre Israel

                        O presidente acompanha Chloe Moreau até sua casa

                        Romance? Por que o presidente não deu nenhuma declaração ainda?

                        Revirei os olhos a cada manchete que eu lia. Aquele era um assunto fundamental também, e eu precisava saber de tudo sobre o que quer que a mãe de Thomas e Margot tinham a ver com aquilo.

                        Guardei o meu celular e peguei o outro, o presidencial. 1 NOVA MENSAGEM.

                        Café da manhã, me encontre na sala de refeições. -K

                        Respirei fundo e saí do quarto. Me sentia renovado agora, bem descansado e mais leve. Embora minha mente desse voltas e mais voltas, maquinando sobre o dia anterior.

                        Fui para a ‘sala de refeições’. A porta foi aberta por um segurança. Só Thomas estava lá, sentado em frente a uma mesa cheia de comida. Ele sorriu ao me ver. Havia se recuperado rapidamente da bebedeira, imaginei.

                        Me sentei em sua frente. Ok, aquilo era estranho. Será que se lembrava que havia me beijado? Em todo caso eu ainda trabalhava para ele, então tentei fingir como se nada tivesse acontecido. Arrumei o guardanapo em meu colo. Ainda me olhava.

                        —Então Damien, espero que tenha dormido bem –bebia um suco

                        Eu o olhei com suspeita, estava estranho, sorrindo e eu não sabia se era um riso zombeteiro, irônico ou sincero. Era difícil ler suas expressões quando dava aqueles sorrisos ambíguos.

                        —Não se lembra de nada de ontem? –perguntei enquanto pegava um pãozinho. Evitei olhá-lo diretamente, temendo a resposta

                        —Claro que eu lembro. Se eu não lembrasse não estaria apto para exercer esse cargo –ele riu

                        Arqueei as sobrancelhas e o encarei. Ele ia fingir que nada havia acontecido? Resolvi não tocar no assunto, mas ele estava com vontade de me fazer sentir vergonha.

                        —Você me ajudou a tomar banho –eu fiquei vermelho enquanto comia o pão, me concentrando na comida- Muito obrigado. –ele tinha uma expressão maliciosa no rosto- E desculpe pela irritação após o discurso. Não era para ela estar lá. –fechou a cara e começou a se servir

                        —Por que ela estava lá? –perguntei interessado

                        —Acho que você precisa saber de tudo, já que vai trabalhar aqui. –respirou fundo com uma expressão séria- Chloe foi invenção da minha mãe, que obrigou Margot a ajudá-la nesse plano ridículo. –revirou os olhos- Basicamente o que elas querem é que eu me case e tenha muitos filhos para que o povo americano pare de especular sobre minha vida. –suspirou

                        —Você é próximo da sua mãe? Quer dizer... –ele me interrompeu rindo

                        —Mais ou menos. Quando ela não tenta se meter no meu trabalho eu gosto dela. –deu uma mordida num bolinho de maracujá

                        —E o que você vai fazer sobre isso? –tomei um pouco do meu suco. Estava bom, assim como as tortinhas de morango distribuídas pela mesa

                        —Dar um ultimato a Margot, ela não deveria estar conspirando pelas minhas costas. E minha mãe, eu resolvo as coisas com ela.

                        Ficamos em silêncio. E naquele momento a lembrança do beijo recaiu sobre mim. Tomei todo o meu suco num gole só, me sentindo nervoso. Ele me observava de soslaio, sorrindo de lado.

                        —Me desculpe por você ter me visto daquele jeito. Eu estava muito irritado e não consegui me controlar. Minha mãe sempre apronta uma dessas e me deixa daquele jeito. Quando eu disse que me lembro de tudo é tudo mesmo viu? –senti meu rosto ficar quente. Thomas agora me observava tentando adivinhar minha reação

                        Quase engasguei com aquela última frase. Como se reagia aquilo? Eu não sabia. Minha mente voltou para a primeira vez que Mike e eu nos beijáramos e senti culpa. Culpa ter beijado Thomas? Ou melhor, por ter sido beijado. Eu quase não me movera de susto. E não sabia dizer se gostara daquilo, afinal ele estava bêbado.

                        —Thomas eu... –engoli em seco. Precisava esclarecer tudo se teríamos que nos falar todo dia- Eu recém terminei um relacionamento. Mike foi... –suspirei- Muito importante para mim. –olhei para minhas próprias mãos, agora no colo, apertadas ao guardanapo. Minhas palavras saíram um pouco confusas

                                —Mike? Esse é o nome do seu namorado? –arqueou as sobrancelhas me encarando

                        —Sim, Mike Port. Ex-namorado. –respondi ainda nervoso- Olha, eu só preciso que você me conte as coisas, por exemplo sobre sua mãe. Caso... –mordi o lábio- alguma coisa aconteça no futuro nós precisamos nos preparar. Para escândalos. –fiquei em silêncio, evitando olhá-lo

                        Ouvi o riso dele e respirei fundo. Cada dia ficava mais difícil de conversar com ele. Mas eu teria que lidar com aquela personalidade, querendo ou não.

                        —Concordo. –falou- Você precisa de um tempo Damien, pra processar tantas informações. Acho que te beijar ontem não foi minha melhor estratégia –ele riu enfiando uma tortinha na boca

                        Corei com vergonha. O que ele queria dizer com estratégia? O que ele queria realmente de mim? Por que havia me escolhido para ser seu assistente, justo eu? Aquelas perguntas ainda povoavam minha mente, mas não sabia se podia fazê-las. Tamborilei meus dedos na mesa com nervosismo e o encarei diretamente.

                        —O que você quer de mim? E já que se lembra de tudo, por que me beijou? –sustentei seu olhar

                        —Eu quero que você me auxilie como Presidente. Mas eu também te acho incrível e inteligente. –Thomas me encarava profundamente e fiquei mais vermelho ainda ao ver novamente aquele mesmo olhar da noite anterior, inflamado, penetrante- Estou há dois anos no poder, as pessoas especulam sobre a minha vida livremente, falam o que querem. Em dois anos eu nunca estive em nenhum escândalo político. Ou sexual. –acrescentou e riu- E nem pretendo estar. Mas o que eu desejo é poder escolher com quem saio, com quem sou visto. Eu não escolhi ser visto com Chloe, ela foi praticamente empurrada para cima de mim. Não posso fazer o que todos querem, que tipo de presidente eu seria? –franziu o cenho-

                        —Damien... –continuou- Você trabalha para mim. Mas isso não impede que outras coisas aconteçam. –hesitou um pouco. Ele estava sugerindo que tivéssemos um caso?- Eu sei o que eu quero de você, mas também quero saber o que você espera de mim.

                        Fiquei em silêncio. Servi mais suco em meu copo e tomei alguns goles antes de responder, sentindo um calor momentâneo. Thomas me encarava curioso, com o queixo apoiado na mão. Havia acabado de dizer basicamente que “tudo bem rolar algo mais entre a gente”? Eu já duvidava da sexualidade dele, mas agora...

                        —Eu acabei de terminar um relacionamento Thomas –falei a única coisa que me veio a mente

                        —Eu sei. E sinto muito por isso, mas quem saiu perdendo foi esse Mike. –arqueou as sobrancelhas- Não estou te pedindo nada, só que deixemos as coisas acontecerem, dando tempo ao tempo.

                        Eu ainda não acreditava que o presidente dos Estados Unidos estava dando em cima de mim descaradamente. Eu ri de mim mesmo internamente, será que aquilo era real? Então era por isso que Thomas não queria se casar? Ele gostava de homens? Ou dos dois? Eram tantas perguntas... E eu não fazia a menor ideia do que fazer com aquelas coisas que ele havia me dito.

                        O que eu queria dele? Depois de muitos segundos em um silêncio constrangedor e dele me encarando enquanto eu viajava em meus pensamentos resolvi falar.

                        —Eu quero que você seja o melhor presidente que esse país já teve. –eu disse sinceramente- Você perguntou o que eu queria de você –Thomas agora me encarava um pouco sobressaltado mas sorrindo

                        —Vou fazer de tudo para conseguir ser o melhor presidente. –limpou a boca no guardanapo rapidamente

                        Pude notar uma animação em sua expressão, corporal e facial. Seus olhos brilhavam de alegria e ele agora comia com mais vontade, e bastante. Estávamos acabando com os pães, geleias e tortinhas quando fomos interrompidos por Oliver, que entrou na sala subitamente sem bater.

                        A expressão de Thomas passou de feliz para irritado e antes que ele pudesse protestar contra aquela invasão o segurança falou.

                        —O senhor precisa ir imediatamente para a Sala de Situações. É algo sobre Israel, parece que um conflito armado explodiu lá.

                        Eu já estava me levantando quando Thomas me impediu. Já estava em pé, agora vestia o paletó com pressa, parecia muito concentrado e preocupado. Pude notar uma movimentação na porta da sala e vários seguranças pareciam ter brotado ali, do nada.

                        —Tome seu café da manhã, já volto. –ele murmurou rapidamente

                        Eu ia protestar mas ele me deu um beijo na bochecha e eu evitei olhar a reação dos seguranças, embora eu ache que eles não podiam reagir àquilo. Thomas saiu da sala com rapidez, e ainda assim um pouco de elegância, tenho que admitir, ele se vestia bem e estava sempre perfumado e com o cabelo arrumado, quase sempre, tirando noite passada.

                        Meu rosto ainda estava corado daquela conversa toda e ainda mais depois daquele beijo na bochecha. Peguei meu celular e fui pesquisar o que estava acontecendo no mundo.

                        Financiamento de rebeldes pela Rússia em Israel causa conflito na região

                        Franzi o cenho. Não sabia que os rebeldes estavam sendo financiados pela Rússia. Passei para a próxima manchete.

                        Uma guerra ou apenas um conflito entre EUA e Rússia?

                        Abri essa notícia e comecei a ler enquanto roía as unhas. Me sentia nervoso agora que estava onde aquilo tudo estava acontecendo, onde ordens eram dadas, onde o mundo era controlado.

                        “Explodiu na manhã desta terça-feira em Israel um conflito armado entre militares e rebeldes financiados pela Rússia. Os rebeldes, em sua maioria pessoas que fugiram dos conflitos no Oriente Médio, reivindicam parte do território de Israel, alegando precisarem de uma nação para si onde se estabelecer.

                        Mesmo com tentativas fracassadas de diálogo, o grupo continua trocando tiros com os militares, apoiados e aparelhados pelos Estados Unidos. A Rússia busca um aliado no Oriente médio ao financiar tal grupo.”

                        Aquilo era muito sério. Tentei pensar em alguma solução, mas não consegui nenhuma que fosse viável e pacífica. Os Estados Unidos não podia entrar em guerra com a Rússia. Seria uma 3ª Guerra Mundial. Havia muita coisa em jogo e para mim a única saída era um acordo de paz. Mas ninguém conhecia profundamente aquele problema, ele havia explodido agora. Já tinha se armado há tempos, mas nunca se concretizava.

                        Tamborilei meus dedos na mesa nervosamente. Então chegou uma mensagem em meu celular.

                        De: Jess

                        OI D! Amanhã eu passo na sua casa, podemos almoçar, o que acha? Podemos até cozinhar juntos como nos velhos tempos. E vou levar o Chris. Leva o Mike, se vocês ainda estiverem juntos. Beijinhos.

                        Revirei os olhos. Não podia ter vindo em momento mais inconveniente. Fiz uma nota mental para responder depois. E porque ela tinha que levar o Chris? Eu não gostava dele. Suspirei.

                        Minha vida já havia se tornado uma montanha russa. E eu parecia estar em looping eterno, não entendendo nada.

.


Notas Finais


• A formatação fica toda torta quando colo aqui, já tentei resolver, não deu certo :/
• Mas então, o que acharam do capítulo? Espero comentários! Por favor comentem, quero muito saber o que estão achando.
• Se quiserem falar comigo no twitter: PervertFujoshi, to usando a hashtag #FanficOPresidente pra divulgar os capítulos
• MUITO OBRIGADA por acompanharem :D


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