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História O teste 3 - O teste de Jackson


Escrita por: Lehh-Ama-AlanWalker

Capítulo 8 - O teste de Jackson


— Não posso...

 Os olhos frios e racionais de Jihyo encontram os meus. 

— Você está planejando matar o doutor Barnes e onze dos seus adeptos. Você acha mesmo que um a mais vai fazer diferença pra presidente, desde que você atinja o objetivo dela? 

— Não — murmuro. Tenho certeza de que não, mas pra mim faz. jackson salvou a minha vida. Minhas pernas começam a tremer. Coloco as mãos na bancada fria, enquanto sou tomada por uma tontura. 

— Só porque você gosta do jackson, isso não significa que ele não seja uma ameaça. Pelo que sei, você tem duas escolhas: deixar ele fora disso, ou aplicar um teste que vai fazer com que a gente saiba se você está certa em confiar nele, e que vai descartá-lo, caso você esteja errada. 

Manter jackson fora do plano? Duvido que ele deixaria isso acontecer. Ele já sabe sobre a falsa rebelião e a verdadeira natureza do Teste. E mais, está ciente do que penso sobre as duas coisas. Estará observando o que faço. Se ele não fizer parte da equipe, com certeza interferirá nela, ou provavelmente trabalhará contra nós. Mesmo sem saber o que vou fazer, jackson poderia fazer o plano fracassar. Meu irmão e os rebeldes poderiam morrer. O Teste continuaria. E o resto do país... É impossível saber quais seriam as repercussões, mas sei que não posso arriscar que isso aconteça. Não, se posso potencialmente impedi-los. 

Tentando não pensar no que estou fazendo, enfio o segundo rastreador na caixa. Depois, vou para os armários que guardam os produtos químicos.

 Trancado. 

Não é uma surpresa, mas também não é um impedimento, uma vez que os baús de madeira onde meus irmãos costumavam guardar seus itens pessoais tinham o mesmo tipo de fechadura. Quando eu era pequena, eles me provocavam escondendo minha boneca de pano favorita neles. Como meu pai acreditava em jogo limpo, ele me ensinou a abrir as fechaduras desses baús com um arame ou alguma peça fina de metal. Depois que meus irmãos descobriram que eu podia abrir as fechaduras, pararam de pegar a minha boneca. Não tenho tido motivo para usar essa habilidade desde então, mas não perdi a destreza. Em instantes, as portas do armário estão abertas. Enquanto Jihyo elogia minha habilidade em arrombar, encontro o que preciso pra criar mais uma coisa que meu pai me ensinou, algo que poderia servir ao propósito que Jihyo sugere. Nitrato de potássio, pó de carvão e pó sulfúrico. 

Jihyo concorda com um gesto de cabeça, enquanto coloco os produtos químicos sobre a mesa, e começo a medir, esperando me lembrar das porcentagens certas. Distribuo a mesma quantidade de cada substância duas vezes; assim, quando termino há duas vasilhas que contém setenta e cinco por cento de nitrato de potássio, e quantidades menores de pó sulfúrico e pó de carvão. Fico de olho no relógio, enquanto nós duas moemos os produtos juntas. O processo é lento, mas com a divisão de tarefas vai mais depressa.

 Jihyo passa o tempo batendo papo. 

— Consigo entender por que a presidente quer acabar com o Teste, mas ele não pode ser de todo mau. Quero dizer, tem de haver algum tipo de critério para quem consegue ficar no comando e quem não consegue.

 — Matar candidatos parece um método extremo de fazer essa escolha — digo, embora não possa deixar de pensar no que estou fazendo agora, e me perguntar se minhas escolhas não são tão extremas quanto.

 — Não posso imaginar que eles matem todos os que não passam. Certo? — Jihyo para e olha pra mim. — Este país ainda está em reconstrução. Matar mais de oitenta candidatos do Teste todos os anos não é lógico. 

— Então, o que você acha que acontece com eles? — Muitas vezes eu me perguntei se os candidatos que não foram mortos como punição direta pelo fracasso sobreviveram.

 — Não sei. — Jihyo recomeça a trabalhar. — A gente não consegue se lembrar do nosso Teste, mas quem disse que ele foi tão ruim como te disseram? E mesmo se tiver sido, pense na penalidade para os líderes que fracassam. Eles não são os únicos que sofrem as consequências quando isso acontece. De que outro jeito dá pra dizer se alguém pode lidar com isso? 

A argumentação calma de Jihyo é perturbante, porque percebo a lógica nas suas palavras. 

— Tem de haver outra maneira — retruco. 

— Bom, vai ter de ter, uma vez que vamos acabar com ele. Mas você tem de pensar que, se a presidente está te pedindo pra fazer isso, o Teste talvez já tenha lhe dito do que você é capaz. O que acontece depois que o Teste termina e eles precisam de líderes ansiosos por fazer o que for necessário para ajudar este país a sobreviver? Só porque alguém diz que eles são capazes, não quer dizer que seja verdade. E só porque você acha que alguma coisa é errada, não significa que não seja necessária.

 — Se você acha que o Teste é necessário, por que está trabalhando comigo pelo fim dele?

 O sorriso de Jihyo é duro e extremamente conhecido. Ele me causa arrepios agora, especialmente quando ela diz: 

— Porque quero minha chance de garantir que os erros que arruinaram este país nunca mais aconteçam. Se eu tiver de matar pra tornar isso uma realidade, então é isso que vou fazer. — Jihyo ri. — Além disso, você nunca faria nada que não tivesse certeza de que fosse absolutamente correto. Se você acredita que, acabando com o Teste vamos impedir uma potencial guerra civil, pra mim basta. 

Perco o fôlego. Meu peito se aperta, enquanto as palavras ditas casualmente por Stacia se instalam nos meus ombros como uma canga. Ela está aqui porque pedi. Ela não vai matar por paixão pelo nosso propósito, mas por minha causa, meu pedido, minha crença, minhas escolhas. Só posso torcer para que eu esteja no caminho certo. 

Trabalhamos em silêncio na próxima meia hora. Quando terminamos de moer o pó, nossos braços estão cansados. Jihyo me ajuda a filtrar o pó preto, depois o testa, colocando um punhadinho da substância em um bloco de madeira. Coloco a madeira sobre uma mesa, encosto o fósforo nela e dou um passo pra trás quando a substância pega fogo. Uma chama de vários centímetros de altura queima com gosto, depois vai se apagando.

 Não levamos muito tempo pra colocar tiras de papel e o pó preto no falso rádio de pulso que construí. Depois, enfio dois fios nos buracos e passo fita adesiva preta em volta da tampa para garantir que os fios fiquem no lugar e não escape nada do pó pelos buracos. 

Verifico o interruptor do rádio, para ter certeza de que foi feito do jeito certo. Para conectar a fonte de energia, a pessoa precisa acionar o interruptor, e depois virar um botão a cento e oitenta graus. Trata-se de um projeto usado algumas vezes para se certificar de que não há desperdício de energia, caso um interruptor seja colocado por engano na posição Ligado.

 Jihyo se afasta, enquanto conecto as outras pontas dos fios na minha fonte de energia. Conto até dez, e então solto um suspiro de alívio quando o aparelho fica imperturbável nas minhas mãos. 

— Bom, isso foi interessante de assistir. Estou feliz em saber que estou do seu lado. — Seu sorriso é mais aberto e satisfeito. — E aí, quando é que você planeja dar isto pro jackson? Quero ter certeza de estar bem longe, caso ele resolva tentar. 

— Não sei. Agora que estou com isto nas mãos, posso vê-lo apertar o botão, pondo fogo no pó e sendo pego na explosão.

 — Aproveite a primeira oportunidade que aparecer. Se for pra gente vencer, não temos tempo a perder. 

Ciente de que ela tem razão, despejo com cuidado o que falta do pó preto num pequeno frasco de amostra, fecho a tampa, e o coloco na minha sacola, junto com um maço de fósforos do armário. Juntas, limpamos as provas de que alguém esteve na sala, fechamos as portas do armário e pegamos nossas coisas. Tiro um dos rádios de frequência única da minha sacola, e dou para Jihyo. 

— Eu te aviso quando tiver acabado de testar os outros, e pudermos dar o próximo passo. Agora, tenho de ir pra aula. 

— Por quê? — Jihyo enfia o rádio ao lado dos seus livros, e sacode o cabelo. — Algo me diz que faltar a algumas aulas não vai realmente afetar nossas notas daqui por diante. 

— Talvez não, mas até começarmos nosso ataque, precisamos nos ater a nossa rotina normal. 

— Bom, ninguém vai se espantar se eu me atrasar. — Ela sorri. — O próprio professor Frick não é exatamente pontual. Vejo você na aula amanhã, se não houver nenhum recado seu antes. — Ao sair, ela olha para a mesa onde está o teste do jackson. — E boa sorte. 

Pego o dispositivo com cuidado, enfio-o na minha sacola, e reparo que a luz vermelha de mensagem está acesa no meu rádio de pulso oscilante. Taehyung. 

— Espero que este troço dê certo. Andei perguntando a alguns dos veteranos sobre Dreu, e acho que tenho novidades. Encontre-se comigo depois da aula na estufa. Com o cancelamento dos estágios, deve ser um bom lugar para se encontrar. Ah, e Jennie... eu te amo.

 Essas palavras me dão força pra pegar minha sacola e ir até a porta. O teste pro jackson é parecido demais com alguma coisa que o doutor Barnes ou seus oficiais teriam imaginado. Taehyung, porém, já sofreu as consequências de eu ter confiado na pessoa errada. Desta vez, não será só o Taehyung, mas os rebeldes, e talvez o restante do país a sofrer. Jihyo está certa. Se jackson perceber que foi testado e falhou, sua reação poderia trazer sérias consequências, não apenas pra mim e para aqueles que estão trabalhando comigo, mas para os rebeldes e os futuros candidatos do Teste. Não posso me permitir errar a respeito de jackson. Tenho de ter certeza e não consigo pensar em outra maneira. 

O professor está pronto pra começar sua explanação, quando me enfio em um lugar perto da frente, na minha aula de Línguas Mundiais. kwangmin levanta uma sobrancelha, quando consegue minha atenção. Eu me limito a sorrir e dou de ombros, como se quase chegar atrasada à aula fosse normal. 

Tomo nota e tento me concentrar, enquanto o professor fala sobre as línguas dos países da Aliança Asiática, mas o tempo todo estou olhando pra minha sacola, pra checar o monitor. Duas luzes piscam juntas. Uma, próxima ao prédio onde estou, pertence a Ian. A outra pertence ao dispositivo potencialmente mortífero aos meus pés.

 A aula termina. Entrego minha lição de casa, anoto as instruções para o dever da semana e vou para minha próxima aula, Química. 

jackson senta-se ao meu lado. Meu coração golpeia com a contagem dos segundos. Jihyo disse que eu deveria agarrar a primeira oportunidade que aparecesse. É esta. 

De algum modo, consigo me levantar sem tremer, quando a aula termina. Minha voz está impassível, quando pergunto a Raffe se ele tem um minuto pra conversar. 

— Você está bem? — ele pergunta, depois que os outros alunos saem da sala. — Você parece nervosa. 

— Você vai voltar pra república agora? 

— Estava nos meus planos. Quer voltar comigo?

 — Não posso. — Espero que o último estudante saia, antes de dizer: — Tenho de me encontrar com alguém, mas não quero levar uma coisa comigo, enquanto faço isso. É importante demais. — Abro minha sacola, e tiro a caixa de metal que criei. 

— O que é isto? — ele revira o aparelho nas mãos. 

— É um gravador que o Taehyung, que poderia ser útil pra acabar com tudo — se eu conseguir levá-lo até a presidente. — Respiro fundo. — Espero que a restrição a deixar o campus seja suspensa amanhã, e eu possa entregá-lo pra ela então, mas não quero estar com ele agora, caso alguma coisa dê errado neste encontro. Eu o devolveria pro Taehyung, mas...

 — Eu me responsabilizo — jackson me assegura. — Mas parece que o lugar aonde está indo pode ser perigoso. Tem certeza de que deveria ir sozinha? Talvez você devesse me deixar... 

— Vai dar tudo certo. Esta é uma coisa que tenho de fazer sozinha, mas preciso que você me prometa que não vai escutar a mensagem. O dispositivo de gravação parece ruim. Tenho medo de que o sinal de pulso não aguente mais de uma vez. — Uma oportunidade tentadora pra alguém que esteja procurando ajudar Symon e o doutor Barnes. Conseguir as gravações do Teste deveria ter mostrado que jackson e eu temos os mesmos objetivos. Entretanto, existe uma chance de que ele soubesse sobre o Symon e a falsa rebelião através do seu pai, e soubesse que aquelas gravações seriam destruídas no final. Se acionar a gravação, vou saber para onde pende a sua lealdade. E se entregar para alguma outra pessoa acionar, eles pagarão o preço. De qualquer maneira, terei a resposta que procuro. 

Um lampejo de irritação cruza o rosto de jackson. Desaparece quase tão depressa quanto veio. 

— Você pelo menos vai me contar o que tem nela? Ou essa informação é só pra você e o seu namorado?

 — Vou te contar tudo hoje à noite. Tudo. — Enfatizo, encarando seu olhar raivoso. — Juro. 

Vejo a raiva diminuir. 

— Tudo bem — ele diz —, então eu também juro. Cuide-se, e não se esqueça do que acabou de dizer. Vou cobrar.

 Vejo-o enfiar o dispositivo que criei na sacola e me pergunto se esta é a última vez que nos veremos. O explosivo que produzi é muito parecido com os que meu pai e meus irmãos usavam no trabalho, quando precisavam quebrar uma rocha. A quantidade de pó que usei é pra machucar seriamente ou matar. Se jackson resolver ouvir e potencialmente eliminar a mensagem que acredita estar contida lá, ligará o interruptor, girará o botão e provocará uma faísca com os arames que deverão acender o pó que criei. 

jackson e eu saímos do prédio juntos. Enquanto ele se dirige para a república com o aparelho, visualizo o papel e o pó pegando fogo, e depois a explosão. Tenho vontade de correr atrás dele e pegar o dispositivo de volta, mas me lembro das palavras de Jihyo, que o que é errado, às vezes, é necessário. Eu me viro e caminho em outra direção, pensando se os oficiais do Teste dizem a mesma coisa para si mesmos.

 O Sol brilha. O tempo mais quente, combinado com a caminhada rápida, me faz suar. Ao meu redor há sinais de que a primavera chegou a Tosu City: a grama mais verde, brotos transformando-se em folhas, e flores prestes a desabrochar. Todos os sinais de esperança.

 Agarro-me a essa esperança, enquanto checo o monitor. Os dois dispositivos estão por perto. Um parece estar perto da república dos Estudos Governamentais — jackson. O outro está em algum lugar a sudeste da minha posição. Eu imaginaria que Jin esteja na biblioteca. De qualquer modo, sei que ele ainda está no campus. Pegando isso como um bom presságio, apresso o passo dirigindo-me ao estádio e à estufa, que fica no seu centro.

 Há muito tempo, a estrutura era usada para eventos esportivos, mas, depois dos Sete Estágios da Guerra, os cientistas precisavam de um ambiente controlado para plantar e cultivar seus novos espécimes. Como essa construção não tinha um propósito lógico na nova cultura de revitalização, os botânicos mais importantes do país cercaram com vidro o espaço aberto no centro da estrutura, para criar uma enorme estufa e modificaram os cômodos circundantes, situados em seu limite externo, para funcionar como laboratórios genéticos. Dependendo do dia, a área pode estar em plena atividade, com estudantes, biólogos e vários oficiais que executam seu trabalho. Sem estágios para compelir os estudantes a trabalhar, o prédio parece estar deserto. 

Checo o gravador do rádio de pulso para ver se Taehyung deixou alguma mensagem quanto ao lugar exato onde ele quer que eu o encontre, mas a luz está apagada. Apesar de o estádio parecer um bom lugar para um encontro, é enorme. Logo junto à entrada principal, do lado de dentro, me parece o lugar mais lógico, então caminho nessa direção. 

Enquanto ando, ligo o Comunicador de Trânsito, para o caso de Namjoon ter novidades. Como ele não responde ao meu chamado, olho em torno para ver se tem alguém por perto, e se está olhando pra mim. Ninguém. Já percorri o prédio, mas tive pouca necessidade de usá-lo, ao contrário de Taehyung. Depois de ter sido designado para Engenharia Biológica, ele foi forçado a passar por um teste de Iniciação potencialmente mortal aqui. De todos os campos designados de estudo, a Engenharia Biológica é a que trabalha no prédio com mais frequência, razão pela qual faz sentido que Taehyung queira me encontrar aqui. 

A entrada para o estádio está aberta. Passo pelas portas e entro no corredor mal iluminado, olhando de um lado e de outro para os dois outros corredores que saem deste daqui. Nada de Taehyung.

 Depois de dar alguns passos em um deles, à procura de indicações de uma área de espera comum, ouço passos atrás de mim.

 — Jennie — sussurra uma voz masculina. 

Viro-me e forço a vista no corredor escuro. Como o prédio é muito grande, os corredores e a maioria das salas não ficam iluminados, a não ser quando estão em uso. A maior parte da energia coletada pelos enormes painéis solares afixados no telhado é conduzida para manter o clima controlado na estufa.

 Uma figura se revela.

 — Taehyung? — pergunto, mas sei que não é. Os ombros são muito largos. O cabelo é apenas um pouco mais longo. 

Meus instintos gritam para que eu me vire e corra. É o que faço.



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