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História O tutor - Trinta


Escrita por: luzinanda

Notas do Autor


Oi gente, tudo bem?
Perdão pela demora, eu estive meio aérea boa últimos dias e mesmo com o documento word aberto não consegui escrever muito, esse capítulo foi feito aos poucos e finalmente saiu, embora hoje eu tenho mudado ele quase inteiro.
Vejo vocês nas notas finais.

Boa leitura.

Capítulo 30 - Trinta


O dia seguinte amanheceu com tensão, a casa estava silenciosa e pela primeira vez em meses, a sala de jantar estava vazia. As crianças comeram na sala, sentadas no tapete macio, Hanji estava com eles e Levi não tinha saído do quarto.

Com o celular entre os dedos, Levi encarou a tela por horas seguidas, esperando ansiosamente por qualquer notícia ou pista do paradeiro de Eren. As ligações do dia anterior se mostraram infrutíferas e depois de ligar para mais da metade dos hotéis da cidade, em algum ponto todos precisaram ir dormir e Levi apenas se retirou quando Zofia e Udo apareceram chorosos na sala, despertando o Ackerman de sua busca imprecisa na madrugada.

Os pequenos estavam assustados e confusos, Eren tinha sumido, o pai estava triste e todos os outros adultos esquisitos. Eles eram espertos demais para não perceberem os sinais de que algo errado aconteceu, então decidiram, juntos, ficar com o progenitor naquela noite.

Udo foi o mais difícil, em algum momento com Levi entre ele e Zofia, o garotinho começou a chorar, perguntando incessantemente se Eren tinha ido embora como as outras tutoras, Zofia não chorou, mas seus enormes olhos azuis estavam arregalados e assustados com a suposição do irmão.

Foi necessário muito carinho e convencimento para que os dois fossem dormir, Levi não queria mentir para os filhos, porém não tinha outra opção, então se viu dizendo que Eren estava resolvendo algumas coisas importantes, mas que voltaria.

Zofia disse que iria receber Eren como um verdadeiro príncipe, oferecia seus beijos e abraços reais. Udo pediu apenas para dormir com o tutor quando ele voltasse para matar a saudade e com os olhos ardendo, o mais velho achou impossível negar qualquer coisa a eles. 

Apesar do conforto de sua família, dormir foi difícil. Levi já era um homem madrugador, antes de conhecer Eren qualquer motivo era o suficiente para mantê-lo acordado, então não foi surpresa que mesmo estando entre braços – e pernas – calorosos, seu corpo não relaxou e na manhã seguinte, sua expressão estava ainda pior.

Foi por volta das oito da manhã que seu telefone finalmente tocou, o nome de Erwin despontando na tela, Levi não tomou nem dois segundos para atender a ligação, respirando forte contra o aparelho eletrônico.

– Erwin?

Imagino que não esteja com paciência para saudações educadas. – Se não estivesse tão cansado Levi teria praguejado contra o loiro. – Consegui as gravações, enviei para seu email e já pedi para alguém da polícia ir até aí, não seria sábio deixar você ser visto na delega-

Levi desligou, já abrindo o aplicativo de email de seu celular e começando a baixar o vídeo anexado por Erwin.

– "Em outro momento peço desculpas pela minha falta de educação, Erwin sabe que não estou exatamente no meu melhor momento, ele vai entender." – Pensou sem sentir o mínimo de culpa por tratar alguém que estava lhe ajudando desse modo.

Levi tem outras prioridades no momento.

A gravação do dia anterior estava cortada para os segundos que antecedem a saída de Eren do banheiro. A qualidade não é a melhor e a coloração preto e branca, porém, o que podia ver era o suficiente para identificar as pessoas na imagem. 

Ao lado da porta do banheiro uma figura grande esperava, cabelos aparentemente claros e expressão simpática e relaxada e mesmo que nunca tivesse visto o homem pessoalmente, Levi reconheceu Reiner assim que colocou os olhos nele. 

Quando Eren saiu e inicialmente ignorou o ex, o Ackerman sentiu o peito arder com o entendimento da situação, era óbvio que Eren não acreditou que Reiner estivesse ali de verdade, o Jaeger com toda a certeza acreditou que estava em alguma crise para não ter que lidar com a verdade.

Levi mordeu a língua quando Reiner agarrou o braço do outro, a raiva se acumulando rapidamente em seu espírito, fazendo-o apertar o celular com mais força do que o necessário, a ponta de seus dedos ficando pálido pela falta de sangue.

Depois de desmaiar, Eren foi carregado tranquilamente até os fundos do lugar, onde provavelmente havia uma saída de emergência, Reiner estava confiante e com razão, pois ele facilmente tinha sequestrado uma pessoa e a polícia nem mesmo estava se movendo para ajudar.

Levi não sabia quanto tempo permaneceu parado encarando a tela apagada, sua mente estava em branco e seus dentes em uma mordida tão forte que tinha certeza que quebrariam em algum momento, o maxilar doía porém o Ackerman não conseguia controlar, era isso ou socar a parede até quebrar os ossos da mão.

– Levi. – Ele não percebeu Hanji abrindo a porta ou se aproximando, mas também não fez esforço para olhar em sua direção. – A polícia está aqui, eles tem o vídeo e querem nossos depoimentos.

O Ackerman concordou com a cabeça, se levantando e seguindo até a porta.

(...)

Todos já estavam vestidos e arrumados, esperavam apenas Kaya para que voltassem ao estúdio onde no dia anterior Eren estava com eles.

Kaya ainda tinha uma apresentação naquele dia e mesmo com os acontecimentos recentes, ela não podia desistir, a adolescente sabia que o tutor ficaria chateado se descobrisse que a desistência foi por conta de seu sumiço. 

Levi esperava conseguir se distrair e também os filhos, ele não estava sendo o pai que prometeu melhorar naquele momento, não conseguia confortar ninguém quando seu desespero só aumentava com a demora. Levi sabia que não podia contar com a polícia, Eren não era alguém importante o suficiente para ter algum esforço colocado e com a mídia totalmente excluída do caso, ninguém tinha motivos para se apressar.

Nenhum dos oficiais que atendeu o Ackerman fez qualquer questão de esconder isso e Levi sabia exatamente o porquê.

A viagem de carro foi silenciosa e a entrada no estúdio não tão animada como antes, Kaya foi deixada no corredor dos camarins com alguns abraços e beijos e sussurros de encorajamento, a própria adolescente parecia enjoada e sem vontade de estar ali, mas dava para ver o esforço que colocava para manter a determinação, o que seu pai admirou. A loira era sem dúvidas muito forte.

O apresentador e os jurados começaram a falar em algum momento depois que a plateia estava acomodada e cheia, as mesmas frases comerciais e comentários duros se repetiram com palavras diferentes e dessa vez, Kaya precisou esperar enquanto o garoto que competia consigo cantava.

Ele foi bem tentando reproduzir a versão de 'impossible' de James Arthur, mas não foi impressionante, como um dos jurados comentou: Foi mais do mesmo.

Levi acenou com confiança para a filha quando seu lado do ringue se iluminou, uma das músicas que ela tinha ensaiado a semana toda começou a tocar somente com o som de um piano após o apresentador anunciar o nome.

'Halo' da Beyoncé era uma escolha arriscada e perigosa, muitos já tentaram passar com aquela música e Levi sabia que poucos conseguem realmente fazer algo bonito ao vivo com ela, não sem soar como uma cópia da cantora.

Mas aquela era Kaya e quando ela começou a cantar, mais lenta e profunda do que a composição original, todo o auditório silenciou em respeito aos sentimentos empregados nas palavras.

Lembra daquelas paredes que construí

Bem elas estão desmoronando

Elas nem tentaram ficar em pé

Nem fizeram um som

Levi sorriu exasperado e sem humor com a bendita letra escolhida pela filha, ele tinha absoluta certeza que foi proposital e que Eren deveria estar ao seu lado escutando, uma declaração indireta do que o moreno conseguiu fazer com o Ackerman mais velho.

Eu achei um jeito de deixá-lo entrar

Mas eu nunca tive dúvida

Sob a luz de sua auréola

Eu tenho meu anjo agora

Kaya tinha começado a música com delicadeza, quase flutuando nas notas baixas e com certeza mais fáceis para seu tom de voz, porém quando a segunda estrofe começou, o piano subiu mais tons do que o esperado, sendo acompanhado pela adolescente parada no palco. Não havia sorrisos ou olhares confiantes em seu rosto bonito, Kaya vestia branco e parecia receosa.

É como se eu estivesse despertando

Todas as regras que eu tinha você está quebrando

É o risco que eu estou correndo

Eu nunca vou te calar

A última frase foi como o aviso de uma explosão, Levi podia sentir seu próprio corpo se arrepiando em ansiedade pela voz potente que viria a seguir, podia ouvir os suspiros de anseios das pessoas atrás de si e principalmente, podia ver mais claramente o que Kaya tanto parecia querer transmitir. Ela estava esperançosa.

Em todo lugar que eu olho agora

Estou rodeada pelo seu abraço

Baby eu posso ver sua auréola

Você sabe que é minha graça salvador

Você é tudo que eu preciso e mais

Dá pra ver no seu rosto

Baby eu posso sentir sua auréola

Ore para que não desapareça

A explosão esperada não veio ainda, Kaya manteve o tom alto sem vacilar, porém não subiu mais. Encarando os jurados com um pequeno sorriso triste nos lábios rosados, os olhos azuis de Kaya brilharam pelas lágrimas que ela provavelmente se forçava a segurar para não atrapalhar o canto.

Eu posso sentir sua auréola, auréola, auréola

Eu posso ver sua auréola, auréola, auréola

Eu posso sentir sua auréola, auréola, auréola

Eu posso ver sua auréola, auréola, auréola

E ao invés da explosão esperada, o agudo suave de Kaya acompanhou o do piano, era doce e lindo e quase íntimo, como se ela estivesse contando um segredo. Novamente Levi sentiu seus olhos ardendo, ela com certeza estava contando uma história.

Atingiu-me como um raio de sol

Queimando na minha noite escura

Você é o único que eu quero

E estou viciada em sua luz

Eu jurei que não cairia de novo

Mas nem sequer sinto que estou caindo

Gravidade não pode se esquecer

De me puxar de volta para o chão

Kaya continuou explorando seus agudos, não havia desespero ou tentativa de mostrar o quão alto podia gritar, era quase presunçosa a forma como ela empregava a voz, como se toda a técnica necessária para encantar as pessoas estivesse ali. Eren teria amado isso, Levi pensou.

Eu posso sentir sua auréola, auréola, auréola

Eu posso ver sua auréola, auréola, auréola

Eu posso sentir sua auréola, auréola, auréola

Eu posso ver sua auréola, auréola, auréola

Ohh auréola

Auréola ohh

A finalização foi mais intensa e Levi se levantou com todo o resto para aplaudir, no entanto ele sabia que foi o único que viu a pequena lágrima escorregar dos olhos claros da menina. Kaya sempre se entregava cem por cento em tudo e não foi surpresa quando ela foi escolhida para continuar, os agradecimentos, críticas e elogios mal foram escutados pela família Ackerman.

Ainda no estacionamento, a loira se agarrou ao pai, o rosto grudando no peito duro do mais velho já molhado das lágrimas que começaram a cair, Levi acariciou as costas dela com carinho enquanto sussurrava;

– Você foi muito bem, Kaya, linda e corajosa, estou orgulhoso de você. – Ela não respondeu, não foi preciso.

(...)

Quatro dias se passaram como vento, as crianças precisaram voltar para as aulas, os funcionários mantiveram a rotina de trabalho e Hanji e Levi precisaram voltar para a empresa.

As noites eram mais difíceis, Zofia e Udo não paravam de perguntar sobre Eren e naquele ponto, Gabi, Kaya e Falco já sabiam que o moreno tinha sido sequestrado, era difícil esconder esse tipo de coisa. 

Às vezes os mais novos dormiam com os irmãos e às vezes com o pai, Levi tentou fazer um esforço para ajudar os filhos, garantindo a volta de Eren em palavras e confortando os cinco com carinhos e abraços, o pai tentou se manter firme, perguntando sobre a escola e sobre o dia dos pequenos, porém, sempre que sentavam na mesa de jantar para comer, a sensação de que faltava algo estava lá.

Hanji pensava que tinha noção do quanto o Jaeger era importante para a família, ao menos, ela acreditou nisso. No entanto descobriu do pior jeito que não, Eren era muito mais, era como luz para seu irmão e seus sobrinhos, seu sequestro estava abrindo feridas e ela não sabia como lidar com isso, Hanji não conseguia pensar em mais nada e o cansaço era como uma segunda pele, constante e pesado.

A polícia continuava a agir lentamente, o delegado disse que os dois podiam não estar mais na cidade, gerando uma crise de raiva em Levi que precisou ser contido e a partir dali, o homem de cabelos pretos começou a beber todas as noites, ficando na empresa e se afogando em trabalho e álcool para distrair sua cabeça. Em todas essas noites Nanaba estava lá, parada ao lado do chefe, perguntando preocupada se ele estava bem e como sempre, sendo dispensada para voltar para casa e deixá-lo em paz, coisa que ela não fazia.

Ele ainda precisava trabalhar dobrado para cobrir sua futura falta na presidência, mesmo que Mikasa tenha surpreendido os irmãos Ackerman ao pedir que adiantassem a votação e tenha sido atendida, Levi não desconsiderou o fato de que ele estava em desvantagem.

Levi tentou se manter firme nos dias que se seguiram e a cada noite que precisava contar mais uma mentira aos filhos, sua própria esperança ia se esvaindo e o desespero de perder – novamente – alguém que ama foi chegando como uma avalanche.

 A culpa foi um dos sentimentos mais amargos que Levi experimentou e o álcool acabou sendo uma fuga válida, quando sóbrio ele se via regurgitando argumentos para si mesmo, muitos 'e se' para poucas respostas.

Naquele dia foi especialmente mais difícil, Levi não sabia dizer o que era, mas seu peito parecia mais pesado e suas mãos tremiam, se concentrar no trabalho pareceu mais difícil e ele acabou gritando duas vezes com a assistente que de nada tinha culpa. Depois de se desculpar e responder novamente que estava bem, Levi se viu encarando as costas da mulher baixinha e loira.

Ele não era idiota, havia percebido os olhares e a atenção preocupada da assistente e no começo, acreditou que era apenas ela fazendo seu trabalho, porém depois de beber e observar que ela continuava na empresa e o acompanhava, aos tropeços, até o carro – dirijido por Jean, que fingia não ver nada quando buscava o chefe – todos os dias, Levi chegou a conclusão que Nanaba estava dando mais atenção do que deveria e se fosse em outro momento, aquilo seria preocupante.

Mas agora, na quarta noite sentado em sua sala com um copo de whisky na mão e uma garrafa quase vazia na mesa, ele se sentia solitário o suficiente para aceitar que Nanaba podia ser um meio de conforto. Talvez fosse o efeito da bebida, ele sabia que sim, mas tudo que desejou naquele momento foi um abraço, foi ser confortado ao invés de confortar.

E quando ela apareceu, perguntando novamente se o chefe estava bem, Levi pediu para que a assistente viesse até ele.

– Senhor Ackerman? Tudo bem? – Ela piscou seus lindos olhos azuis e Levi percebeu que eram da mesma tonalidade que os de Historia. – Precisa ir ao hospital.

– Levi, me chame de Levi. – Corrigiu, ignorando as perguntas dela. – Seu expediente já acabou, você não precisa perder tempo me esperando, Nanaba.

Levi fingiu que não viu as bochechas rosadas dela.

– Eu prefiro não deixá-lo sozinho… Levi. – Nanaba desviou o olhar mas Levi continuou encarando seu rosto. – Se eu não estiver incomodando, claro.

– Quatro dias. – Disse de repente. – E os merdas da polícia não conseguiram nada, eu duvido que qualquer um deles levantou a bunda da cadeira para procurar por Eren, bando de inúteis.

Nanaba piscou, provavelmente confusa em relação ao nome citado. A mulher não sabia nada sobre o sequestro, ela apenas estava ali apoiando o chefe sem saber os motivos, o que tornava seu gesto gentil ainda maior.

– Novamente alguém que eu amo é tirado de mim e porra, eu só queria ficar com ele, eu não me importo com dinheiro ou com um cargo importante na empresa, desde que eu esteja com a minha família e Eren, está bom, é pedir muito, é? – Levi não percebeu as lágrimas escorrendo de seus olhos.

– Levi…

– E eu sou um péssimo pai, não consigo nem contar a verdade a eles, e as crianças já estão tão tristes, eu chego e não ouço as risadas de antes, eles também sentem falta do Eren e eu não sirvo nem para confortar meus filhos. Essa merda é minha culpa, eu não pude protegê-lo e agora tudo está desmoronando, é culpa da minha falta de ação.

Levi está divagando sem se preocupar em fazer sentido, Nanaba não conseguiu assistir aquilo parada e sendo impulsiva, se aproximou do chefe o suficiente para passar os braços em volta do pescoço dele, apertando seus corpos juntos em um abraço de conforto. A loira podia sentir as lágrimas em seu ombro, mas não se importou.

Levi piscou confuso por um momento, demorando um minuto inteiro para retribuir o abraço, passando os braços pela cintura fina e delicada, não havia malícia no toque, era apenas conforto.

E Levi chorou, molhando ainda mais a assistente, que aguentou todo o tempo firme no aperto do Ackerman, em algum momento, ela foi puxada para o colo do mais velho, o rosto dele ainda enterrado na curva de seu ombro, Nanaba sabia que o chefe estava perdido demais para pensar no que fazia e por isso, deixou que ele ajustasse a posição dos dois e dormisse encostado nela.

Embalada pela respiração ritmada e pelo calor do corpo de alguém que ela vinha admirando a tanto tempo, Nanaba mal percebeu quando dormiu também.

Levi piscou confuso quando um estrondo fez sua cabeça latejar de dor, a ressaca tornando sua boca seca e deixando seus olhos ardidos. Seu corpo estava tenso pelo peso em cima dele e demorou alguns segundos para Levi perceber que segurava Nanaba em seu colo.

Mas ele não pôde pensar muito sobre o que tinha feito, Hanji foi quem passou pela porta, abrindo-a com força o suficiente para assustar as duas pessoas na sala.

– Hanji, o que-

– Não Importa, achamos o Eren! – Ela gritou, ignorando a cena que viu e fazendo Nanaba acordar em um pulo, saindo do colo do chefe rapidamente e cambaleando até uma cadeira próxima. – Eu e Sasha conseguimos o endereço de onde ele está, é um motel vagabundo, quarto cinco no térreo, a dona do lugar nos deu a informação depois de um depósito bancário.

Levi ficou alguns segundos em choque, a boca e os olhos abertos em surpresa enquanto Hanji continuou a falar sobre como conseguiu achar Eren, por dois segundos o mundo parou e toda a ressaca em seu corpo tinha ido embora, ele mal percebeu quando tirou o fundo falso da sua última gaveta e guardou o objeto pesado tirado de lá na roupa.

Seus pés se moveram sozinhos e quando viu, ele e Nanaba estavam no carro com Hanji dirigindo em alta velocidade.

– Eu já avisei a polícia. – Zoe informou. – Não faça nada estúpido, Levi, precisamos tirar Eren de lá em segurança.

Suas palavras ficaram ao vento, pois assim que pararam em frente a um motel caindo aos pedaços na periferia da cidade, Levi pulou do carro, correndo em direção ao quarto informado pela irmã anteriormente.

(...)

Eren se esforça para engolir a água oferecida, mesmo que isso faça os machucados em sua boca arder, a desidratação não é uma opção para ele.

Os hematomas em seu rosto e corpo provavelmente são os menores dos seus problemas, Eren não comeu nos dias que esteve ali, além de estar com dor para respirar e com os braços doloridos e dormentes, os pulsos onde a corda aperta está com marcas fundas e pequenas feridas se formando.

Ele só podia ir ao banheiro uma vez por dia e tinha certeza que um rim seu era o que causava a dor insistente nas costas. Apesar da boca machucada, Reiner tinha dado uma pausa nas agressões no último dia, Eren sabia que ele precisava que estivesse com o rosto limpo caso quisesse sair da cidade.

O que dependendo do Jaeger, não aconteceria, ele nunca mais cederia a Reiner, independente do quão quebrado estava, Eren não se deixaria levar novamente e isso estava irritando profundamente o homem loiro, que estava novamente tentando convencê-lo a aceitá-lo, seus pedidos incessantes alimentando a raiva ao invés de mudar sua atitude.

Eren sabia que estava na borda, custou muito da sua saúde mental se manter consciente todo esse tempo, segurando as crises sozinho e tentando manter sua mente longe, pensando em Levi, nas crianças, em Jean e nos seus outros colegas.

– Nós podemos ser felizes juntos, querido, posso te levar em um orfanato e você pode adotar uma criança, o que acha? Eu consigo passar por cima de qualquer burocracia de merda. – Reiner ofereceu, seu desespero era evidente em seus olhos claros. – Podemos chamá-la de Ymir. Nossa garotinha pode voltar.

Eren balança a cabeça rudemente, negando com força, seu coração acelerando com o nome citado e a coragem que Reiner tinha de tentar persuadi-lo com aquilo.

– Ymir nunca vai voltar e a culpa é sua, Reiner. – Rosnou, cuspindo no rosto do loiro em seguida. Reiner limpou lentamente, o rosto contorcido.

– A culpa é minha? – Reiner segurou com força nos fios castanhos, puxando-os dolorosamente para trás. – Você a matou quando preferiu a criança a mim.

– Eu amei e amo Ymir como nunca amarei você, Reiner, eu não quero mais nada com você! Eu não sinto mais nada por você! Você não é nada para mim! – Gritou com toda a força que ainda restava em seus pulmões, que doeram e reclamaram do esforço, mas Eren não se encolheu, enfrentando e batendo de frente com Reiner como nunca tinha feito antes.

Quando o loiro puxou um canivete afiado do bolso, a determinação do Jaeger caiu, fazendo-o tremer com a visão.

– Eu não poderia viajar com a minha pistola, o que é uma pena, mas isso vai servir. – Reiner diz calmamente, pressionando a arma cortante contra o pescoço de Eren. – Eu não aceito um não, ou você é meu ou você morre!

Eren aperta os olhos com força, ele está fraco, dolorido e machucado, não havia muito o que fazer, não existia maneiras de se defender, mesmo que suas palavras fossem verdadeiras, ele não tinha meios de impedir o loiro.

Foi natural que Levi surgisse em seus pensamentos, as manias de limpeza e o modo esquisito que ele insistia em segurar suas xícaras, as cicatrizes no rosto e a forma como o Ackerman estava se esforçando para mudar e fazê-lo feliz, a família que ele lhe deu, cada criança com seu jeito e sua personalidade única, Hanji, Jean, Sasha, todos fizeram muito por ele. Antes de conhecê-los Eren era apenas uma casca vazia, fugindo e tentando viver, agora, ele ainda quer estar vivo, Eren não se sente pronto para morrer, ele quer ser livre.

Gostaria de ter um pouco mais daquela felicidade que ele experimentou, Eren não é ambicioso, talvez só mais um pouco seria o suficiente.

Ele pode sentir a lâmina em sua pele e o leve corte que fazia por estar sendo pressionada, ele também pode sentir Reiner hesitando, as mãos trêmulas em terminar o que começou.

– Tudo bem, me mate, Reiner. – Desafiou, abrindo os olhos verdes para o homem surpreso a sua frente, ele não imploraria como fazia sempre que Reiner lhe ameaçava. – Tudo que eu tinha você me tirou, Ymir era a única razão de eu ainda estar com você, ela era tudo que importava.

Reiner piscou confuso, suas mãos se afastando de Eren e tirando a pressão da lâmina contra a carne morena. Ele não sabia quem era essa pessoa diante de si, anos atrás Eren teria quebrado a muito tempo, Eren teria implorado e feito qualquer coisa para sair daquela situação, agora, havia um fogo diferente em seus olhos, uma determinação que ele tinha visto se apagar com os anos de convivência. 

O loiro se excitou com isso, Eren continuava lhe surpreendendo.

A lâmina deslizou pelas cordas no pulso de Eren, os olhos de Reiner brilhando na direção do Jaeger.

– Não tente nenhuma gracinha, baby. – Ameaçou, a lâmina ainda apontada para Eren. – Eu sei exatamente o que vai fazer você mudar essa atitude, querido, você quer que eu faça isso, não é? Tem me provocado porque quer que eu cuide de você.

Eren não entendeu o que estava acontecendo até sentir a mão livre do loiro em sua coxa, seu corpo travou de medo, suor frio escorria de suas têmporas e mesmo que quisesse, Eren não podia se mexer.

Reiner riu da sua reação angustiada, sua mão apertando a carne da coxa com mais força enquanto seu corpo se excitava ainda mais com a visão.

A porta então se abriu em um estrondo, as paredes frágeis em volta sacudindo enquanto um rosto conhecido surgia, mãos segurando firmemente uma pistola apontada para Reiner, que encarou a situação momentaneamente confuso.

Eren respirou aliviado quando viu Levi, o Ackerman estava horrível, olheiras fundas debaixo dos olhos, a pele mais pálida que o normal e a roupa amassada no corpo, porém era a melhor visão que ele tinha em dias.

Reiner olhou de um para o outro, compreendendo rapidamente quem era aquela pessoa e com um barulho animalesco saindo de sua garganta, ele se jogou como um animal em cima do homem mais baixo.

Por muito pouco Levi errou o tiro, sendo atingido por Reiner e caindo no chão com o loiro em cima, os dois rolaram enquanto distribuíam socos e chutes, uma bagunça confusa de corpos que Eren demorou para entender, seu coração acelerado demais para conseguir pensar com clareza.

Um gemido de dor escapou de Levi depois de seu braço ser atingido pela lâmina ainda nos dedos de Reiner, um corte sangrento que tornou a luta ainda mais bagunçada, Eren observou desesperado a arma ser jogada para longe e Levi ser jogado de costas no chão novamente.

– Eren! – Hanji gritou da porta, ela parecia tão desesperada quanto Eren, que olhou aturdido para toda situação.

Tudo estava acontecendo rápido demais e quando piscou, Reiner estava em cima de Levi, o canivete contra o pescoço pálido e Levi por sua vez lutando para sustentar a força do outro homem.

Eren não pensa quando se move em direção a arma no chão, ele apenas quer que Levi fique em segurança, ele quer ir para casa e abraçar seu namorado e suas crianças, Eren quer esquecer o mundo por alguns dias e tentar ficar bem.

Eren atira. O choque da arma ricocheteando e jogando seus ombros para trás com força, sua mão perdendo a força e soltando a peça pesada, seus olhos ardendo enquanto o mundo parece parar.

Em algum momento Hanji gritou e Eren pensou no pior, choque tomando todos os presentes no quarto, ele mal notou Nanaba na porta, seus olhos presos na arma jogada no chão, o corpo tremendo violentamente enquanto devagar ele se move para ver o resultado de sua ação impensada.

Reiner está no chão, sangue saindo de suas costas, Levi está ao lado, o rosto inchado com hematomas e o braço sangrando, ele parece bem, horrivelmente acabado, mas bem.

Eren não percebeu quando começou a chorar, nem quando sua tremedeira piorou, sua visão estava escurecendo e ele mal sentiu quando caiu, alguém ao longe gritando seu nome enquanto sua consciência se esvaia.

– Eu estou aqui, eu peguei você, Eren, nós estamos bem, você está bem. – Era a voz de Levi, Eren tinha certeza, o calor ao redor de seu corpo era ele e essa foi a última informação que seu cérebro registrou antes de apagar completamente.


Notas Finais


Então gente, esse capítulo é basicamente um resumo do que eu escrevi anteriormente, o Eren não seria resgatado nesse capítulo e nós teríamos uma chuva de angústia com os quatro dias detalhadamente citados. Eu revisei li e sinceramente não gostei, então eu basicamente peguei todas as informações e resumi, adicionando finalmente nosso menino ereno saindo da situação que estava, acho que já fiz vocês sofrerem tempo demais.
Então, o que acham e o que esperam do futuro da fanfic? No próximo teremos um pouco de Levi x Eren e spoiler; o Levi ouviu parte da gritaria do Eren, então uma pergunta vai surgir.
"Quem é Ymir?"
Até o próximo bbs 🥰🥰


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