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História O Verdadeiro Mundo Pokémon - Deserto do Vale


Escrita por: Ersiro

Notas do Autor


Olá novamente!
Estou aqui pra avisar que criei o mapa de Toran para um entendimento melhor de vocês, queridos leitores. O mapa não está completo, pois quero que vocês o desvendem juntos com os personagens, ou seja, a cada novo local que eles visitarem, uma parte do mapa será mostrada. O link para vocês verem o tal mapa está nas NOTAS FINAIS, lá no fim do capítulo, ok?
O mapa é somente algo para mostrar a trajetória do grupo, ou seja, vocês não vão encontrar uma coisa pra lá de profissional kkkkk, mas espero de verdade que consigam entendê-lo.

Obrigado por continuarem acompanhando a fic e boa leitura!

Capítulo 8 - Deserto do Vale


Fanfic / Fanfiction O Verdadeiro Mundo Pokémon - Deserto do Vale

DAMOS O PRIMEIRO PASSO em direção àquilo que se estende infinitamente na nossa frente. Meu pé vacila um pouco antes de se firmar na areia fofa.

As dunas se elevam e decaem, parecem várias ondas que, de alguma forma, endureceram com o tempo. Rio mentalmente da minha comparação. Como a água poderia endurecer?

O engraçado é que os montes de areia são de todos os tamanhos, do menor, com menos de um metro ao grande que mal consigo calcular o tamanho. É divertido pisar na crista das dunas pequenas, me dá a sensação de imponência. O ruim é aceitar que suas parentes gigantes destruam minha autoestima, denigram a imagem de imponência que senti a poucos metros atrás e de brinde me ofereçam uma impotência arrasadora.

Subimos lentamente as encostas de areia, fazendo pequenas porções de terra cair declive abaixo e deixando um rastro de pegadas para trás. O vento que vem lá do litoral e sopra numa boa velocidade, nos ultrapassa e faz com que grãos de areia se movam e cubram os espaços que nossos pés formam no solo arenoso. Por essa razão não nos preocupamos com nossas pegadas.

O sol brilha em seu esplendor máximo e seus raios de calor tostam as partes de meu corpo que estão expostas. Minha cabeça está tão quente que tenho medo do cérebro estar em estado de cozimento. Se, de fato, ele cozinhar, ou enlouquecerei pelo resto de meus dias, ou então cairei duro no chão e virarei comida para as dunas que, do alto, parecem me observar com seu olhar ameaçador. O vento ajuda um pouco a refrescar, mas às vezes ele traz consigo grãos de areia que pinicam e ardem na pele.

Estamos subindo mais uma das dunas altas; Lucy está um pouco mais à frente, alcança a crista primeiro e olha para trás, fazendo com a mão, uma sombra para os olhos. O silêncio que conservávamos durante a caminhada, foi quebrado por ela:

- Se... – sua voz sai rouca. Eu e Ben alcançamos o topo. Ela pigarreia e tenta novamente: - Será que já deram falta de nós?

Olho para trás e Ben faz o mesmo. Da distância em que nos encontramos, o prédio cinzento parece ser apenas um pequeno retângulo de pé. Não tinha notado que andamos tanto a ponto de estarmos tão longe do prédio.

- Se perceberam que não estamos mais ali, não vieram e acredito que não virão atrás da gente - responde Ben com dificuldade para falar e engolindo em seco.

- Também acho que não virão nos buscar - falo com a voz estranha e percebo que minha língua está um tanto seca. O clima seco nos pegou de jeito. - É tudo muito estranho. Aqueles que roubaram o posto policial em Rocgris não pareciam ser da equipe Rocket, pois não usavam o uniforme - dou uma pausa para engolir uma saliva inexistente. - Quando acordamos aqui, somos recebidos por um maníaco-mirim que é dos Rocket e enquanto ainda estávamos dentro do prédio, vejo uma mistura de pessoas com o uniforme da equipe e outras sem o uniforme.

Lucy parece pensar por um instante e dá as costas para o prédio, descendo a duna. Seguimos ela.

- É verdade - pondera Lucy. - Os sem uniformes não são Rockets - ela confirma com uma certeza que não sei de onde tirou. A forma como falou, me deu a impressão de que conhecia cada capanga.

Pensei por um momento na possibilidade de Lucy ter sido uma capanga dos Rocket. Tremo com a ideia de ter ao meu lado uma pessoa que já participou dessa equipe de malucos. Alguma coisa dentro de mim parece ligar e lembro que Lucy é somente Lucy. Aquela certeza com que afirmou o fato, provavelmente não significa nada. Sem contar que, se existe uma seleção para entrar para os Rocket, ela não passaria e não seria aceita. Quem aturaria Lucy, a não ser Ben e eu?

Andamos por mais alguns metros até que não aguento mais. Caio de joelhos na areia e resmungo alguma coisa incompreensível.

- Você está bem, Bake? - pergunta Lucy, ajoelhada ao meu lado.

- O sol... Está muito forte. Minha cabeça não aguenta mais - choramingo. A boca mais do que seca.

- É verdade - confirma Ben. - E estamos sem beber nada há muito tempo.

- Tenho a solução para isso - diz Lucy, se esforçando para dar ânimo a voz. O deserto conseguiu deixar até mesmo Lucy cansada, sem energia alguma e desanimada.

- Não me fale que você conseguiu trazer o azeite... - caçoa Ben.

Lucy direciona um olhar duro para Benjamin.

- Não estou brincando - diz, séria e firme. Até eu que estou meio zonzo com o calor, vejo que ela fala sério. Nunca a tinha visto daquela maneira.

Ela pega uma das Pokébolas e Wooper sai.

- Já que não temos escolha, vamos beber a água de Woo - resolve.

- Beber a água que um Pokémon expele? - indigna-se Ben.

- E o que é que tem?! - responde Lucy, impaciente.

Ben levanta a blusa e pega a Pokédex que está presa junto ao seu corpo e a calça.

- Eles deixaram a Pokédex? – pergunto, pensando que aquilo era uma miragem. Ben confirma com a cabeça. - Ah, claro. Vai ser de grande ajuda - termino.

- É a água de um Wooper! - continua Ben, ignorando a minha ironia. Abre a Pokédex e mexe por alguns instantes. - Olha, aqui! Ele reveste o próprio corpo com uma membrana tóxica. Se isso entrar em contato com a água que ele expelir e bebemos dela, sentiremos dores terríveis. Viu? Está tudo aqui na Pokédex.

- Eu não me importo. Só quero um pouco de água - resmungo.

- Por favor, Ben, pare com isso - diz Lucy, fazendo um muxoxo. - Se não bebermos a água de Wooper, como sobreviveremos nesse deserto?

- Este é o Deserto do Vale! A qualquer momento o vale pode aparecer.

- Para, Ben! - Lucy tenta gritar, mas a voz some no final, provavelmente pela garganta estar seca. - Eu não estou vendo vale nenhum! E sabe lá quando ele vai aparecer.

- Até lá posso morrer desidratado e de inanição - falo fracamente.

- Alguma outra ideia? - Lucy insiste.

Benjamin fica calado e depois de um tempo assente fracamente com a cabeça, derrotado.

- Posso beber agora? Por favor - suplico.

Ben e Lucy reviram os olhos. Eu mesmo admito que devo estar insuportável.

Faço uma concha com as duas mãos juntas e Wooper lança um jato pela boca. Bebo sem me importar com o gosto barrento e a textura viscosa da água. Em um último ato, jogo o líquido no meu rosto. O cheiro não é agradável, mas sinto uma boa sensação no rosto. Me sinto um pouquinho mais revigorado. Tiro forças até para me levantar sem ajuda de ninguém. Pego um pouco mais de água e a jogo na cabeça, molhando os cabelos.

Lucy bebe da água e também lava o rosto. O próximo é Ben. Ele está indeciso, mas por fim cede e repete o mesmo processo que Lucy e eu fizemos.

Wooper é devolvido de volta à sua Pokébola, porque se ficar muito tempo exposto ao clima do deserto, vai acabar desidratado. Olho para o céu e semicerro os olhos para o brilho do sol.

- Ele ainda machuca minha pele - resmungo.

- Me dê sua camisa - ordena Lucy.

- C-como? - digo embaraçado. - Se for assim, eu vou ter que tirar ela e...

- É, tira logo - interrompe Lucy, estendendo a mão.

Fico um tempo sem reação, mas no fim tiro a camiseta, meio encabulado por ficar com o peito de fora e a dou para a garota. Lucy a pega e se achega mais perto de mim. Prendo a respiração enquanto ela enrola de um jeito estranho a camiseta em volta de minha cabeça, a cobrindo quase por completo e deixando apenas os olhos visíveis.

- Prontinho. Uma espécie de turbante. Vai ajudar um pouco com o sol - finaliza Lucy, com um sorriso. Solto a respiração quando ela sai de tão perto de mim.

Lucy chega perto de Ben, tira a blusa de sua cintura e com ela faz um turbante para o Walker. Por fim, ela pega o pulôver que está amarrado a sua própria cintura e faz o mesmo com ela. Lamento ter perdido minha blusa em algum ponto. Se ainda estivesse com ela, eu não precisaria ficar com o tronco descoberto.

- Vamos logo, garotos - diz Lucy, olhando para nós. - Vocês estão meio lentos hoje. Acho que o deserto está fazendo seu trabalho no psicológico de cada um - termina rindo.

Me mexo e me ponho a andar. Ben faz o mesmo.

Não posso deixar de afirmar o que Lucy disse. Estamos estranhos depois de passar um tempo no deserto. Ben empacou com o tal vale que não apareceu ainda. Lucy parece ter virado a líder; está um pouquinho mais firme e é ela quem nos guia. Eu virei o reclamão que só está trazendo peso para os outros... Credo... O que algumas poucas horas confinado no deserto não pode fazer?

Ouço um sussurrar em meus ouvidos que ultrapassa a camada de pano em volta de minha cabeça. Olho para trás e a duna que acabamos de deixar parece me olhar furiosa. O sussurro passa novamente e sinto algo tocar suavemente em meu corpo. Olho para trás de novo e a duna parece estar normal desta vez, como uma duna deve ser. Mas ainda sinto o toque suave em meu corpo; presto atenção com mais firmeza e noto que é apenas o vento.

Saber disso me faz sentir um arrepio que percorre meu corpo inteiro. Será que eu já estou ficando maluco e vendo coisas? Viro o rosto para frente e alcanço meus amigos.

- Você tem razão - digo, dando a última olhada para trás. - Vamos sair logo daqui.

- Claro que tenho, bobo! Tive que tomar a dianteira do grupo - comenta Lucy, com sua costumeira cara de tonta. - Vocês parecem que estão meio paranoicos, ha-ha!

Confiar em Lucy como a guia no deserto é bem arriscado. Ela está com ares um pouco mais maduro, mas ainda é a mesma Lucy de sempre. Olho para Ben e vejo que ele observa o horizonte, talvez à procura do vale. Mas como um vale pode existir em um deserto?

- Ben, não é errado pensar que só por causa do nome, significa que o deserto tenha um vale? - pergunto.

- Claro que não. O nome deste vale foi dado justamente por existir um vale nele! O Deserto do Vale... - ele pondera. - Dizem que é um dos poucos milagres naturais, pois há, inexplicavelmente, um vale onde corre um rio de água pura.

Andamos em silêncio, depois disso. Depois de um tempo, olho para trás e não vejo mais o prédio e para onde quer que eu olhe, só consigo ver as infinitas ondulações de areia branca e o céu azul, sem nuvens. É desesperador, pois parece que quanto mais ando, mais longe fico de chegar ao fim do deserto, pois a paisagem não muda, parece não ter fim, é interminável.

Ficarei aqui para sempre e nunca mais poderei ir para casa. Sinto o suor escorrendo em minha testa e o pano sugando as gotas. A respiração fica estranha e quente. Olho novamente ao meu redor e a paisagem continua intacta; a mesma.

Pare! - minha voz interior grita. Vai acabar enlouquecendo se continuar assim, ouço-a dizer. Confirmo com a cabeça, volto a prestar atenção na caminhada e paro de ficar olhando ao redor tão obsessivamente.

Minha pele descoberta queima e arde. Toco com os as mãos meus ombros e sinto uma quentura subir pelos meus dedos. Olho para meus braços e vejo que a pele está ressecada, quase a ponto de descascar. Isso me lembra alguém... Mãe.

Olho para frente e, com a força renovada, ando com mais firmeza. Não vou morrer aqui e deixar minha mãe. Vou sair com vida e achar a cura que ela precisa!

 

~×~

 

ANDAMOS MAIS DO QUE o permitido para Pokémon camelos. O sol parece ter ficado mais forte e mal consigo olhar para o céu.

Não sei dizer quando, mas agora consigo ver ao longe um agrupamento de áreas verdes.

- E-eu sabia! - exclama Ben. - O vale está próximo, vejam só aquela vegetação que cresce logo ali!

Fico em um estado de torpor. Apressamos o passo, por mais que isso seja dolorido, para chegarmos o quanto antes ao vale.

Quanto mais chegamos perto, mais eu estranho. Aquela vegetação é estranha e não vejo vale nenhum por perto.

- Estranho - murmuro. - As plantas parecem se mexer.

Os dois me ignoram e continuam na caminhada silenciosa. Quando chegamos perto o bastante, Lucy confirma o que eu já estava estranhando tanto:

- Olhem, não é apenas uma vegetação qualquer. São cactos! E eles se mexem mesmo - diz inocente.

Forço as vistas e observo as formas. Algumas arredondadas e outras mais compridas. Por incrível que pareça, eles também têm olhos. Claro que eram...

- Pokémon! - confirma Ben. - São Cacneas e Maractus!

-  Não seria melhor nos afastarmos antes de batermos de frente com eles? - sussurra Lucy.

- Acho que eles só atacam quando mexem com eles, mas vamos sair mesmo assim. Ninguém quer uma batalha numa hora dessas - diz Ben.

Desviamos da manada de Pokémon cacto e passamos a alguns metros ao lado deles. Olho para os cactos e vejo que eles quase que não se mexem. Em algum momento movem um braço, trocam de posição ou até mesmo dão alguns passos quase imperceptíveis. Parece que é dessa forma que se movem pelo deserto: Lentamente e sem pressa. Talvez permaneçam quase imóveis para não perder umidade debaixo desse sol escaldante.

Um Cacnea próximo libera um aroma pela flor que encima sua cabeça. O cheiro é forte e tem uma mistura doce e ácida. Meu estômago reclama, querendo que eu devore o responsável por aquele odor; mas algo interrompe meu desejo.

Uma área do chão dá um leve tremor e um buraco se abre. Um Sandshrew submerge de seu túnel subterrâneo e fica cheirando o ar, à procura da coisa com aquele cheiro. Sai do buraco e, cuidadoso, vai se aproximando do Cacnea, com a ponta do narizinho para cima, sentindo o cheiro cada vez mais perto...

Fliiish!

Espinhos arroxeados são lançados dos buracos que formam a boca de Cacnea e acertam Sandshrew. Assustado, o rato se enrola como uma bola para se proteger do predador, mas pouco tempo depois se abre, caído e zonzo. Olho para sua barriga que é descoberta da couraça e vejo que está alfinetada por vários dos espinhos que Cacnea lançou. Volto o olhar para frente quando noto que os outros Cacneas rodeiam Sandshrew.

Tropeço em algo e me viro para ver o que é.

- Ai, droga! - lamento com a voz tremida.

O Cacnea separado do grupo que acabei de tropeçar se vira para mim e se prepara para soltar sua rajada de Picada Venenosa. Cerro os dentes, numa preparação para receber a dor que os espinhos me darão.

Flush! Flush! Flush!

Projéteis de fogo atingem Cacnea - um deles acerta no mesmo local que um outro atingiu e perfura o corpo do cacto. Um líquido que vem de dentro de seu corpo, espirra em meu braço direito.

- Cynda. Cyndaquil?

Cyndaquil está ao meu lado e puxa a boca de minha calça, preocupado e querendo saber se estou bem.

- O-obrigado - digo, me abaixando e acariciando sua cabeça. - Está tudo bem.

Agradeço Ben, com um olhar e seguimos a caminhada.

 

~×~

 

DE TEMPO EM TEMPO, bebemos mais um pouco da água de Wooper e o Pokémon é devolvido a Pokébola. Cyndaquil não quis voltar para a Pokébola e Ben deixou ele caminhar livre conosco. Cynda parece não se importar com o calor, talvez esteja sendo até mesmo uma boa experiência para ele.

 Andamos por mais uma distância boa, pois quando olho para trás, não vejo mais os cactos. Olho para meu braço direito, onde espirrou aquele líquido esverdeado do Cacnea e com um sobressalto vejo que a área não está ressecada. O líquido parece ter servido como um hidratante e minha pele que absorveu tudo, está macia e com um brilho natural.

Sinto algo martelando na minha cabeça. Os pensamentos jorram e ligo o fato com aquilo que estive procurando durante todo esse tempo. Sofri para conseguir achar a solução e achei.

- Ha-ha! - rio, com os braços levantados para o céu e com um excesso de alegria que transborda dentro de mim. - Viu só, Dona Eva?! Eu disse que ia conseguir a cura que você precisa! Ha-ha!

Os outros dois me olham com estranheza. Devem estar pensado que fiquei totalmente louco. E eu estou mesmo! Louco de felicidade!

- Eu achei! Achei! - grito para eles.

- Achou o quê, Bake? - pergunta Lucy.

- Cura, achar, Dona Eva... - diz Ben. - Está ficando maluco, Bernardo?

- Claro que não! - respondo, com provavelmente o maior sorriso que já dei na vida.

- E então o que? - Ben levanta uma das sobrancelhas.

- Eu saí na jornada em busca da cura de uma doença que minha mãe foi vítima - explico, aproveitando o frenesi de felicidade. - Até agora ninguém ouviu falar dela e por puro acaso, por eu ter tropeçado naquela Cacnea, acabei descobrindo como ajudar minha mãe! - não me importo de contar a eles, agora que achei a resposta para os meus problemas eu quero é mais sair dizendo para todos que encontrar na minha frente.

- Oh, sinto muito Bake - diz Lucy. - E que doença é essa?

- Na pele. Ela fica muito ressecada e descasca. É muito feio. A partir do dia que descobrimos isso, talvez como consequência da doença, minha mãe foi definhando aos poucos. Numa hora não aguentei mais e tive que sair para procurar ajuda ou descobrir como tratar isso - digo, um pouco sombrio, por lembrar dos fatos. Isso não dura muito tempo, pois logo me animo: - Mas eu achei a cura! Olhem só para meus dois braços. Veem? Um está ressecado e o outro macio como a pele de um bebê.

- E o que fez o outro ficar assim? - pergunta Ben. - Ele parece estar ficando um pouco avermelhado.

- No momento que Cyndaquil atacou o Cacnea, de dentro do cacto saiu um líquido que espirrou em meu braço. Eu ainda estava meio desorientado, então nem me passou pela cabeça limpar aquilo. Quando olhei neste instante, vi que aquele líquido serviu como uma espécie de hidratante e por que ele não ajudaria minha mãe também? Isso quer dizer que provavelmente achei a solução para dizimar a doença!

Os dois sorriem, também felizes com a minha descoberta.

- Então, vamos! - continuo, apontando para trás. - Preciso ir buscar um Cacnea - termino puxando os dois pelo braço.

Eles retesam e soltam o braço.

- Baker, não podemos voltar para trás. Isso só vai nos atrasar e aumentar a chance de não sobrevivermos aqui no deserto! - replica Benjamin.

Olho para ele incrédulo. Fito Lucy e ela desvia o olhar.

- Ele tem razão, Bake - ela murmura.

Solto um lamento esganiçado. Percebo que minha boca está seca de novo. Eles não podem estar falando sério.

- Então tá! - esbravejo. - Se vocês não quiserem ir, eu vou! - dou as costas e os primeiros passos de volta ao caminho de onde viemos.

- Bake, não! Você não pode fazer isso sozinho! - diz Lucy, me alcançando e me segurando pelo braço.

- Me larga! - tento soltar o braço.

- Bernardo, é sério - Ben aparece na minha frente, me segurando para eu não dar um passo a mais.

Tento me soltar deles, mas a cada momento que me separo, eles me alcançam de novo.

- Vamos voltar a Rocgris, para nos recuperarmos e depois disso, pensamos em um jeito de voltar para cá - diz Lucy olhando para mim firmemente. - Ou eu até posso contratar uma equipe para que venham buscar alguns desses bichinhos espinhentos... Que tal? - conclui, arfando.

Não me dou por convencido e continuo na tentativa de me soltar. Estou ofegante, uma fraqueza começa a crescer dentro de mim, mas não é por esgotamento, é por... incompreensão.

 Engulo um soluço e um som estrangulado sai pela garganta.

- Me... Soltem! - digo, com a voz abafada. - Vocês não... Entendem! - solto um braço que é agarrado novamente. - Eu cheguei aqui pra isso... Vocês não podem fazer isso comigo! - algumas poucas lágrimas se acumulam em meus olhos, embaçando a visão.

Consigo soltar dois braços de uma vez, empurro Ben para o lado e corro.

Meus pés estão tão pesados de tanto trabalhar, que doem pelo esforço. Eles me impedem de correr de forma correta e cambaleio para o lado. Tropeço em meus próprios pés e caio de joelhos. Apoio as mãos no chão para não cair de cara na areia e o braço direito falha. Uma dor aguda sobe dele até o ombro. Urro com a dor.

Ben para ao meu lado, se agacha e me ajuda a sentar. Segura meu braço com firmeza - isso me machuca e se eu não estivesse tão fraco, dava um soco em sua cara - e o estende até a minha visão.

- Está vendo o que aquilo fez com você? Eu bem estranhei que estava ficando avermelhado mesmo! - olho para meu braço e entendo o que ele está falando. A área que espirrou o líquido está um pouco mais avermelhado e irritado do que o resto de meu corpo exposto ao sol. Finas linhas um pouco mais escuras dão um contraste no local, como raízes. - E aí, vai querer receitar isso pra sua mãe?

Então parece que aquele líquido, no fim se mostrou algo venenoso.

Viro a cara, emburrado e tento empurrar ele para o lado.

Droga! No fim, aquilo não é o remédio milagroso que vai curar a doença. Tenho vontade de sumir, de simplesmente não existir.

É horrível a sensação de chegar perto de seu objetivo e com um baque surdo ver que tudo não passou de ilusão.

- Bake, vai ficar tudo bem - Lucy interrompe meu momento de grande decepção. Ela tira Wooper da Pokébola. - Beba um pouco de água.

Wooper jorra água em minhas mãos, me oferecendo aquele sorriso assustador de sempre.

Lucy sobe em um monte de areia e faz uma sombra para os olhos com a mão, procurando alguma coisa no horizonte.

- Acho que estávamos indo por aquele caminho... - pondera ela apontando para longe. - Ei - grita repentinamente, nos assustando -, parece que ali na frente há uma caída no nível do chão. Será que...

O monte de terra em baixo dela começa a deslizar areia e parece se mover.

- Hippoooow-don! - berra a coisa embaixo de Lucy.

Como se não bastasse ser vitima de uma baita ilusão, um Hippowdon aparece para infernizar mais ainda minha vida. Minhas mãos começam a tremer; o coração pula em meu peito, parecendo querer sair correndo a qualquer custo; uma fraqueza inacreditável toma conta de mim.

Os segundos seguintes passaram de forma esquisita. Eu não conseguia me mexer.

O grande hipopótamo derruba Lucy e num movimento mais rápido do que eu podia imagina,r abocanha o antebraço esquerdo da garota. Ela escancara a boca, talvez urrando de dor, mas não sei se é realmente isso o que faz, pois não consigo ouvir nada ao meu redor, tudo acontece como se eu fosse um completo surdo, como se estivesse assistindo à uma TV muda.

Cyndaquil solta seus projéteis de fogo na cara de Hippowdon e este abre a boca pelo instante necessário para Ben puxar a garota para perto de si. Cyn continua soltando suas bolas de fogo, mas isto só serve para irritar o Pokémon hipopótamo que cria um furacão de areia em volta de si, jogando Cyndaquil longe. Hippowdon nos olha, finalmente livre da pequena mosca irritante.

Ben olha pra mim e diz algo, mas não consigo ouvir, só consigo olhar para o antebraço de Lucy. Duas Pokébolas ainda em miniatura caem do bolso dela e ao tocarem no chão, se expandem e solta os Pokémon de dentro. Wooper e Kadabra olham assustados para a sua treinadora.

Por incrível que pareça, é Wooper quem reage primeiro e lança um Jato de Água em Hippowdon que recua, sufocado, mas isso dura pouco, pois de uma hora pra outra o Pokémon de Lucy para de expelir água. Hippowdon vendo a oportunidade, joga seu corpo contra o de Wooper que voa a alguns centímetros do chão e cai, talvez inconsciente, não consigo ver.

Kadabra entende o perigo e seus olhos brilham em um vermelho assustador. Hippowdon que já estava pronto para atacar, estaca e abre sua bocarra. Desorientado, olha para os dois lados e desata a correr para longe de nós. Confusão, sim, Kadabra tinha usado este movimento.

Ben me dá uns chutes de leve para chamar minha atenção e vejo que ele mexe a boca, falando, mas ainda estou em um tipo de estado de choque e não ouço. Kadabra aparece com Wooper ao seu lado. O Pokémon peixe está mancando, e o psíquico tenta me puxar para que eu possa levantar. Pego as Pokébolas e guardo os dois Pokémon - Kadabra especialmente, antes que eu comece a sentir as dores de cabeça. Guardo elas no bolso, junto com a de Budew.

Saio parcialmente de meu torpor e consigo me por de pé. Cyndaquil aparece ao lado, se chacoalhando para tirar uma areia espessa que cobre partes de seu corpo.

Meus ouvidos começam a chiar, num som agudo irritante e aos poucos volto a ouvir tudo ao redor.

- ... nada demais. Acho - ouço Ben terminar.

Ele carrega Lucy nos braços; ela chora silenciosamente com os olhos fechados, o braço esquerdo pendido e balançando a cada passo que Ben dá.

Aquelas finas linhas em meu braço direito agora estão roxas e a área também está passando do avermelhado para um leve roxo. A dor é como se o membro estivesse sendo arrancado do lugar, mas posso até dizer que suportável. Estou todo dolorido, então acho que qualquer dor a mais acaba sendo só mais uma para a lista.

- A água de Wooper parece ter acabado - falo, quase entrando em desespero. - Como vamos sobreviver agora?

Ben não responde. Em certo momento, depois de andarmos um bom pedaço de terra, ouvimos um barulho peculiar que nos faz apressar o passo. Este som é baixo e quase interrompido por completo pelo nosso arfar. O barulho é o de água correndo. Depois de alguns passos, nos descobrimos na beira de um vale. Então Ben não estava enganado.

Se não estivesse tão esgotado, pularia de felicidade. O vale se vira numa curva atrás de nós e segue para frente até onde não consigo ver. Não sei onde começa e nem como, mas toma o mesmo caminho que estamos tomando, então não custa nada seguir ele. Descendo sua encosta que é formada por partes íngremes e outras não, podemos ver um caminho de água que segue seu rumo natural, rodeado por algumas pedras e uma vegetação fina que não passa de gramíneas que ora aparecem em pouca quantidade, ora nem se vê sua presença

Decidimos descer a encosta pela parte menos íngreme que conseguimos achar. Lucy pede que Ben a solte e que ele só a ajude a descer com seu braço em volta de seu corpo, enquanto ela se segura com o braço direito apoiado em seu pescoço.

O leito de água não passa de dois metros de largura e não é nem um pouco fundo. Me ajoelho em sua frente e bebo sem pensar no amanhã. Refresco meu corpo com água na quantidade que meus dois palmos juntos conseguem pegar.

Lembro dos Pokémon e os solto. Wooper se joga na água, feliz por saber que não vai desidratar, podendo finalmente aproveitar toda aquela quantidade que é transbordante, se considerarmos à meia hora atrás.

Kadabra se achega perto de mim e começo a sentir uma pequena dor de cabeça. Ele pega meu braço e o analisa.

- Kadabra! - diz ele para um dos Pokémon.

- Woo-wooper? - Wooper parece confuso e chega mais perto. Budew também vem e me olha preocupado.

Eles continuam numa conversa, até que Wooper cospe no meu braço uma camada de lama. Kadabra fecha os olhos e parece se concentrar. Uma aura rosada envolve meu braço e depois de um momento, desaparece, a lama se descola, endurecida. A parte que estava grudada em meu braço, está com uma cor esverdeada. Com uma surpresa, percebo que a dor em meu braço está passando aos poucos. Eles conseguiram absorver o veneno que tinha penetrado pela minha pele.

Agradeço com um aceno de cabeça e eles respondem com um sorriso.

- Wooper aprendeu o Tiro de Lama – explica Ben, com a Pokédex apontada para o Pokémon.

Depois de descansarmos um pouco, guardo os Pokémon e voltamos a andar. Afinal, não podemos ficar parado.

 

~×~

 

NÃO SOU CAPAZ DE dizer exatamente quando, mas finalmente consigo ver ao longe Rocgris com seu emaranhado de prédios cinzas. O sol está se pondo. O vale sumiu em algum momento atrás, não sei quando.

Ouço novamente um sussurro em meus ouvidos e procuro o responsável, atrás de mim. É claro que é o vento, mas algo chama minha atenção: Uma das últimas dunas me observa. Sinto um arrepio quando ela começa a se agitar. Penso que vai se levantar e avançar sobre mim, mas não é isso o que acontece.

Uma espécie de lagarto amarronzado, quadrúpede, as costas com listras mais grossas e escuras e a barriga rosada sai de onde os olhos da duna estavam. Vejo que o Pokémon têm os mesmos olhos das dunas que me perseguiram durante todo esse tempo.

- É um Sandile - explica Ben, vendo que eu olhava muito para o bichinho. - É um pequeno crocodilo que se locomove abaixo da superfície da areia. Ele só não cobre seus olhos e o nariz.

Então ele se cobre quase totalmente por areia, exceto os olhos... Significa que todo esse tempo em que aquelas dunas nos "olhavam", no fim não passou de um Sandile nos observando? Olhe, se era um Sandile ou não, pouco importa. Só sei que não foi uma experiência nada agradável.

Sou eu quem está ajudando Lucy a andar. Atravessamos o portão no muro que separa a cidade do deserto e impede a entrada de areia. Vendo que o sol não nos importuna mais, tiramos o turbante improvisado e enquanto eles amarram suas blusas na cintura, eu visto minha camiseta.

Os moradores nos olham desconfiados, como se fôssemos criminosos ou algo do tipo. Ao invés de nos olharem assim, por que não nos ajudam?

Observando mais atentamente, percebo que não é só conosco; se olham desconfiados entre eles. O clima está tenso. Do que estão tão receosos?

Chegamos ao Centro Pokémon; a enfermeira Joy atende Lucy com agilidade e a leva para um dos quartos acima. Ben e eu ficamos esperando na recepção e depois de uma hora Lucy aparece com Joy atrás dela gritando, preocupada:

- Ei, garota, você não pode sair assim! Tem que se recuperar!

Lucy está com seu braço esquerdo engessado e uma faixa em volta de seu pescoço apoia o membro e permite uma quase imobilidade do mesmo.

- Vamos sair daqui - suplica ela.

Levantamos e saímos, deixando para trás uma Joy reclamando.

No limite da cidade e começo da próxima rota, paro quando vejo mais um daqueles cartazes que sempre tinha visto nas cidades anteriores, mas nunca dado bola. Leio ele sentindo uma pressão no estômago.

 

Se você está cansado dessa desigualdade, junte-se a nós!

Vamos lutar para isso. Liberdade e igualdade! A mudança surgirá.

A REVOLUÇÃO está por vir.

 

Revolucionários - L.K.

& E. Rocket - S.

 

É inevitável que uma coisa dentro de mim diga que isso tem a ver com o nosso "sequestro" e com a tensão que se vê na cidade. Revolucionários  e Equipe Rocket? O que isso significa? Quem eram esses Revolucionários?

Ben está do meu lado e também lê o cartaz. Parece estar pensativo. Lucy chama nossa atenção e entramos na rota que segue à oeste. A noite já está instalada. Nosso estômago reclama e comemos poucas frutas, até porque depois de passarmos aquele tempo no deserto, sem comer nada, a barriga parece estar machucada e a cada pequena porção de fruta que bate nas paredes do estômago, dói como se estivessem o furando. Damos algumas Berries para os Pokémon.

Não posso deixar de notar uma aura diferente em meus amigos, especialmente em Lucy. Parecem estar um pouco mais maduros... Ou talvez seja só reflexo do cansaço. Mas tenho a impressão de que Lucy parou de ser uma total idiota. Talvez agora seja só uma meia-idiota. A experiência desértica fez um trabalho diferente em cada um de nós.

Sem muitas opções e esgotados, deitamos todos juntos na grama. Não nos importamos com surpresas que possam interromper nosso sono; recusamos sentir medo ou algo do tipo. Depois de todo aquele tempo andando e tomando sol, nosso corpo só quer descansar um pouco, não importa onde seja e nem como. Não dormimos desde que acordamos amarrados dentro daquele prédio... Espera... Realmente não dormimos depois daquilo? Ei... sequer passamos uma noite no deserto? Como eu não posso me lembrar de uma informação tão simp...

 

~×~

 

ACORDAMOS E OS ESTÔMAGOS se mostram um pouco melhor. Comemos um pouco mais do que ontem e seguimos o caminho para a próxima cidade.

As pessoas que encontramos no caminho, nos olham com... desprezo... ou talvez seja... nojo. Olho para mim mesmo e depois para meus amigos e entendo o porquê. Estamos imundos, com as roupas desgastadas, os cabelos emaranhados e sujos - o de Lucy, numa situação alarmante (também noto só agora que ela perdeu sua boina em algum ponto atrás. Mas quando, que não vi?). As únicas coisas que parecem estar em bom estado são as blusas dos meus dois amigos. Consigo comparar o tom de nossa pele com as poucas pessoas que passam. Resultado: Percebo que a nossa ficou bem mais morena e claramente irritada.

Não posso afirmar pelos outros, mas depois de tanto tempo no deserto, meus pés já se acostumaram à sua tarefa de carregar meu peso. Mal os sinto a cada vez que se firmam no chão.

Depois de um bom tempo caminhando, chegamos à Cidade Luvander. Ganhou esse nome pela maior fábrica da região (que fabrica luvas) e por ser uma cidade localizada no meio de colinas abarrotadas de lavanda. O perfume que o vento traz é reconfortante... acolhedor... aconchegante...

Olho em volta para as colinas lindas e deslumbrantes. Parecem montes  em tonalidades de roxo, como se alguém tivesse tido o trabalho de pintar daquela cor.

As casas e prédios foram construídos com pequenos blocos vermelhos. As fachadas são decoradas com ramos de lavanda, ao gosto particular de cada morador. As calçadas são cobertas por uma faixa de grama e interrompidas hora ou outra por belas árvores. As ruas limpíssimas. O céu brilha azul e o sol não está tão forte. Parece ser... a cidade perfeita para viver.

Toda essa beleza é interrompida por algo desconcertante. Os moradores daqui parecem estar mais inquietos dos que os de Rocgris.

- ... e isso tinha logo que acontecer em semana de Grande Festejo?! - ouço um deles queixar-se.

Semana de Grande Festejo? Quanto tempo passamos no deserto para esta data estar tão próxima? Ou será que isso se deve ao fato de que desde que saí de casa não estou contando os dias? Quantos dias se passaram desde que saí de casa? O que está acontecendo comigo?

Suspiro. É... Acho que a experiência desértica está fazendo seu trabalho em mim.

Lucy nos leva até a frente de um banco e pede para ficarmos esperando do lado de fora. Esse tempo serve para eu observar mais os moradores. Eles param uns aos outros no meio da rua e conversam baixo. O que está acontecendo para Rocgris e Luvander estarem apreensivas?

A Gwinterland sai do banco e compra roupas novas para cada um – inclusive uma blusa nova para mim. São roupas simples e eu gosto disso, e no mesmo esquema de roupas que já usávamos. Ela leva a blusa de Bem e a dela até uma lavandaria e depois vamos a uma pousada para tomamos um banho. Me lavo com cuidado, pois a pele está machucada de tanto ter sido queimada pelo sol. Os meus pés em estado deplorável. Vestimos as roupas novas e para nossa surpresa, as blusas já estão limpas e secas; eles as amarram na cintura.

Lucy nos leva a uma lanchonete e pedimos somente aquilo que vamos comer, o que não é muito. Não estamos mais como antes, devorando tudo pela frente. Ben e eu não comentamos o fato de Lucy estar gastando dinheiro conosco, mas ela toca no assunto:

- É... vocês sabem que não queria gastar o dinheiro de meu pai - começa ela, receosa -, mas, sei lá... Percebi que é um pouco egoísta não gastá-lo com vocês que não têm nada a ver da minha relação com ele...

- Tudo bem, Lucy – respondo, com um sorriso acolhedor. Era uma deixa de que ela não precisava aprofundar o assunto se não queria falar agora.

Comemos em silêncio até que repentinamente um barulho ensurdecedor grita de algum lugar lá de fora. Levantamos o olhar e vemos que os moradores começam a se concentrar na frente de um prédio baixo de dois andares, mas comprido, com todas das suas várias janelas fechadas. Ele é o único que é coberto por argamassa e pintado de branco. Acima do portão duplo principal, se vê escrito em letras garrafais: MANICÔMIO DE LUVANDER. É dele que vem aquele sinal de alarme.

Uma das janelas se escancara, abruptamente. Um menino de cabelos rentes à cabeça aparece e começa a escalar os parapeitos da janela em direção ao terraço plano do prédio. Enquanto ainda está escalando, reconheço aquele casaco cinza com uma cabeça de Zorua como touca, balançando a cada movimento.

Quando vemos que é Jorge, saímos da lanchonete e nos juntamos ao povo. Ele chega ao objetivo e se vira para todos que estão esperando para entender o que está acontecendo.

- Olá, Luvander - brada, com os braços e olhar voltados para o céu. - A revolução está para chegar! Com isso, a liberdade também chega. Então que ela comece por aqui!

Jorge faz um movimento horizontal com uma das mãos e o barulho metálico de uma trava sendo destravada é ouvido. O portão duplo principal de metal se abre revelando o saguão vazio do manicômio. O silêncio que se segue é sepulcral. Até que várias pessoas com roupas brancas aparecem descendo as escadas correndo em direção a saída. Na verdade, essas roupas parecem um tipo de avental. A maioria dessas pessoas levam os cabelos bagunçados e algumas delas berram por algum motivo. Demoro a entender que eles são os pacientes do manicômio.

Alguns moradores saem correndo, apavorados com o que pode acontecer. Os pacientes saem de monte pelo portão, alguns simplesmente correndo para longe, fugindo, e outros gritando com os olhos arregalados, atrás de moradores. Vejo que um dos pacientes sobe nos galhos de uma das árvores, enquanto outro senta no chão e abraça os próprios joelhos, desorientado e assustado.

Assim como eu, Ben e Lucy também estão sem saber o que fazer.

O som de hélices girando faz eu e meus amigos mirar o terraço do manicômio. Um helicóptero preto desce lentamente, mas não pousa; para a alguns metros do chão do terraço e joga uma escadinha para Jorge. Da janela em que ele saiu, um outro garoto – que usa a mesma roupa que os pacientes - aparece e começa a escalar os parapeitos em direção ao terraço. Ao chegar ao destino, seus cabelos loiros e  compridos balançam com o vento produzido pelos giros da hélice. Jorge vira o rosto para ele e grita alguma coisa. O garoto loiro avança pra cima dele, mas é tarde, pois Jorge segura um dos degraus da escada e o helicóptero alça voo, levando consigo o menino do casaco de Zorua.

O garoto loiro observa por um breve instante o helicóptero voando cada vez mais para longe. Como se para avaliar a situação, ele parece desistir e se vira para fachada do manicômio, onde alguns pacientes ainda saem.

Mesmo de longe, consigo distinguir bem seus traços. Eles se parecem com os traços de alguém, mas não consigo descobrir exatamente quem é esta pessoa.

Lucy, que está ao meu lado, solta um gemido intraduzível e murmura baixinho:

- Uh... Hu... - aparenta estar engasgada e por isso não consegue falar o que quer.

- Você está bem, Lucy? - pergunta Ben.

Ela parece nem ouvir o que ele fala, só fita fixamente o garoto no terraço. A Gwinterland faz força para engolir em seco e consegue completar:

- Hud?


Notas Finais


Link para o Mapa descoberto até agora: http://i.imgur.com/6TRLYdu.png


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