História Obsessão Perigosa - Long fic Gdragon (REPOSTANDO) - Capítulo 03 - Flor de Lis e seus avisos.

Busan;; Coréia do Sul

─⊹⊱✙⊰⊹─

Por Lina Carter

—Posso saber o que está acontecendo?— A pergunta era clara, objetiva e não havia espaço para indecisões, o tom de voz manteve-se inalterado ao perguntar e a cada segundo que passava eu me indagava como apenas seis palavras poderiam me fazer perder completamente a noção do que dizer, eu sabia que só precisava explicar a situação ao senhor Kwon e simplesmente sair dali com Kang-Dae mas  a verdade é que eu estava com medo, estava com medo de abrir a boca e ser punida por isso, não fazia ideia de por onde começar a falar e nem se deveria ser eu a fazê-lo, afinal eu não era a única ali presente mas seus olhos estavam em mim, e isso não facilitava em nada. 

—Perguntei o que está acontecendo, você não ouviu? Quem é você?— E , ok, se eu tinha alguma dúvida ela morria agora, porque os olhos cravados nos meus e o "quem é você" acompanhando a sentença claramente eram pontos que firmavam que o alvo da sua indagação tinha um foco; e era eu. 

—Desculpe interrompê-lo, juro que não foi a intenção, aconteceu um pequeno acidente entre o garçom e um dos seus colegas e eu só vim solucionar o problema, meu nome é Lina, Lina Carter, e eu sou a chef responsável pelo jantar.— E de onde foi que eu tinha tirado coragem para dizer tudo aquilo sem gaguejar? Eu não fazia a mínima ideia mas era extremamente grata a Deus ou a quem quer que fosse o responsável por me fazer soar tão eloquente em um momento como aquele. Senhor Gdragon franziu o cenho, ainda de olho em mim.

—Um acidente? Que tipo de acidente?— Questionou, novamente. Suspirei, mais uma vez recorrendo as preces silenciosas para que ele não percebesse o quanto eu estava nervosa. 

—Bem, parece que o garçom cometeu um pequeno deslize e acabou deixando o copo de uísque cair sobre um dos senhores, mas já me responsabilizei por isso, e não vai acontecer novamente.— Apontei, e tão logo quanto o fiz as palavras do senhor gravata inundaram meus ouvidos.

—Eu não chamaria de um deslize, esse bastardo manchou o meu terno, quero que ele seja punido, alguém precisa se responsabilizar.— E ok, aquele cara definitivamente tinha entrado para minha definição de pessoas pé no saco. Tudo isso por causa de um maldito terno? 

—Já disse que estou me responsabilizando, senhor, e garanto que ele será devidamente punido.— Falei, olhando para o senhor gravata por sobre o ombro e torcendo para que ele simplesmente parasse de agir como um idiota, mas ele parecia empenhado em fazer o contrário. 

—Ótimo, então o demita, assim saberei que ele foi devidamente punido.— Ralhou irônico e eu engoli em seco, me perguntando se seu pedido era de fato real. Antes que pudesse dizer algo senhor Gdragon tomou a frente e –acreditem ou não– me senti grata por isso. 

—Por Deus T.o.p, foi apenas um acidente, não vamos fazer disso uma confusão tão grande, não é como se você não pudesse comprar mil ternos iguais a este, apenas deixe-os, estou com fome e quero jantar logo.— Disse e tão como Dak-Ho havia dito –e tão como eu já havia percebido– seu tom de voz esbanjava autoridade, propriedade, de fato como um deus arrogante. Não disse nada, e nem tive tempo para isso pois logo os olhos do senhor Gdragon se voltaram para mim e Kang-Dae, que parecia uma estátua ao meu lado. 

—Quanto a você, senhorita, sugiro que de fato se responsabilize, limpe essa bagunça e certifique-se de que o seu encarregado não vai cometer outro deslize como esse, pois da próxima vez é ele quem vai se responsabilizar, não você.— E sua voz estava tão cortante e firme quanto a um minuto atrás, me perguntei como ele conseguia, como conseguia com tão poucas palavras soar tão amedrontador e intimidador, talvez anos e anos de prática lidando com pessoas desse tipo? Eu não sabia, e de qualquer forma não esperei para encontrar a resposta, apenas me reverenciei e surrando um "evidente, senhor" saí dali o mais rápido que pude, com Kang-Dae me seguindo tão amedrontado quanto eu. Ninguém dali se opôs a nossa saída, e o senhor gravata, engolindo seu orgulho em seco apenas praguejou, sentando-se novamente a mesa, aquilo foi um grande alívio, no fim das contas. Em silêncio eu e Kang-Dae voltamos para a cozinha e quando retornamos Dak-Ho se encontrava com a expressão tensa nos aguardando, sozinho. 

—Por Deus, estava quase indo atrás de vocês, o que aconteceu?— Ele perguntou, nervoso. Suspirei, vendo Kang-Dae fazer o mesmo ao meu lado. Explicamos a Dak-Ho a situação por alto, apenas para não deixá-lo no escuro, pois não queríamos tornar aquilo algo a ser lembrado, definitivamente não. 

—Bem, isso realmente é embaraçoso, mas que bom que conseguiu resolver, graças a Deus Jin não fez disso um grande caso, eu expliquei que você já estava resolvendo e ele ficou tranquilo, ele confia em você, então isso serviu para alguma coisa no fim das contas.— Dak-Ho disse, e eu novamente agradeci aos deuses por Jin não ter se alarmado.

—Isso sim é uma coisa boa, e me tira um grande peso das costas— Comecei, e então suspirei, enfática, olhando para Dak-Ho com sutileza. —Será que poderia, por favor, limpar a pequena bagunça no salão enquanto eu organizo o jantar para servir? Não acho que seja adequado deixar Kang-Dae voltar sozinho.— Concluí, e olhei para o loiro de relance, ele ainda estava aéreo e mal parecia nos ouvir, certamente se sentindo culpado. Fui trazida de volta a realidade por Dak-Ho e sua voz dócil.

—Claro que sim, nem precisa pedir duas vezes.— Disse e tão rápido quanto havíamos chegado ele saiu da cozinha, levando consigo um pano de prato e uma vassoura que estava atrás da porta. Quando ele saiu Kang-Dae pareceu despertar e as palavras que saíram de seus lábios me deixaram tão melancólica quanto ele estava. 

—Nem sei por onde começar a me desculpar.— Disse, recostando-se na pia. —Juro que não foi minha intenção estragar tudo Lina, mas aquele cara, ele...ele estava bêbado, e quando tentei levar o copo com o resto de uísque para encher ele pensou que eu estava o impedindo de beber, e aí deu no que deu.— Se explicou e eu balancei a cabeça. 

—Não foi culpa sua, e você não estragou nada, não pense assim, todo mundo sabia que àquele cara passou da conta em relação a bebida, ninguém está culpando você e acidentes acontecem, então fique tranquilo.— O garanti, e então me aproximei, tocando seu ombro, tentando passar toda convicção por trás de minhas palavras. Ele pareceu aliviado.

—Então você não está brava?— Perguntou e eu neguei, balançando a cabeça e sorrindo amigavelmente. 

—Não, claro que não.— Afirmei, e ele sorriu, novamente aliviado, como se um peso enorme tivesse acabado de sair de suas costas. Dak-Ho voltou para cozinha instantes depois, e isso deu fim a nossa pequena interação, assim como decidi que também daria fim naquela aura tensa por causa daquele incidente.

—Obrigada Dak-Ho, agora que tudo já está resolvido vamos apenas esquecer isso e voltar ao trabalho, estamos quase no fim da noite e os clientes já pediram o prato principal, então enquanto vocês cuidam do resto da sobremesa eu irei servir.— Avisei, e eles anuiram, aceitando minha sugestão de bom grado. Logo nós três estávamos entretidos com nossos afazeres e isso nos permitiu esquecer as tensões da noite. Organizei os pratos elegantemente sobre o carrinho de metal e não tardei a sair para servir, podendo escutar claramente o "boa sorte" dos garotos, qual fiz questão de agradecer com um sorriso singelo. 

De volta ao salão pude perceber que o clima estava mais leve entre eles e isso possibilitou que eu me sentisse mais calma, o carrinho com os pratos anunciou minha presença antes de eu sequer abrir a boca então quando cheguei a mesa eles já me olhavam, todos eles. 

—Vou servir o seu jantar agora então espero que apreciem.— Comuniquei, e então, calma e delicadamente, dispus os pratos a frente de cada um deles, não evitando me sentir incomodada quando passei pelo senhor gravata, tal incômodo, apesar de tudo, sendo substituído ao deixar o prato do senhor Gdragon à frente dele. Por estar relativamente perto pude sentir o forte aroma de seu perfume, como o de todos os outros, e sem dúvida alguma aquilo me desnorteou por uns instantes, não se assemelhava com nenhum outro cheiro que eu já tivesse sentindo antes, definitivamente não, ele parecia ter um aroma próprio e, ok, não fazia sentido algum pensar sobre aquilo então apenas balancei a cabeça em negação, afastando tais pensamentos e obviamente me sentindo tola por eles. 

—Algum problema?— Ele perguntou, quando terminei de deixar sua refeição, reparando no meu ato de balançar a cabeça, e não pude deixar de constatar que até mesmo sussurrada sua voz exalava uma autoridade comedida. Novamente balancei a cabeça, negando, sentindo-me envergonhada e ansiosa por ser alvo de sua atenção mais vezes do que imaginei ser necessário. 

—Não, claro, que não, espero que aprecie o jantar e se precisar de algo é só tocar o sino, virei imediatamente atender as necessidades de vocês.— Informei e me preparei para dar o fora dali o mais rápido possível, mas antes que o fizesse a voz de Gdragon interrompeu-me.

—Todas elas, senhorita Carter?—  E aquilo me fez retesar porque por um momento não consegui pensar em mais nada que não fosse o fato dele ter se lembrado do meu sobrenome e quando ele o usava acompanhado do "senhorita" soava ainda mais estranho, mais instigante, tão estranho e instigante quanto ao fato de não ter entendido sua sentença, porque por um instante que eu não saberia dizer quanto durou aquele questionamento me pareceu ter milhões de sentidos que não o real mas minha mente caótica e cansada não estava apta para tentar entender então simplesmente concordei, porque como Jin havia instruído tudo naquela noite era para agradá-lo. 

—Todas elas, senhor Gdragon.— E então saí dali e, mais do que nunca, torci para que a noite acabasse logo. 

❖

—Nem posso acreditar que conseguimos.— A voz de Dak-Ho ecou como música em meus ouvidos quando ele voltou para a cozinha com a travessas de sobremesas vazias. Era oficialmente o fim do jantar e depois de servir o último prato e ser contemplada com o barulho do fechar das portas do restaurante só podia me sentir grata por aquela noite tensa e caótica finalmente ter tido seu fim. 

—Nem eu, sério.— Kang-Dae concordou, respirando aliviado e debruçando-se sobre a pia, estava exausto depois de lavar e organizar todos os talheres sujos e eu mais exausta ainda depois de guardar o resto da comida e limpar o armário e o fogão da cozinha, no fim das contas sobrara para Dak-Ho servir a sobremesa mas ele não se incomodara muito e eu me sentia grata por isso, porque eu não estava com cabeça para estar novamente no mesmo ambiente que o magnata, seus olhos intensos me intimidavam mais do que eu gostava de admitir e pensar sobre isso fazia minha cabeça doer, então só pude agradecer quando o moreno se ofereceu para terminar o trabalho. Havia tirado um grande peso das minhas costas. 

—A noite foi realmente cansativa então também estou feliz que tenhamos conseguido fazer tudo.— Afirmei, e tentei dar o melhor sorriso satisfeito que minha expressão exausta permitia, já passava das 22:00 e tudo o que eu queria era minha cama. A equipe abelha já havia terminado o evento e de acordo com Joe ele e as meninas haviam saído para comemorar o desempenho ao concluir o serviço, senti um pouco de inveja por querer estar com os três naquele momento mas quando ele convidou eu e os garotos para nos juntar a eles  –através de uma mensagem no nosso grupo do kakao talk– só pude negar, porque definitivamente eu não sabia se iria conseguir parar em pé. 

—Só sei que quero minha cama.— Afirmei, lacônica, e nem esperei uma resposta deles, apenas segui até meu armário e peguei minhas peças de roupa, seguindo até o vestiário logo em seguida para finalmente tirar o uniforme do buffet e me vestir com minha calça jeans e suéter bege. Quando voltei para a cozinha Jin estava lá, parabenizando os garotos, não parecia nenhum pouco incomodado ou bravo pelo incidente com o copo de uísque e isso fez um sentimento de alegria surgir em mim, Kang-Dae não teria problemas com Jin por isso. 

—E então, como se sente depois do seu primeiro jantar oficial?— O Kim perguntou quando me aproximei, sorri de lado diante de sua pergunta, finalmente mais leve depois de tantas emoções. 

—Cansada mas satisfeita.— O respondi, sincera, e ele sorriu dessa vez.

—Eu disse que se sairia bem, não tinha porque sentir tanto nervosismo, na verdade todos foram ótimos e assim como a equipe abelha estou bastante orgulhoso.— Nos parabenizou e certamente, se  eu não estivesse tão cansada e com os músculos tão doloridos, eu o abraçaria, mas não era o caso então eu apenas sorri, o agradecendo pela confiança, e me despedi dele e dos garotos, que ainda ficariam para se trocar e ajudar Jin a trancar tudo. Desejei boa noite a eles e tão logo quando responderam me despedi das paredes do Ambrosia, tendo em mente o único lugar que eu queria estar; meu apartamento. 

A brisa gélida daquela noite de segunda chegou a mim assim que pisei fora do restaurante mas não tive muito tempo para ela, logo acenei para um táxi que passava na calçada e me apressei a entrar dentro dele, informei ao motorista o endereço e enquanto ele seguia pelas avenidas de Busan, me oferecendo nada mais que o silêncio, não pude deixar de trazer de volta a memória alguns detalhes daquela noite, detalhes que na realidade se resumiam em apenas um; Senhor Gdragon. Ele era de fato uma incógnita e a prova disso era minha tentativa de tentar entendê-lo quando ele sequer deveria estar se lembrando da minha existência. Ou será que ele estaria? Suspirei, balançando a cabeça negativamente e novamente afastando os pensamentos deturpados, provavelmente nunca o veria de novo então não tinha motivos para me sentir curiosa a seu respeito. Finalmente o táxi estacionou em frente ao meu prédio, isso significava que minha cama estava apenas há alguns passos de distância, movida por essa necessidade gritante de me aconchegar nela paguei rapidamente o motorista e corri para dentro do condomínio.

Cumprimentei o porteiro Lee-Byun com um sorriso mínimo, logo pegando o elevador para subir pro meu andar, vulgo terceiro. Assim que cheguei encontrei o corredor vazio e não fosse pela dona do prédio, senhora Kim Yoo-rita, estacionada em frente a minha porta, como se tivesse pregando algo nela, nada estaria fora do lugar. Franzi o cenho, me perguntando o porquê dela estar ali e o que estava fazendo, antes que pudesse colocar em palavras ela me notou, virando-se ao mesmo tempo que eu me aproximava.

—Oh, boa noite senhorita Lina! Ainda bem que está aqui, assim posso comunicar a novidade pessoalmente ao invés de pregar um aviso na sua porta.— Disse, sorrindo lacônica, sorri do mesmo jeito, não evitando deixar que meu olhar confuso pairasse sobre ela. 

—Boa noite senhora Kim, o que está acontecendo?— Perguntei, curiosa, incentivando-a a continuar, então ela o fez, e se eu não estivesse tão cansada certamente minha carranca seria uma de poucos amigos. 

—Bem, como dona do prédio e também moradora precisei fazer alguns ajustes no aluguel, por problemas pessoais, isso significa que o valor da mensalidade vai aumentar, a partir do mês que vem passará de 454,900,00₩ para 669,100,00₩.— E aquilo era uma merda, uma grande e completa merda, uma merda total, e, se eu tinha alguma dúvida de que poderia ter uma noite tranquila pós trabalho-duro ela morria agora, porque, definitivamente, eu não teria uma.

❖

—Isso realmente é uma merda.— A voz de Anna ecoando pelo outro lado da linha no telefone afirmava todos os meus pensamentos sobre aquela "novidade" dada pela senhora Kim, dona do condomínio, sobre o aumento do aluguel. Eu só queria ter uma noite de sono tranquila mas depois da notícia daquela linda senhora isso meio que se tornou impossível porque ao invés de tomar um banho quente e cair na cama eu estava sentada na mesa de jantar da sala, com uma calculadora em mãos, papéis em outra e o telefone no viva voz para reclamar da minha sorte na vida com a minha melhor amiga, e, por favor, sintam a ironia nisso. 

—Eu sei, acredite, quase disse isso para ela enquanto a via me dar as costas depois de jogar essa bomba no meu colo.— Afirmei, fazendo mais contas e tentando reduzir alguns gastos aqui e ali para tentar achar lugar para a mensalidade cara do prédio, missão sem sucesso já que nenhuma despesa que eu pensasse em diminuir  era suficiente para conseguir poupar o dinheiro necessário para o aluguel e o seu aumento considerável de 214,200₩. O salário do Ambrosia era bom, ótimo na verdade, mas com aquele valor do apartamento –além de despesas como água, luz, imposto de renda, internet e compras de casa– eu iria precisar ganhar pelo menos o dobro, o que estava –literalmente– fora de cogitação. 

—Já pensou em pedir um aumento?— Anna sugeriu, do outro lado, ouvi barulho de panelas batendo e deduzi que talvez ela estivesse preparando algo para comer, Anna era uma péssima cozinheira e se eu não tivesse tão exausta e estressada a convidaria para jantar. 

—Não posso pedir um aumento, Jin já me deu um quando fui promovida de estagiária para cozinheira fixa auxiliar, e além do mais não quero esbanjar, muito menos fazer o resto do pessoal pensar que tenho privilégios.— Falei, escondendo o suspiro enfadonho e cansado no fundo da garganta, não queria preocupá-la mais do que já estava. 

—Ok, então vamos ter de arrumar outra solução, que tal um empréstimo? Eu tenho um saldo no banco desde que comprei a moto, talvez dê para ajudar durante um tempo.— Ela disse, balancei a cabeça em negação, mesmo sabendo que ela não podia me ver. Anna trabalhava numa editora de livros e ganhava bem, mas ela tinha suas coisas, suas próprias despesas, havia se mudado para Coreia graças a uma bolsa de estudos e eu sabia que sua família nos Estados Unidos precisava da ajuda dela, ela também nunca poupava nada atoa então eu sabia que aquela grana tinha um fim muito bem pensado. Aceitar a ajuda financeira dela estava fora de cogitação, mesmo que eu admirasse e muito sua tentativa. 

—Amo saber que está preocupada, e agradeço mas sabe que não vou aceitar, esse dinheiro é seu, e não posso simplesmente usá-lo dessa forma, guarde, você vai precisar dele.— Falei, deixando a calculadora de lado e debruçando-me cansada sobre a mesa de madeira marrom. Ela praguejou do outro lado e aquilo foi mais do que suficiente para saber que seu pensamento era bem diferente do meu. 

—Lina mas— E ela ia discutir, a conhecia bem o bastante para ter certeza disso, mas, bom, não havia espaço para discussão ali. 

—Sem "mas", Anna banana, sabe que isso está fora de cogitação, e além do mais não resolveria o problema por completo, só faria você desperdiçar seu dinheiro atoa.— Falei, usando seu apelido na intenção de tornar a situação mais leve, mesmo que ela não o fosse, definitivamente. 

—E o que você pretende fazer então senhorita teimosia?— Indagou, diante da minha recusa em aceitar sua ajuda. Mas ela sabia que eu tinha razão.

—Não sei, vou ter de arranjar um outro emprego, um que intercale com o horário do Ambrosia, talvez eu mude o turno de trabalho, não importa, preciso pensar em algo, e rápido.— E não menti, eu precisava de uma solução não tardia para aquele problema, ou então muito provavelmente não teria um teto acima de minha cabeça. Suspirei, por fim, e do outro lado ouvi Anna também suspirar. 

—Vamos dar um jeito nisso, um que não envolva você virar uma escrava do trabalho, apenas relaxe, certo?— Disse, e seu tom rapidamente se tornou animado e confiante, sabia que ela tinha esperanças de conseguir me ajudar ao seu modo e embora eu achasse difícil decidi não destruir essa sua ideia naquele momento.

—Certo…— Afirmei, e tentei sorrir animada, mesmo que ela não pudesse me ver, agradeci por isso no final das contas; dessa forma ela não iria se deparar com minha tentativa fracassada. 

—Tirando isso como foi o seu dia? Sua voz parece cansada, tudo bem no restaurante?— Perguntou, mudando o foco da conversa, e embora eu me sentisse extremamente grata por isso me sentia também culpada por não conseguir ter forças mentais e físicas para iniciar um novo diálogo, já que tudo o que eu queria era dormir para esquecer aquela noite complexa e tensa. 

—Foi tudo bem, trabalhei duro hoje e estou exausta, então meio que só quero minha cama, e um bom banho quente, que tal passar aqui amanhã depois do expediente na editora e a gente conversa?— Sugeri, juntando os papéis de contas que estavam sobre a mesa e os colocando sobre a caixa de bolinhas vermelhas que estava em cima da geladeira, já me encaminhando para o quarto com o Moto g7 Plus em mãos. Anna deu uma risadinha, e mesmo não a vendo tive certeza de que estava anuindo com a cabeça.

—Tudo bem, me parece perfeito. Espero que descanse bem, senhorita teimosia, nos vemos amanhã, boa noite, e tente não pensar muito nos problemas, iremos dar um jeito.— Disse, gentil e animadamente, e por um momento eu senti inveja da positividade dela. 

—Ok, irei fazer isso, e obrigada pela força, durma bem também, Anna banana.— Me despedi, encerrando a ligação com um bocejo e fiz nota mental para me desculpar com ela por isso no dia seguinte, quando a visse. Segui até meu quarto, finalmente me despindo e entrando para o banheiro, não tardando a ligar o chuveiro e ser acometida pela água quente molhando meu corpo e relaxando meus músculos. O dia havia sido cheio, caótico e repleto de avisos complexos e eu só podia torcer para que um banho quente e uma noite de sono pesada me ajudassem ao menos um pouquinho a ter ânimo para os próximos desafios, estes que se tornariam cada vez mais difíceis dali em diante.

❴✠❴✠❵✠❵