História Olá, Happy. - Domingo, 26 de Março de 2017.

Olá, Happy. 

Essa manhã eu acordei com Erza e Gray batendo furiosamente na minha porta. Pensei em ignorá-los, mas se eu fizesse isso eles nunca mais iriam olhar na minha cara outra vez, então me arrastei escada abaixo até a porta da frente e (que surpresa!) Erza estava realmente furiosa. Ela entrou sem dizer nada, nem um “Bom dia!” ou “Há quanto tempo, velho amigo.”, mas não é como se eu esperasse isso dela, a última vez que nos falamos foi naquela discussão dias atrás. Gray falou, um “E aí?”, bem desajeitado por sinal, ele parecia não saber o que dizer. 

Erza não esperou nem que eu me acostumasse com a presença dela antes de começar a disparar um monte de reclamações sobre eu não atender o celular ou estar acordando depois do meio-dia. Considerei dizer à ela que eu acordei aquela hora porque não consegui dormir direito a noite, passei a madrugada me revirando na cama de um lado para o outro, mas se eu falasse algo isso não iria ter um fim então não disse nada, ao invés disso troquei olhares consideráveis com Gray enquanto esperávamos ela se acalmar, ele entendeu de primeira que eu não estava bem. Ele realmente merece o título de Melhor Amigo.

Eu ainda não estava afim de conversar, durante a noite a única pessoa para quem liguei foi Zeref e ele nem mesmo me atendeu, ignorou todas as minha chamadas, então ignorei todas as que recebi também. Estava me vingando do meu jeito.

– O que vocês vieram fazer aqui? – Perguntei quando Erza parou de reclamar. 

– Levy me ligou, disse que Mavis desmaiou no trabalho dela ontem e foi para o hospital – Erza respondeu. 

– Viemos ver se você estava vivo já que ligamos para você, mas você não atendia – Gray falou bravo batendo no meu braço. Era o tipo de bater que geralmente não dói, mas doeu – Aí ligamos para o seu irmão e ele disse que vocês tinham brigado porque você escondeu a condição da Mavis dele.

– Ele também contou que escondeu o fato de que Happy morreu há meses e que eu fiquei todo esse tempo que nem um idiota atrás dele? 

Os dois não falaram nada por um tempo, bom, na verdade por muito tempo. Estava começando a ficar desconfortável.

– Vocês já viram que eu estou bem, ou melhor, vivo. Podem ir. 

Eu queria dizer que eles levantaram e foram embora, sem mais perguntas, sem mais silêncios desconfortáveis, mas é claro que não foi assim. Erza se sentou ao meu lado no sofá, segurou minha mão e olhou bem fundo nos meus olhos.

– Está tudo bem, independente do que tenha acontecido com o Happy ou com Mavis... não foi sua culpa, okay?

O que eu estava sentindo era bem mais forte que a culpa e o que devia me acalmar só me irritou mais. Eu odeio toda essa situação, odeio de verdade. 

– Eu devia ter cuidado melhor dele. Era a única coisa que eu tinha que fazer. Ele era tudo que eu tinha e deixei ele morrer – Falei com raiva puxando minha mão – Agora fiz a mesma coisa com a Mavis, eu não contei nada porque não queria me meter na droga do casamento deles e agora ela pode estar morrendo e meu irmão está tão puto comigo que nem quer me dizer como ela está. Eu estou com medo de que algo possa ter acontecido com ela e o bebê, eu estou com medo de encarar meu irmão! Eu não dou a mínima para essa merda de culpa, eu estou acostumado com ela assim como eu devia estar acostumado a perder tudo que eu amo, porque é só o que acontece comigo!

Gray suspirou alto, ele se levantou e subiu as escadas. Ele estava com raiva, nós o ouvimos socar as paredes e chutar qualquer coisa que ele tenha encontrado no chão do meu quarto. Ainda bem que não tinha nada de valor no chão. 

Droga, até Erza parecia a ponto de chorar. Sinceramente, eu só queria que eles fossem embora. Eu também estava com raiva, também estava triste, também queria chorar.

– Olha Natsu, eu sei que você está triste pelo o que está acontecendo e eu sinto tanto por isso, eu também estou! – Erza falou voltando a segurar minha mão. Eu não queria acreditar que ela estava triste por isso, eu pensei “Mentirosa”, mas as mãos dela estavam trêmulas e os olhos marejados, ela estava se segurando bastante para não chorar feito uma criança na minha frente – Mas Mavis está no hospital agora e ainda não sabemos se ela vai sair dessa. Não estou dizendo para perdoar seu irmão nem nada do tipo, mas eles são a família dele, entende? E, na verdade, a sua também… Sei que você está com raiva, está chateado, mas ele deve estar… assustado e com medo de que vá perder eles e talvez você também por não contar sobre o Happy...

– Está dizendo que Zeref precisa de mim agora? 

– O que eu estou dizendo é que sua família precisa de você. Não só seu irmão, Mavis também e… e seu sobrinho que está para nascer – A palavra “sobrinho” pesou na minha consciência – Tudo bem ficar triste por tudo isso, está realmente tudo bem, mas não agora… não nesse momento. Porque você ainda não perdeu eles.

Ela disse que não era o momento, mas ela estava chorando. Eu a abracei porque também estava no meu limite e chorei junto com ela. Acho que Gray me viu chorando, espero que ele não use isso contra mim no futuro. Depois disso Erza foi embora, Gray não foi, ele quis ficar, disse que precisávamos conversar, então nos sentamos no sofá um do lado do outro e falamos de coisas que não tinham nada a ver com meu irmão, com Mavis ou com Happy. Nós só conversamos, nenhum assunto que seja relevante eu te contar. Gray não é como Erza, ele não gosta muito de falar sobre os problemas das pessoas, mas ele é bom em fazer você se esquecer deles por pelo menos um segundo, bom em dar momentos de paz as pessoas, mas é claro que depois que ele se foi eu voltei a realidade. 

Eu tentei várias vezes ir ao hospital, mas sempre parava na porta, pensando se realmente devia ou não. O que importa é que dessa vez eu estou decidido a realmente ir. Então espere notícias e é espere que elas sejam boas.

N.D.