1. Spirit Fanfics >
  2. Omega >
  3. Apelos

História Omega - Apelos


Escrita por: vanaheim

Notas do Autor


tudo bom?

Capítulo 22 - Apelos


O corpo de Stiles escorregou da poltrona como se – por um instante – estivesse desprovido de ossos e músculos. Ele caiu de joelhos, arfando como se tivesse engolindo uma bola de golfe. Seu estômago parecia do avesso, enjoado como se tivesse acabado de descer de uma montanha-russa, com direito a três loopins seguidos. A mão esquerda pressionava a barriga, a direita apertava a nuca. Os cortes causado pelas garras doíam e ardiam. Uma corrente elétrica parecida percorrer suas vértebras, vibrando os seus ossos. O líquido vertia das fenda por entre os seus dedos, sujando sua pele e camisa.

As lágrimas embaçavam-lhe os olhos. Estava momentaneamente desorientado. E sentia, também, alguém segurar seu corpo. Aos poucos a voz foi se tornando mais nítida e presente. Era Matt quem o amparava, segurando seu corpo. Perguntava se ele estava bem.

Stiles ainda ouvia aquele ruído abafado. Palavras e pensamentos se mesclando. As lembranças ainda disparavam em sua mente. lágrimas, romance, promessas, traição e morte. As vozes ecoando em seus tímpanos como fantasmas do passado, as imagens girando diante do seus olhos como um caleidoscópio bizarro. Ele piscou diversas vezes para afastar aquela sensação esquisita.

— Stiles. Respira. — Matt pediu, apertando seus ombros. Os olhos estavam fixos na nuca do amigo. Ignorava todo o resto.

Stiles assentiu e forçou o ar entrar e sair dos pulmões. Reparando que era disso que precisava, de ar. Ele repetiu o ato de forma repetitiva. Voltando a si, reparando que aquele momento foi apenas um instante. Um instante para que viajasse um pouco pra o passado de Derek e Paige, para que uma confusão se infiltrasse naquele comodo. A sala estava alvoraçada; dividida entre duas matilhas, armadas e prestes a se engalfinharem como cães.

O castanha semicerrou os olhos. Tentando se situar no presente e processar a imagem que via.

Peter estava jogado do outro lado da sala. As pernas jogadas sobre uma mesa de canto, cujo o vidro se partiu. Ele se sentou com a mão na testa, balançava a cabeça tão desorientado quanto Stiles. Scott tentava inutilmente segurar liam, levá-lo para longe dali. Segurava o beta pela cintura e gritava comandos ao ventos. Mas o Dunbar parecia cego e irredutível. Imparável. Não escutava nem mesmo a quem havia se aproximado tanto nos últimos dias. Acertava cotoveladas nas costelas do alfa com força, sem se importar com os arquejos do mais velho; o outro braço estava esticado na direção do Hale , como se pudesse agarra-lo de onde estava. Theo, Kira e Corey haviam se colocado entre Cora, Jackson e Laura. Malia ajudava o pai a se reerguer.

Deaton se limitava a observar. Parecia acostumado com situações conflitantes. Entediado, até. Como se esperasse que algo do tipo fosse acontecer a qualquer momento.

— Parem… — Stiles balbuciou, tentando se livrar do foco das imagens. Tentando focar no agora. — Parem, droga.

Ele berrou olhando em volta. Pousando de rosto em rosto, gravando cada expressão. Liam o encarou de abrupto, por cima dos ombros; suavizando a expressão, lentamente voltando ao normal. Stiles conseguiu o que queria, o silêncio e a atenção dos demais. Queria organizar suas ideias.

— Está sangrando. — Matt Disse-lhe, apertando-lhe o tronco e o ajudando a ficar de pé. Mas notando, também, que o fluxo havia diminuído. — Não se mexa tanto.

O Stilinski deu tapinhas no ombro do amigo, dizendo que estava tudo bem. Mas suas afirmações pareciam ser o mesmo que nada, uma prova inválida. De onde estava via o corpo do Dunbar tremer, como se fosse explodir a qualquer momento; mesmo que o Reaken tivesse tomado-o dos braços do Alfa e o levado para um canto, o pressionado contra a parede; repassando algo que aparentemente viam tentando.

— Jogue ele debaixo do chuveiro. — Stiles pediu a Theo. Que demorou para entender que ele falava consigo, e arrastar o rapaz para longe.

Os betas recuaram. Embora ainda estivessem com os ânimos à flor da pele. O cheiro metálico parecia atiça-los, tal como a agressão para o outro grupo. A tensão se instalara no ar e permaneceu. Os olhares trocados eram afiados e atravessados. O silêncio só alimentava toda a situação.

— Está ficando velho, tio?

Laura indagou sem encara-lo. Encarava Scott a todo momento, como se o questionasse sobre o beta, a disciplina e o respeito. A que deixava o jovem mais nervoso e irritado.

— Se você viu o carinho chegar porque não fez nada? — Malia retrucou chateado, ajudando o pai.

A alfa emburrou-se. Laçando um olhar irritado que silenciou a prima.

— Ele tem bons reflexos. Imaginei que daria conta.

Peter a ignorou, empertigando-se. Não parecia nenhum pouco chateado com o beta. Ignorou o seus rosnados e o olhar dos demais. Não os culpa pela ignorância ante método. Estava distraído. Revivendo as lembranças da jovem. Era sempre estranho ver através dos olhos de outros, sentir o que ela sentiu e quase entender suas escolhas.

— E então? — Ele indagou ajustando a camisa no corpo. Encarava o jovem Stilinski como se só estivessem eles dois ali.

Stiles ainda estava naquele estranho estado de torpor. Como se pensar com clareza fosse algo difícil. Sua cabeça era um embaralho só. Mas não como a segundos atrás, em que suas pernas tremiam e que ainda precisava da ajuda de Matt. E Mason, que percebeu que estava ali também.

— Ele mentiu para ela. Enganou. Fez falsas promessas. Brincou com os sentimentos dela…

Murmurou. Pedindo que Matt o soltasse, mas o rapaz insistia em lhe amparar. Scott e seus betas ficaram confusos com suas palavras. Já que não entendiam o contexto e sobre quem ele falava.

Os outros eram pura tensão. Olhando-o de forma exasperada. Como se ele tivesse dito algo inominável.

— não o julgue, você não o conhece. Nosso pai… — Laura ia dizendo, irritadiça, mas se calou. E bufou em seguida.

Stiles a ignorou. Sentiu algo deslizar por sua nuca com cuidado, um pano. A região já não doía-lhe como antes.

— Está melhor.

Murmurou o Daehler, guardando a toalha. Observando os buracos de fecharem. Stiles o agradeceu, apertando-lhe a mão, antes de dar um passo a frente. Queria que o lobisomem mais velho lhe dissesse mais, que lhe explicasse mais; foi como assistir um filme por pequenas partes, cortado, sem as entrelinhas. Se perguntava se ao cair tivesse rompido a conexão. Ou Liam, com toda a sua irritabilidade, ao empurrar Peter tenha o feito. Não queria que só fosse aquilo, precisava de mais. Não havia nada que indicasse como ajudar Bruce, o lobo a voltar.

— É mais complicado do que isso. — Peter murmurou. Com o olhar que pedia compreensão. Que ele não focasse em apenas um lado da história, em um único ponto de vista.

Stiles esperou que ele explicasse com todas as letras. Mas a sua resposta foi um silêncio sepulcral. A tensão, curiosidade e expectativa se espalhava pelo cômodo como uma névoa venenosa.

— Ela fugiu. — Ele comentou. Flexionando os dedos, observando o ato. Aquilo, seja lá o que Peter fez consigo, era estranho demais. Ter sentimentos conflitantes de duas pessoas de forma simultâneo lhe deixaram estranho, ansioso. Fora a náusea que persistia, algo parecido como a sua primeira aventura em uma montanha-russa.

— o que houve? — Indagou, olhando para o lobisomem a frente. Precisava se distrair, que ele falasse.

Peter coçou a garganta. Massageando o próprio ombro. Ainda reclamava do golpe que receberá do jovem lobo. Fora pego desprevenido, pois repassar memória exigia muita concentração; mas deveria ter se preparado para uma retaliação, ou explicado. Contudo, aquilo pouco importava.

— Ela fugiu. — Ele falou. Lembrando da moça saltando da janela sem se preocupar com os andares. De encontrar o seu sobrinho desfalecido e o lobo fungando em sua cabeça; do instinto de gritar por ajuda, o mesmo instinto que o levou a pular atrás da Krasikeva. — Consegui alcança-la. Imobiliza-la por tempo suficiente para pegar algumas memórias. Mas não o suficiente.

— Porque?

— Digamos que ela conheça alguns truques…

O mais velho balbuciou regendo a camisa acima do umbigo. O suficiente para expor uma cicatriz aos olhos curiosos. Uma faixa de pele repuxada e irregular. A lâmina foi cravada e movida; o que deixou a cicatriz com um formato encurvado.

— uma cicatriz? — Scott tomou a frente, enquanto o burburinhar se espalhava. — Você é um lobo nascido então…

— é a arma que ela tem. — Explicou, controlando a irritação. — Não vi nada igual. Não é uma punhal comum.

O moreno se calou, pensativo sobre a sua confirmação. Diferente do seu bando que comentava baixinho, mesmo depois do homem ter baixado a camisa.

Stiles ignorou-os. Massageando a nuca. Aquele formigar da carne se fechando era estranho.

— sim. — ele falou. — O que você tem mais a dizer? Sinto que assisti recortes de um filme. Não é o suficiente.

Peter balançou a cabeça.

— foi o que eu consegui. — disse-lhe. — Mas fui ao quarto dela. Não deu em nada. Não encontrei um livro sequer que falava sobre o que ela tinha feito.

— talvez o que ela fez, aprendeu tenha sido passado de forma oral. — Alan murmurou pensativo, causando um sobressalto nos mais jovens. Estava à tanto tempo só a observar que fora esquecido.

Peter o encarou com desconfiança. Assim como os demais. O homem preto riu baixinho.

— Alguns povos passavam seus ensinamentos assim. Diziam que ganhava mais força.

O druida explicou seu devaneio. Causando mais burburinhos.

— então só ela sabe como trazer o Derek de volta? — Cora perguntou. Já que sua família ficou em silêncio.

O homem não respondeu. Embora seu silêncio já fosse considerada uma resposta. Quase um pensamento conjunto.

— Vocês nunca mais a viram? — Kira perguntou.

— Se tivéssemos encontrado essa megera ela já estaria morta. — A alfa ditou.

— E isso seria de grande ajuda, certo? — Stiles resmungou com ironia, fazendo com que ela bufasse. — Família?

— Não. Nada. — Malia contou-lhe. — Não sabíamos muito sobre ela. Só que não era daqui.

— Certo. — Resmungou o rapaz. E olhou para o Hale. — Mais alguma coisa? Qualquer coisa.

Peter permaneceu a encara-lo por um tempo. Revirando as próprias memórias. Já fizera aquilo tantas vezes que já mapeara – em busca de um indicativo que fosse – aquele pequeno cômodo.

— Ela havia se preparado. O quarto estava praticamente limpo. — disse-lhe. — E havia o resto de uma vela no canto do quarto. A cera derreteu para os dois lados. Se você olhasse com atenção via a forma de um lobo e de um corpo humano.

O Stilinski meneou brevemente. Não era muita coisa, ele sabia disso, mas deveria servir para alguma coisa.

— Cera, sangue e música. — Ele repetiu, pontuando nos dedos, olhando para Alan em seguida. — Sabe de alguma coisa? Ou vai ficar calado vendo as coisas acontecerem como sempre?

O Druida deu um passo adiante. Parecia não se importar com a acusação.

— Como falei minutos atrás: Estou de mãos atadas. Nunca vi nada parecido. — Ele disse calmamente.

O ranger de dentes do rapaz fora como o raspar de unhas em um quadro. As vezes Deaton lhe tirava do sério com todo aquele ar misterioso. Quando realmente era necessário ou não dizia com todas as letras, ou não dizia. Agora que era realmente necessário, não sabia.

— Ótimo. — Grunhiu o castanho. Apoiando a mão na testa. Estava com elas atadas, uma vez que não sabia nada sobre magia. E a sua fonte próxima alegava não saber.

— Você está bem?

Matt apertou-lhe o ombro. Stiles o fitou de relance. Quase esquecera que ele estava bem ali do seu lado; que não estavam somente ele, Peter e o druida.

O olhar preocupado o fez esquecer a irritação por um instante. Segurou a face gorducho do rapaz e a apertou antes de dar um tapinha.

— Estou ótimo. ,— Ele garantiu. Olhou para o pescoço do rapaz. A pele marcada com pequenos triângulos sobrepostos, como se as escamas fossem romper a pele a qualquer momento. — Quer ficar calmo?

Matt assentiu, um pouco constrangidos. Evitando olhar para os visitantes, enquanto erguia a gola da camisa.

Stiles recuou, caminhando em direção a saída, não tinha muito o que fazer ali. Ele se apressou pensando no rosto da garota. Aquele rosto redonda. Aquele rosto redondo. O retrata da jovem parecia colado na sua retina. Como se ele a conhecesse. Talvez a conhecesse mesmo, de certo modo, depois do que Peter fizera.

— Onde você vai?

Scott quis saber, se adiantando em seguir o castanho até a porta. Visando ter uma conversa com o amigo, esclarecer alguns pontos

— Para casa. — Stiles falou simplesmente.

— Eu te levo.

Liam ressurgiu passando por Scott ao atravessar a porta. Os cabelos estavam encharcado. A camisa grudava no corpo, tal como a bermuda e Theo, que era puxado pela mão.

— Vou com vocês.

Matt avisou, saltando os degraus da varanda logo atrás.

O Stilinski parou de abrupto. Fazendo-os parar aos esbarrões. Lançando um olhar hesitante a trupe.

— Galera… — Ele disse, jogando um braço sobre o ombro de Liam e o outro sobre o ombro de Matt, quase que como se o abraçasse. — Eu amo vocês e tals. Mas preciso respirar, pensar, beleza?

Ele balançou a cabeça, como se esperasse por um movimento mimético dos betas. O Dunbar e o Daehler moveram as bocas, buscando algo para retrucar.

— Viu só? — Scott chegou, descendo um degrau e se apoiando num pilar da varanda. — Eu disse que ele precisava ficar sozinho. Não errei. Vocês são muito grudentos.

Ele ditou. O queixo erguido como se reafirmasse as palavras. Olhando para o rosto dos betas, incluindo o ômega.

— Cara…. — Stiles grunhiu, soltando os betas, fitando o moreno com irritação. — Não é nada disso. Fica quieto quando não tiver mada de interessante para falar.

Scott deu de ombros. Sorrindo, pois levava na esportiva. Na verdade, nunca levou a sério aquela situação; pois tinha a ideia fixa de que uma hora ou outra tudo ficaria bem. Como aconteceu algumas vezes.

— mas você acabou de dizer que precisava de espaço. — Ele explicou. — Foi justamente o que eu pensei quando falei que ninguém poderia te ver.

O Stilinski se empertigou. Visivelmente irritado por ele está distorcendo toda a história para de favorecer.

— uma coisa não tem nada a ver com a outra, idiota. São situações completamente diferentes. Preciso de espaço para pensar no que eu acabei de ver e sentir. — explicou o castanho. — Não é o mesmo que ser afastado de todos. Por dias.

— Depende do ponto de vista. — O McCall reafirmou.

Os betas assistiam. Sem reação. Sem saber o que dizer, pois sentiam as emoções conflitantes do Stilinski. Fazia aflorar a culpa por não terem desobedecido o alfa e ido vê-lo.

— do seu ponto de vista. — Stiles grunhiu. Já sem paciência. Tinha muita coisa na sua cabeça para ainda ter que lidar com o McCall. — Mano. Já estou de saco cheio. É melhor eu dar o fora antes que eu concerte esse teu queixo na base da porrada.

Ele ditou exasperado e deu a costa ao moreno. Caminhou a passos duros em direção ao jipe, aos resmungos.

Scott arregalou os olhos em confusão. Observando o trio seguir o castanho no encalço. Havia travado, incerto se deveria segui-lo ou não.

Embora Theo pedisse explicação sobre o que estava acontecendo, era ignorado. E Liam o silenciou com um balançar de mão.

— tem certeza Stiles? Não quer que a gente vá com você? —. O baixinho perguntou. Sentia um aperto caloroso em sua mão, devido ao entrelaço dos seus dedos com os do omega.

Stiles já entrava no automóvel. Enfiou a cabeça pela janela, para encara-los.

— absoluta. — Ele afirmou. Vendo que o cabelo do rapaz ainda pingava. Tal como o de Theo. — Porque os dois não vão de secar ali naquela moita?

Ele forçou um sorriso, um convincente, apontando pada um arbusto ali perto, que nem era tão alto assim.

Liam seguiu tontamente o dedo do amigo. Seu rosto já ardia.

— À… idiota. — Ele grunhiu. Enquanto o Reaken coçava a nuca, sem graça.

O Daheler aproveitou o momento para se aproximar. Se encostando na lataria do carro, ele perguntou:

— Podemos passar mais tarde então? — Ele quis saber.

Stiles o encarou de cima a baixo. Como se um terceiro olho tivesse brotado na testa do rapaz, ou a cauda aparecido.

— céus…

Ele resmungou virando-se para o volante. Enfiando a chave de fenda na ignição. Esboçando um sorriso bem maus sincero.

— Isso é um “sim”? — Liam perguntou interessado.

O Stilinski nada disse. Girando a sua “chave” fazendo o motor roncar debilmente. Ameaçando sair dali a qualquer momento.

— Com certeza não. — Theo afirmou. Apoiando o cotovelo no ombro de Liam.

— Você é novo. Não sabe nada. — Matt afirmou, o empurrando com o cotovelo. Liam assentiu em acordo.

Stiles ignorou as divagações do trio e saiu dali o mais rápido possível. Estava tão apressado – atordoada com aquela experiência – que sequer se despediu do lobo adormecido.




•×•





Stiles rodou a cidade por horas a fio, parecia querer desafiar o vigor do seu velho jipe. Hora ou outra fazia uma breve pausa, pois tamanha era sua distração. Exatamente o que fazia naquele instante, parado no estacionamento de uma lanchonete fechada.

Pensamentos – dos mais diversos – faziam sua cabeça fervilhar. Seu cérebro iria se liquefazer a qualquer momento, ele sentia isso. Desejava intimamente poder focar só em um. Mas não passava disso, um desejo.

Pensava em Scott e toda a sua idiotice e indiferença. E incapacidade de assumir um erro. Ou ele realmente pensava que tinha razão? Pensava em Bruce. Remoía o fato de não ter ficado um pouco mais com ele, de ter saído as pressas sem nem ao menos se despedir. Pensava em Derek, deitado naquela cama, preso naquele sono sem fim.

E pensava na Paige. Na impressão que ela lhe causava. Suas sensações era como um vírus tentando lhe infectar. Pensava em todo aquele relacionamento estranho. Nas coisas mal resolvidas. Nas palavras jamais ditas e nas que foram ditas erroneamente. Em como um diálogo aberto poderia ter gerado um resultado diferente. A sinceridade mudado tudo.

Os “e se” pairavam em sua cabeça feito um enxame. Deixando-o inquieto. Como sentir tudo o que ela sentia. Do amor a raiva ao rancor. Tão presente quanto as memórias de Derek. O receio e os sentimentos conflitantes em relação ao próprio pai. Não queria pensar no que Derek sentia em relação ao homem. Tão pouco perguntar a família. Em como a Paige ficou tão destruída e desequilibrada com aquele término abrupto, a ponto de fazer uma barbárie.

Era tudo demais. Informações demais, frases e imagens, despejadas em sua cabeça. Ficou se perguntando se soubesse de antemão o que aconteceria teria se preparado melhor. Mas no fundo sabia que era bobagem. Nada lhe prepararia para ver lembranças que não eram suas. Em meio ao seus devaneios lembrou-se de mais um nome. E refletiu uma decisão. Já que não conseguia pensar em nada, a não ser na familiaridade daquele rosto redondo.

Saiu daquele estacionamento esquecido com a mesma pressa com a qual chegou. Antes de seguir os conselhos de Lydia e tornar sua decisão em realidade ele passou em casa. A fim de se livrar daquele cheiro de suor e sangue com um bom banho. A água fria foi o suficiente para que ele organizasse as ideias por hora. Logo já estava dirigindo outra vez. À caminho de uma casa que à muito tempo não frequentava. Tudo bem que há alguns dias estivera, mas fora enxotado.

Não demorou quase nada e logo estava defronte para a porta da casa da sua ex-namorada, pressionando a campainha com insistência. Sabia que ela estava em casa. Mas não tinha a certeza sobre o Toddy.

A porta de abriu segundos depois. Quando o indicador do Stilinski pairava sobre o pequeno botão pelo que pareceu ser a sexta vez. Heather se assustou assim que a imagem do rapaz surgiu com o escancarar do objeto. Como se tivesse visto um fantasma.

— Você…. — Ela balbuciou. Com um misto de surpresa, incredulidade e chateação.

Stiles sorriu amarelo, erguendo as mãos.

— Eu… — Disse-lhe. — E venho em paz.

A loira o fitou por um instante. Hesitante. Como se estivesse em uma armadilha.

— O que quer? — Indagou desconfiada. Os olhos estavam semicerrados e ela os mantinha fixos nos do ex.

— conversar. — Ele explicou, olhando de um lado para o outro e por cima dos ombros da moça em seguida.

— conversar. — Ela repetiu como se a palavra e o contexto fossem um enigma estranho. Lembrando-se da festa e da fuga. E dos dias sem se falarem.

Stiles confirmou com um balançar de cabeça. E perguntou:

— Seu irmão está ai?

— saiu. — Ela disse. Apoiando o corpo no beiral da porta. — Para a sua sorte. — Sorriu-lhe. Lembrando de como o Stilinski achou um jeito de fugir naquela noite. Daquela garota intrometida.

— Ou a dele. — Stiles retrucou. Apontando os indicadores para a ex. Via-se nervoso naquele momento. Depois de meses sem se falaram direito, daquela festa, era estranho.

Heather ficou encarando-o em silêncio. Sem saber o que dizer. Poderia facilmente xinga-lo, ou simplesmente fechar a porta, mas não fez nada disso; esperou apenas.

— então… posso entrar ou…

O Stilinski quis saber. Sustentando o olhar a loira, embora coçasse o pulso em claro nervosismo. Heather ponderou por um tempo, repassando a última conversa que tiveram, mas acabou dando espaço para que ele entrasse.

Stiles se adiantou antes que ela mudasse de ideia. Seguiu direto para a sala, onde se sentou nó só.

A loira o seguiu lentamente. Como se usasse a paciência que não possuída, se sentando no outro extremo do estofado.

— A que devo a honra?

Heather disparou. Não queria que o silêncio se perpetuasse. Está curiosa para saber o que levara Stiles até ali.

— Conversar. Já disse. — Stiles explicou. Parando de vaguear com os olhos pelo sala, focando unicamente na jovem.

— Sobre o que?

Ela quis saber. Se sentou de lado, assim como o outro, e puxou uma das almofadas para o seu colo.

— Sobre nós.

Stiles disse-lhe com cuidado. Como se estivesse comentando sobre as vestes que ela usaria no baile.

— Nós… — A loira repetiu com estranheza. — pensei que esse assunto já tivesse acabado.

Ela ergueu as sobrancelhas, hesitando. Stiles assentiu, também pensava daquela forma. Porém sempre havia um “mas…”

— Aparentemente não.

Ele disse. O que despertou um pouco mais da curiosidade da jovem.

— porque pensa isso?

— a festa é um bom exemplo. — Ele murmurou olhando ao redor. Como se estivesse em meio aos corpos dançantes outra vez.

— Eu só queria dar um oi.

A loira se defendeu, rolando os olhos na órbita. Mas Stiles viu um lampejo de sorriso querendo emergir.

— Claro. — Ele resmungou. — O Toddy também. Com direito a uns beijinhos quem sabe?!

Stiles ironizou, simulando um beijo. A que a garota franziu o cenho – sempre ficara com um pé atrás quando o castanho fazia aquele tipo de brincadeira, ainda mais quando era com o seu irmão. Mesmo Toddy sendo um cara “de boas” – mas acabou por dar de ombros.

— Eu não convidei você. — Ela disse. Não jogava na cara, só esclarecia aquele ponto. — Fiquei surpresa por você ter aparecido. Ainda mais acompanhado.

Heather murmurou, cheia de intenção. Pois queria ter certeza do que ouvira.

— e decidiu que eu deveria dar o fora? — Stiles ergueu as sobrancelhas.

— Não exatamente. — Ela balbuciou distraída incapaz de olha-lo nos olhos. Não sabia dizer o que sentiu quando o viu depois de tanto tempo, ainda mais acompanhado.

Stiles meneou brevemente. A entendendo de certo modo.

— Heather… não vim me desculpar por ter terminado. — Disse-lhe sincero. — e sim pela forma como terminou….

Stiles a observa a todo momento. Era como se pisasse em ovos, como se a qualquer momento fosse deslizar para o passado, para aquela história. Heather o observada quase que da mesma forma, nos próprios pensamentos.

— É… — Ela admitiu por fim. — Eu queria terminar mesmo. Mas… — Ela colocou uma mecha dos cachos atrás da orelha, pensativa.

— nos conhecemos desde criança, Heather. — Stiles murmurou. Se aproximando um pouco mais. — Sinceramente, não quero que fique esse clima estranho toda vez que nos encontrarmos.

— Sinceramente, não quero isso. — Ela declarou. — É esquisito. Como se fôssemos dois estranhos.

A jovem balbuciou lentamente, voltando a fita-lo.

— queria saber como nos desgastarmos tanto… — o castanho balbuciou.

Heather semicerrou os olhos. Rindo baixinho ao negar com a cabeça.

— Stiles… sério?! — Ela grunhiu.

— O que? — Ele perguntou perdido.

— Você vivia com ele. — Ela acusou, deixando o rapaz confuso pela ausência do nome. — Eu entendo que vocês são amigos de infância. Mas sempre que íamos sair, ou tínhamos algo marcado, você tinha que estar com ele. Sempre. Era sempre ele a mim.

— Eu… — Stiles balbuciou com o cenho franzido, sem saber o que dizer. Tentava relembrar. Mas a loira parecia empenhada em ajudá-lo.

— Francamente. — Heather grunhiu exasperada. De repente lembrando-se de uma das coisas lhe irritara no dia. — A nossa primeira vez foi interrompida. E só transamos uma semana depois, que foi quando você apareceu.

A loira acusou. Apontando a unha esmaltada. Stiles coçou a nuca encabulado, sentindo o rosto arder por se lembrar daquele episódio.

— É, bem… isso… é, não tem desculpa. — Balbuciou em derrota. Coçando a nuca sem motivo aparente.

Heather assentiu em concordância.

— pensei que você e ele… — ela balbuciou após um pigarro, incapaz de controlar o olhar desconfiado. — porque ele sempre estava em cima de você. De um lado para o outro. Como um cão.

O rosto de Stiles se contorceu em uma careta. A tosse que ameaçou subir se transformou em um bolo que inflou sua garganta.

— Eu e o Scott?! — guinchou o rapaz. Sem se importar com o tom de voz. — Que absurdo. Francamente…

O castanho balbuciou um pouco chocado com a suposição da jovem. Quase enojado com a ideia.

— Você também gosta de caras. Então… — Ela deu de ombros. Achando válido a sua linha de raciocínio.

— Sim. Mas...— Stiles confirmou. Mantendo a careta. — O Scott?

— é suspeito. — Heather deu de ombros sem ter muito o que dizer.

— Ele tinha namorado. — Stiles retrucou. Ainda incrédulo. — Ainda tem.

— você também tinha….

— Certo… — O Stilinski balbuciou massageando as têmporas. — Assim não vamos a lugar nenhum. Que fique claro. Eu e o Scott nunca aconteceu, e nunca vai acontecer. Ele nem gosta.

Stiles ditou. E reafirmou gesticulando de forma exasperada com as mãos.

— hum… Se você diz. — Heather moveu a cabeça brevemente.

Stiles esfregou o pescoço. O celular vibrava em seu bolso pela quarta vez.

— Não acha que poderíamos ter conversado sobre isso?

— Como Stiles? — Ela quis saber. — Você não entende, não é?! Você vive para o Scott e a panelinha dele. Não percebe?

Heather falou-lhe calmamente. Não parecida zangada, só cansada. Stiles emudeceu por um instante.

— Tem razão. — Ele admitiu. — Não muito um dos melhores exemplos de namorados.

Queria poder conversar com ela. Falar sobre tudo. Talvez ela entendesse os seus sumiços, sua indisposição, mas não queria envolve-la naquele mundo.

— Claro que a culpa não exclusivamente sua. — Heather disse-lhe havia se aproximado um pouco mais. O suficiente para esticar o braço e apertar-lhe o ombro. — Se tivéssemos conversado de forma decente. Se eu tivesse insistido nela.

A dupla se encarava em silêncio. Viam-se em meio a um impasse. Cheios de prós e contras.

— mas foi legal. Enquanto durou. — Heather sorriu-lhe. Se levantando.

— É. Foi. — O castanho assentiu.

Heather estendeu a mão para o ex. Afim de dar um fim de uma vez por todas aquilo. Stiles aceitou o cumprimento, satisfeito, e a apertou.

O silêncio confortável que pairou sobre eles durou muito pouco. Sendo quebrado por passos apressados que vinham do andar de cima e um grito urgente.

— Heather. Preciso da sua ajuda.

Gritou a voz. Que Stiles conhecia muito bem. Uma mistura de rouquidão e voz juvenil.

— Você disse que ele não estava… — Stiles resmungou. Fitando a moça com tédio.

— puxa…

Ela controlou um sorriso. Stiles possuía a mesma expressão que fez quando encontrou a camisinha extra G do seu irmão mais velho.

— Estava armando para ele me encontrar aqui. — O castanho deduziu.

— No começo sim. — Heather admitiu. Esboçava um sorriso culpado.

— Cobra.

Stiles ditou. E ela retrucou:

— aprendi com você.

— se ele vir para cima. Eu revido

Ele avisou e ela achou Graça. Ambos sentindo o clima menos estranho do que dias atrás. Não era a mesma coisa, mas era o começo.

Toddy apareceu – deslizando no assoalho com os pés descalços – usava apenas uma calça. Trazia consigo duas camisas distintas. Demorou um instante para processar a cena da sala. Olhando do Stilinski para a irmã.

— O que ele faz aqui? — Indagou. Olhando para a irmã e apontando para o rapaz.

— Oi, para você também, Toddy. — Stiles acenou, enquanto ladeava o sofá visando a porta. Seu trabalho estava feito, aparentemente. Sentia o olhar do mais alto lhe seguindo a todo momento.

— Relaxa, Tê. Está tudo bem. — Heather garantiu. Seguia o castanho até a entrada.

— gostei da calça Toddy. — Stiles falou ao passar por ele, olhando de esguelha. — Apertada. Realça o bumbum.

— vá a merda. — o loiro grunhiu. E encarou a irmã com desconfiança. Antes de lançar um olhar ameaçador ao castanho. — Tem certeza que está tudo bem?

— sim. — Replicou a jovem. — use a marrom.

Ela apontou para a camisa. Seguindo o ex até a porta, vendo-o descer os degraus e parar no último, se virando.

— Ainda vai apanhar. — Ela disse.

— Que nada. — Stiles disse-lhe. — Não viu que ele ficou vermelho?! Gostou do elogio.

— Vermelho pode significar raiva também. — Ela observou.

— Depende do p… — Stiles se calou. Lembrando-se de como a frase lhe irritou mais cedo. — É, pode ser. Mas ele sabe que eu estou brincando. Não é Toddy?

Stiles pós as mãos na boca e gritou. O loiro ergueu a cabeça para encara-lo; do interior do como semicerrou os olhos e ergueu o dedo do meio, sibilando “vá se foder”.

— Viu só?! Ele gosta de mim.

Afirmou caminhando de costas em direção ao jipe.

— A, claro. — Ela ironizou. Embora soubesse que Toddy não pegara tanto no pé do Stiles como no dos outros. Para ser sincera foi o oposto.

Stiles acenou brevemente e a observou entrar na casa antes de entrar no carro. Ele demorou-se alguns segundos, acomodado no assento, antes de soltar um suspiro e encarar o celular as chamadas perdidas. Sentindo o abalo de horas antes querendo reemergir.


Notas Finais


🐼


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...