História Opostos - Capítulo I

Dakota - September, 26th.

As aulas estavam retornando, a preguiça se aproximando e o sol nascendo mais uma vez. Era final de setembro e eu só queria me enfiar nas cobertas e dormir. Estava frio e eu odiava o frio, meus dedos estavam gélidos e meu nariz mais ainda. Me espreguicei e levantei rápido da cama percebendo o meu atraso, olhei meu celular e nenhuma mensagem dela.

Fui andando devagar e me despindo até o banheiro, liguei o chuveiro e me enfiei de baixo, sentindo meu corpo se colidir com a água e o sono sumir aos poucos.

E mais uma vez meus pensamentos se voltaram pra ela, pra dona dos meus sonhos, dos meus sorrisos, dona do meu coração. Eu falava de Belinda, minha melhor amiga. Nossa amizade durará sete anos e meio. Com cinco, comecei à vê-lá de outra forma, eu via seus olhos brilharem quando olhava suas jóias, seu cabelo caindo em seu rosto e como ela o arrumava, suas curvas perfeitas e seus lábios, ah seus lábios.

Mas ela não se importa comigo, ela não se importa com nós.

A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas? Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar. As vezes esse alguém aparece, outras vezes, não.

Sai do banheiro com os olhos pesados e me troquei rapidamente, eu só tinha cinco minutos pra correr até o ponto de ônibus, e com a minha preguiça, isso não seria fácil.

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Cheguei na minha sala ofegante, olhei para Belinda e sorri. Ela estava magnífica, eu até demonstraria ciúmes se ela soubesse o quanto a quero pra mim, não só como amiga.

Era aula de filosofia e eu odiava o professor.

— Beli. - Sussurrei quando o professor chegou na sala, mas Belinda estava ocupada demais olhando para sua pulseira coberta de diamantes.

— Hoje faremos um trabalho em dupla. - A sala toda foi a loucura, pois era raro aquele professor fazer esse tipo de aula.

— Pode ser dupla de quatro? - Carl gritou no meio da sala e alguns colegas seus se pôs à rir de sua piada. O professor mau humorado, revirou seus olhos castanhos e negou, fazendo o sorriso de Carl se desmanchar.

— Eu vou escolher as duplas. - O professor sorriu debochado para Carl que bufou chateado.

— Carl com Nattasha. - Carl arregalou os olhos apavorado. Nattasha era a mais calada da sala, ela não se enturmava e sempre vivia com seus fones. Alguns diziam que ela fedia e outros diziam que era mentira. Não sabemos mais em quem acreditar. - Belinda com Josh. 

Não acredito.

Josh era o maior pegador, o maior de todo país. Em uma noite na festa de um dos seus colegas, descobrimos que Josh conseguirá dormir com dezenove garotas. Isso é nojento!

— Dakota e Taylor. - Olhei para toda a sala a procura de Taylor e ouvi uma mesa sendo arrastada. Encarei ao garoto que já estava ao meu lado e suspirei.

Sorri para Taylor que piscou, eu não mereço isso. Olhei para mesa de Belinda que falava animada com Josh enquanto o mesmo olhava pro seus seios, que safado!

Depois de quinze minutos o sinal pro intervalo soou e dei glórias por finalmente poder falar com Beli, a peguei pela mão quando vi que ela ia cumprimentar Josh.

— Tá maluca? Essa era minha chance de sair com Josh Famer e você arruinou tudo, Dakota! - Belinda se soltou de mim emburrada e desceu as escadas correndo em direção a Josh.

Eu era uma idiota, suspirei chateada e me sentei em um pilar, coloquei meus fones e vi Norma passar com suas cúmplices. Um garoto ia atrás dela e parecia envergonhado, tirei um dos meus fones para ouvir o que falavam.

— Justin, pare de nos seguir. - Uma das cúmplices de Norma disse olhando para o garoto.

— É Justin, Norma não precisa de você. - Outra cúmplice disse e ele a olhou. - Não agora, não é?

— Na verdade, preciso que as duas você pegue meu casaco no meu armário. - Disse Norma mandona.

— E aonde você vai estar as duas? Por que você não pode pegar, Norma? - Me intrometi na conversa e Norma riu. - Para de fazer as outras pessoas de escrava.

— O que? - Norma olhou para suas amigas e me olhou em seguida. - Quem é você? As duas estarei com o Josh, vamos passar um tempinho no banheiro dos professores.

Vi que o garoto engoliu a seco e colocou suas mãos no bolso.

— Agora dá licença, vai. - Sai da frente de Norma e mostrei meu dedo do meio para suas amigas que deu de ombros.

— Você está bem? - Interroguei o garoto ao meu lado.

— Acho que... - Uma lágrima de desespero caiu nos olhos de Justin. - Não. Eu sou um idiota por ainda amá-lá.

— Pelo jeito parece que ela faz isso com você à muito tempo. Não sei como eu nunca te vi aqui. - Pensei alto.

Ele parou um pouco pensativo e me olhou.

— Não chore pela Norma, ela não merece. - Ele limpou seu rosto e sorriu, escutei o sinal soar e olhei para porta da minha sala totalmente vazia. - Bom, já estou indo.

Ele concordou novamente e até pensei que ele não falasse. Ele se virou de costas para sair e lembrei de algo que combinaria muito com aquele momento.

— Justin! - Ele se virou. - Sempre se lembre que neste admirável mundo de contradições em que a gente vive, podemos até não gostar de chorar, mas trata-se apenas da nossa humanidade se manifestando. A conexão do computador, às vezes, cai, por outro lado, a conexão conosco mesmo, às vezes, se dá. Sendo assim, sou obrigada a reconhecer: chorar faz bem, não importa o álibi. É sempre a dor do crescimento.

Justin parou por um minuto e sorriu de forma dócil, sorri junto e me virei decidida a entrar na sala.

— Obrigado, garota loira. - Ouvi pela primeira vez a voz de Justin e toquei em meus cabelos loiros. Sorri de imediato, acenei e entrei na sala pensando em como um garoto como ele poderia se interessar por Norma.