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História Ordinary Life - All Of The Stars


Escrita por: TheOnlyOne

Notas do Autor


Hai meu povo^^ Como estão vocês?

O capítulo ficou maior do que o previsto, então demorei para terminar de escrevê-lo. Aviso que o próximo será desse tamanho ou talvez maior, por motivos que vocês descobrirão no fim da leitura.
QUEM QUASE MORREU COM OS COMENTÁRIOS CAPÍTULO PASSADO? Isso mesmo, euzinha aqui. Sério, foi muito divo isso tudo que vocês escreveram pra mim e vou respondê-los assim que puder. Espero que o hábito de comentar cresça entre vocês ♥♥

Hello Hello leitores novos e antigos! Sejam bem-vindos ao capítulo 45 e não se esqueçam de ler as notas finais! Quem quiser ler o capítulo com a playlist de OL (o que eu recomendo), o link está nas notas finais. Enjoy ♥♥
Isa xx

Capítulo 45 - All Of The Stars


Fanfic / Fanfiction Ordinary Life - All Of The Stars

 

Tradução do Título: Todas as estrelas

 

“It's just another night
And I'm staring at the moon
Saw a shooting star and thought of you”

                                                  All Of The Stars, Ed Sheeran

 

  Não me sentia melhor na manhã seguinte por alguns motivos: 1) a beca que eu era obrigada a usar era num tom de vermelho extremamente irritante, além de 2) eu estar acordada em um sábado às sete da manhã e 3) Niall ainda não tinha me perdoado por um erro que eu não sabia que podia cometer.

 Bufei mais uma vez e sentei-me na cadeira da escrivaninha para terminar a maquiagem. Era o mesmo de sempre, mas Lauren havia me pedido para usar um pouco de sombra. Concordei, sabendo que minha mãe nunca mais veria uma filha dela terminar o colegial.

— Você não está fazendo isso direito — ela chegou à porta exibindo um sorriso infantil ao olhar para mim. Vestia um vestido de saia reta vermelho que a deixava mais jovem, tão bonita quanto o possível. Desse modo, qualquer um pode pensar que Lauren é minha irmã mais velha.

— Deve ser porque eu não sei usar essa coisa — estendi o pincel a ela, que veio até mim e começou a fazer o que julgava ser o certo.

— Você é teimosa como seu pai. Isso me assusta demais ás vezes, filha.

 Sorri, mas não disse nada. As cerdas do pincel na minha pálpebra faziam meu olho coçar e tive que me segurar para não estragar o trabalho de Lauren, que se sonhasse que eu estava a ponto de arruinar a tal “obra de arte”, iria me jogar pela janela.

— Pronto. O que acha?

 Olhei no espelho. A sombra era cobre e não aparecia muito quando meus olhos estavam abertos, mas ressaltavam a cor clara de minha íris. Não estava ruim como eu pensei que ficaria.

— Ficou ótimo — disse sorrindo e me levantei, jogando o cabelo sobre os ombros.

— Está linda — falou minha mãe quando chegamos ao corredor.

 Niall nos esperava no sofá e assistia a um jogo da liga, provavelmente uma reprise por estar tão cedo. Ele levantou e postou-se ao meu lado para Lauren tirar uma foto. Na segunda pose ele segurou minha cintura e sorriu singelamente, ato que me deixou surpresa. O.k, talvez seja apenas porque ele quer guardar boas fotos da formatura.

— Vamos? — questionei, ignorando Horan que agora analisava meus olhos. Parecia abismado com minha aceitação em usar sombra.

— Sim — ele respondeu depois de um tempo e foi andando até sair pela porta.

 Bufei e dei um passo para segui-lo, mas uma mão no ombro me parou.  Lauren piscou uma vez e sussurrou.

— Diálogo, querida. Muitas coisas são resolvidas com diálogo.

 Saímos juntas de braços dados e me instalei no banco de trás do carro de mamãe. Niall e Lauren conversaram calmamente durante o percurso, mas não me senti confiante o suficiente para intrometer. Diálogo, mãe? Porra, isso é muito difícil sabia?

  Demoraram alguns minutos para que chegássemos à North High e já havia bastante gente bem vestida na porta, assim como formandos que andavam pra lá e pra cá com suas roupas de marca por baixo das becas. Quase ri ao constatar que as garotas que concluíram o ensino médio usavam salto alto, o que significava que eu era a única calçando sapatilhas. E isso só aconteceu porque minha mãe não permitiu que eu viesse de tênis.

 Descemos do carro e andamos até os portões abertos. Mamãe e Niall cumprimentavam algumas pessoas no percurso e eu os seguia, mesmo que não movesse um músculo para acenar para alguém. Eles pareciam mãe e filho, e eu parecia uma garota perdida.

— Nina! — a voz da professora Martinez surgiu e me virei para encará-la.  Assim como eu, usava sapatilhas. A camisa social estava amassada, mas ainda era uma das melhores roupas que ela usou diante de mim.

— Olá, Srta. Martinez — sorri. Eu sentiria falta das aulas dela. — Sabe onde devo ir?

— Pode ir para o ginásio junto com os outros — ela avisou e sorriu novamente antes de sair. — É bom vê-la!

  Afastei-me de Lauren e fui seguindo sozinha pelos corredores até o ginásio.

 O evento começou meia hora depois. Os alunos ficaram em cadeiras arrumadas na quadra do ginásio — que fora limpa depois do trote — e os convidados estavam nas arquibancadas. Sam acenou para mim de longe e vi Calum, Luke, Ashton e Michael sentados na fileira atrás dela. Ash ergueu os polegares e balancei a cabeça rindo antes de voltar minha atenção ao discurso dos professores. Niall ficou ao meu lado por conta da ordem alfabética e eu olhava para ele de vez em quando apenas para admirar o maxilar trancado e olhos atentos deles ao que acontecia ao redor.

Fechei os olhos e me lembrei das palavras de Lauren: “Diálogo, querida.” Respiro fundo antes de ir em frente.

— Sinto muito — murmurei e ele se sentou mais ereto. Acho que ficou surpreso por eu ter ferido meu orgulho. — Eu sei que fui péssima em relação a você ontem por não dizer nada e não quero ficar nesse clima ruim. Mas pensa só Niall: como eu saberia que você tinha marcado algo pra mim? Se você tivesse falado comigo, com certeza eu encontraria os meninos mais tarde — parei um instante para bater palmas para a professora de francês, a qual havia acabado seu discurso, e voltei a sussurrar. — Apesar de tudo, estou me sentindo culpada e não quero ficar assim com você, então sinto muito.

 Houve alguns segundos de silêncio e mordi a boca com medo dele ter ignorado tudo que eu disse. Olhei para frente e senti uma mão tocar a minha, seguida de um suspiro.

— Eu sei — respondeu ele baixinho, a mão esquerda segurando a minha. — Desculpa por ser rude ontem, mas é que essa separação do meu pai me deixa nervoso e fico preocupado com o que vai acontecer daqui pra frente. Devia ter pensado que você faz algo com seus amigos e falado antes. Não tinha o direito de te culpar por isso — ele entrelaçou nossas mãos e sorriu fracamente ao olhar pra mim. — Está tudo bem, Nina.

 Só percebi o tanto que o perdão de Niall era importante pra mim quando quis gritar de alívio por estar tudo bem novamente. Ao invés disso, apenas respirei com tranquilidade e voltei minha atenção para os professores que falavam sem parar a mais de meia hora antes da entrega de diplomas. Cada professor era responsável por dar o certificado para um aluno, e na hora em que o Sr. O’Connor estendeu o meu para que eu pegasse, nem imaginei que estava sendo o centro das atenções.

Nunca havia me sentido tão leve antes.

[...]

 

 Os primeiros dias de férias passaram como um trovão. Niall e eu fomos a alguns lugares juntos, como na sorveteria que ia com meu pai e ao shopping para assistir um filme. Era tarde na terça-feira quando resolvemos ir dormir, então quase enfartei ao perceber que havia acordado as onze da matina.

Devo estar na casa de Sam em uma hora.

Mein Gott des Himmels!* — berrei ao levantar da cama e correr até o guarda-roupa para vestir algo decente. Catei o primeiro moletom que achei na minha frente e me enfiei dentro de uma calça jeans com dificuldade, tropeçando na barra da calça e caindo com tudo no chão no meio do processo. — Inferno!

 Após me recuperar do tombo, calcei um par de tênis, peguei a mochila com as coisas que eu havia separado e desci as escadas correndo. Niall estava na cozinha teclando ao telefone e sorriu ao me ver.

— Bom dia — disse e fui até ele, unindo nossos lábios por alguns instantes. Ele respondeu e me ajustou em seus braços, de modo de meu rosto ficou na curva do pescoço dele.

— Preparada para hoje?

— Na verdade preciso trocar de roupa, colocar brincos, usar aquilo que você chama de saltos, — fingi um arrepio ao responder — então não. Não tô preparada ainda. Aliás, Samantha pediu para eu ir pra casa dela em meia hora, então tenho que correr.

 Após sair estrategicamente dos braços de Horan, corri até a geladeira e peguei um pedaço de pizza da noite anterior para matar minha fome. Desse jeito eu nunca serei alguém saudável, mas quem se importa? Comi o mais rápido que pude e escovei os dentes, depois fui até o quarto de bagunça embaixo escada para pegar meu skate.

— Não quer que eu te leve? — Niall questionou.

— Não precisa — neguei a carona e sorri. — Você também tem coisas a fazer, certo?

Niall fez uma careta e eu gargalhei.

— Pelo visto alguém quer amarelar — desafiei-o. Niall olhou indignado para mim e caminhou até onde eu estava para agarrar minha cintura.

— Você se acha muito esperta — debochou e eu bati em seu peito algumas vezes, porém sorria.

 Ainda sorria quando Niall tomou meus lábios para ele. Foi rápido, porém intenso. Perdi os sentidos ao me desvencilhar dos braços dele e acenei levemente antes de arrumar a mochila nos ombros e os fones na cabeça.

 Ir de skate até a casa de Sam demorava bastante e necessitava toda minha força de vontade. Passei na frente da praia que ficava há poucos quarteirões da casa dela e sorri ao lembrar-me do dia estranho que tivemos lá quando Niall resolveu me apresentar o local. A casa de Van Havinsway, segundo a mensagem que ela havia me mandado, ficava duas quadras atrás da praia e tinha paredes azuis, janelas de vidro e estátuas estranhas no jardim.

 Nem precisei olhar o número pra descobrir qual era a casa certa.

 Todo o espaço tinha um ar meio hindu-minimalista do lado de fora. A cerca era pequena como a da minha casa e o gramado estava levemente seco e contava com as tais estátuas de deuses indianos, cada uma mais estranha que a outra. Apesar disso, era uma construção gigantesca e ninguém com pouco dinheiro teria condição de morar ali. Provavelmente só o telhado tinha o valor da minha casa inteira.

— Se essa é a casa que alugam, imagina o palácio onde eles moram na Suíça — sussurrei ao abrir a cerca e andar até a porta principal.

 Bati a campainha e ouvi um grito feminino dentro da casa, algo que me fez rir um pouco. Samantha já é uma pessoa desesperada ao natural, mas isso se multiplica por três dígitos quando há roupas envolvidas.

A porta foi aberta.

— Olha Sam, eu sei que você deve estar querendo me esmurrar por estar atrasada, mas é que... — olhei para frente e percebi que não era quem eu pensava, e sim um cara alto de cabelos castanhos que olhava com um ar divertido pra mim.

Fiquei com a boca aberta, demorando alguns segundos para perceber que estava sendo uma idiota.

— Eu, hum... Desculpa, é que...

— É a amiga de Sam, certo? — o homem estendeu a mão, a qual apertei educadamente, e sorriu. Ele tinha um sorriso meio maníaco. — Sou Henry, irmão mais velho dela.

— Ah — respondi sem graça. — Isso explica muita coisa.

  Ele pediu para que eu entrasse e logo fechou a porta.

— Fico feliz que tenha chegado. Mais dois minutos sozinho com Samantha gritando e eu tinha rasgado o pescoço dela com uma faca — confessou Henry.

 Apenas concordei com a cabeça. Estava um pouco desconfortável quando me vi sozinha em uma casa gigante com um cara que nunca vi, mas felizmente (ou não) Sam chegou correndo até mim como uma louca. Fiquei surpresa por vê-la usar saltos dentro de casa.

— Vinte e dois minutos atrasada! — ela me repreendeu e interrompeu-me quando iria explicar a situação. — Não temos tempo para discutir, Stanton. Temos que correr se não quisermos perder a vaga no cabeleireiro. — Se voltou para o irmão. — Está com a chave do carro?

 Ele assentiu e gargalhou da minha cara de choque. Pelo visto ele é debochado como a irmã mais nova.

— Salão?

— Querida, cabelos não ficam maravilhosos sozinhos — Sam me empurrou pela porta.

— Mas pensei que arrumaríamos aqui!

— Vamos vestir nossos vestidos aqui, Nina. Cabelo, unhas e maquiagem serão feitos em um salão que marquei há um mês. — ela sorriu maldosamente ao me empurrar para dentro do carro. — Sua mãe disse que estava de acordo.

— Ah.

Eu devia saber, Dona Lauren.

Ela fechou a porta e me prendeu no banco de trás em busca de explicações. Sam trancou meu skate e minha mochila dentro de casa e voltou saltitante pelo gramado.

— Boa sorte — Henry ergueu os polegares e sorriu de olhos fechados.  Ele estava no volante e achava bastante graça de minha situação.

Demorou alguns minutos para que chegássemos ao salão e Samantha logo me puxou para entrar. Henry acenou do carro e deu partida. Só Deus sabe o quanto eu quis voltar atrás naquele momento.

— Olá garotas — um homem com o cabelo roxo disse assim que entramos. — Tem horário marcado?

— Sim, somos Samantha Van Havinsway e Nina Stanton. Sinto muito pelo atraso — Sam disse com cortesia na voz.

O homem sorriu brevemente e fez um gesto com a mão.

— Oh, sem problemas — ele checou o tablet na mão e olhou para nós duas. — Estávamos esperando por vocês. Sou Marcel, o maquiador. — beijou nossas faces duas vezes e me senti estranha. Apesar do contato pessoal, estava começando a ter simpatia pelo tal Marcel. — Agora vocês conhecerão o restante da equipe.

— Equipe? — disse apavorada.

— Sim, amor, equipe — ele riu com Sam alguns segundos e estendeu a mão na direção do salão. — Sejam bem-vindas!

 Samantha deu um pulinho de excitação e vi seus olhos azuis brilharem. Respirei fundo.

Essa será uma longa tarde.

[...]

 

  Henry estava no mesmo lugar quatro horas depois. Sam acenava alegremente para os funcionários do salão enquanto eu caminhava do lado dela, ainda um pouco abismada por ter participado de uma experiência bizarra daquelas.

— E aí, como se sentem? — o irmão de Samantha perguntou quando entramos no carro.

— Renovada — Sam respondeu com um suspiro e analisou as unhas.

— Violada — falei com sinceridade, fala que causou gargalhadas nos dois ocupantes dos bancos da frente.

 Não havia sido ruim, na verdade. Apesar de meu receio inicial, todos me trataram bem e fizeram daquela tarde bem divertida. Confesso que foi um pouco traumatizante ver tantos aparelhos passando em meu cabelo e tanto estojo de maquiagem em um mesmo lugar, mas será legal lembrar daquilo quando for mais velha. Lembrar que fui a um baile de formatura no ensino médio.

 Catei minha mochila do chão e acompanhei Sam até o quarto dela, que por sinal era o maior quarto de todos os tempos. Tinha paredes em tons pastéis e decoração branca, além de uma enorme cama redonda no centro do espaço. Combina com ela.

— Preparada? — ela questionou com um sorriso ao apontar para o closet dela.

— Não, mas tenho escolha?

Sam riu e ergueu o par de sapatos.

— Nunca te dei escolhas — respondeu.

 Faltavam algumas horas para o baile, então Samantha preferiu me ensinar a usar salto alto antes de vestirmos os vestidos. Ela me emprestou um de seus pares mais baixos e amaldiçoei o fato de calçarmos o mesmo número.

— Tem certeza que eu preciso disso? — questionei pela oitava vez ao sentir meus pés latejarem de dor.

— É um baile, Nina, não uma tarde na academia. Nem por cima do meu cadáver você vai usar tênis — Sam falou irritada.

Depois de vários minutos caindo e praticamente torcendo o tornozelo, Sam conseguiu que eu andasse sem parecer que havia levado um tiro na perna. Não estava perfeito, mas também não era tão ruim. Com sorte, voltaria com o pé inteiro para casa.

— São quase sete horas — ela avisou. — Harry avisou que eles chegam as oito, então temos que nos arrumar rápido se quisermos ir nesse baile ainda.

 Assenti e fui até o closet de Sam pegar meu vestido. Ele estava pendurado em uma das araras soltas, quase tocando o chão por causa do comprimento longo. O tom azul marinho deixava minha pele clara evidente e o tecido fino e levemente translúcido da cintura pra baixo causa um caimento leve, dando a impressão que eu flutava com o vestido. Uma faixa separa o busto da saia, sendo que a parte de cima possui um decote coração sem exageros. Uma fina camada de tule — não faço ideia do que seja, mas aprendi alguns nomes durante a escolha do vestido e sei que tocar nesse tecido é ótimo — cobria da minha cintura até os ombros, seguindo até os cotovelos. Por conta do tecido e do modelo do vestido, parecia que diversos tons de azul brincavam na peça.

  Clássico e moderno. Também simples, talvez a coisa mais simples que havia na loja, mas foi só vesti-lo que percebi que usar uma peça daquelas uma vez na vida não seria um sacrifício. Vesti-lo, por outro lado, dava um trabalho que nunca imaginei ter ao colocar uma roupa.

— Samantha! — gritei após alguns minutos de tentativas frustradas. Não conseguia fechar o vestido de raça nenhuma.

Sam apareceu na porta já pronta, dentro do vestido rosê de alças transparentes. Ele havia ficado muito bonito nela; havia pontos de brilho mais vistosos desde o busto até a cintura, de onde eles espalhavam pela saia sem ordem ou destino. Era bem mais ostentoso e chamativo que o meu, o perfeito para alguém como Samantha Van Havinsway. Vendo-a daquele modo, alta e perfeita, me senti uma anã com trapos.

— Nina, você está fabulosa! — ela exclamou ao me ver quase pronta. Dei um sorriso sem graça.

— Obrigada, você também está — respondi e ela sorriu radiante, soltando um “obrigada”. — Não consigo fechar isso, será pode me ajudar?

 Ela assentiu e terminou de fechar a peça, depois ajeitando a saia pra mim. Nós duas estávamos descalças; deixar o sofrimento (pelo menos pra mim) de usar saltos para mais tarde era melhor.

— Posso ver? — perguntei, tentando não soar ansiosa.

  Ela puxou a porta do closet e deu lugar a um grande espelho, tão grande que daria para caber três de mim e três dela lado a lado. Arregalei os olhos quando chequei meu reflexo.

Meu Deus, aquela sou eu?, pensei logo de cara. A maquiagem destacava meus olhos e meus lábios estavam rosados por causa do gloss. Meus cabelos caiam até meus ombros em cachos, algo que eu achei adorável.

Tenho que admitir: nunca me senti tão bonita.

— Niall vai querer arrancar esse vestido de você quando te ver assim — Samantha cantarolou e eu corei, dando-a um tapinha no braço. Ela achou graça. — O que foi?

— Você é muito pervertida, garota — murmurei.

— E você é muito inocente — ela bateu levemente no topo da minha cabeça. — Acha que Niall nunca pensou em você com desejo? Garotos são assim, Nina, principalmente se eles gostam de você a ponto de te pedir em namoro.

Engoli a seco. A conversa estava tomando rumos estranhos.

— Niall nunca falou nada sobre isso, Samantha.

— Mas não impede que ele pense certo? — rebateu e eu fiquei calada. Ela sorriu e arrumou os cabelos diante do espelho. — Calma, Nina. Sem pressão, o.k.? Niall é um bom garoto e não falaria disso contigo, pois ia achar que você pensaria que ele está te coagindo a fazer sexo. Ele sabe que com você as coisas não são desse jeito — riu pelo nariz e murmurou um “amém”. — Só estou fazendo meu papel de amiga e alertando você. Espero que não fique triste ou coisa assim...

— Está tudo bem, Sam — tentei soar sincera, mas não sei se deu certo. Fiquei apavorada ao pensar em tantas possibilidades. Por sorte, uma buzina alta tocou a chamou nossa atenção.

— São eles! — berrou Sam e correu até a janela. Assim que colocou a cabeça para fora, ela gargalhou e pediu para eu me aproximar.

 Fiz isso. Cheguei ao batente e sorri ao ver uma limousine branca parada na entrada da casa, onde dois garotos estavam se aproveitando do teto aberto e cantando, ambos segurando uma garrafa de bebida.

— Aqueles são Michael e Luke? — questionei desacreditada.

— Harry disse que eles viriam.

 Ri da cena até ouvir a campainha tocar e o desespero tomar conta de mim, fazendo com que minhas mãos tremessem e meu coração palpitasse. Corri até minha mochila e peguei um comprimido da cartela, rapidamente colocando-o na boca e bebendo água para que ele descesse. Respirei fundo e me xinguei mentalmente por ter esquecido de tomá-lo mais cedo.

— Prontas? — a cabeça de Henry surgiu na porta e ele assoviou ao ver Sam e eu arrumadas. Mordi a bochecha internamente para disfarçar meu embaraço. — Estão lindas, garotas.

— Menos — Sam disse ao irmão antes de passar por ele e pegar nossos sapatos, entregando-me um par nude com salto quadrado e menor. — Os garotos estão lá embaixo?

 Henry assentiu e desapareceu. Calçamos os sapatos e Sam ergueu o próprio vestido antes de sair, seguida de mim, pelo corredor da própria casa.

  Niall e Harry estavam parados um ao lado do outro, ambos vestindo ternos bastante elegantes. Harry havia ajeitado o cabelo pro lado e as mechas caiam até os ombros, além de usar um smoking azul e branco. Niall optou pelo modelo usual: blazer e calça social escuros, camisa social branca e gravata. Ele estava com o topete usual e sapatos de bico, algo que me fez ficar séria. Se ele seguisse o pai, pelo menos teria uma ótima aparência de homem de negócios. Eu ainda estava descalça, segurando desajeitadamente os saltos na mão e ofuscada pela ruiva ornamental ao meu lado, mas Horan me olhava com brilho nos olhos. Enquanto eu me sentia desconfortável por não usar calças, Niall estava encantado por me ver sem camadas grossas de tecido me cobrindo.

— Wow — Harry disse com um sorriso espantado. — Pensava que não tinha como ficar melhor.

 Niall assentiu e ouvi Henry explodir em gargalhadas. Olhei para ele assustada e Sam bateu a mão na testa, murmurando alguma coisa que não entendi.

— Puta merda, sério isso? — o mais velho dali disse com dificuldade. — Essa é a pior coisa que alguém já disse pra uma garota antes do baile de formatura.

— Cala a boca, Van Havinsway — Sam rosnou e foi até Harry, beijando-o na bochecha. Ele não parecia satisfeito só com aquilo, mas claramente não beijaria a namorada na frente do cunhado, mesmo que ele estivesse ocupado rindo.

 Coloquei os saltos e caminhei com calma até Niall, tentando ao máximo não tropeçar no meio do caminho. Ele me segurou pelo braço e tocou meu vestido.

— Ashton não estava brincando quando disse que eu ficaria sem palavras — falou ele com um sorriso e me beijou na testa. — Você está maravilhosa.

— Você não está ruim — debochei e Niall me empurrou pelo ombro, quase causando minha queda.

 Rimos juntos e me senti feliz, afastando o sentimento de impotência pra longe. Henry insistiu em tirar fotos dos casais e tivemos que fazer poses estranhas para tal. Fiquei mais tímida, mas sorri abertamente quando Henry tomou minha câmera da mochila e tirou uma foto minha e de Niall. Eu guardaria aquela fotografia para sempre.

— Só façam coisas que eu faria! — o irmão de Sam gritou enquanto caminhávamos até o carro.

— Tenho que te lembrar do episódio da fita adesiva? — Samantha perguntou com um sorriso sarcástico.

A resposta apenas veio quando Harry adentrava a limousine.

— Menos coisas que envolvam fitas adesivas! — ele gritou de volta.

 Foi só eu entrar no veículo para perceber que ele era maior do que eu pensava. Ashton estava olhando a rua de um lado, Luke e Michael riam e bebiam em outro lado e Calum veio até mim, olhando maliciosamente para o vestido.

— Eu ganhei, caralho! — gritou feliz, logo vindo para me abraçar. — Hey Mike! Você e Luke me devem cinco dólares.

— Droga — Luke murmurou e pegou a carteira para entregar uma nota ao amigo. Michael fez o mesmo.

— O que significa isso?

— Ashton falou do vestido, mas Luke e Michael insistiram que você não o usaria de verdade. Eu fui o único que disse que você estaria com ele agora — Calum se vangloriou.

— São babacas! — Ash gritou de onde estava.

Revirei os olhos.

— Vocês botam tanta fé em mim — disse cansada e Luke em abraçou desajeitadamente devido ao espaço baixo e pude sentir o cheiro de cerveja da boca dele.

 Logo o carro entrou em movimento. Respirei junto e sorri fracamente quando Niall agarrou minha mão. Ele sorria para os amigos e parecia bem relaxado, como se preparado para uma noite excelente.

— Só espero que esteja certo — murmurei sem produzir som.

[...]

 

 A entrada de North High estava irreconhecível.  Harry disse a Sam que era sempre assim no baile de primavera, mas eu fiquei surpresa com toda aquela decoração. Afinal, em três anos de escola, eu nunca fui num desses bailes antes. A entrada continha a palavra “prom” em caixa alta e lantejoulas falsas, chamando a atenção de qualquer um que passasse por ali. Um tapete vermelho como o resto da decoração estava estendido da entrada, provavelmente percorrendo todo o caminho do ginásio.

 Apertei meu vestido nos dedos.

— Michael, vê se não enche a cara agora porque temos que tocar mais tarde — Ashton avisou sério. Mike estralou os lábios e ergueu os polegares antes de descer da limousine.

 Fiz o mesmo percurso depois de todos, contando com a ajuda de Niall para me equilibrar com os saltos. Ficávamos quase da mesma altura comigo usando aquele par.

— Vou precisar de você a noite toda — resmunguei ao me estabilizar e Niall riu.

— Já era o que eu tinha em mente, querida — respondeu me fazendo sorrir.

 Logo percebi que a escola inteira estava no ginásio. O globo espelhado acoplado no teto brilhava em todas as direções por conta das luzes que refletiam nele. Muitas luminárias redondas iluminavam o espaço do baile — que nem parecia ser a quadra de esportes —, dando um ar retrô com a ajuda dos discos também presos ao teto. Havia estudantes do primeiro ano em grupos, quase todas com seus pares do lado. Eu estava de braço dado com Niall, encolhida enquanto andávamos entre as mesas espalhadas. Tocava um remix de Latch e algumas pessoas estavam na pista dançando, porém a maioria conversava em grupos com copos na mão.

 Niall me puxou até uma mesa de ponche e Michael veio atrás. Ele pegou copos e colocaram a bebida vermelha dentro, me entregando uma das bebidas. Mike deu um gole e fez uma careta.

— Não bebe isso, Nina — ele tomou da minha mão e ergueu o copo. — 20% batizado.

 Fiz cara de nojo e depois ri, sentindo Niall me segurar pela cintura e rir comigo. Meu nervosismo com a situação estava controlado e fiquei feliz com aquilo. Se aquela fosse eu no início do ano, tenho certeza que já teria desmaiado no caminho.

— Tá bem bonito aqui — Sam disse quando nos sentamos em uma das mesas. Depois apontou para a direção de uma cabine perto do palco. — Olha só! Vamos tirar fotos?

— Não — respondi de supetão.

— Deixa de ser chata — respondeu ela e me puxou da cadeira, causando uma quase queda de nós duas. Olhei feio para Sam e ela sorriu sem graça. — Opa. Desculpa, esqueci que seu senso de equilíbrio está afetado.

 Ela insistiu mais um pouco e revirei os olhos, aceitando a proposta que me foi feita. Harry e Niall tinha se afastado e ido em direção aos jogadores de futebol do time, então chamei Ashton e Luke para nos acompanhar. Esprememos-nos dentro do pequeno cubículo da cabine e fizemos caretas das mais diversas para a câmera. Gargalhamos durante todo o tempo que ficamos ali.

— Olha essa cara de cu, velho — Luke apontou para a cara de Ashton, que tinha o braço de Samantha no pescoço na segunda foto. Ri e dei as fotografias para Sam, que as guardou na clutch que havia levado consigo.

— Você faria o mesmo se alguém metesse a mão na sua cara.

— Já pedi desculpas — Sam argumentou.

— Tá tudo bem — Ash sorriu ao dizer. — Seu braço não é tão ruim comparado aos tapas que Nina já me dá.

 Dei de ombros e concordei com a cabeça. Uma garota de cabelo rosa, a qual reconheci como parte do comitê de eventos da escola e ex-ficante de Zayn Malik, cutucou os meninos e avisou que eles podiam ir se preparar para a performance no palco, então Sam e eu voltamos calmamente para o centro da festa. Pude perceber os olhares ao redor de mim e respirei fundo para me acalmar. Acho que ninguém esperava que eu pudesse estar ali.

— Nunca pude ir a um baile como esses — observou Sam após um tempo. Fiquei em silêncio para ela continuar. — Os colégios em que estudei não tinham essas coisas, sabe? Principalmente os orientais. Você devia ter visto o uniforme ridículo que eu era obrigada a usar no Japão. Sempre quis poder me vestir assim e passar uma noite dançando com um garoto, sem preocupações. Não é divertido?

Ponderei por um segundo e sorri de canto.

— É melhor que eu esperava.

Olhei para o lado e flagrei Niall e Harry em um canto, conversando e rindo com alguns garotos que apenas conhecia de rosto. Rose estava ao lado dele e observava a conversa com interesse o andamento da conversa. Os cabelos dela estavam presos em um coque bem feito e usava um vestido vermelho-sangue bem provocante, porém sem ser vulgar.

— Ela está bonita — falei com desânimo para Sam, que apenas assentiu. Ela se virou para mim e parecia irritada.

— Arraso essa confiança dela em um segundo. Venha comigo.

 Mesmo andando com dificuldade para acompanhar os passos decididos de Samantha, chegamos ao grupo fechado em poucos segundos. Fiquei surpresa com a cara de ironia que Sam fez para Harry. Quero dizer, eu sei bem que ela é ciumenta, mas nunca pensei que seria a esse ponto.

— Olá querido — falou ela ao namorado antes de beijá-lo ali, na frente de todo mundo. Arregalei os olhos e abafei a vontade louca de rir da expressão indignada de Rose ao olhar a cena.

Samantha é uma das minhas pessoas preferidas no mundo.

— Sam — Harry disse um pouco assustado quando se separaram. Os demais ficaram um pouco desconfortáveis, porém riram baixo da espontaneidade da garota. Rose lançou um olhar significativo a Sam e virou-se para Niall com um sorriso. Eu estava do lado oposto a ele e assisti de camarote a ela falar no ouvido dele, algo que o fez balançar a cabeça. A garota saiu de perto do grupo e passou ao meu lado com ar de superioridade.

— Você não é boa o bastante — sussurrou para mim antes de sair.

 Niall esperou ela sair para vir até mim e beijar minha bochecha, perguntando se eu estava me divertindo. Assenti consciente da minha mentira. Aquelas palavras proferidas por Rose pregaram em meu cérebro e giravam em círculos, me levando a um mal estar sem tamanho. Havia apenas uma hora de baile e eu já queria ir embora.

— Boa noite, North High! — a voz amplificada de Mikayla, a presidente do comitê de realização de eventos, chamou minha atenção. Ela estava no palco segurando o microfone e os meninos estavam atrás dela, cada um em seu instrumento. Sorri quase que instantaneamente. — Estão curtindo a noite? — os presentes todos gritaram positivamente. — Ótimo, pois agora temos uma atração especial: com vocês, a banda australiana que está prestes a estourar de vez, 5 Seconds Of Summer!

 Houve um momento de ovação geral e os meninos bateram palmas com todo mundo. As luzes foram apagadas e a bateria de Ash introduziu Lost Boy à noite. Todos atravessaram o salão e correram até a base do palco para acompanhar a apresentação. Dei dois passos e senti meus pés cederem ao cansaço.

— Eu não aguento mais andar — resmunguei com raiva.

Niall analisou a situação um instante.

— Posso resolver isso — ele me agarrou pela cintura e me ajustou em seus braços. Reprimi um grito de susto e fiquei aliviada por ninguém estar prestando atenção em mim.

— Niall, não faz isso — supliquei e ele riu, beijando meus lábios rapidamente.

— Pode tirar os saltos, não me importo de ficar ainda mais alto que você — falou ao me por no chão novamente.

 Revirei os olhos e retirei os sapatos, andando com mais facilidade até a base do palco. Michael fazia seu solo de guitarra com perfeição e não pude deixar de sentir orgulho por eles. Lembro-me das primeiras aulas de música dele, quando ele quase desistiu de fazer os acordes de Sweet Child O’Mine. Agora ele produz os próprios solos.

 Quando era dez e meia e eu já estava cansada de ficar em pé, Niall e eu voltamos à mesa. Observei uma garota com um vestido tomara que caia longo e extremamente verde (parecia Kermit, o sapo) passar esfregando os olhos ao lado da mesa. Ela não tinha mais de quinze anos. Talvez a família dela houvesse estipulado um horário de dormir, tipo um toque de recolher.

— Nina?

— Estou ouvindo — respondi.

— Tô te chamando há cinco minutos e você não me responde.

— Oh, desculpa — falei envergonhada. Niall tinha um sorriso leve nos lábios e apertava minha mão direita na dele. — Estava pensando.

— Em quê? — perguntou.

— Em nada, na verdade — dei de ombros e olhei para ele. — É que eu nunca vi coisa igual. Sabe, teve a festa de outono e a de Halloween também, mas isso é bem maior. É meu último contato com o colegial e eu não sinto medo, Niall. Tá certo que fico desconfortável com algumas coisas, porém é bem mais do que eu podia sonhar ver um dia.

— Não seria o mesmo se você não tivesse vindo — ele disse brincando com meus dedos. — Gosto que você vá vencendo isso aos poucos, dia após dia.

— Parece que sou uma viciada — ri pelo nariz.

— Você está em tratamento, Nina.

— Questão de semântica — abafei a ideia com os dedos livres.

O barulho de palmas e gritos extasiados me fez virar novamente para o palco, que por acaso era próximo de onde estávamos. Luke estava radiante e Michael parecia ter tomado litros de energético de tão eufórico. O show havia acabado e os quatro se uniram para agradecer a platéia, coisa que julguei bonitinha.

— Obrigado, obrigado — Ash falou alegre no microfone, as baquetas presas na mão ao acenar em agradecimento. Os quatro desceram do palco e algumas garotas mais novas estavam esperando por eles apenas para conversar, jogar charme ou pedir autógrafos.

Acho que devo aceitar que meus meninos cresceram.

— Hora da dança de casais! Chamem seus pares e se juntem a nós antes da coroação de rei e rainha da primavera! — anunciou novamente Mikayla. Dessa vez ela estava com um garoto moreno ao lado e os dois desceram do palco juntos para estrearem a dança.

Love On The Brain começou a tocar e o conforto do jazz e do blues invadiu todo o ginásio. Alguns casais estavam se encaminhando para o centro da pista e se uniam para a música lenta. Niall levantou da cadeira e ergueu a mão.

— Quer dançar? — perguntou-me.

Arregalei os olhos e retraí um pouco.

— Niall, eu não sei dançar direito.

— Sou um bom professor — piscou o olho direito e sorriu estonteantemente. Engoli a seco. — Mas acho melhor calçar se quiser seus pés quando sair daqui.

— Vou perdê-los de qualquer modo — resmunguei.

Niall continuou com a mão erguida. Mordi o lábio e aceitei de impulso, esforçando-me para colocar os saltos de Samantha com uma mão só. Avistei o tufo de cabelos ruivos a metros de distância de mim agarrada ao namorado. Niall entrelaçou nossas mãos e nos guiou até um lado mais vazio da pista.

— Agora coloque sua mão em meu ombro — instruiu. Toquei o tecido macio do terno preto de Niall e relaxei o corpo. Ele entrelaçou nossas mãos livres e segurou minha cintura com a mão sobrando. — Agora é só dar pequenos passos.

 Acompanhá-lo foi mais fácil do que pensei. Olhei nossos pés dançando em sincronia e ri encantada por estar em público dançando sem me preocupar com os outros ao meu redor. A música passava lentamente como em um filme e as luzes davam um ar mais melodramático ao ambiente, algo mais romântico e trágico.

— Como está se sentindo? — sussurrou ele após um tempo em meu ouvido.

— Viva. Estou viva, Niall.

 Deitei no peito dele e fechei os olhos, tomada por um sentimento que não sabia nomear, porém era tão avassalador e chocante que podia tomar minha respiração com facilidade.

Mas durou menos que eu esperava. Muito menos do que deveria.

— Niall! — a voz de Riley, a outra líder de torcida que havia tido um caso com Horan, interrompeu qualquer sentimento bom dentro de mim. Afastei-me bruscamente do meu namorado e encarei a garota com espanto. Ela, por outro lado, preferiu negar minha existência e sorriu inocentemente para Niall. — Você prometeu dançar comigo.

— Não prometi, não — respondeu ele, confuso.

— Ah não? Deve ter sido coisa da minha cabeça — Riley sorriu sem se abalar com a recusa inicial. — Mas Nora não vai ligar se eu roubar você por alguns minutinhos, certo?

— É Nina — sussurrei.

— Nina, isso mesmo — deu de ombros e tocou o terno de Niall, exatamente onde minha mão estava segundos atrás. — Podemos?

 Niall parecia sem palavras com a astúcia da garota.

— Riley, é que eu...

— Tá tudo bem, Niall — disse em tom sereno. — Nos vemos daqui a pouco.

Ele não parecia satisfeito.

— Mas você...

— Vou procurar Luke — menti com um sorriso forçado e coloquei minhas mãos nas costas. Elas tremiam loucamente e minha respiração estava começando a falhar, mas eu não podia demonstrar.

 Saí rapidamente, desviando como podia dos casais que encontrava pela frente. A música tinha mudado e dado lugar a outra balada romântica, o que me fez morder o lábio e bufar. Srta. Martinez e Sr. O’Connor dançavam juntos e me cumprimentaram quando passei, porém não pude retribuir. De repente, tudo ficou pequeno demais pra mim. As paredes se fechavam e o ar se tornou rarefeito.

Estava tendo uma crise.

 Corri até o gramado e sentei em um banco para tentar melhorar. Minha visão estava ficando mais escura, então fechei os olhos fortemente e respirei fundo. A imagem que tive ao sair do ginásio, de Niall olhando para mim e segurando Riley pela cintura, me deixou muito pior. Eles ficavam bem demais juntos. Combinavam. Vê-los como um casal foi um soco no estômago.

Droga. O que eu estou pensando?

 Passos rápidos vieram em minha direção e me alarmei. Ao levantar a cabeça rapidamente, assisti Niall correr até mim, agachar ao meu lado e examinar meu rosto.

— Você está pálida — ele comentou com preocupação.

— Estou bem, Niall. Você não deveria ter saído de lá — falei e recostei as costas no banco. Aqueles segundos em que fiquei parada tinham me feito bem, me deixando satisfeita por ele não ter me flagrado tropeçando em meus próprios pés no corredor.

Niall se ergueu rapidamente.

— Eu não queria dançar com ela, Nina.

— Não precisa ficar se explicando, Niall — disse tentando soar normal. — Riley pediu e eu permiti. Aliás, ela é ser uma dançarina melhor que eu, e você merece ao menos uma dança decente.

Niall colocou as mãos no rosto e respirou fundo, tirando-as segundos depois.

— Por que faz isso consigo mesma?

Assustei-me com a pergunta.

— Como assim?

— Fica se diminuindo, age como se qualquer um pudesse ser melhor que você — falou pausadamente. — Se eu quisesse ficar com alguma outra garota, eu não teria te pedido em namoro.

 Levantei-me também e fiquei frente a frente com Horan.

— Sinto muito se você pensa que tenho auto-piedade, pois não é verdade. Não preciso da pena de ninguém, muito menos da minha. Só quero que pense: já percebeu o tanto que você está perdendo por estar com uma garota que só aprendeu ser uma adolescente há poucos meses? A única pena que sinto aqui é do tempo que você está desperdiçando comigo, Horan.

— Está ouvindo os absurdos que está falando, Nina? — questionou exasperado.

— Estou, e não é nenhum absurdo.

— Claro que é, Stanton! — berrou com raiva. — Eu não estou perdendo meu tempo contigo!

 Subitamente, Niall pegou minhas mãos e me puxou, fazendo nossos corpos colidirem com força. Meu rosto encontrou a curva do ombro dele e aspirei o perfume de Niall por breves momentos, apenas o intervalo que ele deu antes de avançar em meus lábios.

 Dei um passo em falso para trás e caí sobre o banco, mas a mão firme de Horan em minha cintura sustentou meu peso e não permitiu que um desastre ocorresse. Ele me beijou fortemente por alguns segundos e fiquei tão surpresa que mal pude retribuir. Antes de nos separarmos pude notar algumas coisas ali: irritação, desespero, cuidado. Era um misto tão inusitado de sentimentos que fiquei entorpecida. Abaixei minha cabeça para recapitular a coerência e não demorou para que Niall me aconchegasse em seu peito. Abraçou-me como se eu fosse algo frágil.

 — Eu amo você, Stanton.

 Por um instante, tudo ao meu redor parou e a frase ficou no ar.

 Amo você, ele disse.

Nossa.

 Minha mente viajou para o sexto ano, época em que Luke e eu debatemos arduamente sobre o que é amar. O amor, um sentimento abstrato, é quando colocamos a felicidade do outro acima da nossa; quando um sorriso de uma pessoa vale mais que todo o dinheiro do mundo. Recordo de ter gargalhado quando Luke argumentou que conseguíamos amar qualquer pessoa, pois imaginei ser uma mentira das piores. Tantas pessoas usam o amor em vão. Dizem que sentem algo sem ao menos terem certeza.

Apesar disso, um garoto está na minha frente e diz me amar. Procurei sinais de mentira em sua face, algo que denunciaria a brincadeira de mau gosto. Não achei nada. Niall me olhava com tanta ternura, admiração e idolatria que pude sentir meu corpo se liquefazer. Era como se meu coração tivesse desistido de bater e meus pulmões resolvessem fazer um descanso. Ouvir algo tão sincero e profundo, além de ser estonteante, me deixou sem chão.

E então, para me deixar mais alarmada, percebi que estava disposta para dizer de volta verdadeiramente.

Foi repentino; em minha mente, relembrei todos os momentos que passei com Niall desde que nos conhecemos. As discussões infantis, a vez em que ele me seguiu até a antiga casa de meus avós, o dia no parque; as imagens bombardeavam minha mente como explosivos. Olhei ao redor por um instante. Nunca estaria ali se não fosse por Horan, que não desistiu de mim quando eu já havia entregado os pontos. A escola, antes meu pior pesadelo, se tornou apenas um local. Niall Horan por outro lado, passou de “o irlandês que estava entrando sem permissão em minha vida” para “o primeiro garoto que valeu a pena”.

— Nina, você está bem? — ele questionou diante do meu silêncio.

É isso. Ele é a pessoa certa.

— Nina, você está me assustando.

Como eu não percebi isso antes?

— Fala qualquer coisa, por favor — pediu em tom sério.

 Ergui minha cabeça e sorri ao olhar para o rosto pálido de Niall. Ele se tornava ainda mais bonito assim, preocupado comigo e com a luz da lua irradiando em seus olhos. Horan fez tudo que pode por mim e eu, consequentemente, mudei por isso. Agora eu vejo com clareza que a paixão que sentíamos há algum tempo se tornara algo complexo demais para expor em sentenças. Respondê-lo com aquelas três palavras era superficial demais, automático demais. Na minha cabeça, só havia um modo de mostrar a Niall que o sentimento era recíproco. Só tinha um jeito de demonstrar que, em minha galáxia, ele era todas as estrelas.

E eu estava mais do que decidida a colocá-lo em ação.

— Eu estou pronta, Niall — respondi baixo, quase murmurando. Niall pareceu querer ouvir outra coisa, pois se mostrou confuso.

— Pronta pra quê?

Balancei a cabeça, começando a ser tomada pelo nervosismo.

— Tenho que fazer uma coisa que deveria ter feito há muito tempo, mas nunca tive coragem suficiente — disse me afastando um pouco para tirar os saltos. Meus dedos tocaram a grama e me senti grata. — Temos que ir antes que seja tarde demais.

Ele ia falar algo a mais, mas se reteve. Dei um sorriso sem jeito e ofereci minha mão livre para que ele pegasse. Niall olhou para mim e seu rosto se iluminou de um jeito que nunca vi. Estava assustado e feliz ao mesmo tempo.

— Eu vou te levar pra casa, Nina.

 Uma onda de coragem percorreu por todo meu corpo e assenti ao ver que ele tinha entendido o recado. Arrastando nossos corpos pelo caminho, Niall e eu passamos dentre corredores de North High pela última vez, dessa vez com um propósito em mente. Não olhei para as pessoas ao redor. Não me despedi de Sam ou dos meninos. Não fazia questão de saber quem eram o rei e rainha do baile. As únicas coisas de que tinha consciência eram de Niall me incentivando silenciosamente a continuar e dos meus pés descalços tocando o chão frio do colégio antes de dobrar o corredor. Duas garotas pararam de se beijar para observar Niall e eu passando como um furação por elas. Virei para trás e vi as caras de desentendimento que fizeram.

Mal sabem elas que tudo isso é apenas para abrir uma porta.

Uma porta que está na minha casa, esperando por mim há quatro anos.

 


Notas Finais


*Mein Gott des Himmels! significa "meu deus do céu", em alemão.

Nina Roupa: http://www.polyvore.com/just/set?id=121428436
Sam Roupa: http://www.polyvore.com/cgi/set?.locale=pt-br&id=118025826
Playlist de OL: https://open.spotify.com/user/isatheonlyone/playlist/21Y0AnYkbvVoeinc0nNJuX

Pensei no irmão da Sam como o Evan Peters, adoro aquele homem ♥♥ Os vestidos foram idealizados por mim e por minha amiga, que ajudou pra caramba com os modelos (obrigada Carol :D) Como vocês puderam perceber , chegamos no momento que vocês esperam desde o início da fic: a descoberta do segredinho de Nina Stanton. Confesso que estou três mil vezes mais nervosa que vocês, pois tenho medo de vocês não gostarem e esperança de ser bom o suficiente e fazer sentido (montanha russa de emoções). Todo o apoio nesse capítulo é bem vindo, okay?
Twitter: @liamdiabolico

Podem expressar seus sentimentos sobre isso comigo KKKKKKKK quero muito saber como estão os corações para o capítulo 46. Estão preparados?
Eu não ♥♥♥♥♥♥ Mas vamos nessa. Respondendo os comentários agora e espero que esse tenha sido legal. Beijos e amo vocês amores!

Isa xx


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