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História Origins - Pé na estrada


Escrita por: DixBarchester

Notas do Autor


Oieee
Estou de volta com mais um cap. A historia segue devagar porque eu realmente quero que siga o ritmo da série. É quase como fazer uma maratona para rever as temporadas.

Boa leitura.

Capítulo 4 - Pé na estrada


Fanfic / Fanfiction Origins - Pé na estrada

 

 

Charlotte Walsh
Maio de 2010
Estrada para Atlanta

 

— Você está bem? — Carl Grimes perguntou enquanto eu me arrumava desconfortavelmente no banco de trás do carro em que viajávamos, tentando uma posição que não fosse tão horrível, para o maldito gesso na minha perna.

— Eu pareço bem? Minha perna está quebrada, eu não tenho mais casa, o exército resolveu acabar com a população da nossa cidade e os mortos estão tentando comer a nossa carne. "Você está bem?" é uma pergunta ridícula para se fazer. — Respondi ironicamente, destilando todo meu mau-humor.

— Ele só tentou ser agradável, Charlotte. Peça desculpas. — Shane ordenou do banco do motorista, enquanto me olhava pelo retrovisor.

— Eu não sou uma criança pra você ordenar que eu peça desculpas a alguém. — Resmunguei irritada, cruzando os braços e virando o rosto em direção a janela.

— Exato! Você não é mais uma criança, mas tem agido como uma. — Meu irmão repreendeu de forma dura.

— Tenha calma com ela, Shane. — Lori pediu, tocando a mão dele que estava sobre o câmbio. — Ela passou por muitas coisas nos últimos dias.

— Todos nós passamos, nem por isso estamos dando chilique. — Shane respondeu, com os olhos focados na estrada.

— Desculpa.... — Carl pediu baixinho, provavelmente sentindo-se culpado pela bronca que eu levei.

— Não é sua culpa. — Falei por fim, afinal essa era a verdade, ele não tinha culpa de nada. — Apenas prometa que se tiver uma irmã mais nova vai ser mais legal com ela do que o senhor "Shane Casca Grossa" é comigo.

O garoto riu de início, mas depois algo em seus olhos mudou e um silêncio constrangedor se espalhou pelo carro. Me toquei que o assunto deve tê-lo feito se lembrar do pai.

Quando o exército assumiu a cidade e começou a matar tudo, Shane foi ao hospital buscar Rick, tentar transferi-lo ou qualquer coisa assim. Infelizmente, quando meu irmão voltou, as notícias eram as piores possíveis: Rick estava morto.

Enquanto Shane tentava mudar o clima, reclamando do congestionamento em que estávamos parados, eu deixei que minha mente divagasse, pensando em nosso atual destino...

Mesmo depois da morte de Johnny e Jess, quando tudo ficou ainda pior e sem controle, a Senhora Becker me ofereceu os últimos dois lugares dentro do helicóptero particular da família. Ela foi capaz de me perdoar, quando eu própria ainda não era. Nos ofereceu segurança e conforto, iriamos para sua casa de inverno em uma pequena e afastada cidade mais ao norte do estado... Voar era aparentemente mais seguro, teríamos boas chances.

Mas claro que Shane não aceitou ir sem Lori e Carl, com a ausência de Rick, meu irmão se sentia responsável pela família Grimes. Decidimos então seguir de carro rumo a um acampamento de refugiados em Atlanta, lá era também o lugar onde alguns parentes de Lori viviam. Quer dizer, os ditos "adultos" decidiram, porque eu não tinha lugar de fala ali...

E esse era meu estado atual, em uma estrada qualquer rumo a Atlanta. Presa em um carro com meu irmão chato, a viúva Grimes intrometida e o pequeno Carl, o menino que eu não sabia se adicionava na CQCWNG ou deixava de fora por conta da minha pontinha de afeto por ele.

Algo me dizia que se continuássemos enfurnados naquele veículo, eu mesmo estaria na minha lista de coisas que não gosto... Ironias da vida.

— Parece que parou de vez, não é? — Lori comentou.

— Eu vou descer e ver o que descubro. Fiquem no carro. — Shane falou antes de abrir a porta e sair.

Alguns minutos de silêncio se seguiram e eu percebi que Lori me encarava pelo retrovisor.

— Eu sei que você não queria estar aqui... — Ela começou naquele tom maternal que não me causava nada além de tédio.

— Não eu não queria, mas eu não queria muita coisa se você quer saber... — Dei de ombros. — Não precisamos de drama, não mais do que já temos.

Lori assentiu, ficou quieta por mais algum tempo antes de continuar:

— Sinto muito pelo que aconteceu com você.

— Acredite, eu também sinto. — Olhei pela janela, desejando que minha esquiva fosse o bastante para fazer o assunto morrer.

Eu não era a maior fã da Lori no mundo, na verdade eu já não gostava muito dela antes e naquele momento eu gostava ainda menos. Nada pessoal. Mas as vezes ela parecia muito cheia de dramas e isso me irritava.

Outra ironia da vida, porque convenhamos, eu também tinha minha cota de drama...

— Mãe eu preciso fazer xixi. — O garoto Grimes resmungou, em um meio sussurro, como se isso fosse me impedir de ouvir, mesmo que estivéssemos sentados lado a lado.

— Agora não dá, Carl. — Lori respondeu, voltando a encarar a estrada parada.

— Mas eu falei pra você faz um tempão... Não aguento mais. — Ele fez uma careta.

A morena respirou fundo e pensou por um momento.

— Vamos ali nos arbustos do outro lado da estrada. — Ela decidiu, saindo do carro.

Olhei pela janela procurando pelo meu irmão, ele havia sumido do nosso campo de vista. Lori e Carl desceram do carro, e, eu até pensei em dizer que era uma má ideia, mas resolvi que não era problema meu.

Eles sumiram por entre os arbustos me deixando totalmente sozinha. Depois de algum tempo esticando meu pé no banco de trás fiquei entediada, peguei meu celular e um pacote de salgadinho no porta luvas e desci do carro. Era horrível andar com aquele gesso idiota, então apenas me sentei no porta-malas.

Olhei ao redor, as famílias em seus carros... um monte de gente estranha, alguns pareciam com medo, outros irritados. Gente de todo o tipo. Uns dois carros atrás do nosso, mas na fileira da direita, uma caminhonete desbotada se destacava, tinha uma moto na caçamba e no banco da frente dois caras, um deles era mais velho, levemente calvo e grisalho, ele ria. O mais novo, que estava sentado no banco do motorista, tinha cabelos castanhos claros e gesticulava muito, parecia nervoso. Esqueci o celular por um tempo e foquei nos dois. Mais precisamente no mais novo, sabe como é a curiosidade humana... Eu queria saber por que ele parecia tão bravo.

Dizem que quando você olha fixamente para alguém, essa pessoa "sente" esse olhar. Acho que foi isso que aconteceu, pois exatamente naquele momento o motorista olhou direto pra mim. Mesmo daquela distância percebi que ele tinha olhos azuis impressionantes. Eu não sei bem o que foi, talvez a forma raivosa como ele me encarou, talvez a intensidade no olhar. Mas algo sobre aquele homem me deixou desconfortável.

Desviei os olhos, pra então tomar um leve susto com uma garotinha loira parada na minha frente. Ela olhava fixamente para o meu pacote de salgadinhos.

— Quer? — Perguntei. Se tinha uma coisa que eu não conseguia fazer era comer na frente de crianças e não oferecer. Eu não era um monstro horrível e sem coração. No geral crianças só me irritavam às vezes, na maior parte do tempo eu até lidava bem com elas...

Desde que tivesse como devolver para os pais tudo sempre ficava bem, esse era meu lema.

A garota olhou ao redor, parecia em dúvida sobre aceitar ou não minha oferta de salgadinho.

— Pode pegar. Não vou machucar você. E mesmo que eu quisesse, você corre e eu fico pra trás. — Sorri mostrando meu pé engessado.

Ela sorriu de volta, pegando o pacote de salgadinhos.

— Obrigada. — Murmurou, comendo vários de uma vez.

— Não tem de quê. — Respondi. — Eu sou a Charlotte, como você se chama?

— Sophia.

Fiquei olhando-a comer, até que uma voz feminina chamou seu nome. A pequena deu dois passos pra trás de modo que a mulher pudesse vê-la por entre os carros.

— Ah, meu Deus! Sophia! — A senhora grisalha a abraçou. — Fiquei preocupada, não faça mais isso.

Olhou o pacote na mão da menina e depois para mim. Sorriu.

— Devolva o salgadinho da moça e vamos. Seu pai pode ficar bravo. — A voz da mulher era calma e baixa, quase um lamento.

Sophia me estendeu o pacote parecendo um pouco decepcionada.

— Pode levar. — Incentivei, porque era evidente que a menina tinha fome, e haviam outros pacotes iguais àquele no carro.

— Obrigada. Muito obrigada. — A mãe falou, já caminhando pra longe de forma apressada.

Olhei a pequena se afastar por entre os carros, enquanto acenava discretamente para mim. Ao longe um homem as esperava, ele não parecia nada contente, por um instante tenho a impressão que ele disse algo bem rude para a mulher, mas podia ser apenas a impressão, afinal não tinha como ouvir nada dali.

Quando eles sumiram de vista eu voltei minha atenção para o celular, tinha um joguinho chato nele, mas ia servir pra passar o tempo enquanto eu ainda tivesse bateria.

— O que você está fazendo aqui fora? E onde está a Lori? — Shane perguntou atrás de mim, surgindo do nada, e eu não precisava olhar pra ele pra saber que estava levemente bravo.

— Estou sentada. — Falei o óbvio. — Lori foi levar Carl pra fazer xixi. — Apontei o local.

— Entre no carro. É perigoso aqui fora. — Foi a única coisa que falou antes de seguir na direção que eu apontara.

Apenas ergui uma sobrancelha e voltei os olhos para o celular. Mas algo atraiu minha atenção para cima, como um imã atraindo metal...

O motorista da caminhonete me encarava, a expressão irritada ainda estava lá, mas havia algo mais, curiosidade talvez. Sustentei o olhar dele e dessa vez ele foi o primeiro a desviar, voltando a sua atenção ao mais velho que havia saído do carro.

O aparelho em minha mão apitou pedindo bateria e eu praguejei mentalmente. Desci do porta-malas e entrei no carro, dessa vez no banco da frente, liguei o som e tentei sintonizar alguma rádio, a maior parte estava fora do ar, as únicas funcionando transmitiam a mesma mensagem em looping. Advertências sobre a epidemia, precauções e essas coisas. Não podíamos ser mordidos ou arranhados, isso nos transformava em um deles.

Infelizmente aquilo era algo que eu havia aprendido sozinha...

Olhei para o lado, Shane voltava com Lori e Carl, foi nesse momento que algo chamou nossa atenção ao longe. Helicópteros do exército sobrevoavam a cidade no fim da estrada, e então, como em um ataque sincronizado, várias explosões aconteceram e uma nuvem de fumaça se espalhou.

Eles tinham bombardeado Atlanta.

As pessoas começaram a sair de seus carros, assustadas, confusas, algumas apenas observavam, outras corriam no sentido oposto. O caos parecia se espalhar no ar...

Ali perto, Shane abraçou Lori e ela escondeu o rosto na curva do pescoço dele, desviei o olhar, e, por algum motivo procurei o estranho da caminhonete pelo retrovisor externo.

Ele não parecia assustado, nem chocado, como se nada daquilo pudesse abalado de verdade, internamente eu me perguntei se aquilo era a coragem de um homem preparado para tudo, ou a indiferença de alguém que já tinha visto tragédias demais na vida, para de importar com apenas mais uma.... Enquanto isso, o outro cara ao lado dele, ria como se tudo fosse uma piada, era o típico idiota que só queria ver o circo pegar fogo, ou aquele que ri de puro nervoso? Impossível saber.

Suspirei, apática, nada surpresa com a nossa má sorte. No carro ao lado, uma família qualquer chorava audivelmente.

Atlanta não era mais uma opção afinal. Era a porra do fim do mundo.

➷•➷•➷•➷•➷

A noite veio muito mais lentamente do que eu queria. Carl dormia no banco traseiro, enquanto Shane e Lori estavam em uma reunião com algumas pessoas perto de um trailer, vários carros à frente.

Me encostei no banco, concentrando-me na minha já habitual tarefa de espiar o estranho da caminhonete pelo retrovisor externo. Era impressionante o que o tédio fazia com a gente...

Ele dormia, os braços cruzados e a cabeça jogada pra trás, encostada no banco. O outro não estava, tinha visto quando saiu e se juntou à reunião.

Tentei olhar por cima dos carros e encontrar Shane, vi apenas o topo de sua cabeça na roda, não haviam muitas pessoas lá, quinze ou vinte no máximo. Pensei em me aproximar, mas sabia que Shane daria um piti se eu deixasse Carl dormindo no carro sozinho... Sendo assim, me recostei no banco do passageiro e tentei relaxar, pra dormir um pouco...

Algum tempo depois a voz de um homem me acordou.

— Daryl. Daryl. Anda acorda irmãozinho! — O cara mais velho da caminhonete estava entre os carros já chamando o outro.

Coloquei a cabeça pra fora e o vi se aproximar, o motorista já estava de pé. Tinha saído da caminhonete e se aproximou do mais velho.

Eles trocaram algumas palavras, o grisalho apontou a reunião perto do trailer, falou mais algumas coisas que eu não entendi. O mais novo negou e o outro segurou seu ombro e continuou falando.

Após alguns poucos minutos eles pareceram chegar a um acordo. Coloquei a cabeça pra frente quando percebi que passariam por mim.

— Você vai ver, Daryl, isso vai ser ótimo. — O mais velho foi caminhando em direção ao grupo enquanto gesticulava.

O motorista, que agora eu sabia chamar Daryl, não respondeu. Apenas continuou caminhando. Nossos olhos se encontraram de novo quando ele passou bem ao meu lado... Instintivamente me encolhi um pouco no banco. Aquele homem era sem dúvida muito intimidador.

Fiquei tentando esticar a cabeça e enxergá-los ao longe, mas foi em vão.

Mais algum tempo se passou e Lori e Shane voltaram para o carro, os dois homens da caminhonete vindo logo atrás.

— É só seguir a gente, companheiro. — O mais velho falou para o meu irmão quando passou pelo nosso carro.

Lori se sentou atrás com Carl e Shane assumiu o volante.

— Acha uma boa ideia? — Ela perguntou.

— Precisamos ficam em segurança até decidirmos o que fazer. Não se preocupe, eu vou proteger vocês. — Meu irmão respondeu.

— Alguém pode me dizer o que está acontecendo? — Perguntei sem humor, não suportava ser deixada de fora.

— Os irmãos na caminhonete conhecem um lugar perto daqui, costumavam acampar lá, é mais alto então será mais difícil dos doentes nos alcançarem. Tem água por perto e pode ser seguro. — Lori explicou de forma rápida.

— Vamos nos juntar com algumas outras pessoas e seguiremos pra lá. — Shane completou já ligando o motor.

— Acampar com desconhecidos. Que divertido. Parece até a escola. — Minha empolgação fingida não agradou ninguém, é claro.

— Não precisamos da sua ironia, Charlie. As coisas estão um caos, o que precisamos agora é ficar seguros até que o governo dê um jeito nisso. — Shane cortou irritadiço.

— É Charlotte. — Corrigi pela milésima vez.

— Você é insuportável, sabia? — Ele retrucou, acelerando para manobrar entre os carros ainda parados ali.

— Acredite o sentimento é mutuo. — Resmunguei, olhando novamente o retrovisor.

O tal Daryl manobrava a caminhonete por cima do canteiro. Também não tinha a melhor das expressões no rosto. Ou melhor, na verdade eu não tinha como saber, porque nunca o tinha visto com expressão alguma além daquela que parecia de irritação e desgosto constante...

Respirei fundo. "Acampar" também estava na CQCWNG, mas por algum motivo saber que o estranho de olhos azuis na caminhonete estaria lá me vez achar a ideia interessante.

Pois é, a falta do que fazer pode mesmo ser uma merda...

 


Notas Finais


Quanto tempo levaram para saber quem era na caminhonete?

Charlotte é uma adolescente chata, acho que já perceberam isso, certo? kkkkk

E no próximo teremos a primeira interação dos dois... Segura coração kkkk

Bjss e até.


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