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História Our Sin (EM PAUSA) - Dusk till dawn.


Escrita por: poetyeeun

Notas do Autor


Hallo!
Perdoem-me por sempre enrolar, mas como havia dito anteriormente, reescrever capítulos que já estavam prontos não é uma tarefa fácil, e acaba desanimando por diversas razões. Entretanto, voltei e agradeço imensamente por todos todos os comentários, favoritos e mensagens que recebi no privado. Tudo isso me motiva e me deixa feliz da vida. Vocês são demais!
Aqui está mais um capítulo de Our Sin. Espero, de coração, que gostem. Boa leitura.
MWAH!

➡ Capítulo sem uma revisão mais profunda, perdoem-me se tiver erros.

Capítulo 11 - Dusk till dawn.


Fanfic / Fanfiction Our Sin (EM PAUSA) - Dusk till dawn.

 Após finaliza minha oração matinal, me levanto ao mesmo instante em que ouço duas batidas na porta. Olho para a cama desarrumada de Camile e para a porta do banheiro que estava fechada e eu podia ouvir sua voz abafada alcançando alguns tons devido a música que cantava. Talvez ela estivesse esperando por alguém.

Caminho até a porta de entrada do dormitório para abri-la.

— Diga-me que você se chama Faith. — a voz do homem parecia cansado e ele solta um suspiro pesado.

— Uh, bem, esse é o meu nome. — umedeço os lábios. — Algum problema?

— Não aguentava mais bater em todas essas portas. — sem muita sutileza, empurra-me uma caixa de papelão. — Assine aqui, por favor. 

— O que é isso?

Observo a caixa coberta por um embrulho pardo. Não era muito grande ou pesada, então descarto a ideia de que talvez não fossem os livros que minha mãe disse que mandaria na próxima semana. E também não havia comprado nada pela internet.

— Sou apenas um entregador, senhorita. — enruga o nariz. — Assine na linha pontilhada. 

Ainda que relutante, transcrevo minha assinatura no local indicado e entrego-lhe de volta junto com a sua caneta. Com uma expressão de poucos amigos, o entregador me deseja um bom dia e desaparece pelo corredor, deixando-me cheia de dúvidas. Retornando para dentro do quarto, fecho a porta e me sento na beira da minha cama. Em uma faixa de identificação tinha meu nome e o endereço da universidade, sem nome de um remetente.

Sem conseguir conter a curiosidade, rasgo a proteção do embrulho e retiro a caixa de dentro dele, arregalando os olhos ao notar do que se tratava. Era um aparelho celular de última linha. Na base da caixa havia um pequeno bilhete marcado pela tinta de uma caneta azul. 

‘’Para deixar claro, não aceito uma devolução. O celular é seu, faça o que quiser com ele. Só, não faça disso uma grande coisa. Salvei o meu contato e já tenho o seu número. Bem-vinda ao mundo virtual, morena. D.’’

Com os lábios de repente ressecados, não consigo desviar os olhos da caligrafia rebelde, sem muito capricho.

Morena. Só uma pessoa me chamava assim, e era como se meu coração já soubesse desde a primeira palavra até a assinatura limitada em uma única letra que, era um presente de Danger.

Isso era sim uma grande coisa. Ao menos para mim.

— Não me diga que acabou de chegar mais um daqueles seus casacos bregas. — Camile me assusta com sua aparição repentina entre os batentes da porta do banheiro.

— Não é um presente dos meus pais. — olho para a caixa em minhas pernas. — E não é algo que eles me dariam também. 

— Então, quem enviou e do que se trata?

— É um celular, e acredito ter sido enviado por Danger. 

— O motoqueiro gostosão?

Crispando os lábios, anuo em concordância, deixando-a se aproximar e arrancar a caixa com o aparelho das minhas mãos imóveis. Abrindo-a, balança um celular como o de muitos dos meus colegas de classe. Era grande, embora delicado, e, bonito.

A sua tonalidade rosa me fazia pensar se ele tinha procurado por algo feminino especialmente para mim. 

E outras questões se formam em minha mente. 

— O que eu faço?

— Como assim, o que você faz? — olha-me de relance, ainda avaliando o celular, deslizando seus polegares pela tela. — Envie uma mensagem de agradecimento e o convide para sair. 

— Convidá-lo para sair? — mexo-me na cama, virando-me para olhá-la. — Por quê?

— Está bem óbvio que ele a quer por perto. Por isso, devia tomar a iniciativa e chamá-lo para ir... — estuda minha expressão assustada. — Ao cinema. Isso. Será uma maneira de ficarem ao lado um do outro, no escuro, assim não ficará tão aterrorizada. 

— Realmente devo? — balanço a cabeça em negativa.

— Ele já provou que não é tão estúpido quanto a maioria dos motoqueiros da cidade. Vocês já dormiram sob o mesmo teto e um homem como aquele abrigou um vira-lata por ser um pedido seu. Acha que ele sai fazendo boas ações para qualquer pessoa? — sorri minimamente e me estende o aparelho. — Arrisque-se um pouco mais, Faith.

Arriscar-me. 

Não parecia certo. Entretanto, meu coração estava tão acelerado com a ideia de estar novamente perto dele que ouso acreditar que, talvez Camile tivesse razão.

Diferente dos conselhos e ensinamentos do meu pai sobre pessoas da cidade grande, Danger não se encaixava em nenhuma das classificações. Ele não andava nos trilhos, mas também não havia seguido pelo caminho perverso, ao menos não que eu soubesse. Muito pelo contrário, sem me conhecer, ajudou-me tantas vezes e nunca cruzou a linha comigo.

Eu devia realmente me arriscar?

Respirando fundo, deslizo a ponta do meu indicador esquerdo pela tela e assusto-me com toda tecnologia escondida dentro de um aparelho tão pequeno. Sem saber para onde ir, meus olhos suplicam pela ajuda da minha amiga que solta uma risada e senta-se na beira da cama, ainda enrolada em uma toalha e com gotículas de água escorrendo por sua face e clavícula. Em alguns minutos, ela me apresentou o desconhecido. 

Nunca tive um celular como esse. Quando era mais nova e queria me comunicar com minha única amiga na cidade e colégio, utilizava o telefone residencial. No entanto, meus pais sempre tinham que estar por perto. Meu pai dizia que pessoas com intenções ruins poderiam se aproveitar da minha inocência e bondade. Mesmo que o ouvisse tocar, se estivesse sozinha, não poderia atendê-lo. Tudo estava bem para mim.

Um dia, durante o jantar, perguntei se poderia ter um computador, pois me ajudaria com trabalhos escolares e após ouvir Kristen falar sobre um lugar em que pessoas se comunicavam e postavam várias coisas, acreditei que poderia fazer mais amigos. O homem que impunha suas regras deixou de comer e aplicou-me um sermão, fazendo-me perder o apetite. No domingo daquela mesma semana, durante nossa ida a igreja, mostrou aos fiéis os pecados por trás das redes sociais.

— Obrigada. — Camile olha-me incrédula. — É tudo o que irá dizer?

— O que mais posso enviar para ele? — choramingo. — Você disse que preciso ser difícil. 

— Difícil, sim, mas não tão fria quanto um cubo de gelo. — movimenta os ombros. — Talvez um, ‘’obrigada, Danger. Gostaria de sair comigo essa noite?’’

— Isso não é ser direta demais?

— Eu faço isso e consigo alguns encontros. — dá de ombros. 

— Talvez um ‘’obrigada’’ acompanhado de um coração?

— Não! — sobressalta em seu lugar e olha-me como se estivesse prestes a cometer um crime. — Isso é algo que deve começar a usar depois que trocarem mensagens carinhosas, não quando está agradecendo por algo. E também, aquele motoqueiro não se parece com alguém que troca mensagens com carinhas ou corações coloridos. 

— Porque não? São tão fofos... — não seguro o sorriso ao arrastar para os lados, como minha amiga me ensinou, ainda fascinada pela quantidade do que costumam chamar de ‘’emojis’’. 

— Vamos ficar apenas com o simples ‘’obrigada, Danger’’. O resto, veremos depois que ele responder. — apontando para o seu celular, se levanta. — Agora, vamos nos arrumar para descer. 

Assentindo, clico no lugar em que Camile havia me ensinado que enviava mensagens para pessoas. Um fino risco havia marcado a mensagem como enviada, mas, Danger não parecia tê-la recebido. Gostaria de saber se ele já estava acordado e se tinha a companhia de Destiny para o café da manhã. A menina amava o pai e parecia sentir sua ausência, mesmo que ele se esforçasse para fazê-la feliz. 

Sorrindo para nada em especial, sigo até o banheiro e realizo minha higiene, logo termino de secar os fios do meu cabelo, sustentando-os em uma trança lateral. Prendo o elástico na ponta e analiso minhas vestimentas, sabendo que teria que me trocar depressa ou me atrasaria para a primeira aula. Trombo com minha colega de quarto que lutava com as fivelas das suas sandálias, até ofereço-me para ajudá-la, no entanto, ela consegue se virar sozinha e logo fica pronta, apenas aguardando por mim. 

Uma camisa de mangas e botões, um jeans largo e sapatos baixos deixavam-me confortavelmente bem para uma manhã ensolarada. Apanho minha bolsa e livros em cima da cadeira de balanço ao lado da cabeceira da minha cama e atravesso o quarto, saindo e deixando que Camile fechasse e trancasse a porta. Pelo corredor, caminhamos tranquilamente, ela falava sobre seus planos para o dia, enquanto eu fitava a tela escura do celular que ainda não havia me dado um sinal de alerta para uma nova mensagem. 

Ele deve estar ocupado agora.

Kristen costumava ficar a todo o momento no celular e duvidava que levava mais de trinta segundos para responder alguém. Owen também era assim. Entretanto, Danger é alguém ocupado. Pelas minhas pesquisas superficiais, o presidente de um clube de motoqueiros lida com responsabilidades grandes, eu só não conseguia imaginar o quão grandes eram.

E se ele não quiser falar comigo?

Iria esperar pela sua resposta, mesmo que meu coração estivesse inquieto. 

— Boa aula. — Camile cantarola quando chegamos ao último degrau do corredor, onde nos separávamos todas as vezes, pois nossos caminhos eram opostos. 

— Você também. — com a mão livre, aceno e mostro-lhe um sorriso, continuando o meu caminho até a porta da minha sala de mecânica. 

O professor já estava na sala, mas ainda faltavam dois minutos para a aula começar. Acomodo-me na minha bancada de sempre, e olho para o lado, procurando pelos rostos conhecidos dos meus colegas de classe. Um em especifico. No fundo da sala, do outro lado, estava Michael, sentado ao lado de uma garota bonita e muito loira. Eles pareciam ser amigos, já que ela ria de algo e mostrava para ele que sorria também, mesmo que de forma contida.

Há dias não conversávamos. Ele costumava ser o meu companheiro, desde o primeiro dia de aula. Depois daquela noite desastrosa, é como se tivéssemos voltado a ser desconhecidos e isso me incomodava. Michael e Camile eram as únicas pessoas que se importaram em ajudar no meu processo de adaptação no campus, graças a eles me sentia menos deslocada. Sabia que depois de ter me visto subindo na moto de Danger, meu amigo podia estar pensando coisas erradas sobre mim. Mas, não compreendia a razão para ter se afastado e passado a me ignorar.

— Bom dia, pessoal. Vamos começar nossa aula de hoje. — o professor anuncia, atraindo todas as atenções, inclusive a minha. 

Na minha bolsa, procuro pelo meu caderno e uma caneta, passando a anotar tudo o que considero importante. Uma garota se sentou ao meu lado quando tivemos que formar duplas, mas, diferente do meu antigo parceiro, ela era fechada e pouco comunicativa. Mesmo que tenha tentado uma aproximação amigável, fui cortada em todas as tentativas e precisei me conformar de que fazer amigos era realmente difícil. 

Fizemos alguns experimentos com ligações em baterias fantásticas. Senti-me fascinada pelas variações de potências de cada uma delas. Entretanto, minha atenção foi roubada por minha colega de quarto que passou a me enviar mensagens nos minutos finais da aula, e mesmo que quisesse tê-la ignorado para responder em outro momento, o celular vibrou diversas vezes no mármore da bancada. Minha parceira pareceu se incomodar, pois o olhar que me lançou não foi muito sutil.

 — Devia responder de uma vez quem quer que seja, senhorita popular. — seu tom ácido faz com que encolha meus ombros.

Sua cabeleira escura estava inclinada para o lado esquerdo, enquanto ela anotava rapidamente todas as anotações necessárias em nossa ficha. 

— Desculpe-me. — murmuro baixo e apanho o aparelho, deslizando o dedo pela tela, abrindo as mensagens que não paravam de chegar. 

Camile: Sinto-me entediada. 

Camile: Estou pensando em me jogar pela janela. 

Camile: Mas, estou quase no subsolo, então, o máximo que irei conseguir são arranhões no joelho e atenções desnecessárias. 

Camile: Não posso flertar com meus colegas de classe, pois todos são idiotas e fáceis demais. 

Camile: Não posso ter sonhos adolescentes com meu professor. Ele se parece com o vizinho dos meus avós, e isso é nojento. 

Camile: Como está a sua aula ao lado do seu amigo gostoso?

Camile: Sabe, se ele não fosse tão encantado por você, garota, iria deixar essa aula agora mesmo e pedi-lo algumas dicas sobre qual carro tem os bancos mais confortáveis... 

Camile: Você é tão malditamente sortuda. 

Camile: Aproveite para conseguir o número do seu telefone.

Camile: Talvez ele tenha um amigo tão bonito e inteligente para me apresentar. 

Sentindo minha pele aquecer, abaixo o celular e digito uma resposta. 

Por favor, vá estudar. Está me desconcentrando.

Pensei que fosse o suficiente para que me deixasse quieta. No entanto, enganei-me, pois outras mensagens vieram. 

Camile: Como você é ingrata!

Camile: Sou sua amiga e estou carente. Dê-me um pouco de atenção. 

Camile: Sabe do que preciso?

Camile: De álcool e desconhecidos. De preferência, interessantes como os dois caras que estão loucos por você. 

Suspiro e balanço a cabeça. 

Você precisa parar de dizer essas coisas. Não tem ninguém interessado em mim. 

Assusto-me com o tumulto que se forma na classe quando o professo recolhe suas coisas e deixa a sala. Descolo os lábios para perguntar a minha colega se algo importante havia sido dito nos últimos minutos que gastei lendo as mensagens de Camile, mas ela se levanta tão depressa quanto se retira, desaparecendo por entre as pessoas. 

Solto um resmungo baixo e apanho minhas coisas. Guardo o celular no fundo da minha bolsa e salto o banco de madeira, aguardando a sala ficar vazia para sair também. Chegando à porta, recuo um passo ao avistar Michael conversando com um garoto da sala ao lado. Os dois pareciam estar com pressa, pois logo se despedem com tapas nos ombros um do outro. Umedeço os lábios e encorajo-me silenciosamente a caminhar até ele que arrasta as mãos pelos fios de seu cabelo antes de escondê-los sob o boné que o vi usar bastante nos últimos dias. 

— Hum... Ei! — seus olhos encontram os meus. Não havia surpresa em sua face. Na verdade, ele parecia não deixar transparecer nada. 

— Olá. — sua resposta curta me entristece. 

Esse não era o garoto espontâneo que me fez sentir tão a vontade desde o primeiro dia de aula.

— Como você está? — pisco depressa. — Não nos falamos há dias. Você parece distante. 

— Estou bem. Obrigado por perguntar. — afunda as mãos nos bolsos do seu casaco. — Estive bastante ocupado. Mas, e você? Como se sente?

Sinto falta da sua companhia. Penso. 

Mas, não digo. 

— Estou bem também. — meu coração parecia ter diminuído alguns milímetros. — Michael, gostaria de me desculpar por aquela noite. Eu não devia ter saído do carro e desaparecido sem te dizer nada. No dia seguinte, era minha obrigação tê-lo procurado para um pedido de desculpas. 

— Você não fez nada de errado. — apressa-se em dizer, mas desvia o olhar. — Fiquei apenas preocupado. Procurei você por todos os lados e ainda esperei fora do seu dormitório por um tempo. Quando soube que Camile estava bem, logo imaginei que você também estivesse. 

— Ainda assim, sinto muito, de verdade. — meus lábios tremem. — Aquela noite foi incrível. Você foi tão gentil e atencioso. Gostaria que a noite tivesse sido longa e sem problemas fora daquele lugar agradável. 

Michael sorri. Era um sorriso de contido e torto, exatamente como os que ele costumava esboçar todas as vezes em que estávamos juntos. 

Era um bom sinal.

— Está tudo bem, novata. — ele me chama como de costume, e, isso me alivia. Como se um peso tivesse sido tirado dos meus ombros. — Podemos sair em outro momento. Sabe, tem muitos lugares para se conhecer nessa cidade. Sou o melhor guia turístico que você irá conhecer. 

Abro um sorriso sincero. 

— Irei adorar conhecer cada um desses lugares. — torço os lábios. 

— Faremos isso. — antes que possa continuar, é interrompido pela mensagem que chega no celular que vibra e me faz tirá-lo depressa. — Oh, agora tem uma forma de se comunicar. Isso é bom. 

— Uh, sim. O consegui nessa manhã. — fito a tela e o balanço na mão livre dos livros que segurava. — Não sei bem como usá-lo. 

— Me dê. 

— O que?

— O celular. 

Confusa, entrego-lhe o aparelho. Tão ágil quanto minha amiga mais cedo, Michael desliza os polegares pela tela e parece digitar algo. De repente, seu celular começa a tocar, mas logo para, ao mesmo instante em que me estende novamente o meu. Franzo o cenho ao apanhá-lo. 

— Você tem o meu número e eu tenho o seu. 

Ergo as sobrancelhas, assimilando o que ele havia feito. 

Meu amigo solta uma risada e fita-me com um ar mais leve que quando o abordei no corredor. 

— Tem planos para o fim de semana?

— Estudar. — mordisco o lábio inferior. — Preciso que minhas notas sejam boas. Você sabe, sou bolsista e não posso permitir com que caíam. E com o meu trabalho, os dois últimos dias da semana são tudo o que me restam. 

— Vamos fazer isso juntos. — crispo os olhos. — Tenho dificuldades com cálculos e você com a parte prática. Um ajudando o outro, podemos ser os melhores da turma. 

— Tudo bem. — concordo com a cabeça. 

— Combinado então. — seus olhos caem para o relógio em seu punho esquerdo. — Quer carona para o trabalho?

— Não é necessário. Estou de bicicleta. 

— Você não deve ficar andando sozinha pelas ruas à noite. 

— Não se preocupe. — recuo alguns passos. O corredor estava ficando vazio. — Até amanhã. 

— Até. — antes que pudesse me virar, um assobio chama minha atenção. — E não pense em se sentar com outra pessoa naquela bancada, novata.

Soltando uma risada, anuo em concordância e caminho pela universidade, sem poder esconder minha felicidade por tê-lo de volta.

Caminhando pelos corredores já conhecidos, rumo até a aérea externa e atravesso o gramado, satisfeita pela manhã quente. Se o clima não mudasse drasticamente, seria um dia bem iluminado. Em passos tranquilos, sigo pelas calçadas, apreciando o frescor das rajadas leves da manhã. Em poucos minutos, avisto a esquina da rua em que ficava o meu trabalho e, como de costume, empurro as portas dos fundos para entrar. 

Não avisto nenhum dos meus colegas, mas apronto-me em alguns segundos, alcanço meu avental e sigo para meu posto. Não tínhamos movimento neste horário, apenas quando entardecia e os alunos de colégios e universidades faziam paradas para lanches e conversas jogadas fora. Apanho os produtos de limpeza e um balde azul para começar a limpar a mesas, cadeiras, balcão e estufas que, estavam nitidamente limpas, mas fazíamos isso a cada turno para manter tudo organizado e atraente o bastante para agradar os clientes. 

A manhã acaba depressa e logo minha parceira de turno chega, agradecendo-me por ficar em seu lugar ainda cedo. Tive apenas uma aula na manhã, e sempre que isso acontecia trabalhava por nós duas, sabendo que eram os dias de quimioterapia da sua irmã mais nova que, há alguns meses, lidava com dificuldades para vencer o câncer de mama. 

Meu almoço é rápido e nada mais que algumas fritas e refrigerante que comprei do outro lado da rua. Caminhei pelas ruas apenas para bisbilhotar os comércios ativos e agraciados pelos fluxos de pessoas que entravam e saiam a todo instante. Ao retornar, coloquei de volta o avental e passei a me arrumar no pequeno quarto dos fundos, suspirando pela rebeldia dos fios de cabelo que não se mantinham quietos no rabo que ajeitei no alto da cabeça. Antes que pudesse continuar empurrando-os para o elástico, volto a me assustar com as vibrações que sinto no bolso do avental, só assim me lembrando de que tinha um celular. 

Deslizo sobre a mensagem e surpreendo-me ao avistar o nome que me causava estranhas sensações no estômago.

Danger: Como disse, não faça disso uma grande coisa. 

Uma nova mensagem chega, logo em seguida. 

Danger: Como irá voltar para o dormitório?

Mordicando o lábio inferior sem ao menos perceber, pondero uma resposta antes que a tela volte a escurecer.

Meu coração batia tão depressa. 

De bicicleta. 

Clicando em enviar, aguardo ansiosamente pela resposta que não tarda, fazendo-me suspirar. 

Danger: Irei esperá-la na porta do seu trabalho.

Danger: Certifique-se de estar aquecida. O clima está mudando. 

Deixando que um pequeno sorriso tintile em meus lábios, assinto e volto a guardar o celular. 

Retorno ao trabalho após ouvir o chamado da minha colega do outro lado. Apresso-me e atendo as mesas que foram ocupadas por jovens. Saudando as adolescentes, sirvo-lhes depressa e sigo o fluxo das minhas últimas horas de trabalho, tentando não criar expectativas demais diante as mensagens do motoqueiro. 

Não faça disso uma grande coisa, Faith.

 (...)

Ao fim do meu expediente, arrasto-me pela cozinha, sentindo leves dores nos músculos dos braços e pernas. Lavei centenas de pratos, talheres e copos, e ainda fiquei encarregada de separar o lixo da reciclagem. Também cuidei das plantas que estavam morrendo sem um mínimo resquício de água. Sentia-me cansada, mas satisfeita pelas gorjetas que havia conseguido durante o dia. No fim do mês, teria condições de comprar algo para enviar aos meus pais e a vovó. 

Passando pelas portas dos fundos, caminho até a entrada. Meus olhos rapidamente procuram pelo moreno, mas não o avisto em lugar algum. Puxando a barra do meu suéter para baixo, luto para me aquecer um pouco mais. Ele tinha razão, o clima havia mudado drasticamente. Entretanto, antes que pudesse começar a lidar com a preocupação de não tê-lo encontrado a minha espera, flagro a aproximação abrupta do seu inseparável veículo. 

Assim que estaciona na beira da calçada, livra-se do capacete e com a mão livre, arrasta os dedos por seu queixo. Ele parecia bem, vestindo suas roupas de couro, como de costume. Duvidava que pudesse imaginá-lo usando quaisquer outras peças se não aquelas. Fazia parte de sua essência.

— Você não tem um casaco longo para o inverno? — sua voz rouca agracia meus ouvidos, me assustando um pouco também. — Esse pequeno pedaço de lã não irá aquecê-la em uma noite fria como essa. 

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele se livra da jaqueta e a empurra para mim. Com meus lábios e dedos trêmulos, mantenho-me em silêncio e a recebo, como em todas as vezes em que ele me empresta o seu único agasalho. 

Em momentos como esse, questionava-me se ele realmente se preocupava comigo.

Desde a primeira vez em que nos vimos, ainda que como um desconhecido, se prontificou em me levar ao meu destino. Não era sua obrigação, tão pouco necessário, mas me deixou em frente ao campus, em segurança. E, de todas as outras vezes em que me deu uma carona, cedeu sua jaqueta e me manteve aquecida.

Gostaria de saber se diante tantos cuidados, ele se importava comigo, mesmo que fosse só um pouquinho.

— Se vista e suba. — sendo arrancada dos meus devaneios, anuo em concordância e me visto com sua jaqueta. — Podemos parar em um lugar antes de levá-la até a universidade?

Não. 

A resposta correta teria que ser não. 

— Sim, podemos.

Seus cílios escuros batem com a única piscada que dá depois de me encarar por um segundo inteiro. Eu pude contar, mentalmente, enquanto tentava compreender o porquê das minhas respostas serem sempre contrárias aos meus pensamentos racionais. 

Ajeitando as alças da bolsa em meu ombro direito, seguindo até a garupa conhecida, coloco o capacete que também me foi estendido. Com um singelo sorriso, abraço sua cintura, me deixando levar pela velocidade e seu cheiro inebriante. 

O caminho que Danger faz é desconhecido, mas não me preocupo, pois sabia que ele me levaria em segurança.

Relaxando meus ombros, observo todas as ruas e carros pelos quais passamos, até que seguimos em direção a uma extremidade afastada, onde não existia nada além de uma estrada longa com muita poeira e cascalhos. O motoqueiro faz uma curva e para sem muita delicadeza de frente para uma arvore alta e com galhos longos. Notando que ele aguardava pela minha descida, salto e tento criar estabilidade suficiente em meus joelhos para não vacilar em uma queda vergonhosa. 

— Está com... — limpa a garganta, percebendo que sua voz estava rouca demais. Ainda mais que o comum. — Frio?

Talvez fosse ele que sentisse frio. 

— Estou bem. — garanto, mesmo que sentisse os dedos das minhas mãos enrugados. — Obrigada. 

Assentindo, ergue seu rosto e olha para o alto. O céu não estava tão estrelado quanto a alguns dias atrás, mas ainda assim, parecia bonito. Contudo, meus olhos vagueiam pelas luzes da cidade. Do topo daquela estrada deserta, podia ver e confirmar como Londres era grande e as pessoas pequenas demais. A diversidade estonteante e quantidade de prédios espalhados por todas as ruas ainda me roubava o fôlego.

Solto uma risada fraca e dou alguns passos para frente, encantada demais com a visão simples, porém, uma das mais bonitas que havia me deparado. Gostaria de uma foto para enviar um cartão postal para meus pais. Mamãe gostaria de ter essa vista, ao menos uma vez em sua vida. Ela adorava o dia, no entanto, era incondicionalmente apaixonada pela noite por ser quando todas as luzes se acendiam. Quando eu e meu irmão ainda éramos crianças, uma vez na semana, nos deitávamos em uma toalha estirada no gramado do quintal e observávamos as estrelas. 

Foi assim que aprendi a encontrar beleza até mesmo na escuridão.

Solto minha respiração, vagarosamente, e posso sentir meus lábios um pouco mais sensíveis pelo frio que sentia. A jaqueta de Danger era quente e grande o bastante para me aquecer, mas a noite estava realmente gelada, mais do que poderia imaginar quando sai da universidade vestindo roupas leves.

— Aqui. Beba isso. — desvio o olhar de todas as luzes que ainda me encantavam e surpreendo-me com a garrafa térmica estendida em minha direção.

— Oh... Eu-Eu... — apanho a garrafa em minhas mãos e encaro-a ainda sem compreender. — Obrigada por isso. 

— Dulce fez chocolate quente para Destiny e enviou um pouco para você. — murmura e olha para frente. 

— Entendo. — eu entendia, mas, ao mesmo tempo, minha mente gritava tantas coisas que não poderia pensar em qualquer outra coisa para dizer, racionalmente. — Como elas estão?

— Bem. Ambas estão perguntando sobre você. — pigarreia e parece procurar por algo nos bolsos de seu jeans. — Destiny está enchendo a casa com dobraduras. 

Um riso sincero se perde no ar. 

Aquela criança poderia fazer qualquer coisa que desejasse, mas, assim como eu encontrei uma distração nas dobraduras, ela também. Talvez fosse essa a sua maneira de não se sentir tão sozinha. 

— Diga a elas que já estou com saudades. 

— Você mesma pode dizer. — o moreno leva um cigarro aos lábios e ainda sem me olhar, o acende rapidamente. — Quero dizer, você tem um celular e pode visitá-las quando quiser. 

Sua fala não poderia ser melhor. 

Meu coração automaticamente se aquece, assim como minhas bochechas e orelhas. 

— Irei me lembrar disso. — sorrindo, ergo a garrafa térmica aos meus lábios e beberico um pouco do liquido quente e doce, aprovando de imediato o sabor delicioso. — Não quer?

De canto, Danger olha-me e nega com a cabeça, voltando a tragar naturalmente o seu cigarro. 

— Estou bem. — pontua. 

Em silêncio e sob rajadas intensas de um inverno ainda distante, observamos a beleza que existia abaixo de onde estávamos. Um lugar que, no meu íntimo e secretamente, torcia para que essa fosse a primeira vez que ele estivesse mostrando essa visão bonita para alguém.

— Danger?

— O que?

Não desvio meu de toda a cidade. 

— Obrigada. Por tudo.

Ele não me dá uma resposta. 

Eu não precisava de uma. Queria apenas que ele soubesse que sou verdadeiramente grata. Por muitas coisas.

Os minutos correm depressa, porém, evitei verificar as horas no relógio, ainda que soubesse que já estava tarde, meus olhos pesavam e o cansaço amolecia meu corpo. Em algum momento, me abaixei e me sentei no chão, sem me importar de ter algumas marcas de sujeira em minha roupa. Não queria transparecer a sonolência, pois ansiava por alguns minutos perto dele.

Do homem que não dizia uma palavra sequer, mas estava presente, bem atrás de mim, encostado em sua moto. 

Esfregando as palmas das mãos uma na outra, formo uma concha e levo-as aos lábios, soprando dentro delas para aquecê-las. 

— Você deve estar cansada. — sim, eu estava. — Devemos ir, está tarde. 

Não queria ir a lugar algum.

Poderia ficar sentada, quieta e sem me mover até o amanhecer.

Mesmo que meu corpo lutasse contra esse pensamento. Eu faria algum esforço, desde que ele continuasse ali. 

— Tudo bem. — ergo-me com dificuldade, meu corpo estava mais fraco do que podia imaginar. 

Limpando minhas peças de roupas e ajeitando a jaqueta em meus ombros, caminho até onde dele estava, mas antes que pudesse chegar próximo a moto, meus passos vacilam assim que meu pé direito pisa em uma pedra, levando-me a torcer razoavelmente o tornozelo. Pensando que fosse cair e conseguir alguns arranhões, braços fortes enlaçam minha cintura e me colocam de pé.

Minhas mãos agarram o couro firme do colete do motoqueiro, enquanto meus olhos arregalados percorrem o seu peitoral firme, o pescoço brevemente exposto. O queixo bem desenhado, a barba rala e para nos lábios cheios. 

Sua boca era tão... Macia. Conseguia me lembrar do dia em que a toquei.

Meus batimentos cardíacos saem do compasso e passam a encontrar uma nova forma de quase explodir meu peito. 

Discretamente, balanço a cabeça para afastar os fios escuros que cobriam um pouco do meu rosto, incapaz de soltar o seu colete. O que me faz engolir a respiração seguinte é sentir dedos ásperos roçarem minha pele enquanto, em um movimento sutil, o moreno afasta o cabelo que me incomodava e coloca-o atrás da minha orelha esquerda. 

Meus olhos estavam nos seus. Seus olhos estavam nos meus. 

Ele parecia estar pensando em tantas coisas. Eu pensava apenas em uma. 

Gostaria de poder tocá-lo.

Sua respiração quente sopra em minha face. Meus cílios batem sem a menor pressa. 

Um centímetro, no máximo um e meio. Era a distância que nos separava. 

Como deve ser a textura dos seus lábios?

Um celular tocando faz com que sejamos jogados bruscamente de volta a realidade.

Os braços que me deram apoio soltam meu corpo e as mãos que seguravam firmemente o couro escuro caem, sem forças para puxá-lo para mim. 

Será que, por algum momento, ele pensou em me beijar?

Oh, Deus!


Notas Finais


O próximo capítulo será mais um bônus do Zayn, mostrando a realidade dele com o clube, também seu ponto de vista sobre a Faith. Bem, é isso. Nos encontraremos em breve.
Se cuidem. Beijos no coração, tesouros!

Dente de Leão: https://www.spiritfanfiction.com/historia/dente-de-leao-10252534
Equilíbrio: https://www.spiritfanfiction.com/historia/equilibrio-10631445

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