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História Palavras não ditas (em correção) - Parte II - Capítulo IV


Escrita por: Kirilov

Notas do Autor


Dando continuidade.

Alguns esclarecimentos: Todos os capítulos estão sendo tensos, eu sei. Mas isso é porque ele está narrando apenas as coisas mais PAH! Porque ele precisa explicar o que o fez chegar no ponto em que chegou. Então não faz sentido perder tempo narrando os dias mamão com açúcar. Ele conta o que foi tenso demais, ruim demais ou bom demais. Só o que foi demais. Adianto que esse capítulo está uma drama só, já na primeira linha vocês vão saber o que aconteceu com a mãe dele, num primeiro momento pode ficar confuso, mas o capítulo aos poucos vai se explicando. Para ajudar, informo que esse cap se passa 8 meses apos o capítulo anterior. No capitulo anterior eles estavam há 4 meses juntos, certo? Pois bem, nesse eles estão completando um ano de namoro. Não sei se naturalmente vocês vão se colocar no lugar da Sakura ou do Sasuke, peço que se coloquem no lugar dos dois para entender melhor o que está acontecendo ou o que aconteceu, é importante que analisem pelos dois lados. Bom, chega de explicações. Leiam e tirem suas conclusões. Eu demorei mais do que o normal para escrever, peço desculpa por isso, mas é que demorei nas últimas falas do Sasuke, vocês vão entender o porquê, ou não shaushaushuahsu, não sei, mas foi difícil para eu escrever o que ele queria falar e descrever como estava se sentindo. Mas...... a boa noticia é que acabei emendando o próximo capítulo, então ele está quase pronto, e será um daqueles que ele vai narrar porque foi um acontecimento muito bom... A primavera vem ai. Animem-se, nem tudo é só tristeza e drama na vida do Sasuke.

Ok. Boa Leitura e ignorem os inúmeros erros, porque gente, comecei escrever isso há umas duas semanas, na 6 vez que peguei para ler já estava atropelando tudo. Passo o olho e meu cérebro ler a palavra que eu gostaria de escrever e não a que realmente escrevi shaushauhsuahsuahsuhaushauhs. Enfim...

Capítulo 16 - Parte II - Capítulo IV


  Um tiro contra a própria cabeça... Sangue para todo o lado... As manchas e o teu corpo sem vida sobre a cama, não saiam da minha cabeça. Eu encontrei você, tinha de ser eu, não é? Tinha de ser eu a suportar aquela cena. Tinha de ser eu... Eu fui te visitar porque há semanas não fazia isso e o que encontrei...

Depois de sair da casa que havia sido o meu lar quando criança, dirigi de forma automática e quando dei por mim, já estava nos braços de Sakura. Preste atenção que, muitas coisas poderiam ter acontecido por eu dirigir estando tão confuso e atordoado, mas nada aconteceu, nenhum acidente, nenhum caminhão acertou o meu carro em cheio, nenhum capotamento... Nada, eu cheguei ao meu apartamento com vida e sem nenhuma ferida física. A voz e o cheiro dela me serviram de tranquilizante, mesmo assim, não queria sentir. Não queria amar.

 Ao final das contas eu consegui acabar com toda a minha família. Apesar de tudo, você o amava. Nunca superou o que aconteceu. Mas, agora eu entendo o amor doentio que você sentia. Agora eu entendo como você ainda era capaz de amá-lo, mesmo ele tendo traído você tantas e tantas vezes. Mesmo tendo traído você na nossa casa...

 É triste que tenhas buscado o fim. Não te culpo. Nunca culparei. Porque a culpa cabe só a mim. Minhas mãos sempre estiveram sujas.  Mas a tua morte me fez cair num buraco sem fim. Foi o meu precipício definitivo. Perdi todas as esperanças. Nem Sakura aguentou a minha situação por muito tempo.

 Nas primeiras semanas ela se manteve ao meu lado. Colocou na cabeça que tinha que cuidar de mim. Eu passava o dia inteiro no quarto. De boa vontade não levantava para nada, não sentia necessidade e nem vontade de viver.

 Apesar de toda a minha indiferença à vida, todo dia, pela manhã, Sakura me fazia comer alguma coisa. Quando chegava do estágio me empurrava para tomar banho e novamente me fazia comer. E a noite, sempre que voltava da faculdade, se juntava a mim na cama e massageava meu cabelo. Não falava nada, porque sabia que nada que pudesse falar me ajudaria.

Sakura se esforçou, era visível que estava tentando me puxar daquele mar de tristeza e pessimismo. Mas não obteve sucesso, porque a minha tristeza não era passageira e, de certa forma, eu não queria ajuda. Queria Sakura ao meu lado, isso eu realmente queria.  A presença dela era o que tornava tudo menos doloroso. O problema foi que acabei arrastando-a junto de mim para o fundo do poço.

 Conforme os dias passavam, ela se parecia mais comigo. Andava triste e cabisbaixa. No segundo mês já não acordava tão disposta a tentar me fazer tomar café da manha. Às vezes, a noite, ela saia do banho com lingeries provocantes e um cheiro atrativo por pensar que isso me animaria, mas eu não dava muita atenção.

Não era sempre que eu a recusava, vez ou outra, fazia o que tinha que fazer, apenas para não ouvi-la choramingando na madrugada. Eu a amava e a queria comigo. Achava ela linda e extremamente atraente. Mas eu literalmente não tinha vontade de fazer nada. Nada. E foi no nosso aniversário de namoro que ela despejou como estava se sentindo.

 Naquela noite, Sakura chegou mais cedo da faculdade e deu de cara comigo deitado de bruços, uma mão sobre a cama e a outra caída, os dedos deslizando lentamente pelo piso de madeira. Eu fitava o chão, mas os meus pensamentos estavam longe. Eu me perguntava o porquê de você ter feito aquilo. Ainda não entendia. Não me conformava. Não aceitava.     

- Sasuke... – chamou-me ao se ajoelhar ao lado da cama e repousar a mão sobre o meu rosto amassado – Hoje é o nosso aniversário de namoro. Um ano. Você não esqueceu, não é? – eu não respondi. Eu nem sabia em que dia do mês estávamos, se era quarta ou quinta, verão ou outono, se lá fora estava quente ou frio, não fazia a mínima ideia. – Estou preparando aquele macarrão com molho dois queijos que você adora. Vamos comemorar assim, tudo bem? – mais uma vez ela obteve o silêncio como resposta. Meu estômago nem se quer embrulhou ao ouvi-la falar do famoso macarrão que eu fingia adorar – Você pode ficar comigo na cozinha até a comida ficar pronta? 

 Eu Levantei da cama com a ajuda dela, não que eu precisasse que Sakura me desse apoio, tinha total condições de me colocar e me manter de pé, mas ela sempre ajudava segurando o meu braço.

 O fato de eu estar apenas com uma calça de moletom fez Sakura sorrir, ela sempre sorria quando me via sem camisa. Mas o sorriso morreu em seus lábios quando, sem dar muita atenção a ele, eu me direcionei para a cozinha. 

 Sentei e apoiei meus cotovelos sobre a bancada. Os pratos e talheres já estavam postos e também uma garrafa de vinho e taças. Sakura veio em seguida. Observei-a preparar o macarrão, aparentemente não fazia nada de muito errado que justificava o gosto final do prato. Não demorou muito para ela terminar. Serviu a nós dois. Teve dificuldade em abrir a garrafa e num ímpeto ajudei-a. Era um merlot que eu tinha adquirido em uma das minhas viagens.

- Esse é o melhor vinho que tenho – informei sem segundas intenções. Foi apenas uma constatação. Mas Sakura não entendeu dessa forma. Afobou-se e começou a se explicar.

- Desculpa... desculpa. Eu não sabia. Eu peguei qualquer um do armário. Não sabia que...

- Não tem porque se desculpar. – cortei – É o nosso aniversário, certo? – ela meneou a cabeça, afirmando – Fez bem em pegar esse. Experimente. Você vai gostar. 

 Ela experimentou e gostou. Tomou mais de duas taças, parecia que sua intenção era ficar bêbada e conseguiu. Sakura sempre foi fraca para bebidas, embebedava-se até com suco de uva. De qualquer forma, eu não tentei freá-la. Deixei que se embriagasse. 

 Quando terminamos de comer, ela agarrou meu braço e saiu me puxando em direção ao quarto. Empurrou-me na cadeira que deixávamos próximo da janela.

- Está pronto para receber o seu presente? 

- Eu não quero presentes, Sakura – fui sincero. 

- Esse você vai querer. Espere só alguns minutos.

 Em seguida, ela me deixou e entrou no banheiro. Passou alguns minutos lá dentro. Esperei impacientemente. Quando já estava prestes a levantar e ir até lá, verificar se ela estava bem, ela saiu, vestida com um tipo de roupa que nunca havia usado antes. Não era bem uma roupa. Estava com um sutiã preto de renda que deixava transparecer seus seios e uma calcinha também na cor preta com ligas que se prendiam as meias 7/8 que usava.

 Ela veio até mim, um pouco cambaleante. Sentou no meu colo e espalmou a mão direita no meu peito. Movido por uma força maior, deslizei meus dedos pelo fio delicado da sua meia, mas ela prontamente afastou minha mão das suas pernas.

- Você não pode me tocar. Só eu vou poder tocar em você. – informou, antes de enfiar sua língua na minha orelha.

 Eu não entendi aquele jogo e isso me deixou desconfortável. Estava óbvio o que ela queria e eu estava disposto a agradá-la. Já estava excitado. Então por que não poderia tocá-la?  Não era exatamente isso que ela pretendia com aquela roupa?  Parece que não.

O jogo seguiu. Ela levantou e se colocou atrás de mim. As mãos desceram pelos meus ombros, enquanto mordiscava meu lóbulo e me deixava cada vez mais duro. Não satisfeita, voltou a sentar no meu colo, dessa vez de costas para mim. Remexeu-se sobre a minha ereção me deixando completamente impaciente. E foi a impaciência e a incompreensão que me fizeram tocá-la. Sim, eu fiz o que não podia fazer. Passei meu braço em torno da cintura dela e a puxei para junto de mim. Invadi a calcinha pequena sem rodeios e mergulhei dois dedos dentro de Sakura. A brusquidão com que fiz isso não a agradou. Ela Segurou minha mão e tentou tirar meus dedos de dentro de si. 

- Você quer que eu te foda, não é?  Então porque não me deixa fazer isso de uma vez? – mergulhei mais os dedos enquanto ela ainda tentava se livrar deles. Eu não sei, mas estava irritado. Sakura não conseguiu o efeito desejado sobre mim. Eu estava com raiva de tudo e descontei apenas nela. Eu me odiava por ter a maior parcela de culpa no que aconteceu e descontei tudo em sakura e na sua vontade estúpida de tentar me ajudar. – Você acha que foder você vai me ajudar a esquecer o que eu vi, Sakura? Você acha que pode me ajudar assim? 

 Finalmente ela conseguiu fugir do meu agarre. Na tentativa de se afastar de mim, caiu perto da cama. Do chão olhou-me com os olhos marejados e naquele momento eu percebi que tinha jogado todos os meus esforços no lixo. Não me orgulhei de ter dito aquelas palavras para ela, na verdade, arrependi-me amargamente. Mas estava feito. Eu não poderia voltar no tempo, nem me desculpar. Pedir desculpas não resolveria, eu vi pela forma que ela me olhou que estava profundamente magoada.

- Não comprei essa roupa ridícula para tentar animar você, Sasuke. Eu comprei por mim. – vociferou, nenhuma lágrima caiu, ao contrário do que eu esperava, ela respirou fundo e ergueu o queixo – Eu queria que você me desejasse. Você tem me feito sentir-se a criatura mais feia e indesejável do mundo. Não importa o que eu faça, não importa o que eu use, porque nas raras vezes em que você me toca, é assim, com uma única finalidade: fazer-me chegar a um orgasmo o mais rápido que conseguir. Como se fosse uma obrigação. Estou cansada disso, estou cansada do seu estado e de como está me contagiando. Eu... Eu nem sei quando foi à última vez que você me beijou... Preciso ser amada Sasuke, preciso me sentir amada.

- Me desculpe – pedi mesmo sabendo que de nada adiantaria, ela tinha chegado ao limite.

- Não. Eu não vou desculpar. Para você deve ser fácil me magoar, porque você pensa que depois é só pedir desculpa e tudo estará bem. Só que eu não estou aguentando mais isso, Sasuke. Você tem que reagir. Você precisa reagir. Já faz 3 meses que ela morreu! 3 meses! 3 meses que você se enfiou nesse quarto e parou de viver. Eu entendo que esteja sofrendo, mas não pode continuar assim. Você abandonou a faculdade e deixou Itachi sozinho cuidando da empresa que é de vocês. Ele está lá, lutando pelo o que a sua família construiu. Ela também era mãe dele, mas ele está lá Sasuke, vivendo...

- Isso. Continue dizendo o quanto ele é melhor que eu. Como ele está lidando com tudo. Estou muito interessado em ouvir.

- Você realmente está muito interessado em ouvir, não é? – riu da própria pergunta por longos segundos. Uma risada alta e sarcástica. Incrédula. Eu nunca a tinha visto sorrir daquela forma. – ouvir... Outra coisa que você não tem feito. Ouvir-me. Eu fiz tantas coisas nesses 3 meses. Assinei meu primeiro projeto, depois o 2º e o 3º. Você sabe o que projetei Sasuke? 

- Não Sakura. Eu não sei.

- É engraçado porque foi você a primeira pessoa a quem eu contei. Então, como não sabe?

- Eu simplesmente não sei – respondi. Eu realmente não sabia. Ela deveria ter me contado em algum momento, mas eu não lembrava. Para ser sincero, eu não andava prestando atenção no que ela falava.

 Ela levantou e entrou no closet. Fui atrás dela para ver o que faria e a vi colocar um vestido e um casaco fino. Também pegou uma mala pequena que deixava em um dos armários e começou a despejar roupas dentro dela. 

- Pare de fazer isso. Está tarde, vamos dormir.

- Eu fiquei tão feliz. – disse enquanto enchia a malinha – Tão feliz... Eu projetei coisas. Dimensionei uma armadura. Eu assinei um projeto Sasuke.  Eu assinei. Um projeto simples. Ainda assim, um projeto. Com o meu nome, executora: Sakura Haruno. Eu imprimi várias cópias e distribui para todos aqueles a quem contei a novidade. Menos a você, é claro, porque você nem se quer me perguntou do que se tratava. Já Itachi, ele me perguntou todos os detalhes, quis saber como consegui fazer um projeto de concreto armado mesmo sem ter tido essa matéria ainda, e guardou com carinho a cópia que entreguei a ele.

 A comparação me deixou extremamente irritado. Cerrei o maxilar e os punhos para controlar a raiva que ameaçava enegrecer o meu coração. Eu vinha cumprindo com louvor a minha promessa, mas não consegui me manter indiferente ao que ela estava falando. Minha vontade era exigir que Sakura se calasse. Mas não fiz isso.

- Ele também quis uma cópia dos outros 2 projetos. Estão lá guardados na sala dele, num lugar especial. Você pode ficar irritado Sasuke, por enquanto eu não vou me importar. Quero deixar claro para você que toda a atenção que você não tem me dado, Itachi está dando. Eu não deveria falar isso, eu sei. Mas estou bêbada mesmo, posso falar o que eu quiser. Depois entro no banheiro e choro enquanto tomo banho como venho fazendo todos os dias.  Vou me arrepender disso, mas é a verdade. Eu sou uma tola e estou completamente carente do seu amor. Sou uma péssima pessoa. Eu sei que sou. E é por isso que vou embora. Não posso continuar com você. Não posso mais viver assim. Você está morrendo aos poucos e eu fiz tudo que poderia fazer, mas não posso continuar tentando, porque não tenho mais forças. Preciso ficar com alguém que me ame de verdade. Preciso me afastar de você e voltar a sorrir.

 Dito isso, ela fechou a mala e passou por mim. A fachada de imponente desfeita, lágrimas ameaçaram cair dos olhos verdes. Meus pensamentos estavam conturbados, mesmo assim, consegui me mover e fui atrás dela. Alcancei seu braço quando estava prestes a sair do quarto. Tirei a mala das suas mãos e fechei a porta atrás dela.

- Se você for, eu... – muitas coisas se passaram pela minha cabeça. Já havia reprimido a raiva e agora só o que me afligia era a possibilidade de perdê-la. Eu nem se quer pensei de quais formas Itachi estava dando atenção a ela. Só pensava que, além de perder você, eu também a perderia.

– Você o que? O que você vai fazer Sasuke? – Perguntou deixando a primeira gota salgada cair e eu desisti de ameaça-la. Não poderia fazê-la sofrer mais. Não tinha esse direito.

- Nada, meu amor.  Eu não vou fazer nada. Eu gostaria de fazer muitas coisas e de lhe dizer muitas coisas. Mas, sei que, com o que quero fazer, não atingirei meu objetivo e o que quero dizer são só mentiras. Veja bem... Não. Não... Apenas escute o que se passa na minha cabeça doente. Você acredita que agora mesmo, o meu desejo é me jogar aos seus pés e implorar que me ame? Eu quero estrebuchar no chão como uma criança mimada e em pranto suplicar a sua misericórdia. Mas não o faço, porque não quero lhe atingir e nem comover. Eu sei...Eu sei que você se comove fácil. E se eu fizer isso, talvez você me erga do chão e também em pranto, me diga: Não precisa suplicar, o meu amor é seu. E sabe o que aconteceria depois, Sakura? Sabe?  Eu atenderia aos seus desejos secretos, você se sentiria desejada; pois, nos beijariamos e nessa cama eu faria você chamar por mim, isso me daria a impressão que você precisa de mim tanto quanto eu preciso de você... Mas, no fundo, eu sei que estaria me enganando. O que quero dizer é que da minha parte teria amor e uma necessidade imensa de te manter ao meu lado, mas da tua, apenas compaixão. E isso não me interessa. Porque eu nunca quis apenas o seu corpo nem, se quer, a sua pena. É o seu coração que eu quero, a sua alma, os seus pensamentos, pode não parecer, mas quero ser aquele que te faz rir, quero ouvir o que você tem para dizer, quero saber as frivolidades do seu dia, quero ser seu confidente e não apenas um amante. No momento, não estou podendo te dar isso e , por esse motivo, não posso aceitar querer ser menos. Não. Não é que eu não aceite. Entenda... Eu me sentiria satisfeito com qualquer coisa vinda de você; mas, tem a ver com o que eu quero ser para você. Eu não quero mais ser egoísta. Eu venho tentando não ser. E é apenas por isso que agora mesmo não me lanço no chão, diante de ti. Bom, Mas isso é o que eu realmente faria.  No entanto, foi com receio que você me perguntou e isso sugere que espera de mim coisa pior. E eu também espero de mim coisa pior, porque passou pela minha cabeça dizer que me jogaria, não aos teus pés, mas, daquela janela, aquela ali que você conhece bem.

 Apontei para a janela do quarto. No entanto, Sakura não seguiu o trajeto do meu dedo. Ao invés disso, escorregou pela porta onde agora estava encostada e sentou no chão. As pernas se dobaram diante do corpo e ela as abraçou com força. Encostou a testa nos joelhos e chorou de forma desesperada. Eu continuei, não por achar que deveria me explicar melhor, mas porque a confusão que se instalara em mim já havia corrompido todo o meu bom senso. 

- Eu diria, Sakura, diria a você sem ressentimento algum que preferiria a morte a uma vida em que você existe e não me ama. Eu ameaçaria me jogar só para te fazer minha refém. Eu me contentaria, não sentiria dor alguma, porque ter você ao meu lado, mesmo que por esses motivos, deixar-me-ia confortado. Mas e os seus sentimentos? Voltamos a questão que tem me impedido de ser egoísta: O que eu seria para você se fizesse isso? Exatamente esse louco que você pensa que eu sou. Ah... mas não se preocupe com essa possibilidade. Não Tema, porque seria tudo mentira. Se eu, ainda essa noite, falar que vou me suicidar por não ter o teu afeto, não acredite, porque é mentira. Eu não tenho a mesma coragem que a minha mãe, sou um covarde. Se fizesse isso, seria apenas para chamar a sua atenção.  A morte é o meu segundo maior medo, o primeiro você sabe qual é, estou vivendo ele, nesse momento, está destroçando meu coração. O medo é o pior sentimento que pode existir, ele nos congela, não é? Sinto meu peito sendo esmagado e as minhas pernas paralisarem.  Ahhh, essa sensação é horrível. Você está puxando o que me mantem vivo, sinto que já puxou, completamente. Já não há amarras entre nós, só um buraco no meu coração. Mesmo assim, Você não precisa temer o que eu vou fazer. Pois, eu não vou fazer nada.  Absolutamente nada. Na verdade, vou ficar aqui, vou voltar para a cama. Vou voltar a morrer aos poucos, como você mesmo disse. Voltar a ser um porco num chiqueiro. É isso o que eu vou fazer.  Nada que você precise temer.  Nada que seja digno de pena. Então, não precisa se preocupar. Esse é realmente o fim. Nós acabamos aqui, com você ignorando a minha dor e reclamando da minha falta de atenção, como se nunca tivéssemos passado de meros amantes.  Tenho essa impressão, que fui para você apenas um amante. Então nada mais justo que seja assim. Eu mereço isso. Realmente mereço.

  Ela chorou e soluçou ainda mais, e eu não soube por que tantas lágrimas caiam dos seus olhos. Ela que estava acabando comigo e ela quem chorava.

 Segurei minha testa tentando conter e organizar os pensamentos, os pensamentos que me invadiam em enxurradas. A artéria temporal pulsava de forma tão compulsiva e exagerada que por segundos temi que minha cabeça explodisse.

  Um soluço alto vindo da mulher chorosa me trouxe de volta a realidade. 

- Eu... Eu tentei, Sakura.  Eu estava mesmo tentando. Desde aquele dia que você me fez prometer que não mais sentiria raiva e nem desconfiança.  Desde aquele dia. Escute bem.... Desde aquele dia, eu não demonstrei que sinto raiva. Mesmo sentindo-a. Está adormecida, ainda assim, ainda vive em mim. Você percebe, consegue sentir o ódio que emana de dentro de mim? Ele está aqui dentro, em guerra com o amor que sinto por você. Mas observe que eu não o deixo escapar, eu não deixei... O mantenho preso aqui dentro. Nas profundezas de quem sou. Porque você me pediu. Já a desconfiança, eu me livrei dela, eu havia me livrado dela. Sinto ciúmes agora, porque você fez questão de me colocar em uma posição de inferioridade. Sakura, eu perdi a minha mãe, eu a amava e não quero ouvir o quanto Itachi lida com tudo melhor que eu, não preciso que você me compare a ele. Eu sei que a minha reação ao seu presente foi odiosa e que mereço sua retaliação pelo que fiz. Mas, pense em todos os meus esforços, não deixe que nada tenha valido a pena.

   Saí de onde estava e sentei ao lado dela, no chão. Sakura virou o rosto e mesmo sem ter sua atenção, prossegui:


 

 – Não brigávamos mais.  Estou aqui forçando a memória para me lembrar de qualquer briga que tenhamos tido nesses últimos meses. Eu não consigo pensar em nenhuma. E estou começando a duvidar das minhas próprias lembranças. Parece que nada do que vivemos foi real, eu tenho a impressão que não. Estive numa ilusão? Porque, Sakura, eu não consigo entender.  Fora o que aconteceu hoje. Depois que prometi que confiaria em você, nós só brigamos duas vezes, eu tenho sido bom para você. Interrompa-me se falar alguma besteira, porque, veja bem, realmente já não sei se minhas lembranças são de acontecimentos reais. Você brigou comigo no dia seguinte que saiu do hospital, quando percebeu que eu não tinha deixado comida para o gato. Mas gatos são espertos Sakura, e esse que a gente tem também é esperto. Ele não morreu de fome. Nem vai morrer. Diferente de mim, ele sabe se virar sem você. E fora o gato, a outra vez que brigamos foi quando você deixou migalhas de pão na cama. Migalhas de pão... –  ela às vezes era bagunceira e lembrar-se disso me fez rir, mesmo não tendo certeza daquele pensamento, eu ri ali, ao lado dela, enquanto ela chorava – Você sabe que eu odeio bagunça, não sabe?

 

 Ela balançou a cabeça afirmativamente. O movimento fez com que Algumas lágrimas se desprendessem e chegassem ao chão onde formaram minúsculas poças.

 

 - Mas você comeu pão em cima da cama... – provoquei com diversão, estava realmente agindo como quem não tem noção do que acontece. Numa tentativa frustrada de me convencer de que aquele não era o nosso fim e que tudo acabaria bem ao final das contas. –...E as migalhas estavam por lá de qualquer jeito. Como se não se importassem com as leis da natureza. Mas você nunca mais fez. A não ser nas vezes que trago o seu café na cama porque você acha isso romântico e eu faço qualquer coisa que te agrade. Bom... Você já não deixa nada cair. Come com cuidado sobre a bandeja. Aquela bandeja verde limão horrorosa... é realmente horrorosa e sabe qual a primeira coisa que me vem à cabeça em seguida da palavra horrorosa? – ela não respondeu. Não me olhava e isso tinha lá o seu lado bom – O seu macarrão. Ele não é nada delicioso, mas eu o como mesmo assim, com um sorriso no rosto, então me diga...

 

  Arrastei-me até diante dela. De joelhos na sua frente, lhe segurei o rosto e fiz com que me olhasse nos olhos. Sua tristeza era palpável.

  – O que mais é preciso? Responda-me. Pois tenho a sensação que já fiz tudo que poderia fazer e mesmo assim não foi suficiente. Eu faço tudo o que você quer, eu atendo todos os seus pedidos, eu me moldo a sua maneira – enquanto eu listava todos os meus esforços para agrada-la. As mãos dela vieram até as minhas e tentaram me afastar, mas não deixei. Mantive seu rosto preso e forcei que me olhasse até eu terminar de falar – Eu não entendo, preciso que me explique. Você disse que estava disposta amar quem sou e quem posso ser. Mas me fez lutar contra mim mesmo para ser aquilo que você espera. Esperar é ter esperança. Você tem esperança que algum dia eu mude. Eu já mudei, já mudei Sakura. Não sou mais o mesmo. Tive de agir contra meus instintos.  Tive de ser o homem que você quer e precisa e acabei me acostumando com esse homem. Agora eu o sou. Você me adestrou. Posso ser bom para você. Tenho sido bom para você. Sakura... – ela fechou os olhos indicando que já não aguentava mais me olhar. O fechar das pálpebras fez com que mais lágrimas caíssem – ... Apague esses 3 meses da sua cabeça e vai notar que falo a verdade. O ódio está adormecido. Então, volto a perguntar: O que mais é preciso? O que mais é preciso para que você me ame?  Por favor, diga-me, diga-me o que preciso fazer, diga-me, posso abrir mão de tudo, apenas me peça, fale o que é preciso e eu... – ela me cortou:

- Nada. Não a nada que você possa fazer.

- Por favor, Sakura... – tinha dito que não imploraria, mas acabei implorando e isso a fez chorar mais. Ela apenas chorava. Chorava e chorava e chorava e apunhalava meu coração, pois suas lágrimas doíam mais em mim do que nela propriamente.  - ... Por favor, diga-me o que devo fazer. Pelo menos me mostre um caminho. Você sempre falou da beleza que existe além do que se pode ver. Consegue ver alguma beleza nisso? Consegue enxergar além dessa dor que estou sentindo? Existe uma saída para mim?  Se sim, eu imploro, mostre-me. Ensine-me a amar a realidade.

- Não há beleza na dor. Não posso vê-la porque já não sou apenas expectadora dela. Algo aconteceu Sasuke. Algo que não sou capaz de amar. Não é que eu não te ame, a verdade é que me sinto culpada. 

 Eu tive de deixar escapar um sorriso, porque eu já sabia que ela não era capaz de amar a vida integralmente. Ela se sentia culpada por toda a dor do mundo. Era misericordiosa demais.

- Não. A verdade é que você nunca foi capaz de amar a dor. Você se compadece de quem sofre. Você não suporta ver a maldade nem o tormento. Você tenta se livrar deles. Você tenta minimizar a tragédia, porque na verdade, és extremamente piedosa e complacente. Você diz que ama uma árvore seca e sem frutos. Mas uma árvore seca, na realidade, é bonita. Até o seu exemplo é falho. É fácil gostar de flores mortas, pois flores não sentem dor. Você percebe onde está o erro? Todas as coisas que você diz, não passam de filosofia, Sakura. Você acredita nessas ideias. Mas elas não são suas. Você nunca foi capaz de amar o destino. Você está de peito aberto, apenas por querer abraçar o mundo, mas os seus braços são pequenos e delicados. E... Bem, eu. Eu os amo assim mesmo. Eu amo você exatamente da forma que você é, não importa que queira me abandonar, porque eu também sei que errei, mas...mesmo assim, mesmo que não dependa de mim, eu sinto que amarei você por toda a minha vida, eu já disse que fui marcado.  Eu amo você com todas as suas contradições e fragilidades. E Se há algo que você não é capaz de amar e é isso que está te fazendo sofrer tanto, não se preocupe, eu o amarei por você. Posso fazer isso. Eu posso. É o que farei. Amarei aquilo que você não é capaz de amar.

- Não Sasuke, você também não pode. Porque é a mim que já não amo. E é exatamente a mim que você não deve amar. Porque no final das contas sou eu que não sou boa para você. Eu sou estúpida e insignificante e... – mais lágrimas e soluços – ...e imunda, suja...  Eu sou horrível, Sasuke. Horrível, cruel... Tudo isso é porque me sinto culpada, no fundo não tem nada a ver com você, estou arrumando desculpas, é o que estou realmente fazendo, arrumando desculpas para o meu erro. Mas se quer saber, também está doendo em mim. Também sinto meu peito sendo esmagado.

- Não fale besteiras. Eu amo você. É só o que eu faço. Sei que sou o causador de tudo isso.  É justo que me pinte como o próprio diabo, porque sei que é por minha causa que você já não consegue amar quem é e que são os sentimentos que tem por mim que te fazem odiar a si mesma. Também sei que são as minhas mãos imundas que fazem você se sentir suja. Sou mesmo repugnante. Culpe apenas a mim, você é muito boa, meu amor, muito boa.

-  ... Eu... Eu... – estava inconsolável, poderia facilmente afogar-se em suas próprias lágrimas – Eu... Eu não consigo... Será mais fácil para nós dois se eu deixar você. Preciso que me deixe ir e que me esqueça – pediu antes de encostar novamente a cabeça nos joelhos.

 Eu pensava que meu coração já havia sido esmagado o suficiente, mas descobri que não. Era um desconforto tão grande e angustiante que sentia nas entranhas que tive vontade de, com as minhas próprias mãos, rasgar o meu peito   e literalmente tentar arrancar aquele amor de mim. Dilacera-me até não sobrar nada, até não restar nenhuma parte que a amasse. Atear fogo contra o meu corpo e esperar que todo aquele maldito amor fosse consumido pelas chamas. Sim, Incendiar-me seria o mais eficiente. Eu precisaria morrer para esquecê-la. E foi a ignorância dela em relação a isso que me deixou mais indignado. Sakura não podia simplesmente me pedir para esquecê-la.

- Você acha que eu posso esquecer? – dei voz aos meus pensamentos em tom claro o suficiente para ela entender – Como eu posso esquecer se eu te amo?! Como posso arrancar de mim esse amor miserável se ele está em tudo?! Em cada célula! Cada átomo!... Esse maligno amor é tudo que eu tenho. Não posso me livrar dele. Não tenho chances contra ele. Você pode me pedir para ir embora e eu vou deixar que vá. Mas não me peça para esquecer. Não me peça para esquecer os únicos dias em que fui feliz. Não tire isso de mim.

 Ao me ouvir, ela ergueu o rosto. Esfregou os olhos limpando todas as lágrimas e me fitou com afeto. Inclinou-se até mim e me abraçou com força. Foi uma sensação boa, não sei como explicar, mas abraça-la daquela forma fez o meu corpo experimentar coisas estranhas. Quase um calafrio, não, não foi um calafrio, não foi fugaz, foi intenso e duradouro. Pareceu que se a soltasse cairia por não ser capaz de suportar o meu próprio peso, foi como se eu voltasse a ser leve e livre de acusações, como se aquele fosse um encontro de almas e não de nada palpável e carnal.  Fechei meus olhos e me permiti ser confortado pela presença dela. Corri minha mão pelo seu cabelo e ele estava mais macio do que de costume. Temendo que aquele fosse o último abraço, senti todos os detalhes que eram dela, inclusive o cheiro de primavera francesa, parece abstrato, mas é a verdade, Sakura tinha uma fragrância impertinente, audaciosa, livre e, principalmente, viva e fresca. Tudo nela era espirituoso, harmônico, simétrico, carregado de perfeição. Tudo em mim era conflituoso, assimétrico, errado e repreensível. Mas, era assim que tinha que ser. Porque não veríamos graça nem veneraríamos a luz se não tivéssemos consciência da escuridão. É correto que existam os antônimos.  Completamente correto e necessário.

- Eu não quero ir Sasuke. Mas eu tenho que ir... Tenho que deixar você. Eu não quero. Perdoei-me... Eu quero ficar aqui com você. Eu não sei por que eu fiz, mas eu fiz. Preciso que me perdoe, porque eu não quero ir. Eu amo você.

  Soltei-a depois de ouvir seus murmúrios no meu ouvido. Seus olhos estavam tristes e suplicantes, como não era de costume.  Beijei-lhe todo o rosto e acomodei minha cabeça entre seus seios. Ficaríamos bem. Ela rodeou meu corpo com seus braços.  

- Não vá. Se você ficar eu prometo que procurarei ajuda. Eu vou onde você quiser. Prometo superar isso. Prometo reagir. Apenas fique comigo. Suporte mais um pouco. Eu vou ultrapassar essa angústia, mas preciso que fique ao meu lado, preciso de um motivo para fazer isso. Preciso ter algo pelo qual lutar.

- Você me perdoa? – perguntou depois de erguer o meu rosto.

- Pelo o que, meu amor?

- Apenas diga que sim. Diga que sim e eu ficarei. Diga que me perdoa e eu também me perdoarei.

- Sim – respondi antes de beijá-la. Realmente tinha muito tempo que não fazia aquilo. Reencontrar os lábios dela aquietou um pouco o meu coração. E finalmente senti que conseguiria suportar a tua ausência.


Notas Finais


Dúvidas, criticas, anseios e teorias: comentários. Estarei atenta a eles. Se rolou alguma confusão, só me perguntar, fico contente em explicar.
Não sei o que estão pensando do capitulo, então prefiro aguardar a opinião de vocês. Por isso, sem mais observações.


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