1. Spirit Fanfics >
  2. Palavras não ditas (em correção) >
  3. Capítulo I

História Palavras não ditas (em correção) - Capítulo I


Escrita por: Kirilov

Capítulo 2 - Capítulo I


  Desligo o piano e lanço um olhar ao relógio azul claro que teimo em deixar pendurado na parede da sala, demonstrando meu gosto esquisito por cores gritantes. Os ponteiros marcam 21:00 horas. Tenho permissão para tocar até as 22:00. Mas estou perdida, confusa e completamente sem ânimo. A faculdade, as provas, a crise financeira que meus pais estão enfrentando... Tudo, absolutamente tudo, está inclinado a me torturar. Eu sinto a perturbação na força. É como se estivesse sendo tomada pelo lado negro.

- Ok, talvez tenha exagerado na maratona de star wars – murmuro sorrindo, com a consciência de que estou falando sozinha, esse, afinal, é um dos meus fortes: falar sozinha.

  Ainda chove - isso me deixa nervosa -, e para piorar, a campainha toca, espantando meus pensamentos e fazendo com que meu corpo amedrontado dê um leve salto. Meu coração dispara assustado. Caminho até a porta em passos indecisos, com a dúvida martelando na cabeça a respeito de quem será a essa hora da noite. 

     Por que está com medo?

     Porque tem uma criatura na minha porta às 21:00 da noite, isso não é motivo suficiente para sentir medo?

     Não. Na verdade, não.

 Aqui estou eu, mais uma vez, em um dos meus diálogos internos. 

Abra logo, medrosa. 

 Suspiro, encarando minha mão que repousa receosa no trinco. Abro a porta vagarosamente, como se o suspense fosse ajudar em alguma coisa. Solto o ar com pressa, depois de perceber que estou prendendo a respiração.

- Oi... hm?...– Minha voz saiu falha e duvidosa. O cenho franzido com a surpresa.

- Sasuke. Sasuke Uchiha – fala o “visitante”.

 Eu sei o seu nome, é obvio que sei o seu nome, grita a vozinha na minha cabeça.

- Sakura – e ele também sabe o meu. Incrível, não? Tendo em vista que nunca me deu um simples bom dia para exercer a boa vizinhança e os bons costumes de um... hã?... colega de classe? – Eu posso entrar? – pergunta, num visível mal estar.

 Não. Claro que não!

  Meu completo silêncio faz com que ele dê as costas e comece a se afastar. Os dedos enroscados no cabelo, aparentemente nervoso. De repente, antes de eu conseguir forçar alguma palavra contra os lábios, ele vira e me encara. Olhos negros e raivosos. Raivosos?

- Quer saber, senhorita Haruno? – Senhorita Haruno? Ou ele é um jovem que fala como se tivesse 30 anos ou está sendo descaradamente sarcástico. A segunda opção parece mais plausível – Esqueça que estive aqui, você realmente é irritante e... – encara-me com desdém –  Não me olhe assim, com esse olhos... peculiares – peculiares? Ele acabou de me chamar de irritante e peculiar? 

Ok. Já chega. Quem você pensa que é para vir até a minha casa me insultar?

- Qual o seu problema, sr.Uchiha? – Touché, receba seu sarcasmo de volta. Tudo bem, eu poderia fazer melhor, mas não tenho o hábito de xingar e não conheço muitas palavras ofensivas.

Ele me olha incrédulo e ameaçadoramente dá dois passos em minha direção. Ok, talvez ele se ofenda com pouco.

- Qual o meu problema? – Pergunta com a cabeça inclinada num ângulo suave. Balança os braços no ar num claro sinal de indignação, antes de abrir a boca novamente para, provavelmente, me insultar – Você não pode simplesmente quebrar o cronograma! Entende o que estou falando, senhorita? 

Não. Não entendo. E pare de me chamar de senhorita!

 Ele desliza os dedos pelo cabelo, bagunçando ainda mais os fios negros. E incrivelmente parece escutar a voz na minha cabeça, porque sem demora, responde:

 – Ordem! É disso que estou falando. Todo dia você toca das 20:00 as 22:00. E hoje parou de tocar as 21:00 – gesticula freneticamente, enquanto fala como se eu fosse uma criança que precisa de toda demonstração do mundo para entender o que ele diz  – Ah, você realmente não é confiável. Eu não sei por que fez isso, mas precisa voltar para o seu piano e tocar até o horário certo. 22:00, não menos, não mais.

O quê?

 Meu desejo é gritar e fechar a porta na cara no "senhor" Sasuke idiota Uchiha. 

Respire fundo Sakura. Respire fundo... Ele não está agindo com sensatez.

 Eu tenho total direito de expulsá-lo da minha porta. Mas depois de contar até cinco mentalmente, sou acometida por um sentimento de pena. Ele parece... Atordoado. Exato, essa é a palavra, Sasuke está atordoado. Sinto-me na obrigação de ajudar, ou pelo menos tentar, por mais que ele não mereça.

 Eu e minha delirante vontade de ajudar o mundo.

- Oh! Então é isso? – finjo cordialidade, num tom mais de pergunta do que de surpresa propriamente – Então entre, por favor, entre. Irei tocar para você. Até às 22:00, como manda o cronograma. Ok? Por favor, venha, entre. – ele me olha abismado e eu diria até surpreso. Coloco-me ao lado da porta e dou espaço para ele entrar, caso assim decida.

Sasuke baixa a guarda e entra.

- Sente-se, por favor. Tem preferência por alguma música? – Pergunto

- Toque o que quiser, conquanto que não seja nada alegre – os olhos dele vagam por toda minha mobília colorida. Por fim, ele senta-se no sofá que é coberto pela colcha de retalhos que eu arduamente costurei mesclando tecidos que vão do verde limão, passando pelo rosa claro e gloriosamente acabando no azul ciano. Minhas cores favoritas, diga-se de passagem. 

 Observo cautelosamente as reações de Sasuke ao meu apartamento, e não me passa despercebido quando seus lábios se arqueiam num sorriso calculado e encantador, como se risse de uma piada interna. 

  Se eu tinha alguma dúvida a respeito da sanidade mental desse homem, ela foi esclarecida. Ele é completamente louco e muda de humor como eu mudo o meu status no WhatsApp. Isso porque, meu desejo é usar livros inteiros como citação, mas como não é possível, posto um trecho a cada três ou quatro horas.

  Dou passos firmes até o piano – a única coisa que tenho na cor preta – e o ligo. Decido tocar Cello Suite No. 1. Quase que instantaneamente o som se espalha pelo apartamento. O meu corpo se movimenta no ritmo da música, enquanto meus dedos freneticamente deslizam pelas teclas corretas. Dou uma olhada, de canto de olho, para Sasuke. Ele está com os olhos fechados, imerso num pensamento distante, ombros relaxados. A música serve como um calmante para ele.

 Quem diria?

 Um sorriso bobo se instala no meu rosto. A ideia de que ele costuma me ouvir tocar, do seu apartamento, provoca uma sensação gostosa em meu corpo. 

Satisfação, quem sabe?

 Pelos 60 minutos seguintes me entrego completamente à música, sem lançar olhares para o cara no meu sofá ou tentar entender o porquê dele está aqui.

 Quando termino, noto que Sasuke dorme. Aproximo-me dele, por alguns instantes meus olhos se prendem ao seu rosto. Sinto a necessidade de tocá-lo, massagear o cabelo escuro que contrasta perfeitamente com a pele clara e que ele faz questão de usar bagunçado, como se não desse a mínima para a aparência. No entanto, contenho minha mão, pois ele se remexe no sofá.

Afaste-se dele. Sussurra meu inconsciente. Sasuke Uchiha não é confiável.

 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...