— Vamos entrar — ele sugeriu baixo.
Eu apenas assenti e obedeci rapidamente ao vê-lo virando-se e fazendo sinal para que eu subisse em suas costas. Ele me carregou com facilidade e trancou a porta quando entramos, fez menção de me deixar no sofá, mas eu continuei grudada nele.
— Me leva para o quarto — sussurrei em seu ouvido e ele inclinou o rosto para olhar o meu.
Sem dizer nada, fez o que pedi. Teve dificuldade para subir as escadas e isso nos gerou risadas. Ao chegarmos em seu quarto, eu desci e Justin virou em minha direção. Nossa troca de olhares dispensava palavras e antes que ele tomasse uma atitude, eu comecei a desabotoar a camisa que vestia. Ele acompanhou atentamente cada botão sendo aberto e engoliu em seco quando a peça deslizou por meus braços e despencou ao chão.
Permaneceu paralisado e eu avancei sensualmente em sua direção. Seu olhar faiscou ao encontrar o meu e eu segurei suas mãos, para colocá-las em meus seios desnudos, arrastando-as pelo meu corpo sutilmente e ele permitiu-se ser minha marionete por um deleitoso tempo.
Logo, ocupei-me de livrá-lo da camisa e ele parecia hipnotizado. Eu o beijei e o conduzi até a cama, ele sentou-se e me sentei em seu colo. Distribui beijos por seu rosto, enquanto acariciava seus cabelos, e as mãos dele deslizavam suavemente por meu corpo.
— Deus — ele ofegou, quando mordi o lóbulo de sua orelha e rebolei em seu colo.
— Faça amor comigo, Jay — pedi no pé de seu ouvido e ele deixou o autocontrole de lado.
Beijou-me avidamente, deitou-me na cama e subiu em cima de mim. No segundo em que sua boca deixou a minha, prazerosamente escorregou por minha pele, causando-me as típicas sensações inebriantes. Sem demora, seus lábios envolveram meu mamilo dolorosamente rijo e sua língua encarregou-se de explorá-lo, seus dentes encarregaram-se de mordiscá-los, enquanto sua mão cuidava das necessidades do outro.
Os gemidos me escapavam entre suspiros e ele correspondia imediatamente às reações do meu corpo. Desceu com beijos por minha barriga, enquanto deliciosamente apalpava meus seios, lambeu meu umbigo e raspou os dentes em meu baixo ventre. Puxei a respiração dificultosamente, oscilando e ele segurou minha cintura, tentando me manter sob seu controle, conforme ia avançando cada vez mais e meus olhos se fecharam pesadamente quando sua respiração ricocheteou entre minhas pernas.
Senti-o sorrindo quando sua boca se arrastou em minha coxa e abri os olhos ao senti-lo beijando o peito de meu pé, antes de voltar a subir lentamente, provocando-me, e eu permanece deitada, completamente à mercê de seus caprichos.
Ao se aproximar de meus quadris, Justin afastou minhas pernas e suas mãos passearam na parte interna da minha coxa, causando-me arrepios. Seu olhar confrontava o meu, quando ele segurou as laterais de minha calcinha e eu arfei ao senti-lo começando a puxá-la gradativamente para baixo.
Ele deixou de me encarar, para contemplar minha nudez, contornou o percurso de minha tatuagem e umedeceu os lábios, antes de se aproximar e passar a língua num movimento muito, muito suave, por toda a extensão de minha intimidade.
O grunhido sobressaltado me escapuliu e minha coluna se arquejou instantaneamente, minha cabeça pendeu entre os travesseiros.
Em resposta a minha reação, Justin colocou minhas pernas em seus ombros e prendeu-me com mais firmeza. Voltou a me lamber na sensibilidade, me lubrificando e saboreando, enfiando a ponta de sua língua na entrada de minha intimidade, e gemeu em aprovação.
Completamente desordenada, eu apertava o lençol com brutalidade, procurando um alívio, enquanto a pulsão reverberava em meus ouvidos e minha barriga se contraía. Mas, tentar manter qualquer controle tornou-se impraticável no segundo em que os movimentos de Justin ficaram mais intensos e velozes, sondando-me com avidez e sugando-me, fazendo-me perder o fôlego e liberar suspiros pesados, que rapidamente se transformaram em gemidos audíveis.
Em ato maquinal, embrenhei meus dedos em seus cabelos desgrenhados, puxando-o mais contra mim e me descontrolando com sua deleitosa resposta imediata.
Enquanto me desbravava, Justin liberava sons que triplicavam o meu prazer e me apertava mais possessivamente, definitivamente devorando-me e, quase sem forças, eu abri meus olhos e encarei o teto turvo, enquanto meus lábios secos se encontravam escancarados, em busca do oxigênio que me faltava mais e mais a cada segundo.
Juntando o resquício de força que ainda tinha, ergui um pouco minha cabeça para contemplá-lo e a imagem fez com que um rosnado gutural escapasse por minha garganta.
Ele estava perturbadoramente concentrado, a excitação era visível em sua feição, e eu puxei mais seus cabelos, ouvindo seu gemido abafado e ele abocanhou os lábios de minha vagina com mais afoito. Beijando-me intimamente, com completo afinco.
Sem demora, a sensação crescente aqueceu meu corpo inteiro e causou uma ventania em meu interior.
Justin me segurou com mais firmeza, quando meu corpo começou a tremer involuntariamente e os gemidos me escapavam baixos e desesperados, quase como sons de choro. Em desespero, eu tentei afastá-lo, mas ele manteve-se irredutível e demonstrou-se mais empenhado.
Logo, o clímax me atingiu violentamente e minhas pernas se fecharam em torno da cabeça dele, e ele permaneceu me lambendo, absorvendo e torturando. Deixando-me praticamente desfalecida ao se afastar, a respiração falha e meu coração pulsando em cada pedaço do meu corpo.
Só reagi ao sentir o corpo dele me cobrindo e meus olhos automaticamente se abriram, encontrando o olhar selvagem dele e seu rosto encantadoramente avermelhado. Afastando os cabelos suados e grudados em minha testa, ele beijou minha boca com a mesma sensualidade que me sondou estritamente; o gosto em sua saliva e sua língua tragando a minha suavemente, causando-me frissons.
Ao concluir o beijo, Justin segurou meu rosto e eu sorri espontaneamente. Analisando cada mínimo detalhe do meu rosto, ele acariciando meu lábio com seu polegar e eu expirei, dando-lhe espaço para infiltrá-lo em minha boca e eu o envolvi com minha língua, causando uma leve sucção. Ele suspirou e seu desejo era explícito. Eu queria satisfazê-lo como ele fizera comigo e, por isso, empurrei-o e inverti as nossas posições. Mordi meu lábio, escondendo um sorriso sacana, e me sentei em cima dele. Beijei suas bochechas, a ponta de seu nariz e os seus lábios, antes de descer para o seu queixo e depois para o seu pescoço.
Justin gemeu baixinho e eu arranhei seu peitoral tatuado, provocando-o ao lamber seus mamilos achatados e lhe lancei um olhar sugestivo, enquanto descia lentamente, cada vez para mais perto de onde ele me desejava.
Sentei-me ao lado dele, para despi-lo completamente e meus olhos contemplaram sua sólida ereção. O olhar dele queimava em minha direção e com os lábios presos entre meus dentes, eu afastei suas pernas e me posicionei no espaço entre elas.
Eu pude sentir a expectativa dele quando passei a mão em meus cabelos, jogando-os para trás. E fitei-o momentaneamente ao envolver o membro dele em meu punho e começar a massageá-lo de cima para baixo, em ritmo progressivo, antes de lamber meus lábios e roçá-los através do pequeno orifício na parte superior; a pele era mais macia do que qualquer coisa que eu já havia tocado e seu gosto era másculo e primitivo.
Contendo um gemido, circundei sua glande dilatada e suguei-a cautelosamente.
Em resposta, Justin gemeu e incentivada por sua reação, e com desejo de tê-lo à mercê de meus atos, lambi a extensão pulsante de seu sexo, da cabeça até a extremidade inferior. Em seguida, a ponta de minha língua seguiu o caminho de uma veia salientada e encarei a ereção dele com devoção, antes de enfiá-la em minha boca, até senti-lo alcançar o fundo de minha garganta e meus olhos automaticamente se fecharam; meu intuito e ações completamente voltados a satisfazê-lo.
Meus movimentos foram vagarosos e delicados, aumentando gradualmente. Minha experiência com sexo oral era quase nula e eu nunca havia me imaginado tão determinada e empenhada a proporcionar prazer a alguém. Fios de meu cabelo despencaram ao redor do meu rosto e o Justin os afastou carinhosamente, para que pudesse privilegiadamente me assistir, sondando devotamente seu manifesto mais sincero e primitivo.
— Sav — ele gemeu e, em resposta, eu igualmente o fiz, erguendo meu olhar na direção do seu.
O tempo todo ele acariciou meus cabelos suavemente e, em certos momentos, guiou meus movimentos, com os lábios entreabertos, arfando e gemendo entre ofegos que ficavam mais audíveis e me inflamavam.
Eu estava perdida nele, perdida naquela versão viciosa que eu enxergava dele, e isso me fez ficar mais selvagem. Retirei seu pênis de minha boca e meu punho voltou a se fechar ao redor dele, bombeando-o, e ele correspondeu deliciosamente quando me arrisquei a dar atenção aos seus testículos. Minha boca desejosa e faminta logo se ocupou em acolhê-lo novamente, com mais voracidade, e ele liberou um rugido e subitamente me puxou para cima e chocou sua boca contra a minha em um beijo rude, em seguida, inverteu nossas posições.
Eu estava prestes a protestar, quando o senti separando minhas coxas e posicionando-se entre elas, apoiando minha perna em sua cintura e guiou seu pênis até a fenda de minha vagina.
Havia um brilho luxurioso em seu olhar, quando ele me invadiu, movendo-se com cautela e desnorteante delicadeza, possuindo-me com amor, como eu havia lhe solicitado.
Completamente submissa ao seu prazer, segurei-o pelos braços e assim que comecei a me erguer de encontra à suas investidas, a reação dele se tornou menos controlada e a invasão se tornou mais urgente e intensa, os gemidos escapavam irrefreáveis por meus lábios entreabertos, e em conjunto com os dele, disparavam arrepios por todo o meu corpo.
Justin acariciava meus seios e os apalpava de maneira altamente prazerosa, deslizando sua mão livre por partes alcançáveis do meu corpo, que caracteristicamente correspondia energicamente a cada estímulo; e empenhando-se em me beijar a maior parte do tempo, apesar de ser difícil manter o ritmo.
Eu não precisava de mais comprovações, o sexo com ele era o mais insuportavelmente intenso e satisfatório que eu possivelmente experimentaria por toda a minha vida, e não sabia se o turbilhão de sensações era dado ao surpreendente fato de ele saber exatamente como me tocar ou por simplesmente ser ele.
E eu estava completamente sem fôlego, quando o ouvi liberando um rugido resignado e, algumas investidas depois, relaxou sobre mim. Meus olhos continuaram pesadamente fechados e minha respiração ruidosa, a pulsação reverberando em cada fibra de meu corpo.
Durante um considerável tempo nossas respirações eram os únicos sons reverberando no ambiente, enquanto eu me ocupava em afagar as costas dele e seu cabelo suado.
— Droga, Sav — ele sussurrou entre os meus cabelos e preguiçosamente ergueu-se para me olhar. — Me esqueci da camisinha.
— Não se preocupe — respondi, afastando os fios grudados em sua testa. — Eu nunca parei de tomar minhas pílulas, na verdade.
Um sorriso repuxou o canto dos lábios dele e ele olhou-me com falsa desconfiança.
— Por quê? Quais eram os seus planos?
Eu fingi pensar, enquanto contornava suas sobrancelhas espessas com meus indicadores e desci até seu nariz, apertando-o sutilmente.
Ele riu.
— Não sei. Acho que eu estava pretendendo me aventurar perigosamente noites à dentro.
Mentira. Eu apenas havia me acostumado, porque fazia parte da minha rotina programada.
Justin demonstrou-se indignado.
— Anticoncepcional não te impede de pegar uma doença sexualmente transmissível — alertou com forçada seriedade e minha risada saiu como um suspiro.
— Hmm, sr. Palestrante — provoquei, mordendo meu lábio inferior e ele acariciou minha bochecha.
— Por Deus — sussurrou, sua voz falha e rouca. — Você vai acabar me matando.
A risada me escapou cansada.
— Vamos tomar banho — ele disse, saindo da cama e estendendo a mão para que eu o acompanhasse.
Ignorei-o no primeiro momento, espreguiçando-me e ele permaneceu com os braços estendidos.
Diante de sua insistência, me levantei relutante.
— Preciso pegar umas coisas antes — avisei e ele assentiu, depositando um beijo rápido em minha boca, antes de seguir até o banheiro.
Fui para o meu quarto pegar uma calcinha limpa, meus produtos de higiene e me enrolei em minha toalha. Em seguida, retornei para o quarto dele e fui direto para o banheiro. Pendurei minha toalha junto com a sua e ele estava sob o chuveiro quando eu adentrei o box, segurando o frasco de shampoo e o de condicionador.
Sem demora, Justin os retirou de minha mão e deu espaço para que eu entrasse em baixo da torrente de água. Surpreendendo-me ao começar a esfregar o sabonete em minhas costas e eu ri nervosa, me esquivando no momento em que ele tocou minha bunda. Me virei para lhe lançar um olhar censurador e ele ergueu as mãos, adotando sua melhor expressão de ingenuidade e eu lhe acertei um tapa.
— Acho que é preciso esclarecer que não curto muito ser sodomizado — ele provocou e eu rolei os olhos.
— Pega o meu shampoo, por favor — pedi, apontando para o frasco no chão e ele o fez.
— Vire-se, eu lavo para você — sugeriu e eu ri nervosa.
— É preciso esclarecer que eu sou capaz de fazer isso sozinha — rebati, esboçando um sorriso terno e ele me lançou um olhar esperto.
— Tudo bem — disse e abriu a tampa do shampoo, despejou uma quantidade generosa na palma de sua mão e eu fiquei encarando-o com falso tédio quando se aproximou e começou a esfregar meu cabelo. — Você gosta de fazer as coisas do jeito mais difícil.
— Esse jeito definitivamente não me parece tão difícil, eu sempre quis ter um escravo — brinquei e ele deixou espuma cair no meu rosto de propósito.
— Perdão — pediu com falsa inocência e eu joguei água em seu rosto. — Não seja malcriada.
Ficamos em silêncio por um tempo e eu não pude evitar o riso ao avaliar o quanto aquela situação era absurdamente cômica, pois na noite em que eu tomei um porre e fugimos de Seattle, eu havia ido ao delírio com a simples ideia de tê-lo me dando banho. E, naquele instante, ele realmente estava o fazendo.
E estava sendo melhor do que o imaginado.
— Do que está rindo? — ele indagou, estreitando as sobrancelhas.
Abafei a risada e sacudi a cabeça.
— Nada.
Ele me olhou desconfiado, mas voltou a forcar-se no que fazia. Passando shampoo em meus cabelos pela terceira vez, ao dar-se conta de que era preciso.
— Você está me mal acostumando — comentei baixo e ele olhou-me momentaneamente. — Não vai poder reclamar depois.
— Reclamar é tarefa exclusiva sua, meu bem — ele contra-atacou astuto e eu franzi minhas sobrancelhas.
Esforcei-me para permanecer quieta, enquanto ele terminava de lavar o meu cabelo e, sustando o mutismo, ele pegou o sabonete e esfregou-o em suas mãos, antes de aproximá-las de mim novamente e, então, ensaboou meus ombros e foi avançando. Meu corpo oscilou quando a ponta de seus dedos circularam cautelosamente os bicos de meus seios e a risada me escapou feito um ofego.
— Não precisa lavá-los desse jeito — informei e ele sorriu, esfregando-os novamente.
A seriedade em seu rosto era estimulante e a sensação de sua mão deslizando em minha pele era reconfortante. Meus sentidos correspondiam violentamente aos seus toques mais sutis, por mais que ele estivesse completamente alheio e genuinamente concentrado. E, de maneira preocupante, um segundo depois que o contato se desfazia, meu corpo já começava a sentir sua ausência.
— Pronto — ele murmurou, esticando-se para desligar o registro do chuveiro.
Saiu na frente e secou-se depressa, enrolou a toalha na cintura e dirigiu-se para fora do banheiro.
Eu demorei um pouco mais – escovando meus dentes, passando hidrante corporal e desodorante –, antes de segui-lo. Deparando-me com sua bela imagem, deitado confortavelmente e vestindo apenas uma cueca cinza. Ao seu lado, uma camisa dobrada, que ele estendeu em minha direção assim que me encostei à cama.
— Minha roupa fica muito mais sexy em você — brincou e eu abafei a risada, ruborizando.
Deixando a vergonha de lado, livrei-me da toalha e não me apressei muito em me vestir. Justin ainda sustentava o silêncio, assistindo-me atentamente, e evitando o seu olhar, eu apanhei as roupas jogadas pelo chão e as levei para o cesto de roupas-sujas que ficava em seu banheiro. Pendurei nossas toalhas no box e arrumei minhas coisas, levei-as de volta para o meu quarto.
Ele ainda estava na mesma posição quando retornei, distraidamente penteando os meus cabelos. Olhei para o relógio no criado-mudo e me lembrei do jantar na casa dos meus pais, e de que eu precisava comunicá-lo a respeito. Nervosa ao tentar decifrar qual seria a sua reação com a hipótese de ter que enfrentar mais exposição depois do desastre da noite passada.
— Para de enrolar e vem deitar comigo, Sav — ele retrucou impaciente, conquistando minha atenção, enquanto batia levemente no vazio ao seu lado.
— Por quanto tempo você vai me manter presa na sua cama, Bieber? — perguntei provocante e ele sorriu.
— Eu já deixei claro que estou cheio de planos.
Abafei a risada, enrolando um pouco mais, antes de me deitar. Ele puxou-me para perto e passou o braço por baixo de mim, repousando minha cabeça em seu peito.
— Meu cabelo vai molhar você — murmurei, afastando alguns fios.
— Não tem problema — Justin respondeu em tom baixo e rouco.
Ajeitei-me sobre ele em uma posição mais confortável, me permitindo entorpecer pelas batidas compassadas de seu coração e o calor que emanava de sua pele, enquanto fazia círculos imaginários sobre os entalhes de sua barriga e, vez ou outra, contornava suas tatuagens.
— Eu poderia viver assim todos os dias, pelo resto da minha vida — ele finalizou o silêncio e eu sorri, abraçando-me mais a ele.
— Eu não sou um robô, meu bem — rebati com ironia e ele riu graciosamente.
— Eu juro que não estava levando para o lado malicioso — ele defendeu-se rapidamente.
— Jura? — perguntei com cinismo.
Eu não podia vê-lo, mas sabia que o mesmo estava sorrindo. Abracei-o pela cintura e fechei os olhos, aspirei o cheiro de sua pele. Eu obviamente também não me importaria de passar o resto da vida cercada pelo aconchego de seu abraço.
— Sav? — ele me chamou e eu levei certo tempo para respondê-lo. — Não durma.
— Não estou dormindo — respondi baixo, abrindo os olhos e voltando a me concentrar nas carícias que fazia em sua pele macia.
— O que você acha de prepararmos o jantar juntos? — ele perguntou, enrolando distraidamente uma mecha de meu cabelo.
— Não precisamos.
Ele não disse nada pelo que pareceu uma eternidade e meus olhos começaram a se fechar com mais frequência.
— Eu posso parecer um deus-grego potencialmente imortal, mas infelizmente continuo tendo as necessidades fisiológicas de um ser humano.
— Um deus-grego potencialmente imortal? — repeti, me erguendo para olhá-lo e rindo preguiçosamente. — É esse o seu tipo de fetiche?
Justin fingiu-se afrontado e eu arqueei uma sobrancelha, o desafiando. Com habilidade, ele me empurrou contra o colchão e avançou em cima de mim, atacando-me com cócegas.
— Não, para, para — eu berrava, me contorcendo e tentando me livrar, mas ele não dava espaço. — Por favor — implorei, em meio à crise de riso. — Essa não é a atitude de um deus-grego.
— E o que você sabe sobre as atitudes de um deus-grego? — ele perguntou desafiante, dando-me uma brecha para respirar.
— Ainda estou aprendendo — rebati, após um tempo fingindo estar pensativa.
— Estou sendo sua primeira experiência, então? — perguntou com falsa pretensão. — Você é uma garota de sorte.
Não pude esconder o sorriso, mas balancei a cabeça em sinal negativo apenas para contrariá-lo.
— Como você consegue respirar cercado por tanto egocentrismo? — indaguei debochada e ele ficou olhando-me atentamente, até eu começar a me sentir desnecessariamente envergonhada. — O que foi?
Ele não respondeu, apenas afastou alguns fios de meu cabelo e continuou me fitando.
— Justin, o que é?
Tentei levantar, mas ele me impediu.
— Não, não se mova — pediu em tom baixo.
— Tem algo errado? — perguntei ressabiada e ele riu, sacudiu a cabeça em negativa. — Então, o que é?
— Fique assim, só mais um pouquinho. Eu quero gravar cada detalhe seu nesse momento e eu até gostaria de te fotografar. Aí, ao invés de escreverem em minha lápide, eu pediria para estamparem a sua foto.
A risada me escapou livremente e os olhos dele continuaram cravados em mim.
— Essa foi à coisa mais clichê que eu já ouvi.
Ele riu suavemente e apertou a ponta de meu nariz.
— Eu sou um romântico incurável, não sou?
Forcei a gargalhada e ele cutucou-me na cintura.
— Eu detesto quando você faz isso — retruquei contrariada e ele esboçou a melhor expressão de inocência.
— E eu adoro a sua risada — sussurrou em meu ouvido, como se compartilhasse um segredo e, então, me roubou um beijo.
Coloquei a mão em meu rosto, tentando esconder o dispensável acúmulo de sangue em minhas bochechas.
— Fala sério. É histérica e horrível.
— Não, é melodiosa e deliciosa de ouvir. Eu adoro principalmente quando você tenta segurar e faz barulho de porquinho.
Fingi indignação e ele riu, me contagiando.
— Você é muito idiota.
— E você está caidinha por mim.
Revirei os olhos teatralmente.
— Muito idiota e convencido.
Ele riu graciosamente, deitando-se esparramado ao meu lado.
— Se não vamos preparar o jantar, o que você acha de jantarmos em um restaurante longe da cidade? — sugeriu, dando fim ao silêncio e eu juntei a coragem que precisava.
— Vou jantar na casa dos meus pais — respondi de uma vez e senti o olhar dele em mim, mas não o retribuí. — Mason mandou recado através da Lauren.
— Por que não me contou?
— Porque você também foi convidado e eu estava pensando em como contar.
Ele emudeceu e eu inclinei meu rosto para fitá-lo, mas ele desviou o olhar, encarou o teto e respirou densamente.
— Você não precisa ir, se não quiser.
— Não tem tanto problema nisso. É só que eu nunca tive um relacionamento sério ao ponto de precisar ir a um jantar de família — ele tentou brincar, mas o aborrecimento em sua voz era praticamente palpável.
Virei-me de lado e me apoiei em meu braço, fiquei apenas analisando-o durante um tempo. Eu não podia obrigá-lo a fazer algo que não queria e até mesmo preferia protegê-lo o quanto pudesse, após o acontecido.
— É sério. Você não precisa ir, se não quiser — repeti e ele rendeu-se ao meu olhar. Abaixei em sua direção e selei nossos lábios demoradamente. — Vou me arrumar. Posso preparar algo para você comer, antes de sair.
Ele permaneceu calado, ainda me olhando, e eu me esgueirei para fora da cama. Havia passado parte do dia preocupada e ansiosa, mas precisava encontrar um jeito de canalizar meus sentimentos. Seria incontestavelmente mais difícil enfrentar a situação sem o Justin, mas, no fim das contas, Lauren estava certa. Era só um jantar na casa dos meus pais e eu podia muito bem lidar com isso; podia sobreviver a isso.
Escolhi um vestido simples para a ocasião, o último presente que ganhei de mamãe e que eu só havia usado uma vez. E estava absorta em meus pensamentos, quando tirei a camisa do Justin para vesti-lo.
— Eu vou. — Me sobressaltei com a voz dele soando atrás de mim e virei à cabeça para o lado, deparando-me com o Justin escorado no batente da porta. — Eu vou com você.
Por conta da surpresa, acabei levando mais tempo que o necessário para respondê-lo. Incerta se me sentia mais aliviada por poder contar com sua presença ou terrivelmente preocupada com o que potencialmente nos aguardaria.
— Tudo bem — foi tudo que consegui dizer e ele assentiu, antes de voltar para o seu quarto.
Eu terminei de me arrumar primeiro e fiquei na sala, andando de um lado para o outro, enquanto o aguardava. Mordiscando a unha de meu polegar e tentando controlar os meus nervos.
Mas a inquietação triplicou quando ouvi seus passos e olhei-o, descendo as escadas despreocupadamente, enquanto alinhava a camisa. Como de praxe, ele estava incontestavelmente lindo, porém era notável em suas feições, tanto quanto nas minhas, como igualmente estava apreensivo.
Ele esboçou o seu melhor sorriso ao me olhar.
— Vamos? — disse, assim que parou em minha frente e eu apenas assenti.
Deixei-o completar seu libertador ato de cavalheirismo ao abrir a porta para que eu saísse e esperei-o na escadaria da varanda, enquanto se certificava de trancar a casa. Descemos os degraus lado a lado, ainda envoltos pelo silêncio, e eu abracei-me ao meu próprio corpo, ao sentir a brisa gelada eriçando os poros de meu braço.
— O que aconteceu com a sua Kombi? — perguntei intrigada, ao perceber que apenas o meu carro e o dele estavam estacionados.
— Eu a vendi — ele respondeu, passando a mão na lataria de seu Cadillac.
— Ah, que pena. Eu tinha esperanças de que você fosse me levar para dar uma voltinha nela.
Justin me olhou com astúcia.
— Não diga bobagem — o interrompi depressa e ele riu.
— Eu nunca vou me cansar disso, Sav — gracejou, abrindo a porta do carona para mim e eu lhe lancei um olhar entediado.
— Você é um diabinho — retruquei, cutucando-o no abdômen e ele se encolheu.
— Agora entendo porque você detesta isso, é realmente irritante.
Arqueei uma sobrancelha e esbocei meu melhor sorriso presunçoso e ele abafou a risada, fechando a porta cautelosamente e deu a volta no carro, sentando-se ao meu lado. Esticou-se para transpassar o cinto em meu corpo, antes de fazer o mesmo consigo.
Quando começou a manobrar em direção a trilha que nos levaria para cidade, eu tentei controlar, mas não pude evitar que a preocupação me dominasse gradualmente. Afinal de contas, fazia bastante tempo que eu não via mamãe e ainda temia reencontrá-la, após todo o ocorrido. E meu último encontro com papai não havia sido dos melhores, assim como todos os outros. Mas, o mais perturbador era a ideia de que eles escutaram os boatos que estavam correndo pela cidade, que eu não estava nem um pouco interessada em saber quais eram, e isso os motivou a solicitar o terrível jantar em família.
Apesar disso, esse era de longe o principal motivo de minha aflição. Além do mais, o que me tirava dos eixos era a verdadeira incógnita das pretensões de Mason Curtis. E, primordialmente, o fato de que a corroboração do Justin não trouxe a esperada sensação de acolhimento.
Pelo contrário, trouxe uma angústia densa. Um pressentimento nocivo.
⚜⚜⚜
Assim que estacionamos em frente à casa vitoriana, eu encarei-a como se vislumbrasse o meu pior pesadelo.
Justin saltou do carro primeiro e me motivou a fazer o mesmo. Eu segui alguns passos atrás dele, encarando meus próprios pés e completamente nervosa com a simples ideia de entrar na casa em que cresci e rever as duas pessoas que me deram à vida e me criaram.
Ao pararmos em frente à porta, segurei o braço do Justin e ele me encarou.
— Quer um tempinho? — perguntou transigente e eu concordei com um aceno, ofegante como se tivesse acabado de correr uma maratona.
— Tudo bem — murmurei mais para mim mesma, antes de criar coragem e tocar a campainha.
Levou um considerável tempo, mas não tardou muito para a porta ser aberta por uma versão de mamãe completamente radiante e nostálgica.
— Oi — ela disse eufórica e segurou meu rosto. Apertou minhas bochechas e sorriu largo. — Você parece tão saudável. E está lindíssima, eu me lembro desse vestido.
Esbocei o meu melhor sorriso e consegui comprá-la. Ela olhou para o Justin e sorriu.
— Você está crescido — disse com familiaridade e eu e ele nos encaramos ao mesmo tempo, confusos.
Antes que qualquer pergunta pudesse ser feita, Norma se adiantou:
— Entrem. — Ela nos deu espaço. — O jantar já está no forno.
Mamãe seguiu em nossa frente. Estava bem trajada e impecavelmente bonita, como costumeiro. A sala continuava idêntica – apesar de sua fascinação em redecorar –, tudo em seu devido lugar e perfeitamente limpo.
A porta se abriu atrás de nós, nos sobressaltando e automaticamente o Justin segurou minha mão. Eu senti meu corpo retesando ao ver papai, trajado de terno e gravata, e segurando uma maleta preta.
— Oi, querido — mamãe disse carinhosamente e ele lhe deu um beijo rápido. — Que bom que chegou a tempo.
— Eu não me atrasaria por nada — rebateu delineando um sorriso irônico.
Seu olhar vagou entre Justin e eu, e demorou-se em nossas mãos dadas.
— Savannah — me cumprimentou e eu apenas assenti. — Creed.
— Curtis — Justin retrucou com cinismo e papai pareceu não se importar.
Ambos ficaram se encarando, como se estivessem em uma disputa bastante particular.
— Então, é você que tanto se fala, mas pouco se vê? — mamãe deu fim ao mutismo e eu estreitei as sobrancelhas, implorando através de meu olhar para que ela não prosseguisse com aquilo.
— As pessoas da cidade gostam de contar histórias, sra. Curtis — Justin respondeu, deixando-a comicamente desconcertada.
— Especialmente ao seu respeito — Mason completou, não perdendo a oportunidade.
— O que posso fazer se cativo as imaginações alheias? — Justin rebateu e eu precisei me esforçar para não rir da expressão insatisfeita de meu atrevido pai.
— Sem sua capa protetora, você não é tão retraído — ele atacou, desarmando-o momentaneamente.
— Fazer o quê? Há coisas que não podem ser escondidas para sempre — ele murmurou sugestivo e o Mason o encarou com indignação.
— E até que ponto as histórias sobre você são reais? — mamãe interveio e eu a olhei com incredulidade.
— Depende de quais versões a senhora ouviu — respondi por ele e o silêncio se arrastou por um tempo desconfortável.
— Pelo visto, você conhece todas — papai revidou ironicamente e eu respirei fundo, segurando-me no autocontrole.
— Bem, vou me certificar se o jantar já pode ser servido — mamãe avisou, cortando o clima pesado. — Estou preparando sua comida favorita — ela disse, segurando minhas mãos. — Fique à vontade — ela finalizou, referindo-se ao Justin, antes de se afastar.
Mason afrouxou a gravata e suspirou. Não nos olhou uma última vez e se direcionou até as escadas, subindo-as calmamente.
Justin e eu suspiramos ao mesmo tempo quando ele desapareceu de nossa visão.
— O que há de errado entre vocês? — indaguei, com as sobrancelhas estreitas e ele sacudiu os ombros.
Estava tentando parecer despreocupado, mas não me enganou. Se distanciou ao perceber isso.
— O que é suposto como sua comida favorita? — desconversou, enfiando as mãos nos bolsos frontais da calça, enquanto observava os quadros nas paredes.
Eu o deixaria pensar que venceu, por enquanto.
— Lasanha de berinjela — respondi e ele olhou-me incrédulo.
— Sério?
Assenti e ele franziu os olhos.
— Você não gosta? — perguntei ressabiada.
Ele pensou por um tempo, em seguida, maneou com a cabeça.
— Acho que consigo engolir.
Forcei o ultraje e o cutuquei, ele prendeu a risada. Caminhou pela sala, deslumbrado com as fotografias na prateleira.
— É você? — perguntou, apontando um porta-retrato e eu segui a direção indicada. Era uma foto de quando eu tinha cinco anos e estava vestida de princesa.
— Sim — respondi desconcertada e ele chegou mais perto da foto, tirou-a da estante.
— Você sempre foi à rainha da beleza — comentou e eu ri, parei ao lado dele e empurrei-o com o ombro.
— Olhe só — falei, apontando meu sorriso na fotografia —, estava me faltando um dente. Eu o perdi antes do tempo, demorou uma eternidade para nascer.
Justin riu e colocou o porta-retrato no lugar. Olhou as outras fotos; a grande maioria eram minhas, mas havia algumas do casamento dos meus pais e poucas de nós três juntos. A mais recente era de mamãe e eu em minha formatura do ensino médio. Ele pegou-a para olhar de perto.
— Agora está explicado de onde veio sua beleza — Justin sussurrou e eu cheguei mais perto. — Seu pai não merece tanta sorte.
— Pare de secar a minha mãe — censurei, tirando a foto da mão dele e colocando-a no lugar.
Ele riu baixo.
— Está com ciúme?
— O quê? Não seja idiota. — Revirei os olhos teatralmente.
Ele abafou a risada e me puxou para perto, tentei relutar, mas não me esforcei tanto. Ele grudou os lábios aos meus e eu fiquei tentando afastá-lo, sem sucesso.
Seu momento de infantilidade foi drasticamente interrompido por um forçado pigarro. Nos recompomos rapidamente e o Mason desceu as escadas, parou há alguns passos de distância. Ficou propositalmente nos analisando, enquanto sustentava o incômodo silêncio.
Eu quase ergui as mãos para os céus em agradecimento, quando mamãe retornou e nos guiou até a sala de jantar. Justin sentou-se ao meu lado e papai sentou-se do lado oposto, de frente para ele. Mamãe foi até a cozinha e voltou com uma travessa, automaticamente me levantei para ajudá-la.
— Obrigado, querida — murmurou e depositou um beijo caloroso em minha bochecha. Eu sorri amplamente.
Logo, voltei a me sentar e ela sentou-se ao lado de papai. Mamãe foi quem mais falou durante o jantar, contando-me sobre o bazar de caridade que havia montado com algumas de suas amigas e até mesmo me convidou para participar, e eu fiquei de lhe dar a resposta. Falamos sobre o meu trabalho na biblioteca e ela estava tão genuinamente feliz por mim, que isso me ajudou a conseguir ignorar a indiferença do sujeito ao seu lado e meu ânimo foi gradualmente restaurado.
— E então, o que você faz para se manter? — mamãe perguntou, subitamente direcionando-se ao Justin.
— Recebo uma pensão vitalícia — ele contou, olhando-me momentaneamente. — Não é muita coisa, mas é o bastante para eu conseguir viver.
— E você já trabalhou? — ela prosseguiu e eu lhe lancei um olhar repreensor.
— Pode parecer inacreditável, mas, sim. Eu trabalhei como mecânico por um tempo, com um velho amigo do meu pai.
— Há quanto tempo? — Mason interrogou. — Não se ocupou com mais nada?
— Não, até porque não é como se as pessoas da cidade estivessem dispostas a me oferecem um emprego — Justin ressaltou sarcástico. — Mas eu não pretendo vadiar o resto da vida, se é isso o que quer saber.
Silêncio.
Eu conseguia sentir a tensão que irradiava entre os dois e me intrigou como as respostas dele sempre eram defensivas e insinuativas quando se tratava das perguntas de meu pai.
Mamãe igualmente parecia notar o conflito entre eles e, diferente de mim, parecia entendê-lo. A sensação de estar sobrando era terrível, mas eu estava disposta a descobrir tudo à respeito daquilo em um outro momento.
O jantar não foi ao todo um desperdício. A lasanha estava ótima – um dos poucos pratos que ela sabia preparar – e a sobremesa foi bolo de chocolate com sorvete; e eu comi até me sentir esgotada.
Depois, mamãe subiu para pegar o álbum de fotos e mostrou minhas fotografias menos vantajosas para o Justin, envergonhando-me e nos rendendo um bom momento de divertimento.
Mason se manteve presente e distante durante todo o tempo. Eu não tinha do que reclamar, era até mais fácil de imaginar que ele não estava presente.
Quando me ofereci para ajudar mamãe a tirar a mesa de jantar, ele convidou o Justin para tomar uma dose de uísque com ele e – após comicamente sussurrar: “Espero que ele não me envenene” – ele aceitou e o seguiu até o escritório.
— Ele parece um bom rapaz — mamãe disse, secando as louças, enquanto eu as lavava.
— Ele é maravilhoso.
— Devo ter me expressado mal — ela respondeu, mas não me convenceu. — Eu sei o que dizem sobre ele. As pessoas são cruéis.
— Novidade seria se não fossem.
— Você acredita? Que ele seja culpado?
— Não — respondi firmemente.
— Nunca sabemos do que as pessoas são capazes — ela devaneou e eu me movi inquieta.
— Também não podemos afirmar do que são capazes ou não, certo? Não se pode acusar ninguém, sem provas.
Ela se calou e, engolidas pela taciturnidade, terminamos o que fazíamos.
Ela subiu para guardar o álbum de fotografia e eu me aproveitei para resgatar o Justin. No corredor do escritório, escutei vozes abafadas e, curiosa para saber sobre o que ambos conversavam, me aproximei sorrateiramente.
—... a vida é feita de sacrifícios. Às vezes, o caminho mais difícil, é o único certo a ser seguido.
Por um tempo, nada mais fora dito. Mesmo assim, eu esperei. E ao perceber que a conversa havia terminado, dei três leves batidas na porta e papai rapidamente deu-me passe livre para entrar.
Justin demonstrou alívio, assim que me viu.
Mamãe não demorou a se juntar a nós.
— Os Owens nos visitaram — tocou no assunto que possivelmente a atormentou desde que chegamos — e nós ficamos sabendo sobre o desentendimento de vocês.
— Acredito que também ficaram sabendo que Andrew me bateu — retrucou em tom agressivo e o Mason me olhou sério.
— Sim — ele respondeu. — E já tomamos as devidas providências contra isso.
— Infelizmente ele só ficou preso uma noite — mamãe completou insatisfeita —, mas vai fazer trabalhos voluntários por seis meses e está proibido de se aproximar de você.
Justin ficou notavelmente aborrecido.
— Caras como Andrew Owen seguem a lei? — ele perguntou em tom áspero e o silêncio nos engoliu momentaneamente.
— Caras como você, seguem? — papai rebateu, surpreendendo-nos.
— Mason — mamãe o censurou e ele demonstrou pouco-caso.
— Vamos lá, Norma. Aceite. Eu não trabalho com meias-verdades.
— Você trabalha com o que acredita ser a verdade, não é? — Justin refutou agressivo e eu me encolhi automaticamente, completamente alheia ao ressentimento que os cercava. — Mas nem sempre isso faz de você o dono da razão.
— E eu devo supor que você seja? — papai revidou.
Eu engoli em seco, sufocada pela tensão que se alastrou no ar. Olhei para mamãe, ela parecia tão desconfortável quanto eu. E, em respeito a ela e o bom momento que tivemos, eu decidi não dar ao Mason o que ele procurou no instante em que solicitou aquele jantar.
— Bem, já deu a nossa hora. — Forcei o meu melhor sorriso, pela primeira vez dando a outra face, e puxei o Justin pelo braço. — Obrigado pelo jantar, mãe.
Ela não escondeu o desapontamento por irmos embora tão repentinamente, mas nos acompanhou até a porta. Papai a seguiu com audácia.
— Muito obrigado pelo jantar, sra. Curtis — Justin reforçou e ela sorriu, apesar da visível tristeza.
— Pensa no que eu disse — Mason falou, parando na soleira da porta e o Justin o encarou duramente, em seguida, deu as costas e seguiu apressado na direção do carro.
Depois de abraçar mamãe e depositar um beijo em sua testa, eu o segui.
A partida até o Forest Park foi preenchida apenas pelos ruídos externos, que adentravam a janela entreaberta.
— O que ele te disse? — perguntei ao estacionarmos e o Justin suspirou.
— Nada.
Saiu do carro e bateu a porta. Eu saí apressada e tentei acompanhá-lo, avistei-o entrando no corredor que ficava atrás da escada e segui o mesmo caminho. Não o deixaria escapar tão facilmente.
— Justin? — chamei-o e ele parou, virou em minha direção e, por uma razão incompreensível, ficou irritado. — O que ele te disse?
— O que está fazendo? — ele perguntou rude e eu estranhei sua reação. — Você não pode entrar aqui!
Fitei-o perplexa, antes de encarar a porta branca há certa distância de nós.
— O que tem lá? — perguntei espantada com sua súbita agressividade e ele pareceu dar-se conta da maneira hostil que me tratara.
Suspirou e chegou perto de mim, segurou minha mão e guiou-me para o início do corredor.
— Não há nada de mais lá, mas eu não quero que você entre nem mesmo aqui. — Apontou para trás. — Entendeu?
O tom sombrio e ameaçador em sua voz me fez assentir maquinalmente.
— Você promete? — ele insistiu.
— Prometo — sussurrei sem pensar e ele abriu um sorriso que eu nunca havia o visto esboçando antes.
— Boa garota.
Acariciou o topo da minha cabeça, antes de dar as costas e rapidamente alcançou o fim do corredor. Abriu a porta, mas o completo escuro que estava atrás da mesma impediu-me de ver qualquer coisa. Sem me olhar uma última vez, Justin entrou e fechou-a.
Eu fiquei petrificada no mesmo lugar, até sair do transe e me afastar dali. Subi para o meu quarto apressadamente e me tranquei, vesti um pijama e fiquei deitada; a luz do abajur ligada e a coberta até o meu pescoço. Minha cabeça estava sendo amofinada por pensamentos inaceitáveis que eu tentava arduamente dispersar, mas quando o sono finalmente conseguiu afastá-los, não trouxe os típicos sonhos que ele costumava protagonizar; trouxe o pior dos pesadelos.
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