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História Paranoid - Comunicação.


Escrita por: sympathize

Capítulo 36 - Comunicação.


Fanfic / Fanfiction Paranoid - Comunicação.

Concentração nunca me pareceu uma virtude tão inalcançável antes.

E, como uma espécie de teste, a biblioteca nunca estivera tão frequentada. Eu tive que fazer muitos cadastros, pois, ao descobrir que podiam alugar, todos preferiam, e, em parte, isso ajudou. Porém, qualquer segundo de distração era o bastante para me lembrar da noite anterior; de como o Justin ficou tenso e como ele parecia absurdamente empenhado a proteger o que quer que mantivesse escondido do outro lado daquela porta, e a existência da mesma nunca havia me incomodado tanto.

Eu não estava disposta a perder meu horário de almoço com suposições, por isso, me certifiquei de que a Lauren estava na lanchonete e, ao receber sua confirmação, não hesitei em ir até lá. Assim que entrei, a maioria dos olhares se voltou para mim, mais curiosos e maldosos que costumeiro, e os cochichos não tardaram a acompanhá-los.

Mas, diferente de antes, eu não me importei nem um pouco e nem senti qualquer intimidação. Afinal, existia muito mais para me preocupar do que os fofoqueiros da cidade e eu nem mesmo pensava em repudiá-los, pois o pressentimento ruim que me dominava, desde que abri os olhos naquela manhã, superava qualquer dispensável sensação.

— Sav — Lauren me cumprimentou entusiasmada, assim que me viu. — Como foi o jantar?

Suspirei e ela fez sinal com a cabeça, para que eu a seguisse.

— Lizzie, dá uma olhada nas minhas mesas?

A garota assentiu, sem olhar em nossa direção. Não me surpreendia que ela se dispusesse a me evitar ainda mais, depois do acontecido, e eu preferia que me ignorasse o quanto quisesse, visto que igualmente não tinha interesse algum em ter qualquer diálogo com a mesma.

— E aí, como foi? — Lauren perguntou, assim que entramos no banheiro.

— Como se esperava — respondi, sacudindo os ombros, enquanto me apoiava na extensa pia de mármore. — Mason com os seus cinismos, mamãe tentando compensá-lo e até começamos bem, mas o final, foi com chave de ouro, claro.

Ela olhou-me preocupada.

— Mason e Justin tiveram um momento sozinhos e eles conversaram sobre algo que o deixou bastante desconfortável e defensivo.

— Ah, o seu pai é um pé no saco, né? Provavelmente ele deve ter sido detestável, como sempre, e feito perguntas invasivas. 

Comprimi meus lábios e pensei por um tempo. Mason até podia ter feito o que Lauren dissera, além do mais, era bem característico seu. Mas, existia algo a mais. Existia algo, além disso. E, por isso, o Justin estava arredio. Apesar disso, eu ainda estava disposta a descobrir.

— E tem a porta idiota atrás da escada — comentei maquinalmente e Lauren me encarou com interesse. — Eu só fui até o corredor e ele ficou agressivo, me fez prometer que nunca mais entraria lá.

Ela estreitou as sobrancelhas.

— Por quê? — questionou, espelhando minha confusão.

— Não faço a mínima ideia. — Bufei. — Ele não disse o que tem lá e eu... eu me senti estranha com a reação dele.

— Estranha como? — Lauren inquiriu saber e eu fiquei ressabiada, eu sabia bem o que sentira, mas não conseguia dizer em voz alta. — Ficou medo?

Umedeci meus lábios e hesitei, mas, no fim das contas, acabei assentindo.

— Até tive um pesadelo terrível — contei em tom baixo. — Eu acordava e descia, ia procurar por ele e não o encontrava. Eu não suportava a curiosidade e ia até lá, a porta estava destrancada e quando eu entrava... estava cheio de... cheio de cadáveres, por todas as partes.

Levei as mãos ao meu rosto, esfregando-o. Eu gostaria de poder me livrar das arrepiantes imagens e da sensação estarrecedora que causavam em minha espinha dorsal, sempre que se faziam presentes.

— Santo Deus, Savannah! — Lauren exclamou, espantada. — Você se deixou impressionar. Não acha que ele seria capaz disso, não é?

Neguei depressa.

— Quer dizer, eu não sei — admiti, no final. — É justamente essa incógnita, se ele é de todo bom ou não, que me deixa assim, em crise.

— Talvez ele só guarde coisas pessoais? — Lauren sugeriu e eu cruzei os braços diante do meu peito. — Lembra quando você estava me mostrando a casa e não encontrou fotos dos pais dele? — Assenti silenciosamente. — Talvez ele guarde lá esses tipos de lembranças.

Aquilo fazia muito sentido, até porque, as fotografias que ele mantinha no quarto do piano nem sempre estavam lá. E no quarto do Justin nunca tinha nenhuma, então, era muito provável que ele as guardasse lá em baixo e era ainda mais aceitável que ele quisesse privá-las somente para si.

De súbito, me senti culpada por ter me chateado e por ter sentido um inaceitável medo dele, por conta daquilo. Por ter tido aquele pesadelo estúpido.

— Sav, eu sei que a pressão está sendo enorme, mas, sabe, você não pode deixar isso bagunçar a sua cabeça. Eu acho que você tem que ir mais... devagar. De verdade, você e o Justin estão só começando e você anda meio... meio descompensada. — Ela inclinou os lábios, quando eu lhe lancei um olhar atravessado. — Me desculpe, mas é que você anda meio fora de si e você vai mesmo estragar as coisas se continuar nessa... paranoia.

— O quê? Eu não estou paranoica — rebati, ultrajada. — Lauren, você não sabe como é, está bem? Eu não tenho culpa de ir ao extremo, já que ele é cheio de segredos.

— Ele já era cheio de segredos antes de você — ela respondeu, incisivamente. — Você não pode chegar e achar que ele vai se abrir magicamente, da noite para o dia. Tem coisas sobre nós que só se revelam com o tempo. Você precisa ser mais paciente.

Expirei densamente, fechando os olhos. Lauren estava certa, as coisas já não estavam fáceis, e eu ainda encontrava subterfúgios para expandir ainda mais a nossa lista de preocupações. Desse jeito, eu acabaria botando tudo a perder, ao invés de continuar ajudando-o, como eu pretendia. Porque eu esperava que o Justin confiasse em mim, mas precisava parar de forçá-lo a me confiar os seus segredos e fazê-lo se sentir confiante e espontaneamente confortável para compartilhá-los comigo.

— Parte da cidade está contra ele, Savannah, você é basicamente tudo o que ele tem. Precisa fazê-lo se sentir seguro.

— Você está certa, Laurie — me rendi, fugindo do olhar dela. — Eu estou extrapolando na estupidez, não ando facilitando as coisas.

— A responsabilidade não é toda sua — ela assegurou, segurando minha mão e esperou até que nossos olhares se encontrassem. — Mas tudo o que for dispensável e puder ser evitado, já vai ser de muita ajuda para vocês dois.

Balancei a cabeça em afirmativa. Justin e eu já tínhamos o bastante para nos atormentar e pessoas o suficiente tentando nos atingir, mas a estabilidade do relacionamento que estávamos construindo não dependia disso, dependia exclusivamente de nós. E eu precisava colaborar mais.

Sem demora, decidi que deixaria de lado todo e qualquer orgulho e estabeleceria uma conversa civilizada assim que o reencontrasse.

O silêncio se estendeu, enquanto Lauren me analisava. Nossos olhares se encontraram por um tempo e eu percebi como ela parecia cansada e me senti péssima por estar sempre a sobrecarregando com os meus problemas.

— Como você se sente, Lauren? — perguntei e ela se demonstrou surpresa.

— Me sinto bem — respondeu rapidamente, ajeitando a postura. — Por que a pergunta?

— No meio dessa bagunça toda, eu até me esqueci de perguntar como anda as coisas entre você e o James — falei, sem jeito. — Me desculpe.

Ela sorriu genuinamente.

— Sem problema, Sav. A coisa foi pior para o seu lado e continua sendo. Eu e o James, por outro lado, não conversamos. Estamos nos evitando, na verdade. — Franzi meus olhos e ela riu suavemente. — Eu não ligo, até acho que seja melhor.

Suas feições comprovavam suas palavras e a serenidade ao proferi-las, e eu estava surpresa por isso, mas não diminuía minha preocupação em relação ao acontecido. Além disso, Andrew havia a exposto de maneira vingativa e desonesta, quando ela parecia decidida a abdicar dos sentimentos que possuía por James e, obviamente, isso causaria uma consequente reviravolta.

— Mas vocês ainda trabalham juntos e, uma hora ou outra, vão ter que se resolverem, pelo bem da convivência — ressaltei e ela suspirou densamente.

— Ele não fica mais aqui no meu turno.

Arregalei os olhos, extremamente perplexa.

— Àquela noite, eu fiquei uma pilha de nervos, mais preocupada com você, do que comigo, e quando ele pareceu criar coragem para me abordar, o Nolan chegou, para avisar que levou você até a casa do Justin e eu ignorei o James completamente, porque queria ir atrás de você. Mas, então, Nolan me convenceu de que não era uma boa ideia e, bem, eu passei a noite na casa dele... — Eu a olhei maliciosamente e ela ruborizou. — Não é nada disso que você está pensando. Foi só por termos combinado de ir o mais cedo possível até você e porque eu não queria ficar sozinha com os pensamentos.

Eu olhei-a com desconfiança e esbocei meu melhor sorriso perverso.

— Não aconteceu nada, sua tarada. Quer dizer, só um beijo, talvez. — Minha expressão surpresa lhe rendeu uma gargalhada. — E, para resumir, o James não sabe de nada, claro, mas tem me evitado desde então.

Ela jogou o cabelo para trás, completamente despretensiosa, antes de sair do banheiro, deixando-me totalmente atônita para trás.

— Laurence, volta aqui — falei, seguindo-a. — Eu quero saber mais!

Ela esboçou um sorriso falsamente inocente.

— Estou no meu horário de trabalho, Sav. E você tem que se alimentar, antes de voltar para a sua luta — disse, piscando em minha direção e eu fiquei emburrada.

Lauren me evitou mais que o diabo fugindo da cruz e quando eu tinha desistido de lhe tirar informações, ela se sentou em minha frente e me contou detalhadamente o que aconteceu: Nolan foi dormir no sofá e liberou a cama dele para ela, mas eles ficaram conversando até tarde e ele começou a falar sobre a época do colégio, admitindo o quanto ele gostava dela e, depois, falando que se sentia orgulhoso da mulher que ela havia se tornando. Então, Laurence Lynn Edwards o beijou. E ao me contar isso, eu dei um grito e me levantei, como um amante de esporte faz quando seu time abre o placar. Sem me importar com a maneira como as pessoas nos olharam, até porque Lauren riu como uma criança e isso me encheu de um sentimento ardente.

Eles se encontravam todas as noites após o expediente dela, desde então. A informação encheu-me de contentamento, afinal de contas, eu conhecia e confiava plenamente em Nolan Green para cuidar, respeitar e valorizar a minha melhor amiga. E era bom ver como as coisas andavam se acertando, apesar dos conflitos que Justin e eu andávamos enfrentando. Era maravilhoso que nós duas finalmente tivéssemos encontrado as pessoas que nos faziam perder o fôlego e o juízo, mas nos deixavam preenchidas e pacificadas, ao mesmo tempo.

Ao retornar de meu horário de almoço, com um sorriso amplo congelado em meus lábios, me dei conta de que se fosse questionada naquele momento, poderia afirmar sem medo e com extrema certeza que eu, enfim, estava completamente feliz.

⚜⚜⚜

Ao estacionar em frente à enorme casa, pulei do carro e segui completamente saltitante. Nem o silêncio lutuoso dentro da mesma, evidenciando que o Justin não estava em casa, afetou o meu ânimo.

Sem me preocupar, fui até a cozinha. Estava enchendo um copo com água, quando meu celular tocou. Olhei no visor e estava sorrindo, ao atender.

— Mãe.

Meu entusiasmo era visível. Eu havia lhe passado meu novo número entre uma de nossas conversas na noite anterior, visto que havia o mudado, enquanto morava na casa de Lauren, para me livrar das chateações do Mason. Eu só não imaginei receber uma ligação sua tão cedo.

— Oi, querida. Como você está?

— Perfeitamente bem — respondi, colocando o celular no viva-voz e deixando-o sobre a bancada. Ia preparar um sanduíche para aplacar minha fome. — E a senhora?

— Estaria melhor se o seu pai não tivesse a feito ir embora tão cedo ontem — disparou e eu inclinei meus lábios.

— Não se preocupe com isso, mãe.

— Me desculpe, tenho mesmo que me desculpar — ela insistiu.

— Não tem que se desculpar pelas atitudes dele — rebati, categórica.

Ela suspirou pesadamente do outro lado da linha.

— Eu sei que não — respondeu em tom baixo.

— E então, quando terá o próximo bazar? — perguntei, desconversando.

— Esse fim de semana — ela contou, animadamente. — Você vem, não é?

— Claro que sim, mãe. Mas só estarei livre depois das duas, tudo bem?

— Sim — ela disse, sua voz soando aguda e alegre. Eu sorri. — Vai ser bom tê-la por perto, sinto tanto a sua falta.

— Sinto a sua falta também, mamãe.

— Mamãe — ela repetiu e pelo tom em sua voz, parecia estar sorrindo. — Oh querida, você não me chama assim há tanto tempo...

Há muito tempo eu havia pensado ter deixado de ser filha dela também, mas estava errada. Estava redondamente errada por sempre tê-la responsabilizado pelos erros dele, apesar disso, estava realmente disposta a me relacionar melhor com ela. Recuperar o tempo que havíamos perdido, enquanto ainda tínhamos tempo.

— Savannah — ela chamou-me de volta para a realidade, quando eu colocava a fatia de pão sobre o monte de presunto e queijo que havia erguido sobre outro. — Eu estive pensando... o que você acharia de voltar para casa?

A saliva entalou em minha garganta, como se fosse à pergunta dela, e eu tive dificuldade em engoli-la. Senti meus olhos lacrimejando.

— O seu aniversário é na próxima semana e eu gostaria que comemorássemos juntos. Podemos fazer um jantar, o que você acha? Podemos chamar a Hel, o Sam e a Cass, tenho certeza que eles virão. Eles vão ficar tão felizes em te ver bem...

— Mãe...

— Essa casa é vazia sem você, Savannah — ela me interrompeu. — Minha vida é vazia sem você. Você é a coisa mais preciosa que eu tenho, minha única filha. E eu sei que não vou tê-la para sempre sob as minhas asas, mas é dolorosa essa sensação de que nem mesmo a tive por perto o suficiente.

Tentei conter a súbita vontade de chorar que espremeu minha garganta.

— Você não precisa decidir agora, pode pensar com calma, é claro. Eu sou realmente grata pelo que o Justin fez e tem feito por você, sou grata por ele ter te dado abrigo. Não quero que pense que estou propondo que volte, porque de algum modo pretendo afastá-los. Eu só quero ter você mais perto de mim.

 — Eu gosto de morar com ele — foi tudo o que eu consegui dizer.

— Eu sei que sim, mas... você ainda é muito nova e vocês estão... começando. Talvez essa convivência toda não seja boa, é melhor e mais saudável ter um espaço, ter um tempo para sentir saudade e saber viver na ausência um do outro.

A declaração dela me fez pensar na dependência cada vez mais absurda que eu sentia de estar na presença dele, e isso me fez sentir como se estivesse doente.

— Eu estou mais inclinada a viver minha vida agora, mãe — declarei, cuidadosamente. — Penso que já estou pronta para ter minha própria vida, quem sabe, até mesmo meu próprio lar.

Ela sustentou o silêncio por um considerável tempo.

— Seja qual for sua decisão, vou ficar contente em apoiá-la. Desde que isso não volte a nos afastar — concluiu e eu sorri instantaneamente.

Ficamos conversando por mais um tempo, enquanto eu comia e ela falava sobre o bazar e como funcionaria, como eu poderia ajudar; eu teria que tirar um tempo para fuçar meu guarda-roupas e me livrar de tudo o que não usava mais.

Ao finalizar a chamada, eu estava me sentindo ainda mais renovada. Subi para o meu quarto, decidida a tomar um banho. Dei uma passada no quarto do Justin antes, só para me certificar de que ele realmente não estava. E, depois, segui para o meu.

O quarto do piano estava aberto, então, após um banho relaxante e vestir um pijama confortável, eu decidi extravasar a tensão e dar uma alongada em meus dedos. Me aventurei entre as sinfonias de Mozart, Beethoven e Bach que eu conhecia. Errei grande maioria, por conta do longo tempo sem tocar e o esquecimento das notas, mas acabei suficientemente me divertindo sozinha.

Só me dei conta de que estava sendo observada, ao instintivamente olhar para trás e me deparar com o Justin escorado no batente da porta, olhando-me com um sorriso estonteante repuxando o canto de seus lábios.

— Oi — falei, o sorriso quase juntando as pontas de meus lábios com as minhas orelhas.

— Oi — ele disse baixo.

Sem demora, vi que estava meio ressabiado, potencialmente por conta da noite da passada.

— Vem cá — chamei-o, batendo no espaço ao meu lado e ele hesitou um pouco, antes de me obedecer.

— Você realmente manda bem nisso — ele deu fim ao silêncio, apontando para o piano e sorrindo.

— A falta de prática me debilitou um pouco — comentei e ele riu.

— Você precisa mesmo mandar a falsa modéstia se danar — rebateu, divertido.

A risada me saiu desenfreada e lembrei-me de sua confissão a respeito de gostar da mesma. O silêncio se seguiu, eu me perdi em suas feições. Ele estava vestido como se tivesse ficado em casa o dia todo e seus olhos estavam um pouco avermelhados e inchados, ele não aparentava ter tido uma boa noite de sono.

— Por onde esteve? — perguntei e ele moveu-se inquieto, desviou o olhar.

— Alguém jogou uma pedra na janela da sala de jantar — contou e eu estreitei as sobrancelhas. — Eu ouvi muitos passos por aqui hoje, falei com o xerife.

         — Falou com o xerife? — perguntei, confusa.

         — Sim, eu o conheço. Ele era amigo de Steve. Disse que vai espalhar alertas pela cidade, para os jovens não se acharem no direito de vandalizar a minha casa, achando que vão ficar impunes.

         — Eu sinto muito — eu murmurei, sentindo-me esmagada pela culpa. — Se eu não tivesse... se você não tivesse me conhecido... nada disso estaria acontecendo.     

         — Não diga isso — ele retrucou, censurando-me. — Nunca mais diga isso, Sav. Eles me descobririam uma hora ou outra, mas não conhecer você... não conhecer você seria o fim para mim.

 Expirei, evitando o olhar dele. Pensei na conversa que tive com a minha mãe e em sua proposta. Não podia deixar o Justin naquele momento, depois de ter virado sua vida de pernas para o ar. E não apenas por isso, mas por não conseguir imaginar os meus dias sem a presença dele. Por não conseguir imaginar seguir a minha vida na ausência dele e do seu perfume, que varria toda a sua casa. Mesmo quando ele não estava lá, eu ainda conseguia senti-lo, porque havia muito dele em cada canto.  

Havia muito dele em mim.

Inconscientemente, meus dedos começaram a dedilhar algumas notas, que logo se transformaram em uma melodia melancólica. Ele ficou ao meu lado, quieto, apenas escutando. Seus olhos fixos em mim, o tempo todo.

— Eu ouvi — ele disse subitamente e eu rapidamente parei de tocar.

— Ouviu o quê? — questionei, ressabiada.

— A conversa entre você e a sua mãe...

Eu encarei-o perplexa.

— Eu vi que você chegou e ia falar com você, mas, aí, me aproximei da cozinha e vocês estavam conversando. Decidi esperar.

— Lá em baixo? — indaguei e ele ficou calado. — Lá naquele quarto, onde você não quer que eu entre nunca?

— Savannah...

— Eu não quero que sinta obrigado a compartilhar os seus segredos comigo, Justin — expliquei, erguendo meu dedo indicador. — Tudo o que eu tenho tentado esse tempo todo, é fazer com que você confie em mim.

— Eu confio em você — ele contestou, franzindo a testa.

— Não o bastante — repliquei, ressentida. — Não o bastante para me tirar desse escuro que é tentar entender você e o seu passado. Eu tenho estado aqui, pelo o que sinto por você e não por ter conhecimento de quem você realmente é.

— Há coisas que não podem ser entendidas, Savannah — ele disse com um pouco de hostilidade. — Eu nunca prometi isso a você, eu nunca prometi que te contaria tudo. E eu também não espero que você fique comigo, se tudo o que ainda tenho e estou lhe oferecendo, não é o bastante.

— Eu não disse isso — declarei rapidamente, franzindo as sobrancelhas. — O ponto aqui é que você não pode exigir que eu seja honesta com você e esperar que eu aceite você não sendo honesto comigo, Justin.

Ele assentiu em silêncio, apesar de não parecer realmente concordar com as minhas palavras. Droga, eu pensei. Era para nós estarmos tendo uma conversa civilizada, eu mal podia acreditar que tinha deixado às emoções fugirem do controle outra vez.

— Eu não quero que você vá embora, Savannah. Mas eu não quero que fique só por ficar — ele rebateu, estreitando os olhos. — Quero que fique porque você nem mesmo pensa em ir.

Eu respirei profundamente.

— Não penso em deixá-lo — falei e ele me olhou atentamente, afastou uma mecha de meu cabelo para trás de minha orelha. — E se pensasse, não conseguiria.

Ele fitou meus olhos profundamente.

— Tudo vai ser igual se você for — sussurrou. — Eu ainda vou ser seu, se você me quiser.

Senti uma pontada em meu peito e um nó pungente começou a se formar em minha garganta.

— Parece muito interessado em se livrar de mim, Justin Bieber — falei com desapontamento e ele suspirou, levantou-se e impôs alguns passos entre nós.

— Eu só estou começando a achar que toda essa aproximação comigo, não tem feito bem para você. Estou contaminando-a com a minha loucura.

A expressão de descrença varreu meu rosto e eu me levantei em um rompante, conquistando a atenção dele.

— Essa foi à coisa mais absurda que você já disse — retruquei, revoltada.

— Não tem nada de absurdo na verdade, Savannah.

— Foi o que ele te disse? — perguntei, deixando-o desestabilizado. — Foi isso que o Mason disse para você ontem? Que vai me contaminar com a sua loucura e, por isso, deve me deixar ir? Porque a vida é feita de sacrifícios e, às vezes, o caminho mais difícil, é o único certo a ser seguido?

Justin passou de acuado, para contrariado, em uma fração de segundos.

— Você não devia escutar atrás da porta, acaba tirando conclusões equivocadas — ele advertiu friamente.

— Foi acidental, de qualquer maneira. E conhecendo meu pai, como conheço, não acho um equívoco supor algo desse tipo.

A expressão do Justin endureceu, ficando indecifrável como eu nunca a vi antes. E ele se calou.

— O que aconteceu naquela social, está abrindo um abismo entre a gente — ele deu fim ao silêncio e eu me senti profundamente irritada com a desculpa estapafúrdia dele.

— Essa estranha falta de comunicação está abrindo um abismo entre nós, Justin — rebati, agressivamente. — Você me diz para não sentir culpa, mas, então, soa como se eu devesse ser responsabilizada.

— Eu não estou fazendo isso — ele contestou depressa.

— Mas é o que parece!

— O que você quer de mim? — ele gritou e isso me fez retrair momentaneamente.

Toda a sensação de felicidade que senti com a Lauren e ao falar ao telefone com a minha mãe, desaparecendo. Desaparecendo diante da pessoa que eu acreditava ser a principal causadora daquele sentimento.

Em silêncio, eu concluí que mamãe estava mais do que certa ao dizer que tempo e espaço seria mais saudável para nós dois. E me levantei, disposta há estabelecer esse tempo que possivelmente precisávamos, visto que ainda parecia impossível termos um diálogo, sem acabarmos entrando em uma discussão.

Antes que eu pudesse sair pela porta, no entanto, Justin segurou o meu braço.

— Me desculpe — murmurei, quando meu olhar recaiu sobre o dele e eu detestei o fato de perdoá-lo tão facilmente. — Eu não sei o que está acontecendo comigo, Sav... eu... me desculpe. Eu entendo as suas exigências, eu entendo que espere sinceridade entre nós, porque é isso o que eu espero também. Mas tem sido difícil...

— Eu entendo que seja — murmurei, ficando de frente para ele. — E eu não espero que me diga as coisas só porque eu quero, espero que me conte-as por vontade própria.

Ele assentiu e tocou o meu rosto. Eu senti todos os meus sentidos ficando automaticamente anestesiados com a pressão de seus dedos.

— Tudo bem — soprou, como se falasse consigo mesmo. — Sem mentiras e sem segredos. Você é a única em quem eu confio agora.

A sensação ardente reascendeu dentro de mim e me aproximei mais dele, como se um ímã me conduzisse.

— Eu guardo coisas dos meus pais lá em baixo, no quartinho — Justin contou de uma vez, como se puxasse um esparadrapo colado em sua pele. — É um lugar privado para mim, me escondo lá desde... desde sempre. Steve nunca entrou, porque ele sabia. E eu podia ter dito com mais educação para você, o que isso significa para mim... eu só.. eu — suspirou. — Eu sinto muito.

Eu acariciei o rosto dele e espontaneamente cheguei mais perto. Profundamente aliviada pela teoria de Lauren estar correta e ainda mais penalizada por ter o pressionado tanto.

— Eu entendo — sussurrei e ele balançou a cabeça. — E respeito isso.

Ele repousou a testa na minha e expirou.

— Ele quer que eu a deixe ir e ela quer que você vá — murmurou, de olhos fechados. — Mas eu não quero. E me sinto um egoísta de merda por isso, porque, no fim das contas, é você quem tem que decidir.

— Eu quero ficar com você — segredei e juntei nossos lábios demoradamente, sentindo os arrepios subirem da ponta de meus dedos dos pés, até minha cabeça.

— Eu não devia ter escutado as asneiras dele — ele devaneou, fazendo carinhos circulares em meu rosto —, não devia ter deixado isso me abalar, porque é exatamente isso o que o seu pai quer. É o que ele sempre quis.

— Como assim? — rebati e ele abriu os olhos, seu olhar se perdeu no meu. — Ele sempre quis — repeti. — Desde quando você e Mason têm esses problemas pessoais?

— Nós não temos problemas pessoais — ele respondeu, voltando a impor distância entre nós.

A risada me escapou nervosamente.

— Sem mentiras e sem segredos — reforcei.

Ele me olhou por um longo tempo, perdido na desordem de seus pensamentos. E eu esperei pacientemente, até que ele percebesse que eu não desistiria da resposta. Afinal de contas, eu corria o risco de acabar no centro daquele fogo cruzado e eu precisava estar ciente da gravidade do mesmo.

— Esquece isso, por favor — ele pediu, segurando o meu rosto entre suas mãos. — Eu detesto brigar com você.

— Se nós aprendermos a nos comunicar melhor, não haverão mais brigas, Jay — expliquei calmamente. — Eu só queria entender o que há de errado entre vocês, porque eu pude sentir isso ontem, o tempo todo. Mas se você não quiser falar...

Ele respirou alto, me interrompendo. Não se distanciou, mas parecia vagar distante, quando sua resposta finalmente veio, surpreendendo-me como nada jamais fizera antes:

— Mason Curtis destruiu a vida do meu tio.


Notas Finais


Rélouuu. Sei que demorei mais dessa vez e espero que não tenham pensado que eu ia sumir de novo hahah. É só que as ocupações estão grandes e os intervalos de tempo para escrever, pequenos. Mas, vamos que vamos. Muitas revelações estão previstas daqui em diante, então, preparem os coraçõezinhos. Deixem comentários, com suas lindas opiniões, e indiquem Paranoid; indiquem muito Paranoid, para azamigas, amigas das amigas, inimigas e etc!!! É isto. Até o próximo capítulo, paranoicas. 😘💙


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