História Permanent Vacation - Side To Side

Sydney, Austrália. 2 de Dezembro de 2016.

Estou indo até você

Porque sei que você tem uma reputação ruim
Não importa, porque você é uma tentação
E não precisamos pensar em nada (em nada)

               Depois de me despedir de Sophie prometendo encontrá-la esse final de semana na universidade para preenchermos algumas fichas, entrei na luxuosa limusine da família Hemmings. Eu estava atordoada porque eu nunca tinha entrado em uma maravilha dessas. Estar na Austrália era surreal, parecia que eu estava dentro de um sonho e esqueci de acordar. O dia estava ensolarado, mas a brisa leve que pairava no ar era relaxante, o cheiro do mar de uma praia que eu ainda desconhecia me deu uma puta vontade de explorar o lugar.

Josh, o motorista da família Hemmings me ajudou educadamente a colocar minha mala dentro da limusine, fechando a porta em seguida. Ele era um senhor de meia idade com um porte fino, vestindo um terno preto impecável mesmo com o calor que estava fazendo. Me sentei no enorme banco acolchoado, admirada com a vista de dentro.

O teto era branco e nele luzes roxas piscavam devagar, — Sophie ia pirar se estivesse aqui — uma música acústica agradável de algum cantor australiano tocava ao fundo. O cheiro de couro novo e de riqueza estava me deixando ansiosa, pensando em como eu iria agir quando chegasse na mansão. Eu não queria que a família Hemmings tivesse uma má impressão de mim logo no meu primeiro dia de chegada ou pensasse que eu era uma mal educada. Tudo bem que eu falo muitos palavrões, sou um pouco grossa e fria às vezes mas eu sei me comportar nas horas certas, já passei da idade em que eu tinha dezesseis anos.

Meus olhos pairaram para um balde de vidro cheio de gelo com garrafas de champagne e vodka. Fazia dois dias que eu não bebia nada, e só de ver aquela coisa linda na minha frente já me dava água na boca. Mas eu não podia beber agora e correr o risco de ficar bêbada pagando o maior mico.

Então optei por olhar a paisagem na janela fechada. Os vidros eram escuros, porém eu podia ver perfeitamente as ruas com enormes casas e mansões bonitas, coqueiros balançando levemente com a brisa, pessoas bem vestidas e aqueles famosos adolescentes que as pessoas gostavam de rotular "tumblrs", rindo pelas esquinas. Sorri lembrando do meu feed do Instagram, que eu não postava fotos há alguns dias. Estávamos passando perto de uma enorme ponte com a linda vista das águas. Não sabia se aquilo fazia parte da praia ou de algum rio.

Eu precisava me informar mais urgentemente.

Peguei o celular para olhar as horas e por aqui já eram onze da manhã. Eu estava morrendo de fome, não tinha comido nada depois de sair do aeroporto daqui e estava contando que eu tivesse liberdade para comer a hora que eu quisesse naquela mansão, porque cara, minha fome não tinha limites.

Passados quarenta minutos, a limusine parou em frente à uma enorme mansão branca. Meu coração acelerou de repente e me empoleirei na janela para ver como seria a casa que eu iria ficar por um ano. Porra, acho que nem a palavra mansão definiria a beleza disso. Os portões de entrada eram altos, ao lado tinha uma enorme porta de ferro que eu presumi ser a garagem. Havia um pequeno jardim em frente à mansão cheio de margaridas, rosas e outras flores que eu não conseguia identificar aqui dentro. Uma fonte de pedras ficava no meio do jardim jorrando água, deixando tudo de um jeito encantador que me lembrava a realeza. Essa era a vista mais linda da minha vida.

A porta da limusine se abriu e eu me sentei rápido se afastando da janela. Josh abriu um meio sorriso achando graça da minha cara de admiração.

— Senhorita Alves, bem-vinda à mansão dos Hemmings. — ele pegou agilmente minha mala pesada, fazendo um gesto para eu sair da limusine.

Quase caí para trás ao ver mais de perto a mansão. Depois do pequeno jardim havia uma estradinha de pedras até a entrada, onde tinha uma porta enorme de vidro me dando a chance de ver uma escada cor creme dentro da casa. Eu estava tão ansiosa para tirar um monte de fotos daqui, meu feed no Instagram iria ficar o máximo!

— Uau. — eu disse olhando para os três andares da casa.

— Antes de entrarmos, gostaria de dizer algumas regras básicas. — disse Josh em seu sotaque australiano. Eu amava o sotaque da Austrália.

Fiz uma careta com as sobrancelhas juntas não gostando nada do fato de haver regras.

— Quais são? — perguntei receosa enquanto Josh acenava para o segurança da portaria abrir os portões.

Passamos pelos portões adentrando o caminho para a mansão por meio do jardim. Eu queria pegar minha mala e levá-la eu mesma, porque não me sentia confortável com pessoas fazendo por mim o que eu podia fazer, à menos que eu estivesse com uma preguiça do caralho. Mas esse era o trabalho de Josh e resolvi não reclamar.

— A familia Hemmings não gosta que tentem se meter em suas vidas pessoais, à menos que eles contem algo à senhorita. — acenei positivamente com a cabeça. Essa era fácil, eu também detestava intromissões em minha vida pessoal. — Eles detestam atrasos, então tente chegar na hora certa nas horas do café da manhã, do almoço e do jantar.

Eu estava ferrada, já que eu não era a pessoa mais pontual do mundo. Mas valeria a pena tentar, afinal era meu sonho que estava em jogo. Estávamos passando pelo jardim e meus olhos estavam brilhando de entusiasmo.

Josh continuou me lançando um olhar severo.

— Não tente arrumar confusões com Luke, o filho deles, e não mexa em algo que pertence à ele sem que ele tenha dado permissão. — tanta regra estava começando a me deixar nervosa. — E principalmente, não entre em quartos que não são o seu ou que também não lhe deram permissão para entrar.

— Tudo bem. — concordei, disfarçando meu nervosismo.

Josh caminhou à minha frente e abriu a porta de vidro. Entrei logo atrás dele novamente de queixo caído. Subimos as escadas cor creme e fiquei observando os quadros de pintores famosos nas paredes em tom pastel. Chegamos em um corredor e eu comecei a ouvir alguém conversando em algum cômodo da mansão. Congelei no lugar, pronta para receber a familia Hemmings.

Um homem bastante bonito, loiro de olhos azuis com uma barba enorme e bem feita junto com uma mulher um pouco gordinha, também loira, apareceram em meu campo de visão. Quando me viram começaram a caminhar sorridentes em minha direção e eu engoli em seco, presumindo que eles eram os donos da mansão. Imaginei que eles iriam me julgar pelo fato de eu só estar vestindo um vestido tomara que caia acima dos joelhos demais.

O que eu iria dizer? Cumprimentar eles normalmente? Eu odiava cumprimentar pessoas novas, porque eu não sabia como agir e sentia que minha postura estava torta ou começava a ver um monte de defeitos em mim.

— Você é a Margot? — a mulher loira perguntou, sem perder o sorriso alegre.

— Sim, eu mesma. Prazer. — estendi a mão desajeitadamente, mas a mulher me surpreendeu me pegando em um abraço rápido.

— Seja bem-vinda à nossa família. Sou John e essa é minha esposa, Liz. — o homem loiro estendeu a mão para me cumprimentar. Apertei sua mão, me sentindo um pouco mais relaxada com a forma que eles me receberam.

— Espero que possa passar bons momentos aqui. — Liz disse com um sorriso simpático.

— Obrigada, espero não incomodá-los durante esse tempo. — abri um sorriso discreto, ainda com as regras que Josh tinha dito impregnadas na minha cabeça.

— Não é incômodo nenhum ter você aqui esse tempo, querida. — disse ela, e gesticulou com a mão para que eu a seguisse. — Você deve estar com fome. Vou lhe mostrar a cozinha e onde ficam as comidas.

Meu estômago roncou baixo ao ouvir a palavra "comidas". Sophie tinha mesmo razão quando disse que eu tenho sorte de ter conseguido ficar aqui. John se despediu indo para o trabalho em sua empresa, e eu continuei seguindo Liz até a cozinha. Josh tinha ido colocar minha mala no quarto em que eu iria ficar, e não deixei de me sentir incomodada com tanta invasão de privacidade.

Chegamos na cozinha, e se eu estava impressionada com a mansão agora eu estava prestes à sair gritando e atacando a geladeira. Eu disse que quando estou com fome não tenho limites. Só a cozinha inteira cabia o dobro do meu apartamento, ou o triplo.

— Hoje a empregada está de folga, então você terá que preparar seu próprio lanche. — disse como se estivesse se desculpando.

— Não tem problema, eu morava em um apartamento com minha amiga e a gente tentava se virar.

— Ainda bem. Preciso trabalhar na empresa agora, tem comida e alguns lanches na geladeira ou nos armários à direita. Se precisar de ajuda é só chamar o Josh ou meu filho Luke, — ela olhou para o celular — que deve chegar daqui à pouco.

Assenti me sentindo aliviada por finalmente ficar sozinha. Liz me explicou mais algumas coisas, onde ficavam os quartos e a piscina, e eu tentei memorizar tudo enquanto ela se despedia me deixando sozinha na enorme cozinha.

Ok, agora era a hora de se sentir a rica nessa casa. Abri a geladeira encontrando mais uma vez a visão do paraíso. Peguei um pão com presunto e observei um pote com algo que parecia uma pasta dentro e o abri quase derrubando tudo no piso limpo. O que merda era essa que tinha um cheiro salgado demais? Eu realmente espero que essa família não tenha o hábito de comer comidas estranhas e grotescas, porque de comidas grotescas já bastava a minha que eu inutilmente tentava cozinhar no meu antigo apartamento.

Me sentei à mesa exausta, preparando meu costumeiro leite com Nescau. Enquanto comia, observei tudo ao redor me dando conta de verdade do lugar que eu iria morar durante um ano. Porra, como ontem eu estava em São Paulo e agora vim parar na Austrália em uma mansão luxuosa? A vida realmente dá muitas voltas, e comigo felizmente as coisas começaram bem.

Terminei de comer lavando o prato e a xícara que eu tinha sujado, o que não era do meu costume. Minha mãe sempre ensinou que na casa de outras pessoas era bem diferente da nossa, então já que eu acabei de chegar queria dar uma boa impressão. Resolvi procurar o quarto onde eu ia ficar, preocupada se eu conseguiria achá-lo nessa casa enorme.

Subi as escadas que me pareceram ser as que levam para os quartos, e avistei uma porta para um quarto em um corredor que tinha a vista para a piscina. Como eu estava precisando de um banho de piscina. Mas o necessário era tomar um banho decente, a piscina ficava para depois. Me aproximei da porta com receio de ser o quarto errado, quando toquei na maçaneta ela se abriu na mesma hora.

Eu quase caí para a frente quando a porta se abriu de repente, porém braços fortes me seguraram. Meu rosto estava enterrado de forma desajeitada no peito de seja lá quem for, e eu me afastei atordoada olhando para seu rosto. Abri a boca realmente perplexa com a beleza do garoto à minha frente, que mais parecia uma estátua de Adônis com uma camisa cor vinho de botões.

Seu cabelo era um tom de loiro dourado deixado para baixo de sua testa de um jeito charmoso, e seus olhos eram tão azuis que me deram a sensação de estar sendo hipnotizada. Meus olhos pairaram em seu lip ring preto no lado esquerdo da sua boca que o deixavam tão sexy que eu estava esquecendo de respirar decentemente. Ele me encarou confuso e ao mesmo tempo surpreso e abriu um meio sorriso maroto.

Puta que pariu, esse garoto ia ser minha perdição.

— Desculpa, eu estava procurando--

— Já sei, tô acostumado com as mesmas frases. É o quarto à direita. — ele disse em um tom blasé. Hum, então além de sexy ele era um completo grosso?

Não vou mentir, adoro! Essa aparência de bad boy gostoso dele estava me enlouquecendo. Eu facilmente me atraio por esse tipo de garotos, mesmo que eles não prestassem. Mas bem, eu também não presto então estamos na mesma.

— Ok, obrigada. — tentei soar educada quando minha vontade era de voar em cima desse garoto.

— Disponha. Vai ficar aqui por um ano? — ele perguntou se aproximando devagar com as mãos no bolso da calça jeans.

Meu coração começou a bater mais rápido com a proximidade dele. O que esse garoto estava fazendo comigo? Eu sempre tive controle das minhas emoções e agora chega um australiano gostoso, sexy e com um sorriso e uma voz de foder qualquer psicológico e me tira dessa armadura de autocontrole? Na boa.

— Isso. Aliás, meu nome é Margot. E você deve ser o--

O garoto sexy do lip ring me interrompeu novamente. Mas que merda.

— O famoso Luke Hemmings, eu mesmo. — ele estendeu uma mão para me cumprimentar. Ele ainda estava com um sorriso maroto, começando a brincar com seu piercing com a língua. Puta que pariu.

Apertei sua mão quente e senti um arrepio percorrer todo meu corpo.

— Prazer, famoso Luke Hemmings. — eu disse com ironia, olhando no fundo das suas íris azuis.

Ele soltou um riso baixo olhando para seus pés e em seguida direcionou seu olhar pra mim. Luke se aproximou de mim e eu senti seu perfume doce e intenso, e o cheiro gostoso do seu cabelo e das suas roupas. Antes que eu pudesse entender o que ele pretendia, ele me empurrou com força na parede próxima do quarto que eu ficaria e prendeu seus braços musculosos ao meu redor.

Fiquei totalmente sem reação esperando o que viria à seguir. Luke aproximou seu rosto do meu e colocou seus lábios macios em minha orelha, de forma que eu podia sentir sua barba rala encostando no meu pescoço. Quem esse garoto pensava que era pra chegar me assediando desse jeito? Não que eu não estivesse gostando, muito pelo contrário, eu estava adorando apesar de ainda estar confusa. Mas eu não sou uma qualquer e nunca vou ser.

Luke mordeu devagar o lóbulo da minha orelha colando seu corpo definido ao meu. Eu queria pará-lo, mas era praticamente impossível resistir.

— Me deixe te dar as boas vindas, Margot. — ele sussurrou no meu ouvido em um tom de voz rouco e grave.

Eu estava esperando ele me beijar de vez, mas ao invés disso senti um líquido gelado cair em meu vestido. Luke saiu de perto de mim parecendo relutante, e levantou uma garrafinha de bebida rindo da minha cara. Olhei para meu vestido percebendo que o desgraçado o tinha sujado de Vodka enquanto fingia me seduzir.

— Filho da mãe! — gritei com os dentes trincados, sentindo a raiva tomar conta de mim.

Luke apenas riu ainda mais, tomando um gole de Vodka indo descer as escadas. Ele me encarou com ironia ainda rindo da minha cara.

— Bem-vinda à família Hemmings, amor.

E piscou o olho pra mim começando a rir de novo da minha cara de "what a fuck?". Soquei a parede com vontade de descer atrás desse idiota e enché-lo de porradas. Eu realmente retiro o que eu disse mais cedo sobre como a minha vida tinha começado bem aqui na Austrália.

Luke Hemmings iria pagar caro por isso. Ele queria guerra, então é guerra que ele vai ter.