História Plante um Winwin - Dançar

28 de abril de 2017 – 05:41P.M

— Por que diabos você veio me buscar? — a universitária o praguejou aos cochichos, sendo impedida por si mesma de estapeá-lo ali mesmo graças as apostilas que carregava. — As pessoas poderiam lhe reconhecer, Sicheng-ssi!

— Acha mesmo que elas me reconheceriam? — questionou o chinês, tendo suas palavras abafadas pela máscara que usava, escondendo seu orgulho entre os tecidos de suas vestes ao ouvi-la formular duas frases consecutivas sem um pingo de hesitação. — Seu coreano melhorou muito, sabia? Já está sabendo até como me xingar!

Precisava concordar com o garoto: seu fala, assim como sua escrita, havia evoluído com o tempo graças às aulas de hangul disponíveis aos estrangeiros que ingressavam em sua faculdade, mas como elas não eram obrigatórias, nos primeiros meses, a ocidental insistia em manter-se o mais longe possível das classes de coreano, porém assim que passou a se socializar com seus colegas, além de Sicheng, acabou por sentir certa dificuldade em se comunicar com as demais pessoas sem ser seus pais e amigos, na qual ela costuma conversar em português pelas redes sociais.

— Estou em Seul há quase oito meses — observou a intercambista, ajustando a mochila as suas costas ao tentar fazer com que seu material em mãos não fosse de encontro ao chão. —, precisava ter uma ideia do que os professores diziam em sala de aula, so I...

— Mas você cursa Gastronomia! — exclamou ele, a interrompendo de modo não proposital. — É só você ver o que eles fazem e imitá-los!

Desta vez, dispôs seu esforço ao máximo para não agredir o moreno, que antes se encontrava loiro, ao seu lado, fechando os olhos ao inspirar e expirar, tendo como objetivo principal o fato de não estapear Dong Sicheng no meio da rua para não acabar em todos os sites de fofoca coreanos por espancar um idol.

— Entenderei isso como algo que uma pessoa que não possui experiências gastronômicas diria ao invés de uma mera ofensa à minha pessoa e à minha profissão.

O mais velho não ousou esconder o quão estava impressionado com o fato de ouvi-la falando tão bem em poucos meses de convivência. Realmente a admirava por ter conseguido dominar a língua asiática em tão pouco tempo.

— Aprendi essa frase com um dos meus professores — cochichou ao inclinar-se em direção ao amigo, que deixou que um riso sobrado escapasse de seus lábios.

— Me sinto orgulhoso em ouvir você falando tão bem — declarou em um sussurro, notando em seus olhos amendoados o quão estava surpresa pelo “elogio” inesperado. — Sabe, eu estou na Coréia há mais tempo que você e, mesmo assim, sua fala é melhor que a minha.

— Não sei se você sabe, mas eu também faço aulas de hangul na faculdade... Você se sente mal com isso? — ele negou, deixando que a confusão a tomasse.

— Muito pelo contrário. — retrucou, deixando que a timidez fosse visível em seus olhos. — E aí? Sobre o que estava aprendendo na faculdade este semestre?

— Chegamos à culinária coreana! — declarou, erguendo uma das mãos aos céus, agradecendo ao que estava lá encima. — Aprendi a fazer kimbap.

— Até eu sei fazer kimbap. — resmungou o mais velho, rapidamente atraindo o olhar da brasileira, claramente ofendida com sua fala.

— Mas eu sei fazer the best kimbap you will eat in your whole life — o chinês não negou seus risos perante o fato dela ter mistura ambas as línguas, já que a outra ainda não tinha adquirido um vocabulário tão amplo.

— Isso porque você cursa Gastronomia — “Tell me something I don’t know” a mais nova propôs em pensamentos. — Eu só sei dançar.

— EU SÓ SEI DANÇAR? — a mais nova exclamou em português, não deixando apenas Dong confuso, mas as pessoas ao seu redor também, pressionando as apostilas contra o peito ao conter seu nervosismo. — BATA NA SUA CARA ANTES QUE EU BATA!

O máximo que o oriental fez foi rir, mesmo não fazendo a mínima ideia do que Silvana dizia.

— Não faço a menor ideia do que você disse, mas foi engraçado. — declarou ele, tendo suas gargalhadas abafados pelo tecido em sua face.

— Quero ver você achar engraçado quando eu fizer três kimbaps e não der nenhum para você — praguejou a jovem, ainda em sua língua materna, andando à passos largos no intuito de deixá-lo para trás. — Sou eu quem vai cair na gargalhada, não você.

— Melo-ssi — clamou o ex loiro, logo atrás da estrangeira. —, poderia andar mais devagar?

— Do you want I walk slower? O.k, force me.

Tais palavras soaram como um desafio ao garoto, que rapidamente correu em direção a universitária, parando à sua frente, fazendo com que ambos acabassem em uma leve colisão.

— Sinceramente, eu não pensei que você fosse mesmo me se forçar — confessou, erguendo o rosto para encará-lo, se arrependendo de tal ato por notar o quão estavam próximos.

— Não gosto quando me subestimam — comentou o chinês, a assustando pelo simples fato de ter adquirido um tom tão sério.

— Lembre-me se nunca mais subestimar você porque isso me assustou — a mais nova tomou a palavra, voltando ao seu típico estado normal.

— Desculpe se lhe assustei, Melo-ssi — seu lado preocupado se fez presente, dando dois passos para trás para reverenciá-la.

— You know I won't forgive you that easy — estampou seu melhor sorriso malicioso nos lábios, despertando um certo acanhamento no moreno.

— O que você quer em troca? — questionou o jovem, cruzando os braços ao manter os olhos semicerrados.

— Um pedaço do seu cabelo, talvez — propôs, notando a aversão entre suas sobrancelhas franzidas. — Estou brincando. Só quero um ramyeon.

— Você quer comer ramyeon agora? — estranhou, já que, na maioria das vezes, ambos optavam pelo tradicional lanche da madrugada. — Não são nem seis da tarde!

— E quem disse que precisa ter hora exata para comer ramyeon?