História Polisipo - Imagine Tengen Uzui - Capítulo 18

Meu coração batia feito doido, eu não sabia ao certo como ou a quanto tempo estávamos naquela situação. Tudo o que eu tinha que fazer era recolher as folhas secas do chão, mas de alguma forma, Sanemi estava ali.

- Que foi, porra?! – Eu jurava que ele havia dito aquilo rosnando, meus olhos se arregalaram na mesma hora.

O que isso significava? Eu estava ali primeiro, mas ele estava irritado de me ver?

- Não é nada... – Desviei o olhar, eu ainda me lembrava muito bem da última vez em que nos encontramos, ele era alguém da qual eu não queria me envolver.

Sanemi estalou a língua, eu não sabia o que fazer, já que ele estava pisando na pilha de folhas. Definitivamente se eu pedisse para que ele fosse um pouco para o lado, minha cabeça sairia rolando.

- O que você está esperando? – Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, continuou a falar. – Quer que eu te agradeça?!

- O que...? – Franzi de leve minhas sobrancelhas, pelo o quê eu iria querer sua gratidão? Por ser humilhada?!

- Muito bem, eu te agradeço por ter cuidado do idiota do meu irmão. – Tão rápido quando chegou, ele foi embora. Mal tive tempo de ver sua sombra quando um pacote foi arremessado na minha cara. – Tengen disse que você gosta dessas merdas.

Olhei para a embalagem colorida, pareciam doces mas não tive certeza. Tudo tinha sido muito rápido, eu nem entendia sobre o que ele estava falando, ou se esses doces tinham veneno.

Ele não faria isso, não quando eu estava trabalhando ali e Shinobu era expert em venenos.

Certo?

- Melhor guardar isso. – Olhei para a embalagem, não havia nada escrito ou desenhos, o que dificultava em descobrir do quê se tratavam. – Evitar situações como essa.

- Eu não acredito que ele fez isso. – Uzui gargalhava escandalosamente, eu havia explicado a situação de mais cedo e buscava uma resposta para o momento estranho.

- Seria legal se você me explicasse o porquê dele ser grato. – Obviamente não era por ter me encontrado mais cedo, Sanemi era uma pessoa difícil de entender, e olha que eu tinha uma pequena amizade até mesmo com Tomioka.

- Você não deve saber ainda, mas se lembra do garoto que salvou? Que estava prestes a morrer por causa do sangramento. – Assenti, eu tinha ficado em choque nesse dia, eu duvidava que poderia me esquecer facilmente. – Ele é o irmão mais novo do Sanemi.

Busquei nas minhas memórias a aparência do garoto, eu não poderia dizer que eram gêmeos, mas definitivamente havia algumas semelhanças entre ambos.

- Eu não sabia que ele tinha um irmão mais novo. – Enquanto eu sovava a massa do pão, Uzui ficava sentado a minha frente comendo alguns salgadinhos. – Aliás, o que você está fazendo aqui?

Ele arregalou os olhos e apontou um dedo em minha direção. Eu não tinha certeza se as garotas haviam conversado com Uzui sobre nossa conversa, mas eu esperava que não.

- Você não ouviu falar sobre os recentes ataques de demônios? Deveria estar grata por eu estar aqui te protegendo. – Fiquei abismada com tamanha cara de pau, ele estava se tornando um tremendo folgado.

Eu estava pronta para responder ele, quando os passos apressados me chamaram a atenção.

Dei de cara com Aoi que corria desesperada pelo corredor.

- (S/N)! Perfeito, eu estava te procurando. – Ela estendeu um papel, uma lista de compras. – Preciso que você vá comprar essas coisas, a mansão está cheia e estou com medo de faltar comida!

- Tudo bem, eu já vou. – Ignorei as reclamações de Uzui e corri para a vila sozinha, já estava começando a escurecer então a janta logo teria que ser servida. Depois da minha primeira visita a vila, em que eu havia me perdido e Uzui me encontrou, eu nunca mais me esquecera do caminho.

Terminei as compras em pouco mais de trinta minutos e ainda ganhei uma porção de manju da senhora da barraca de doces, as meninas ficariam felizes assim que vissem aquilo.

Parei no meio do caminho quando escutei um choro, não parecia vir de nenhuma das casas, andei devagar e espiei o beco que havia ali. Dois homens estavam deitados sobre uma garota, seu kimono estava uma bagunça e parecia ser mais nova que eu, o choramingo abafado pelo tecido que cobria sua boca me fez paralisar.

Devagar eu coloquei minhas sacolas no chão e toquei na faixa que cobria minha cintura, retirei dali um par de kunais que havia recebido do Uzui para autodefesa, caso alguma coisa acontecesse. Minhas mãos tremiam com o pânico, eu conhecia esse choro, eu passei minha vida toda com ele.

Me aproximei sem chamar a atenção de nenhum dos dois, a garota pareceu me notar e pude perceber um pingo de esperança no seu olhar. Levantei as duas armas e perfurei ambas as pernas de um dos homens.

Ele gritou e o sangue quente jorrou nas minhas mãos.

- Corre! – Puxei de volta minhas kunais. Surpreso o outro homem de cabelos escuros se levantou em minha direção, mas pareceu achar graça quando viu que eu era uma mulher.

- O que foi, querida? Ficou com ciúmes que não estava ganhando atenção? – Vi com nojo o membro do homem rijo sob a calça do hakama. Engoli a bile que subia pela garganta e vi a garota correr desesperada para o mais longe possível.

- Eu sinto repulsa de coisas como vocês. – Ele pareceu notar minhas mãos tremulas e se aproximou.

- Chega de brincar de heroína, porque não vem se divertir conosco, já que a outra fugiu? – O outro homem agora se levantava, não perdi tempo e saí correndo.

O mais baixo havia sido atingido nas pernas então mal conseguia correr, mas o outro era rápido e tentava me puxar de volta. Em uma batalha corpo a corpo eu era mais fraca, então tive que tentar acertar de longe as duas kunais que tinha nas suas pernas.

Uma simplesmente caiu da minha mão e a outra sequer passou perto de acerta-lo, não parei de correr nem por um segundo, meus pulmões doíam e meu coração batia feito louco.

Eu devia estar a pelo menos duas quadras da mansão, se eu gritasse pelo Zenitsu provavelmente poderia me escutar com sua audição perfeita. Enchi meu peito com o ar e gritei o mais alto que pude, mas não foi pelo Zenitsu.

- Tengen-sama! – O homem me puxou pelo cabelo e minhas pernas falharam, caí para trás e senti ele apalpando meu seio.

Minha visão ficou embaçada e perdi o ar, estava sem forças para me mexer e ali eu seria mais uma vez abusada.

- (S/N)! – Escutei a voz do Uzui se aproximando em uma velocidade assustadora. Fui jogada no chão e imaginei que o cara tentava escapar, tentei me levantar para sair de perto dele mas minhas pernas simplesmente não me obedeciam.

Um outro vulto passou ao meu lado e derrubou o estuprador, Tomioka me olhou de longe para se certificar de que eu estava bem enquanto cuidava do homem.

Um par de braços enormes me envolveu gentilmente, toquei a pele quente e um soluço me escapou.

- Tengen-sama... – Ele murmurava palavras acolhedoras no meu ouvido, o que me fez chorar mais ainda.

- Está tudo bem, ninguém mais vai te fazer mal. – Apertei o tecido das suas costas enquanto ele acariciava meu cabelo. Era difícil de acreditar em suas palavras, quando nós mulheres estaríamos a salvo com tantos doentes soltos?

- T-Tem mais um... Eu perfurei suas pernas, ele deve estar por perto. – Minha voz era abafada pelo abraço do Uzui. Imaginei que Tomioka-san foi atrás dele, pois Uzui continuava ali me reconfortando.

Me separei devagar quando percebi que muitos da mansão estavam ali, as quatro meninas pareciam prestes a chorar por mim. Me levantei com a ajuda delas e imaginei que Uzui tenha ido atrás do outro homem junto com Tomioka-san, ele se afastava de mim mas pude perceber suas mãos com um par de kunais parecidas com as minhas.

Não tivemos notícias sobre o que quer que tenha acontecido com os dois homens, mas Uzui e Tomioka-san entraram na mansão depois de algumas horas com as mãos respingadas de sangue e inchadas, ninguém tocou no assunto.

O de olhos azuis deixou na cozinha a sacola que eu carregava antes, no fim não foram necessários todos aqueles ingredientes.

Já estava deitada quando bateram na minha porta, dei de cara com Uzui descabelado, ele já estava com outras roupas e mãos limpas.

- Podemos conversar? – Ele me olhava nos olhos.