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História Por que o Mar me Odeia? - Festa de Cores


Escrita por: Nabo

Notas do Autor


Olá. Vocês já devem quase ter esquecido essa fic, pela demora que eu tive dessa vez... Mas bem, é a ultima vez... Estive caprichando, querendo que fosse o capitulo mais completo e longo até agora. Talvez já tenham notado que a fic está como "Terminada: Sim"... É... Meu coração está em frangalhos, miudinho e apertado... Espero que gostem, desde já... Peço que vejam em cada linha, o amor que cultivei por essa história... <3

Capítulo 39 - Festa de Cores


Fanfic / Fanfiction Por que o Mar me Odeia? - Festa de Cores

Percy sentiu como se sua cabeça fosse rachar ao meio. Antes que se recuperasse do primeiro impacto, a garota de olhos cinza queimando coléricos a sua frente o golpeou de novo com a prancha. Ele ergueu os braços no intuito de proteger o rosto.
Annabeth ia bater mais uma terceira vez, mas não era fácil usar uma long board pra isso. Jogou a prancha na areia e investiu na direção de Percy de punhos cerrados. Antes que ela o acertasse em cheio no nariz, como ele sabia que aconteceria, Percy segurou-lhe os pulsos com o mínimo de força possível. A garota resistiu, desequilibrando ambos, que caíram na areia branca.
Percy caiu por cima, ainda segurando as mãos de Annabeth. Os rostos próximos. A multidão ao redor, (cuja relevância não existia para os dois), respirou fundo. Dentre os amigos que assistiam a cena, Piper conteve um riso malicioso, enquanto Hazel escondeu o rosto entre os cabelos. 
Por um instante em que Annabeth não tentou usufruir da violência, os dois se encararam. Então ela tomou a iniciativa de falar.
- Estou terminando com você.
Um sobressalto. Piper levou a mão a boca e se entreolhou com Hazel, depois Jason. Alguém em algum lugar disse "Não!", talvez Leo. Quem parecia menos surpreso era Percy. Ele já esperava por essa reação, estava apenas meio magoado. Engoliu em seco.
- Que infantil da sua parte. - Ele sorriu de lado.
Agora sim, Annabeth parecia ter levado uma bofetada na cara. O que significa que estava pronta para matar.
- Infantil?! - Ela vociferou. - Você sumiu! Do nada! Passei semanas preocupada! E do nada você volta! - Ela engoliu o aperto que começava a subir por seu peito. - Como pode fazer isso comigo?
Isso também machucou Percy. Ele a beijou. 
Um beijo a princípio cuidadoso então terno. De saudade. De desculpas. 
- Você não vai terminar comigo. - Ele levantou e a ajudou a fazer o mesmo. Agora de pé ele afastou o cabelo enrolado e loiro dela para atrás da orelha e completou com um beijo rápido. - Confie em mim.
A bateria ia começar. Annabeth foi atordoada para a o start beach, porém, mil vezes mais preparada para encarar o mar, que por sua vez parecia mais empolgado. Impossível entender como ela conseguia saber se o mar estava empolgado ou não. Apenas sabia.
Foi dado o sinal. Reyna, Piper e Annabeth correram para a água.
Reyna era um rolo compressor. Annabeth parecia um ninja possuído sobre a prancha. E Piper podia ter recebido uma dose de raios gama. 
Annabeth se sentia tão unida com o mar, como se fosse parte dele, que não via a possibilidade de perder. Mesmo quando Reyna lhe roubou duas ondas seguidas. Por suas contas as duas estavam praticamente empatadas no primeiro lugar. Precisava se mexer pra despachá-la de seu lugar no pódio. 
Mas a próxima a pegar a onda foi Piper. A Batida de Lip, a Rasgada... Cada movimento conciso e e gracioso. O cabelo cor de mogno, trançado, brilhando sob o sol.
Annabeth queria um tubo... Se ela passasse adequadamente por um tubo, ganharia. Em sua mente, pediu por uma boa onda. 
O mar não a decepcionou. Lá na frente, a onda perfeita começou a se formar, elas se sentiram antes de tudo. Annabeth começou a remar com os braços entusiasticamente. As outras duas ficaram para trás. 
Annabeth adentrou a onda. Estava no tubo. Posicionou o pé de trás, calculando a pressão, e pôs a mão na parede da onda, controlando a velocidade.
O tempo parou.
Dentro do tubo a luz e o ar eram novos em tudo que Annabet já havia sentido. Era uma sensação semelhante a quando ficara na bolha de ar submersa com Percy. Mas dessa vez era só ela. Ela e o mar. Tudo diferente, por ser ela a realizar e sentir. Havia um sussurro vindo da água cristalina, como palavras de amor, que mesmo sem entendê-las, fez com que a garota se sentisse boba por um dia ter pensado que o mar a odiasse. Isso lhe apertou o coração, porque ainda estava incompleta, e sentia medo se se completar de novo. Naquele tempo parado Annabeth olhou a praia. 
Viu Percy próximo a maré, gritando por ela animadamente. Viu todos seus amigos. E viu seu fã club em sua torcida incansável, Nico e Bianca estavam com eles, acompanhando a coreografia no maior entusiasmo que conseguiam. E... viu seus pais.
Seu coração parou. O mar pulsou como em conjunto com ela e seu desespero emergente. Eles estavam ali. Não como em uma alucinação, que já havia acontecido antes. Estavam ali de verdade. Nem como fantasmas. As duas figuras fantasiadas de antes, eram eles. ELES ESTAVAM ALI!!! DE VERDADE!!!
Atena com sua postura que oscilava de Rainha Absolutista à Ditador Militar, ao lado do marido que estava mais para gênio louco, tentando acompanhar a letra da torcida.
Um misto de emoções explodiu e implodiu, expandiu e se desintegrou dentro de Annabeth. Começando pela alegria, euforia, então amor, medo, confusão... E tantas coisas que ela, nem ninguém conseguiria nomear. As engrenagens de sua cachola começaram a movimentar em eixo, rápidas e ajustadas, pensando em mil coisas conflitantes ao mesmo tempo. Onde estava a lógica!!?
O tempo aos poucos foi se dissolvendo e voltando ao normal, mas Annabeth estava em choque, é claro. Então por isso é totalmente compreensível que ela tenha levado um caldo.

Foi uma queda bem engraçada.
- Ai. - Percy comentou pra si mesmo. Sabia que a essa altura, Annabeth já podia respirar de baixo d'água e não se afogaria, ainda assim, foi uma queda gloriosa.
A praia toda soltou um som de espanto, e depois alguns riram. Incluindo Lupa, a treinadora de Reyna. Percy olhou feio pra ela, como se repreendendo-a por rir de sua namorada, e a mulher ameaçadora respondeu com um olhar ainda pior. Percy imaginou que rir com escárnio seria a forma como ela trataria os tropeços de um bebê, não só quedas de rivais de sua aluna, tipo "Ok, filhote! Levante sozinho e volte a ser fofo!".
Ao voltar-se novamente para a competição que acontecia no mar, viu Annabeth emergindo com sua prancha do que restara de sua onda muito irada. Reyna e Piper já remavam em direção a uma próxima que vinha se formando. A princípio parecia que Reyna teria a onda. E Percy achou super merecido, a garota arrebentava! (Nota: não falar isso perto de Annabeth.). Mas Piper roubou sua onda, como a outra tinha feito com ela durante toda a tarde.
Naquele momento, Piper fez todos lembrarem que ela também era uma com o mar. Suas manobras foram mais que um show. Muito porém, a buzina declarando o fim da bateria final soou no meio de sua performance.
Annabeth ainda estática, boiava ao lado de sua prancha. Uma mão apareceu e a ajudou  subir.
- Você está bem? - Perguntou Reyna.
Annabeth demorou pra responder, mas quando o fez, estava firme. - Provavelmente.
Reyna não disse mais nada, apenas continuou sentada em sua prancha dourada e prateada, encarando Annabeth, que sentiu uma dose de clareza e força, como se aquela garota estivesse compartilhando isso com ela. Piper se aproximou com sua prancha e as três juntas voltaram a praia.
Annabeth queria correr para a arquibancada e tirar a prova que não estava louca nem precisando de óculos, e abraçar seus pais, e depois bater mais uma vez em Percy, porque tinha certeza que ele tinha dedo nisso. Mas antes que deixasse a maré pra trás a multidão muito louca veio buscá-las, erguê-las, e então levá-las até o pódio. Muito barulho. Gritaria e a música que saia das caixas de som junto a voz do locutor.
- As contas finais estão sendo cogitadas! Os técnicos parecem empolgados!
De fato, eles pareciam animados com seus papeis e debates, de tempos em tempos olhando de soslaio para as três garotas.
Largaram-nas em frente ao pódio, em frente ao narrador da competição. Um envelope foi entregue dos técnicos para o locutor. Annabeth queria sumir dali e procurar seus pais, mas era tanta gente em volta e olhando pra ela, e câmeras e tudo mais. Podia sentir o coração batendo na garganta de tanto nervosismo.
- Muito bem! - Disse o locutor. - Tenho em minhas mãos o resultado da acirrada ultima bateria...
- Não enrola! - Annabeth pediu entre dentes. - Anuncia de uma vez!
- Ah... Ok... - O locutor se arrepiou. Encarando o olhar estagnado de Annabeth, soltou a informação toda de uma vez. - Reyna ganhou! Seguida de Piper, e Annabeth em terceiro!
A multidão de espectadores parecia ter levado uma bofetada pela chuva de informações, alguns segundos se arrastaram antes que começassem a gritar os "Eeeeeeeeeeeeeh!" e "Uhuuuul!".
As garotas subiram no pódio. Reyna em primeiro, recebeu uma linda taça de prata, e a ergueu bem alto. Uma salva de aplausos fortes soou pela praia. Reyna também tinha uma espécie de fã club, evidentemente mais abastado de verba que o de Annabeth (pelas camisetas e tals, dava pra notar). Todos juntos gritaram, como uma só vós, uma legião.
- Ave Romae!
Fleches e mais fleches. Annabeth só queria sair dali e procurar seus pais, tirar a certeza mais do que martirizante de que eles estavam mesmo ali. Ainda mais que considerando seu estado de espírito no momento, ela devia estar saindo totalmente deplorável nas fotos, aparecer nos tabloides, em terceiro lugar e com cara de bunda seria terrível. "Acho que não estou tão mal, já que ainda consigo pensar em coisas assim." suspirou.
Reyna puxou a ela e a Piper para o degrau do primeiro lugar, uma de cada lado seu, passando os braços ao redor de seus ombros. Como anteriormente, ao toque de Reyna, ela se sentiu mais tranquila, mais forte, como de costume.
- Nós vimos também. - Piper sussurrou entre um sorriso para as câmeras e outro. - Relaxe. Deixe a agitação passar, ai você corre pra eles.
Foi pra completar. Annabeth conhecia o charme de Piper, sabia que ela tinha essa bênção pela magia de ILA, mas nunca havia sentido com tanta força. Automaticamente relaxou e sorriu. Fleche! As três saíram sorrindo umas para as outras na foto, com coroas de flores que nem perceberam ter sido colocadas nelas, e abraçadas. Foi quando Annabeth percebeu que ela, apesar de saber que estava em primeiro lugar no ranking, não era a única nervosa ali. A presença de duas pessoas que supostamente estavam mortas na competição de surf parecia estar incomodando metade da população local. Os pais de Percy, Afrodite e o marido, os Valdez e os Castellan, todo mundo meio bolado com a situação. Mas o show tinha que continuar, não é?!
Os únicos totalmente confortáveis ali, Annabeth notou, eram os di Angelo (Vai entender), e os próprios pais da garota (que pareciam estar totalmente confortáveis em estarem vivos).
A meia dúzia de jornalistas se acumularam fazendo múltiplas perguntas difusas, direcionadas não só à campeã mas as todas as três.
Annabeth ficou nervosa de novo (zangada também serve), ela queria sair dali!
- Silêncio um pouco! - Piper pediu calorosamente. O jornalistas se calaram, confusos, as câmeras e gravadores baixaram. - Um de cada vez por favor...
Não só os jornalistas, como toda a multidão agora estava totalmente focada em Piper. Ela tinha a atenção deles em uma espécie de transe. Afrodite não, ela levou a mão ao colo como em orgulho profundo da filha. Annabeth aproveitou pra fugir. Reyna pulou do pódio na frente, já abrindo caminho em meio a multidão atônita. Piper continuava falando envolvente "Segundo lugar não é nada mal, pra uma primeira competição séria não é?".
- Saiam da frente! - Reyna abria caminho para Annabeth passar.
Onde eles estavam?! Quando a garota chegou as arquibancadas, encontrou apenas seu fã club e espectadores apáticos encarando o horizonte, pela voz de Piper soando das caixas de som. Mas seus pais não estavam ali. Annabeth olhou em volta, alguns de seus amigos estavam ali por perto. O mais próximo era Nico.
- Ei! Nico... -Ela o pegou pelo ombro, tirando-o do estado de "Piper é linda, cara!". - Você viu meus pais?
Nico franziu a testa e ensaiou um sorriso. - Sim. Eu ajudei a trazer eles de volta...
- Não! - Annabeth interrompeu. - Viu pra onde eles foram?
Nico olhou em volta, surpreso. Só notara a falta dos dois quando ela perguntou.
- Eu não...
Annabeth nem ouviu mais, seus olhos velozes caíram sobre uma capa largada na arquibancada. Uma capa amarela, parte da fantasia que seu pai estava usando. Ela pegou o tecido entre as mãos, tendo certeza que não estava doida. Reyna parou ao seu lado, avaliando e entendendo a situação.
A garota de cabelo escuro assoviou com os dedos indicador e polegar entre os lábios. Um assovio alto e longo.
Dois cães, um cinza e um caramelo, surgiram no nada.
- Farejem. - Reyna ordenou.
Os cães começaram a cheirar a capa. Do meio da multidão surgiu Lupa, de muito mal humor.
- Reyna! O que está pensando! Precisa dar sua entrevista!
Reyna aprumou a postura e encarou a treinadora. - Sim, senhora. - Então virou-se para o cães. - Vão!
A dupla de galgos saiu correndo. Com uma ultima troca de olhares, Reyna voltou com sua treinadora, e Annabeth
correu atrás dos dois.
Parecia lógico correr até em casa, eles deviam estar lá, esperando por ela. E a princípio parecia bem isso, mas então o par de cachorros fizeram uma curva brusca, em direção ao norte.
 "Sem chances!" Annabeth pensou, sentindo a garganta seca e salgada "Depois de tudo isso, vou achá-los tomando chá? Justo lá?"


Mestre Poseidon estava tão exasperado e emotivo com toda aquela situação de "Meu filho voltou, estou zangado", e o retorno inesperado dos Chase, que mal esperou a ultima bateria acabar e arrastou todos que pode com ele, pra casa. Percy queria socar o pai por isso. Falta de consideração! Annabeth tinha que estar ali também! Mas seu pai escutou? Esperou? Não! E ai estavam na cena mais estranha que o garoto já presenciara em sua sala de estar.
Atena parecia tão contente em ter sido arrancada da praia sem a filha quanto Percy, enquanto o marido segurava sua mão carinhosamente. Antes de toda a história de morte e tal, Percy ja achava que os Chase eram um casal maneiro, mas agora eles tinha algo de união sobre humano, como se não fossem se desgrudar. Estavam sentados no chão, de um lado da mesinha de centro redonda, do outro lado os Jackson. Atena e Poseidon tinham latas de cerveja em mãos, que era extremamente estranho, e ficava ainda mais estranho, com o jeito como os dois se encaravam de tempos em tempos. Como se fossem se acertar com as latas e começar uma batalha ideológica, ou uma queda de braço... Ou qualquer coisa do tipo. Sally e o pai de Annabeth estavam aparte disso, como que ignorando, mas Percy assistia tudo do sofá sem piscar.
- Então... - Atena disse, calmamente, colocando uma carta de baralho na mesa, agindo quase que em uma roleta russa. - Chorou por mim, Poseidon?
Mestre Poseidon a olhou de relance, jogou uma carta, comprou outra, e tomou um gole de cerveja. O Sr. Chase deu uma risadinha e comprou uma carta.
- Isso não é pergunta que se faça na frente da minha esposa, Atena. - Respondeu o pai de Percy, em tom de piada.
Atena deu risada. Quem não responde consente, não é? Sally, mais civilizada, tomou um gole de café, e jogou sua vez.
- Nem mesmo sentiu minha falta? - Atena provocou.
- Ah, com certeza. As reuniões da câmara municipal de ILA ficaram bem mais silenciosas sem você falando o tempo todo. - Poseidon alfinetou.
E então, para desespero de Percy, os quatro adultos começaram a rir. Assim, espontaneamente. Som de cães ladrando veio do jardim, sob a luz de fim de tarde. Os latidos graves de Black Jack e da Sra. O'Leary, e pelo menos dois cães menores.
- Talvez você possa começar a contar sua história. Estou tão curioso... - Poseidon cobrou.
- Não até Annabeth chegar. - Dessa vez foi o Sr. Chase a falar.
Percy já estava de pé ao lado da janela. Annabeth apareceu na porta aberta, molhada, desgrenhada e ofegante, com quatro cães pulando e latindo em suplica ao redor de si. Seus olhos em tempestade estavam fixos no casal a mesa de centro redonda. O Sr. e Sra Chase também a olhavam tão intensamente. Era quase possível ver seus corações batendo contra o peito, quase possível ouvir através do silêncio que se instalou. Os olhos de Annabeth marejaram, um sorriso trêmulo cortou seu rosto de ponta a ponta. Quando ela abriu a boca, palavra alguma saiu, então ela se adiantou para eles. Atena levantou de encontro com a filha, em um abraço desesperado, as duas caíram juntas no tapete felpudo.
Atena afastou o cabelo loiro e molhado de Annabeth do rosto, olhando-a nos olhos. O pai de Annabeth se juntou as duas em um abraço triplo, chorando mais que elas juntas. A mãe dava beijos consecutivos pelo rosto da menina, enquanto o pai lhe penteava os cabelos com os dedos. Eles eram uma boa família, unidos e sempre em concordância, mas Annabeth não conseguia se lembrar da ultima vez que seus pais a haviam abraçado daquele jeito. E doía! Como se seu peito fosse se partir em dois...
- Vocês... V-ocês estão aqui mesmo... - Ela soluçou, encontrando sua voz.
- Estamos, querida. - Atena enxugou uma lágrima perdida do rosto da filha, o nariz trancado devido ao pranto.
- E não vamos a lugar nenhum. - O Sr. Chase completou, tirando o óculos e desembaçando-o na barra da camisa.
Durante meses Annabeth não tinha conseguido se olhar no espelho direito. Toda vez que fazia isso, via a mãe a sua frente. A semelhança das duas era incrível, com exceção apenas pelo cabelo que eram iguais ao de seu pai. Agora ela estava olhando para sua mãe, e sentia-se em frente ao espelho. Tão irreal!
- Como? - Sua voz saiu fraca e confusa, quase suplicante. - Como estão vivos?
Nenhum dos dois respondeu, eles olharam para Percy, ainda parado na janela. Ao acompanhar o olhar de seus pais, sua atenção caiu sobre o rosto do garoto.
- Ah! Teremos uma explicação agora? - Mestre Poseidon.
- Não seja inconveniente. - Atena ralhou.
Eles iam começar a discutir, e ai Percy falou.
-É uma história longuinha até... E muito confusa. - Ele fez uma careta e se sentou no chão, ao lado da mesinha de centro. Respirando fundo, começou seu relato. -  Eu não queria respeitar o silêncio do mar sobre a morte dos Chase, não enquanto eu via Annabeth sofrer. Quando o mar escolheu ela como uma com ele, fiquei com raiva.
- E desobedeceu minhas ordens. - Completou Mestre Poseidon.
- Sim... Eu roubei um barco da manutenção, e um motor seminovo do ferro velho do Valdez... E com a ajuda do Tyson, coloquei pra funcionar. Nico e Bianca ajudaram também... Saíram pra procurar comigo. Hades deu a ideia, disse que não sabia direito sobre a morte dos Chase, então valia a pena procurar.
- Hades só faz merda. - O pai e Percy comentou.
- Shhhh. - Sally lhe deu um tapa no ombro.
Percy esperou mais um pouco antes de continuar. - Teve uma pá de coisa estranha... No começo só navegamos sem rumo. Depois senti o caminho se formar pelas linhas do mar. Teve uma onda de águas-vivas, Nico sentiu um rastro de quase morte nelas, e eu ouvi um sussurro... Era tanta magia do mar que eu quase não aguentei. - Ele parou e olhou Annabeth nos olhos, quando falou, as palavras era pra ela. - Annabeth encontrou o Olho d'Água da Caverna Viva, e entrou em contato comigo, não sei o que ela fez, mas salvou minha vida. Eu só não desisti por causa dela.
Annabeth também não sabia o que tinha feito, mas suas maçãs do rosto estavam escaldantes. Atena pescou os detalhes, os seus olhos brilharam, loucos para fazer perguntas. Lembrando que a essa altura Percy com certeza não tinha sequer lembrado de contar ao Chase que estava namorando a filha deles.
Percy desviou o olhar e  continuou seu relato.
- Annabeth conseguiu ver uma caverna submersa, as visões da Caverna Viva podem fazer isso... Foi pra lá que o cardume de água-viva me levou. Foi onde encontrei o Sr. e a Sra. Chase.
- Em uma caverna submersa? Que eu vi em um... sonho? - Annabeth franziu a testa.
- Como você mesma notou em sua visão na Caverna Viva, querida... - Atena interrompeu Percy, que se preparava para responder, encarando-o de modo tão avaliativo e penetrante, que fez o garoto se sentir nu. - Havia uma caverna, uma bolha de oxigênio. E não foi um sonho. Seu pai e eu estávamos lá.
Meio ofendido por ter sua narrativa mutilada, Percy pigarreou. - Os peixes com rosto me disseram que o mar protegeu seus pais pra você.
Depois de um momento dramático em que todos ficaram em silêncio, encarando uns aos outros, em função da dimensão daquelas palavras, Percy concluiu.
-Ai eu achei eles, e trouxe de volta. Salvei o dia. Eeeeeeeeeeeeeeh! - Sorriu erguendo as mãos em uma mini comemoração.

A casa começou a encher de gente. Pelo visto uma festa ia começar ali no quintal dos Jackson, antes que notassem, mesas e luzes foram montadas desde a varanda e gramado, até a praia. Sistema de som, fogueira, churrasco, e fogos de artifício sendo preparados. Alguém queria criar um incêndio!
Um grande volume de adolescentes, e também adultos que nunca saiam de casa. Até a banca técnica de surf e o jornalistas estavam ali pra comer churrasco e danças com os pés descalços na areia.
Houve discursos e gente chorando, abraçando e rindo, tudo ao redor dos Chase. Muitos também festejavam a competição de surf, parabenizando as meninas que chegaram ao pódio. Reyna passeava por todos os grupos, conversando com todos, mas no fim, depois de dar o fora em alguns caras consideravelmente folgados, se retirou com Nico e um maço de cartas de RPG.
No meio de tudo, Luke e Thalia dançavam e riam. No dia seguinte, logo de manha, ele pegaria um avião de volta a Sidney, e ficariam sem se ver por cerca de um mês inteiro. Ninguém quis interrompê-los.
Annabeth tomou refresco de laranja, comeu carne e riu. Ouviu as piadas do pai, e contou a mãe sobre as provas para a faculdade. Depois de um longo banho e roupas limpas, ela estava linda, com os cabelos soltos em cachos, passeando entre as pessoas em festa. Ela contou aos pais sobre seu namoro com Percy, longe dele, seu pai pareceu contente. Ela nunca fora tão feliz, nem aproveitara tanto uma festa.
Sabendo que tinha todo tempo do mundo, agora, para gastar com seus pais, virou sua atenção para outra pessoa. Afastando-se da multidão que dançava, andando na orla de pessoas, começou a procurar. Encontrou Percy sentado distante, com seus cães largados sobre suas pernas. Ele sorria pra ela, por ela.
- Oi. - Ele disse quando ela se sentou ao lado dele
- Oi. - Ela entrelaçou os dedos nos dele e deitou a cabeça em seu ombro.
- Então... - Ele riu, beijando-a o topo da cabeça. - Aquela história de terminar comigo...?
- Cale a boca.
Os dois se olharam por um tempo. Percy alisando o rosto de Annabeth com o polegar, observando cada canto de sua fisionomia, guardando os detalhes na memória.  A Sra. O'Leary se mexeu e resmungou, pedindo por carinho também, mas nenhum dos dois lhe deu atenção.
- Apenas... Não suma... Nunca mais. - Ela pediu, olhando no fundo da imensidão verde que eram os olhos de Percy.
- Não vou a lugar nenhum, Sabidinha. - Ele sorriu pra ela. Mais um pedido de desculpas velado.
Eles se beijaram. Primeiro de leve, devagar, então pegando ritmo e intensidade. Nunca haviam se beijado daquela forma, descarregando todo um turbilhão de sentimentos. De olhos fechados Annabeth se sentiu dentro do tubo outra vez, com o tempo parando, o cheiro de mar, o sol refletindo na água. Quem precisa ver estrelas? Sem nenhuma noção do tempo que se passou, pararam com as testas juntas, tomando o fôlego que perderam.
Passando os dedos por entre o cabelo de Percy, Annabeth sentiu um calombo, e ficou imaginando como ele havia machucado a cabeça, então lembrou da pranchada.
- Ah, meu Deus! Desculpa!
- Tudo bem. - Percy fez uma careta. - Nem to sentindo mais nada.
- Tem certeza?
Percy fez uma expressão dramática. - Tenho sim. Começando pelas pernas, não sinto mais nada. Talvez eu tenha tido uma concussão ou algo do tipo...
- Idiota... 
Os dois riram, juntos. 
- Vamos dar um volta? - Annabeth penteou a franja espetada de Percy pra trás, automaticamente o cabelo voltou. Isso a fez rir.
De mãos dadas andaram pela areia, os cães seguindo-os de perto, contentes por terem o dono de volta, e muito provável, por verem que os dois estavam felizes. O sol descia para o horizonte, tornando tudo laranja.
O povo da festa estava cantando alto, em coro, algo que Percy presumiu ser The Time of My Life, em uma versão "Cada um canta o que acha que sabe". Ele olhava Annabeth andar com os pés na maré calma, os cachos dourados ornando o rosto, os olhos cinzas perdidos na linha do mar. Meses antes eles andaram no mesmo lugar, durante uma festa, e ela estava olhando para o mar, tão perdida quanto, mas o olhar tão diferente, estava tão em paz... Isso aqueceu-lhe o coração.
Percy abraçou a garota por trás, passando os braços pelos ombros miúdos. Já estava ficando escuro. Estavam chegando na Pedra da Baleia.
Annabeth olhou de soslaio para os pais dançando juntos desajeitadamente, se divertindo, antes de a festa sumir atrás da pedra. Percy se encostou na rocha e puxou a garota com ele, arrancando-a bem junto a ele.
- Minha mãe disse que o resultado da prova chegou. - Ele comentou aleatoriamente.
Annabeth concordou com a cabeça, brincando distraidamente com a gola da camiseta laranja do namorado.
- Você já viu o resultado? - Ela perguntou baixinho.
- Não. E ela não me contou. 
Annabeth riu. - Eu já vi. - Ela ergueu os olhos para os dele, deixando-o curioso.
- Não seja má. Pode dizer que não entrei pra faculdade. - Ele estava convencido disso. O que era terrível, imaginar que Annabeth ia pra faculdade e ele não.
- Você passou, Cabeça de Alga. Por pouco, mas passou.
Percy deu um brado de entusiasmo, levantou Annabeth no ar e a beijou de novo.
- Nós vamos pra faculdade! É agora que sua mãe me mata!
Annabeth riu. - Como assim, minha mãe te mata?
- Você não viu o olhar mortal dela na minha direção? Quase senti meus órgãos saindo pelo umbigo, com o poder da mente dela! - Ele riu, puxando Annabeth pra perto mais uma vez.
Annabeth apenas riu. Ela tinha visto, mas preferia deixar em off a ideia de Percy não ser a escolha perfeita de sua mãe. Ele era a escolha dela, afinal, e isso importava.
- Obrigada... Por trazer eles de volta pra mim. - Agora Annabeth sussurrou, como se fosse um segredo, cruzando os braços atrás do pescoço de Percy, encostou os lábios em sua orelha. - Eu te amo.
Não é possível explicar ao certo o que aconteceu por dentro dos dois, depois dessas palavras. Percy contava com isso todo seu caminho de volta a ILA, tinha certeza que, depois de resgatar os pais de Annabeth, a teria pra sempre. Mas ouvir "Eu te amo", não de uma forma banal, foi muito mais forte.
Um estalo alto soou, e uma luz forte preencheu o céu noturno. A chuva de fogos havia começado.
Percy pegou Annabeth pela mão, subiram no alto da Pedra da Baleia, vislumbrando a festa de cores e calor no ar, a água negra do mar refletindo a luz.
Juntos e de mãos dadas, passaram o resto da noite. E muito além disso.
 


Notas Finais


Bom... Não é um adeus... talvez eu retorne com uma nova história ano que vem, tomando o cuidado de avisar aqueles que tem me acompanhado ao longo de Por Que o Mar me Odeia?... Obrigada a cada um! Essa é a primeira história que eu termino. A primeira que preciso deixar ir... Se eu pudesse, estaria em prantos agora... Espero que tenham gostado de ler, tanto quanto eu gostei de escrever...
Em minha ultima aparição por aqui, neste tempo de 2014... "Au Revoir"... "Arrivederci"!!!


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