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História Por Trás da Frieza Saiyajin - As Relíquias do Exército


Escrita por: Son_Kelly

Notas do Autor


E o hiatus acaba por aqui!
Eu não sei se todos viram, mas há algum tempo atrás eu postei um jornal falando sobre o hiatus. Não foi nada para punir vocês pela falta de comentários (não sou babaca assim), mas por que eu estava em uma séria crise na escrita. Eu não conseguia escrever nada... e quando escrevia saía um lixo. Olha, precisei de várias lidas em livros, músicas inspiradoras e fanarts criativas para ter esse desbloqueio viu... mas, enfim, finalmente consegui.
Eu ainda acho que o capítulo não está lá essas coisas, mas vou seguir logo com a história ou não termino nunca essa fanfic -_-
Enfim, obrigada ao apoio daqueles que entenderam o hiatus e obrigada à você, que mesmo depois de tanto tempo, está aqui para ler a atualização de mais um capítulo.
É só isso, vou deixar vocês lerem agora :3
Boa leitura!

Capítulo 33 - As Relíquias do Exército


Fanfic / Fanfiction Por Trás da Frieza Saiyajin - As Relíquias do Exército

O pequeno redemoinho continuou rodopiando e se estendendo ao alto, até que um espectro verde começou a tomar forma e um grunhido animalesco passou a acompanhar o chicotear do vento. Kami-Sama respirou profundamente e se preparou para o que aconteceria.

Ele e Piccolo voltariam a ser um só ser.

Como era isso? Por mais que tentasse se esforçar, só conseguia se lembrar unicamente do período em que se mantinha recluso em uma área desconhecida do planeta – e mesmo essas memórias não eram tão precisas. Havia apenas solidão... e um espaço vazio e confuso em seus pensamentos. Passara incontáveis anos vagando pela Terra, apenas tentando entender quem era e onde estava... e quando pensara que havia encontrado uma certa familiaridade nas incríveis artes marciais dos humanos, algo significativo que pudesse dedicar sua vida, até isso foi corrompido para um lado mais obscuro. Claro que havia sido por influência de todo o mal que havia vivenciado através da humanidade, mas não conseguia extinguir, ou sequer diminuir, aquele lado maligno que havia nascido ao presenciar tantas guerras, ganância e crueldade.

Havia tantos pensamentos perversos em sua mente... que era quase impossível conviver consigo mesmo. De uma forma ou de outra, desde aquele momento, ele já se encontrava dividido. Um lado bom e um lado mau, com uma perfeita linha que os separava e os impedia de exceder os limites.

Depois que fizera de tudo para expulsar a maldade de dentro de si – e embora tenha sido bom se separar daquela parte corrompida da sua alma – tudo que seu outro-eu causava à humanidade era terrível demais para assistir. Ele tentava convencer a si mesmo que havia liberado aquela criatura porque não suportava mais viver com aquele seu lado maligno, mas a culpa o atormentara tanto que até mesmo seus motivos foram distorcidos.

Ele fez aquilo para se tornar Kami-Sama, pela ganância de se tornar um deus.

Mas agora ele poderia desfraldar todos aqueles pensamentos, todas aquelas ideias profanas... ao abandonar todos os seus receios e voltar a conviver – ao voltar a enfrentar – seu lado maligno. Pelo bem da humanidade.

O espectro de Piccolo Daimaoh se distorceu uma última vez em meio ao redemoinho e finalmente assumiu sua forma real. Assim que Kami-Sama viu a silhueta idêntica à sua parada à sua frente, os olhos contornados por rugas vagando com incompreensão pelos membros recém-libertos, ele avançou e capturou o braço de seu eu-maligno e começou a fusão antes que pudesse entender o que acontecia. Piccolo arregalou os olhos quando compreendeu a situação, mas Kami-Sama sorriu e apenas assistiu com satisfação um brilho intenso começar a cercar os contornos de ambos os corpos. Não havia mais modo de impedir... os dois voltariam a ser um só.

Piccolo trincou os dentes quando percebeu seus poderes começando a se unir em uma energia só e estreitou os olhos. Era até tentador a possibilidade de conseguir recuperar o poder que um dia teve, mas ele não poderia arriscar se deixar levar por aquela fusão. Com certeza Kami-Sama faria algo para que apenas sua consciência permanecesse e sobrepujasse a dele. Ele não poderia deixar isso acontecer... ele não poderia deixar sua essência maligna se perder e se misturar à bondade de Kami-Sama.

Piccolo agarrou com a mão livre o braço que Kami-Sama segurava para a fusão e gritou fortemente. Kami-Sama não entendeu o que acontecia, até que sangue roxo jorrou à sua frente e seu corpo caiu para trás com o braço de Piccolo pendendo na mão.

Ele arrancou o próprio braço.

– Você me pegou de surpresa, Kami – Piccolo murmurou sob a respiração pesada, mas nem ousou esperar recuperar o fôlego antes de disparar uma rajada de ki pela boca em direção ao ombro de Kami-Sama. Isso o seguraria ali por enquanto, agora precisava apenas fugir. – Mas não terá chances de me pegar de novo.

Kami-Sama pressionou a mão no ferimento e se esforçou para se colocar de pé, mas Piccolo já havia partido. A energia dele parecia pouca e o ritmo de seu voo parecia lento, mas mesmo que quisesse Kami-Sama não poderia alcançá-lo. Ambos estavam fracos com seus ferimentos, mas Piccolo estava em vantagem e ainda teria energia suficiente para se afastar cada vez mais até que se tornasse completamente inalcançável.

– Kami-Sama! – Senhor Popo veio socorrê-lo e o ajudou a se manter de pé.

– Esse imbecil... – Kami-Sama gemeu. – O que ele pretende?

Kami-Sama não poderia adivinhar o que se passava na cabeça de seu outro-eu, mas esperou com toda sua fé que pelo menos tudo pudesse acabar daquela maneira. Que Piccolo encontrasse um saiyajin e o fim viesse para os dois... assim as esferas do dragão também deixariam de existir.

 

 

 

Mísseis e foguetes eram lançados em sua direção e explodiam assim que entravam em contato com sua pele, mas Kaori não estava nem um pouco impressionada com a potência das explosões. Na verdade, ela poderia até mesmo dizer que estava decepcionada. Nos dois primeiros ataques, ela usou uma de suas técnicas de defesa, mas quando Pod deixou que um dos mísseis lhe atingisse sem se importar foi que Kaori percebeu o quanto era desnecessário se defender. Nem mesmo um arranhão ou leve incômodo aquilo causava, realmente decepcionante.

Poderia mesmo essa ser uma raça tecnologicamente avançada? Ainda lhe restava algumas dúvidas. Era mesmo possível que eles fossem tão propícios a criações materiais realmente dignas de atenção, quando as forças atômicas eram tão decadentes? Bem, ela ao menos esperava algo ao nível dos tsufurujins, mas agora percebia que eles não chegavam sequer perto. 

Ah, se ao menos eu tivesse nascido naquela época... Kaori divagou em pensamentos, com amargura. Por que era a única a perceber o quanto as coisas seriam diferentes se os saiyajins tivessem tirado proveito daquela espécie fraca, mas tão notoriamente valiosa? Certo, talvez fosse perigoso manter tão próximo inimigos tão perspicazes, mas ainda assim teriam suas vantagens se os saiyajins soubessem prever suas ações.

Ah.... Kaori riu de si mesma. A quem estou enganando? Era ridículo considerar que sua espécie fosse capaz de ao menos isso, principalmente naquela época. Eles eram brutalmente selvagens e irracionais, muito mais do que eram hoje. Se não fosse pela vantagem que tinham pela lua cheia, Kaori duvidava seriamente que os resultados da batalha seriam os mesmos para uma espécie tão ridiculamente estúpida.

– Kaori – Pod a chamou e isso fez com que seus pensamentos se silenciassem por um segundo. Ela suspirou e finalmente se deu conta do quanto era desgastante ficar considerando os fatos do passado, além de inútil. – Estamos nos aproximando da base dessa tal Red Ribbon...

– Sim, é verdade. – ela concordou, sem ver aquilo como uma grande coisa. Na verdade, ela começava a considerar que fosse uma grande perda de tempo vir até ali.

– Eu só queria saber o que exatamente você quer que eu faça quando pousarmos lá – Pod murmurou em dúvida, ainda segurando o braço ferido. Kaori torceu a boca. Havia trazido Pod apenas por precaução, mas certamente não seria necessário um guerreiro de elite para lidar com aquelas criaturas tão inferiores.

– Você pode se divertir com aqueles que atacarem – ela respondeu, com descaso. – Mate-os, torture-os, escravize-os... faça o que bem entender. Só não toque naqueles que não tentarem nada, o mais provável é que sejam os cientistas que estou atrás.

– Está bem – Pod concordou e um sorriso cansado tomou suas feições, mas satisfeito. Kaori a observou por alguns segundos, antes de desviar o olhar. Um experimento fracassado... uma pena.

 

 

 

– Mas o que é isso? – o saiyajin se perguntou, conforme assistia em um dos televisores de uma loja o que um cachorro azul de terno pronunciava aos terráqueos, antes de ser interrompido por um gorducho. Ele avançou alguns passos e quebrou a vitrine que protegia os objetos tecnológicos, semelhantes a monitores, mas apenas para ouvir mais atentamente o que diziam. Capital Real? – Eles... eles estão tentando nos enganar?

– Parsly! – uma jovem garotinha veio voando em sua direção, com um grande e perverso sorriso. Ela usava uma pequena armadura clássica verde sobre o peitoral e um uniforme que pairava na virilha da cor vinho. Seu cabelo preto azulado era curto e desalinhado, mas caía aos montes sobre o olho direito. – Preguiçoso! Não vai colher mais escravos, não?

– Cale a boca, Celery – ele resmungou, mas a garota continuou cercando-o. Ele suspirou, frustrado. Era sempre assim... ela o seguia onde quer que fosse apenas para irritá-lo de todas as maneiras possíveis. – Estou no meio de algo importante.

– Algo importante? – ela piscou com suspeita e olhou para a tela da TV, ao mesmo tempo em que o pronunciamento do rei terminava e a tela era tomada por chuviscos confusos. – Você não sabe nem inventar uma desculpa convincente, não é? Idiota.

– Eu não vou ficar perdendo tempo te explicando nada, tenho que informar o general o quanto antes – ele murmurou e ativou o scouter, enquanto Celery o observava com um olhar desafiador. Ah, como ele queria poder esganá-la naquele momento... – General? – ele chamou e a voz respondeu com um simples murmúrio. – Tenho algo importante a-

Ele não teve tempo de entender o que aconteceu. O scouter explodiu de repente em seu rosto antes que pudesse falar propriamente. Ele lançou um olhar furioso para Celery, esperando ser mais uma de suas brincadeiras, mas ela parecia tão surpresa quanto ele. Seria apenas um curto? Mas parecia suspeito demais...

– Ali! – Celery gritou, apontando para uma direção às costas de Parsly. – Foi aquele cara esquisito!

– Ele quer nos impedir de informar nossos superiores – Parsly compreendeu, mas não foi capaz de visualizar o meliante antes que ele desaparecesse. – Não importa, eu vou-

Celery gritou quando seu scouter também explodiu e trincou os dentes em raiva. Parsly teria gargalhado se não estivesse tão irritado. Ele avançou em direção ao terráqueo suicida para dá-lo uma lição, mas, surpreendentemente, ele conseguira desviar de seu ataque e desaparecera novamente.

Parsly buscou com os olhos a forma do maldito terráqueo e o encontrou prontamente posicionado em posição de ataque sobre o ar. Parsly não pronunciou nenhuma palavra, apenas se reduziu a analisá-lo o suficiente para deduzir suas capacidades, já que não tinha mais um scouter para ajudá-lo. Mesmo perante sua análise, o terráqueo ainda se mantinha parado sobre o ar, com um olhar sério e determinado em seus... três olhos? Parsly zombou, percebendo que aquela espécie não era tão semelhante quanto lhe disseram, mas manteve a cautela desde que era óbvio que o careca esquisito esperava um movimento. Seria ele tão poderoso assim? Se fosse o caso, o “nível fraco” seria outra informação precipitada sobre aquela espécie.

– O que você quer? – ele perguntou ao terráqueo de três olhos. – Por que explodiu nossos scouters?

– Acredito que seja desnecessário responder – Tenshinhan agachou-se e estendeu os braços em posição de luta, com os dedos dobrados de forma marcial. – Vou acabar com você antes que tenha chance de perceber o porquê.

– Na verdade, eu só queria que você confirmasse meus pensamentos. – Parsly fez descaso. – É óbvio, não é? Você quer me impedir de compartilhar a informação com meu superior. Mas isso apenas prova a veracidade dela.

Tenshinhan ficou em silêncio, mas Celery se agitou com a curiosidade.

– O que diabos é essa informação?! – ela gritou para Parsly e saltou em seus ombros para puxar seu cabelo. – Me conta, maldito! Não finja que não estou aqui!

– Saia de cima de mim, pirralha! – ele urrou furioso e tentou tirá-la de cima de sua cabeça, mas ela se agarrou aos seus cabelos. Céus, como ele odiava aquela maldita. – Você está me atrapalhando! Não percebe, sua idiota?! Eu tenho que lutar com aquele cara!

Tenshinhan hesitou em um primeiro momento, estranhando aquela situação entre os dois saiyajins, mas tão logo resolveu aproveitar a oportunidade. Ele se colocou acima sobre suas cabeças e rapidamente uniu as duas mãos na forma de um triângulo. Ele preferia acabar com aquilo sem ter que usar uma técnica tão poderosa, já que consumia energia demais, mas faria com que tudo terminasse mais rápido e, assim, poderia partir o quanto antes com as pessoas daquela cidade.

– Tire as mãos dos meus olhos!

– Me conte o que está acontecendo, seu fedorento!

– Eu vou acabar com você, sua pirralha insolente! – Parsly, enfim perdendo a paciência, esmagou as mãos de Celery em um aperto e as afastou de seus olhos. Mas apenas a tempo de ver um esplendor amarelo descendo em sua direção. – Merda... – ele rosnou para si mesmo e lançou a garota o mais longe que pôde para que apenas ele recebesse o impacto do golpe. Essa pirralha vai me pagar por isso depois.

 

 

 

O velho ruivo e baixinho girou sem vontade em sua cadeira estofada para enfrentar um de seus funcionários. Seu bicho de estimação geneticamente alterado, de pelos desgrenhados, pulou sobre a mesa e chiou selvagemente, mas ele não fez qualquer movimento para acalmá-lo. Apenas prendeu o olhar entediado no homem logo adiante e pendurou um charuto nos lábios.

– Diga logo o que quer.

– Apenas venho informá-lo que nosso satélite descobriu o local onde a nave alienígena pousou há pouco mais de meia hora. Mas essa parece ser diferente das anteriores, pois está com sinais de muitos indivíduos dentro dela... e possui grande porte.

– O que importa? Vamos continuar seguindo com o planejado.

– Creio que já esteja informado, senhor, mas a maioria das maiores capitais do planeta está sendo atacada por eles. Humanos estão sendo escravizados pelos alienígenas e acredito que seja apenas questão de tempo para que eles cheguem aqui.

Ele apenas abanou a mão com descaso.

– Essa situação é apenas vantajosa para nós. Assim que a Capital Real começar a ser destruída e o exército não for capaz de fazer nada, não restará opções ao rei do que recorrer a nós.

Um alto homem negro e calvo se aproximou silenciosamente. Até aquele momento, ele apenas ouvia a conversa mantendo sua distância, mas agora sentiu a necessidade de intervir.

– Acho que o que ele quer dizer, Comandante Red, é que devemos providenciar uma estratégia reforçada de defesa para nossa base antes que os alienígenas sejam capazes de nos rastrear.

– Eles não serão páreos – o ruivo girou sua cadeira novamente e ficou de costas para os dois homens na sala. – Sigam com o planejado e não me importunem ma-

Emergência!

Todos os três se sobressaltaram quando outro funcionário correu até eles cheio de desespero, tropeçando em seus próprios pés. Até mesmo o bicho selvagem recuou e guinchou com a urgência do homem.

– Comandante Red!! Há dois sinais de energia se aproximando rapidamente da nossa base!

– Como assim? Faça o habitual! – ele chiou e esmurrou a mesa. – Ative as manobras de defesa! Use os misseis e canhões!

– Já estamos usando, mas não causa efeito algum! – ele gritou em retorno. Em qualquer situação aquilo seria considerado desrespeitoso, mas o funcionário estava tão aterrorizado que não conseguiu controlar. – Eles já estão se aproximando da nossa base! É só questão de tempo para-

Um terrível estalo de uma explosão cortou a fala do funcionário assustado. Com isso, vários alarmes de emergência foram ativados e vários soldados invadiram a sala para proteger seu Comandante de qualquer ataque. Mas levou longos minutos até que os presentes na sala digerissem o que estava acontecendo.

– Mande o exército formar uma barreira na entrada para proteger nossa base, enquanto isso quero que os cientistas procurem um modo de ativar aquele campo de energia que estavam trabalhando! – Comandante Red ordenou a plenos pulmões, furioso. Como uma coisa daquelas foi acontecer? – E... acho que não preciso dizer, mas se a situação se sair pior do que imaginamos, eles devem acionar nossa arma secreta.

– Sim, senhor – o alto homem negro se curvou e partiu imediatamente da sala para distribuir as ordens. Mas ele vinha acompanhando a situação que se desenrolava na Terra e podia dizer com toda certeza de que o “trunfo” da Red Ribbon na verdade representava uma pequena e ínfima chance de sobrevivência.

 

 

 

Uma bagunça. Tudo era uma bagunça. Uma bagunça de homens gritando, armas atirando, corpos colidindo, caindo, explodindo... Kaori estava oficialmente impaciente com aquela situação. Mas ela não poderia ter escolhido pessoa melhor para acompanhá-la, Pod estava fazendo um ótimo trabalho e seguia todas as suas ordens obedientemente. Embora a bagunça seja em boa parte por culpa dela.

– Tente perguntar a um deles onde fica o laboratório mais próximo, Pod, cansei de assistir essa chacina – Kaori murmurou, olhando ao redor quase em uma esperança tola de que encontrasse logo o que queria para poder partir o quanto antes. Mas ela não conseguia entender por que estava tão inquieta, na verdade.

Havia colocado todo o foco de sua viagem na busca pelo cientista Briefs e agora que soubera sobre sua morte... sua mente estava encontrando espaço para outros pensamentos. Pensamentos que não mereciam atenção.

Erios...

– Você – Pod pegou um dos corpos caídos e o segurou pelo colarinho. – Onde fica o laboratório mais próximo?

– Na torre principal – ele apontou prontamente. – P-por fa-vor, não me mate...

– Mate-o. – Kaori murmurou simplesmente. Ela desprezava todos os delatores, por mais que se aproveitasse de muitos. – E termine o serviço com os outros, eu vou até a torre. Qualquer coisa eu te chamo.

– Tudo bem – Pod assentiu obedientemente, com um sorriso sádico no rosto. Kaori teve tempo de ouvir o grito agoniado do homem antes de partir, mas pouco se importou. Ela não tinha nada contra saiyajins com instinto psicopata, na verdade a única coisa que a incomodava sobre a raça era apenas a ignorância irracional.

Alguns poucos soldados fardados ainda tiveram a coragem de tentar atacá-la durante o caminho, mas como não passavam de vermes fracos e insignificantes, Kaori não teve que fazer esforço algum para limpar sua passagem até a entrada da maior torre da base. Ela ainda tinha suas desconfianças se o soldado interrogado dizia a verdade, pela forma como a informação foi entregue fácil, mas realmente não tinha muito a perder. Ela duvidava que uma espécie tão medíocre como aquela poderia ser capaz de algum dano.

Um alerta alto soava dentro da sala quando entrou, com luzes vermelhas piscando em pontos estratégicos das paredes. Mas o que mais chamou a atenção de Kaori foi o quanto a sala estava vazia e escura. Certamente aquele ainda não era o ponto certo do laboratório, mas seria ele um andar acima ou subterrâneo? Ela bem que havia estranhado a construção de um laboratório dentro de uma torre estreita como aquela, sem espaço para muita liberdade... Mas aquele soldado não parecia estar mentindo. Ele era estúpido e estava desesperado por uma chance de viver...

Kaori fitou atentamente como o caminho para o andar de cima não possuía nenhuma restrição de passagem e tirou sua própria conclusão disso. Ela sorriu levemente e estendeu a palma aberta em direção ao chão. Quando a energia disparou de sua mão e abriu o solo sob seus pés, os gritos foram uma confirmação mais do que suficiente. Ela pousou levemente no chão do laboratório e assistiu vários homens de jaleco branco a encararem completamente pasmos. Ela chicoteou sua cauda de forma brincalhona e sorriu divertidamente, observando o amplo espaço daquele laboratório subterrâneo. Ela podia entender, certamente era uma medida de prevenção... se a base fosse atacada, o laboratório e suas criações poderiam sobreviver, mas ainda assim bem previsível.

– O General deu permissão! – um jovem homem chegou gritando por uma porta, parecendo ainda não tê-la notado. – Ativem a arma secreta!!

Kaori arqueou uma sobrancelha. Arma secreta? Curiosa, ela decidiu não interferir quando todos os cientistas começaram a se mover de um lado para outro e ativar vários controles que disponibilizaram abertas várias vitrines de vidro através das paredes. O que quer que fosse, certamente seria interessante. Os vidros foram abertos e robôs humanoides piscaram seus olhos vermelhos em direção a ela quando saíram sob a luz. É sério isso? Debochou, mas resolveu não subestimar completamente.

De qualquer forma, deveria chamar Pod. Ela se divertiria com esse lixo muito mais do que ela.

– Pod – ela pressionou o botão em seu scouter e imediatamente ouviu a conexão passar os sons esganiçados dos soldados sendo mortos. – Está me ouvindo?

– Sim, senhora?

– Quero que venha até aqui, você vai gostar de... ver... – Kaori arregalou os olhos quando uma forma peculiar surgiu entre os robôs. – ...isso – Uma forma completamente humana e juvenil, com olhos azuis pálidos e vazios, e cabelos negros e escorridos. Se aquilo fosse um robô... talvez aqueles cientistas não fossem um completo desperdício. Um sorriso satisfeito nasceu em seu rosto e dessa vez ela teve a esperança de que não sumiria tão facilmente. – Interessante.

 

 

 

Honios se sentia mentalmente inquieto com aquela situação. A postura inabalável de comandante não havia se alterado nada diante das emoções à flor da pele, mas cada olhar que recebia passava a sensação de que sabiam exatamente o que estava pensando. Droga, por que tenho que ser tão metódico? Ele urrou para si mesmo. Sempre fora rigoroso demais ao seguir regras, nunca acompanhava Kakaroto e Erios em situações minimamente rebeldes e imaturas... Mas agora estava ali. Por que aceitei fazer isso mesmo? Ele se perguntou mais uma vez, reconsiderando voltar e seguir com sua rotina de sempre.

Aquele maldito Kakaroto! Por que ele tinha que ser tão persuasivo?

 

– Por que eu faria algo por você? – Honios zombou, embora raramente preferisse usufruir do sarcasmo para perguntas estúpidas como aquela. Para ele, o usual era sempre se manter em silêncio e se privar de ouvir mais estupidez.

Kakaroto ainda parecia confiante, mesmo diante da visível recusa.

– Por que eu teria uma dívida com você. – mesmo não podendo vê-lo, Honios podia sentir o sorriso em sua voz. Oh, sim, ele estava dando aquele sorriso irritante e convencido. – E você me conhece bem o suficiente para saber que isso é uma dádiva rara.

– É verdade. – Honios concordou, mas com tom de descaso. – Mas já atingi minha cota de acordos recentemente. Não quero mais ter que lidar com isso de novo, vou tratar as coisas ao meu modo a partir de agora.

– Ora... – Kakaroto murmurou em tom divertido. – Você fez acordo com mais alguém? Isso é novo. Você não é uma pessoa fácil de convencer. Para ser sincero, eu estava um pouco inseguro se seria capaz de te persuadir.

– É... mas foi um erro – ele admitiu e suspirou. – Eu deveria ter previsto isso.

– Oh, você sempre prevê esse tipo de coisa. Ser paranoico faz parte dessa sua personalidade idiota. – Kakaroto debochou, mas seu tom sugeria que ele estava analisando a informação. – O que nos leva a conclusão que... muito provavelmente, você foi convencido por uma pessoa que, um, tinha o mesmo dom de persuasão que eu ou, dois, tinha algo que realmente interessava a você. Se for a segunda opção, provavelmente a proposta se trata da cabeça de Erios. Se for a primeira, só consigo imaginar uma única pessoa neste planeta que seria capaz de converter sua cabeça sistemática para agir de acordo com seus planos.

– Quem? – Honios perguntou, desafiador.

– É óbvio que Kaori. – Kakaroto respondeu como se não fosse nada demais e Honios ficou inquieto. Ele realmente se desacostumou com as demonstrações de esperteza de Kakaroto para se surpreender daquele jeito. – Então ela retornou ao planeta? Hm. Vou te contar, eu nunca morri de amores por ela como a maioria dos caras, mas tenho grande admiração por aquela mulher. Se algum dia jogássemos um jogo de estratégia juntos, acredito seriamente que o universo inteiro poderia explodir. Muita perspicácia junta se colidindo, isso certamente teria consequências catastróficas. Mas é realmente impressionante que uma raça tão imatura e mal desenvolvida como a nossa tenha seres racionais tão intelectuais como nós dois e meu pai. Tenho que estudar mais as probabilidades disso se repetir ou de ser algo genético, acho que gostaria de ter um filho que herdasse meu intelecto, além da minha aparência incrível também. Mas levando em consideração os genes que formaram meu irmão, pode ser uma questão muito arriscada. É, pensando bem, se for para ter um filho como ele definitivamente não vale a pena, por que convenhamos-

– Chega de falar! – Honios gemeu e massageou as têmporas. Kakaroto muitas vezes era antissocial e reprimia ao máximo um diálogo amigável entre colegas, mas quando começava a falar dava dor de cabeça em qualquer um. Ele tinha assuntos “intelectuais” e prepotentes demais para alguém ser capaz de aguentar. – Eu tenho mais o que fazer do que ficar ouvindo você.

– Bem, indo direto ao ponto, meu palpite é que Kaori passou a perna em você sem romper o tratado – ele certeiramente apontou, mas Honios se encontrava mais preocupado em entender por que ele não se ofendera com suas palavras. – Ela tem dessas, já reparei há muito tempo. Essa mulher é uma víbora venenosa e consegue distorcer qualquer sentença a seu favor, tem que ser muito inteligente para lidar com ela. Coisa que você claramente não é. – Honios rolou os olhos. Kakaroto escondeu bem por um segundo, mas tinha se ofendido sim. – Minha proposta é o seguinte: me ajude e eu te ajudo a se vingar da vadia. E como você sabe, eu não sou como ela e cumpro minhas promessas, então não terá com o que se preocupar quanto à minha parte.

– Eu já disse que estou de saco cheio de acordos – Honios resmungou. Por que ainda continuava aquela conversa? – Além disso, vou conseguir meu próprio meio de vingança.

– Oh claro, você vai salgar a comida dela. Tão maligno – Kakaroto zombou, mas Honios não se viu com paciência para retrucar. – Admita, Honios. Você é um cara muito cauteloso, não faria nada de muito drástico a ela. Pelo menos, não sem ajuda.

– Eu ainda não entendi por que você está tão motivado a fazer um acordo comigo – Honios murmurou. E suas palavras eram quase ilógicas para quem o conhecia, pois ele sempre conseguia entender as intenções das pessoas sem muito esforço. Exceto por Kaori, mas esse foi um caso à parte. – O que diabos você quer que apenas eu posso fazer por você?

– Bem, você precisa invadir o laboratório real e roubar alguns dados para mim.

– O que? – Honios arregalou os olhos. – Não devemos nos envolver com escravos reais, Kakaroto, isso é um crime. Além disso, tudo que os cientistas do rei tratam são assuntos confidenciais, não temos autorização para invadir assim do nada e pegar o que quisermos.

– Acho que você não entende o conceito da palavra “roubar”, entende? É claro que é algo que vai contra as leis, o que você esperava? – Kakaroto não conseguiu controlar o tom irritado. Nunca conseguiu ter muita paciência para Honios e suas frescuras com regras. – Mas não é nada demais. Não são dados que prejudicarão ninguém. Na verdade, é uma questão pessoal para mim.

– Então pode escolher qualquer outra pessoa para isso! – Honios urrou, frustrado. – Eu não gosto de fazer esse tipo de bobagem e você sabe bem disso! Na verdade, eu deveria ser a última pessoa na sua lista para requisitar esse tipo de missão idiota!

– Não, você é a primeira.

– E por que?!

– Porque... você é a única pessoa que confio.

Honios franziu as sobrancelhas, mas seus lábios se entreabriram em incredulidade. Kakaroto havia mesmo dito algo legal para alguém? O mundo só podia ter enlouquecido. Mas... se Kakaroto, com todo aquele orgulho, estava pedindo por sua ajuda e demonstrando toda a sinceridade em sua necessidade... é por que deveria ser algo realmente importante. Eles não eram ditos amigos e essas coisas, mas eles sempre tiveram um bom companheirismo, por mais que fossem orgulhosos demais para admitir. Afinal, eles foram criados como irmãos. Tudo bem que Honios queria matar seu irmão verdadeiro a maior parte do tempo, mas... talvez ele não tivesse coragem suficiente quando a hora realmente chegasse. Porque assim como Kakaroto havia admitido que confiava nele, ele confiava em Kakaroto e em Erios.

Embora, apenas em situações raras e especiais.

Honios suspirou. Por que tinha que ser uma pessoa tão compassiva?

– Tudo bem, que tipos de dados são esses?

Depois que Kakaroto havia dito o tipo de dado especificamente, mesmo não tendo entrado em detalhes sobre o motivo, Honios percebeu que era uma questão pessoal demais e – no mínimo – constrangedora. Não era à toa que Kakaroto havia pedido a ele. De todas as pessoas, Honios era a pessoa mais séria e profissional para lidar com algo daquele tipo. Se fosse Erios, até mesmo Hanasia, a situação de Kakaroto poderia ser até bem problemática.

Mas, bem, agora ele havia se comprometido e tinha que ir com aquilo até o fim.

Com passos rápidos e evitando olhares dos guardas, Honios atravessou o pátio real do castelo e avançou até o laboratório real. Depois que Kakaroto havia solicitado sua ajuda, Honios decidiu que o melhor a fazer era interrogar alguns escravos para saber o horário em que não haveria nenhum cientista no laboratório. Eles prontamente disseram que não era exato, mas que a maioria dos cientistas estava focada no laboratório que mantinha contato com a nave que havia partido para a Terra – para que o rei pudesse monitorar a situação lá sem qualquer imprevisto tecnológico – então o laboratório oficial estava quase sempre abandonado. Ele não sabia se o destino estava conspirando a favor ou não, mas aproveitou a oportunidade e o invadiu o quanto antes.

Ninguém o vira quando entrou, nem os guardas no castelo, mas Honios ainda estava inquieto por ter que agir tão sorrateiramente. Suspirando, ele fechou a porta silenciosamente atrás de si e fitou o grande “quartel tecnológico” diante de si. A sala estava escura e confusa, mesmo com alguns painéis piscando luzes, mas era visível o quanto o laboratório era enorme e cheio de máquinas. O pior daquilo tudo é que ele não saberia por onde começar a procurar pelos tais dados em um lugar tão grande e confuso.

Ele caminhou mais a fundo pelo laboratório e procurou com os olhos o que poderia ser um computador principal, para facilitar a procura, mas quanto mais começou a penetrar nos fundos do laboratório, mais começou a notar uma claridade mais relevante de um canto estratégico. Havia alguém ali?

Reconsiderando a invasão para não ser pego, Honios retomou os passos em direção à saída, mas foi impedido quando uma silhueta delicada pairou à sua frente e bloqueou a passagem. Ambos se estabilizaram com a surpresa, mas conforme a luz dos painéis alcançou ambas as feições, a surpresa foi tudo que bastou para que eles rompessem a paralisação.

Você?!

 

 

 

Chichi observou seu reflexo no espelho e tentou perceber algum traço físico que transparecesse as mudanças que sofrera naqueles últimos tempos. Sua pele estava mais bronzeada do que estava acostumada a ver, devido à alta temperatura do planeta em que treinara tantos dias, e as maçãs de seu rosto se firmaram mais no alto, fazendo-a perder um pouco daquele ar infantil em sua expressão. Seu olhar estava mais maduro também, ou pelo menos perto disso com o tanto que havia vivenciado até aquele ponto. Chichi não podia dizer com certeza se havia amadurecido ao longo daquele tempo, já que muitas de suas ações foram impensadas e com consequências, mas podia dizer que havia se tornado uma pessoa com outro tipo de perspectiva.

Suspirando, ela deslocou o tronco levemente para o lado e observou o comprimento de seu longo cabelo negro, que agora quase alcançava a altura de seus quadris. Deveria ter se passado realmente muito tempo para que ele ficasse daquele tamanho. Até mesmo sua franja já não podia mais ser considerada uma franja, pois tinha que ser constantemente colocada atrás das orelhas para não cair sobre os olhos.

Mas era estranho... já havia se passado tanto tempo assim?

Chichi deixou de lado os pensamentos e se afastou do espelho, voltando a terminar de recolocar a armadura. Ela a usara tantas vezes para treinar com Kakaroto que agora o material era quase familiar, mas era a primeira vez que voltava a colocá-la depois de tanto tempo parada. A primeira vez que voltava de fato à ativa. Ela corou, mas franziu o cenho em determinação. Kakaroto e ela haviam perdido muito tempo de treinamento ao longo daqueles dias, muito entretidos um com o outro para pensar em qualquer outra coisa, mas agora era o momento de recuperar o tempo perdido. E, por algum motivo, Kakaroto ainda se encontrava determinado a torná-la mais forte – mesmo que isso significasse abrir mão de alguns momentos... íntimos –, mas ela ainda não entendia por que.

Chihi se posicionou novamente diante do espelho e se alongou de forma simples para se preparar para o treino. Mas conforme seus pensamentos começaram a desviar para Kakaroto e uma curva ligeira nasceu em seus lábios, ela começou a prestar atenção em si mesma através do reflexo.

Talvez ela não estivesse tão mudada fisicamente, mas, definitivamente, havia algo diferente em seu olhar... Algo que ela nunca notara se já existia. Um brilho. Um brilho que esboçava leveza e... felicidade.

Felicidade? Ela franziu o cenho, incerta. Havia uma pequenina voz em sua consciência que tentava racionalizar sobre aquela situação, tentava entender como as coisas de fato deveriam fluir. Chichi agora tentava não dar mais ouvidos a ela, mas... Talvez, apenas talvez, tudo aquilo ainda fosse terrivelmente errado. Talvez sentir aquela atração, aquele desejo, fosse uma coisa que deveria evitar, mas ela não conseguia mais. Não importava mais, mesmo que quisesse ela não conseguiria evitar sentir aquilo. Mesmo que fosse errado... estar com Kakaroto trazia uma satisfação e conexão que ela jamais sentira com ninguém em sua vida. Por que acabar com isso? Seria egoísmo dela ignorar o dever que tinha de vingar os inocentes que Kakaroto assassinou, para viver aquele sentimento? Era um triste pensamento, mas... quando pensava em Kakaroto, ela não conseguia ver mais nada além de alguém... humano. E humanos cometem erros. Humanos são perdoados. Humanos podem mudar – para melhor. Talvez fosse idiota, estúpido, mas ele conseguiu... conquistá-la o suficiente para acreditar nisso.

E, bem, ela estava gostando do rumo daquela nova relação deles. Não havia por que complicar as coisas.

– Que olhar é esse? – Kakaroto a abordou e Chichi se sobressaltou ao sentir o braço e a cauda dele serpenteando sua cintura. Mas ela estava tão familiarizada com a sensação, que seu corpo imediatamente relaxou. – Aposto que está pensando em mim.

– Odeio quando você banca o pretencioso – ela o empurrou, mas com um pequeno sorriso contido. Ele aproveitou-se disso e a puxou para um beijo. Chichi naturalmente correspondeu e suas certezas se tornaram ainda mais convictas com aquele simples ato. Realmente não havia por que complicar. Kakaroto começou a mover a mão até sua armadura para retirá-la novamente, mas com isso Chichi despertou o suficiente para afastá-lo. – Espera... você queria treinar hoje. Lembra?

Ele soltou um grunhido frustrado, mas se conformou facilmente. Mesmo que preferisse continuar, sabia que treinar Chichi, além de necessário, era um entretenimento prazeroso. Ele olhou para ela com um sorriso torto e analisou a forma como ela estava naquele dia. Seu uniforme era o mesmo de sempre e seu corpo sedutor também, mas seu longo cabelo ébano pendia nas costas, livre na forma selvagem que ele tanto gostava... No entanto, como treinariam, aquilo não seria exatamente a melhor coisa.

– Aconselho a prender o cabelo – ele indicou. – Pode não esperar nenhum golpe sujo de mim, mas é melhor que já adquira como hábito ao lutar com alguém.

– Eu já ia prender – ela suspirou e puxou sua longa faixa vermelha enrolada do pulso. Ele assistiu conforme ela trabalhava para que os longos fios se juntassem para um nó da faixa. – Mas... tem mais alguma sugestão para mim?

– Sim – ele a puxou de volta pela cintura, embora ela ainda tentasse prender o cabelo. – Usar uma armadura menor. Quero vê-la em movimento, mas esse uniforme tem tecidos demais e atrapalha a boa visão.

– Por mais que eu queira ignorar seu comentário, eu aceitaria de bom grado usar algo diferente dessa armadura. De preferência meu kimono, mas... infelizmente você o rasgou – ela tinha intenção de usar um tom descontraído, mas parecia realmente chateada. Por mais que tenha se acostumado a Kakaroto ser um saiyajin, ou aprendido a ignorar esse fato, usar aquela armadura parecia... tão errado. Tão errado que, como uma avalanche, a percepção trouxe vários e vários dos conflitos que sua mente vinha ignorando diante daquele desejo cego. Ela suspirou e constatou com um pensamento triste que havia, sim, por que complicar as coisas. Nada seria tão simples com eles. Mas a questão era: ela realmente deveria se conformar que havia se aliado ao lado inimigo? – Kakaroto, como vai ser quando voltarmos ao seu planeta? – ela resolveu perguntar uma das muitas perguntas que refutavam em sua mente naquele momento. – Fingirei ser sua escrava?

– Não. – ele respondeu bruscamente. – Enquanto estivesse comigo não seria problema, mas se algo me acontecesse você seria passada a outro dono como um objeto qualquer. Não quero que haja chances disso acontecer.

– Então como será? – ela perguntou, cansada. E se não houvesse outro modo? Teria que voltar à Terra? Mas... mas como seria viver lá depois de tudo que aconteceu? Depois de tudo que viveu? Ela sabia que era errado e meio ilógico, mas queria um meio de continuar naquela farsa. Naquela farsa de que Kakaroto e ela não eram de raças diferentes e que ele não era um alienígena cruel que dizimava espécies e planetas. Mas ir com ele ao seu planeta? Viver no mundo do inimigo e assistir sua crueldade sem poder fazer nada? Ela não queria dizer todos os seus pensamentos a Kakaroto, mas não havia solução boa o suficiente que pudesse mantê-los juntos sem consequências severas.

– Eu já pensei nisso. Afinal, por que acha que estou te deixando mais forte?

– Para... ser capaz de me proteger? – Chichi hesitou, incerta e meio avoada. Até aquele ponto, jamais imaginara outro motivo. Afinal, sua mente se encontrava preocupada com coisas mais importantes do que o motivo do seu treinamento.

– Não – Kakaroto sorriu confiantemente e, por um segundo, por um mísero segundo, Chichi confiou naquele sorriso. Confiou tanto, que se viu cegamente disposta a segui-lo em qualquer que fosse a situação. Mas não soube o que pensar quando suas próximas palavras foram ditas:  – Para você se passar por uma saiyajin.

 

 

 

Os robôs começaram a avançar e Kaori apenas esperou para ver o que aconteceria. Ela esperava que mais daqueles ridículos mísseis e foguetes destrutivos fossem usados, mas, surpreendentemente, eles atiravam uma energia que possuía muita semelhança às técnicas saiyajins. Realmente interessante, mas ainda assim de baixa potência – bastou que ela usasse a palma de uma das mãos para bloqueá-los.

Ela desviou o olhar até o jovem de cabelos negros com curiosidade, assistindo como ele a observava com os olhos frios e um sorrisinho superior. Ela já podia dizer que gostava dele, mas queria confirmar seus pensamentos se era ou não um robô antes de decidir capturá-lo. Bem, se fosse o caso, o termo correto seria androide.

Os robôs se deslocaram rapidamente e se amontoaram ao redor de Kaori, cercando-a sem que ela tivesse chances de escapar. Alguns cientistas torciam da onde estavam, enquanto outros aproveitavam a oportunidade para fugir, mas quando Kaori ergueu a mão e deixou que vários feixes de luz voassem de encontro aos robôs, logo tudo havia terminado e eles caíram feito velhas latarias ao chão. Ela deu um olhar ao rapaz androide, que continuava inabalável em seu lugar, e o desafiou com um sorriso zombeteiro.

– Ora – ele riu e colocou as duas mãos na cintura, como se estivesse se divertindo com toda aquela situação. – Você parece ter um interesse particular em mim.

– De fato, tenho – Kaori concordou. – Você parece ser um androide.

– De fato, sou – ele imitou seu tom, mas Kaori sorriu por receber a confirmação. – Isso muda alguma coisa para você? Ao que me parece, você não tem problemas em eliminar robôs.

– Você possui uma inteligência artificial interessante – ela observou. – Sabe construir frases muito bem, quase parece uma pessoa normal diante de mim.

– Bem, não sei se é um elogio ou não, mas minha inteligência não é artificial – ele deu de ombros. – Eu ainda sou um ser humano, mesmo que em parte.

– O que? – Kaori piscou com a surpresa, mas quando decidiu perguntar o que aquilo significava, Pod saltou pelo buraco no teto e pousou ao seu lado.

– Oh! Mais uma! – o androide comemorou e ergueu as mangas de sua blusa como se se preparasse para um confronto. – As coisas estão ficando mais interessantes! Mas quero ver se são capazes de me enfrentar... garotas.

Kaori o observou por um longo tempo, enquanto calculava as probabilidades do que ele disse ter grande relevância. Se ele de fato possuía alguma parte humana, mesmo que ínfima, então ele só podia ser um ciborgue. Mas era possível que a ciência daquele planeta já fosse capaz de feitos assim? Algumas pesquisas no universo a fora ainda estudavam a possibilidade e eles já criavam um ciborgue do nada, com a característica humana perfeita e não adulterada? Mesmo em algumas tentativas de cientistas, eles haviam deixado a aparência da criatura uma coisa robótica e mecânica demais, parecendo mais uma máquina do que um ser vivo. Mas aquele rapaz... ele poderia se passar por um humano perfeito. Se o que ele dizia era verdade, definitivamente era uma descoberta valiosa.

– Antes me responda: que tipo de alterações robóticas você sofreu? – ela perguntou, sua expressão se tornando séria e centrada. Pod arqueou uma sobrancelha, tentando entender o que acontecia, mas permaneceu em respeitoso silêncio.

– Do tipo para me transformar em uma arma – ele bufou e olhou para os cientistas atrás de si maliciosamente. – Fiquei mais forte, mais rápido e posso fazer coisas inimagináveis comparado ao resto da humanidade. Mas esses cientistas idiotas fracassaram em uma coisa.

– Em quê? – ela perguntou e cruzou os braços. Mesmo que ele tivesse ganhado algum tipo de poder, ela não esperava muito. Pod seria suficiente para lidar com ele.

– Uma arma logicamente deve permanecer no domínio de seu portador – ele agora olhava fixamente para os cientistas, com um sorriso sádico no rosto. – Mas eu não obedeço ninguém.

Kaori definitivamente não esperava pelo que veio a seguir. O androide ergueu a palma diante dos cientistas e os explodiu todos de uma vez com uma única esfera de energia. Mas não foi essa atitude fria que a surpreendeu, mas como aquele golpe era poderoso o suficiente para se comparar a ataques de saiyajins de alto escalão. Isso poderia ser perigoso. Muito perigoso.

– Pod. – ela chamou e Pod imediatamente a olhou. – Quero que lide com ele. Mas não o mate de imediato, quero testar suas habilidades antes disso. A não ser que você o considere poderoso demais, assim acho que o melhor seria chamar reforços.

– Eu sei que não estou em minhas melhores condições, mas sou mais do que suficiente para lidar com essa lataria ambulante – ela respondeu ofendida e deu um passo à frente. Kaori se surpreendeu por ela ter entendido a situação, que seu adversário era um androide, mas não fez nenhum comentário a respeito. Talvez isso pudesse ofendê-la ainda mais. – Afinal, eu pertenço ao exército saiyajin.

Kaori suspirou e deu um sorriso simples, mas mais tranquilo. Pod estava certa.

– É verdade. Eu não posso esperar menos da mais poderosa do exército.

Pod piscou com surpresa e olhou para Kaori com descrença.

– Eu não sou a mais poderosa do exército. De onde tirou isso?

– Pelo que eu saiba, o soldado mais poderoso do exército é uma garota de origem camponesa que foi treinada desde criança – Kaori se defendeu. Seria Pod tão modesta assim? – Achei que fosse você.

– Não – Pod balançou a cabeça simplesmente. – Nesse caso, eu sou a segunda mais poderosa... Nosso General costuma nos chamar de “as relíquias do exército” por termos origens tão parecidas, mas ela é definitivamente a mais poderosa. – Pod riu sem humor. – Acho que nem posso me comparar.

Kaori se impressionou. Mas não conseguia adivinhar quem poderia ser.

– Isso é incrível... mas quem é essa tal “relíquia”?

 

 

 

Tenshinhan estava cansado, mas satisfeito. Aquele ataque não havia consumido tanta energia quanto consumia antes do treinamento no outro mundo, mas ainda assim era desgastante. O que o confortava em meio às respirações pesadas e a forma inconstante de seu ki naquele momento, era a certeza de ter atingido o inimigo. Talvez não estivesse morto ainda, mas com certeza estaria perto disso.

A poeira se dispersou lentamente para longe e Tenshinhan finalmente pôde enxergar o enorme buraco que fora feito no chão. Com isso, ele se sentiu confiante para descansar um pouco e decidiu pousar. Tinha que se recuperar o quanto antes para levar os habitantes até a Capital Real, ou mais um saiyajin poderia vir e tornar as coisas mais complicadas.

– Parsly! – uma acentuada voz juvenil gritou e Tenshinhan imediatamente se sobressaltou ao reconhecê-la. A garota ainda estava viva? – Onde está você?

Eu não gosto nada disso, Tenshinhan suspirou com desgosto, conforme viu a garotinha se aproximar a voo de forma urgente. Ela não gastou olhares nele, já que a cratera do ataque foi o que despertara sua atenção, mas Tenshinhan sabia que era apenas questão de tempo para que ela viesse atacá-lo quando visse seu companheiro ferido. Ele ainda tinha energia suficiente para enfrentá-la, mas se sentia particularmente incomodado por ter que lutar contra uma criança. Mesmo que fosse um inimigo, mesmo que pertencesse à outra raça, ele não sabia se seria capaz de matá-la – e não parecia seguro deixá-la viva.

– Parsly... – ela murmurou para si mesma ao sobrevoar o buraco, mas logo invadiu o fundo negreiro e o buscou de lá nos braços. Ele parecia gravemente ferido e incapaz de se mover, mas ainda consciente pelas respirações pesadas que dava. Tenshinhan agora considerava terminar o serviço. – O que você foi fazer, seu idiota? Por que não rebateu o ataque se o percebeu a tempo?

– Cale... a boca – ele resmungou fracamente. – Você... me deve uma.

A garota então, sem dizer uma única palavra, o colocou delicadamente no chão. Tenshinhan estranhou o quanto seus olhos ficaram sérios e a forma rígida que sua postura começava a assumir. Ele quase podia sentir o poder começando a irradiar dela e tomar uma forma cada vez mais poderosa e ameaçadora, mas isso ia contra toda a impressão juvenil e imatura que havia passado a ele no início. Ele deveria considerá-la um desafio?

– Eu sei. – ela concordou e cerrou os dois punhos ao lado do corpo. – Mas antes quero que me diga qual era a informação que tinha a respeito dos terráqueos. Eu a entregarei ao General assim que isso terminar.

– Eles... eles possuem um tipo... de base secreta – ele murmurou com dificuldade e parou um pouco para tossir uma golfada de sangue. – Eu... não sei ao certo por que, mas... parece que não podemos enxergá-la. Há milhares de terráqueos... escondidos lá.

– Entendo. – ela murmurou simplesmente e lhe deu as costas, o tom de sua voz agora completamente alterado de descontraído e animado para frio e mortal. – Agora fique aí. Isso não irá demorar.

Era isso. Tenshinhan teria que matá-la agora ou todos estariam condenados. Ele lamentou mentalmente e se colocou em posição de luta, mas quando ela começou a caminhar de cabeça baixa em sua direção, ele finalmente percebeu. Seus olhos se arregalaram e o terror gelou seu sangue.

O poder aumentava e aumentava em um nível tão incrível... quanto o terrível saiyajin que o assassinara. Ele... ele jamais poderia vencer daquele jeito! Para falar a verdade, ele considerava seriamente se seria capaz de vencer mesmo com o mais alto nível de kaioken que havia alcançado.

que poderia fazer? Aquilo era mesmo real? Uma criança... uma garotinha... com um poder daqueles?

– Não fuja – ela sussurrou, seu rosto ainda escuro pelas mechas que caiam nos olhos e a sombra que cobria a face. – Não se esconda. – ela continuava a dar passos lentos em sua direção, mas agora seu ki crepitava ao seu redor em raios azuis poderosos e explosivos. Uma aura brilhante e escarlate começava a irradiar dos contornos de seu corpo para contrastar com o poderoso ki em constante aumento, mas não era como se isso fosse necessário para assustar Tenshinhan. Ele podia sentir o nível elevado de seu ki de forma tão esmagadora que ele quase caiu sobre os joelhos em completo arrebatamento. – Não importa o que faça... Você não escapará da minha fúria. – E com essa declaração final, ela ergueu o rosto, ao mesmo tempo em que seu ki explodia de uma vez pelo seu corpo e espetava a franja que cobria seu olho no alto de sua cabeça. Raios ainda crepitavam ao seu redor, seu curto cabelo negro-azulado agora fincava o ar em espetos altos e desordenados e seus olhos se perdiam em um branco vazio, com a pupila e a íris desaparecidas.

– Acabe com ele... – Parsly sussurrou com as poucas forças que tinha, mas com satisfação eminente. – Coronel Celery.

 

 


Notas Finais


Na minha opinião... Eu acho que faltou uma certa conexão entre as cenas (exceto pelas duas últimas), houve quebras de cenário muito drásticas, sei lá, mas eu espero que tenham gostado por que não tinha como eu fazer de outro jeito. São muitos personagens e muitos ângulos diferentes que preciso abordar e nem sempre tem aquela ligação natural, sabe? Pelo menos consegui passar para vocês o que queria: Kaori na Red Ribbon, a aparição do androide, Tenshinhan em seu primeiro confronto, os planos de Kakarotto, os conflitos internos de Chichi, Piccolo Daimaoh fugindo da fusão, Honios ajudando Kakarotto e encontrando uma certa pessoa e a aparição de novos personagens.
Ah, na capa do capítulo é a personagem Celery. A outra relíquia do exército, Pod (a louca), vocês podem conferir aqui: http://oi61.tinypic.com/152mgl3.jpg
*Significado dos nomes: Parsly = Parsley = Acelga; Celery = Aipo
É só isso.
Até a próxima, pessoal!


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