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História Por Trás da Frieza Saiyajin - Compatibilidade


Escrita por: Son_Kelly

Notas do Autor


Esse capítulo demorou mais do que eu esperava para ser feito, mas espero que gostem o suficiente para perdoar a demora.
Enfim, boa leitura!

Capítulo 42 - Compatibilidade


Fanfic / Fanfiction Por Trás da Frieza Saiyajin - Compatibilidade

Koe estava mais ansioso do que gostaria de admitir, mas certamente não conseguia disfarçar muito também. Afinal, era sua primeira missão oficial como soldado de elite! Era tão extasiante que até mesmo contou os segundos para o pouso da nave, quicando no assento conforme atravessava a atmosfera do planeta. Seus companheiros de unidade não pareciam tão entusiasmados quanto, pelo que podia perceber do receptor de comunicação, mas estava disposto a compensar por eles. Inclusive, sequer poupou tempo quando a nave enfim aterrissou, batendo com os punhos nos botões do painel, para que a porta abrisse logo, e saltando com toda a euforia de sua espontaneidade juvenil.

Bardock e Toma saíram logo em seguida, embora não tão agitados quanto ele, enquanto a nave de Kakaroto era a última a aterrissar logo atrás. Koe deu um suspiro de contemplação e admirou o céu púrpura do planeta Neose, deduzindo o quanto poderia valer quando fosse vendido. Não sabia qualificar bem um planeta, mas não tinha dúvidas de que aquele renderia um bom dinheiro – seu primeiro pagamento!

– Muito bem. – Kakaroto chamou a atenção de todos assim que saiu da nave, acenando simplesmente para que se juntassem a ele. Koe controlou a vontade de revirar os olhos e se aproximou, tentando reprimir ao menos um pouco a antipatia natural que tinha pelo seu “respeitável” comandante. – Como Hanasia está afastada pelas próximas missões, eu vou assumir as funções dela. Koe assumirá as de Hiburan, o resto continuará normal. Meu scouter está com um novo código, mas já passei para vocês o registro para que me mandem seus relatórios finais. Isso é tudo.

Relatórios finais?  Koe se sobressaltou, conforme todos se dispersavam sem dizer uma única palavra. Por que ninguém argumentava? Eles tinham mesmo que entregar relatórios?

– Moleque. – Kakaroto chamou bruscamente, estalando os lábios ao perceber sua expressão confusa. Enquanto isso Bardock e Toma já se afastavam à voo, sem nem dar importância para qualquer coisa além deles mesmos. – Está em dúvida de alguma coisa, por acaso? Sabe sobre suas funções, não sabe?

Koe franziu o cenho, mas não disse nada quando decidiu se aproximar. O que mais havia para fazer? Pelo que sabia, sua única função era enfrentar as raças dos planetas designados e dizimá-las.

– Eu fiz os testes necessários, acho que sei tudo que é para saber. – respondeu, mal humorado. Mas não estava muito confiante do que dizia, não naquela situação em especial.

– Está brincando, certo? – Kakaroto soltou um riso cínico. – Aqueles testes são apenas parâmetros de força para determinar sua categoria como soldado, não um treinamento para o que deve fazer como funcionário do império. – ele não queria demonstrar o quanto estava se divertindo com a confusão do garoto, mas não conseguiu disfarçar muito bem seu humor naquela situação.  Na verdade, até tomou a liberdade de apoiar a mão no ombro dele, num irônico gesto de consolo. – Claro que nem todas as unidades se importam em seguir as instruções à risca, mas minha unidade não é a número um à toa. – de repente, sua expressão se fechou de modo ameaçador e o aperto no ombro se firmou com mais intensidade. – Não vamos cair o padrão por sua causa.

– Eu não sei nada sobre isso – Koe rebateu, sem se afetar. – Não me disseram nada sobre essas funções.

– Você sabe por que uma unidade comercial possui cinco membros, pelo menos?

– Sei lá, achei que era um número aleatório – tentou demonstrar o descaso, mas Kakaroto esmagou seu ombro em resposta. – AI!!

– Após dizimar as raças, cada membro é responsável por uma função – Kakaroto murmurou, frio e sóbrio. No entanto, apesar de tentar soar profissional no tom de voz, Koe podia perceber que ele parecia irritado e impaciente por ter que explicar. – Na nossa unidade, por exemplo, Hiburan era responsável por procurar recursos naturais e matérias-primas; Toma por avaliar as condições do planeta; o velho por reportar o nível tecnológico e intelectual da civilização; Hanasia por arquivar os detalhes da missão; e eu, o comandante, por considerar cada fato e informação colhida para o cálculo do valor no mercado. Quando a missão é concluída, entregamos todos os dados ao centro comercial e o planeta é encaminhado para venda.

– Mas... isso quer dizer... que nós temos que... – Koe recuou, horrorizado. – Trabalhar?!

– Não parece tão divertido agora, parece? – Kakaroto sorriu maldoso e finalmente soltou seu ombro. – As unidades de classe baixa não são qualificadas para desempenhar esse papel, portanto há equipes do centro comercial que vão aos planetas que eles dizimam para realizar as pesquisas e reportá-las... mas, bem, isso significa que os soldados da classe baixa não recebem qualquer remuneração como funcionários, apenas o que conseguem encontrar de valioso em planetas e algumas misérias do reino. – ele suspirou. – Fazer parte da elite não significa apenas ter um grande poder de luta ou fazer parte de um clã nobre e influente... mas ter compromisso com suas responsabilidades para com o Império Saiyajin.

– Em outras palavras, contribuir para o crescimento da influência saiyajin no universo. – Koe entendeu. – Meu irmão comentou algo assim uma vez... que fazer parte da elite era sustentar o império nas costas. Mas na época eu não entendi. Eu achava que todas essas questões eram resolvidas pelos nossos aliados e nós só cuidávamos da parte da ação.

– No começo era assim. – Kakaroto comentou. – Mas apesar de parecer um idiota, rei Vegeta não é burro. Ele percebeu que deixar tudo nas mãos de aliados faria os saiyajins serem subestimados e, assim, gradativamente passados para trás. – seu olhar era distante, como se viajasse ao passado. – Meu pai uma vez disse que quando o sistema mudou e os saiyajins passaram a ter mais participação no comércio de planetas, descobriram que vários planetas valiam o dobro, até mesmo o triplo, do valor pelo qual eram tabelados pelos aliados.

– Mas como os saiyajins aprenderam a administrar as coisas? – Koe não parecia muito convencido. – Quer dizer... somos uma raça poderosa e guerreira, mas estamos longes de ser-

– Inteligentes? – Kakaroto completou e assentiu com uma careta de desgosto. – Com certeza. Mas há alguns entre nós que se sobressaem... Como os mais famosos: meu pai, Kaori e eu. Na época, Hagar e Vegeta eram os que mais se sobressaiam intelectualmente... então Hagar foi enviado para vários planetas distantes, enquanto rei Vegeta começava a quebrar alianças para conquistar poder. – ele fez uma pausa. – Rei Vegeta derrotou os responsáveis pelo comércio de planetas e assumiu o controle escravizando os sobreviventes para trabalharem em seu nome. Enquanto Hagar trabalhava em novas alianças para o império saiyajin que começava a se formar, saiyajins de elite escolhidos a dedo pelo rei começaram a aprender sobre a administração do comércio com os escravos responsáveis, um deles sendo o tal Asen que você conheceu. Levou vários anos... mas hoje nós não temos mais nenhuma dependência de outras civilizações nessa questão e somos os únicos responsáveis pela comercialização de planetas.

– Incrível... – Koe balbuciou, impressionado. – Nunca me contaram essa história... claro que eu sei que o império saiyajin é o mais influente dos que existem, mas achei que era por que somos temidos. – ele se deu conta de algo. – Espera, se é esperado que soldados de elite saibam dessas funções que você citou... por que não me ensinaram nenhuma? Por que nem sequer se deram ao trabalho de me informar?

– Você foi encaminhado como soldado temporário assim que foi classificado como elite. – Kakaroto comentou. – Provavelmente eles te instruiriam apropriadamente sobre cada detalhe das suas funções antes de sair em missão... mas você foi escalado para minha unidade logo em seguida, não tiveram tempo de fazer isso.

– Mas isso não é imprudente da parte deles? – Koe franziu o cenho. Esperava mais daquele cara, Asen, ele parecia ser do tipo responsável.

Tsc. – Kakaroto estalou os lábios em frustração. – Provavelmente foi por minha fama de organização. Eles sabiam que eu faria questão que você fizesse as coisas direito, então jogaram para mim o trabalho de ensiná-lo. Que desagradável.

– Realmente. – Koe concordou, cruzando os braços. A antipatia era recíproca.

– De qualquer forma, chega de lições de história – Kakaroto voltou ao foco. – Como eu disse antes, você assumirá a função de Hiburan. Você deve vasculhar os confins do planeta para procurar possíveis recursos naturais, matérias primas... minérios de ferro, ouro, o que for. Sua função é reportar tudo de “valor” que encontrar.

– Certo... – Koe deixou os ombros caírem, desanimado. – E quando vou lutar?

– Você luta enquanto faz isso. – Kakaroto lhe deu as costas e ativou o scouter para detectar as presenças próximas. – E é melhor começar logo, quero terminar essa missão o quanto antes. Até por que vou ter trabalho dobrado com a Hanasia de fora.

– Ela não é sua mãe? – Koe estranhou. Por que a chamava pelo nome? Tudo bem que saiyajins não eram muito íntimos de parentes, mas ele não chamara Bardock pelo nome nenhuma vez sequer... parecia até que estava propositalmente evitando o parentesco.

Kakaroto ignorou a pergunta e continuou com a atenção no scouter. Com a localização do lugar mais populoso do planeta detectada, ele deixou Koe para trás e se pôs no ar para começar a sessão de massacre.

– O que acontece se eu não conseguir fazer esse tal de “relatório final”? – Koe apareceu de repente ao seu lado, seguindo-o. Ele trincou os dentes e aumentou a velocidade, mas o jovem saiyajin conseguiu igualá-la sem dificuldades. Tsc.

– Você receberá uma advertência do centro comercial. – Kakaroto respondeu de mal gosto, tentando reprimir a frustração. Pelo visto teria que tolerar a companhia. – Três advertências e você perde sua posição de elite.

– Apenas três?! – Koe berrou. – Mas...! Por que o Kaito não me avisou sobre essas funções antes?! Eu poderia ter aprendido...! Maldito! Vai me pagar da próxima ver que nos encontrarmos!

Kakaroto ignorou o surto do garoto e diminuiu o ritmo do voo ao perceber que se aproximavam do local estimado. Planejava não causar uma comoção, já que o nível daquela espécie era alto o suficiente para que evitasse ao máximo ser atacado em grande número... mas com aquele moleque barulhento ao lado ia ser difícil.

– Estamos nos aproximando da provável capital. Já que está comigo, tente não me atrapalhar.

Eu não vou-

Koe trincou os dentes quando Kakaroto o ignorou e pousou. Ele deu um olhar para a cidade nas montanhas ao longe e estranhou. Por que ele já estava pousando? Planejava caminhar? Comandante idiota, pensou. No entanto, decidiu segui-lo para entender que tipo de estratégia era. Não imaginava que ele fosse tão estúpido a ponto de ter decidido aquilo sem intenção nenhuma.

– O que está planeja-

– Calado. – Kakaroto cortou e continuou seguindo a pé o caminho da floresta rochosa próxima à cidade.

– Isso não tem sentido. – Koe resmungou, cruzando os braços. – Ainda tem quilômetros e mais quilômetros de distância até a cidade. Poderíamos muito bem ter pousado um pouco mais a frente sem sermos notados.

– Você deveria agradecer, inútil. Olhe bem o lugar onde está. – Kakaroto murmurou simplesmente e Koe, sem dar muita importância, vagou os olhos pela floresta. Mas não viu nada demais, apenas enormes pinheiros e rochas espalhafatosas. – O conteúdo do seu relatório está todo aqui.

– Hum? – arqueou uma sobrancelha e deu uma melhor olhada nas coisas. Ainda não conseguia enxergar o que ele via. – Não vejo nada.

– Até Hiburan que era um demente conseguia ver. – impaciente, Kakaroto capturou uma pedra e a mirou no rosto de Koe. Ele a capturou no ar antes que o atingisse, mas, quando ia reclamar, Kakaroto continuou: – Dê uma boa olhada. Isso é minério de ferro.

– É só uma pedra. – Koe franziu o cenho. – Qual a importância disso?

– Pra você? Nenhuma. Mas sua função não é dar importância às coisas, é relatá-las. – ele repreendeu, com uma postura totalmente diferente da que Koe estava acostumado. Agora ele realmente parecia um imponente comandante. – Se quiser permanecer na minha unidade e não perder a oportunidade de crescer como soldado, terá que entender mais sobre sua função.

– Mas eu não conheço essas coisas...

– Então terá que aprender sobre elas. A menos que queira perder sua posição de elite.

Koe abaixou o olhar, desconfortável. Não sabia o que dizer. Seu pai sempre lhe ensinara rigidamente a ser um guerreiro bravo e forte, a cumprir com suas responsabilidades e orgulhar a linhagem, mas nunca imaginou que teria que fazer algo assim para ser capaz disso. Algo tão sem importância... podia acabar com tudo que lutara para chegar até ali? Por que o mundo era tão... confuso?

– Droga... – ele franziu os lábios, nervoso. Nunca fora muito inteligente para essas coisas, sempre achou tudo inútil. Ele era bom para lutar, para matar e destruir... não estúpidas questões acadêmicas, isso era para os alienígenas de outros planetas...! O que poderia fazer? Ele não ia conseguir evitar aquelas advertências. Mas... mas se perdesse seu posto de elite assim, o que seria da sua honra? Todos de seu clã eram da mais alta elite saiyajin, seu irmão era comandante de uma unidade prestigiada e seu pai um dos líderes da guarda real... Como poderia se igualar a eles se falhasse naquele ponto? – Maldição... – ele fungou, furioso com a vontade de chorar que sentia.

Heh. – Kakaroto soltou um riso em forma de tosse. Koe foi para brigar com ele, quando seu scouter piscou um instante e várias imagens começaram a aparecer na lente do visor. Ele clicou para expandir o material e se surpreendeu quando viu informações e fotografias dos tais “recursos naturais” surgindo uma após a outra, com nomes, descrições, aparência e nível de importância para os comerciantes espaciais. Ele arqueou uma sobrancelha e virou-se para Kakaroto, que ainda mantinha o dedo pressionado no scouter.

– Com isso você vai conseguir identificar melhor e até aprender um pouco – Kakaroto inclinou a cabeça e riu diabolicamente. – Mas da próxima vez traga o detector, idiota. Vai te poupar do choro.

Detector? – Koe tremeu a pálpebra, com uma veia começando a estufar na testa. – Quer dizer que toda essa pressão que você jogou pra cima de mim foi desnecessária? Sempre teve um detector para me ajudar nessa função?!

– Não é problema meu, o tal Asen era o responsável por te dar um – Kakaroto quase cantarolou em contentamento. Se sentia vingado. – O scouter não é adequado para essa função, então você não vai conseguir fazer o registro enquanto vê esses dados. Sugiro ativar o gravador de voz.

– Certo. – ele concordou mal humorado e ativou a função. – Hm... O que eu falo?

Kakaroto fechou os olhos e respirou fundo para se acalmar. O que eu fiz para merecer isso?

– Esqueça. Apenas me acompanhe. – ele acenou, impaciente. – Vamos eliminar esses neosejins de uma vez.

Finalmente!

 

 

 

Os olhares que o acompanhavam conforme caminhava pelo andar principal da base saiyajin provavelmente causariam algum tipo de intimidação ou desconforto em qualquer um que fosse o alvo, mas os padrões dificilmente se aplicavam a Erios – principalmente em situações como aquela. Na verdade, ele andava ali tão tranquilamente, tão casual, que era como se não se importasse com as impressões que causava. E, de fato, não se importava. Até por que estava acostumado a receber aquele tipo de olhar quando acompanhava Kaori a lugares importantes – com todos o julgando como se aquele não fosse seu lugar.

A ala de comando era restrita até mesmo para os soldados com patentes importantes ali – reservada apenas para o senhor Hagar, o comandante da nave, os aliados da colônia, os principais guardas reais, e o general Ginger do exército – então, foi uma diversão à parte para Erios ver os olhares surpresos quando digitou a senha secreta que recebera de Hagar – para desbloquear a porta principal. Apesar de seu humor não estar muito bom naquele planeta, ele conseguiu rir um pouco disso e manter a expressão despreocupada ao entrar e receber prontamente várias encaradas ranzinzas.

– Está atrasado! – Hagar ralhou assim que o viu, com uma veia estufando na testa. Certamente se arrependia por tê-lo chamado agora. – A reunião começou há meia hora!

– Eu sei, mas só acordei há uns dez minutos. – esclareceu, como se isso fosse justificativa suficiente. Ele ignorou os olhares de raiva que recebeu e puxou um assento para a mesa, sequer disfarçando a expressão entediada que demonstrava. – Mas então, o que eu perdi?

– Estamos discutindo os planos para a lua cheia do planeta – esclareceu um saiyajin ao lado. Ele era grande e corpulento, com pinta ameaçadora de um guarda real, mas Erios logo o reconheceu como Tiher, líder da guarda real e velho braço direito do senhor Hagar. Erios o conhecia pelos anos que ele passara como guarda pessoal de Kaori quando pequena. Apesar de parecer assustador, Tiher sempre fora bem fácil de lidar. – Ela ocorrerá daqui dois dias.

– Hmm... – Erios fingiu interesse, mas sua atuação não adiantou muito quando apoiou o queixo na mão em tédio. – Vão usar o bloqueador de raios blutz?

Todos os presentes piscaram com espanto e ficaram em apreensivo silêncio. Erios arqueou uma sobrancelha, fingindo ingenuidade, mas por dentro riu – sabia muito bem que era um dispositivo secreto que não deveria ser do seu conhecimento. Bem, ele podia se manter excluído de muitas questões que Kaori se interessava, mas não era completamente alheio como dava a entender – certamente era ciente de várias informações confidenciais.

– Er, sim... – Hagar respondeu e pigarreou um pouco para se recompor. – Já encomendamos alguns, mas estamos considerando usar a força bruta dos oozarus para a construção da nossa base.

– Mas poucos no exército tem o controle dessa forma – Ginger esclareceu. Apesar do confronto que tiveram, ele naquele momento se dirigia a Erios com toda a profissionalidade de um general, sem demonstrar qualquer rancor pessoal. Oh, esse cara me lembra o Honios, Erios pensou divertido. – E é um controle instável, sempre em algum ponto um deles acaba perdendo a cabeça e cedendo ao instinto destrutivo.

– Bem, eu tenho controle perfeito. – ele apontou para si mesmo. – E acredito que o general também. Podemos usar isso para controlar os oozarus que saiam da linha e impedir que destruam alguma coisa.

Ginger deu um longo olhar para ele, mas sem demonstrar muita coisa. Erios reprimiu um sorriso. Apesar dos embates, eles ainda tinham o treinamento superior de Hanasia como ponto em comum.

– Essa é... uma sugestão considerável – Hagar não disfarçou a surpresa. – Tiher, você também pode controlar sua forma oozaru, certo?

– Sim, alteza. – ele assentiu e Erios arqueou uma sobrancelha, curioso. Apenas o príncipe tinha esse tipo de tratamento respeitoso dos saiyajins, nem mesmo Kaori era chamada de “alteza” tão descaradamente. – Vou me juntar a eles na orientação dos soldados.

– Certo. – Hagar indicou o homem roxo ao seu lado, de cabelos brancos e chifres compridos. – Nossos aliados já trouxeram os materiais necessários para a construção da base e alguns engenheiros responsáveis, eles formarão o planejamento de toda a arquitetura. Vocês deverão seguir suas instruções para-

Senhor Hagar! – um guarda real entrou de repente na sala, interrompendo a reunião. Todos desviaram a atenção para ele, espantados com sua intrusão. – Uma nave das reservas acabou de ser despachada sem autorização, não sabemos quem foi!

Hagar ergueu-se bruscamente, descrente e furioso ao mesmo tempo.

– General. – virou-se para Ginger. – O senhor tem alguma coisa a ver com isso?

– Desde a noite passada eu o vigiei de perto, como instruiu, alteza. – Tiher veio ao socorro de Ginger, que parecia tão surpreso quanto os outros. – Ele não fez nada suspeito.

– Comandante, disponibilize imagens da câmera interna da nave despachada! – ele ordenou para o saiyajin responsável pelos controles da nave. Mais do que rápido as ordens foram acatadas e o monitor principal da ala de comando exibiu o rosto adormecido da pequena saiyajin, confortável dentro da nave enviada.

– Celery! – Ginger ergueu-se de supetão, derrubando o assento atrás de si. Seu rosto estava em choque e Erios percebeu o terror de preocupação em seu olhar. Provavelmente ele temia que fizessem algo a ela.

– Essa é a garota que você queria enviar ontem, não é General? – Hagar exigiu. – Então você desobedeceu minhas ordens.

– Não, senhor Hagar... – Ginger não sabia o que dizer, apenas fitava a imagem de Celery e tremia de nervoso. – Eu não fiz isso, mas... mas eu aceito as consequências no lugar de Celery! Eu-

– Comandante, mude a rota da nave agora mesmo. Traga essa garota de volta – Hagar exigiu, ignorando Ginger. – Vamos puni-la por esse inconveniente.

– Não se deixe levar, senhor Hagar. – Erios interviu, recebendo a atenção de todos. Ele era o único que havia permanecido na mesma posição, sem fazer alarde algum. – Antes de aplicar punições, pense claramente. É óbvio que a garota não se enviou sozinha.

– Não há imagens das câmeras de segurança da ala das naves – o guarda real anunciou. – De alguma forma, elas foram danificadas muito antes por algum circuito com defeito. Não há como achar o responsável.

– General, você-

– O general não contatou ninguém para ser capaz de estar envolvido nisso – Erios cortou Hagar e todos se impressionaram com a firmeza e seriedade de seu olhar. – Certo, senhor Tiher?

– Sim. Seu scouter foi confiscado e eu o acompanhei pelas últimas horas desde o incidente da noite anterior – ele concordou. – Ginger é inocente.

– Então quem enviou essa garota?! – Hagar aumentou a voz, impaciente e frustrado com toda aquela situação.

– Já que não há como saber, por que isso é relevante? – Erios chamou sua atenção. – Ela nem mesmo é a força maior do exército e não está madura o suficiente para ser de alguma utilidade para o tipo de serviço diplomático daqui. Já que a intenção atual não é eliminar os habitantes ou enfrentar inimigos, ela é uma força desnecessária no momento. Os terráqueos já foram coletados, portanto, por ora, os soldados mais maduros e capacitados são mais adequados para a produção da colônia. – ele ergueu-se. – Além disso, desde que escravos foram mandados para Vegeta, uma parte do exército já poderia voltar para o lado do rei para questões a favor do império. Com o propósito para a presença do exército aqui já cumprido, não seria conveniente para o senhor abusar da boa vontade do rei em disponibilizar sua força para algo que é de sua responsabilidade apenas, senhor Hagar.

 Todos engoliram o silêncio diante das palavras de Erios. Absolutamente ninguém esperava que alguém como ele, de fama despreocupada e irresponsável, fosse capaz de apresentar argumentos tão bem construídos e convincentes para uma questão que não tinha nada a ver com ele. Ele quase parecia... como Kaori.

– Tiher... – Hagar chamou, meio hesitante, mas refletindo seriamente as palavras de Erios. – Acompanhe Ginger para a seleção de soldados necessários para a produção da colônia – ele se recompôs e assumiu uma postura mais digna de sua posição. – Os demais devem retornar para meu irmão, em Vegeta. – anunciou por fim, quase como se a ideia fosse sua. – Esta reunião está encerrada, estão dispensados.

Todos se levantaram para partir, mas Erios hesitou quando sentiu o toque de Hagar em seu ombro.

– Pelo visto é mais astuto do que pensei, rapaz. Certamente subestimei o interesse de minha filha em você.

Erios sorriu e agradeceu, mas seu sorriso desapareceu quando se afastou e partiu da sala. Por mais doce que fosse receber aquelas reações exageradas e um pouco de respeito daqueles que o menosprezaram, ainda era como se estivesse dançando em um ninho de cobras.

Ha. Ele riu tristemente com o pensamento. A esse ponto eu já deveria estar acostumado.

 

 

 

O simples remexer do saiyajin ao lado foi suficiente para acordá-la assim que amanhecera, por mais que estivesse em um sono profundo pelo descanso tão adiado. Ele provavelmente já estava acordado há um bom tempo ao seu lado, mas não se atreveu a sair até que ela assim o ordenasse – eles sempre aproveitavam até o último segundo.

Kaori suspirou alto, sem conseguir conter a resignação.

– Já acordou, minha rainha? – ele ronronou em seu ouvido assim que a ouviu e abraçou sua cintura com o braço enorme. Mas isso, surpreendentemente, causou uma aversão involuntária que a fez afastá-lo sem qualquer cerimônia. – Q-qual o problema?

– Já pode deixar meus aposentos. – resmungou em resposta e começou a se vestir. A noite passada havia sido exausta e tensa, portanto optou por um relaxamento além do sono, mas agora percebia que deveria ter apenas adormecido sozinha. Não sabia ao certo explicar o porquê, mas não conseguira desfrutar nem um pouco da companhia do saiyajin, por mais atraente que fosse. – Vá de uma vez.

– Está bem – ele bufou, mal-humorado, mas obedeceu. De todo modo, eles sempre faziam tudo para agradá-la, para assim serem chamados mais uma vez, então ele não se atreveria a desobedecer. Mas ela não o chamaria tão cedo. Na verdade, considerava seriamente não chamar mais ninguém por um bom tempo.

Talvez ficar sozinha e solitária, ao menos uma vez, fizesse bem à sua mente.

Sem perder tempo, ela sequer esperou que o soldado partisse para colocar o scouter e checar as mensagens em espera. Ao que parecia, o caso da gestação das terráqueas ainda não tinha nenhuma atualização, mas havia uma chamada de seu laboratório pessoal aguardando resposta. Provavelmente não era nada urgente, já que não tinha nada com tanta prioridade em atenção, mas tratou de escutar logo o que era. Não gostava de deixar assuntos pendentes.

– Senhorita Kaori. – um de seus cientistas fiéis atendeu ao chamado. – Que bom que retornou nosso contato. Temos uma atualização a respeito das esferas do príncipe Vegeta.

– Oh. – Kaori arqueou uma sobrancelha. Quase tinha se esquecido disso. – O que é?

– A descrição exata delas bate com a lenda dos habitantes de Namekusei. Não sabemos exatamente ao que a lenda se refere, já que não há registros disso, mas ao que parece essas esferas são chamadas de “esferas do dragão” e há sete delas no total.

– Ótimo, são boas informações. – comentou, conforme acenava para o saiyajin sair logo de seu quarto. Ele fez careta, mas partiu ainda meio desnudo e bateu a porta. Ela suspirou. – Envie meus correspondentes a esse planeta para fazer as pesquisas necessárias, vamos investigar mais a fundo sobre a lenda.

– Não há como, senhorita Kaori. – o cientista soou desapontado. – A raça foi extinta há algum tempo por um grupo de alienígenas suspeitos. Ao que parece, o rei está investigando uma possível conspiração deles e inclusive conseguiu localizá-los, mas não temos mais informações a respeito. Além disso, o planeta não tinha condições de ser vendido, então foi destruído. Não há nenhum registro possível sobre essa tal lenda.

– Entendo. É uma pena. – Kaori comentou, mas com a mente distante em pensamentos. Um grupo de alienígenas suspeitos...? Sim, tinha ouvido sobre isso antes da aparição da terráquea cientista e da partida de Kakaroto e sua unidade para a Terra. Por essa razão resolveu retornar a Vegeta depois de tanto tempo. Mas provavelmente só seria capaz de ter acesso a mais informações quando enfim conseguisse uma posição oficial no conselho real. – Muito bem. Já que não há muito a se fazer por enquanto, reserve as esferas para serem entregues ao príncipe Vegeta.

Isso irá satisfazê-lo por enquanto, o suficiente para me deixar em paz – pensou.

– Sim, senhora. Deseja mais alguma coisa?

– Isso é tudo. – ela desligou o scouter e passou a mão pelo rosto para sentir a pele. Esperava que todas essas preocupações e planejamentos não lhe dessem rugas precoces.

 

 

 

Senhor Popo acompanhou em tensão conforme Kami-sama permanecia concentrado à beira do planalto, com a respiração profunda e determinação tão intensa que as dobras de suas rugas triplicavam na pele. Sua própria ansiedade era difícil de controlar naquele momento, quase não conseguia manter sua fala quieta, mas permaneceu em apreensivo silêncio até que ele terminasse.

– Ah...! – Kami-sama suspirou enfim. Senhor Popo apenas o olhou em expectativa. – Finalmente localizei a última esfera do dragão.

– Onde está? – perguntou curioso, quase quicando sobre os pés. Antes da chegada dos saiyajins eles até consideraram reuni-las antes, mas perceberam que seria arriscado caso os inimigos tivessem um radar que os trouxessem até ali. A magia sagrada que impedia os impuros de encontrarem a plataforma celeste não era tão perfeita assim, não podiam arriscar.

Além do mais, os saiyajins pareciam completamente ignorantes ao real poder das esferas. Tanto que até deixaram uma para trás... Até mesmo Kami-sama tivera dificuldade em localizá-la, mas, devido à sua ligação com Shenlong, um pouco de foco e concentração fora suficiente.

– Está com um pequeno grupo... – Kami-sama comentou, conforme observava uma mulher de cabelos negros junto a um cachorro de uniforme roxo e um homenzinho de pele azul-clara. Por sorte, eles haviam sido resgatados junto a um grupo maior de pessoas e levados até o refúgio, mas não pareciam muito contentes com isso...

– Eu não acredito que estamos nessa maldita Capital Real! – o menor deles exclamou, furioso. – Quem aquele careca pensa que é para nos trazer assim do nada?

– Calma, mestre Pilaf. – a mulher murmurou. – Há muitas pessoas reunidas aqui, certamente ninguém perceberá se sairmos de fininho.

– É verdade... – ele concordou, apertando nas mãos a pequena caixa que mantinha a esfera guardada. – Desde que essa caixa continue bloqueando a esfera de uma estrela dos radares, a Red Ribbon não irá nos perturbar pelo caminho.

Kami-sama piscou os olhos, de repente nervoso. Então aquilo explicava por que ninguém fora capaz de localizar as esferas... Mas eles não podiam deixar o refúgio! Assim os saiyajins teriam mais esferas do dragão em mãos!

– Será que eles não sabem o que está acontecendo no planeta? – Kami-sama murmurou para si mesmo, frustrado. – Tenho que impedi-los de partirem!

– Talvez deva falar com o Yajirobe – Senhor Popo aconselhou simplesmente. – Ele saberá o que fazer.

– Tem razão. – Kami-sama suspirou mais aliviadamente. Com a ajuda de Yajirobe, eles poderiam guardar a esfera em segurança e, assim, ninguém poderia chamar Shenlong.

 

 

 

À cada dia que passava, mais aborrecida aquela câmara de treinamento se tornava para ele.

Saiyajins, saibamans, guardas reais... nada adiantava para saciar sua sede de luta, de desafio para algo que elevasse os limites. Era repugnante manter tal coisa em mente, mas a verdade era que a luta que tivera com Kakaroto mudara drasticamente suas prioridades. Antes, não via necessidade de treinar, era um prodígio nato, a única coisa que focava na cabeça era conhecer um pouco mais dos desafios do universo à fora e, até mesmo, de posicionar o exército para algum ataque em nome do império saiyajin. Mas... desde aquele torneio infeliz em que enfrentara seu eterno rival, tudo mudou. Ele corria o risco de ser superado, de perder seu orgulho como príncipe... e um saiyajin sem orgulho era uma desgraça para a raça.

Pensando bem, naquela época em que era mais interessado nas questões do império... Kaori apreciava mais sua companhia. Depois disso... bem, ele não sabia dizer se ainda era assim. Acreditava que ela ainda o desejava para se tornar rainha, que considerava ser sua, mas desde que soube sobre sua união com Erios... ele percebeu que, não, ela não o via mais da mesma forma. Se é que algum dia o viu assim.

 Mas a questão que não conseguia sair de seus pensamentos naquele momento era... se seria uma obsessão infindável tentar se tornar mais forte? Afinal... por mais que Kakaroto tivesse abalado sua confiança, ainda assim conseguira vencê-lo ambas as vezes em que lutaram. Foram as duas lutas mais intensas da sua vida, mas ainda assim saíra vitorioso. Então, seria desperdício usar de tantos artifícios para ser cada vez mais poderoso?

Talvez... houvesse espaço para outras coisas. Talvez ele pudesse pensar um pouco mais no reino que futuramente lideraria.

– Ah... estou começando a pensar como Kaori – ele balançou a cabeça e finalizou seus adversários com um golpe só. Estava particularmente reflexivo hoje, talvez devesse partir em alguma missão individual para esfriar a cabeça.

– Isso é muito bom de se ouvir, devo dizer.

Vegeta ergueu o rosto encharcado de suor e hesitou. Mais uma vez Kaori invadia seu espaço pessoal e seus pensamentos, tal como a primeira vez que se envolveram daquela forma naquela mesma câmera de treinamento. Não conseguia impedir a mente de viajar na memória daquele primeiro momento íntimo que tiveram, mas bufou para a própria estupidez.

Felizmente seus ânimos estavam controlados o suficiente para que não cedesse novamente aos instintos sexuais que ela provocava.

– O que faz aqui? – perguntou seco, passando por ela para pegar uma toalha e enxugar o rosto. – Se vai continuar invadindo meus treinamentos, darei ordens restritas para que a impeçam.

Ele ainda está com o orgulho ferido. Kaori considerou, mas também percebeu que ele estava mais controlado de suas emoções. Havia tomado um medicamento para controle de feromônios antes de encontra-lo, mas suspeitava que ele havia procurado uma alternativa própria. Talvez tenha se envolvido com uma saiyajin? Difícil de imaginar, mas bem provável.

– Ainda temos assuntos a tratar, querido prim-

Não me chame assim – ele cerrou os dentes. – Apenas diga logo o que quer e vá embora.

Kaori suspirou, mas acenou para que um de seus servos pessoais se aproximasse com uma caixa de metal em mãos. Vegeta o observou de cenho franzido, mas alterou a expressão quando o conteúdo da caixa foi revelado. As três esferas alaranjadas, luminosas e exóticas, refletiam o brilho em seu rosto como um diamante.

– Nossas pesquisas foram finalizadas. Não descobrimos nada muito relevante. – Kaori mentiu. – Apenas que cada uma delas tem um número diferente de estrelas, mas isso você já deve ter percebido só de olhar.

– E ainda assim você adora se gabar da eficiência de seus cientistas. – Vegeta murmurou ironicamente e, sem conseguir se conter, pegou uma das esferas na mão. Era mais pesada do que parecia, como aço, embora parecesse ser de algum tipo exótico de vidro. – Está bem. Você cumpriu sua parte e eu cumpri a minha, não temos mais nada a tratar.

– Como vai a terráquea? – Kaori perguntou, por pura curiosidade. Não estava mais interessada na cientista, mas, de qualquer forma, era melhor estar a par da situação.

– Melhor do que deveria. – ele bufou. – Mas não a terá. Já a oficializei como minha escrava pessoal.

– Bom para você. – Kaori arqueou uma sobrancelha em desprezo, sem conseguir disfarçar o deboche. – Agora, se me der licença, tenho assuntos a resolver...

– Senhorita Kaori! – o chamado soou repentinamente no scouter, com uma urgência tão grande que sequer houve solicitação de contato. – Senhorita Kaori, precisa vir imediatamente ao laboratório!

– O que houve? – Kaori assumiu uma expressão profissional e Vegeta a observou levemente intrigado.

– A senhorita precisa ver por si mesma. Por favor, apresse-se.

– Está bem. – Kaori não insistiu e desligou a chamada. Ela deu um olhar a Vegeta. – Tenho que ir. Até mais, prim... Vegeta.

Vegeta franziu o cenho com sua partida repentina, mas tomou a caixa das esferas do pequeno servo e também partiu. Não importava o que Kaori havia dito, ou o que tinha planejado com tudo aquilo, ele sabia que não devia confiar em suas palavras. Se ela lhe cedera as esferas, era por que não vira o valor que ele via... e isso era uma vantagem que não podia ignorar.

O mistério daquelas esferas não seria deixado de lado.

Ele piscou para sua própria determinação e, tão repentinamente quanto percebeu, finalmente entendeu. Todo aquele tempo... não era com Kakaroto que deveria se preocupar em superar... Mas sim Kaori.

 

 

 

Erios deu um longo bocejo preguiçoso e caminhou sem vontade para junto da comissão do exército, no centro do acampamento, onde Ginger e Tiher já selecionavam os soldados que seriam enviados para Vegeta – e os que ajudariam na colônia. Ele apenas os observava de longe até aquele momento, mas podia perceber que ambos pareciam entrar em consenso sobre as decisões sem muita discussão – os dois tinham personalidade parecida, afinal.

– Ah...! Que pena! – Erios exclamou ao se juntar a eles, anunciando sua presença dramaticamente. Ginger e Tiher interromperam o que conversavam para olhá-lo, intrigados com sua intenção. – Parece que não tem muita coisa que eu possa fazer aqui... Bom, vou ver se precisam de mim no... no... lá do outro lado do acampamento.

 – Senhor Erios, ainda bem que chegou – Tiher o puxou antes que fugisse, já conhecendo-o bem para perceber a desculpa esfarrapada. Embora não fosse necessário conhece-lo para perceber o tamanho do seu desinteresse. – Tenho que encaminhar os nomes dos soldados dispensados para o senhor Hagar. Tome meu lugar e ajude Ginger no que ele precisar.

– Ah... ok! – Erios concordou com falso entusiasmo, dando seu famoso sorriso descontraído. – Mas eu vou comer alguma coisa antes, ainda não tive chance de-

– Certamente conseguirá conter sua fome tempo suficiente para cumprir essa tarefa. – Tiher cortou, com um olhar que não dava a Erios muitas opções. – Bom, qualquer coisa podem me chamar pelo scouter. Virei imediatamente.

– Certo. – Ginger concordou em tom respeitoso e, assim, o grande comandante real os deixou à sós e partiu até a nave principal. Alguns soldados inclusive abriram caminho para que ele passasse, por tamanha ameaça que sua figura enorme e musculosa aparentava, mas na verdade ele não era tão violento a ponto de render esse tipo de reação.

– Ah...! – Erios deu um longo suspiro. – Tinha esquecido o quanto ele é rígido com essas coisas... Poxa!

Ginger deu um olhar de soslaio para Erios, mas sem demonstrar muita coisa.

– Isso... faz dele uma pessoa confiável. – afirmou categoricamente, como se ainda hesitasse iniciar um diálogo com ele.

– Oh? – Erios arqueou uma sobrancelha, com uma ligeira provocação nos olhos. – Em outras palavras, eu não sou confiável?

– Não foi o que eu disse. – Ginger defendeu-se simplesmente, sem se abalar com a acusação. – Mas confesso que o senhor é uma pessoa difícil de ler.

– É mesmo? – Erios piscou, verdadeiramente surpreso. Era a primeira vez que diziam algo assim a seu respeito. – Sério?! – riu com bom humor. – Haha! Mas eu sou um livro aberto!

– Não penso assim. – Ginger finalmente levou o olhar até ele, mas com uma entonação diferente. Erios inclusive desmanchou o sorriso descontraído em resposta, de repente preso na intensidade daquela sugestão. Aonde ele queria chegar? – Pelo menos... não depois de ter enviado Celery para Vegeta.

Ginger acompanhou conforme o olhar de Erios se transformava novamente, tal como havia acontecido na reunião mais cedo. Parecia uma pessoa completamente diferente, com a expressão repentinamente séria e calculista – talvez até mesmo sombria.

– Do que está falando? – ele enfim perguntou, cuidadosamente.

– Ninguém mais poderia ter feito aquilo. – Ginger tomou cuidado para não elevar muito o nível da conversa. Não seria seguro que alguém os ouvisse. – Qualquer um de meus subordinados poderia tê-la enviado, sim, mas eles não são inteligentes o suficiente para adulterar circuitos de segurança daquele jeito. E os que são, não são meus subordinados e não se incomodariam em se arriscar por uma simples saiyajin do exército real.

– E o que o leva a pensar que eu me arriscaria? – Erios o olhou sombriamente.

Ginger não se abalou com a animosidade repentina e até mesmo sorriu com confiança.

– Porque Hanasia teria feito a mesma coisa.

Erios conteve a reação por um tempo, surpreso com a declaração. No entanto, ao ver o sorriso de Ginger à menção de sua estimada instrutora, ele finalmente se rendeu e suspirou.

– Realmente... – murmurou, balançando a cabeça. Mas, quando ergueu o rosto, havia um belo sorriso de cumplicidade em suas feições. – Você me pegou.

– Devo agradecê-lo por isso. – Ginger anunciou então, em sincera gratidão, mas manteve a compostura. Não poderia demonstrar muito o que discutiam, já que poderiam ser ouvidos a qualquer momento por um dos soldados enfileirados à frente. – Além de ter feito o que fez, ainda convenceu senhor Hagar a desistir de puni-la.

– Não seria justo ela receber punição por algo que não fez. – ele comentou simplesmente. – Só isso. Não foi grande coisa.

– Foi uma estratégia inteligente desviar a atenção daquela forma, ainda mais no calor do momento. – Ginger suspirou. – No entanto, ainda não entendo por que me impediu de fazer uma coisa para depois fazê-la você mesmo.

– Meus atos não geram tantas consequências quanto os seus – respondeu simplesmente. – E criar uma rixa com você seria mais fácil do que ter um general como o Nappa comandando o exército novamente. Afinal, você deve saber muito bem – ele o olhou seriamente. –, que Hagar e o rei esperam apenas uma desculpa para dispensá-lo.

– Sim. – Ginger concordou, com o olhar distante. Provavelmente era algo que pensava muito a respeito. – Mas não tinha por que você fazer tudo isso. Obrigado.

– Tá, tá, já entendi, chega. Você já agradeceu, eu já aceitei sua gratidão, encerre o assunto – Erios bufou, zombando da formalidade de Ginger, tal como costumava fazer com Honios. Mas essa era apenas sua maneira de disfarçar o próprio constrangimento. – Se eu soubesse que seria assim teria barganhado alguma coisa. Caramba, você só falta se jogar aos meus pés!

– Bem, se é assim, fico em débito com você. – Ginger propôs, sem sequer se importar com a zombaria. – Poderá me cobrar quando precisar.

Hu-m. – Erios pigarreou, incomodado com a situação tão incomum. Não era nada usual alguém apreciar algo que ele fazia, quanto mais demonstrar gratidão. – ...Ok. Vou ter isso em mente.

 – Certo. – Ginger voltou para os soldados enfileirados e acenou para que Erios o acompanhasse. – Agora vamos voltar ao trabalho.

Ah droga, eu devia ter pensado em outra desculpa a tempo. Erios deixou os ombros caírem, desanimado, mas seguiu Ginger – se arrastando. Bem... pelo menos agora não sentia mais que eram todos contra ele naquele lugar. Finalmente podia respirar um pouco mais leve.

Embora não completamente.

 

 

 

Chichi apoiou todo o corpo no antebraço para que o rosto não fosse ao chão, enquanto o sangue escorria feito uma corrente de seu ferimento e seu punho tremia com o esforço para se sustentar. Ela engasgou com a própria respiração e sentiu o sangue também sair dos lábios. Sua visão falhou por um instante e sua força vacilou, mas ela resistiu o suficiente para que não caísse totalmente – não enquanto o adversário não fosse derrotado.

– Lembre-se das condições. – Hanasia murmurou logo adiante. – Você só tem direito ao tanque de regeneração quando tiver pelo menos três fraturas.

– Eu te... t-tenho cinco – Chichi cuspiu, com desprezo. Estava cada vez mais parecida com um saiyajin, mas isso era por seu orgulho de guerreira que se afetava com aquelas constantes humilhações.

– A outra condição é que você perca a consciência. – Hanasia afirmou simplesmente. – Devo dizer que parece faltar pouco para isso, mas você não parece muito ansiosa.

Eu não quero tanque de regeneração. Chichi grunhiu em pensamentos, já que não queria gastar a pouca energia que tinha falando em voz alta. Eu quero vencer esse desafio!

A criatura que Chichi enfrentara também estava no chão, atingida por um de seus golpes desesperados. No entanto, ambos sabiam que aquilo não era suficiente para vencê-lo e que em pouco tempo se levantaria para ataca-la novamente. Ela não tinha ideia de como se defenderia, mas estava farta de perder aquela luta – já a tinha repetido dezenas de vezes –, tinha que vencê-lo de uma vez por todas!

– Ah... – Hanasia suspirou, desanimada, e apoiou o queixo no punho. – Você já esteve em recuperação tantas vezes e ainda assim não teve nenhum aumento significativo no nível de poder... se não tivesse aumentado sua experiência em batalha nesse tempo, eu consideraria que você é uma saiyajin sem nenhum instinto de luta. Assim como...

Hanasia interrompeu a si mesma, incomodada por ter levado os pensamentos para a pessoa que evitara tanto pensar: seu fracasso, Tarble. Demorara anos para tirá-lo da cabeça e voltar a atenção para sua família... no entanto, ele continuava surgindo, como se nunca fosse ser eliminado completamente. Mas não adiantava pensar nele agora, provavelmente já estava morto há anos – não tinha mais o que fazer, infelizmente.

Suspirou e balançou a cabeça, voltando-se para a situação atual a tempo de ver o adversário de Chichi se levantar vagarosamente enquanto recuperava as forças. Foi um golpe ágil e poderoso o que ela lhe acertara, mas ainda assim não fora suficiente para fazer um dano drástico – fora que ela já estava machucada, então não adiantou muita coisa.

– Prepare-se, Chi. Ele está vindo.

É agora! Chichi reuniu toda a energia que vinha acumulando naquela posição e apertou os olhos, apenas esperando para o momento em que a criatura entrasse em contato.

Chi! – Hanasia levantou-se quando percebeu que ela não se moveria. – Ele está vindo! Mexa-se, sua idiota!

Chichi continuou na mesma posição conforme ouvia a criatura grunhindo e rosnando, com suas garras fincando no chão à cada passo. Ela tinha que resistir. Seria difícil, mas só assim poderia dar um fim àquele desafio infernal.

Chi!

A criatura deu um berro animalesco e enfim lançou-se sobre ela, com suas garras prontas para fincar em suas costas. Chichi apertou os olhos e trincou os dentes, deixando uma membrana de energia púrpura envolver suas mãos. A criatura percebeu a energia tarde demais e não conseguiu conter o impulso de seu avanço. Chichi afastou-se do alcance das garras no último segundo e tocou com a mão uma parte qualquer de seu corpo. Com esse simples toque, a energia deslizou para dentro do adversário e o paralisou completamente da cabeça aos pés – selando sua energia.

Era a técnica que tinha aprendido com o parasita.

Chichi sentiu a energia dele ser apreendida pela sua e sorriu, concentrando na palma da mão, que ainda se encostava nele, seu último ataque para acabar com aquilo de uma vez. Tinha pouco tempo antes que a técnica se desfizesse, mas usou o resto de suas forças para atingi-lo e – finalmente – vencer aquele desafio infernal.

Hanasia franziu o cenho durante todo o momento e assistiu conforme a criatura caía derrotada, com um buraco no peito, e Chichi perdia a consciência.

Aquela técnica... não era normal.

 

 

 

A tensão no laboratório era clara, mesmo que todos os cientistas fossem profissionais o suficiente para manter o controle de suas emoções. Kaori percorreu todo o caminho até o cientista principal, observando a situação ao seu redor para ter uma ideia do que estava acontecendo. Alguns pareciam nervosos quando pegavam seu olhar e outros simplesmente fingiam que tinham assuntos em outros locais do laboratório – todos temendo que lhes dirigisse a palavra – mas ela os ignorou e seguiu diretamente até o responsável pela pesquisa dos terráqueos.

Quase sorriu quando viu um de seus espiões piscando ligeiramente em confirmação, mas lembrou-se que não era adequado e se conteve. Mas não foi necessário muito para isso, pois seu humor mudou completamente quando viu que seu tio também estava presente.

– Senhorita Kaori. – o cientista a cumprimentou. – Que bom que chegou tão depressa. Eu estava informando sua majestade sobre o ocorrido.

Kaori parou diante deles com a expressão mascarada, mas seu olhar prendeu-se à majestade ao lado. Não era nada conveniente sua presença naquele lugar, ainda mais naquele momento em particular.

– Pensei que tivesse entregado esse caso em minhas mãos, tio. – dirigiu-se a ele, sem conseguir disfarçar a petulância. – O que faz aqui?

– Devido a urgência, fui contatado assim como você. – respondeu simplesmente e se virou para o cientista. – Adiante logo o assunto para ela.

– Bem... senhorita Kaori, os testes de compatibilidade deram resultados, mas receio informar que não são resultados muito... satisfatórios. – ele suspirou. Kaori arqueou uma sobrancelha, esperando que continuasse. – A gestação progredia bem, mas, sem que pudéssemos identificar a causa, tanto o feto quanto a mãe começaram desfalecer. Tivemos que optar por manobras de emergência para induzir o parto e...

– Sim, foi até aí que você me contou antes de Kaori interromper – o rei cruzou os braços, impaciente. – O que aconteceu?

– Bem... vou pedir que me acompanhem, por favor. – ele acenou para um canto obscuro do laboratório onde vários criados estavam reunidos. Certamente tinha uma comoção diferenciada ali, com um vai e vem de instrumentos e materiais estranhos.

Quando se aproximaram, perceberam que as terráqueas dos testes de compatibilidade estavam sendo colocadas em sacos plásticos e fechadas até a cabeça – cadáveres. O rei franziu o cenho para isso, mas Kaori permaneceu inabalada, conforme o cientista continuava a guia-los pelo caminho. Ao que parecia, quase todas as terráqueas haviam morrido e as que sobraram não estavam em uma situação muito diferente... mas os fetos híbridos ainda não estavam à vista.

Foi então que a curiosidade foi cessada, quando o cientista os apresentou cinco incubadoras de vidro, cada uma com um bebê diferente. Cada bebê tinha fios conectados ao corpo e, ao contrário dos bebês saiyajins, eram muito pequenos e frágeis – tanto que se moviam apenas para respirar, com a ajuda de uma máscara inclusive. Apenas um deles tinha cauda, mas era tão pequena e esmirrada que parecia uma corda prestes a arrebentar.

– O que é isso...? – Vegeta balbuciou, com nojo na voz. – Essas criaturas...

– São os híbridos gerados, majestade. – o cientista esclareceu. – Ainda não identificamos a causa para o caso mudar tão drasticamente, já que a compatibilidade ocorria naturalmente até então... mas esse é o resultado. Os saiyajins e os terráqueos podem gerar mestiços como essas crianças aqui presentes.

– Miseráveis desse jeito...? – Vegeta ainda desfilava repulsa e nojo à cada palavra. Kaori observava tudo silenciosamente, sem demonstrar nada.

– Foi um caso estranho, devo admitir. – o cientista parecia intrigado. – Durante a geração eles pareciam se desenvolver bem, fortes e saudáveis como saiyajins... mas então começaram a desfalecer, tal como a mãe. Provavelmente foi a questão da compatibilidade que não foi suficiente, mas eles ainda assim foram capazes de nascer, como pode ver, majestade.

– Isso é repugnante. – ele cuspiu, ainda fitando com desdém as crianças nas incubadoras.

– Acho que é clara a atitude que devemos tomar, tio. – Kaori comentou e ele assentiu lentamente, concordando. – Devemos esterilizar todos os terráqueos o quanto antes, para que não corram riscos de produzirem mestiços do tipo. Vou conversar com meus cientistas pessoais para discutir um modo de reprodução artificial dos terráqueos dentro de um laboratório, para que assim possamos ter controle disso sem correr riscos. Não tenho certeza do quanto é necessário, mas desde que já analisaram seus órgãos reprodutores, os cientistas daqui já devem ter uma ideia de como-

– Do que está falando, Kaori? – Rei Vegeta a interrompeu bruscamente. – Não faremos nada disso.

– O que? – Kaori piscou, desnorteada com o espanto. – Mas... Mas essa é a medida mais vantajosa diante desse caso-

– Não me importo – ele rosnou. – Não quero que haja nenhuma chance de mais lixos como esses nascerem e mancharem a pureza da nossa raça guerreira. E só há um jeito de garantir isso, você deveria saber muito bem!

– Mas o que está dizendo?! – Kaori alterou a voz, furiosa. Sabia que ele não deveria estar presente naquela situação, mas não esperava que fosse ser tão contraditório quando a deixara responsável por tudo. – Se colocarmos a minha ideia em prática, não haverá nenhum mestiço! Eu fui contra a criação de mestiços desde o início, acha que vou dar chances de ocorrer alguma falha nesse plano?!

Eu não quero saber! – ele berrou, também alterado. Ele virou-se para o cientista, furioso, e quase o agarrou pelo colarinho para descontar a raiva que sentia. – Livre-se dessas pragas agora mesmo, não quero vê-las em meu laboratório!

– S-sim, senhor. – o cientista se apressou para dar a ordem, enquanto Kaori tentava pensar em como controlar o tio. Não tinha ideia do que ele tinha em mente, mas não tinha um bom pressentimento.

– Tio, pense um pouco, nós precisamos-

– Eu já me decidi, Kaori. – ele a cortou. – Darei oportunidade para que lidere outra situação, mas nessa vou tomar as rédeas. Não há outro jeito. Em um plano como o seu não há como tudo dar 100% certo, sempre há um erro ou outro que só são percebidos tarde demais. E não posso arriscar que um maldito erro arruíne minha nação.

– Tio...

– Darei a ordem. – ele afirmou definitivo. – Todos os terráqueos serão executados. 


 

 


Notas Finais


Mais tarde farei um jornal com curiosidades a respeito de alguns fatos revelados nesse capítulo, fiquem atentos!
Beijos


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