História Porta a Porta - Capítulo 5

Com o corpo levemente dolorido, me levantei e fui para o banheiro.

Meu reflexo essa manhã era deplorável, com olheiras em baixo dos olhos, que estavam inchados por conta do choro, o rosto inchado de sono, minha cara estava de dar pena.

Depois de um banho longo, coloquei uma roupa qualquer. Tomei meu café e sai indo ao ponto de ônibus. Peguei como de costume, com fones de ouvido, colocando o som no último. Hoje seria aqueles dias em que eu não falaria com ninguém, ficaria na minha, ás vezes isso acontece, acordar sem vontade de fazer nada e depois de lembrar da conversa com minha mãe, isso só contribui para que eu ficasse assim.

Sem ânimo.

Já na faculdade, ia direto para a sala, mas fui vista por Tenten, que logo veio ao meu encontro.

— Sakura, bom dia! — disse alegre.

— Oi, bom dia — caminhei para a sala, sendo seguida por ela.

— O que você tem? Aconteceu alguma coisa? — sua expressão passou de feliz para preocupada.

— Não aconteceu nada, estou normal.

— Normal você não está, isso eu sei, você não é assim — disse preocupada — Normalmente, você já chega reclamando que hoje tem aula da Anko — me encarou séria — Não quer conversar?

— Não...

— Tem certeza?

— Tenho, até mais tarde — sorri colocando meu fone, e fui para um lugar mais calmo. Me sinto mal por fazer isso, deixar meus amigos preocupados.

É exatamente por isso que me afasto, não gosto de incomodar e deixar meus amigos preocupados com meus problemas de autoestima, ou seja lá isso que estou sentindo, nem mesmo eu me entendo.

Todos os cantos estavam lotados de pessoas, na sala já tinham alguns alunos, até que me lembrei da biblioteca. Subi as escadas indo para umas das mesas.

— Ei, moça do cabelo rosa — normalmente eu daria um murro na pessoa, por ser conhecida assim, não quer dizer que eu goste de ser chamada assim, mas estou tão sem ânimo, que nem vale o esforço.

— Esse não é meu nome — respondi.

— Eu não sei seu nome — bufei.

— O que foi?

— Preciso do cartão da biblioteca — disse o bibliotecário, Kimimaro se não me engano.

— 'Pra quê? Não vou pegar nem um livro.

— Moça, é meu trabalho — suspirei procurando o cartão na bolsa, lhe entregando.

— Se não vai pegar nenhum livro, o que faz aqui? — perguntou digitando algo no computador.

— Na boa, não te interessa — me encarou debochado.

— Tudo bem que está estressada, mas você poderia ser um pouco mais educada, sabia, moça do cabelo rosa? — disse calmamente ainda digitando.

— Que eu sabia, seu trabalho é me atender, não cuidar da minha vida — ok, agora eu estava sendo grossa, mas o que posso fazer, se ele me pegou em um dia ruim? — E Já disse que esse não é meu nome!

— Eu não sei seu nome.

— Olha no cartão!

— Não estou afim — que cara cretino, encontrei alguém pior que o Sasuke!

— Vai demorar muito?

— Pode entrar, seu cartão fica aqui até você sair.

— Por que não me disse?

— Você não perguntou.

Não respondi, apenas me afastei para não enforcar esse maldito!

Me sentei em uma das mesas do fundo da biblioteca. Me debrucei e fiquei ali, ouvindo música um bom tempo, vendo alguns alunos pegando livros e saindo, outros lendo por ali mesmo, ou jogando xadrez. Aqui é bem calmo, vou frequentar mais esse lugar.

Me levantei, olhando alguns livros nas estantes metálicas, até que o sinal tocou. Ia saindo descendo as escadas da biblioteca quando...

— Moça do cabelo rosa — me virei o encarando — Seu cartão — peguei bruscamente.

— Não adianta dizer que meu nome não é esse não é? — suspirei cansada.

— Tudo bem, Sakura — disse calmo — Posso lhe fazer uma pergunta?

— Diga.

— Aquela sua colega, Temari, ela tem namorado?

— Não.

— Poderia me dar uma ajudinha, colega?

— Colega? ajudinha? Se quer algo com ela, corre atrás! E não te conheço, portanto, não sou sua colega — só era o que me faltava!

— Você é uma pessoa muito ignorante, sabia? Mas obrigado pela ajuda, tenha um bom dia — cínico.

Desci as escadas, indo para a sala, mas vi Temari e as meninas saindo de minha sala, dei a volta indo ao banheiro, quando elas saíram, fui para a sala que já estava fechada, tive que bater.

— Está atrasada, Haruno — disse Anko.

Anko é minha a professora que aplica a matéria de redação, esse é um dos motivos pelo qual eu odeio sexta feira, aguentar o mal humor dela, e quatro horas seguidas de redação são cansativos.

— Desculpe, posso entrar?

— Anda garota, entra — todos os olhares estava voltados para mim, odeio ser o centro das atenções. Fui para uma das carteira dos fundos.

— Bom dia — disse ela pegando uma pilha de folhas, passando de fileira em fileira — Vou deixar bem claro. Não quero alunos pedindo ajuda, pedindo lápis, borracha ou qualquer coisa do tipo ao colega, redações são individuais. Se eu pegar alguém espiando a redação do outro — parou na minha mesa — Vai para fora.

Essa mulher tem algum problema comigo, só pode.

Depois de horas escrevendo, fui a última a sair da sala, lhe entreguei a redação, me encarou com aquela cara de não vou com a sua cara e respondeu.

— Não está correto.

— O quê? O que está faltando?

— Você começou bem, o que é um milagre — me encarou de canto — Mais você usou exemplos em excesso, acabou não sobrando espaço para a conclusão — continuou — Isso é questão de escrever mais, quanto mais se escreve, mais se aprende, os erros vão diminuindo. Ler bastante também ajuda — ela poderia sem bem estúpida, antipática e não ir com a minha cara, mas ela era uma ótima professora.

— Tudo bem, vou escrever mais.

— Isso ai, agora cai fora.

— Demônia...— resmunguei

— O que disse?

— Você é um amor de pessoa, sabia? — disse sarcástica.

— Não seja falsa garota, agora anda!

Sai da sala, indo até a cantina, sendo surpreendida por Tenten, Temari e Hinata.

— Onde você estava? Te procuramos por toda parte! — Temari me enforcava.

— E...está me machucando.

— Larga ela, Temari — disse Tenten.

— Eu quero ficar sozinha — dei meia volta.

— Quantas vezes vou precisar dizer que você não pode ficar sozinha nunca? — às vezes tenho medo dela, ela é possessiva demais.

— Temari, só quero ficar sozinha hoje, por favor...

— Tudo bem, me aguarde — caminhou até o gramado.

Comprei meu lanche, e procurei um canto mais calmo, o que parecia impossível, até que achei uma mesa vazia, embaixo de uma grande árvore, caminhei até lá, entendi agora o porquê de estar vazia, estava uma bagunça, papéis, copos e outros lixos.

Limpei tudo e fiquei ali, ouvindo música, até o sinal tocar, o que demoraria um pouco. Bom, agora era só aproveitar o silêncio e a calmaria...

— Rosada...o que faz aqui sozinha? — disse o moreno se sentando em minha frente — Já disseram que você está deplorável hoje? — por Deus! Eu só quero paz!

—Uchiha, não me provoca vai — sorriu como se eu tivesse contado uma piada.

— É a mesma coisa que pedir para o traficante não vender drogas! É claro que eu vou te provocar, virou meu passatempofavorito...

— É mesmo? E por que logo eu?

— Porque se eu fizer o mesmo com aquelas duas — apontou para as garotaa — elas vão me matar, sem contar o ciúme daqueles dois!

— Está me chamando de fraca? Fácil? — me encarou com aquele maldito sorriso sacana.

— Só fiz um comentário, entenda da forma que quiser — tomou sua cerveja — Vamos lá, está todo mundo te esperando.

— Eu não quero. Será que dá para você me deixar em paz?

— Não. Vou contar até três para você levantar e vir comigo por bem — levantou tomando o resto da sua cerveja.

— E o que você vai fazer se eu não for?

— Um...

— Pode ir parando de contar.

— Dois...

— Está perdendo seu tempo aqui.

— Três...

— Pode esquecer não vou levantar daqui — veio em minha direção.

— Bom, eu te avisei— me pegou a força como seu eu fosse um saco de batata, me jogando em seus ombros.

— Ei! Me solta agora, seu mal educado! — bati em suas costas, mas ele parecia não sentir, já eu sentia minha mão doer, porra esse cara é feito de que? Titânio?

— Me põe no chão, está todo mundo olhando, me põe no chão!

— Eu te avisei, você preferiu vim comigo por mal. Se você tivesse vindo na boa, não chamaríamos a atenção de ninguém — disse calmamente — Mas veja pelo lado bom, todas as garotas devem estar com inveja de você, afinal, quem não queria estar sendo carregada por mim? — disse todo convencido.

— Seu miserável, me larga!

— Não precisa desse escândalo todo — me pegou pela cintura, me colocando no chão, pegando a grana de todos que estavam ali. 

Espera...

— Vocês estavam apostando?!

— Lógico! E perdemos é claro, você podia ter corrido, Sakura! — reclamava Shikamaru.

— Eu disse que ela não ia vir por bem — riu estendendo a mão — Vai uchiha, passa a grana.

— Temari, sua vaca!

— Eu também te amo — disse irônica — Eu disse para me aguardar— me sentei em um dos bancos.

— Então...você está bem, não é? — disse Hinata se sentando ao meu lado.

— Estou, só não estou no pique hoje sabe, mas — olhei para a turma rindo — Eles não me deixam sozinha nunca — rimos

— Você tem amigos que se importam com você, Sakura, agradeça por tê-los — disse calma.

— É, eu sei...

(...)

— Ino, cheguei! — joguei minha bolsa no sofá, não ouvindo resposta — Ino? — vasculhei cada cômodo da casa e nenhum sinal dela...

— Provavelmente só volto amanhã...— repeti a mesmas palavras da mensagem — Duvido...

Cheguei em casa mais cedo, voltei caminhando, pensei em tomar um banho, mas olhei em volta, a casa uma bagunça, sexta-feira...dia de faxina!

Para muitos é uma luta, faxina para mim é relaxamento, curtir um bom som, enquanto se faz algo útil nunca me pareceu tão bom. Jantar na sala, um bom filme, depois da limpeza era uma beleza, nada como uma noite para relaxar, porém nada disso me deixa animada. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas sinto falta de morar com meus pais, para uma garota de apenas dezessete anos, sair de casa era um sonho, anos atrás eu contava os meses, os dias para morar sozinha, mas hoje sinto falta deles, e do meu irmão também.

Fiquei até altas horas da madrugada, lendo um livro qualquer no quarto, esperando que Ino chegasse em casa logo, fico preocupada, eu estava cansada, o sono já estava fazendo meu olhos pesarem, mas caramba...já era 2h15, ela não chegaria hoje.

Deixei minha preocupação de lado, ela provavelmente estaria com Gaara.

Cansada, me rendi ao sono.