História Possua-me - Tensão

Pois bem, o garoto que eu gosto está dormindo na mesma casa que eu, no mesmo quarto.

Minha casa não é muito grande, por isto estamos no mesmo quarto.

Meus pais faleceram há anos, então eu moro sozinho. Ele chega amanhã em minha casa, e eu não acreditei na notícia assim que a escutei.

Me arrumei depressa, já era 6:50, e mesmo a escola sendo perto de casa, provavelmente eu me atrasaria pra primeira aula. Saí correndo, e mesmo assim, perdi a primeira aula.

Era de biologia, então eu estava com sorte. Nunca gostei muito de biologia... Muito menos do professor. Ele era grosso, e nunca explicava muito bem.

Tive que ficar esperando no corredor durante 45mins. Provavelmente Jake notou que eu não estava na sala... Ao menos eu espero que ele tenha notado...

Quando eu ia entrar na sala, notei que alguém se aproximava pelo corredor. Não foi muito pela minha visão, e sim pelo barulho dos seus sapatos. Sapatos bonitos por sinal. De primeira vista eu não consegui o identificar. Estava longe, e eu não sabia ao certo quem era, mas em alguns passos eu pude talvez felizmente descobrir quem era. David. Não acreditei que ele poderia chegar atrasado. Sempre tirando notas altas, sempre calmo, neutro, bonzinho, não acredito que ele chegou atrasado pra primeira aula...

-Corre - Gritei - O próximo professor já vai entrar.

Eu não estava nervoso, isto era bom. Mas o porque eu não encontrava. Sempre que estava com ele meu coração saltava; sempre que olhava pra min, meu coração saltava; sempre que estava falando com ele, meu coração saltava. Então porque não agora? Fiquei de certa forma aliviado, afinal, ficar nervoso toda vez que for falar com alguém nunca foi algo bom, e a sensação do peito fechado também não é das melhores.

David fez oque eu pedi, ele correu. Correu até min, o próximo professor estava logo atrás dele, então não existia motivo para correr. "Ele correu simplesmente porque quis?" Não era típico dele, o qual sempre se movia devagar, oque sempre era calmo, as vezes até na educação física. Este pensamento ficou, David parecia estar um pouco, mas só um pouco, mudado.

Entrei na sala, junto com ele, mas desta vez, meu coração realmente se acelerou. Mesmo que de longe, de perto era diferente. Seu cheiro, seu olhar, sua voz, tudo me encantava, como se ele fosse a essência do desejo, pra min é claro. Acho que eu estava exagerando... Ou não.

-Obrigado. - Disse ele, um pouco ofegante. - Faz tempo que eu não faço isto. - Então ele sorriu com o canto da boca. Não foi um sorriso discreto, foi um sorriso bonito, elegante, atraente. O seu sorriso.

"Ele sorriu..." "Pra min..." Foi oque eu pensei. O professor estava logo atras, então eu não tinha tempo de ficar babando na porta da sala.

-Isto oque? - Perguntei.

Ele estava andando pra dentro da sala, mas parou, se virou e olhou pra min com um sorriso, e disse:

-Correr. - Simplesmente falou...

"Outro" eu pensei. Eu ainda devia estar sonhando... Dois sorrisos em um dia só.

Oque eu não notei era que o professor gato de inglês estava querendo passar pela porta, e um pequeno detalhe o impedia: "Eu".

Pedi desculpas, envergonhado, e o deixei passar. Ele passou a mão na minha cabeça,  bagunçando meu cabelo. Sua mão gelada e macia era grande, oque quase cobriu toda minha nuca.

Fiquei envergonhado, talvez até excitado, mas não era algo pra ficar alegre. Simplesmente tentei sorrir, e acho que deu certo... Depois disso, fui me sentar, e vi que David já estava sentado, só que não em seu lugar. Estava na cadeira do meu lado.

Sentei, guardei minha bolsa, e fui tirando os livros. O professor sempre passa bastante coisa pra copiar quando sua aula é a segunda. Onde está a lógica? Sinceramente eu não sei.

Mais uma coisa que eu percebi, ou talvez que eu sentisse falta. No início, não descobri oque era, mas no meio da aula eu lembrei.

Jake.

Onde estava ele? Ele sentava do meu lado, será que ele foi pra banca da frente novamente, me evitando?

Passei os olhos por toda a sala, mas Jake não estava lá. Nem lá, nem em canto nenhum, pois no intervalo fui em todo o colégio, e não o achei.

Por um momento, fiquei preocupado. Mas lembrei que ele pegou uma grande chuva ontem, quando voltava pra casa.

-Só espero que ele esteja bem... - Pensei.

David estava agindo estranho. Sempre sorrindo, sempre perto de min.

Certas horas eu sentia sim, o meu coração apertado, mas comparado á antes, era muito pouco...

Talvez o David que eu me apaixonei, não era aquele David. Aquele David era alegre, sorridente, e estava sempre comigo.

Já o David que eu gostava, era neutro, calmo, obscuro e longínquo.

Deixei novamente esses pensamentos de lado. David era David, e nada mais...

Então todas as aulas acabaram. Estava começando o por do sol, então decidi ir pra casa. Por um momento pensei em perguntar ao David o motivo de estar feliz, oque aconteceu com os pais dele, como ainda se encontrava a situação na sua casa... Mas acabei sem coragem. Não queria estragar o momento.

A mãe dele me avisou que seria hoje que ele ficaria na minha casa. Então ela providenciou roupas e coisas pessoais dele, para levar pro colégio, e do colégio até minha casa.

Estávamos no jardim, e o reflexo do sol no lago estava algo magnífico... Mas não era isto que importava. Precisávamos ir pra casa.

-David - Gritei. Ele estava perto do lago, soltando pedrinhas como sempre.

Ele ouviu, e instintivamente veio até min. Mas dessa vez, calmo, normal.

-Vamos agora? - Ele perguntou.

-Sim, agora. O por do sol está começando, e nós precisamos fazer o jantar. - Respondi. Ele estava falando como sempre, então meu peito novamente apertou-se.

-Então pode ir na frente. Já deve saber que eu não faço ideia onde você mora. - Disse David.

-Então porque você me assaltou naquele dia? - Perguntei.

-Haha, muito engraçado. Piada interna não é? Conheço - Disse, zombando.

-Piada interna, é? - Resmunguei.

Fomos andando, e mesmo ele estando mudado, pra min, ainda era David, então seu perfume, sua fala e seu jeito continuavam os mesmos. Oque me dava borboletas na barriga em ficar tão perto dele.

Em uma certa hora, eu estava um pouco distraído no meio do percurso, pensando como seria conviver com ele, quando ele esbarrou em min, e caímos no chão, felizmente talvez, ele caiu em cima de min, provavelmente sem querer. Mas mesmo não sendo sua intenção, eu senti seu corpo. Sua barriga, seu calor, seu peso... E não sendo a intenção, vi que ele estava duro.

Pedi desculpas, me limpei, e ele não parecia zangado. Voltamos ao percurso de casa, até que chegamos.

Em todo tempo eu fiquei pensando naquele momento em que nos esbarramos, então nós não conversamos enquanto caminhávamos. Claro, mesmo sem pensar, nós não conversaríamos. Ele é David, e eu sou Apolo, nós não nos conhecemos direito.

Chegando em casa, fui logo preparando o jantar, enquanto o David tirava suas coisas da mala. Eu mostrei o quarto pra ele, junto com a casa. Mas nada muito detalhado, ou iriamos morrer de fome.

Fui pegar um pouco de orégano, então fui até o armário. A comida já estava no fogão, só faltava colocar o tempero na qual eu estava preparando. Abrindo o armário, o orégano estava no alto, então tive que me esticar para pegar. 

-Peguei - Falei em um tom pra min mesmo.

Fechei o armário, quando me deparo com uma figura que até eu abrir o armário não fazia parte da minha casa...

David estava pelado, todo molhado, na minha frente.

Derrubei o orégano no chão.