História Possua-me - Descobrindo sobre o amor da minha vida.

A aula já tinha acabado, e do início ao fim, Jake sentou na frente da sala. Achei infantil da parte dele, ficar chateado este tempo todo, só porque não pode terminar sua conversa sobre os jogos.

A aula foi entediante, pois eu estava nervoso demais pensando no David, que sentava a duas cadeiras a minha frente.

Ele se levantou, e saiu da sala. Todos já tinham começado a conversar, a aula já tinha acabado, afinal. Fui tentar falar com o Jake, com medo que estivesse mesmo chateado.

-Jake... Você está chateado? - Perguntei, incerto.

-Não, porque eu estaria? - Disse simplesmente.

-Eu não sei. Assim que eu terminei de falar com o David, você saio do meu lado, e veio aqui pra frente.

-David... - Disse Jake.

-Sim, o David. - Afirmei.

-Eu agora estou indo comprar alguma coisa pra comer. Minha barriga está pedindo ajuda. Você vem comigo? - Perguntou.

-E-Eu tenho que tirar uma dúvida com o professor primeiro... - Disse nervoso.

-Então tudo bem, nos vemos na cantina.

-Não!! - Exclamei.

-Hã...? - Perguntou Jake, sem entender oque estava acontecendo.

-Ah... Me desculpe por falar alto com você. É só que eu... Digo... É uma dúvida complicada, então talvez demore pra eu resolver com o professor. - Falei, um pouco enrolado.

-Tudo bem... Nos vemos depois do intervalo?

-Sim, eu estarei aqui. - Falei com certeza.

Jake saiu da sala, e foi eu direção ao corredor, provavelmente para a cantina. Eu não queria dizer a ele que eu iria me encontrar com o David. Ele parecia muito enciumado, e eu não seria bom se ele ficasse com raiva de min. Particularmente, acho que seria um motivo idiota. Ele deveria respeitar o David ser meu amigo. Mas mesmo assim, não queria arriscar perder sua amizade.

Olhei pelo corredor, pra ver se o Jake ainda estava lá, mas não vi ninguém além de alunos normais.

-Ufa... - Pensei. Era um alívio não ter que discutir com o Jake sobre mentiras.

Não minto pra ele. Na verdade não tenho motivos pra mentir, mas da ultima vez que isto aconteceu, ficamos sem nos falar por um bom tempo.

Andei pelo corredor, até chegar nas escadas. Eu passava por várias salas, "1-A", "9-C", "2-E", e não recordava do colégio ter tantas salas no primeiro andar.

Já no térreo, eu estava procurando o David. O chão não estava tão molhado quanto antes, e o sol estava fraco, oque me dava uma sensação de alegria, juntando com o fato do David querer falar comigo.

Passei pelo jardim, e vi muitas e muitas flores de tipos diferentes. Margaridas, rosas, tulipas, lírios, cerberas, e muitas outras. Por um momento cheguei a imaginar que estava em uma floricultura, ou até um jardim botânico...

Seguindo o caminho de azulejos, pelo meio das plantas, consegui finalmente, ver o David. Ele estava em um banco, embaixo de um carvalho a beira do lago, e parecia estar segurando uma pedra na mão, pensei que estaria jogando pedrinhas no lago. Geralmente ele fazia muito isto, e eu adorava desenha-lo desse jeito.

Cheguei mais perto, e ele olhou diretamente pra min, oque fez meu coração pular mais uma vez. Eu já deveria estar acostumado com isto. Por mais que eu tentasse, sempre que ele olhava pra min, eu não conseguia conter meu coração, e meu nervosismo.

Estava me aproximando do banco, quando eu me senti bastante sufocado... Estar sozinho com ele, ali, na frente de um lago... Estava com borboletas na barriga.

Sentei no banco, do lado dele.

-Oi... - Disse eu, nervoso.

-Tudo bem? - Perguntou. - Você parece tenso...

-Não, está tudo bem. - Respondi rápido - Eu acabei de discutir com um garoto, então estou um pouco nervoso ainda. - Inventei.

-Uhun - Disse simplesmente.

-Então... Tem alguma coisa que você queria falar comigo? - Perguntei.

-Eu chamei meu pai de desocupado, folgado, e que ele me enoja. - Exclamou.

-H-Hã? - Perguntei, confuso.

-Pois é... Ele estava discutindo muito com minha mãe. Ele perdeu o emprego, então ficou em casa, bebendo e jogando poker com seus amigos, o dia todo. Minha mãe trabalhava o dobro pra poder me manter no colégio, e manter também as despesas de casa, então eu já estava cansado dele. - Desabafou.

Como eu havia imaginado... Ele estava pensando, e estava preocupado. Não tenho meus pais dês de cedo, então não sei como ele se sente, mas mesmo com meu coração saindo pela boca, tentei ajuda-lo.

-Acho que você fez a coisa certa! - Exclamei - Eu faria o mesmo.

-É... Acho que sim - Disse, um pouco pensativo. - Agora ele está com muita raiva de min. Cheguei em casa ontem, e só faltava ele me expulsar. Mas ele não seria capaz. - Falou um pouco incerto.

O sinal tocou. Agora era aula de Inglês, e o professor tem fama de severo. Então tive que me apressar.

-Espero que as coisas melhorem em sua casa... Eu estou indo na frente, tenho que me encontrar com o Jake. - Disse, enquanto voltava caminhando pela estrada de pedrinhas, entre as plantas.

Estava de certa forma, um pouco calmo. Depois de escutar o desabafo dele, eu me distraí um pouco da sua atenção. Seu perfume era incrivelmente chamativo, e sua voz era muito atraente. Ele nunca elevava o seu tom de voz, sempre mantendo a sua suave voz... Seu cabelo era voltado pra traz, oque eu achava um charme nele, sem falar do seu ar de misterioso. Jamais ele falou da sua vida alguma vez pra alguém, e dessa vez, ele tinha falado comigo... Me toquei do que acabara de acontecer, e novamente, meu corpo ficou mole, eu estava quente, e meu coração estava acelerado, pra variar...

A aula começou, era o professor substituto. Era loiro, cabelos lisos e longos a altura do ombro, mas presos de um lado, atras das orelhas. Seu nome era Denis, se vestia muito bem pra um professor, e também usava óculos, oque o deixava bem mais atraente.

A ideia de me sentir atraente por outros homens ser errado já tinha sumido da minha mente. Garotas, sempre amigas, e nada além. Eu não sentia necessidade, e nem vontade, de namorar com alguma. Nenhuma nunca se declarou, então eu também não me declarava pra ninguém, pois não sentia nada profundo.

Me apaixonar por um garoto se tornou algo normal. Eu não ligava mais pra o sentido de "normal", eu o amava, e era isto que importava. Mesmo que ele ainda não soubesse, uma hora eu iria ter de me declarar, e eu estava tomando forças para isto.

Toda vez que aquele professor fazia uma pergunta pra min, a mesma sensação de nervosismo me possuía. Era estranho eu me sentir tão constrangido em um só dia de aula...

Depois que a aula acabou, eu fui para casa. Estava exausto de tantos acontecimentos marcantes pra um dia só.

A rua estava meio vazia, mas de vez em quando, passava alguém de bicicleta. Até que eu cheguei em casa. Tirei meus sapatos, e me joguei na cama. Fiquei pensando... Muitas coisas haviam acontecido, e eu estava feliz de ter feito oque fiz. O Jake havia agido normalmente, então tudo estava bem.

-Ainda bem... - Pensei. - Tudo podia ter dado errado. Com o Jake, com o David e comigo...

O telefone tocou. Eu estava com muita preguiça pra levantar e ir atende-lo, mas tive que o fazer. Levantei, cansado, fui arrastando os pés pelo corredor, até que cheguei a mesinha com o telefone.

-Alô? - Perguntou.

-Olá - Eu disse, simplesmente.

-Ah, Apolo, aqui é a mãe do David.

Quando ela falou isto, meu corpo tremulou. Cheguei a pensar que iria cair no chão, mas a mãe dele estava no telefone, e eu não iria deixa-la falando sozinha.

-O-OI, senhora...? - Perguntei

-Jasmine, meu nome é Jasmine. - Disse. - Nunca tivemos uma oportunidade de nos falarmos, não é mesmo? É um prazer conhecê-lo.

-Ah, o prazer é todo meu. - Falei, nervoso. - Só por curiosidade... Como conseguiu meu número? - Perguntei, confuso.

-Oh, me desculpe, eu conheço alguns amigos do David. - Disse, simplesmente.

-Ah... - Ela tinha dito amigos, oque me deixou muito feliz. - Em que posso ajudar a senhora?

-Senhora não, por favor... - Disse envergonhada. - Sendo direta, as coisas aqui em casa não estão muito bem, será que eu poderia lhe pedir um favor? - Pediu.

-Mas é claro, qualquer coisa que estiver ao meu alcance.

-Obrigada. Mas, seria possível se o David pudesse ficar aí por algumas semanas?