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História Powerful - Isso é guerra! (parte2)


Escrita por: RocMo

Notas do Autor


Olar, migonces, boa noite!

Queria agradecer mais uma vez a todos que favoritaram e comentaram no último capítulo. Realmente significa muito para mim <3

Antes disso eu queria fazer um paralelo da relação do Japão com China e Coreia nessa época. O ódio que os japoneses sentiam dos outros povos era semelhante ao ódio dos alemães pelos judeus, e até mesmo dos brancos pelos negros na época da escravidão. Às vezes pode parecer exagero e até caricatural o tratamento e os termos que eles usam aqui para falar de coreanos, mas era muito parecido com isso o que acontecia, infelizmente.

Bom, depois desse capítulo pro final de "Powerful" faltam exatamente 5 capítulos, então é reta final mesmo, e os desfechos já estão sendo desenhados.

Espero que gostem e boa leitura!

Capítulo 15 - Isso é guerra! (parte2)


 

... A jovem se levantou, e caminhou até a janela, e abriu uma pequena fresta para espiar do lado de fora e teve uma surpresa grande e inimaginável.

Inbok estava ali e abriu um largo sorriso ao ver um pedacinho do rosto de Chaeyoung.

Ela nem podia acreditar no que estava diante de seus olhos. Ela abriu a janela devagar para não fazer barulho, e pulou para fora com a ajuda do rapaz.

“Inbok! Eu nem acredito...” Ela falou, muito emocionada.

“Vem comigo, por favor.” Ele sussurrou, e levou a jovem para fora do quintal dos Myoui usando o buraco que ele mesmo fez na cerca que protegia a casa.

Uma vez na rua, os dois trocaram um abraço muito forte, e para a surpresa do rapaz, Chaeyoung lhe beijou no rosto, o deixando um tanto sem graça. Ela estava tão feliz, que nem sequer pensou direito no que estava fazendo.

“Eu pensei que nunca mais te veria.” Chaeyoung disse, com a voz embargada, e até enxugou aquelas lágrimas de felicidade que escorreram por seu rosto.

Mesmo com a iluminação da rua um tanto precária, Chaeyoung notou que ele ainda estava bastante machucado. Seu rosto tinha alguns hematomas, assim como seus braços. Que ódio que ela estava sentindo daquele covarde maldito que tinha feito aquilo com ele, mas ao menos seu amigo estava vivo.

“É como dizem: vaso ruim não quebra, Chaeyoung.” O rapaz brincou. “Como está a minha mãe?”

“Ela está bem mal, não posso mentir.” Inbok se sentiu mal ao ouvir aquilo. Ele não conseguia parar de pensar em sua mãe, e em como ela deveria estar sofrendo com tudo aquilo, mas achou que a melhor pessoa para saber que ele ainda estava vivo e relativamente bem, primeiro era Chaeyoung e não Somi. “Mas, como? Eu nunca imaginei que você poderia ter sobrevivido diante de tudo aquilo.”

“Japonês nenhum vai me matar.” Ele respondeu. “Acontece que aquele filho da mãe me jogou no porta-malas do carro...”

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Inbok estava no porta-malas desacordado. Estava muito machucado por conta dos socos e chutes que havia levado de Aoki. Seu nariz sangrava e seu olho esquerdo estava roxo e inchado, e também havia hematomas em sua testa e face.

Ele abriu os olhos com dificuldade, o esquerdo, por conta do inchaço, nem conseguiu abrir direito. Sentiu seu corpo todo dolorido, principalmente suas costelas.

Não fazia a menor idéia do que estava acontecendo, nem de para onde estava sendo levado, mas sabia que precisaria lutar para sobreviver, mesmo naquelas condições adversas.

Colocou uma das mãos no bolso de sua calça e dele tirou uma faca, pequena, porém bem afiada, que ele levava sempre consigo. Não dava pra confiar nos Myoui, e essa situação provava que ele estava certo.

Ele ficou parado, por um tempo, mas assim que sentiu o carro parar, ele já se preparou para o ataque. Estava com a adrenalina nas alturas. Precisaria lutar por sua vida.

Ele ouviu os passos de Aoki se aproximando, e assim que o japonês abriu o porta-malas, Inbok o atacou usando suas pernas para derrubá-lo. O soldado caiu no chão, e Inbok pulou do carro, estavam em um local deserto, onde só havia matagal ao redor.

Sem condições de um embate físico, já que estava muito debilitado, e o outro homem era um soldado altamente treinado, ele correu e se embrenhou no meio daquele mato. Aoki se levantou, pegou sua arma, e foi atrás do jovem coreano.

Eles correram alguns metros, e então, para a sorte de Inbok, Aoki prendeu o pé em uma raiz de árvore, e caiu no chão, dando tempo para o outro rapaz fugir para longe. O soldado atirou três vezes na direção que o jovem estava, mas a sorte parecia estar do seu lado.

Aoki havia falhado em sua “missão” e mentido para Kimi.

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... “Então eu, vaguei por alguns dias, até me localizar e voltar para cá. Aposto que ele pensou que eu ficaria vagando perdido por aí e eventualmente morreria” Inbok terminou sua história, deixando Chaeyoung impressionada com sua coragem e habilidade.

“Você foi incrível.” Chaeyoung o elogiou, deixando-o mais uma vez sem graça. Os elogios da jovem eram mais mortais que qualquer japonês para o rapaz. “Mas eu estou tão feliz por você estar aqui outra vez, muito feliz mesmo.”

“Eu também estou muito feliz por te ver de novo, Chae.” Ele sorriu ao dizer aquilo. “Só não entendi porquê aquela louca da Kimi mandou fazer aquilo comigo, você sabe?”

“É... Eu, eu não sei, Inbok oppa, não faço ideia, ela é uma louca.” Chaeyoung mentiu. O rapaz já não gostava de Mina, se soubesse que ele havia sofrido tudo aquilo por causa de uma mentira dela, só aumentaria seu ódio.

“Eu sempre soube que os Myoui eram um bando de ratos traiçoeiros, nunca confiei nessa gente e estava certo.” Ele falou. “Mas agora estou de volta, e não há nada que eles possam fazer para me parar.”

“Oppa, cuidado!” Chaeyoung o alertou, preocupada com o que ele poderia fazer para se vingar da violência que sofreu. “Tenho medo que você seja pego novamente, e não tenha tanta sorte dessa vez.”

“Fique tranquila, não vou deixar que me peguem.” O rapaz lhe garantiu, e respirou fundo tomando coragem para falar algo que lhe envergonhava, mas era necessário. “É, então, eu queria te pedir perdão pela forma como agi com você da última vez que nós vimos, eu não tive tempo de me desculpar no dia seguinte, mas eu quero que saiba que estou muito arrependido, e nunca mais vou fazer nada que possa te machucar, eu juro pelas almas de meu pai e meus irmãos.” Inbok estava envergonhado, e nem sequer conseguiu olhar para Chaeyoung enquanto lhe pedia perdão. Chaeyoung também se sentiu mal, ela havia tentado não pensar naquilo, porquê achava que ele estava morto, mas havia ficado magoada e até mesmo com um certo medo dele após o ocorrido.

“Vamos fingir que aquilo nunca aconteceu.” Chaeyoung respondeu. “Nós somos amigos, e amigos às vezes se desentendem.” Inbok havia dito que a amava, daquele jeito todo agressivo, mas que não deixava de ser uma confissão de amor.

“Obrigado por me perdoar.” Chaeyoung sorriu para o rapaz, que estava com medo de encará-la outra vez depois do ocorrido. “Você está bem cansada, dá para ver pela sua cara.”

 

“Está sendo muito cansativo, agora que o trabalho aumentou.” Chaeyoung respondeu.
 

“Acho melhor voltarmos, quer dizer, você voltar, eu só te acompanho até lá, para garantir que nada de errado vai acontecer.”

“E onde você vai ficar agora?” Chaeyoung o questionou.

“Eu tenho um lugar para ficar, uma construção abandonada. Não é exatamente a casa dos sonhos, mas pelo menos é um lugar para dormir e para me proteger do frio.” Aquilo era bem triste. “E eu me viro para arranjar comida, não se preocupe, eu sou um sobrevivente. Nós somos.” Apesar de Inbok não querer ser específico sobre o que ele estava fazendo, Chaeyoung entendeu que ele muito provavelmente iria cometer pequenos furtos, e isso era muito perigoso. “Eu prometo voltar para te visitar e visitar minha mãe.”

“Tudo bem, só tome cuidado para que Kimi não o veja.” A moça o alertou.

“Não se preocupe, eu vou ficar bem.” Inbok lhe garantiu, antes deles se despedirem com um abraço rápido e Chaeyoung voltar para a casa dos Myoui, e o rapaz para a construção abandonada que agora era o seu lar.

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Nanquim, China.

Yoshiro estava em um grupo com outros cinco soldados fazendo a ronda noturna pela cidade. Ele iria fazer aquilo pelo resto da semana. Em sua opinião era o melhor trabalho, pois de madrugada não havia praticamente ninguém nas ruas, e com isso ele não precisava presenciar cenas desagradáveis.

O rapaz tinha uma ideia totalmente diferente de como as coisas funcionavam, se sentia até um parvo por isso. Claro que ele não achava que tudo seria flores, mas ele também não imaginava que precisava ser daquela forma.

Yoshiro havia visto seus colegas soldados humilhando e atacando civis chineses, mulheres, idosos e até crianças de uma maneira cruel. E o pior de tudo é que ele não podia fazer nada a respeito. Até tinha pensado em reportar algumas daquelas coisas à Haru, mas sabia que ficaria visado e taxado como covarde. Ele sabia que alguns soldados já falavam por suas costas, chamando-o de “protegido do General”, e ele não queria tornar as coisas ainda mais difíceis.

Junto dele estava seu colega de quarto Sasazaki Itsuki, que havia se tornado um grande amigo para Yoshiro. Assim como ele, Itsuki não agia de forma covarde com cidadãos indefesos e desarmados. Eles honravam o juramento que fizeram antes de embarcar para a China de não matar nem torturar civis ou prisioneiros de guerra.

Junto do grupo também estava Murakami Saburu, um soldado arrogante que Yoshiro não suportava, e ele sabia que a recíproca era verdadeira.

Tudo ocorria normalmente, quando os soldados avistaram duas crianças sozinhas, visivelmente assustadas. Yoshiro imaginou que poderiam ser irmãos, e provavelmente sua família deveria ter sido assassinada.

Saburo no entanto, apontou sua baioneta para as crianças e saiu correndo atrás delas, gargalhando feito um maníaco. As duas crianças entraram em pânico e saíram correndo também, tentando se esconder.

Instintivamente Yoshiro correu atrás do seu colega, e o segurou.

“Está maluco, Murakami?” O jovem falou, irritado com aquela atitude nojenta. Saburu então virou-se para encará-lo, furioso.

“O que é, Kita?” Ele vociferou.

“Eram só crianças, estavam indefesas!” Yoshiro gritou. Saburu abriu um sorriso debochado.

“Vá a merda, seu bosta!” Yoshiro sentiu o sangue ferver ao ouvir aquilo. “Isso é guerra! Coisa para homens, não para um fracote maricas como você! Deveria estar dançando ballet junto com sua noiva, não aqui lutando pelo Japão, protegido do General!”

Saburu se virou e Yoshiro só queria acertá-lo com um bom soco, mas foi impedido por Itsuki.

“Não faça isso, Yoshiro, só vai piorar as coisas e ainda por cima receberá uma punição.” Itsuki o alertou, e ele estava certo. Yoshiro respirou fundo e olhou para a direção onde as crianças estavam, imaginando o que poderia lhes acontecer já que estavam completamente sozinhas em uma cidade devastada e cheia de perigos.

O resto da noite a patrulha foi tranquila, mas o clima estava pesado. Yoshiro nem sequer conseguiu mais olhar para a cara de Saburu, que não perdia qualquer oportunidade para cutucar o outro soldado com palavras ásperas e debochadas.

Ser militar, definitivamente, não era a vida que Yoshiro queria para si. Assim que voltasse para o Japão, iria abandonar a farda, e seguir com os negócios de sua família. Seria melhor para todo mundo.

Quando amanheceu, Yoshiro e os demais soldados voltaram para os seus dormitórios. Ele ainda estava baqueado com os acontecimentos da madrugada e pensando naquelas duas crianças.

Deitou em sua cama, e ao contrário de Itsuki, que em menos de dez minutos já estava roncando, ficou pensativo. Tanta coisa passava por sua cabeça naquele momento, mas sem dúvidas a principal delas era Mina e o porquê de sua noiva não responder suas cartas há vários dias.

Sentia muito sua falta, e pensava nela todos os dias a maior parte do tempo. Ele praguejava contra si mesmo constantemente por ter tido a estúpida ideia de se unir ao Exército do Sol Nascente e ficar longe de todos que amava por longos dois anos. Se não fosse por isso, ele já poderia estar próximo de se casar e não teria que conviver com todas aquelas coisas horríveis que aconteciam em Nanquim.

Colada na parede próximo a sua cama, haviam fotos de sua família e uma especial: uma foto dele com Mina, em um parque de diversões, quando ainda eram adolescentes, local onde acontecera não só o primeiro encontro formal dos dois, mas também seu primeiro beijo, antes mesmo deles terem começado a namorar.

Yoshiro sorriu ternamente. Era bom relembrar aqueles momentos felizes e ansiava por poder voltar a vivê-los.

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Japão, 1936.

Yoshiro e Mina estavam juntos em um parque de diversões que estava de passagem por Osaka. Finalmente o rapaz havia conseguido a coragem para convidar a bela Myoui Mina para um passeio. Tudo começou com uma troca de olhares durante uma aula de matemática, que se tornaram constantes e depois evoluiu para algumas conversas rápidas, e demorou um bocado de tempo para ele conseguir chegar ao patamar de chamá-la para saírem juntos durante um domingo. Seu coração quase saiu pela boca quando Mina lhe disse “sim”, e agora lá estava ele ao lado daquela menina que havia invadido seus pensamentos como nenhuma outra.

“Quer andar na roda gigante, Mina?” Ele perguntou, e a garota olhou meio temerosa para o brinquedo mencionado.

“Vou parecer muito boba se disser que eu tenho medo de altura?” Ela brincou e os dois riram.

“Não, eu vou entender, mas não precisa ter medo, é bem seguro” Yoshiro lhe assegurou.  “E a vista lá de cima é muito bonita, eu adoro roda gigante.”

“Eu já fui uma vez com o meu pai, quando eu era menor, não senti medo porquê ele segurou a minha mão o tempo todo.” Mina falou inocentemente, lembrando de como Haru lhe trazia segurança.

“Eu posso segurar a sua mão, se quiser.” Ele falou, e as bochechas de Mina coraram, mas ela havia gostado da proposta.

“Tudo bem.” Ela concordou, e os dois foram para a roda gigante.

Assim que o brinquedo começou a funcionar, Yoshiro segurou na mão de Mina, e sentiu seu coração bater acelerado. A vista de Osaka era linda, mas ele não conseguia tirar os olhos de Mina, com aquele sorrisinho nervoso. Ela era a menina mais bonita do mundo.

Quando a cadeira que os dois estavam estava no topo, Mina olhou para Yoshiro e os dois trocaram seu primeiro beijo, em um momento único e inesquecível.

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Yoshiro dormiu por algumas poucas horas, e ao se levantar, foi até o escritório, onde Haru comandava o Exército para falar com seu futuro sogro.

Estava ansioso para receber notícias de Mina, e não aguentava mais esperar por suas cartas.

Assim que entrou no escritório, foi recebido pelo General com um abraço paternal, como já era de costume.

“Como está sendo essa semana de patrulha noturna, filho?” Haru o questionou, deixando Yoshiro meio receoso com o que responder.

“Está tudo ocorrendo dentro dos conformes.” Ele respondeu sem muita convicção, e não convencendo Haru.

“Tem certeza, filho? Se houve algum problema sabe que pode relatá-lo a mim.” Yoshiro sabia que os outros soldados estavam certos, e ele mesmo o protegido de Haru, mas não tinha como ser diferente.

“Sim, está tudo bem, General.” Ele mentiu. “Eu queria saber se o senhor recebeu alguma carta de Mina nos últimos dias. Já tem um tempo que ela não me responde.”

“Na verdade, não, mas recebi uma carta de Kimi ontem, e ela me disse que Mina anda muito atarefada com as coisas do ballet.” Haru respondeu. “Também me contou que elas tiveram problema com um daqueles coreanos que trabalham na minha casa, o rapaz, disse que ele roubou uma certa quantia de dinheiro.”

“Mas elas estão bem?” Yoshiro perguntou, bastante preocupado com ambas as mulheres.

“Sim, Kimi relatou o ocorrido a Aoki e ele já deu um jeito naquele meliante.” Haru esclareceu.

“Então acho que só me resta esperar pela resposta de Mina.” Yoshiro constatou desanimado. Ao menos tinha esperança que a jovem houvesse falado com seu pai. Haru notou o sentimento do jovem, e chegou a se ver no lugar dele. Em seus primeiros anos como soldado sofreu feito um cão por estar longe de sua mãe e depois de Kimi e Mina, mas com o tempo o coração vai se endurecendo, e você acaba se adaptando aquilo.

“Sei que é difícil ficar longe delas.” Haru falou se aproximando do rapaz, e colocando a mão em seu ombro. “Infelizmente é um ônus dessa vida: distância de quem amamos.”

“Sim, eu já entendi.” Yoshiro respondeu, amargamente arrependido daquela escolha. “Eu vou tentar descansar mais um pouco, General.”

“Fique à vontade, garoto.” E então quando colocou a mão na maçaneta da porta para deixar o local, Yoshiro voltou atrás e se aproximou de Haru novamente. “O que foi?”

“General, me perdoe, mas eu menti para o senhor.” Ele começou. “Nessa madrugada, aconteceu uma coisa durante a ronda noturna.”

“Pode me falar, não precisa ter medo.” Haru lhe assegurou com firmeza.

“Murakami tentou atacar duas crianças e eu o impedi.” Yoshiro sentia-se mal por entregar um colega daquela maneira, mas a atitude de Saburu era indefensável ao seu ver. Haru ficou encarando o rapaz em silêncio por alguns segundos.

“Por que fez isso, Yoshiro?” Ele perguntou, surpreendendo o rapaz.

“Isso é covardia, e vai contra tudo o que juramos, General, eram crianças e estavam desarmadas.” Ele argumentou um tanto impaciente, aquilo era a coisa mais óbvia do mundo.

“Você acha que esses ratos chineses poupariam crianças japonesas?” Haru perguntou com seriedade. Yoshiro nada respondeu, apenas abaixou a cabeça, decepcionado. “Nunca mais faça isso, ou serei obrigado a puni-lo.”

“Sim, senhor.” Ele concordou, se segurando firme para não chorar.

“Isso é guerra, filho, são crianças hoje, mas amanhã estarão com armas nas mãos matando nossos homens.” Haru falou em um tom mais amigável. “Tem mais alguma coisa para dizer?”

“Não, senhor.” Ele respondeu, ainda sem conseguir olhar para os olhos do General. “Com licença.”

E assim Yoshiro deixou o escritório, ainda mais abalado e decidido a abandonar aquela vida, porém se desertasse e fosse embora antes de servir seu tempo, sofreria graves punições, podendo até ser sentenciado a pena de morte por traição à pátria, sem contar que mancharia para sempre a honra de sua família e perderia Mina, já que mesmo que não fosse morto, Haru jamais deixaria sua filha se casar com um desertor.

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Japão

Logo pela manhã, Chaeyoung contou para Somi sobre a visita de Inbok durante a madrugada. A mulher ficou muito feliz, mesmo sabendo a situação horrorosa que seu filho estava, ele ao menos estava vivo, e tinha uma chance de seguir em frente, longe dos Myoui.

As duas haviam concordando que não deveriam se mostrar felizes, pois isso chamaria a atenção de Kimi, e ela poderia desconfiar de alguma coisa, então elas tentaram agir da mesma forma que já faziam há dias: rosto fechado e falar ainda menos.

Para Somi aquilo estava bem, mas para Chaeyoung as coisas eram diferentes e ela só conseguia pensar em Mina. Já estava bem mal pelo afastamento da outra moça, mas agora não sabia o que deveria fazer.

Havia sido dura e muito, muito cruel com Mina e tinha consciência disso. Estava arrependida, e queria voltar a falar com a bailarina, mas não sabia como. Precisava pensar em algo para essa aproximação e claro, precisava pensar no jeito certo de se desculpar.

Passou o resto do dia pensando e tentando planejar alguma coisa realmente especial. Ela percebia o quanto Mina estava triste, mesmo que fingisse não ver. Era notável. Mina nunca foi uma moça barulhenta, mas ela sorria com mais frequência, conversava com mais animação, e até falava um pouco mais alto, mas agora ela estava muito diferente. Kimi provavelmente imaginava que aquilo era luto por Inbok.

Já estava anoitecendo e Somi terminava de preparar o jantar, quando Chaeyoung foi para o quintal, descansar um pouco após ter terminado suas tarefas.

Lá, naquele momento tranquilo, ela ficou observando as árvores de camélias e suas belas flores, quando teve uma ideia. Se levantou e foi pegar algumas daquelas flores, brancas, vermelhas e rosas e já estava até pensando no que faria com elas.

Assim que terminou, foi direto para seu quarto, onde tentou da melhor forma possível, fazer um buquê. Prendeu as flores com um laço velho que usava para prender seu cabelo, quando eles ainda eram longos.

Havia ficado bonitinho. O jogo das três cores das flores dava um charme especial para ele e além do mais, Mina amava camélias, seu cabelo e até mesmo sua pele carregavam o perfume dessa bela planta.

Deixou o buquê em cima da cama, e foi jantar, pois estava morrendo de fome.

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Após o jantar, Mina fora direto para o quarto. A convivência dela com sua mãe estava péssima, as duas mal se falavam, e seus ensaios estavam indo de mal a pior, e já até tinha a sensação de que madame Tayoko poderia pensar em substituí-la, pois mesmo com pouco tempo, qualquer outra bailarina faria um trabalho mais digno que o dela.

Kimi estava certa: aos 20 anos, Myoui Mina havia conseguido acabar com a própria vida, mas o que sua mãe não podia imaginar era que o pior de tudo aquilo era ter perdido Chaeyoung.

Ah, como doía ser ignorada, era pior que a própria morte.

Ela ficou deitada em sua cama, se torturando com aqueles pensamentos, até finalmente o sono chegar.

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Chaeyoung caminhava no corredor na ponta dos pés, e descalça, para evitar fazer qualquer barulho que pudesse acordar Kimi.

Estava torcendo para que o quarto de Mina não estivesse trancado e, principalmente, que sua mãe estivesse com a chave, pois seria a cena mais absurda do mundo a ex-bailarina a pegar tentando entrar no quarto de sua filha com um buquê de flores nas mãos.

Assim que ela colocou a mão na maçaneta e abriu a porta com todo o cuidado do mundo, sentiu um enorme alívio.

Uma vez dentro do quarto, ela olhou para Mina, dormindo em sua cama, e já começou a sentir seu coração acelerar e suas pernas tremerem. Se aproximou devagar da cama, e tocou no ombro de Mina, que se surpreendeu ao vê-la ali. Segurava o buquê que havia feito com a mão esquerda, e deixou seu braço atrás das costas, para não estragar a surpresa.

Mina quase nem acreditou em quem estava diante de seus olhos.

“Chaeyoung?” Ela sussurrou, e abriu um pequeno sorriso, que logo desapareceu quando ela se lembrou que a relação das duas estava praticamente morta depois de tudo o que aconteceu nos últimos dias.

“Me desculpe entrar assim no seu quarto, é que eu precisava falar com você.” Chaeyoung falou, um pouco nervosa e sem graça.

“Está tudo bem?” A bailarina a questionou.

“Sim, está... Eu... Mina, eu quero te dar uma coisa.” Chaeyoung então tirou a mão de trás de suas costas e entregou o buquê feito de improviso para Mina. “Eu quero te pedir perdão.”

Mina abriu o sorriso mais lindo e sincero do mundo. Aquele gesto de Chaeyoung fez seu coração derreter.

“Chaeyoung, eu...” Mina nem soube o que dizer, só pegou aquele presente tão lindo em mãos, e em seguida se levantou de sua cama, para dar um beijo intenso na outra jovem. “Eu te amo muito.” Ela beijou a outra jovem novamente, estava morrendo de saudades de seus lábios, de seu cheiro, e dela por inteiro. “Você significa tanto para mim.”

“Eu também te amo.” Chaeyoung sussurrou no ouvido de Mina. “Eu fui uma idiota, nunca deveria ter dito aquelas coisas horríveis, mesmo com raiva, você não é nada parecida com seus pais.” O coração de Mina até deu uma acelerada ao ouvir aquilo.

“Eu errei e você também tinha suas razões.” Mina argumentou, ela sabia que também havia errado e tinha uma grande parcela de culpa naquela situação toda.

“Não, não havia razão para eu falar aquelas coisas para você.” A jovem respondeu, o que deixou Mina confusa, mas ela não queria falar daquilo naquele momento, só queria mesmo poder estar junto de sua menina e compensar cada segundo perdido.

“Eu amei esse buquê, você sempre me dá os presentes mais lindos que eu poderia ganhar.” Chaeyoung sorriu feito uma boba ao ouvir aquilo. A jovem coreana não tinha um tostão para chamar de seu, mas sempre se esforçava com o que estava ao seu alcance para mostrar para Mina o quão especial ela era, e isso valia mais que qualquer anel de ouro ou cravejado com pedras preciosas para a bailarina.

Mina colocou com cuidado o buquê no criado-mudo ao lado de sua cama, e foi trancar a porta, para em seguida se aproximar novamente de Chaeyoung e pegar em suas mãos, encarando-a. As duas jovens sorriram e logo suas bocas se encontraram para mais um beijo intenso e fogoso, deixando ambas ainda mais sedentas por aquele amor carnal que iria acontecer.

Mina colocou as mãos na nuca de Chaeyoung, que abraçou a cintura da outra jovem, e a puxou para mais perto de si, diminuindo a distância entre ambas. Qualquer centímetro era longe demais para elas.

Mina foi escorregando suas mãos pelo pescoço de Chaeyoung, deixando a outra jovem arrepiada com aquele carinho. O passeio das mãos delicadas da bailarina foi até os botões da blusa da outra jovem, que ela desabotoou com destreza. Quando terminou de soltar o último, deslizou a camisa pelos braços da outra jovem, deixando seu peito exposto.

Mina olhou para o corpo seminu da outra jovem, e abriu um sorriso malicioso, mordendo o lábio inferior. Ela começou a acariciar o corpo da menor, passando suas mãos pelos seus seios pequenos, e descendo pelo abdômen, deixando Chaeyoung totalmente arrepiada.

“Você é tão linda.” Ela sussurrou, deixando Chaeyoung envergonhada. Seu corpo não era nem de longe tão bonito quanto o da bailarina. A outra jovem tinha conseguido a vantagem dos anos que passara estudando dança, e com isso obteve um corpo quase escultural, mas ela ficava feliz por Mina lhe apreciar, e por conseguir fazê-la sentir prazer

“Obrigada.” Chaeyoung respondeu com um sorriso tímido.

Mina então livrou-se de seu kimono, também ficando seminua. Ela pegou as mãos de Chaeyoung e colocou sobre os seus próprios seios, que eram um pouco maiores que os da outra jovem, com delicadeza a coreana os apertou, fazendo Mina soltar um gemido baixo seguido por um risinho nervoso.

“Desculpa...” Chaeyoung se desculpou, tirando as mãos do corpo da outra instantaneamente, mas Mina as pegou novamente.

“Não, eu gostei.” A bailarina disse sorrindo, e colocou as mãos de Chaeyoung sobre seu corpo outra vez. “Quero que me toque.” A menor sorriu em resposta, e continuou a apalpar o belo corpo da outra jovem, dessa vez com mais vigor, enquanto Mina sentia sensações inexplicáveis, principalmente entre suas pernas, e se esforçava para não deixar nenhum som mais alto escapar.

As duas se beijaram mais uma vez, e foram até a cama, trocando beijos curtos e carícias. Mina tomou o controle e deitou-se sobre Chaeyoung, enquanto alternava beijos entre sua boca, rosto e pescoço, com direito a algumas mordidinhas de leve durante o ato.

“Você quer me matar, é?” Chaeyoung brincou, rindo.

“Só se for de amor.” Mina respondeu no mesmo tom, e continuou com suas carícias, enlouquecendo a coreana.

Chaeyoung suspirou, e fechou os olhos, enquanto passava suas mãos pelos cabelos sedosos de Mina. A outra garota não parava de beijá-la, e isso estava lhe causando uma das melhores sensações de sua vida.

E os carinhos foram se intensificando e logo elas teriam o seu tão esperado êxtase.

Tudo parecia perfeito quando seus corpos se encontravam. Pele na pele, boca na boca, olhos nos olhos, língua na pele e no seu íntimo. Não havia palavras que poderia descrever o quão maravilhoso era um momento como aquele: o calor dos corpos, as respirações ofegantes, os gemidos abafados pelo travesseiro por aquele amor ser proibido e perigoso, as mãos deslizando pelos cabelos e pelos corpos, a pele que parecia queimar com o toque dos dedos, os corações acelerados, mas que pareciam bater em uníssono ...

Havia um vasto universo de sensações e prazeres para elas descobrirem, e elas aproveitavam cada segundo, cada toque, cada beijo para explorarem os segredos mais íntimos uma da outra.

Com certeza, era algo melhor que qualquer ideia de paraíso já imaginada pelo homem.

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Nanquim, China

Yoshiro estava novamente com seus colegas soldados para mais uma noite de ronda. Ainda estava muito desanimado pelo o que ouvira de Haru. Desanimado e desiludido. Nada era como ele imaginava, se sentia um tolo por acreditar que o Exército do Sol Nascente era formado por homens de caráter e que eram incapazes de cometer alguma atrocidade contra civis. Estava decepcionado por descobrir que Haru não se opunha à covardia de seus comandados.

Tudo que ele havia aprendido durante seu treinamento como soldado era mentira: não havia porquê lutar. Chineses não eram uma ameaça aos japoneses, e provavelmente os coreanos também não eram.

O Japão era apenas um país imperialista e com um pensamento que beirava o fascismo em relação aos demais povos asiáticos. Chineses e coreanos não eram ameaças, eles eram as vítimas. Seus países foram destruídos e seus povos barbaramente dizimados apenas pelo desejo do Império Japonês expandir seus territórios e ter o total controle de toda a Ásia. Os soldados japoneses não eram heróis, como sua população acreditava, eram os vilões. Eles eram odiados em todo território asiático e com motivos. A bandeira branca com um círculo e faixas vermelhas representava todo o mal para aquele povo indefeso. A bandeira do Sol Nascente não era um orgulho, e sim uma vergonha. Aquela bandeira representava tudo o que havia de pior no mundo.

Yoshiro não podia concordar com aquilo, ele não era uma pessoa assim, era melhor que isso, e tinha plena consciência. Só queria que tudo acabasse logo, não aguentava mais ficar naquela cidade destruída, vendo o ódio nos olhos dos soldados japoneses e medo e terror nos olhos dos civis chineses.

Se existisse um inferno, com certeza Nanquim era esse lugar, e Yoshiro sentia que estava ali pagando o seu karma.

Quando os jovens soldados passavam por um beco com duas construções destruídas e abandonadas, foram surpreendidos por um grupo de soldados comunistas chineses que estavam os aguardando em uma emboscada.

Foram alvejados por uma rajada de tiros que ecoaram por aquela viela, e nem sequer tiveram tempo para se defender.

Yoshiro já estava morto quando caiu no chão. Foi atingido por seis tiros: um deles na cabeça, três nas costas, um no peito e outro na perna.

Nenhum dos soldados daquele pequeno grupo sobreviveu. Sasazaki Itsuki  e Murakami Saburu, amigo e desafeto de Yoshiro, respectivamente, também estavam mortos.

Isso é guerra!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Bom, os soldados japoneses tinham um método de matar as pessoas dos países que eles invadiam que era usando a espada. Se o Haru soubesse das coisas que a Chaeyoung faz com a Mina, com certeza era assim que ele iria querer
matá-la, veremos rs.

Bom resto de semana e até a próxima!


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